domingo, 29 de setembro de 2013

O significado da obra de Karl Marx


“O marxismo, que é a mesmo tempo um método, um corpo de pensamento teórico e um conjunto de textos considerados por seus seguidores como uma fonte de autoridade, sempre sofreu a tendência dos marxistas de começar por decidir o que pensam que Marx deveria ter dito e depois procurar a confirmação nos textos, dos pontos de vistas de vistas escolhidos”
(E.J. Hobsbawm)*
Sociologia Positivista tem como objetivo a integração, o consenso, a harmonia social. Na analogia positivista entre a sociedade e o organismo biológico, a tendência natural é as partes constitutivas do todo, ainda que diferenciadas, cooperem no sentido da manutenção da saúde do corpo. Se é natural que o corpo tenda à normalidade, todos os sintomas que possam comprometer sua saúde são patologias, anormalidades.
Assim também é concebida a sociedade. Para os positivistas, os conflitos sociais, as contradições da sociedade industrial, são fenômenos marginais, transitórios, exceções, imperfeições cuja solução transforma-se num problema moral – o natural é a saúde do corpo, não sua doença. O positivismo expressa uma ideologia que justifica a ordem capitalista. Sua preocupação básica reside na manutenção e preservação do status quo.
A perspectiva teórica de Karl Marx (1818-1883) expressa a crítica mais radical à sociedade industrial. O impacto das suas formulações teóricas foi tamanho que boa parte da intelectualidade ocidental não tem feito outra coisa senão o esforço de confirmar ou negar suas idéias. Em Marx, a sociedade capitalista é desvelada, desnudada, analisada em seu âmago. Sua teoria busca apreender o caráter contraditório e antagônico desta sociedade. Todo o seu esforço intelectual destina-se ao desvendamento do funcionamento, estrutura e devir necessário do capitalismo. Marx tem um pé no passado, outro no presente e a cabeça no futuro.
Sua teoria influenciou e influencia milhares de pessoas. Governos foram derrubados e instituídos em seu nome; seus seguidores, a exemplo do cristianismo, cometeram coisas horrendas em seu nome; mas, também levantaram bem alto a bandeira da igualdade, da liberdade e da fraternidade, abandonada há muito pelos que a empunharam nos idos da revolução francesa. Culparam-no, mataram-no e ressuscitaram-no. Uns dizem: Marx está morto! Outros: Marx está vivo! Na verdade, tomam-no e julgam-no pelos que falam em seu nome.
Não poderia ser diferente. Suas idéias já não lhes pertence. Seus seguidores, os marxistas de todas as matizes, interpretaram-nas e enriqueceram-nas com novos elementos teóricos; em outros casos, empobreceram-nas e estimularam graus de ruptura variados.
Seu pensamento tornou-se carne, concretude e realidade na vida e obra de milhões de indivíduos. Como todo mestre, cujo pensamento passa à posteridade, é disputado por seus discípulos. Suas palavras transformam-se em argumento de autoridade e suas idéias não escapam à sacralização. Como ocorreu com o cristianismo, a nova fé não escapa ao fanatismo e ao espírito de seita.
Mas, o maior feito de Marx não é a legião de seguidores que agem em seu nome. Ele próprio chegou a afirmar que não era marxista. O significado maior da sua obra está precisamente na fusão da teoria com a realidade social e, assim, transformar-se numa força política ativa e capaz de transformar o mundo. Sua teoria jamais se propôs a ser uma filosofia abstrata ou diletante, dos que ficam a enunciar problemas teóricos e a resolvê-los teoricamente.
Em Marx, há uma unidade entre teoria e prática que se transforma em práxis transformadora do mundo. Como ele escreveu: “Os filósofos limitaram a interpretar o mundo de distintos modos, cabe transformá-lo.” Marx foi um filósofo, historiador, economista, sociólogo e, sobretudo, cientista. Mas sua relevância não se resume à teoria: ele foi um homem de ação, envolvido nos dilemas sociais e políticos de sua época e, o que é raro em nossos dias, assumindo o ônus de tomar uma posição. Para Marx, a ciência não é neutra. Mas nem por isso perde o rigor científico.

Sugestão de leituraKONDER, Leandro. Karl Marx – Vida e Obra. São Paulo: Paz e Terra, 1999 (154 p.).
__________. O futuro da filosofia da práxis – O pensamento de Marx no século XXI. São Paulo: Paz e Terra, 1992 (141 p.).

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