quarta-feira, 7 de agosto de 2013

As incríveis mensagens subliminares


Categorias: Propaganda
Tamanho do texto:  
Muitas propagandas têm mensagem subliminar. Veja esta, da cerveja Antarctica.
No jato que sai da garrafa, dá pra ver uma mulher nua – a imagem foi esticada.
sub1.jpg
Não viu? Então veja agora. Se olhar bem, dá pra ver um homem abraçado a ela. Incrível, não?
sub2.jpg
Esta é mais incrível. Cartaz do filme (vencedor do Oscar) O Silêncio dos Inocentes. Pode pegar na videolocadora pra conferir. O que você vê no detalhe?
sub3.jpg
(Manosguardanapos)

Paul Krugman e a terceira depressão - uma mente confusa



krugman.jpgÉ fácil entender por que Paul Krugman é o preferido dos economistas pró-establishment, dos empresários com grandes conexões com o governo e de todos aqueles que dependem do auxílio do dinheiro estatal para sua sobrevivência.
Em coluna publicada no dia 28 de junho no The New Yok Times (onde mais?), o iluminado volta a professar sua fé inabalável naquele imperecível fetiche keynesiano (que beira o erotismo): a expansão do crédito e a criação de dinheiro pelos bancos centrais mundiais farão "o milagre ... de transformar pedras em pães".  (Keynes de fato disse isso em 1943.)
O bom de Krugman é que você não precisa se esforçar muito para entender sua obra.  Se você ler um artigo dele, você já leu todos.  Isso poupa tempo e lhe permite aprofundar seus estudos em coisas mais sérias — além da vantagem de não se deixar contaminar pelas informações francamente falsas que ele passa, como veremos mais abaixo.
A teoria krugmaniana presente em todos os seus artigos que versam sobre a atual crise mundial (aquela mesma que o próprio Krugman, dois anos atrás, disse que seria debelada pelas políticas keynesianas diligentemente implantadas por Gordon Brown no Reino Unido) é gostosamente simples: se os governos se endividarem, imprimirem dinheiro e gastaram até os tubos, a economia mundial não apenas não cairá em uma depressão, como, muito pelo contrário, criará riqueza.  A cada dólar, euro e real impressos há uma correspondente criação de bens.  A cada endividamento estatal corresponde o surgimento de um insumo agrícola e industrial.  A cada real gasto pelo governo brasileiro há o simultâneo aparecimento de um laptop.  Basta o governo mexer com dinheiro, que haverá magicamente o surgimento de algum bem.
Expandir o crédito e criar dinheiro é a mesma coisa que criar riqueza.  Vai dizer que uma teoria dessas não tem apelo?
Entretanto, se me permitem uma confissão sádica, está cada vez mais divertido ler as colunas de Krugman.  O Nobel está inconsolado, injuriado mesmo, com o indelével fato de que suas teorias keynesianas excêntricas estão, novamente e pela zilionésima vez, caindo em total descrédito.  Quando até mesmo as sociais-democracias europeias começam a falar em corte de gastos, principalmente durante uma recessão, é porque as teorias propaladas por sujeitos até então influentes como Krugman já foram solapados pelas invioláveis leis econômicas.
Embora todos os seus artigos sejam iguais, este em especial contém algumas passagens interessantes e que merecem ser analisadas e comentadas.  É o que farei agora.
Uma mente confusa
Krugman, que nunca decepciona, já começa seu artigo mostrando que está em grande forma: mente nos dois parágrafos iniciais e tira uma conclusão involuntariamente cômica no terceiro parágrafo.  Acompanhe.  Ele vai de vermelho, eu vou de preto.
Recessões são comuns; depressões são raras. Até onde sei, houve somente duas eras na História da economia que foram amplamente descritas como "depressões" na época: os anos de deflação e instabilidade que se seguiram ao Pânico de 1873 e os anos de desemprego em massa que acompanharam a crise financeira de 1929-31.

Nem a Longa Depressão do século 19, nem a Grande Depressão do século 20 foram eras de um declínio contínuo — pelo contrário, ambas incluíram períodos em que a economia cresceu. Mas esses episódios de melhora nunca foram suficientes para desfazer o prejuízo da crise inicial, e foram seguidos de recaídas.
Temo que agora estejamos nos estágios iniciais de uma terceira depressão. Ela provavelmente se parecerá mais com a Longa Depressão do que com a Grande Depressão, que foi muito mais grave. Mas o custo — para a economia mundial e, acima de tudo, para os milhões de pessoas arruinadas pela falta de emprego — será imenso.
Esse Pânico de 1873 — que supostamente teria gerado a "Longa Depressão" — é normalmente citado como uma das maiores recessões americanas do século XIX, uma época em que o mercado era muito mais livre do que viria a ser no século XX.  Sendo assim, vale a pena nos determos um pouco mais meticulosamente nesse evento.
Apenas contextualizando: em 1873 houve uma crise que começou a ser gestada ainda em 1863 e 1864 com a promulgação dos National Banking Acts, duas leis federais que tinham o propósito de criar uma moeda nacional lastreada em títulos do governo americano.  A ideia principal era criar uma autoridade monetária capaz de exercer alguma política monetária.  Como é sabido, nessa época os EUA ainda estavam no padrão-ouro clássico. 
Esse sistema foi descrito por F.A. Hayek como um "sistema monetário com um banco central semi-oficial".  Como consequência, a criação desse sistema inflacionário desencadeou um ciclo de expansão e recessão econômica, do tipo previsto pela teoria austríaca.  Os anos que precederam o Pânico de 1873 vivenciaram uma enorme expansão do sistema ferroviário americano, que foi estimulado tanto pela expansão de crédito fácil quanto pela concessão de terras feita pelo governo americano.  Puxados por essa expansão, setores relacionados ao transporte e à mineração (por causa do ferro) também vivenciaram um grande crescimento, bem como os salários relacionados a esses setores. 
Até aí há uma convergência entre os historiadores.  Os fenômenos acima de fato ocorreram.  Já em 1873 houve uma contração do crédito inicialmente expandido com as leis de 1863 e 1864, fazendo com que houvesse uma inevitável recessão em 1873.
Krugman, entretanto, mostra que está desinformado a respeito da história econômica de seu próprio país quando passa a comentar o período da recessão pós-1873.  E tudo que ele precisava fazer era ler o livro de Milton Friedman e Anna Schwartz, A Monetary History of the United States, 1867-1960.  Com os dados ali fornecidos, ele concluiria que, dado o atual cenário, tudo o que os americanos mais queriam era que a atual recessão fosse semelhante a essa "Longa Depressão" iniciada em 1873.
Foi Murray Rothbard quem melhor desmitificou esse mito da "Longa Depressão" de 1873 em seu livro History of Money and Banking in the United States.  Segue um trecho:
Historiadores econômicos ortodoxos sempre comentam pesarosamente a respeito da "grande depressão" que alegadamente assolou os Estados Unidos após o pânico de 1873 e que durou inéditos seis anos, até 1879.  Grande parte dessa estagnação supostamente foi causada por uma contração monetária que fez com que os pagamentos em espécie (em ouro ao invés de em notas bancárias) fossem retomados em 1879. 
Entretanto, que tipo de "depressão" foi essa que vivenciou uma expansão extraordinariamente vasta da indústria, das ferrovias, da produção de bens, do produto nacional líquido ou da renda per capita real?  Como Friedman e Schwartz admitem, o período de 1869 a 1879 viu um crescimento anual de 3% no produto nacional nominal, um crescimento anual de 6,8% no produto nacional real, e um aumento fenomenal de 4,5% ao ano no produto per capita real.  Mesmo a alegada "contração monetária" nunca ocorreu, tendo a oferta monetária aumentado em 2,7% ao ano nesse período.  De 1873 a 1878, ano em que ocorreu outro surto de expansão monetária, a oferta total de moeda bancária aumentou de $1,964 bilhão para $2,221 bilhões — um aumento de 13,1%, ou de 2,6% ao ano.  Ou seja, um amento modesto, porém um aumento — dificilmente uma contração.
Já deveria estar claro, portanto, que a "grande depressão" da década de 1870 é meramente um mito — um mito criado pela interpretação equivocada do fato de que os preços caíram acentuadamente durante todo o período.  Com efeito, eles caíram desde o fim da Guerra Civil até 1879.  Friedman e Schwartz estimaram que os preços em geral caíram 3,8% ao ano, de 1869 a 1879.  Infelizmente, a maioria dos historiadores e economistas está adestrada a acreditar que uma queda constante e acentuada dos preços tem inevitavelmente de resultar em uma depressão: daí seu assombro com a óbvia prosperidade e crescimento econômico dessa era.  Pois eles ignoram o fato de que, no desenrolar natural dos eventos, quando o governo e o sistema bancário não aumentam a oferta monetária muito rapidamente, o capitalismo de livre mercado irá gerar um aumento tão grande da produção e do crescimento econômico, que o aumento da oferta monetária será solapado.  Os preços irão cair, e as consequências não serão a depressão ou a estagnação, mas a prosperidade (já que os custos estão caindo também), o crescimento econômico, e a propagação de um maior padrão de vida para todos os consumidores. 
Ou seja, por algum motivo, crê-se que a crise de 1873 não apenas durou seis anos, como também crê-se que foram 6 anos de grande penúria, quando a realidade foi exatamente o oposto disso.  Esse é um daqueles mitos que, assim como a crise de 1929, perduram não se sabe por quê.
Houve, no máximo, uma curta recessão em 1873. De resto, aquela década vivenciou o que hoje alguns consideram ter sido o maior período de crescimento sustentável da história americana.  O emprego cresceu vigorosamente, maior até mesmo que a taxa de imigração; o consumo tanto de comida quanto de outros bens cresceu em todas as faixas de renda.  No final da década, a população americana estava com melhores moradias, possuía melhores roupas e, no caso da população do campo, vivam em maiores fazendas.  As lojas de departamento surgiam até mesmo nas cidades de médio porte.  Foi nessa época que os EUA de fato se transformaram na primeira sociedade de consumo em massa do mundo.
Porém, as pessoas estavam confusas com o comportamento dos preços, que estavam caindo acentuadamente — coisa inédita até então.  E isso gerou insatisfações.  Os fazendeiros, por exemplo, achavam que a queda nos preços dos grãos significava que estavam ficando mais pobres.  Porém eles não notavam que os preços de todo o resto estavam caindo também.  Quando se analisa os termos de troca dos fazendeiros — isto é, a diferença de preços entre o que eles vendiam e o que eles compravam —, é possível comprovar que eles obtiveram sólidos ganhos na década de 1870.
O emprego no setor industrial, por exemplo, aumentou de 2,47 milhões em 1870 para 3,29 milhões em 1880.  Na agricultura, nesse mesmo período, pulou de 12,9 milhões para 17,4 milhões (Jeremy Atack e Peter Passel, A New Economic View of American History, www.questia.com/PM.qst?a=o&d=101476878).
E o que é mais interessante: como a produtividade estava aumentando exponencialmente nesse período, um número cada vez menor de pessoas era necessário para produzir a mesma quantidade de bens do que antes.  Assim, qualquer aumento no número de empregos no setor manufatureiro nesse período indica que esse setor estava se expandindo significativa e saudavelmente durante uma "recessão".
Enfim, Krugman, talvez por malícia, talvez por conveniência, está disposto a ignorar a realidade econômica que perdurou durante a "Longa Depressão" americana do século XIX.  Tenho certeza que os americanos reviveriam com gosto aquele período.
Prossegue o sábio:
E esta terceira depressão será, basicamente, um fracasso de política. Em todo o mundo - mais recentemente no extremamente desanimador encontro do G20 do último fim de semana - os governos estão obcecados com a inflação, quando a verdadeira ameaça é a deflação, pregando a necessidade de apertar os cintos, quando o verdadeiro problema são os gastos inadequados.

Em 2008 e 2009, parecia que tínhamos aprendido com a História. Ao contrário de seus predecessores, que elevaram as taxas de juros diante da crise financeira, os atuais líderes do Federal Reserve e do Banco Central Europeu cortaram os juros e passaram a apoiar os mercados de crédito. Ao contrário dos governos do passado, que tentaram equilibrar orçamentos diante de uma economia em declínio, os governos de hoje permitiram que os déficits aumentassem. E melhores políticas ajudaram o mundo a evitar o colapso total: pode-se dizer que a recessão trazida pela crise financeira terminou no verão passado.
Krugman é inconstante.  Ele começa o texto alertando para uma depressão iminente.  Cinco parágrafos depois ele diz que o mundo sequer está em recessão.  Por que o truque?  Simples.  Como nesse parágrafo ele admitiu que os governos praticaram déficits e imprimiram dinheiro ("cortaram juros"), então, para dar sustento à sua teoria, ele tem de falar que isso foi positivo e que a recessão sumiu.
O problema é que a realidade insiste em contrariá-lo.  Nos EUA, por exemplo, os gastos continuam aumentando, o déficit continua se expandindo e... o desemprego continua aumentando.  Dados divulgados na quinta feira, 01/07, mostram que "o número de trabalhadores norte-americanos que entraram pela primeira vez com pedido de auxílio-desemprego subiu 13 mil, para 472 mil [...] Os economistas esperavam queda de 2 mil pedidos[...] Na semana encerrada em 19 de junho, o número total de norte-americanos que recebiam auxílio-desemprego subiu 43 mil, para 4,616 milhões."
Como se vê, dois anos de políticas genuinamente krugmanianas deixaram o país muito pior do que antes da adoção desses "estímulos". 
Outra mentira de Krugman está no último parágrafo: tanto na recessão americana de 1920 quanto na de 1982, os governos aumentaram os juros.  Não houve inflação monetária.  Os déficits ocorridos se deram em decorrência do corte de impostos e não do aumento dos gastos.
Ademais, como pode Krugman atualmente falar em "gastos inadequados"?  Olhando os dois gráficos abaixo, o que o governo americano mais fez nesses últimos anos foi aumentar o gasto e o déficit (o aumento deste último, então, foi selvagem).  Pela teoria de Krugman, a economia americana deveria estar em crescimento exponencial.
Déficit:
Deficit.png
Gastos:
gastos.png
No parágrafo seguinte, Krugman novamente volta a se contradizer em relação ao parágrafo imediatamente anterior, admitindo um desemprego alto, sem, no entanto, admitir que a recessão nunca terminou:
Mas futuros historiadores nos dirão que isso não foi o fim da terceira depressão, assim como a recuperação econômica que começou em 1933 não foi o fim da Grande Depressão. Afinal, o desemprego - especialmente o desemprego a longo prazo - permanece em níveis que teriam sido considerados catastróficos há alguns anos, e não dá sinais de diminuir tão cedo. E tanto os Estados Unidos como a Europa estão se encaminhando para cair em armadilhas deflacionárias como as do Japão.
E tem mais:
Diante desse quadro sombrio, você poderia esperar que os responsáveis pelas diretrizes políticas percebessem que ainda não fizeram o suficiente para promover a recuperação. Mas não: nos últimos meses, houve um surpreendente ressurgimento da ortodoxia do equilíbrio orçamentário e da moeda forte.
No que diz respeito à retórica, o ressurgimento da antiga doutrina é mais evidente na Europa, onde autoridades parecem usar argumentos dos discursos de Herbert Hoover, inclusive a afirmação de que elevar impostos e cortar gastos na verdade expandirá a economia, ao aumentar a confiança nos negócios.
Ou foi um ato falho ou foi um mea culpa.  Qualquer que seja, tudo indica que nem o próprio Krugman tolerava mais suas desinformações.  Essa é a primeira vez que um keynesiano empedernido admite que Herbert Hoover — até então tido como um indiscutível adepto da 'mão invisível' — elevou impostos durante a Grande Depressão.  Para ser um relato completo, faltou apenas falar o quanto o sujeito elevou os impostos: a alíquota máxima do imposto de renda, por exemplo, subiu de 25% para módicos 63% em apenas um ano!
Outra acusação comum que os keynesianos fazem a Hoover é que ele tentou equilibrar o orçamento durante a Depressão.  Só que eles convenientemente deixam de lado dois detalhes fundamentais:
1) isso só ocorreu após ele ter deixado os déficits explodirem (de meados de 1931 a meados de 1932, o déficit pulou de 0,5% para 4%); e
2) a correção se deu via aumento de impostos e nunca via corte de gastos.  Estes só fizeram subir, como mostraessa tabela.
Portanto, Krugman merece aplausos por essa tímida mea culpa.  Nem ele acredita mais nessa história de que Herbert Hoover era adepto do laissez-faire.  (Para mais informações, leia os artigos sobre Hoover indicados ao final desse texto.)
Por fim, Krugman conclui em grande estilo:
Mas em termos práticos, os Estados Unidos não estão se saindo muito melhor. O Fed parece ciente dos riscos de deflação - mas o que ele propõe fazer a respeito desses riscos é, bem... nada. A administração Obama entende os perigos de uma austeridade fiscal prematura - mas como os republicanos e os democratas conservadores do Congresso não autorizarão uma ajuda adicional aos governos estaduais, essa austeridade virá de qualquer jeito, na forma de cortes orçamentais em níveis estaduais e municipais.
Por que se erra o caminho na política? Os radicais muitas vezes mencionam as dificuldades enfrentadas pela Grécia e outras nações na periferia da Europa para justificar suas ações. E é verdade que investidores de títulos dependiam de governos com déficits incontroláveis. Mas não há nenhuma evidência de que uma austeridade fiscal a curto prazo, diante de uma economia deprimida, tranquilizará investidores. Pelo contrário: a Grécia concordou em adotar um plano severo de austeridade, mas viu seus riscos se ampliando cada vez mais; a Irlanda efetuou cortes radicais nos gastos públicos, mas foi tratada pelos mercados como um risco pior que a Espanha, que relutou bem mais em adotar a solução dos radicais.
É como se os mercados financeiros entendessem o que os responsáveis pelas diretrizes políticas aparentemente não entendem: que, embora a responsabilidade fiscal a longo prazo seja importante, cortar gastos no meio de uma depressão, que aprofunda essa depressão e abre caminho para a deflação, na verdade é autodestrutivo.
Então não acredito que isso tenha a ver de fato com a Grécia, ou com qualquer apreciação realista das trocas entre déficits e empregos. Na verdade é a vitória de uma ortodoxia que pouco tem a ver com análises racionais, cujo principal dogma é que, em tempos difíceis, é preciso impor sofrimento aos outros para mostrar liderança.
E quem pagará o preço desse triunfo da ortodoxia? A resposta é: dezenas de milhões de trabalhadores desempregados, dos quais muitos permanecerão sem emprego por anos, e alguns nunca mais voltarão a trabalhar.
Resumindo: os mesmos líderes mundiais que, durante anos, mantiveram orçamentos deficitários e gastos exorbitantes — exatamente aquilo que Krugman diz ser o ideal para evitar recessões —, lograram um resultado exatamente inverso daquele prometido por Krugman e os keynesianos: criaram uma crise financeira e monetária sem precedentes.  Agora, porém, esses mesmos keynesianos fervorosos, um tanto assustados com o resultado prático de suas políticas, resolveram dizer que vão praticar um pouco de orçamento equilibrado, apenas para tentar impedir a catástrofe que criaram.  E é isso, segundo Krugman, que irá destruir as economias destes países.
Conclusão
Krugman em momento algum ataca o real problema: gastos do governo não criam riqueza.  E é exatamente a criação de riqueza o único artifício que irá tirar os EUA e o mundo da atual recessão.  As recomendações políticas de Krugman — aumentar o déficit, aumentar os gastos e diminuir ainda mais os juros por meio da simples criação de dinheiro — nada fazem para corrigir os atuais desequilíbrios econômicos, principalmente todos os investimentos errôneos que foram criados em decorrência das manipulações monetárias feitas pelos governos mundiais, que reduziram os juros para níveis abaixo dos de mercado.  As recomendações krugmanianas não apenas não corrigem esses desequilíbrios, como também, pior ainda, intensificam-nos.
Por fim, uma palavrinha sobre déficits, essa medida tido como redentora em períodos de crise por todos os keynesianos.  Se um governo reduzir seus gastos a ponto de zerar seu déficit orçamentário (em termos nominais), ele não mais precisará pegar dinheiro emprestado para fechar seu orçamento.  Ou seja, ela não mais precisará recorrer à poupança dos cidadãos.  Isso fará com que haja mais fundos disponíveis para serem emprestados ao setor privado, tanto às empresas quanto aos consumidores.  A poupança que o governo teria absorvido vendendo títulos agora estará disponível para ser utilizada de maneira mais proveitosa por empreendedores e consumidores. 
Para agradar aos moderados, nem é preciso complicar as coisas fazendo reduções tributárias.  A questão principal é que o déficit deve ser reduzido.  E para que isso ocorra, tudo que o governo deve fazer é reduzir gastos, e nada mais. 
Sim, seria perfeito se o governo reduzisse seus gastos a ponto não apenas de eliminar completamente o déficit, mas também de tornar possível uma redução radical, quiçá uma completa eliminação, de todos os impostos que incidem sobre a poupança.  Melhor ainda seria se, além dos impostos sobre a poupança, houvesse a máxima redução possível dos impostos que incidem sobre o consumo. 
Desta forma, a demanda por bens de capital e por mão-de-obra da parte das empresas seria a mais próxima possível das preferências dos consumidores, e todos iriam usufruir ao máximo possível os benefícios de sua própria riqueza e renda.  O efeito desse aumento na poupança disponível e nos consequentes investimentos seria um aumento acentuado no progresso econômico do país em questão.
Apenas isso pode acabar com recessões.  Mas qual governo vai permitir isso?
_________________________

Krugman concorda com os austríacos - mas por motivos completamente opostos



paul_krugman_not.jpgEmbora keynesianos e austríacos não concordem em quase nada, há uma coisa em comum com a qual ambos concordam: aeconomia americana está se afundando no brejo da depressão.  A partir daí, entretanto, a concordância chega ao fim, e as duas escolas de pensamento apresentam duas explicações completamente distintas quanto ao porquê de isso estar acontecendo.
Os keynesianos, sempre capitaneados porPaul Krugman e seu megafone no The New York Times, já começaram a alegar que o pacote de estímulos e toda a gastança empreendida por Barack Obama foram, na realidade, excessivamente módicos, e que a atual ênfase que vem sendo dada ao debate sobre corte de gastos em todos os níveis de governo é uma estratégia exatamente oposta da que deveria ser tomada.  Os austríacos, não surpreendentemente, acreditam que tal choradeira keynesina não apenas é uma tolice, como na verdade é uma tolice extremamente perigosa.
Em uma recente coluna, Krugman apresenta sua mais nova tese, e ela é útil porque expõe de maneira verdadeira a mente keynesiana em ação; e uma mente keynesiana jamais permite nenhuma outra explicação para o que está acontecendo nos EUA.  Para um keynesiano, o problema é — e sempre será — uma "demanda agregada" insuficiente, e a única solução é que os governos gastem como se fossem marinheiros bêbados que acabaram de ganhar na loteria.
Escreve ele,
A grande bolha imobiliária da última década, que foi um fenômeno tanto norte-americano quanto europeu, foi acompanhada de um aumento enorme da dívida relativa a hipotecas.  Quando a bolha estourou, a construção de imóveis despencou, e os gastos dos consumidores também caíram, já que as famílias, sobrecarregadas por dívidas, reduziram o seu consumo.
Mesmo assim, tudo poderia ter corrido bem se outros atores econômicos importantes tivessem aumentado os seus gastos, preenchendo a lacuna provocada pela queda no setor de construção e pela redução dos gastos do consumidor.  Mas ninguém fez tal coisa.  É especialmente importante observar que as corporações repletas de dinheiro não veem motivos para investir esse capital devido à fraca demanda dos consumidores.
E os governos também não fizeram muita coisa para ajudar.  Alguns governos — aqueles dos países mais fracos da Europa, bem como governos estaduais e municipais nosEstados Unidos — foram na verdade obrigados a cortar os gastos devido à queda das arrecadações.  E as medidas modestas tomadas por governos mais fortes — incluindo, sim, o plano de estímulo econômico de Obama — foram, na melhor das hipóteses, suficientes apenas para compensar essa austeridade forçada.
Portanto, o que temos agora são economias deprimidas. E o que os legisladores estão propondo fazer quanto a isso? Simplesmente nada.
Se há algum raciocínio encadeado que descreva corretamente a mentalidade keynesiana, tal raciocínio profundo seria este: gastar, gastar, gastar.  Trata-se de uma tese obviamente simples, que certamente possui grande apelo junto a políticos, e até mesmo junto ao público geral, e que domina o pensamento econômico acadêmico desde a Segunda Guerra Mundial.  Como afirmou Krugman, as famílias não podem gastar aquilo que não têm, e as empresas, por não verem perspectivas quanto à demanda futura, não irão investir (leia-se: não irão gastar com investimentos em capital — algo que sempre é definido pelos keynesianos como sendo valioso unicamente porque representa gastos, e não por causa de qualquer aspecto relacionado à maior produtividade trazida por investimentos em capital).
E assim estamos presos naquilo que Krugman e os keynesianos chamam de "armadilha da liquidez" (situação em que a expansão monetária não diminui o valor dos juros, pois estes já estão em seu mínimo.  A única solução seria aumentar os gastos), conceito esse que Krugman acredita ter o poder de encerrar toda a discussão.
A ideia keynesiana é que a lei dos custos de oportunidade é suspensa durante uma armadilha da liquidez, pois as taxas de juros estão muito baixas, os recursos estão "ociosos", e o governo pode se endividar a juro praticamente zero e gastar à vontade, pois não estará consumindo nenhum recurso, dado que os recursos estão "ociosos".  Como disse Krugman em seu livro The Return of Depression Economics, os gastos do governo nesta situação podem criar um "almoço grátis". (Sim, ele realmente utilizou esse termo.)
Embora a maioria dos economistas convencionais não esteja disposta a confrontar os keynesianos quanto à ideia da "armadilha da liquidez", Murray Rothbard jamais recuou.  Em seu livro America's Great Depression, ele ataca toda a noção de "armadilha da liquidez", escrevendo,
A arma suprema do arsenal keynesiano de explicações para depressões é a "armadilha da liquidez".  Não se trata exatamente de uma crítica à teoria dos ciclos econômicos descrita por Mises, mas é a última linha keynesiana de defesa para as suas "curas" inflacionárias para a depressão.  Os keynesianos alegam que a "preferência pela liquidez" (demanda para portar moeda) pode se tornar tão persistentemente alta, que a taxa de juros não poderá cair o suficiente para estimular os investimentos necessários para retirar a economia da depressão.  Logo, só resta ao governo intervir maciçamente, se endividar e gastar — em qualquer área da economia.
Rothbard aponta um sério problema com esta análise, observando que Keynes jamais compreendeu corretamente a teoria dos juros, alegando que a taxa de juros é formada pela "preferência pela liquidez e não pela preferência temporal", raciocínio este que leva a mais conclusões incorretas sobre o estado da economia.  Outros austríacos também criticaram fortemente esta teoria, entre eles William Hutt e Henry Hazlitt.
Tanto Hutt quanto Hazlitt atacaram toda a ideia de "recursos ociosos", que está por trás da argumentação de que os custos de oportunidade podem ser suspensos durante uma depressão.  O argumento dos recursos ociosos baseia-se na noção de que os fatores de produção estão momentaneamente sem uso simplesmente porque os gastos estão em um nível muito baixo.  Sendo assim, um forte aumento no endividamento do governo (a custo quase zero — pois os juros estão nulos —, o que significa que não há custo de oportunidade) permitirá gastos maciços, os quais irão se difundir por todos estes ativos ociosos, fazendo com que eles voltem a ser utilizados.  
Como já observado, a teoria keynesiana é irresistivelmente simples.  Se há recursos não utilizados, então basta o governo "estimular" a economia por meio de mais gastos; os recursos voltarão a ser utilizados e, de alguma forma, a economia magicamente voltará a uma trajetória sustentável.  O que os keynesianos não entendem é que o motivo de haver tantos recursos que repentinamente se tornaram ociosos é porque houve algum erro anterior de cálculo durante o período da expansão econômica insustentável.  Os empreendedores, enganados pelos juros artificialmente baixos — os quais foram reduzidos pelo Banco Central por meio da expansão monetária, e não da poupança voluntária dos cidadãos — incorretamente imaginaram que havia uma demanda maior do que a que de fato existia, e isso os levou a fazer investimentos errôneos — no caso, a expansão de sua capacidade instalada.  Uma vez interrompida a expansão monetária, todo esse cenário artificial é revelado, e o período da correção (depressão) torna-se inevitável, para não dizer necessário.
Logo, o problema dos recursos ociosos não é apenas a falta de "demanda" ou de "gastos".  Tampouco é economicamente sensato dizer que o governo deve preencher a "baixa demanda".  O problema foi que, na esteira da farra do crédito fácil, houve uma má alocação de recursos em vários setores da economia, o que causou um desequilíbrio estrutural, um descompasso entre a estrutura do capital e a demanda do consumidor.
A depressão é o período no qual a economia passa a corrigir esse desequilíbrio.  E a única maneira de fazer corretamente esse procedimento é permitindo que os recursos sejam realocados de modo que correspondam às reais demandas do consumidor.  Para tal, a única medida correta é deixar o mercado, guiado pelo sistema de preços, realocar esses fatores da maneira mais racional possível.  Gastos do governo irão apenas retardar esse processo, intensificando a recessão.
Por outro lado, os keynesianos afirmam que, caso não haja novos gastos, então a deflação de preços será o resultado inevitável, fazendo com que ainda mais recursos se tornem ociosos até que, no final, toda a economia estará em um perverso equilíbrio: uma enorme quantidade de pessoas estará desempregada e sem perspectiva de melhorias econômicas.
Krugman é inflexível quanto a este ponto, e está tão convencido de que só ele está certo, que qualquer pessoa que porventura se atreva a discordar estará agindo assim apenas porque é um insensível que quer ver as outras pessoas sofrendo; ou porque tal pessoa está tão fanatizada pela teoria austríaca dos ciclos econômicos que se tornou incapaz de acrescentar qualquer ponto valioso ao debate público.  (Com efeito, Krugman acredita quenão há mais debate nenhum, tão certo ele está de que sua posição é a única correta, de que ela já foi provada empiricamente e de que não pode jamais ser refutada — mesmo que ela venha sendo teimosa e continuamente refutada pela realidade).
Assim, mesmo que tenhamos testemunhado uma explosão nos gastos do governo americano durante os últimos anos, e que isso só tenha feito deprimir ainda mais a economia e elevar a dívida para mais de 14 trilhões de dólares, de acordo com Krugman a realidade é que o governo Obama este tempo todo adotou um plano de "austeridade".  Como assim?  Segundo Krugman, o governo americano adotou um plano de austeridade simplesmente porque, se o governo realmente tivesse aumentado os gastos maciçamente, a economia já teria saído da depressão.  É assim que funciona seu raciocínio.  Em outras palavras: dado que só existe uma única maneira de se retirar a economia americana do brejo — isto é, gastando-se os tubos —, e dado que a economia americana ainda não saiu do brejo, então é óbvio que o governo americano não gastou o suficiente.
E quanto à tese da "incerteza gerada pelo regime"?  Krugman também rejeita tal teoria, zombeteiramente chamando-a de "fada da confiança".  As empresas, ele argumenta, estão entesourando dinheiro porque estão sentindo que não há uma demanda do consumidor.  Porém, se o governo gastar, gastar e gastar, então aí sim as empresas voltam a investir — e ponto.
(Em relação a toda aquela retórica que vem sendo regurgitada pela Casa Branca contra as empresas e o mercado, todo o aumento nas regulamentações e toda a demonização das indústrias petrolíferas e de carvão — indústrias essas que são essenciais caso se queira que a economia americana volte a crescer —, tudo isso, de acordo com Krugman, ou nunca existiu ou é apenas espuma, e certamente não tem nenhuma relevância para a piora da situação econômica.  E por que não teria?  Ora, porque Krugman diz que não.  E ponto.)
A solução definitiva, de acordo com Krugman e os keynesianos, é induzir a economia americana a outro boom econômico, criar alguma outra bolha de ativos que possa fazer sua "mágica" durante pelo menos algum tempo — até que ela também estoure.  (Perversamente, em uma postagem endossada por Krugman, o economista keynesiano Karl Smith diz ter a esperança de que haja outra bolha imobiliária.  O Fed certamente está trabalhando arduamente para que isso ocorra.)
Sempre que leio Krugman e os keynesianos, fico espantado com sua análise de que ativos, economicamente falando, são na realidade homogêneos.  Não importa para onde os novos gastos sejam direcionados; o que importa é que haja gastos.  É só gastar, e todo o resto magicamente será devidamente afetado.  É só gastar, e todos os ativos serão estimulados, todos os fatores de produção ociosos voltarão a ser utilizados e toda a mão-de-obra desempregada voltará a ter trabalho.
Ademais, o ponto de vista krugmaniano/keynesiano baseia-se em uma interpretação extremamente mecanicista da ação humana.  De acordo com os keynesianos, as pessoas dentro de um arranjo de mercado não compram bens porque acham que terão suas necessidades individuais satisfeitas por esses bens.  Não, elas gastam, como se o gasto por si só fosse o objetivo supremo de uma economia.
Trata-se de uma visão que separa a produção do consumo, fazendo com que uma seja inexplicavelmente independente da outra.  A ação humana verdadeira e proposital não é encontrada em nenhum lugar desta análise.  Os indivíduos não agem.  Não há nenhuma conexão significativa entre desejos dos consumidores e a valoração dos fatores de produção, tampouco se analisa a maneira como os fatores de produção são empregados nas várias linhas de produção.  Tudo pode ser resumidamente descrito pela equação Y = C + I + G, sem nenhuma necessidade de se pensar mais profundamente.  Apenas esta tautologia já basta.
Como dito no início, tanto austríacos quanto keynesianos acreditam que a economia americana está se encaminhando para uma recessão ainda mais profunda, com a possibilidade de uma grande depressão.  Entretanto, Krugman e os Keynesianos acreditam que a única salvação são gastos maciços e profundas intervenções governamentais na economia.  Já os austríacos acreditam que são justamente estes gastos maciços e estas volumosas intervenções governamentais que estão piorando as coisas.  E enquanto Krugman e Companhia jamais irão admitir o contrário, o fato é que apenas o paradigma austríaco explica corretamente o que está acontecendo.  E o faz com total acurácia.

Paul Krugman ataca a Escola Austríaca - e, como de praxe, deturpa suas ideias



krugman_austrian.gifPaul Krugman está nitidamente desesperado.  Um claro sintoma de desespero intelectual ocorre quando um indivíduo, ao ver toda a sua ideologia sendo implacavelmente refutada tanto pela teoria quanto pela prática, sai estabanadamente atacando os responsáveis pela munição teórica ao mesmo tempo em que adultera os fatos da realidade prática.
Recentemente, Krugman publicou uma coluna no TheNew York Times atacando Ron Paul e sua crença na Escola Austríaca de pensamento econômico (um ótimo sinal).  Krugman alega que Ron Paul só conseguiu sua fama de consistente porque ele ignora a realidade.  O problema é que, se há uma coisa que a "realidade" demonstrou, foi justamente o quão corretas eram as ideias propagadas por Ron Paul e pela Escola Austríaca. 
A seguir, o trecho relevante da coluna de Krugman (a mídia brasileira, com sua tradicional competência em assuntos externos, inexplicavelmente creditou a coluna a Thomas Friedman):
[Ron] Paul tem se mostrado altamente consistente. Eu aposto que ninguém encontrará vídeos de alguns anos atrás nos quais ele tenha dito o oposto do que está dizendo no momento.
Infelizmente, a forma que ele escolheu para manter a sua consistência foi ignorar a realidade, agarrando-se à sua ideologia, ainda que os fatos demonstrem que talideologia é equivocada. E, ainda mais infeliz é o fato de a ideologia de Paul atualmente dominar um Partido Republicano que costumava ser mais sábio.
[...]
Ron Paul se apresenta como um adepto da economia "austríaca" — uma doutrina que rejeita John Maynard Keynes mas que repele com veemência quase igual as ideias de Milton Friedman.  Isso porque os seguidores da escola austríaca acreditam que o "papel-moeda fiduciário de curso forçado", o dinheiro que é simplesmente impresso sem ser lastreado por ouro, é a raiz de todos os males.  Isso significa que eles se opõem veementemente àquele tipo de expansão monetária que Friedman afirmou que poderia ter prevenido a "Grande Depressão" — e que foi na verdade implementada desta vez por Ben Bernanke.
Bem, uma breve digressão: na verdade o Federal Reserve não imprime dinheiro (quem faz isso é o Tesouro). Mas o Fed controla a "base monetária", a soma das reservas bancárias e da moeda em circulação.  Assim, quando as pessoas falam que Bernanke está imprimindo dinheiro, o que elas querem dizer de fato é que o Fed expandiu a base monetária.
E houve, realmente, uma enorme expansão da base monetária.  Após a queda do Lehman Brothers, o Fed passou a emprestar somas enormes aos bancos e também a adquirir uma ampla gama de outros ativos, em uma tentativa (bem sucedida) de estabilizar os mercados financeiros.  E, durante o processo, ele acrescentou vastas quantias às reservas bancárias.  No outono norte-americano de 2010, o Fed deu início a uma nova série de aquisições, em uma tentativa menos exitosa de estimular o crescimento econômico.  O efeito combinado dessas ações foi que a base monetária mais do que triplicou de volume.
Os "austríacos", e na verdade muitos economistas de direita, tinham certeza do que aconteceria como resultado dessas medidas: haveria uma inflação devastadora. Peter Schiff, um analista famoso, que pertence à escola austríaca e que já foi assessor da campanha de Ron Paul em 2008, chegou a advertir (no programa de televisão de Glenn Beck) para a possibilidade de uma hiperinflação de estilo zimbabuano no futuro próximo.
Assim, aqui estamos nós, três anos depois. E como andam as coisas? A inflação flutuou mas, no fim das contas, os preços para o consumidor subiram apenas 4,5%, o que significa uma taxa de inflação média anual de apenas 1,5%.  Quem poderia ter previsto que a emissão de tanto dinheiro provocaria tão pouca inflação?  Bem, eu poderia.  E de fato previ.  E também outros economistas que entendem os ataques de Paul à economia keynesiana.  Mas os apoiadores de Paul continuam a alegar que, de alguma forma, ele ainda tem razão quanto a tudo.
Mesmo assim, embora os proponentes originais da doutrina sequer admitam que estavam errados — segundo a minha experiência, nenhum integrante do mundo político jamais admite ter cometido um erro em relação a algo —, você poderia achar que o fato de eles terem errado tanto em relação a algo tão fundamental para o seu sistema de crenças teria feito com que os "austríacos" perdessem popularidade, mesmo dentro do Partido Republicano. Afinal, ainda nos anos Bush, muitos republicanos defendiam ferrenhamente a impressão de dinheiro quando a economia sofresse desaquecimento. "Uma política monetária agressiva pode reduzir a gravidade de uma recessão", declarou o Relatório Econômico do Presidente de 2004.
Vamos então por partes.
O primeiro ataque de Krugman é direcionado à ideia austríaca de que o papel-moeda é a raiz de todas as políticas econômicas perversas.  Para Krugman, como todos sabem, um dinheiro de papel manipulado pelo governo é simplesmente o sistema monetário ideal, e apenas pessoas descoladas da realidade podem ser contra ele.  No entanto, é justamente a realidade histórica o que derruba essa crença krugmaniana.  Basta perguntar aos romanos, aos franceses, aos britânicos, aos alemães, aos zimbabuanos, aos húngaros e aos sul-americanos quais foram as experiências maravilhosas que eles já vivenciaram sob um sistema de papel-moeda controlado pelos seus respectivos governos.  O grande economista Joseph Schumpeter certa feita escreveu que, mesmo que uma pessoa não acreditasse nos méritos do padrão-ouro e fosse um defensor de um estado inchado, ela ainda assim iria querer viver sob um padrão-ouro, pois só assim poderia se proteger contra exatamente o tipo de bagunça econômica em que o mundo se encontra atualmente.
Em seguida, Krugman parte para uma nova linha de ataque, supostamente sua evidência contra um dos pilares da Escola Austríaca: a base monetária americana aumentou substancialmente, mas o Índice de Preços ao Consumidor aumentou muito pouco.  Esse é realmente aquele tipo de "evidência" que poderíamos esperar apenas do nosso barbeiro e de um economista ganhador do Prêmio Nobel de economista.
Em primeiro lugar, vale ressaltar que Krugman deturpa por completo a posição austríaca a respeito do dinheiro, escrevendo que todos os austríacos acreditam que a base monetária é exatamente a mesma coisa que dinheiro circulando na economia.  Não é, e isso sempre foi explicitado pelos austríacos.
Segundo, o Índice de Preços ao Consumidor representa uma mensuração bastante inexata do impacto de uma inflação monetária sobre o poder de compra dos consumidores.  A maioria dos economistas questiona a validade e a precisão do IPC.  O IPC nunca teve a intenção de mensurar todo o impacto de uma inflação monetária sobre a economia, exceto para os "ingênuos" economistas seguidores da teoria quantitativa.
Terceiro, como mostra o gráfico abaixo, embora a base monetária tenha explodido desde setembro de 2008 — indo de pouco mais de $800 bilhões para US$2,7 trilhões —, o M1 teve crescimento bem mais discreto.  Isso ocorreu porque a quase totalidade do aumento da base monetária transformou-se em "reservas em excesso".  "Reservas em excesso" são as reservas que os bancos mantêm voluntariamente depositadas junto ao Fed (o Banco Central americano), além do volume determinado pelo compulsório.  Como a base monetária é igual ao papel-moeda criado pelo Fed mais as reservas bancárias depositadas junto ao Fed (o compulsório), conclui-se que uma substancial fatia do aumento da base monetária foi convertida em reservas em excesso.  Os bancos optaram por manter a quase totalidade de suas reservas (as quais eles podiam utilizar para fazer empréstimos e, com isso, aumentar o M1) voluntariamente depositadas junto ao Fed, que está pagando juros sobre elas.  Ao fazer isso, o Fed impediu que as reservas bancárias se transformassem em depósitos em conta-corrente, o que elevaria o M1 — esse é um dos motivos de a inflação de preços ainda estar contida nos EUA.
fredgraph (1).png
O gráfico acima mostra três variáveis: a base monetária (azul), o M1 (verde) e as "reservas em excesso" (vermelho).
Quarto, alguns austríacos disseram que, cedo ou tarde, quando esse dinheiro que está represado no sistema bancário "vazar" para a economia — isto é, se esse aumento na base monetária se transformar em empréstimos em larga escala —, haverá inflação de preços.  Isso é algo óbvio.  No entanto, como alguns austríacos disseram que tal inflação de preços pode vir a ocorrer mais cedo do que mais tarde, então, de acordo com Krugman, isso significa que toda a teoria monetária austríaca está errada.  (Tal raciocínio representa aquilo que gregos e romanos chamaram de non sequitur; porém, sem o apelo ao non sequitur, Krugman simplesmente não teria como escrever colunas).
Quinto, a inflação monetária pode impactar vários setores da economia, e o faz com intensidades totalmente distintas.  Basta nos lembrarmos de que, no caso americano, durante a bolha imobiliária, os preços dos imóveis dispararam para níveis recordes e insustentáveis, ao mesmo tempo em que os níveis do IPC permaneceram "sob controle".  Há vários tipos de bens cujos preços são impactados pela inflação e que não estão incluídos no IPC, desde obras de arte até bens comercializados no mercado negro, passando por salários de atletas profissionais e terrenos agrícolas.
Sexto, o impacto da inflação monetária sobre a economia como um todo é algo que leva tempo.  O dinheiro que entra na economia vai se movendo de um setor para o outro aos poucos, até finalmente perpassar quase toda a economia.  E é durante esse processo que os preços vão aumentando, sempre de maneira desigual.  Qualquer pessoa minimamente familiarizada com noções básicas de teoria monetária e sistema bancário sabe disso.  Adicionalmente, seria de se esperar que um economista como Krugman estivesse informado do fato de que, do aumento de quase US$2 trilhões ocorrido na base monetária americana, os bancos estão atualmente "sentados" sobre quase US$1,6 trilhão (valor das reservas em excesso), o que significa que esse foi o total de dinheiro criado que ainda não entrou na economia.
A "evidência" de Krugman nada mais é do que a evidência de sua própria ignorância sobre questões básicas de economia.  Ainda assim, vale ressaltar um importante ponto adicional: a ideia de que aumentos na oferta de dinheiro (isto é, inflação monetária) levam a aumentos nos preços (isto é, inflação de preços) é uma afirmação teórica, e economistas de todas as estirpes expressam tal declaração em termos de ceteris paribus, ou, tudo o mais constante.  Bem, as coisas não têm estado exatamente muito constantes ultimamente, certo, Paul? 
Mas o fato é que os austríacos não estão nem um pouco surpresos com o que vem acontecendo com a economia americana.  Graças aos pacotes de socorro e aos pacotes de estímulo, à explosão no número de regulamentações e à retórica incendiária que emana da Casa Branca, a economia americana está atolada em uma depressão —exatamente como os austríacos previram que estaria caso as políticas dos últimos quatros anos continuassem sendo seguidas.  Enquanto a base monetária continuar sendo apenas isso — uma base — e o dinheiro não circular, a taxa oficial de inflação de preços continuará baixa. 
Por outro lado, se os austríacos estiverem errados em sua crença de que uma expansão na quantidade de dinheiro em circulação irá estimular um aumento de preços (e é isso que Krugman está insinuando), então toda a teoria monetária está de cabeça para baixo.  A insistência krugmaniana de que os austríacos são ignorantes em termos monetários é em si um exemplo de ignorância.  Os austríacos enfatizam que o dinheiro é um bem secundário cuja principal utilidade é facilitar as trocas; e sua produtividade jaz no fato de que ele permite que ocorram trocas que não ocorreriam em uma economia de escambo.  Adicionalmente, os austríacos afirmam que o dinheiro, assim como quaisquer outros bens, também está sujeito a todas as leis da ciência econômica, inclusive a Lei da Utilidade Marginal (não, nós não cremos que ele seja apenas uma quantia variável).
No entanto, um dos mais importantes aspectos do pensamento austríaco a respeito da moeda é a ênfase dada a como se dá o mecanismo de transmissão do dinheiro recém-criado que adentra a economia.  Essa transmissão não é neutra, de modo que aqueles que recebem esse dinheiro antes do restante da população são beneficiados por um repentino aumento em seu poder de compra, tornando-se capazes de adquirir bens a preços ainda inalterados — os preços ainda estão inalterados, só que a renda desse grupo agora aumentou.  Essa visão é diametralmente oposta ao ponto de vista keynesiano, que afirma que a transmissão monetária é neutra, e que a única coisa que importa é que o dinheiro seja injetado na economia de modo que alguém possa gastá-lo.
capaAcao-Humana.jpgAdemais, os austríacos também afirmam que a injeção de dinheiro recém-criado na economia irá alterar os preços relativos dos bens da economia, e que essas relações continuarão sendo alteradas à medida que o dinheiro continue sendo injetado.  Isso também contrasta com a visão krugmaniana de que o dinheiro recém-criado não gera tal efeito, e que todas as pessoas se beneficiam igualmente de qualquer injeção monetária.  (No mundo de Krugman, embora a inflação beneficie os devedores à custa dos credores, isso é ótimo, pois ele falsamente pressupõe que todos os credores pertencem ao "um por cento" da população mais rica, ao passo que todos os devedores estão na categoria oposta.)
Portanto, dado que a hiperinflação ainda não apareceu, os austríacos são totalmente ignorantes sobre teoria monetária, e isso inclui Ron Paul.  O problema é que estamos lidando aqui com cronometragem, e não com teoria monetária; e Krugman, ao confundir uma com a outra, apenas demonstra sua falta de conhecimento em questões monetárias.
Tivessem os EUA não seguido os conselhos de Krugman, Bernanke, Geithner, Summers, Paulson, Goldman Sachs etc., mas sim os conselhos de Ron Paul, essa crise já teria acabado há muito tempo.  Em vez disso, todos os americanos estão sendo forçados a lidar com as insanidades defendidas por Paul Krugman e Ben Bernanke.
__________________________________________

"Onde está a inflação de preços nos EUA?

"

anigif_enhanced-buzz-11489-1357322272-2.gifUma das principais linhas de ataque dos críticos contra a Escola Austríaca tem sido a questão da inflação de preços nos EUA.  Economistas austríacos como Robert Murphy têm sido criticados por causa da aparentemente baixa inflação de preços nos EUA, algo que vai contra sua previsão.  Antes de tudo, vale ressaltar que esses críticos estão se referindo ao conceito convencional de nível de preços, o qual é mensurado pelo Índice de Preços ao Consumidor [nos EUA, CPIConsumer Price Index].
Pelo bem do debate, vamos ignorar aqui todos os problemas relativos ao conceito de 'nível de preços' e todos os problemas técnicos inerentes ao cálculo do CPI.  Vamos ignorar também o fato de que tal supostamente baixa inflação de preços pouco ou nada tem a ver com a Teoria Austríaca dos Ciclos Econômicos (TACE), ao contrário do que os críticos vêm gostosamente dizendo.  A noção básica de que mais dinheiro criado (ou seja, inflação) gera preços mais altos (ou seja, inflação de preços) não é exclusivamente austríaca.  Trata-se de uma ideia muito antiga e comumente aceita por economistas profissionais, e está presente em praticamente todos os livros-textos que já examinei.
Tal visão é frequentemente rotulada de 'teoria quantitativa da moeda'.  Apenas economistas de ideologia mercantilista ou keynesiana discordam dessa teoria.  No entanto, somente os austríacos podem explicar o atual dilema: por que a maciça criação de dinheiro pelos principais bancos centrais do mundo, mais notadamente nos EUA, não resultou em preços mais altos?
Economistas austríacos como Ludwig von Mises, Benjamin Anderson e F.A. Hayek perceberam que, durante a década de 1920, não obstante os preços das mercadorias apresentassem grande estabilidade, os preços dos insumos presentes na estrutura de produção da economia americana vinham crescendo com vigor, e isso indicava problemas relacionados à política monetária adotada pelo Banco Central americano, o Federal Reserve.  Mises especificamente alertara que a política do "dólar estável" preconizada por Irving Fisher e implantada pelo Fed iria gerar severas ramificações.  Não fosse essa política monetária frouxa adotada pelo Fed durante a década de 1920, os preços teriam caído durante aquela década, a qual vivenciou um robusto aumento de produtividade.
Portanto, analisemos agora o comportamento dos preços daqueles produtos que a maioria dos economistas ignora, e vejamos o que descobrimos.  Dentre os preços óbvios a serem analisados está o preço do petróleo.  Economistas convencionais não gostam muito de analisar os preços do petróleo, tanto é que ele (junto com os preços dos alimentos) nem é incluído no cálculo do CPI.  Ben Bernanke diz que os preços do petróleo nada têm a ver com a política monetária do Fed (um despautério, dado que o petróleo mundial é comercializado em dólares) e que tais preços são governados por outros fatores.
Na condição de economista austríaco, eu especularia que, em uma economia de livre mercado, em que não existissem bancos centrais, o preço do petróleo seria estável.  Mais ainda: especularia que, na atual realidade econômica, em que há bancos centrais, o preço do petróleo não apenas seria bastante instável, como também refletiria a política monetária americana, exatamente como explicado pela Teoria Austríaca dos Ciclos Econômicos.
Ou seja, as taxas de juros artificialmente baixas geradas pelo Fed (por meio de sua criação de dinheiro) estimulariam os empreendedores a darem início a novos projetos de investimento.  Isso, por sua vez, aumentaria a demanda por petróleo (setor este em que a oferta é relativamente inelástica), o que faria com que o preço do petróleo aumentasse.  À medida que esses empreendedores tivessem de pagar preços mais altos por petróleo, gasolina e energia (e por vários outros insumos), e à medida que seus clientes tivessem de reduzir sua demanda pelos bens produzidos por esses empreendedores (para poderem pagar os preços mais altos da gasolina), alguns desses investimentos deixariam de ser lucrativos e passariam a apresentar prejuízos.  Portanto, por essa teoria, o preço do petróleo deveria subir em períodos de expansão econômica artificial e cair em períodos de recessão. 
E é exatamente isso o que ocorre, como retrata o gráfico abaixo, que mostra o preço em dólares do barril de petróleo (as áreas em cinza denotam períodos de recessão nos EUA).
graph1.png
Como se nota, o preço do petróleo se manteve bastante estável enquanto o país estava no pseudo-padrão ouro (até 1971).  Os dados também retratam a dramática instabilidade gerada a partir do momento em que o padrão monetário mundial passou a ser puramente fiduciário, sem absolutamente nenhum lastro em ouro (após 1971).  Adicionalmente, nota-se que o preço do petróleo varia, em termos gerais, bem de acordo com a teoria austríaca — muito embora a política monetária não seja a única determinante dos preços do petróleo, dado que obviamente não existe uma relação numérica estável entre as duas variáveis.
Outra commodity digna de atenção por causa de seu alto preço é o ouro.  O preço do ouro também aumenta durante os períodos de crescimento econômico artificial e cai durante as recessões.  No entanto, desde que a última recessão americana terminou oficialmente em 2009 (como mensurado tecnicamente pela variação do PIB), o preço do ouro mais do que dobrou.  A política de juros zero do Fed fez com que o custo de oportunidade de se investir em ouro se tornasse extraordinariamente baixo.  As maciças injeções monetárias feitas pelo Fed criaram uma enorme pressão altista no preço do ouro.  Nenhuma surpresa.
graph2.png
Na realidade, os preços de todas as commodities aumentaram.  O Índice de Preços ao Produtor (Producer Price Índex — PPI) para as commodities mostra um padrão similar ao do petróleo e do ouro.  O PPI-Commodities se manteve estável durante o pseudo-padrão ouro.  Após a adoção do padrão papel-moeda fiduciário pós-1971, a volubilidade reinou.  O índice tende a disparar antes de uma recessão, e a estabilizar durante e após a recessão.  Atualmente, o Índice PPI para commodities já retornou a níveis historicamente altos.
graph3.png
Preços altos parecem ser a norma hoje nos EUA.  O mercado de ações está próximo de sua máxima histórica.  O mercado de títulos do governo já está em sua máxima histórica.  Os preços dos terrenos agrícolas vêm batendo sucessivos recordes.  O mercado de Arte Contemporânea de Nova York está "bombando", batendo recordes de preços e vendas.  Os mercados imobiliários de Manhattan e Washington, D.C. estão ambos também em seus respectivos ápices, como os austríacos prognosticariam.  É ali, afinal, que o dinheiro está sendo criado, e é ali que grande parte dele é injetada na economia.
Isto nem sequer leva em consideração como seriam os preços caso o Fed e os bancos centrais mundiais não houvessem atuado da forma como atuaram.  Os preços imobiliários seriam mais baixos, assim como os preços das commodities, e o CPI e o PPI seriam hoje negativos.  As famílias de mais baixa renda teriam vivenciado um aumento em seu padrão de vida (por causa da queda nos preços), e os poupadores ganhariam retornos decentes sobre suas poupanças (atualmente, o retorno é nulo).
Obviamente, o mercado de ações e o mercado de títulos também estariam vivenciando preços significativamente menores (no caso dos títulos, isso implicaria juros maiores).  As ações dos grandes bancos teriam despencado e os bancos insolventes teriam quebrado.  Hedge funds e bancos de investimento teriam entrado em colapso, assim como vários tipos de financiamento.  O mercado imobiliário de Manhattan estaria na lona.  O mercado de trabalho para administradores de fundos de investimento, operadores de hedge fund e banqueiros em geral teria evaporado.
Ou seja, o que o Fed optou por fazer acabou tornando os ricos mais ricos e os pobres mais pobres.  Caso ele não houvesse embarcado na mais extrema e heterodoxa política monetária de sua história, os pobres teriam vivenciado um relativo aumento em seu padrão de vida, e os ricos teriam vivenciado uma substancial redução coletiva no seu.
Mas há também outros motivos por que os preços dos bens de consumo não aumentaram em conjunto com a oferta monetária da mesma forma dramática que a observada para o petróleo, o ouro, as ações e os títulos.  Tudo indica que as políticas inflacionárias e keynesianas adotadas pelos EUA, pela Europa e pela China resultaram em um ambiente econômico e financeiro tão incerto, que os bancos estão receosos em conceder empréstimos, os empreendedores estão temerosos em investir, e todo mundo está com medo do futuro de suas moedas, as quais eles são obrigados a aceitar.
Em outras palavras, o motivo pelo qual as previsões sobre a inflação de preços não se materializaram é porque as receitas keynesianas — como pacotes de socorro, pacotes de estímulo e maciças injeções monetárias no sistema bancário — não apenas fracassaram como também ajudaram a destroçar ainda mais a economia.

O Banco Central americano e a “ameaça” da redução dos estímulos



por  

Federal Reserve — o Banco Central americano — tem sido implacável em sua tarefa de expandir a base monetária.  Embora a mídia rotineiramente goste de atormentar os leitores com insinuações de que a política sendo perseguida pelo Comitê de Política Monetária dos EUA está prestes a ser alterada, podemos ver no gráfico abaixo que ela não mudou nada desde o anúncio — feito em dezembro de 2012 — de que esta política seria implantada.
fredgraph.png
Evolução da base monetária dos EUA
Toda essa expansão da base monetária não se converteu em expansão monetária (isto é, expansão da quantidade de dinheiro na economia) porque boa parte dela ficou represada nos bancos, que não estão emprestando.  O gráfico abaixo mostra a evolução das "reservas em excesso", isto é, dinheiro que os bancos não emprestaram ao público porque preferem mantê-lo voluntariamente depositado junto ao Fed, que está pagando juros de 0,25% ao ano sobre este montante.
fredgraph (1).png
Evolução das reservas em excesso nos EUA
Tenha em mente que, quando a mídia fala que o Fed está prestes a alterar sua postura monetária, não se está dizendo que haverá uma interrupção em todo este processo de criação de dinheiro; não se está dizendo que a base monetária assumirá um valor estável.  O que se está dizendo é que haverá uma redução na taxa de aumentodesse processo de criação de dinheiro.  No momento, o Fed está criando o equivalente a US$1 trilhão por ano.  Tal postura passou a ser considerada normal.
Sempre que o Fed publica suas atas, o que ocorre a cada seis semanas, especialistas se debruçam nelas para estudar minúcias da linguagem e tentar encontrar alguma pista de que haverá alguma mudança de postura.  Eles estão tão preocupados com a ameaça de alguma redução na taxa de expansão da base monetária, que eles próprios tentam descobrir quando o Comitê de Política Monetária do Fed irá realmente reduzir a taxa de expansão.
Esse grau de preocupação indica o tamanho da dependência de toda a economia — não só a americana, como também a mundial — em relação a uma contínua expansão da base monetária feita pelo Fed.  Isso já deixou de ser uma minúcia meramente técnica; é hoje um assunto de interesse da imprensa mundial.  Obviamente, o tamanho do aumento na base monetária é astronômico, por qualquer que seja o padrão adotado, e isso aguça o interesse.  Um trilhão de dólares por ano é uma quantia obscena de dinheiro.  A mídia financeira supõe ser possível voltar a um mundo em que o Fed fabrica menos de US$1 trilhão por ano.  O medo hoje é que uma redução nessa velocidade de criação de dinheiro irá derrubar toda a economia.  O temor é que tal redução fará com que as taxas de juros de longo prazo voltem a subir (estavam em níveis historicamente baixos porque o Fed estava comprando títulos de longo prazo com o intuito justamente de manter baixos os juros de longo prazo), que os preços do títulos caiam, que a bolsa de valores despenque, que o desemprego suba, e que algo como a recessão de 2009 reapareça.
O mais interessante de tudo é o seguinte: isso é exatamente o que a Escola Austríaca de economia ensina.  Ela ensina que o Banco Central expande a base monetária e isso faz com que o capital seja alocado de forma errônea e insustentável.  Toda a economia se torna dependente deste dinheiro que está sendo criado do nada, bem como os mercados de capital.  Sendo assim, qualquer tentativa do Banco Central de retornar à situação anterior a este arranjo levará a uma grande recessão.  Foi isso o que ocorreu em 2007, o que gerou a recessão de 2008.
Estamos hoje vivenciando uma situação em que a mídia está tão preocupada com qualquer possibilidade de redução da taxa de expansão da base monetária, que ela está, com efeito, pressionando o Fed a continuar mantendo sua expansão.  A mídia persuadiu os investidores de que qualquer tentativa de conter a expansão da base monetária americana levará a uma série de consequências negativas para toda a economia global.  Trata-se de uma avaliação correta, mas isso pressiona o Comitê de Política Monetária do Fed a dar continuidade às suas políticas inflacionistas, pois até mesmo quando houve uma simples alusão de que haveria uma redução na taxa de expansão da base monetária, em junho passado, as bolsas de valores despencaram.
Estamos hoje em uma situação na qual a mídia financeira reconhece que o Fed é o centro da economia americana, e consequentemente o centro da economia mundial.  A mídia adotou uma estratégia de divulgar reportagens que geram temores todas as vezes em que há até mesmo uma ínfima alusão à possibilidade de o Fed começar a reduzir a taxa de expansão da base monetária.  As pessoas estão realmente alertas para tudo aquilo que o Fed está fazendo.  Isso não ocorria no passado, mas está ocorrendo agora.
Com o público investidor tão preocupado com a possibilidade de redução da taxa de expansão da base monetária, é improvável que o Fed se arrisque a realmente fazer isso.  Os economistas do Comitê de Política Monetária sabem que o público investidor está ciente de tudo que o Fed está fazendo, e este público está à procura de qualquer indicação de que o atual ritmo de compras de títulos governamentais e hipotecários pelo Fed não será mantido.  Isso praticamente garante que o ritmo das compras será mantido.  O Comitê de Política Monetária está temeroso dos efeitos de uma redução na taxa de crescimento das compras.  Ninguém quer umarecessão.  Todo o objetivo da atual política do Fed é justamente reduzir a ameaça de uma recessão.  É por isso que a economia americana está presa à atual taxa de crescimento da base monetária.
Quanto mais tempo isso perdurar, pior será a má alocação de capital.  Sabemos disso.  Economistas seguidores da Escola Austríaca se concentram nisso.  Mas essa é uma preocupação menor entre os economistas seguidores da Escola de Chicago, e raramente chega a ser uma preocupação entre os economistas keynesianos.  Os economistas acadêmicos e profissionais já se posicionaram em defesa do Fed, como sempre fazem.
bernanke-fomc.gi.top.jpgBen Bernanke viciou a economia americana a uma contínua inflação da base monetária.  A magnitude do aumento na base monetária tem sido tão grande, que a criação de US$1 trilhão por ano passou a ser necessária para ao menos começar a estimular a economia americana.  Não fosse a relutância dos bancos comerciais em conceder empréstimos, o país já estaria hoje em uma hiperinflação.  Mesmo assim, Bernanke ainda não foi desafiado de maneira significativa pelo Comitê de Política Monetária do Fed.  Apenas um membro do Comitê manifestou oposição à continuidade desta política monetária, no dia 31 de julho.  Isso indica um total apoio à política de Bernanke.  Indica também que a atual política monetária não é simplesmente a política de Bernanke; é a política de todo o Comitê.
William McChesney Martin, que foi presidente do Fed de 1951 a 1970, fez a famosa declaração de que a função do Banco Central é retirar o barril de chope quando a festa começa a ficar animada.  O problema é o seguinte: não haveria festa animada se o Banco Central não houvesse fornecido o barril de chope.  O barril de chope do Fed é a única coisa que está sustentando o atual nível da bolsa de valores americana.  É por isso que os comentaristas e jornalistas financeiros estão apavorados com a possibilidade de o Fed vir algum dia a deixar de expandir a base monetária em seu ritmo atual.  A economia está sendo estimulada unicamente pela inflação.  Mas ainda assim ela não consegue decolar.
A atual política seguida pelo Fed é clara.  Seus economistas já disseram repetidas vezes que manterão a atual política monetária até que determinados critérios sejam alcançados.  E estes critérios ainda não foram alcançados.  O desemprego ainda é de 7,5%, e a meta é 6,5%.  A inflação de preços ainda está abaixo de 2% ao ano.  E não há nenhuma pressão externa sobre o Fed para que ele reduza a taxa de expansão da base monetária.
Bernanke sairá do Fed no início de 2014.  O novo presidente estará em uma enrascada.  Como não sabemos quem será o novo presidente, não é possível fazer boas previsões sobre qual será a nova política do Fed.  A minha crença é esta: não haverá nenhuma mudança fundamental na política monetária até que a inflação de preços se torne um sério problema político.  Os mercados temem uma alteração na política monetária.  E o Comitê de Política Monetária do Fed teme os mercados.
___________________________________


Gary North , ex-membro adjunto do Mises Institute, é o autor de vários livros sobre economia, ética e história. Visite seuwebsite