segunda-feira, 22 de julho de 2013

Bebê nasceu no mesmo hospital em que Lady Diana deu à luz William e Harry

Grã-Bretanha

Nasce o primeiro filho de Kate Middleton e príncipe William

Pouco mais de dois anos após o casamento com o príncipe William, Kate Middleton
deu à luz o primeiro filho do casal nesta segunda-feira, às 16h24 (horário local,
12h24 no horário de Brasília). Ao confirmar a notícia, o Palácio de Buckingham
encerrou também o mistério em torno do sexo do bebê, mantido em segredo durante
toda a gravidez. O nome da criança, porém, só será revelado nos próximos dias,
conforme protocolo da família real britânica. Especula-se que William e Kate optem
 por um nome bastante tradicional – e que remeta a outros personagens históricos
da realeza. A forma de tratamento, no entanto, já está definida. O menino, que nasceu
com 3,7 quilos, será tratado como "Sua Alteza Real Príncipe (nome) de Cambridge".
Segundo documento distribuído pelo Palácio de Kensington, mãe e bebê passam bem.
 William ligou pessoalmente para a rainha Elizabeth II e também para os pais de Kate,
que passa esta noite no hospital. O secretário pessoal do príncipe William, Ed Perkins,
 deixou o hospital com o ofício sobre o nascimento e foi colocado num cavalete de
 madeira diante do palácio de Buckingham.

O hospital escolhido por Kate para o parto, o St. Mary's, em Paddington, no centro de
 Londres, é o mesmo em que a princesa Diana, morta em 1997, deu à luz os príncipes
William e Harry. Desde o dia 2 de julho pelo menos sessenta fotógrafos estão
acampados em frente ao local na tentativa de registrar a primeira imagem de William
e Kate com a criança.
Como seu pai, o príncipe Charles, fez no dia de seu nascimento, em 1982, William
assistiu ao parto, que durou mais de 10 horas. Até o nascimento de William, há 31
anos, os pais da realeza costumavam ficar do lado de fora da sala de parto.
Em março, um ato falho de Kate chegou a ser considerado uma pista de que a
duquesa esperava uma menina. Presenteada por uma admiradora com um urso de
 pelúcia branco, Kate teria respondido: "Obrigada, vou levar para minha fi...".
 Imediatamente, ela se corrigiu: "Para o meu bebê". 
Efeito bebê – Analistas estimam que o frisson em torno do nascimento do bebê
real possa injetar na economia inglesa até 240 milhões de libras (380 milhões de
dólares), derivados da venda de produtos licenciados, do aumento no fluxo de turistas
e do bookmakers, mercado de apostas, que movimenta milhões na Inglaterra com
palpites sobre o nome do bebê, a cor dos seus cabelos e até a idade em que ele vai
ser fotografado pela primeira vez dentro de um clube noturno. Em entrevista à
agência de notícias France-Presse, o especialista Gary Burton revelou que os
 palpites já ultrapassaram o montante de 750 000 libras (equivalente a 2,5 milhões
 de reais) na empresa de apostas Coral, a qual dirige.
Os números se justificam tendo em vista que sobre a cabecinha coroada do bebê
de William e Kate repousa a responsabilidade da manutenção de uma instituição
milenar, a monarquia britânica. Segundo um estudo divulgado em junho do ano
passado pela consultoria britânica Brand Finance - especializada em avaliação e
 gestão de marcas -, o valor comercial da realeza britânica já supera 44,5 bilhões
 de libras (mais de 139 bilhões de reais). A pesquisa sugere que, se fosse colocada
 à venda como qualquer outro negócio, a monarquia valeria mais do que as redes de supermercado locais Tesco (33 bilhões de libras) e Marks & Spencer (7,4 bilhões de
libras) juntas, por exemplo. O bebê de William torna-se o terceiro na linha de 
sucessão ao trono, atrás do avô e do pai. Os herdeiros são a forma de perpetuação
 da monarquia. Logo, ao presentear a rainha Elizabeth II com um bisneto, William e Kate cumprem o papel que se esperava deles: contribuem para garantir a longevidade dos
Windsor no trono inglês.
William é hoje uma das mais populares figuras da família real. Ele herdou da mãe, a
 princesa Diana, a beleza, a simpatia e a naturalidade no trato com os plebeus. Cumpre
 à risca todos os compromissos oficiais e está sempre sorrindo em público. Ele sabe
 que é a maior aposta do Palácio de Buckingham para garantir a popularidade da
 monarquia inglesa junto aos súditos - o futuro do negócio familiar do qual é o herdeiro
 depende em grande medida de seu sucesso nessa missão. A escolha de Kate, uma
plebeia, para caminhar ao seu lado nessa empreitada tem se mostrado cada dia mais
 acertada.
Ao longo dos oito anos de namoro que antecederam o casamento, ocorrido em abril
de 2011, Kate foi submetida a vários testes. No escaneamento feito pela rainha das
qualidades da duquesa, as que mais contaram foram a discrição e a compostura.
Desde que passou a integrar a família real, Kate segue à risca seu papel – inclusive
o de garantir à rainha um bisneto. O charme, o carisma e, acima de tudo, a vocação
para servir de exemplo reservam ao casal um lugar cativo em meio aos súditos. Até
no teste da fotografia em topless o casal passou. A crise provocada pela divulgação
de fotos da duquesa em momentos íntimos com o marido durante uma viagem à
França, em 2012, foi enfrentada com profissionalismo e disciplina. Kate mostrou
que tem autocontrole para enfrentar situações de emergência.

O look das mamães reais

1 de 8

Beatriz Guilhermina Armgard


A rainha da Holanda, Beatriz, seguiu o protocolo da realeza e se vestiu formalmente para apresentar o primogênito Guilherme ao mundo, em 1967. O vestido de corte reto foi adornado com um colar de pérolas e, nos cabelos, uma casquete de penas. 
Fora do palácio – Ao contrário de Diana, filha de condes, Kate é a primeira plebeia de verdade a entrar para a realeza. Foi na família da mulher que William finalmente encontrou um ambiente doméstico estruturado: os pais de Kate, Carole e Michael, não moram em palácios, não se traem publicamente e não têm mordomos como maiores confidentes. Ou seja, um bebê da realeza inglesa pela primeira vez vai ser criado também por uma família "comum" – os novos papais, aliás, passarão os primeiros dias após a chegada do bebê na casa da família da duquesa.
Tragicamente órfão de mãe aos 15 anos, William chegou a experimentar um modelo de criação menos formal. Ao invés de delegar a educação e os cuidados com os filhos aos empregados, como era praxe nos domínios de Buckingham, Diana fazia questão de levá-los à escola e cumprir trajetos a pé com os dois pelas ruas de Londres, apesar do constante assédio dos paparazzi. Ela e Charles também fizeram muitas viagens de férias com os filhos, algo que raramente acontecia com os antepassados da rainha Elizabeth II, deixados na companhia de babás enquanto os pais se ausentavam. A exemplo do pai, William e Harry recusaram a tradição de receber educação circunscrita aos limites do palácio. William formou-se na Universidade de St. Andrews, na Escócia, onde conheceu Kate. Espera-se que o filho do casal siga pelo mesmo caminho.
Instituição milenar - Um dos motivos que explica a longevidade da monarquia britânica é ter-se afastado das decisões políticas. Essa separação começou a ser moldada no século XIV, quando surgiram as duas Câmaras parlamentares, a dos comuns e a dos lordes. Mas o rei manteve a supremacia até 1689. Naquele ano, durante uma grave crise de sucessão, uma lei definiu o Parlamento como autoridade máxima. O poder político foi gradativamente transferido para as mãos do povo, sem que fosse preciso decapitar o monarca, como fizeram os franceses no século XVIII. Atualmente, o monarca chefia o estado e (sempre) aprova a indicação do primeiro-ministro feita pela Câmara dos Comuns. Desde o fim do século XIX ficou acertado que o monarca tem três direitos - "o direito de ser consultado, o direito de aconselhar e o direito de advertir".
Há 61 anos no trono, Elizabeth II é alvo da branda, porém crescente, pressão da opinião pública para que abdique do trono devido à idade avançada. Em pesquisa realizada pelo jornal Sunday Times em maio, 53% dos entrevistados responderam sim ao serem perguntados se a rainha deveria permanecer no trono até o fim de sua vida. A porcentagem representa a maioria, porém, é menor do que a registrada no mês de março, quando 64% das pessoas disseram pensar dessa forma.
Abrir mão do reinado tem sido cada vez mais comum em monarquias europeias. Só neste ano,dois monarcas abdicaram: o rei da Bélgica, Alberto II, e a rainha Beatrix na Holanda. Pela linha sucessória na Inglaterra, o príncipe Charles é o próximo a subir ao trono. Há algum tempo, ele já vem representando a mãe em compromissos de peso, como na reunião de cúpula da Commonwealth, a ser realizada em Colombo, no Sri Lanka, no mês de novembro. Será a primeira vez que a rainha vai se ausentar da reunião desde 1971. Segundo fontes ouvidas pela agência de notícias France-Presse, isso é indício de que o Palácio de Buckingham quer poupar Elizabeth de viagens ao exterior. A última viagem da rainha para fora da Inglaterra, para Austrália e Nova Zelândia, ocorreu em novembro de 2011. Em março passado, ela precisou cancelar uma viagem a Roma devido a uma hospitalização de 24 horas, a primeira em mais de dez anos.

Lewandowski preside STF durante férias de Barbosa



O vice-presidente do Supremo Tribunal Federal (STF), ministro Ricardo Lewandowski,
assumirá a presidência da Corte a partir desta segunda-feira. Ele ficará no cargo até
 o final do mês, durante as férias do atual presidente Joaquim Barbosa. De acordo
com a Agência Brasil, Barbosa deve anunciar na volta do recesso do STF que os 26
 recursos do processo do mensalão estão prontos para julgamento. A análise dos recursos deve ocorrer a partir da segunda quinzena de agosto e a nova rodada
de julgamentos deve durar ao menos um mês.
Durante o tempo em que assumirá o STF, Lewandowski não pretende julgar
assuntos considerados polêmicos, informaram assessores, embora ele tenha
a prerrogativa de decidir questões urgentes, mesmo que estejam sob
responsabilidade de outros relatores.
É comum no STF que o presidente e o vice-presidente da Corte se revezem no
 plantão durante o recesso. O semestre forense no STF foi finalizado na manhã
 do dia 1º de julho, mas durante o recesso Barbosa deferiu liminar para suspender
 os efeitos da Emenda Constitucional 73/2013, que criava quatro novos Tribunais
 Regionais Federais (TRFs). Barbosa teve agenda oficial na Corte até a última
sexta-feira, quando se encontrou com a presidente Dilma Rousseff.
(Com Estadão Conteúdo)

'Foco é trazer médicos cubanos', diz deputado sobre MP dos Médicos

Eleuses Paiva (PSD-SP) organiza a resistência à proposta governista e 

afirma que o programa Mais Médicos é uma medida eleitoreira que 

colocará em risco tratamento da população de baixa renda no interior 

do país

Marcela Mattos, de Brasília
Deputado Eleuses Paiva PSD/SP
Paiva apresentou 31 emendas ao projeto e pretende que proposta seja totalmente rejeitada no Congresso (Leonardo Prado/Agência Câmara)
Um dos principais opositores no Congresso Nacional ao Mais Médicos, programa
 anunciado pelo governo federal para salvar a saúde pública do país importando
profissionais estrangeiros, o deputado Eleuses Paiva (PSD-SP) afirma que a medida
tenta camuflar a verdadeira intenção do governo: “É um balão de ensaio para trazer
25 000 médicos de Cuba.”
Professor e integrante do setor de medicina nuclear do Hospital de Base de São José
 do Rio Preto e do Hospital Sírio Libanês, em São Paulo, o deputado afirma que as universidades de medicina do país “estão de luto” e ataca o ministro Aloizio Mercadante,
que, apesar de ser titular da Educação, assumiu o papel de articulador do governo no Congresso: “Ele não entende nada do assunto”. Leia trechos da entrevista ao site de
VEJA:
Como o programa Mais Médicos foi recebido pelo Congresso? Essa medida é
 tão constrangedora que não tem nenhum deputado da área de saúde do PT
participando da comissão [que analisa o tema]. Ninguém aceitou ir para um desgaste
 desse. A discussão é autoritária, não dá para negociar. Alguns parlamentares, a pedido
do Ministério da Saúde, querem discutir o tempo de atuação no SUS [de dois anos, de
 acordo com a proposta], se diminui para um ano ou para seis meses. O ponto é que a
forma de fazer essa discussão não é por meio de medida provisória, por ato autoritário.
A forma de fazer a discussão é dentro das universidades, no Conselho Nacional de
Educação.
O que o senhor achou da mudança de discurso quando o governo falou em 
trazer médicos espanhóis e portugueses? Esse balão de ensaio realmente é para
 trazer médico cubano. Há quatro anos, a Venezuela teve a importação de 25 000
médicos cubanos pelo governo Hugo Chávez. A Federação Médica Venezuelana nos
 disse que tinha sérias dúvidas se essas pessoas eram médicas de verdade, porque
as condutas profissionais que elas tomavam eram absurdas. É justamente esse acordo
 que nós desconfiamos que o governo brasileiro esteja fazendo, porque esses médicos
têm um contrato com o governo venezuelano que acaba agora. Eles estão retornando
para Cuba e são justamente os 25 000 que estavam trazendo para o Brasil quando nós
 os emparedamos. Baseado nisso, o ministro [Alexandre] Padilha, que é uma pessoa
muito boa para desviar a rota, diz que vai trazer profissionais portugueses e espanhóis.
 A notícia que nós temos, e que provavelmente o ministro dará, é que serão dez
é médico cubano. É isso que ele está tentando trazer.

O que é o Mais Médicos:

Programa elaborado pelos Ministérios da Saúde e da Educação que prevê a importação de
médicos estrangeiros quando os profissionais brasileiros não ocuparem as vagas disponíveis
 nos municípios do interior do país. O governo chegou a anunciar, em maio, que traria 6 000
cubanos para atuarem nos rincões. Após ser bombardeado por críticas de entidades médicas,
recuou da decisão e anunciou a importação de profissionais espanhóis e portugueses. A insistência
 em trazer médicos do exterior é tanta que a obrigatoriedade do exame que permite a atuação de
estrangeiros no país, o Revalida, foi descartada. Pelo texto, três semanas de experiência em
universidades são suficientes para atestar a qualidade do médico. O programa também atinge
a grade curricular do curso de medicina: após seis anos de graduação, os profissionais terão d
e atuar por dois anos no Sistema Único de Saúde (SUS) – regra que vale para estudantes da rede
 pública e privada.

Então o senhor é contra a importação de médicos estrangeiros?
Ninguém é
contra a entrada de médicos estrangeiros neste país. O que estamos
 discutindo é
qual profissional nós vamos trazer sob o ponto de vista de qualidade e
de conhecimento.
Nós não podemos trazer profissionais despreparados, com conhecimento
 precário. As
 provas do Revalida, quando aplicadas em médicos oriundos de Cuba, tiveram
 reprovação de mais de 90%. Recentemente, avaliaram o quinto e o sexto ano
 da
Universidade Federal do Rio Grande do Norte, e o índice de aprovação beirou
80%.
Se um reprova 90%, e outro aprova 80%, que tipo de profissional estamos trazendo
para o nosso país?
Como o governo está reagindo às críticas? Agora está tentando o casuísmo.
Em vez de assumir a impossibilidade de uma medida provisória como essa, tenta
criar casuísmos para poder sobreviver. Estão propondo avaliar quarenta escolas
de medicina para ver o nível delas, mas são as quarenta piores avaliadas pelo MEC.
 Eles querem rebaixar o nível. Quando eu vejo um ministro brigar para rebaixar
enquanto quem está na área acadêmica briga para melhorar sempre, é um absurdo.
 A sociedade tem de ficar revoltada. É o que eu falo: coisa de ministro que não é da
área. O Mercadante não é um educador, não entende nada do assunto e resolveu
 agora virar um educador.
O problema do Brasil é a falta de médicos? Hoje, no Brasil, se formam 16 000
médicos por ano. Não é possível alguém achar que, ao formar mais 12 000 e levar o
aparelho formador para 28 000 profissionais, o problema será resolvido. Com 16 000
 já tem problema de qualidade de docentes, diagnosticado pelo MEC. Já tem problema
 de hospital de ensino, de estrutura dessas escolas. Como vai dobrar o número por
medida provisória? Ninguém que tenha o mínimo de bom senso acha que isso pode
ser feito em curto espaço de tempo. Então é uma medida eleitoreira. As três principais mudanças são totalmente inconsequentes e sem nenhum conteúdo técnico.
Já foram apresentadas 567 emendas, 31 só do senhor. Dá para acreditar que 
sairá do Congresso outra – ou nenhuma – proposta? Eu tendo a acreditar nisso.
Se o governo tiver o mínimo de responsabilidade, ele retira essa medida provisória. Até
 porque não é normal uma medida ter mais de 500 emendas. Eles conseguiram uma unanimidade: todas as medidas tentam resgatar que não se mexa na autonomia
universitária, que é importante avaliar a competência profissional, que o aparelho
 formador tem que ter critérios técnicos. Particularmente, tenho minhas sinceras
 dúvidas se será aprovado.

Mas a base é grande... Sim. Mas o PSD, por exemplo, é um partido independente.
Não nos furtamos de votar junto com o governo quando achamos que o projeto é
interessante. Nós não temos problema em votar contra o governo. Eu estou
responsável por fazer a discussão dessa MP na bancada, será na primeira semana
após o recesso para fechar um posicionamento uniforme. Vou trabalhar pela rejeição
 total da proposta.
Qual seria a solução para os conhecidos problemas da saúde no país? A
principal solução é criar a carreira de estado, a figura do médico como profissão
essencial, semelhante a juízes, promotores e defensores. Primeiro tem um incentivo
para o médico. Se não quiser ficar no interior, vai começar a carreira lá e depois pode
se mudar. Não fica sujeito à pressão política e tem autonomia nos atendimentos. E mais:
 onde não houver condição, nós vamos apontar para a estrutura chegar junto com o
 médico. Medicina não se faz com um estetoscópio e um termômetro na mão. Você
obrigar um médico a ir para um local desse jeito, não dá para fazer medicina.
Outros países também já adotaram esse tipo de medida. A Inglaterra tem muitos
médicos oriundos de outros países. Fizeram uma avaliação de que 85% dos erros
médicos seriam de estrangeiros. O caso mais grave no Brasil é a exposição da população
de baixa renda. É tudo o que não pode acontecer no SUS, que é um modelo universal,
 integral e que prevê a equidade social. Agora, está montada a diferenciação. Vai ter
um tipo de sistema para atender determinada população, e para a população de baixa
 renda eles nem sabem direito identificar o que é médico, então pode ser qualquer um.
 Eles estão discriminando, criando um cidadão de segunda categoria sob o ponto de
 vista da saúde. Isso é inaceitável, além de ser inconstitucional.

Vinicius de Moraes, 100 anos

PSICANÁLISE DA VIDA COTIDIANA


CARLOS VIEIRA
- Acredita na responsabilidade do poeta para com sua época? 
-Claro. Sobretudo com relação aos jovens. Não sei se perfeita ou imperfeitamente, acho que deixei minha contribuição à literatura do meu tempo, do meu país. Um poema como “O Operário em Construção”, por exemplo, é uma contribuição. Não sou um ser particularmente político, porque não tenho vocação. Sou um cara de esquerda e devo carregar o ônus de ser um cara de esquerda num mundo de direita. Um mundo tão injusto... 
(Entrevista de Vinicius à Edla van Steen.)
Apaixonado, amoroso, outro “poeta gauche” da nossa Literatura; romântico, tenebroso, generoso, simples, um homem da rua, dos bares, da praia e das rodas de samba.” O branco de alma mais preta do Brasil”, como se dizia, o único; avesso à gravata e ao ideal do funcionário público esperando a aposentadoria para viver a vida. 
Vinicius é corpo, corpo trêmulo de gritos de amor e de protesto. Amante, sempre e sempre, a ponto de afirmar um dia ao responder à pergunta de Edla: namorar, para você, significa tanto? Significa tudo. Eu sou muito mais sensual do que sexual. O namoro é mais importante do que a trepada. Todo o envolvimento, a beleza, a coisa... Trepar é ótimo, mas é uma espécie de ponto final, né? Namorar é que é bom. Sou vidrado no erotismo, sabe? 
Esse ano, em 19 de outubro Vinicius faria cem anos. Aliás, outro dia, Rubem Braga, um dos nossos maiores cronistas, também fez cem anos. Tão lírico quanto Vinicius! A Feira de Parati irá comemorar os 120 anos de Graciliano Ramos. Enfim, quanta homenagem, caro leitor, a homens que deixaram uma obra poética, literária, com profundo sentido social também. E é a isso que vou me referir hoje. Não ao “poetinha” Vinicius, que de poetinha nada tinha além do apelido afetivo. Foi, e é um dos nossos grandes poetas românticos e modernos.
Minha inspiração nasceu após ler um belo livro – “O Traço, A Letra E a Bossa, Literatura e Diplomacia em Cabral, Rosa e Vinicius”, livro de Roniere Menezes, lançado pela Editora da Universidade Federal de Minas Gerais em 2011. O livro é uma versão, com algumas modificações, da sua tese de doutorado em Literatura Comparada. É daí que extraio meu improviso para mostrar e homenagear Vinicius, como um pensador social, um homem que também conheceu Os Sertões desse nosso país, assim como Guimarães Rosa e João Cabral de Melo Neto. 
“O olhar para baixo, para o simples sertanejo, remodela a percepção do poeta e possibilita-lhe a construção de um pensamento mais terno em relação ao Brasil. O homem comum, a arte popular, os ambientes periféricos passam a ser o objeto da sua literatura”, frisa Roniere em seu livro. 
Fica claro e evidente no texto citado, que Vinicius de Moraes teve uma profunda transformação na sua maneira de ver um Brasil para ele era desconhecido. Acompanhado de escritor Waldo Frank, escritor norte americano de linha socialista, o nosso poeta conhece o Nordeste e o Norte do Brasil. Toma contato com um Brasil bem diferente das grandes cidades do sul, que não ostenta a vida burguesa da vida carioca e paulistana. Agora, a miséria, a fome, o sertanejo, as opressões dos Coronéis e a gritante diferença das classes sociais não pararia de sangrar no coração apaixonado, romântico e idealista de Vinicius. Roniere cita o poeta:”Tenho a impressão de que, de repente, descobri que tudo era besteira. Tomei conhecimento da realidade brasileira. E quando terminei a viagem, tinha mudado completamente a minha visão política... “Quando vi, ao lado de Waldo Frank, a terrível realidade brasileira do Nordeste e Norte do Brasil, (...) em questão de um mês dei uma guinada tão violenta para o outro lado que só mesmo a madurez e a experiência deveriam depois colocar em seus termos de equilíbrio.” 
O “Sertão” de Vinicius de Moraes passa a ser então, as favelas, os marginalizados, a angústia de sobrevivências das prostitutas, os meninos de rua e a miserabilidade das favelas da cidade grande, o Rio de Janeiro. Escreve Roniere:”O distanciamento de Vinicius em relação ao espaço em que transitava desde a infância possibilita-lhe um aprendizado profundo sobre o Brasil... Vinicius encontra sua alma brasileira na periferia nordestina, lapida-a nas boates de jazz dos Estados Unidos e de Ipanema. Mescla essas influencias às advindas de suas andanças pelas favelas do Rio de Janeiro... Assinala ser a arte incapaz de salvar o homem: pode, contudo, produzir outro homem, mais gentil e respeitoso para com o próximo. Nesse contexto, refere-se a Carlos Drummond e a Manuel Bandeira, este, a quem afetivamente Vinicius sempre o chamava de “seu pai”. 
É esse o Vinicius que quero mostrar ao leitor; não o nosso poeta das canções e poemas amorosos e românticos, mas um homem que como toda pessoa sensível, apaixonada, inquieta e sofrida, nasce com a “angústia existencial” da compaixão pela condição humana marginalizada. 
“Orfeu da Conceição”, “A Rosa de Hiroxima”, “Balada do Mangue”, “Valsa á mulher do povo”, Lavadeiras dos Subúrbios”, e tantas outras obras do nosso poeta, atestam que, além de boêmio, homem de mil paixões e nove casamentos, do músico e letrista de canções eternas, do “diplomata sem gravatas”, esse poeta maior deixou em sua literatura um “canto de guerra” ás Injustiças Sociais e uma esperança de um Brasil mais justo socialmente. 
Deixo com o leitor, versos de alguns poemas, nessa homenagem: 

“...Não posso/ Digam-lhe que estou tristíssimo, mas não posso ir esta noite ao seu encontro./ Contem-lhe que há milhares de corpos a enterrar.../ Contem-lhe que há uma criança chorando em alguma parte do mundo./ E as mulheres estão ficando loucas, e há legiões delas carpindo/ A saudade de seus homens; contem-lhe que há um vácuo/ Nos olhos dos párias, e sua magreza é extrema.../ Façam-lhe ver que é preciso eu estar alerta, e voltado para todos os caminhos/ Pronto a socorrer, a amar, a mentir, a morrer se for preciso.” ( A Rosa de Hiroxima ). 

“...Pobres flores gonocócicas/ Que à noite despetalais/ As vossas pétalas tóxicas!/ Pobre de vós, pensas, murchas/ Orquídeas do despudor/ Não sois Loelia tenebrosa/ Nem sois Vanda tricolor:/ Sois frágeis, desmilinguidas/ Dálias cortadas ao pé/ Corolas descoloridas/ Enclausurada sem fé,/ Ah, jovens putas das tardes/ O que vou aconteceu/ Para assim envenenardes/ O pólen que Deus vos deu.” ( Balada do Mangue ). 
Caro Vinicius de Moraes, li num conto de Mia Couto, “ A viagem da cozinheira lacrimosa” que sei, gostaria de conhecê-lo, um coisa assim: “Pisara um chão traiçoeiro e subira pelas as alturas para esses lugares onde deixa a alma e se trazem eternidades.”
SARAVÁ, MEU POETINHA!!!
Carlos.A.Vieira, médico, psicanalista, Membro Efetivo da Sociedade de Psicanálise de Brasilia e de Recife. Membro da FEBRAPSI e da I.P.A - London. 

Mudar, mas sem mudar de lado

ARTIGO


JORGE VIANA
Superado o contencioso que o país viu em 2012, com parte da mídia e a oposição fustigando o governo e o PT, é chegada a hora de aprofundar a política de crescimento econômico e inclusão social inaugurada há dez anos por Lula. 

Apesar do ambiente falsamente conturbado, com intrigas sobre supostos apagões e descalabros administrativos, 2013 começa com o reconhecimento da maioria da população para os acertos de Dilma Rousseff. Nas últimas pesquisas, seus índices de aprovação ultrapassaram 70%. 

Isso é resultado do estágio de desenvolvimento do país. O desemprego está baixo, os juros continuam em queda — no menor patamar da história — e a confiança do brasileiro permanece alta. A arrecadação bateu recorde: R$ 1,029 trilhão. 

Além disso, o país está na vitrine do mundo, atraindo investimentos. Pesquisa da PricewaterhouseCoopers revela que o Brasil é o terceiro mercado mais importante, atrás de EUA e China. Além disso, 44% dos empresários brasileiros estão confiantes na perspectiva de crescimento da economia nacional. O país é o 4º em percepção positiva, atrás da Rússia (66%), Índia (63%) e México (62%).

Dilma fez certo ao mudar a agenda, andando pelo país e ampliando o diálogo com o setor produtivo. Nos últimos 15 dias, abriu as portas do Planalto para receber empresários. Na semana passada, um banqueiro anunciou investimentos de R$ 5 bilhões. O país continua um porto seguro. 

Isso acontece no momento em que o Brasil vê Lula de volta à política. Apesar da disposição de alguns em manter ataques, a recuperação da saúde deixou Lula disposto a fazer aquilo em que é mestre: política. Diferente de outros partidos que têm vergonha e escondem seus líderes, o PT não esconde os nossos. 

A liderança de Lula é reconhecida pelo povo e chefes de Estado. Seu desejo é manter a colaboração com Dilma, aprofundando a participação popular no processo político para coroar a reeleição dela em 2014. 

Aliás, bendita hora em que o PT — o partido com a preferência de 24% da população, de acordo com o Ibope — tem à disposição dois líderes capazes de manter serenidade para acelerar a trajetória de desenvolvimento traçado há uma década. Criador e criatura estão mais próximos do que nunca. 

A oposição precisa mais do que de torcida. Necessita de um projeto para convencer a população a deixar o rumo consagrado nas urnas. Foram os governos do PT que derrubaram a taxa de desemprego de 10,5% em 2002 para 4,7% em 2011. 

Nesse período, Lula e Dilma baixaram os juros de 25% para 7,5%. E conseguiram alavancar o salário mínimo de US$ 56 para US$ 306. Quem melhorou a vida da imensa maioria dos brasileiros, tirando 40 milhões de pessoas da pobreza, não foram aqueles que estiveram antes no governo, mas Lula e Dilma. 

Aprendi com um poeta amazônida que nem sempre precisamos de um novo caminho, mas de uma nova maneira de caminhar. O governo e o partido precisam fazer correções e mudar, mas sem mudar de lado. O caminho é longo.
Publicado no Globo 

Quantas vezes o mundo vai acabar?

ROBERTO DAMATTA


Penso que só nós, humanos, podemos contar uma história que começa assim: "Foi logo depois que o mundo acabou. As águas baixaram, a enorme arca encalhou no flanco de uma planície e a vida rotineira recomeçou com suas esperanças de sempre, inclusive a de poder, um dia, terminar..." 

A arca de Noé não era um Titanic, embora o Titanic tivesse uma inconfundível inspiração mitológica. Mas o Titanic, aquele navio inafundável, fabricado com a certeza da ciência, submergiu. Enquanto a Arca — construída na base da fé — não soçobrou. Por outro lado, o Titanic levava milionários num passeio luxuoso e imigrantes pobres que iam "fazer a América" naqueles velhos tempos que ela ainda podia ser feita. 

É claro que ambos os navios tinham um povo escolhido que sobreviveria. No caso do Titanic, testemunhamos a sobrevivência habitual dos milionários e dos espertos. Os de terceira classe morreram tão escandalosamente que as regras foram drasticamente modificadas. O Titanic e a Arca de Noé representam, cada qual a seu modo, um fim de mundo. 

A Arca, porém, como um instrumento de salvação, não podia afundar. Ela corrigia erros. Foi uma advertência e um recall do Criador para a humanidade. Os filhos de Adão e Eva, híbridos de barro, carne, osso, sopro divino e bestialidade não iam dar certo. Para quem vive querendo começar a vida; para quem tem arrependimentos intransponíveis e gostaria de zerar sua existência, a passagem bíblica oferece um conforto: até mesmo o Criador — onisciente, onipotente e onipresente — teve seus momentos de dúvida. Valeu a pena criar um intermediário, um ser entre os animais e os anjos? 

Não sabemos. O que se conhece, entretanto, é que sempre há um grupo que se imagina escolhido e, volta e meia, diz que o mundo vai acabar. Os eleitos são salvos por alguma Arca de Noé ou foguete intergaláctico como nos velhos e esquecidos contos de Isaac Asimov e de Ray Bradbury. São os escolhidos que dão testemunho de como o mundo acabou e — graças a um profeta — foi refeito na esperança de um aperfeiçoamento moral que custa e, às vezes, chega. 

No fundo, como diz a Dra. Camélia, uma psicanalista admiradora de antropologia, esses mitos não falam apenas do fim do mundo, falam — isso sim — da imortalidade dos eleitos. Daqueles que estão além do mundo porque seguiram regras morais mais fortes que o próprio mundo — esse planeta que, no fundo, é frágil e terminal se não segue algum mandamento. 

Vi o mundo acabar muitas vezes, disse o professor. Primeiro pela água, depois pelo fogo, depois pelas bombas atômicas do Dr. Strangelove. De 1000 passarás, mas a 2000 não chegarás! Estávamos em 1948 e faltava tanto para o 2000 que eu me perdi. Afinal, havia muitas coisas mais importantes para pensar e fazer do que me preparar para o fim do mundo. E, no entanto, essa década de 2000 foi clara na demonstração de que eu era mais um náufrago, a ser salvo pela paciência e pela generosa ternura humana. 

Por que será que, mesmo nestes tempos de utilitarismo racional e de realismo capitalista, tanta gente ainda acredita no fim do mundo? 

Porque eles vão realizar uma façanha e tanto: vão sobreviver ao planeta e sentir aquela onipotência apocalítica típica dos dos milenaristas. Mas, tirando as fantasias, o mito do fim do mundo revela também uma insatisfação permanente com a vida, tal como a experimentamos: com suas imperfeições, traições, picuinhas, faltas e covardias: com a impossibilidade de seguir os ideais. Quem sabe, diz esse mito de fim de mundo, um dia tudo isso vai mudar e a vida neste mundo será justa e perfeita promovendo, enfim, o encontro da teoria com a prática? 

No fundo, o ocidente progressista e capitalista que acumula cada vez mais dinheiro sempre foi tributário soluções finais para a vida. 

Outros povos se satisfazem em aceitar o que reconhecem como parte e parcela de contradições impossíveis de escapar quando se vive em coletividade. Mas nós, crentes no desenvolvimento da espécie e nos estágios evolutivos, tendemos a confundir progresso técnico com avanço moral e pensamos que nossas bombas atômicas são superiores aos arcos e flechas dos nossos irmãos selvagens. 

Neste sentido, o mito do fim do mundo seria também uma advertência ao nosso estilo de vida fundado num consumo e numa sofreguidão inesgotáveis. Um modo de dispor do planeta e dos seus recursos que impedem o seu reconhecimento humano. 

Essa, penso, seria o centro dessa última onda de fim de mundo que acaba de passar. Um retorno apocalítico da totalidade num universo marcado por uma cosmologia brutalmente individualista. 

Mal o professor pronunciou essas palavras e logo um aluno levantou a mão e perguntou: mas isso é mito ou realidade? Afinal, não estamos mesmo chegando ao final de um estilo de vida egoísta no qual pensamos cada qual em nós mesmos e todos apenas no nosso país?
O mito revela também uma insatisfação permanente com a vida, tal como a experimentamos: com suas imperfeições, traições, picuinhas, faltas e covardias.
Publicado no Globo

A Petrobas perdeu até o senso

OPINIÃO


Carlos Alberto Sardenberg
Sabe qual a melhor coisa que poderia acontecer para a Petrobras? Uma forte queda do preço internacional do petróleo. Isso derrubaria também as cotações da gasolina e do diesel, produtos que estão quebrando a estatal brasileira. Como não há produção interna suficiente desses combustíveis, a companhia tem que importá-los. Como o governo Dilma segura os preços internos para conter a inflação, a Petrobras se vê na situação esdrúxula de comprar caro e vender barato — que perdura mesmo depois do reajuste anunciado na última terça. Prejuízo na veia.
Logo, se o governo não deixa aumentar mais o preço interno, resta torcer pela queda da cotação internacional.
Pode? Uma companhia petrolífera, dona de reservas elevadas, dependendo de uma queda no preço de seu principal ativo!
Acrescente aí uma forte valorização do real e o quadro “melhoraria” ainda mais para a estatal. Se o dólar voltasse, digamos, para R$ 1,70, a Petrobras economizaria cerca de 15% nas suas compras externas de combustível.
Claro que, nesse caso, também cairia o valor das reservas da Petrobras. De novo, pode? Uma companhia precisando de queda no valor de seu patrimônio.
Por outro lado, que sempre tem, a queda do preço internacional de petróleo colocaria em risco a operação no pré-sal. Ainda não se sabe o custo exato, pois a tecnologia está em desenvolvimento, mas certamente será muito caro retirar o óleo lá do fundão do oceano. Assim, se a cotação global cair muito, o pré-sal torna-se economicamente inviável.
Consequências: a Petrobras não conseguiria financiamento para as novas operações e os estados e municípios perderiam os royalties pelos quais tanto brigaram.
Ou seja, é uma ideia de jerico torcer pela queda dos preços internacionais do óleo e dos combustíveis.
De outro lado, ainda, um dólar mais barato facilitaria as importações de equipamentos para extração e refino. Bom, não é mesmo?
Seria, se as políticas para o setor tivessem alguma lógica. Ocorre que a Petrobras é obrigada pelo governo a dar preferência ao produtor nacional, mesmo pagando mais caro, até um certo nível. Ora, com o real valorizado, a diferença de preços entre o local e o estrangeiro ficará bem maior, de modo que a estatal não terá como justificar a compra do equipamento made in Brasil.
Isso destruiria a política do governo para estimular a indústria nacional ou, caso o modelo fosse mantido, aumentaria os custos da Petrobras em reais.
Ou seja, é outra ideia de jerico torcer pela valorização do real neste caso.
Voltamos assim ao senso comum, pelo qual uma companhia de petróleo deve se dar bem quando o preço do petróleo está em alta. Esta lógica não mudou. O que a subverte é a gestão do governo brasileiro. Um desastre de grande competência: não é fácil fazer uma petrolífera perder dinheiro.
Outra coisinha: lembram-se de toda aquela campanha do governo Lula comemorando a autossuficiência em petróleo? Pois é, foi só marketing eleitoral. Só não, porque a estatal, que não pertence só ao governo, muito menos ao PT, pagou por aquela fraude. Custo na veia da população.
Protecionista quem?
Andam dizendo por aí que as negociações comerciais entre Mercosul e União Europeia (UE) não avançam por causa por causa do protecionismo dos dois lados.
Curioso. A UE, só na América Latina, tem acordos de livre comércio fechados com Chile e México (já em vigor) e mais Peru, Colômbia e América Central (a vigorar neste ano). Fora da região, tem acordos com diversos países da Ásia, inclusive Coreia do Sul, e está prestes a iniciar negociações com os Estados Unidos.
Já o Mercosul tem acordos com Israel e Jordânia.
Mas, dizem governo Dilma e aliados, neste ano as conversas com a Europa vão avançar.
Sério?
Se o Brasil não consegue ter livre comércio nem com a Argentina, principal sócia no Mercosul, se a Argentina, pelo calote, está excluída do mercado financeiro global, e se a Venezuela, nova sócia, só quer acordos com os amigos bolivarianos, Cuba, por exemplo, quem mesmo vai negociar com a UE?
No último fim de semana, a Comunidade dos Estados da América Latina e Caribe, Ceal, reuniu-se com a UE — encontro de cúpula, solene. Olhando bem, no entanto, os líderes europeus mantiveram duas conversas bem diferentes. Uma com o pessoal do Mercosul — só protocolar, para os fotógrafos.
Outra, para valer, com o chamado bloco do Pacífico, liderado por Chile, Peru, Colômbia e México. Enquanto o Mercosul torna-se cada vez mais restrito ao grupo bolivariano de Chávez, Cristina Kirchner e outros menores, o bloco do Pacífico já tem acordos com os EUA, Europa e negocia um megatratado com a Ásia.
Devem estar todos equivocados, não é mesmo?
Carlos Alberto Sardenberg é jornalista
* Texto publicado no Globo