quinta-feira, 18 de julho de 2013

Exploração da miséria: serviço social



industria_seca.jpgMais uma seca no Nordeste, e lá está a infame "indústria da seca". Em seu sentido próprio, ela designa a relação doentia entre os estados atingidos pela seca e o governo federal. A seca faz com que renda da União seja transferida para os governos dos estados afetados, supostamente para saná-la. Esses governos passam então a ter o incentivo de perpetuar a seca para garantir esse fluxo indefinido de recursos pagos pelo resto do país. Na mentalidade popular e na mídia, contudo, a "indústria da seca" adquiriu um sentido mais amplo: todos aqueles que de alguma maneira se beneficiam da existência da seca; mesmo quem vende água aos agricultores.
Vejam que crime terrível: em uma região que está desesperadoramente sem água, e que precisa dela para viver e produzir, chegam pessoas... vendendo água! E pior: o preço dessa água vendida no coração do semiárido, onde não se vê uma boa chuva há anos e onde o gado morre de sede, é maior do que o preço d'água no meio de uma cidade em que ela abunda nos mercados e via tubulação. Sórdido, né? Bem, seria sórdido se os vendedores fossem culpados pela seca que os faz lucrar. Mas não são. Na verdade, eles são parte do mecanismo de combate aos efeitos da seca.
Primeiro, o óbvio: o valor de um bem, tudo o mais constante, é maior onde ele é mais escasso. Escassez aqui não se refere à quantidade objetiva, mas à relação dessa quantidade com os desejos dos consumidores. Essa é a velha lição que Menger nos ensinou em 1871: o valor de uma unidade de um bem para um dado indivíduo (e o preço de mercado é a resultante das transações entre indivíduos guiados por suas escalas de valor) é o valor que ele atribui à necessidade menos importante que aquela unidade pode satisfazer. Do que terei de abrir mão se não tiver acesso àquela unidade do bem? Esse é o valor daquele bem para mim. No meio da cidade, perder 100 litros d'água é um pequeno inconveniente, pois o desejo que se deixa de satisfazer é pouco importante: uma pessoa toma um banho a menos, por exemplo (graças ao dinheiro, a perda d'água não precisa significar menor uso d'água; podemos comprar água extra e sacrificar o uso de algum outro bem com o mesmo preço). No meio do sertão durante a seca, é calamitoso, pois pode significar a morte prematura de um boi ou cavalo necessários à sobrevivência de uma família.
A necessidade menos importante que 100 litros d'água satisfazem no sertão é muito importante se comparada àquela que é satisfeita pelos mesmos 100 litros na cidade; por isso, o preço da água é mais alto no sertão. Isso cria uma oportunidade de lucro. Alguns empreendedores, conhecendo a situação no sertão, inferiram que os agricultores estariam dispostos a pagar mais pela água do que ela custa em outros lugares. Estavam certos, como o preço de suas vendas mostrou. Essa diferença de preços envia um sinal para os demais participantes do mercado: há relativamente pouca água chegando aos moradores do sertão. O "pouco" aí, assim como todo termo avaliativo usado em economia, não é uma medida física, e sim relativa aos desejos da população. Para quem mora mais perto de locais com água em abundância, por que não alugar um caminhão-tanque e levá-la para ser vendida no interior? Muitos já o vem fazendo; levar água para o sertão, diz a reportagem acima linkada, "virou um negócio tão rentável, que há pessoas vendendo até automóveis para comprar caminhões-tanque".
É justamente esse processo que ameniza a carestia. Os diversos agricultores que compraram a água estão melhor agora do que se não tivessem comprado e passado por um aperto ainda maior — a prova disso é que aceitaram pagar o preço cobrado. Outros fizeram o juízo contrário e não aceitaram o preço; para esses a presença dos vendedores àquele preço é indiferente. Conforme o processo se intensifica — conforme mais gente tenta lucrar bolando meios de satisfazer essa demanda por água — os problemas oriundos da seca são reduzidos, podendo, no limite, ser sanados. Sabendo que a seca é recorrente, faria sentido instalar uma operação regular de envio d'água ao sertão. Quem sabe até uma tubulação para irrigar campos? Seria uma possibilidade de empreendedorismo, se os custos não forem ainda maiores do que a receita esperada, e se o estado o permitir.
A tendência desse processo é fazer com que o preço d'água fique estável — oscile menos — no tempo e no espaço, eliminando assim as possibilidades de lucro. A diferença grande dos preços atualmente faz com que os comerciantes, buscando o lucro, levem novos caminhões-pipa ao sertão, aumentando a oferta d'água, e baixando assim seu preço. Enquanto for lucrativo levar água para lá, haverá um incentivo a se fazê-lo. Ao mesmo tempo, essa água que está sendo levada para o sertão está sendo comprada em outros lugares, onde ela é mais barata. Com o aumento de demanda, seu preço nesses lugares subirá. O negócio de comprar água na cidade e levá-la para os fazendeiros valerá a pena até que a receita conseguida com a venda da água equivalha aos gastos de se comprá-la, armazená-la e se transportá-la ao sertão corrigidos por uma taxa de desconto relativa ao tempo que essa operação demora (e, só pra não faltar nada, corrigida também por um fator de risco associado ao negócio: por exemplo, o risco do carro quebrar ou colidir no caminho).
No mundo real, mudanças ocorrem a todo o momento e todo mundo tem informações parciais e opiniões diferentes sobre o estado do mercado. Esse preço de equilíbrio mítico, portanto, nunca é alcançado, pois muda a todo instante. Se voltar a chover, os fazendeiros não estarão dispostos a pagar tão caro pela água trazida de longe, o preço dela no sertão cairá, e os donos de carro-pipa procurarão outra coisa para fazer. Sejam quais forem as condições da realidade ou quão rápidas suas mudanças, o processo de mercado, ou seja, a organização da produção via preços definidos pela escassez relativa dos diversos bens na estimação dos consumidores, está sempre gerando as informações e os incentivos para que as demandas dos consumidores sejam atendidas da forma mais eficiente possível.
Pelo preço atual, vale a pena levar água de carro ao sertão; mas provavelmente não vale a pena ser um fazendeiro tendo que pagar o preço dessa água; sua fazenda fica deficitária. Conforme o processo de mercado faça os preços caírem, talvez a atividade agrícola torne-se lucrativa. Por outro lado, é também possível que os custos envolvidos nesse transporte superem o valor que permitiria aos fazendeiros ter uma lavoura ou pecuária lucrativas. Se esse for o caso, qual a solução?
De duas, uma: ou a lavoura dos fazendeiros, embora deficitária nas épocas de seca, ainda é, no longo prazo (levando também em conta as épocas de chuva), lucrativa. Nesse caso, vale a pena enfrentar a seca e esperar a bonança voltar. Ou então a agricultura deles é deficitária no longo prazo, e daí a melhor opção é abandonar o investimento e procurar outra maneira de se sustentar. É essa a escolha que fizeram e fazem os retirantes nordestinos que vão às grandes cidades em busca de trabalho.
Se essa hipótese se comprovar, então os produtos que os agricultores do semiárido produzem não pagam os custos da água (e demais insumos) de que eles precisam. Em outras palavras, a demanda pelo produto desses insumos nessa linha de produção é menor do que a demanda pelos produtos que esses insumos poderiam produzir em outras linhas de produção — e é por isso mesmo que eles custam caro. O benefício da água talvez não justifique os custos de transportá-la, ou talvez justifique. Provavelmente justificará para uns e não para outros. Felizmente, essa decisão cabe apenas aos envolvidos nessas trocas, e apenas no que diz respeito a suas propriedades. Os preços servem como indicadores e incentivos nessa tomada de decisão.
As falhas da alternativa estatal
É aí que a verdadeira indústria da seca — a estatal — entra em jogo. E vem para atrapalhar o processo. O estado mantém os agricultores sob a eterna promessa de que trará água de graça ou subsidiada, destinando bilhões de reais para sustentar empreendimentos caríssimos, quando talvez a melhor solução para muitos deles fosse fazer o que tantos outros já fizeram: deixar a região. O custo de se criar animais em zonas secas pode ser proibitivo. Qual é o intuito em se manter gente lá especificamente para esse fim, sendo que isso requer desviar recursos que poderiam ser destinados a outros fins, produzindo bens e serviços demandados com mais urgência?
Em épocas remotas, quando a produtividade humana dentro e fora das fazendas era baixa, valia a pena ter um roçado no meio do semiárido (e talvez ele fosse menos árido? Mudanças no clima geram mudanças econômicas). Hoje em dia, com o aumento da produtividade do trabalho e da agricultura moderna, ficar no antigo roçado é uma decisão que pode valer a pena do ponto de vista afetivo e sentimental (ou seja, como opção de consumo, e não de investimento), mas que certamente terá custos pesados para o nível de consumo de outros bens desses agricultores. E não há nada de errado nisso, se for o que elas quiserem. Mas também não é razoável que o resto da sociedade tenha que gastar parte de sua produção para sustentar essa escolha de consumo.
Água em meio à seca do sertão custa caro em dinheiro; em votos ela sai barata. O governo gasta o que não produz para levar água de graça e prolongar o problema crônico de pessoas que vivem em lugares onde a produção de alimento custa mais do que vale. Fazendo-o, os políticos garantem seus votos; são vistos ainda como benfeitores.
Imagine se o governo egípcio decidisse bancar uma migração em massa para o meio do deserto, com fins de plantar tomates. Dá para fazer? Dá. Custa muito dinheiro, mas dá. A questão é que, para a sociedade, o saldo é negativo: para manter esses pobres agricultores em estado crônico de precariedade e dependência, gasta-se um valor maior do que eles são capazes de produzir ali. Não fosse assim, a intervenção do estado não seria necessária, pois o processo de mercado, com seus lucros e prejuízos, daria conta.
Mesmo com essas considerações, muitas pessoas se revoltam com a ideia de água sendo vendida caro a fazendeiros pobres. Ora, e quem disse que o preço é caro? O preço é caro, leitor, apenas se comparado ao o preço que você paga, numa cidade com toda uma infraestrutura para abastecê-lo d'água. Se essa infraestrutura por algum motivo ruísse, o preço seria outro. A experiência pessoal de muitos, e o desejo por um mundo de abundância, fazem-nos vítimas fáceis de uma ideia equivocada: a do preço justo.  A ideia de que todo bem teria um valor cognoscível, calculável e imutável, que existiria fora do processo de compras e vendas. Um valor "razoável", que parecesse vantajoso para compradores e vendedores sempre.
O mito do preço justo
Não existe um preço justo. O que existe são os diversos preços que emergem das trocas entre pessoas.  Mesmo o preço único, homogêneo, que vale para diversas unidades do mesmo bem dentro de um supermercado, é, ele próprio, apenas uma maneira que o comércio inventou de facilitar as trocas. Para não ter que negociar com cada novo comprador, o dono do estabelecimento oferece o bem sempre àquele preço. Microvendedores como camelôs ou feirantes muitas vezes não adotam essa estratégia, e preferem a flexibilidade de negociar seus preços a cada transação. Cada troca é um evento único e irrepetível, cujas condições podem ser muito diferentes de uma para outra. No fim de uma feira livre, uma dúzia de maçãs perfeitamente boas pode sair bem mais barato do que maçãs similares no supermercado a três quarteirões dali. É tudo uma questão das diferentes oportunidades e avaliações do mesmo bem pelas partes envolvidas. O máximo que podemos fazer é falar de um preço médio que vigora num local num determinado período. Mas esse preço médio é uma medida aproximada, antes um efeito do que uma causa, dos preços negociados em cada transação pelos participantes do mercado (que podem, contudo, usar a informação do preço médio passado para chegar a um preço atual; aposta que, como qualquer outra, pode dar certo ou errado).
Fora desse processo, é possível que algum governante queira determinar um preço considerado "justo"; o preço do mesmo bem em outras condições, por exemplo. Decreta-se que o preço justo da água é o preço dela naqueles meses em que chove em abundância e os poços estão cheios, ou o preço da água nos últimos anos numa cidade próxima. Pior ainda: o critério do preço justo pode ser o desejo louvável de que todos possam usar muita água e pagar pouco.
O que ocorrerá na seca? Ninguém quererá vender água no meio rural — ao menos legalmente — pois o lucro a ser auferido será muito pequeno ou nulo. Além disso, os próprios usuários da água não terão incentivo para restringir sua demanda; comprarão e usarão mais água do que se tivessem que arcar com os reais custos da escassez relativa dela. O preço determinado pelo estado comunica uma informação falsa acerca da escassez relativa do bem, levando assim a ações que usam-no de forma irracional.
O fato da troca justa
Não cabe falar em preço justo ou injusto. Podemos, contudo, falar em trocas justas e injustas. Quando um comerciante engana um consumidor acerca de seu produto, ou quando uma das partes é obrigada a realizar uma transação contra sua vontade, temos uma troca injusta. A venda d'água acima comentada não tem nada disso.
O critério primordial para saber se uma troca é justa é simples: nela, ambas as partes consideram que sairão ganhando; isto é, que estarão melhores com a troca do que sem ela. E como sabemos se alguém se beneficiou de uma troca? Para o vendedor d'água, é fácil comprová-lo: ele saiu com um bom lucro. E para o agricultor? A escolha dele era entre comprar aquela água ou passar ainda mais tempo sem ela, comprometendo assim uma parcela maior de seu rebanho ou plantio. Se ele escolheu comprar, é porque considerou vantajoso abrir mão daquele valor em dinheiro e garantir a sobrevida de sua fazenda. Ele também saiu ganhando.
Em tempos de chuva, é verdade, ele nunca aceitaria tal transação. Mas a situação atual não é de chuva, e sim de uma seca de intensidade inédita. Dada essa condição, vale a pena, para muitos, comprar água a R$ 180 o carro-pipa. A prova disso é que eles têm, de fato, comprado. Se o caminhão pipa oferecesse água dez vezes mais caro, não estariam dispostos a comprá-la. O ofertante, mesmo na situação de uma demanda aguda, não é o senhor sobre o preço: ou seu preço se adequa às condições atuais de oferta e demanda, ou ele não vende. O vendedor de água não está fazendo nenhum favor ao agricultor; este também não está, por outro lado, sendo enganado ou injustiçado. Ele sem dúvida preferiria ter água de graça; mas, naquelas condições, era mais vantajoso pagar caro por ela do que passar sem. O vendedor, por sua vez, preferiria vender o conteúdo de seu carro-pipa a mais de R$ 1,8 mil. Teve que se contentar com R$ 180.
O vendedor d'água não está fazendo caridade (embora ele possa também fazê-la). Ao mesmo tempo, a transação não é injusta. Ela está estritamente dentro dos limites da justiça nas trocas, que determina que ambas as partes saiam beneficiadas. Para isso, é necessário que elas não mintam acerca das características daquilo que oferecem e não obriguem a outra parte a aceitar os termos. Sendo assim, a troca cria valor para ambas, e a prova disso é que ela foi livremente aceita.
Caridade não é solução
A raiz da revolta contra os "exploradores da miséria" surge parcialmente, creio, de um sentimento bom: quando alguém passa uma necessidade muito maior do que o patamar que se considera normal, o bom, o virtuoso, o generoso, é ajudar a pessoa. Não tenho dúvida de que a melhor ação num caso desses seria, de fato, prestar ajuda gratuitamente. Os vendedores "poderiam" cobrar menos e se contentar com um lucro menor, ou mesmo doar água gratuitamente. É verdade; assim como você "poderia", gentilmente, pedir uma redução salarial em seu emprego para baratear o produto final e ajudar os consumidores. É uma boa ação, mas que seria contraprodutiva se desempenhada por todos sempre. Pensemos nas implicações dessa caridade unilateral caso ela virasse política universal dos empreendedores.
Imagine se adotássemos a caridade como princípio básico na relação com os desafortunados; isto é, com aqueles que por algum motivo têm um nível de consumo inferior ao considerado aceitável pela sociedade em que vivem (e isso pode variar muito! O pobre europeu tem um nível de consumo invejável para o pobre brasileiro, que por sua vez é rico se comparado ao pobre zimbabuano). Alguém passa necessidade? Então que receba prontamente aquilo de que carece. O efeito dessa caridade automática voltada a bens de capital (como a água usada para a produção agrícola) em larga escala seria impossibilitar, ou ao menos dificultar, que se sanassem as causas da pobreza.
A causa da pobreza é o fato de alguém encontrar-se impossibilitado de produzir o valor de que precisaria para atingir um nível de consumo considerado adequado. Se mantivermos, por caridade, os bens de capital artificialmente baratos (ou mesmo gratuitos), garantiríamos ao produtor um lucro artificial, sem resolver as causas de sua baixa produtividade. E mais: esses preços subsidiados criariam um incentivo espúrio para que mais pessoas entrassem nessa linha de produção deficitária, que destrói valor. Isso pode até agradar ao ego de alguns benfeitores, que teriam vítimas cativas para sua caridade; mas não seria uma solução para o problema. Seria um processo custoso manter esses agricultores produzindo, arcando caridosamente com os prejuízos de sua produção, e perpetuando o uso ineficiente dos recursos. É o que ocorre sempre que o estado oferece recursos ou capital abaixo do preço de mercado a um empreendimento (que pode ser um pequeno agricultor do sertão ou uma megaempresa que recebe empréstimo do BNDES).
Imaginemos agora o resultado que se segue para uma empresa específica se ela tentar adotar a caridade como a política primária de sua operação.
Se uma empresa tem lucro, isso significa que o preço dos bens de capital por ela utilizados é inferior ao preço do produto final que ela vende. Como o preço dos bens de capital é determinado pelo preço esperado dos produtos finais que com eles podem ser produzidos, o uso lucrativo deles tenderá a aumentar o preço dos bens de capital usados naquela linha produtiva. O sujeito lucra vendendo água: então mais gente quererá vender água também; os meios de produção desse empreendimento (automóveis, combustível e água) serão mais demandados, e seu preço subirá. Seu preço subirá até o ponto em que o lucro do empreendimento cesse, pois a partir desse ponto não valerá a pena demandar mais unidades desses bens de capital para usar nesse processo produtivo.
Conforme esse processo se desenrolar, o lucro das empresas que praticam o preço de mercado tenderá a zero. Dado que a empresa caridosa em questão pratica um preço inferior ao do mercado (supondo que essa seja sua política constante), ela será levada ao prejuízo. Um processo deficitário ou morre por falta de recursos ou depende de recursos vindos de alguma outra fonte para perpetuar-se. Esses recursos só podem vir de uma fonte lucrativa, pois se não fosse lucrativa, não teria com o que manter-se em existência e ainda doar dinheiro para outras causas. A instituição que vive de fazer caridade vira dependente, ela própria, da caridade alheia. Isso não é uma crítica, pois não há nada de errado em viver de caridade, especialmente se se fizer coisas boas. É apenas uma observação.
Conclusão: toda atividade caridosa depende da existência de atividades lucrativas (isto é, não caridosas) para existir, e só existe enquanto financiada por elas. Uma mesma pessoa pode fazer caridade num momento e exercer uma atividade lucrativa em outro; ele é financiador num momento e financiado em outro. Isso não muda o resultado: caridade de um lado requer lucro de outro. Frades católicos, que realizam muitas obras de caridade pelo mundo, dependem de doações de outros fieis. ONGs dependem de patrocínios. E o estado depende de impostos. Em todos os casos, há uma fonte lucrativa (ou seja, que busca o lucro ao preço de mercado, pois se não o fizesse não seria lucrativa) que, com parte de seu excedente, sustenta a atividade caridosa.
A caridade é necessária para a vida humana neste mundo, e é com razão que apela para nosso lado generoso. No entanto, não é e nem pode ser a base da interação social; ela própria depende de um sistema de trocas (ou seja, um mercado) no qual agentes busquem o lucro. Ela nunca será um substituto do mercado e da busca pelo lucro, pois sem eles ela também não existiria.
Indignação arbitrária
Há uma boa dose de manipulação emocional nessa história de condenar alguns empreendedores, seletivamente, como exploradores da miséria. A rigor, todo e qualquer prestador de serviço remunerado é um "explorador da miséria". Os supermercados e restaurantes exploram a minha miséria; sabem que eu careço de meios para produzir minha própria comida; por isso vendem-na para mim. Deles dependo para não morrer de fome, e não pensem que cobram barato. Cobram o preço condizente com a escassez relativa das comidas que compro; quando um vegetal sofre quebra de safra, seu preço aumenta.
Há até mesmo exploradores de miséria que são universalmente amados. Na verdade, um dos maiores exploradores da miséria alheia é também uma das figuras mais respeitadas do mundo. Aquela pessoa a quem recorremos nos momentos de maior fragilidade, quando nossa própria vida, ou a de nossos entes queridos, está em risco; momento no qual ele aproveita pra oferecer seus serviços e cobrar um preço alto por eles: o médico.
Um bom médico provê serviços bastante escassos no mercado; e por isso cobra caro. Ou melhor: cobrava caro. O motivo que levou os serviços médicos a baixarem de preço, de modo que cada vez mais gente tenha acesso à saúde privada, não foi a caridade dos médicos, mas a lei do mercado: quanto maior a oferta, menor o preço. Quanto mais gente buscando a remuneração de ser médico, menor essa remuneração. É o mercado em funcionamento, aumentando a oferta do que era escasso.
Dado que a miséria, ou seja, a necessidade extrema por algum bem, existe, aqueles que fornecem justamente esse bem aos miseráveis deveriam ser incentivados ou perseguidos? Os liberais e libertários dizem, sem sombra de dúvida, que devem ser incentivados. Devem ser louvados como heróis ou santos? Não; ao menos não por isso. Mas também não fazem nada de injusto; oferecem trocas mutuamente vantajosas para aqueles que querem os bens que eles oferecem. Beneficiam-se da miséria alheia? Seria mais correto dizer que se beneficiam justamente porque ajudam a sanar a miséria alheia.
É graças a esses e todos os outros exploradores de miséria que nossa vida é menos miserável. Por sorte, a maioria de nós vive em lugares nos quais há tanta gente explorando nossa sede que já não passamos sede. Que o mesmo possa ocorrer no sertão do Nordeste; que a indústria estatal da seca ceda lugar à indústria privada de combate à seca!
Joel Pinheiro da Fonseca é mestrando em filosofia, editor da revista Dicta&Contradicta e escreve no blog Ad Hominem.

As lições econômicas de Game of Thrones



daenerys_targaryan__game_of_thrones.jpgA popular série Game of Thrones ("Guerra dos Tronos"), da HBO, terminou a sua terceira temporada neste mês em meio a preocupações dos fãs acerca do seu cada vez mais minguante elenco de personagens. A série é baseada na intricada coleção de livros de fantasia de George R. R. Martin, As Crônicas de Gelo e Fogo, a qual tem se tornado uma inspiração para análises e comentários de todos os matizes. E, enquanto os seus personagens complexos e moralmente ambíguos têm atraído muitos analistas e comentaristas políticos e literários, há também importantes lições econômicas a serem aprendidas dos livros.
A trama de Martin se refere a uma variedade de assuntos econômicos — desde as implicações do fato de não existir sequer um sistema econômico até os problemas da moeda e das finanças estatais. Em outro artigo (e numa entrevista), nós discutimos tais problemas e explicamos como os governantes do continente de Westeros recorrem aos métodos tradicionais do financiamento estatal: tributação, endividamento e inflação.
O meio político e o meio econômico
Neste artigo, discorreremos sobre algumas das outras implicações econômicas da série, especialmente acerca das ideias a respeito da ordem social e acerca do papel que a cooperação pacífica, o comércio e a moeda desempenham na organização da sociedade. Franz Oppenheimer famosamente realizou a distinção entre o "meio político" e o "meio econômico" de organização social. O primeiro implica a coerciva redistribuição de riqueza; a riqueza, entretanto, é criada apenas por aqueles que estão envolvidos no meio econômico de organização, o qual se baseia na produção pacífica, no comércio e na troca. (1926, pp. 24-27.)
Essa distinção aparece de forma muito clara em As Crônicas de Gelo e Fogo. Por exemplo, povos tão diferentes como os Dothraki e os Homens de Ferro são cabais e resolutos exemplos do meio político. Ambas as sociedades produzem pouco ou nada por si mesmas; ao invés disso, prosperam por meio da violência e da pilhagem. Uma perfeita ilustração é encontrada no "código" (lema) da Casa Greyjoy, a qual proclama: "Nós Não Semeamos." A insinuação, por óbvio, é que os homens das Ilhas de Ferro apenas ceifam os frutos daquilo que os outros semearam. [1] O lema da Casa Greyjoy é uma hábil e adequada descrição do estado, o qual é, fundamentalmente, uma instituição parasitária que depende, para a sua sobrevivência, do saque de uma população produtiva.
Mas a distinção entre o meio político e o meio econômico aparece também em situações mais sutis. Até mesmo nas partes relativamente pacíficas do reino, nas quais a ordem civil é mantida e a exploração é menos óbvia, vê-se claramente que os interesses dos governantes e dos governados são diferentes, da mesma forma como são diversos os meios de se obter a prosperidade. Martin atinge o cerne da questão numa conversa entre Daenerys Targaryen e o seu parceiro, Ser Jorah Mormont. Daenerys acredita que o reino que a sua família uma vez governou se erguerá em defesa da pretensão do seu irmão ao trono. Ela observa: "O povo está esperando por ele. Magíster Illyrio diz que as pessoas comuns estão confeccionando bandeiras de dragões e rezando para que Viserys retorne através do Mar Estreito para libertá-las." A resposta que ela recebe é simples, mas esclarecedora:
"As pessoas comuns rezam por chuva, por crianças saudáveis e por um verão que nunca termine", disse-lhe Ser Jorah. "Não lhes interessa  a guerra dos tronos que os grandes lordes jogam, contanto que sejam deixadas em paz." Ele encolheu os ombros. "Elas nunca são."
É facilmente perceptível, em As Crônicas de Gelo e Fogo, a ideia de que o comportamento político traduz-se essencialmente em pilhagem criminosa. Davos Seaworth, em outro trecho, reflete acerca da trajetória do marinheiro Salladhor Saan, seu amigo e camarada, que é "um contrabandista... bem como um comerciante, um banqueiro, um pirata notório e o autoproclamado Príncipe do Mar Estreito". Davos, então, conclui para si mesmo: "Quando um pirata enriquece o suficiente, fazem-no um príncipe." [2]
Moeda e Sociedade
Além de discutir a essência do governo, a série contém outras ideias econômicas também. Um proeminente exemplo é o forte entendimento da narrativa sobre o papel que a moeda desempenha na sociedade. Em particular, o desdobramento da história fornece exemplos de diferentes estágios de desenvolvimento econômico; e tais estágios estão intrinsecamente ligados às diversas percepções culturais sobre atividade econômica e moeda.
Os horselords Dothraki — o descentralizado grupo de tribos guerreiras que vagueiam pelo continente oriental — são óbvios exemplos. Os Dothraki não praticam nenhum comércio, e o máximo de interação social pacífica a que chegam é um vago sistema de troca de presentes. Eles, portanto, não utilizam moeda — e a sua civilização reflete profundamente esse fato.
Sem um sistema de troca indireta, eles são incapazes de desenvolver bens de capital, contando, ao invés disso, com as receitas redistributivas das pilhagens para sobreviver. Eles são amplamente nômades, faltando-lhes a capacidade (ou o desejo) de produzir e comerciar. Com efeito, as únicas estruturas permanentes da cidade de Vaes Dothrak são aquelas construídas por escravos estrangeiros, com a utilização de materiais saqueados. A inexistência de uma sociedade complexa pode ser atribuída à recusa deles de se engajarem em atividades econômicas e, por consequência, de adotarem um meio de troca. Já que a moeda torna possíveis as decisões empreendedoriais necessárias para o desenvolvimento da economia, o cálculo econômico, portanto, é tão impossível para os Dothraki quanto para uma sociedade socialista.
Uma segunda fase de desenvolvimento econômico é representada pelos "selvagens vulgares" (wildlings) que vivem além da Muralha, ao norte dos Sete Reinos. Eles não possuem uma autoridade política centralizada e orgulhosamente referem-se a si mesmos como o "povo livre" (free folk). [3] Embora não sejam tão economicamente desenvolvidos quanto os Sete Reinos, os wildlings são mais avançados do que os Dothraki. A atividade econômica existe na forma de relações de escambo entre alguns grupos relativamente pacíficos. No entanto, devido à constante guerra com os povos situados ao sul da Muralha, os free folk não podem se engajar em comércio prolongado, planejamento a longo prazo ou cooperação social. Forçosamente excluídos da sociedade, eles ficam restritos a levar uma existência num ambiente pobre em recursos, alcançando não mais do que o mínimo de desenvolvimento econômico.
Em terceiro lugar, os Homens de Ferro, assim como os Greyjoy, são, no tocante à moeda, um caso mais intermediário. A sua obsessão com a conquista os conduz a minimizarem o comércio e o uso do dinheiro — o que eles ridicularizam como "pagar o preço do ouro". Sob o ponto de vista da sua cultura, os homens, ao contrário, devem pagar o "preço do ferro" por qualquer vestimenta que vistam ou qualquer luxo de que desfrutem; em outras palavras, qualquer coisa de valor que alguém possuir deve ser arrebatada do corpo de um inimigo assassinado. Apesar de terem sido parcialmente integrados, à força, à vida econômica e social dos Sete Reinos, os Homens de Ferro fazem um esforço consciente para manterem o seu antigo modo de vida baseado na expropriação. Consequentemente, eles restringem o seu uso do dinheiro a uma esfera relativamente pequena.
Um nível maior de sofisticação econômica pode ser encontrado nos Sete Reinos de Westeros. A política dos Sete Reinos é similar àquela de uma sociedade feudal, na qual "os homens se tornavam ricos através da guerra e da conquista e por meio da liberalidade do governante soberano. Os homens se tornavam pobres quando eram derrotados em batalha ou quando não mais se encontravam nas boas graças do monarca." (Mises, 2006, p. 158.) Tenha você lido ou não os livros, a história é familiar. Deparando-se com a dificuldade de financiar uma guerra aparentemente sem fim, o Mestre da Moeda (uma posição equivalente a Ministro das Finanças) concebe novos tributos; mas esses duram apenas enquanto a população for capaz de pagar. Os governantes estão dolorosamente conscientes de que "metade dos senhores do reino não poderia tolerar uma tributação tirânica e fugiria num piscar de olhos para o usurpador mais próximo caso isso lhes salvasse uma moeda de cobre". O endividamento (empréstimos) também serve à coroa; entretanto, embora isso dê a ilusão de prover um almoço grátis, trata-se de um meio custoso, que não oferece soluções duradouras. Num momento da história, Cersei Lannister sonha fundar o seu próprio banco, para que ele lhe seja uma permanente fonte de fundos. O ultimo recurso, então, é a criação de dinheiro — o que Lorde Littlefinger realiza através da (historicamente costumeira) prática de degradar a moeda.
As frequentes guerras entre as famílias governantes de Westeros — embora estas não sejam tão militaristas quanto os Homens de Ferro — destroem periodicamente a riqueza acumulada da "classe baixa" (small folk), como os nobres a chamam. Devido ao conflito constante, muitas populações nos Sete Reinos lutam para sobreviver um dia após o outro. A poupança, por exemplo, é quase impossível para a classe popular; e até mesmo os cavaleiros e os nobres têm dificuldade de praticá-la. Não é surpreendente, então, que a economia, de modo geral, não evolua além dos estágios iniciais de acumulação de capital e demonstre estar estacionada no mesmo nível de desenvolvimento por milhares de anos. As indústrias que prosperam e desencadeiam a maior parte do desenvolvimento tecnológico são as indústrias da guerra, em detrimento dos empreendimentos pacíficos e produtivos. Os armeiros e os construtores de barcos, por exemplo, são claramente descritos como aproveitadores que se beneficiam do tumulto político.  
Dada a centralização do poder nos Sete Reinos — e dada a complexa rede de intrigas e privilégios que vem junto com ela —, não é surpresa que sejam comuns os estrondosos exemplos de desperdícios estatais. O torneio de Robert Baratheon requer um total de "noventa mil peças de ouro" somente em prêmios. Adicionalmente, em função de Robert desejar uma "festa prodigiosa", o Mestre da Moeda contrata, entre outros, "cozinheiros, carpinteiros, garçonetes, cantores, malabaristas e palhaços". O Conselho é rápido em argumentar — lançando mão da falácia da janela quebrada — que "o reino prospera" através de tais eventos e que as pródigas despesas em torneios também trazem "aos grandes uma oportunidade de glória e aos humildes uma trégua de seus problemas e suas aflições". O mesmo raciocínio é usado para justificar outras ultrajantes e escandalosas gastanças, como o extravagante casamento do Rei Joffrey.
As economias mais desenvolvidas de As Crônicas de Gelo e Fogo encontram-se nas assim denominadas Cidades Livres. As nove cidades-estado do outro lado do Mar Estreito ostentam "um número de templos e torres e palácios" duas vezes maior do que aquele encontrado em Westeros e são bem conhecidas pelo seu comércio de tapeçaria, carpetes, rendas, vinhos e especiarias. Cosmopolitas e poliglotas, as Cidades Livres possuem também muitos estabelecimentos lucrativos de empréstimo de dinheiro: "Cada uma das Nove Cidades Livres tem o seu banco, e algumas têm mais de um, lutando por todas as moedas como cachorros por um osso." Os bancos proveem ajuda financeira para os estrangeiros, especialmente para as famílias de nobres dos Sete Reinos, e a reputação deles faz com que sejam peças-chave na guerra dos tronos: "Quando os príncipes falham em quitar as dívidas com o Banco de Ferro, novos príncipes brotam do nada e tomam os seus tronos."
As Cidades Livres não são estranhas à luta política, obtendo a grande custo a relativa liberdade que possuem. Braavos, agora a mais nova e mais poderosa cidade, foi fundada por escravos refugiados, os quais desde então se esforçam para eliminar a escravidão na região das Cidades Livres.
Outros indivíduos também aprenderam severas e desagradáveis lições econômicas. Volantis era a mais antiga e a maior das Cidades Livres, mas perdeu a sua riqueza numa vã tentativa de conquistar as outras. Governantes volantinos "favoreciam a espada, enquanto os mercadores e os banqueiros defendiam o comércio. [...] Após um século de guerra, Volantis encontrava-se quebrada, falida e despovoada." Somente após o abandono das aspirações militares, somente após a renovação da atividade comercial pacífica, é que a cidade retornou à prosperidade.
Para concluir, é importante assinalar que a obra As Crônicas de Gelo e Fogo se baseia extensamente na história medieval, a qual vivenciou mais do que a sua quota de guerras e destruição econômica. História ou fantasia, a guerra dos tronos — o uso do meio político — impede a propagação e a difusão de ideias econômicas saudáveis, sendo afastadas, assim, as boas políticas econômicas. Graças aos Sete Reinos e ao seu vício pela guerra dos tronos, quando ocorrem a paz e a prosperidade em Westeros, a única coisa da qual podemos estar certos é: O Inverno Está Chegando. 

RELAÇÕES PERIGOSAS: AS FARC, O PT E O GOVERNO LULA


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Vocês vão entender por que publico o documento acima, assinado por Dilma Rousseff, então ministra da Casa Civil e agora pré-candidata do PT à Presidência.
Reportagem no Estadão deste domingo (ver post abaixo)  informa que a Polícia Federal descobriu uma base das Farc no Brasil:
“A guerrilha colombiana não só tem violado sistematicamente a fronteira Colômbia-Brasil como tem utilizado o território brasileiro para seus negócios, especialmente o narcotráfico. A conclusão faz parte do relatório final da investigação que levou à prisão, no dia 6, de José Samuel Sánchez, o ‘Tatareto’, apontado pela Polícia Federal como integrante da comissão de logística e finanças da 1.ª Frente das Farc, um dos mais importantes destacamentos da guerrilha colombiana.”
Pois é, leitor… A história dos petistas e do governo Lula com as Farc pode ser contada em capítulos. Nem é preciso fazer uma pesquisa muito exaustiva. Comecemos por observar que, ao longo dos anos, o lulo-petismo tem sido mais duro com o governo constitucional e democrático da Colômbia do que com os narcoterroristas. Explica-se.
Brasil neutroLula, o Itamaraty e os petistas não consideram as Farc terroristas — seqüestrar pessoas, degolá-las, manter campos de concentração na selva etc. não parecem caracterizar terrorismo para os nossos iluminados. Em março de 2008, numa entrevista ao jornal francês Le Figaro (publiquei tradução), Marco Aurélio Top Top Garcia declarava:
“Eu lhes lembro que o Brasil tem uma posição neutra sobre as Farc: nós não as qualificamos nem de grupo terrorista nem de força beligerante. Acusá-las de terrorismo não serve pra nada quando a gente quer negociar.”
É Pouco? Pois eu lembro mais. Naquele ano, a Colômbia havia atacado um acampamento dos narcoterroristas situado no Equador. Eles contavam com a proteção do governo daquele país, comandado pelo filoterrorista Rafael Correa. Leiam o que disse Marco Aurélio ao jornal francês:
“O Brasil condena firmemente o ataque colombiano ao território equatoriano, que é, antes de mais nada, uma violação da soberania territorial. Nós exortamos a Colômbia a apresentar suas desculpas ao Equador. Paralelamente, o Brasil age para baixar a tensão na região, que atingiu níveis inquietantes. O presidente Lula vai receber hoje [ontem] o Presidente equatoriano, Rafael Correa, e nós vamos pedir a criação de uma comissão de investigação no âmbito da Organização dos Estados Americanos.”
O Equador protegia terroristas e traficantes  que seqüestravam e matavam na Colômbia, mas Marco Aurélio exigia desculpas dos colombianos!
Laços antigosÉ compreensível! Vocês se lembram do Fórum de São Paulo, entidade fundada por Lula e Fidel Castro para reunir partidos e organizações da esquerda da América Latina? PT e Farc dividiram o mesmo teto na organização durante um bom tempo. Oficialmente, os narcoterroristas deixaram o Fórum. Quando estavam lá, já faziam o que fazem hoje: seqüestros, assassinatos, tráfico de drogas… Sob a bandeira da luta revolucionária marxista. Não que isso também não seja uma droga. Mas é outra.
Na reunião da OEA, que debateu o ataque, o Brasil atuou contra a Colômbia com a mesma fúria com que atuou contra Honduras. Hugo Chávez, o amigão das Farc, ameaçou ir à guerra!!! Naquela ação, morreu um dos chefões do bando, o terrorista pançudo Raul Reyes. Seu laptop, que foi apreendido, trouxe revelações espetaculares, indicando os laços entre o grupo e os governos da Venezuela e do Equador. E continha algumas coisas interessantes sobre o Brasil!!!
“Padre Medina”, sua mulher e Dilma RousseffUm dos chefões das Farc, o tal Padre Olivério Medina, mora no Brasil na condição de “refugiado político”. Desde 2006. Dele se diz ser um “ex-terrorista”. O laptop de Rayes trazia troca de mensagens entre os dois. Publicou o jornal colombiano El Tiempo no dia 10 de maio de 2008:
“(…) o contato das Farc, Francisco Antonio Caderna Collazos, o ‘Camilo’ [dois outros nomes de Medina] – casado com uma professora brasileira e encarregado de trocar cocaína por armas e do recrutamento de simpatizantes -, não pôde ser extraditado para a Colômbia porque goza do status de refugiado desde 2006″ (a íntegra da reportagem do jornal está
aqui).
No dia 4 de junho de 2008, Diogo Mainardi revelou em sua coluna na VEJA que a mulher de Medina, Angela Maria Slongo, era funcionária do governo Lula, mais precisamente do Ministério da Pesca. A revista Cambio, da Colômbia, publicou o e-mail em que Medina informa a nomeação a Reyes:
17 de enero de 2007
De: ‘Cura Camilo’
A: ‘Raúl Reyes’
“El lunes 15 inició ‘la Mona’ su empleo nuevo y para asegurarla o cerrarle el paso a la derecha por si en algún momento les da por molestar, entonces la dejaron en la Secretaría de Pesca desempeñándose en lo que aquí llaman un cargo de confianza ligado a la Presidencia de la República”.
TraduzindoNa segunda-feira, dia 15, a “Mona” começou em seu novo emprego e para garanti-la ou impedir que a direita em algum momento a hostilize, a colocaram na Secretaria da Pesca, trabalhando no que chamam aqui de cargo de confiança ligado à Presidência da República.
“Mona” é como Medina, o “Cura Camilo”, se refere à sua mulher. A palavra tem tanto o sentido de coisa “fofa”, “delicada”, quando de macaca. Escolham… O que o e-mail evidencia? Que a contratação da “fofa” ou da “macaca” foi mesmo parte de uma ação política. Ora, quem será este sujeito indeterminado de “colocaram” e “chamam”?
Resposta: Dilma Rousseff. O requerimento que está no alto desta página foi publicado pela primeira vez do jornal Gazeta do Povo, do Paraná. Ali está o pedido de transferência. E o mais curioso: ela foi trabalhar no Ministério da Pesca em… Brasília! Vai ver passa as tardes pescando lambaris no lago Paranoá…
Segundo o jornal El Tiempo, Medina é um dos chefões de um troço chamado CCB – Coordinadora Continental Bolivariana. É o braço internacional das Farc, instalado em vários países. Reyes, o pançudo morto no Equador, divida a chefia da CCB com Medina e com Orlay Jurado Palomino, ou “Hermes”, que está na Venezuela.
O mistério dos US$ 5 milhõesNo dia 16 de março de 2005, era esta a capa da revista VEJA.
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Informava-se ali (íntegra aqui). Volto em seguida :
Nos arquivos da Agência Brasileira de Inteligência em Brasília há um conjunto de documentos cujo conteúdo é explosivo. Os papéis, guardados no centro de documentação da Abin, mostram ligações das Forças Armadas Revolucionárias da Colômbia (Farc) com militantes petistas. O principal documento nos arquivos foi datado de 25 de abril de 2002, está catalogado com o número 0095/3100 e recebeu a classificação de “secreto”. Em apenas uma folha e dividido em três parágrafos, esse documento informa que, no dia 13 de abril de 2002, um grupo de esquerdistas solidários com as Farc promoveu uma reunião político-festiva numa chácara nos arredores de Brasília. Na reunião, que teve a presença de cerca de trinta pessoas, durou mais de seis horas e acabou com um animado forró, o padre Olivério Medina, que atua como uma espécie de embaixador das Farc no Brasil, fez um anúncio pecuniário. Disse aos presentes que sua organização guerrilheira estava fazendo uma doação de 5 milhões de dólares para a campanha eleitoral de candidatos petistas de sua predileção. A notícia foi recebida com aplausos pela platéia. Faltavam então menos de seis meses para a eleição. Um agente da Abin, infiltrado na reunião, ouviu tudo, fez um informe a seus chefes, e assim chegou à Abin a primeira notícia de que as relações entre militantes esquerdistas, alguns deles petistas, e as Farc podem ter ultrapassado a mera simpatia ideológica e chegado ao pantanoso terreno financeiro.
Sob a condição de não reproduzi-los nas páginas da revista, VEJA teve acesso a seis documentos da pasta que trata das relações entre as Farc e petistas simpatizantes do movimento. Dos seis documentos, três fazem menção explícita à doação de 5 milhões de dólares. Num deles, está descrita a forma de pagamento: o dinheiro sairia de Trinidad e Tobago, um pequeno país do Caribe, e chegaria às mãos de cerca de 300 pequenos empresários brasileiros simpáticos ao PT, que, por sua vez, fariam contribuições aos comitês regionais do partido como se os recursos lhes pertencessem. Em outro documento, aparece a informação de que o acerto financeiro fora celebrado entre membros do PT e das Farc durante uma reunião realizada numa fazenda no Pantanal Mato-Grossense – e que os encontros de cúpula seriam articulados com a ajuda de Maria das Graças da Silva, uma funcionária da Câmara dos Deputados em Brasília que já militou no PC do B e seria amiga muito próxima do “comandante Maurício”, apontado como a maior autoridade das Farc no Brasil. Ao contrário da doação financeira e do mecanismo do pagamento, que são descritos em detalhes nos documentos da Abin, a menção à reunião no Pantanal aparece seca e sem detalhes.
“Conheço ele, sim, mas e daí? Não articulei encontro nenhum”, garante a funcionária Maria das Graças, que diz ignorar qualquer reunião no Pantanal.
(…)
Os contatos políticos entre petistas e guerrilheiros das Farc são antigos. Começaram em 1990, quando o PT realizou um debate com partidos políticos e organizações sociais da América Latina e do Caribe para discutir os efeitos da queda do Muro de Berlim.
(…)
A reunião na chácara em Brasília foi uma mistura de encontro político com festa de amigos. A chácara chama-se Coração Vermelho, pertence ao sindicalista Antônio Francisco do Carmo e fica a 40 quilômetros de Brasília. O encontro começou às 11 da manhã e terminou no início da noite. Aconteceu em torno de uma mesa debaixo de árvores, para evitar que um grampo clandestino pudesse captar as conversas. No início, com todos de pé, abriu-se uma bandeira das Farc e cantou-se o hino da guerrilha. Para entrar na chácara, os participantes tinham uma senha: bater com a mão espalmada no peito. Ao meio-dia, serviu-se um churrasco, com arroz e vinagrete, cerveja e refrigerante. Um dos presentes era o vereador Leopoldo Paulino, secretário de Esportes do então prefeito de Ribeirão Preto, o hoje ministro Antonio Palocci. Pouco antes, Paulino fundara o primeiro comitê de apoio às Farc no Brasil, em Ribeirão Preto. Na chácara, exibiu-se um vídeo com a inauguração do comitê, e Paulino explicou seu funcionamento. “Não temos presidente ou diretor. Somos todos guerrilheiros ou não somos. Se somos, então todos fazem parte da luta”, disse ele, conforme o relato transcrito pelo agente infiltrado da Abin. Foi aplaudido pelos presentes.
A VEJA, o vereador Leopoldo Paulino, que foi guerrilheiro da Ação Libertadora Nacional (ALN) e hoje é filiado ao PSB, negou que tenha participado de qualquer reunião na chácara Coração Vermelho. Outro que esteve presente, porém, o bancário Antônio Carlos Viana, um aguerrido militante comunista, confirmou a VEJA que a reunião foi feita, que o assunto era o apoio às Farc, mas disse que ninguém falou em dólares.
(…)
A primeira suspeita da generosidade financeira das Farc com esquerdistas brasileiros apareceu há dois anos, quando o deputado Alberto Fraga, hoje filiado ao PTB, contou que agentes da Abin lhe narraram a história. O deputado fez um discurso-denúncia sobre o assunto na tribuna da Câmara e tentou em vão abrir uma CPI. Não conseguiu recolher o número necessário de assinaturas de deputados. Sua denúncia não recebeu muito crédito, mas o deputado Luiz Eduardo Greenhalgh, do PT paulista, procurou-o. Disse que estava incumbido pelo governo de processar Fraga e queria saber se o deputado tinha provas da denúncia que fizera. Fraga blefou. “Eu disse que podia até apresentar testemunhas em juízo.” Diante disso, Greenhalgh nunca mais tocou no assunto, segundo Fraga. “Eu só falei para que ele tomasse cuidado com aquela história. Disse que ele poderia acabar sendo processado porque a história não era verdadeira”, desmente Greenhalgh. “Eu não estava falando em nome do governo.”
ConcluindoUm ou outro ainda poderiam dizer: “Ah, não exagere!…” Claro que não exagero!
No computador de Reyes, havia mensagens informando que as Farc estavam recebendo armamento da Venezuela. Em julho do ano passado, a Colômbia encontrou lança-foguetes de fabricação sueca, comprados pelo Exército venezuelano, em poder dos narcoterroristas. A negociação foi feita por dois generais próximos a Chávez, um deles acusado pelos EUA de envolvimento com o narcotráfico.
Chávez, inicialmente, negou. Apresentado às armas, deu uma resposta originalíssima: “Elas foram roubadas”. E ameaçou ir à guerra!!! Celso Amorim, o Megalonanico, não disse uma miserável palavra a respeito. Ou melhor, disse: afirmou não ter certeza de que aquilo houvesse mesmo acontecido, embora o próprio Chávez admitisse que as armas eram suas. O debate sobre o uso das bases colombianas pelos EUA estava no auge. Se Amorim nada disse contra a Venezuela, ele atacou duramente a Colômbia. Entre as Farc e os EUA, os nossos valentes já fizeram sua escolha.
Afinal, o Brasil é neutro em relação às Farc, mas não aos EUA… Numa das mensagens de Medina, ele diz que tinha muita esperanças de ficar no Brasil porque apostava bastante em Celso Amorim. Homem sábio!
Dado o conjunto da obra, as Farc passaram a considerar o Brasil um país seguro, com um governo amigo. Medina e Mona que o digam, não é mesmo, Dilma?
Por Reinaldo Azevedo

Importação de médicos: fatos que a imprensa omitiu



A má informação atrapalhou o debate sobre a importação de médicos estrangeiros. Conheça fatos vitais que não foram transmitidos aos brasileiros

Há um problema dramático de má comunicação na questão de importação de médicos.
Não vamos nem falar no lastimável comportamento dos médicos e suas associações, agarrados a um corporativismo ululante, egoísta e desinformado.
estudantes medicina cuba médicos estrangeiros
Estudantes americanos formados em Cuba (Reprodução: Diário do Centro do Mundo)
Uma boa frase estava circulando ontem no Twitter: “Esses caras não saem da Paulista nem para fazer protestos.”
Vamos nos centrar, especificamente, na maneira como a decisão de trazer médicos de fora foi apresentada pelo governo aos brasileiros.
Subitamente, pouco tempo atrás, a sociedade soube que havia vontade de trazer 6 000 médicos cubanos para atuar nos lugares remotos que não atraem os médicos brasileiros.
Na boataria que nasceu, houve gente que acreditou no rumor de que poderia ser o embrião de uma revolução comunista promovida por guerrilheiros cubanos disfarçados de médicos.
Faltou ao governo esclarecer, de início, duas coisas:
1) A medicina cubana é reconhecida mundialmente pela excelência, ao contrário da brasileira, ineficiente e mercantilizada. A medicina cubana tem um caráter preventivo, e é altamente eficiente: a expectativa de vida em Cuba é comparável à dos países mais desenvolvidos do mundo.

“Basta ver as estatísticas de Cuba para avaliar sua medicina”, disse um médico inglês que mais de uma vez esteve na ilha para estudar o modelo cubano.
Num momento em que reformulava seu mitológico sistema de saúde, o NHS, a Inglaterra mandou uma equipe a Cuba para ver o poderia aprender com o jeito cubano de cuidar da saúde.
Hoje, a saúde pública britânica é, como a de Cuba, focada na prevenção.
2) Outros países altamente desenvolvidos importam médicos quando eles são necessários para a saúde pública.
Isso quer dizer o seguinte: o Brasil estava apenas copiando uma boa prática.
Cerca de 40% dos quase 235 mil médicos registrados no Reino Unido são estrangeiros. A Índia é o principal fornecedor para os ingleses, com 25 mil profissionais.
Os Estados Unidos também são grandes importadores. A cota de profissionais estrangeiros entre os americanos ultrapassa de 25%.
Também a Noruega vai atrás de médicos no exterior. “O programa de importação de médicos da Noruega é considerado um exemplo”, notou o site alemão DW numa recente reportagem sobre o tema.
Cuba, neste quadro, é um tradicional exportador de médicos. Há ou já houve médicos cubanos em 108 países.
A medicina cubana tem relevância internacional também na área de remédios.
Nos anos 90, Cuba se tornou o primeiro país a desenvolver e comercializar a vacina contra a meningite B.
Depois, Cuba criou vacinas contra a hepatite B, fornecidas para 30 países, entre eles China, Índia e Rússia.

O debate no Brasil sobre a importação de médicos estrangeiros – cubanos e de outros países – acabou prejudicado pela falta de informações vitais do governo, pela cobertura míope da mídia e pela reação histérica dos médicos brasileiros.
Resta torcer que a saúde pública brasileira não termine como a grande derrotada na polêmica.

A lógica da vida



DeathofFreedom2003.jpgA regra básica do comportamento humano, ou ninguém troca 10 por 9
O comportamento humano é um ato de vontade. Por ser um ato volitivo escolhemos e adotamos o tipo de comportamento que nos parece ser, nas circunstâncias, o mais conveniente. Todas as formas de comportamento são, em princípio, passíveis de ser escolhidas e adotadas.
Convém, preliminarmente, esclarecer que devemos entender comportamento humano como uma forma de ação que tem condições de ser adotada; uma forma de ação cuja implementação esteja ao nosso alcance. Portanto, apenas escolhemos, entre as formas de comportamento possível, aquele que nos parece ser o mais adequado. Obviamente, de nada nos adiantaria escolher um comportamento impossível. Seria uma contradição. Convém também não confundir comportamento com desejo: comportamento é uma forma de ação que só depende de nós; desejo é algo que, para ser realizado, depende não só de nosso comportamento, mas também de circunstâncias exógenas. Ganhar na loteria é um desejo; comprar um bilhete é um comportamento.
Entre os diversos comportamentos possíveis, existem alguns que provocam consequências que nos são desagradáveis, embora num primeiro e mais rápido juízo possam ter-nos parecido um caminho mais curto e menos penoso para a consecução do objetivo pretendido. Assim sendo, na medida em que sejamos capazes de identificar essas consequências desagradáveis como decorrentes do comportamento adotado, ou seja, na medida em que tenhamos consciência das relações de causa e efeito, reduzimos o espectro de nossas escolhas, pela exclusão daquelas ações cujas consequências desejamos evitar. As primeiras grandes limitações ao exercício de nossa vontade na escolha do comportamento que iremos adotar nos são determinadas pelas leis naturais. Sabemos todos que não devemos sair andando pela janela ou colocar a mão no fogo para apanhar um objeto, embora essa pudesse ser a nossa melhor opção, não fossem as bem conhecidas e desagradáveis consequências que as leis físicas e fisiológicas impõem ao nosso comportamento.
Mais importante ainda que as limitações impostas pelas leis naturais — e de consequências bem mais severas — são as limitações impostas pelas leis praxeológicas, ou seja, pelas leis do comportamento humano. Praxeologia (praxis — ação + logia — ciência) foi a denominação dada por Ludwig von Mises à ciência da ação humana na sua "ópera magna" — Ação Humana, publicada em 1949.
Entretanto, as limitações decorrentes das leis do comportamento humano não têm sido tão respeitadas como deveriam, sobretudo em virtude de suas consequências estarem geralmente distantes das respectivas causas, dificultando a percepção da relação de causa e efeito, o que faz com que soframos as consequências sem saber a que causas atribuí-las, levando-nos, não raro, a apontar falsos culpados para as mazelas que estão nos incomodando.
Valendo-nos de um aforismo criado pela sabedoria popular, podemos enunciar a regra básica do comportamento humano reduzindo-a à sua expressão mais simples, como sendo: "Ninguém troca 10 por 9." Vale dizer: voluntariamente, ou seja, por vontade própria ninguém troca algo a que atribui mais valor por algo a que atribui menos valor.
Obviamente, ninguém troca 10 por 9: ninguém troca 10 dólares por 9 dólares. Quem quiser assim proceder não precisa encontrar um parceiro para efetuar uma troca: basta renunciar ao que tem. Os que assim o desejarem são livres para fazê-lo até o limite de suas propriedades, num primeiro momento, e até o sacrifício de sua própria vida, num caso mais extremo. Convém esclarecer, apenas por uma questão de precisão conceitual, que quem assim agisse, por livre e espontânea vontade, não estaria trocando 10 por 9; estaria preferindo se desfazer daquilo a que atribui menos valor — seus bens e sua própria vida — para receber em troca aquilo a que atribui maior valor — a gratidão dos que beneficiou ou a satisfação íntima de ter feito o que considera ser um bem.
Ninguém, de livre e espontânea vontade, troca 10 por 9. É uma impossibilidade lógica. Ninguém conseguirá apontar uma situação ou uma circunstância em que essa regra possa ser negada. Embora, na vida real, as escolhas que temos que fazer sejam bem mais complexas, por mais complexas que sejam a lógica subjacente é sempre a mesma: ninguém troca aquilo a que atribui mais valor — no sentido mais amplo do termo — por algo a que atribua um valor menor. Ou seja: ninguém age para causar a si próprio uma insatisfação.
Por maior que seja o grau de complexidade de nossas escolhas e das trocas que fazemos no nosso dia-a-dia, envolvendo valores de natureza exclusivamente material ou de natureza sentimental, moral, afetiva ou estética, a lógica subjacente será sempre a mesma. Numa troca voluntária estaremos sempre recebendo algo a que damos mais valor e renunciando àquilo a que damos menos valor. Estaremos sempre trocando 9 por 10. Ninguém troca 10 por 9.
E, se estamos sempre trocando 9 por 10 e se a outra parte também está trocando 9 por 10, temos que após uma troca voluntária ambos ganham. Ambos resultam com algo a que dão mais valor. É, como se diz no jargão econômico, um jogo de soma positiva. Numa troca voluntária há como que uma criação de valor, uma vez que ambos os participantes, pela sua própria avaliação subjetiva, tiveram um aumento de satisfação.
Um produtor de maçãs pode propor ao seu vizinho — produtor de uvas — trocar uma caixa de maçãs por uma caixa de uvas. Como tem muitas maçãs, atribui um valor maior à caixa de uvas que receberá em troca. Para ele a troca é vantajosa, porque estará trocando algo a que atribui menos valor por algo a que atribui mais valor; para o seu vizinho a troca é também vantajosa, porque para ele, pelas mesmas razões, uma caixa de uvas tem menor valor do que uma caixa de maçãs.
Ludwig von Mises, no seu já citado livro Ação Humana, analisa esse conceito de forma bastante completa, mostrando exaustivamente que toda ação humana é um comportamento propositado: visa passar de um estado de menor satisfação para um estado de maior satisfação. Essa definição de ação humana é universal; não comporta exceções: ninguém poderá apontar um vago período da história ou uma tribo da Polinésia onde essa definição não se aplique. É um comportamento intrínseco ao ser humano; faz parte da lógica da vida.
Geralmente associamos estado de maior satisfação com melhoria da situação econômica. Mas é importante assinalar que o aumento de satisfação de natureza essencialmente econômica é apenas um caso particular de um fenômeno muito mais abrangente. A relação com a pessoa amada, o prazer da experiência estética e a busca do conhecimento são comportamentos que habitualmente nos levam a alcançar um estado de maior satisfação. O amor, a beleza e a verdade serão sempre fontes inesgotáveis de aumento de satisfação. Nas transações meramente econômicas o aumento de satisfação propiciado pela ação é denominado lucro; entretanto, lucro, no seu sentido mais abrangente, é o objetivo de toda ação humana. É preciso também se ter em mente que as escolhas feitas pelo homem são sempre escolhas individuais e nunca coletivas; o fato de numa comunidade a maioria das pessoas perseguir objetivos semelhantes usando meios análogos configura apenas a existência de um estágio cultural, ou seja, uma mesma forma de reagir às mesmas circunstâncias, e nunca uma decisão coletiva.
No exame das consequências do comportamento humano é mister distinguir comportamento propositado de comportamento instintivo, que é próprio dos animais e também do homem enquanto animal. As respostas instintivas e automáticas das células, órgãos e nervos de um animal estão impressas no seu código genético; não são um comportamento voluntário, fruto de uma escolha racional. Não são um ato de vontade e, como tal, não são passíveis de erro; são respostas invariáveis, ou melhor, que só variam quando as circunstâncias do acaso assim o provocam; e a necessidade, considerando o acréscimo de coerência e de eficácia trazido ao sistema, fixa essa nova forma de comportamento. Assim têm evoluído as espécies animais. Jacques Monod, ganhador do prêmio Nobel de Fisiologia e Medicina em 1965, no seu trabalho O Acaso e a Necessidade, desenvolve o tema de forma bastante clara, tornando-o compreensível mesmo para o leitor não especializado no assunto.
Já no caso dos seres humanos, ao comportamento instintivo se sobrepõe o comportamento propositado, fruto do emprego da razão, de que só o homem é dotado. O homem tem assim a capacidade e a possibilidade de influir na sua própria evolução, o que, sendo uma vantagem muito grande, pode também representar um risco desastroso. O processo civilizatório é uma ampla evidência dessa capacidade de o homem influir na sua própria evolução. O processo civilizatório consiste basicamente em tornar possível a existência de bens e serviços para cuja produção seja necessária uma seqüência de atividades intermediárias que se estendem ao longo do tempo e do espaço. Se o homem não tivesse tornado possível a produção de bens e serviços que demandam um alongamento do tempo e do espaço (no sentido de usar materiais e insumos que estão cada vez mais distantes do seu espaço de produção e consumo), estaria até hoje vivendo apenas "da mão para a boca".
O que tornou possível esse alongamento do processo produtivo e, portanto, do aumento da capacidade humana de gerar novas e maiores formas de satisfação foi a adoção de regras de conduta moral que inibissem o uso exclusivo da vontade, fazendo com que o homem considerasse, na escolha de seu comportamento, as consequências desagradáveis que adviriam se essas regras de conduta não fossem respeitadas. De certa forma, podemos dizer que a adoção de regras de conduta constitui um processo de contenção dos instintos pelo uso da razão. O ser humano civilizado, de uma maneira geral, não procura satisfazer os seus apetites tomando pela força o que pertence ao seu vizinho ou atacando uma fêmea que lhe desperte atração sexual, porque já percebeu — graças à razão de que é dotado — que esse comportamento, se generalizado, lhe será prejudicial e lhe acarretará uma diminuição de satisfação. Se o homem não tivesse universalmente adotado as regras do "Não matarás" e "Não roubarás" estaria ainda hoje vivendo praticamente como um animal.
E essas regras não poderiam vir a ser universalmente adotadas se o homem não tivesse também percebido a necessidade de criar um aparato de coerção — geralmente denominado estado — com a finalidade precípua de fazer cumprir essas regras e de punir os seus eventuais transgressores. Que o estado, que é um mero instrumento a serviço do homem, tenha se afastado dessa sua função precípua não deve ser entendido como uma condenação de sua existência, e sim como um mau uso feito pelos homens de um instrumento indispensável à existência do processo civilizatório.
Na escolha e na adoção das regras de conduta que o aparato de coerção do estado fará respeitar é indispensável levar em consideração as leis básicas do comportamento humano. Regras de conduta que nos obriguem a trocar 10 por 9, embora possam parecer benéficas no curto prazo, a longo prazo não serão obedecidas em virtude das consequências desagradáveis — e mesmo catastróficas — que inexoravelmente provocam. Tentaremos mostrar que muitas vezes, geralmente por um ato de coerção, como, por exemplo, uma intervenção do estado, somos levados a tomar decisões que implicam trocar 10 por 9, cujas consequências desastrosas não são percebidas como tendo sido causadas pela infausta intervenção que, freqüentemente, continua a prevalecer simultaneamente com o alarido e a reclamação contra as consequências causadas pela própria intervenção. Ou seja: somos levados a trocar 10 por 9, continuamos a fazê-lo e ao mesmo tempo reclamamos das consequências sem nos apercebermos da causa de nosso infortúnio. É como se continuássemos a colocar a mão no fogo e a reclamar de que a nossa mão está sendo queimada, sem nos darmos conta de que a queimadura decorre de estarmos colocando a mão no fogo.
E é compreensível que assim seja, uma vez que o comportamento propositado, por ser um ato de vontade fruto da análise que o homem faz de suas circunstâncias, é passível de erro. As circunstâncias podem ser enganadoras, a razão pode ser superficial, as informações podem estar deformadas, e a escolha feita pelo homem pode se revelar errada. Errada no sentido de que a ação escolhida não irá proporcionar o aumento de satisfação cuja expectativa havia motivado a ação. A correta compreensão da lei básica do comportamento humano poderá nos ajudar a diminuir os erros que cometemos e, portanto, as consequências deles decorrentes. Sim, porque se erros não tivessem consequências não teriam importância nem precisariam ser evitados. Erro, no caso, significa um comportamento adotado na presunção de que nos propiciará um aumento de satisfação mas que, na realidade, provoca um aumento de desconforto.
O fato de o homem sempre trocar 9 por 10 faz com que exista, entre os seres humanos, o que se chama de progresso. Ao longo de sua história, por ter cometido muito mais acertos do que erros, o homem progrediu. Não se poderá dizer o mesmo dos animais: ninguém poderá falar do progresso das girafas ou das abelhas. O conceito de progresso só se aplica ao ser humano em virtude da razão de que é dotado.
Mas, se cometeu mais acertos do que erros, nada impede que venha a cometer mais erros do que acertos, bastando para tal um mau uso da razão e uma inadequada compreensão de suas circunstâncias. O homem, por isso, se por um lado é capaz de promover o progresso pode, também, diferentemente dos animais, promover o atraso e até mesmo, no limite, provocar a sua própria extinção, em virtude de seus próprios erros. Não se está querendo dizer com isso que o homem esteja correndo o risco, ainda que remoto, de extinção, mas apenas ressaltar que essa não é uma impossibilidade lógica, bastando para tal que passe a trocar 10 por 9 pensando que está trocando 9 por 10. E, se a extinção é uma hipótese meramente conjectural, o possível empobrecimento ou não-enriquecimento é uma circunstância concreta e perfeitamente identificável no nosso dia-a-dia.
Os objetivos que cada um pretende alcançar — e, portanto, o que cada um entende como "progresso" — variam de indivíduo para indivíduo e, no mesmo indivíduo, podem variar de um momento para outro. O que para um indivíduo poderá ser visto como um aumento de satisfação poderá, para outro, ser entendido como um aumento de desconforto. Ninguém, a não ser o próprio indivíduo, pode avaliar as suas circunstâncias. Afinal, o ser humano é a única testemunha de si mesmo. Por isso não é possível a alguém ou ao órgão central de um governo estabelecer os objetivos a serem perseguidos pelos indivíduos e muito menos tentar implementá-los.
Para que o nível de acertos seja o maior possível, é indispensável que se respeitem dois postulados: primeiro, que o homem seja livre para fazer as suas escolhas, porque só ele dispõe das informações que são próprias de suas circunstâncias e ninguém as conhece tão bem quanto ele; e, segundo, que seja respeitado o princípio da responsabilidade individual, para que cada indivíduo se beneficie dos seus acertos e sofra as consequências de seus erros, o que fará com que, num permanente processo de feedback, possa modificar as suas escolhas e alterar o seu comportamento. A tentativa de determinar, invocando razões de natureza política, social ou de qualquer outra natureza, quais devam ser os objetivos individuais só pode ser efetivada pelo uso da coerção e constitui o que Friedrich von Hayek, no seu último livro, qualificou de "Presunção Fatal", por conter subjacente a pretensão de que alguém — seja o rei-filósofo de Platão, ou um déspota esclarecido, ou um comitê central, ainda que eleito democraticamente — possa conhecer as circunstâncias de cada indivíduo. Essa mesma percepção já havia levado Kant a dizer, com propriedade: "Ninguém pode me obrigar a ser feliz à sua maneira."
Se no escopo geral de nossas decisões — a escolha do cônjuge, de nossa profissão, de quem vamos nos tornar amigos — a grande maioria concordará que a decisão deve ser deixada a cargo de cada indivíduo, no caso das decisões de natureza tipicamente econômica um grande número de pessoas, se não mesmo a maioria (ou, pelo menos, a maioria dos que detêm o poder), é propenso a acreditar que deve interferir nas decisões individuais, geralmente sob o pretexto de que se assim não o fizerem os indivíduos que foram capazes de escolher o cônjuge, decidir ter filhos, escolher o presidente da República, etc. não serão capazes de fazer a escolha que melhor convém aos seus interesses. Assim sendo, através do poder de coerção do estado interferem nas decisões econômicas, tentando determinar qual deve ser o salário, a jornada de trabalho, a taxa de juros, a taxa de câmbio, o preço das mercadorias, o nível de competição empresarial e tantas coisas mais.
Esse procedimento, por beneficiar alguns e prejudicar outros — geralmente a grande maioria — e por não dispor de um mecanismo nítido de feedback, como na decisão individual, pode fazer com que se persista no mesmo erro durante décadas sem que se perceba que estamos sendo obrigados a trocar 10 por 9 e, por conseguinte, empobrecendo. Os benefícios, por estarem concentrados em alguns grupos, são bem identificados, enquanto os malefícios, estando dispersos no grande número, não chegam a ser claramente percebidos; formam-se, assim, os grupos de pressão que defendem a intervenção que lhes é benéfica sem encontrar resistência da grande maioria que está sendo prejudicada.
Por isso, tanto no caso das decisões de natureza econômica quanto no caso de decisões de natureza afetiva, política ou de qualquer outra natureza, para que o número de acertos e o aumento de satisfação sejam cada vez maiores, é indispensável, convém repetir, que prevaleça a liberdade individual e que os indivíduos sofram ou usufruam as consequências de suas escolhas. O estado, que detém o monopólio da coerção, tem como função precípua garantir esse direito à liberdade individual não só nos seus aspectos políticos, mas também nos seus aspectos econômicos. Se assim o for, prevalecerá na sociedade uma economia de mercado. A economia de mercado é um fenômeno natural, como o leito de um rio no seu caminho para o mar. O estado não tem como implementá-la; pode apenas obstruí-la. Os indivíduos, desde que lhes seja garantida a liberdade, empregarão o melhor do seu esforço e do seu talento para trocar 9 por 10, numa troca voluntária em que sempre ambas as partes ganham, e a comunidade progride. E assim farão existir uma economia de mercado sem que tenha sido esse o seu desígnio explícito. Foi para descrever esse fenômeno que Adam Smith cunhou a tão famosa expressão "mão invisível", no célebre e notável trecho de seu livro A Riqueza das Nações: "O indivíduo, ao visar apenas alcançar um aumento de sua satisfação, é como que conduzido por uma mão invisível a promover um objetivo que não fazia parte de sua intenção."
A humanidade em geral e as elites intelectuais e políticas em particular ainda não se deram conta da importância de conhecer e respeitar as regularidades da ação humana. Parecem crer, como bem assinalou Ayn Rand, "que a ciência só é aplicável quando lidamos com objetos inanimados; quando se trata de seres humanos o conhecimento deixa de ser necessário, os princípios passam a ser irrelevantes, a causalidade não produz efeitos, as consequências não podem ser previstas, e para que possa existir uma sociedade livre e próspera bastam líderes com boas intenções e bastante poder".
Talvez seja porque imaginam que o avanço do conhecimento no campo das ciências humanas deva ocorrer como ocorreu, com enorme sucesso, no campo das ciências naturais. Talvez não estejam percebendo, como salientou Alberto Benegas Lynch em seu livro El Juício Crítico Como Progreso, que existe uma diferença epistemológica fundamental entre esses dois ramos do conhecimento: as ciências naturais são hipotético-dedutíveis, ou seja, a partir de uma hipótese, confirmada pela experiência ou pela observação da natureza, é possível enunciar uma lei e deduzir as suas consequências. E assim será até que uma nova hipótese e a confirmação dessa nova hipótese venham mostrar que a anterior ou estava errada ou era apenas um caso particular de uma nova teoria mais abrangente. É conhecida a resposta de Einstein, numa entrevista à imprensa em que os jornalistas tentavam depreciar Newton por ter sido a sua teoria superada pela nova teoria gravitacional do contínuo espaço-tempo: "Quão sábio foi Newton que, ao enunciar a sua teoria, não disse que matéria atrai matéria na razão direta das massas e na razão inversa do quadrado das distâncias, e sim que tudo se passa como se matéria atraísse matéria..."
O sucesso do método experimental das ciências naturais pode ter induzido a que esse mesmo método fosse usado nas ciências humanas. Mas ocorre que as ciências humanas — ou praxeológicas — são axiomático-dedutíveis. Ou seja: a partir de um axioma que não possa ser refutado, são dedutíveis as consequências das regularidades do comportamento humano. Não adianta fazer experiências; não bastam boas intenções: é preciso refutar o axioma original. E o axioma central da ação humana: toda ação humana visa obter um aumento de satisfação — o que aqui enunciamos como sendo ninguém troca 10 por 9 — está aí para ser refutado por quem for capaz de fazê-lo. Mas, se isso não for possível, há que respeitá-lo e compreender que não respeitá-lo produz, inexoravelmente, consequências indesejadas.
E isso é assim porque a lógica do comportamento humano é a mesma de todo ser vivo, seja ele uma simples célula, uma bactéria ou um ser humano. Todos têm o mesmo propósito: o de prover a sua sobrevivência e a sua descendência. Por isso, um ser vivo não efetua qualquer troca que lhe seja química ou fisicamente possível, mas somente aquelas que lhe propiciem um aumento de coerência e de eficiência para a realização de seu propósito. Por isso, o ser vivo não troca 10 por 9. Se assim procedesse estaria contrariando a lógica da vida e terminaria por deixar de existir.
Podemos imaginar um Universo regido por leis físicas completamente diferentes: um Universo em que a gravidade afaste os corpos ou em que a luz seja instantânea. Não há nenhuma impossibilidade lógica nisso. Podemos imaginá-lo de qualquer forma, porque o Universo não tem um propósito. Mas não podemos imaginar um ser vivo que troque 10 por 9; porque o ser vivo tem um propósito: preservar a sua própria vida. Do ser humano à forma mais elementar de vida, "o sonho de cada célula é tornar-se duas", como assinalou o cientista François Jacob, ganhador do prêmio Nobel de Medicina. Trocar 10 por 9 seria negar a própria vida. Seria pretender que a vida pudesse obedecer à lógica da morte. O que seria um paradoxo, e os paradoxos não existem; por definição não podem existir. A vida não é um paradoxo.
As circunstâncias em que somos levados a trocar 10 por 9
Para que uma troca voluntária se realize é condição necessária que as partes envolvidas obtenham, com a troca, um aumento de satisfação. Se assim não for, a troca simplesmente não se realiza, e as coisas continuam inalteradas.
Existem, entretanto, circunstâncias em que somos levados a efetuar trocas que acarretam, pelo menos a uma das partes envolvidas, uma diminuição de satisfação; trocas que, não fora a existência das referidas circunstâncias, certamente não seriam realizadas. Ao realizá-las temos consciência de estar trocando 10 por 9 ou pensamos estar assim agindo por estarmos mal informados. O primeiro caso ocorre quando nos vemos diante de uma situação de coerção, hipótese em que ao nosso ganho somos forçados a acrescentar o benefício de não sofrer a violência decorrente da coerção, seja ela legal ou ilegal. No segundo caso embora pensando estar trocando 10 por 9, estamos sendo levados a agir contra o nosso interesse, contra, portanto, o nosso aumento de satisfação, por fraude ou por ignorância.
No caso da coerção somos levados a fazer uma troca que nos é insatisfatória; e só aceitamos fazê-la para evitar uma possível represália, em virtude da existência de um poder de coerção. Diante da arma de fogo de um assaltante, que nos obriga a escolher entre "a bolsa ou a vida", a grande maioria dos indivíduos preferirá entregar a carteira para poder permanecer vivo. Se nos abstrairmos dos aspectos éticos e psicológicos de uma situação como essa, podemos dizer que a troca assim efetuada representou, em termos estritamente econômicos, um jogo de soma zero: o que um tinha na carteira passou a pertencer a outro.
Mas a troca forçada pela coerção pode assumir formas bem mais complexas, bem mais freqüentes e bem mais nocivas por resultar, em termos estritamente econômicos, num jogo de soma negativa, no qual as partes envolvidas ou têm uma diminuição de satisfação ou pelo menos não têm o aumento de satisfação que poderiam ter. Por exemplo: se o estado determina que um determinado produto de uso corrente e de difícil substituição deva ser objeto de um monopólio — pouco importa se estatal ou privado — e se o detentor do monopólio, cuja existência se deve exclusivamente ao poder de coerção do estado, for pouco eficiente, tiver custos altos e grande margem de desperdício, como inevitavelmente sói acontecer, as trocas que vierem a ser efetuadas constituirão um jogo de soma negativa, porque o comprador é compelido a receber um produto mais caro e de pior qualidade sem que isso represente um maior ganho para o vendedor. Não tivessem ocorrido a coerção e o correspondente monopólio, se prevalecesse uma situação de liberdade e, portanto, de competição, o comprador teria acesso a um produto melhor e mais barato, e o vendedor ainda teria um lucro maior, devido à sua maior eficiência, criatividade e eliminação de desperdícios.
São exemplos nítidos dessa deformação, na nossa história recente, os monopólios do petróleo, das telecomunicações e da energia elétrica, que nos obrigaram a pagar mais por produtos de pior qualidade enquanto as empresas, no caso estatais, não conseguiram gerar resultados compatíveis com a insatisfação que estava sendo imposta à população brasileira. São também bons exemplos dos malefícios da interferência estatal o protecionismo concedido a setores industriais — notadamente à indústria automobilística —, que nos obrigou, durante muito tempo, a comprar verdadeiras "carroças" piores e mais caras por estarem protegidas da competição. Os bancos estatais, que "conseguiram" ter prejuízo embora estivessem atuando numa área, durante muito tempo, extremamente lucrativa, bem como a lei de informática, proibindo o consumidor brasileiro de ter acesso aos enormes avanços tecnológicos, ilustram também essa ocorrência do jogo de soma negativa gerado pela interferência do estado nas relações de troca, que, se tivessem sido livres, teriam provocado um jogo de soma positiva e um aumento de satisfação para a grande maioria do povo brasileiro.
Mas, certamente, em nenhum outro caso os inconvenientes da presença de coerção nas trocas voluntárias foram mais desastrosos e mais duradouros do que os ocorridos no grande período da inflação brasileira. A inflação brasileira, com seus enormes malefícios sobre os mais necessitados, só pôde ter tido a dimensão e a extensão catastrófica que teve porque o estado brasileiro nos obrigou, coercitivamente, a usar as suas diversas moedas de curso legal — seja o cruzeiro, o cruzado ou o real. Tivesse-nos sido possível recorrer a outras moedas nas nossas transações particulares, a moeda podre de curso legal teria ficado restrita ao uso do estado e, como tal, teria tido vida curta, encurtando correspondentemente os danos causados aos cidadãos que foram forçados a usá-la por tanto tempo.
Um regime que nos permita escolher livremente a moeda a ser usada nas nossas transações é, sem dúvida, o que maiores benefícios traria a todos, sobretudo por evitar que, por falta de alternativa, tivéssemos que sofrer as consequências de um estado irresponsável. Se um país é capaz de gerar uma moeda de curso legal decente e estável, a questão da livre competição entre moedas perde muito de sua relevância. Um país como a Suíça, a Alemanha ou os estados Unidos, onde é livre a circulação de capitais e onde há uma tradição de zelar pela consistência de sua moeda, pode, sem grandes consequências, adotar uma moeda de curso legal; mas, se suas autoridades políticas vierem a cometer os desatinos que as nossas cometeram, aqui como lá será muito melhor abolir a moeda de curso legal e permitir a livre competição entre moedas.
De consequências mais amenas e menos duradouras são aquelas em que a troca é influenciada por algum tipo de fraude. O uso de meios fraudulentos para obter vantagens não consegue mais do que resultados efêmeros e pouco importantes. Afinal, como ressaltou Lincoln, num célebre discurso, "é possível enganar alguns durante todo o tempo e enganar todos durante algum tempo, mas não é possível enganar todos durante todo o tempo". Nos tempos modernos, o recurso à fraude ocorre com mais freqüência através da publicidade enganosa; seus mentores geralmente só conseguem ser bem-sucedidos por um prazo curto, até que a farsa seja desmascarada. Onde há liberdade e vigora uma economia de mercado isso não chega a assumir uma dimensão que provoque maiores apreensões.
A terceira hipótese em que as trocas voluntárias podem resultar numa diminuição de satisfação ocorre quando prevalece um razoável grau de ignorância. Ignorância, naturalmente, em relação ao nível de conhecimento já existente, que, portanto, poderia ter sido superada. As consequências da ignorância que ultrapassa o conhecimento existente não têm como ser evitadas. São apenas um dado de nossas circunstâncias. Ao efetuar uma troca, uma das partes — ou ambas —, por ignorância das consequências que advirão, pensa estar fazendo uma transação que lhes proporcionará um aumento de satisfação e só mais tarde, às vezes bem mais tarde, percebe que cometeu um equívoco e, se pudesse voltar atrás, não faria de novo a mesma opção. Essas circunstâncias estão presentes e têm mais importância em escolhas de natureza pessoal, como a escolha do cônjuge ou do sócio, ou, ainda, na escolha de nossos representantes no processo político e do consequente sistema de organização da sociedade — mais ou menos autoritário e/ou intervencionista — que deverá prevalecer. No plano econômico, sua ocorrência é geralmente identificada como tendo sido um "mau negócio".
Em qualquer dessas circunstâncias que provocam indesejadamente um aumento de desconforto, em vez de um aumento de satisfação, a melhor alternativa para diminuir a sua ocorrência ou minimizar-lhes as consequências é fazer prevalecerem a liberdade e a responsabilidade individual, o que implica, como consequência, a prevalência da democracia representativa no plano político e da economia de mercado no plano econômico. Se assim for, através do feedback negativo (que é, reconhecidamente, entre os diversos métodos que podem ser utilizados pela humanidade para reduzir a ignorância, o mais eficaz e o mais utilizado) as pessoas sofrerão as consequências de seus atos e, tendo liberdade, adotarão um novo comportamento mais compatível com o objetivo intrínseco de toda ação humana, que é obter um aumento de satisfação.
As consequências de sermos levados a trocar 10 por 9
As consequências mais graves de sermos levados a trocar 10 por 9 ocorrem em virtude do uso prolongado do poder de coerção do estado com o propósito de impor relações de troca diferentes daquelas que prevaleceriam num ambiente institucional em que as trocas fossem voluntariamente pactuadas. Em situações dessa natureza, as consequências transcendem de muito os prejuízos individuais das partes envolvidas e assumem uma dimensão verdadeiramente desastrosa, geralmente por impedir ou inviabilizar a realização de trocas individuais que, não fora a malsinada intervenção do estado, poderiam estar ocorrendo e, portanto, propiciando um aumento de satisfação. O mal maior não decorre das transações feitas, e sim das transações que poderiam estar sendo feitas e que deixam de ser feitas.
E, se num primeiro momento essa intervenção aparentemente favorece uma das partes — a parte tida como mais "fraca", em detrimento da parte mais "forte" — e por esse motivo geralmente receba um razoável apoio popular e, por conseguinte, da classe política, num segundo momento os grandes prejudicados são invariavelmente os da classe que se pretendia amparar.
Duas situações bastante conhecidas da realidade brasileira serão suficientes para ilustrar esse verdadeiro "tiro pela culatra" da intervenção estatal, quando medidas que restringem a liberdade de troca, tomadas com razoável, se não amplo, apoio popular resultaram numa verdadeira tragédia para os menos favorecidos. E, como sempre, por estarem os efeitos distantes das causas, passam desapercebidas as relações de causa e efeito, fazendo com que essas intervenções sejam mantidas e até mesmo louvadas, apesar de suas desastrosas consequências.
A primeira é a que decorre da promulgação da "lei do inquilinato", há mais de 50 anos. Naqueles idos o investimento em apartamentos ou casas — geralmente casas de vila ou casas de cômodos — com o propósito de auferir uma renda através do aluguel era uma forma de poupança bastante simples e disseminada, bem de acordo com as nossas origens portuguesas. Quem dispunha de recursos fazia logo umas casinhas ou comprava uns apartamentos para garantir uma renda na velhice. Estatísticas indicam que mais de 50% das unidades construídas àquele tempo o eram para aluguel.
Sendo muito difícil para quem está começando a vida adquirir uma casa, a solução de alugar a sua moradia apresentava-se como uma alternativa viável, até que a ascensão social permitisse o passo maior da aquisição da casa própria, livrando-se do aluguel e até mesmo gastando com a prestação de um possível financiamento o valor até então pago a título de aluguel.
As condições de locação eram livremente pactuadas; e o mercado e a lei da oferta e da procura se encarregavam de adequar o tipo e a localização das unidades em função da capacidade de pagamento de cada um, como ocorre em qualquer segmento da atividade econômica em que prevalecem a liberdade econômica e a livre interação dos indivíduos na busca incessante do seu aumento de satisfação. Raramente, àquele tempo, a taxa de retorno sobre o investimento feito em imóveis para aluguel ultrapassava 10% ao ano.
Foi então promulgada a lei do inquilinato, que, com o propósito de proteger os inquilinos da "ganância" dos proprietários, determinava que os valores do aluguel pactuado não poderiam ser modificados no tempo. Tal provisão, prevalecendo ao mesmo tempo em que o fenômeno inflacionário assumia proporções alarmantes, fez com que a renda dos aluguéis se tornasse verdadeiramente ridícula diante do investimento que havia sido feito. Para os proprietários dos imóveis já construídos não havia alternativa; mas ninguém mais poderia se dispor a fazer investimentos dessa natureza, e o número de imóveis construídos para aluguel reduziu-se a ínfimos 3% do total de habitações construídas.
Só uma minoria pode dispor de recursos para comprar ou construir sua própria casa; a grande maioria, não dispondo de recursos, não existindo sistema de financiamento a longo prazo e tendo deixado de haver uma oferta de imóveis para aluguel, ficou completamente sem alternativa. Isso num quadro de população urbana crescendo explosivamente. A consequência natural foram as favelas: não podendo construir sua casa própria e não havendo oferta de imóveis para locação, a única alternativa para esses mais desfavorecidos foi invadir terrenos e construir barracos — inicialmente, de tábuas e caixotes; hoje, as favelas têm edifícios de cinco andares em concreto armado, construídos de forma totalmente ilegal. É importante notar que nas favelas sempre existiram "barracos" ou quartos para aluguel cuja rentabilidade econômica é bastante satisfatória. Isso só é possível porque nas favelas, construídas ilegalmente, convém reafirmar, nunca prevaleceu a lei do inquilinato; os aluguéis são estabelecidos em dólares — e ai daqueles que não pagá-los.
Não era isso o que se pretendia com a promulgação da lei do inquilinato, mas foi essa a inexorável consequência de se interferir em relações livremente pactuadas com o propósito de obrigar uma das partes a trocar 10 por 9. A consequência foi muito mais danosa aos menos favorecidos, já que os detentores de recursos deixaram de investir em imóveis e passavam a fazer novos tipos de investimentos. No caso brasileiro, uma boa parte desses investimentos foi absorvida pelo estado e está representada pela enorme dívida pública estatal contraída para cobrir os gastos no mais das vezes suntuosos, eivados de desperdícios e não raro acrescidos pelo fenômeno da corrupção.
É importante ressaltar que a população favelada, na sua maioria, tem poder aquisitivo para pagar um aluguel suficiente para remunerar o investidor; a oferta de imóveis de aluguel é que foi gradualmente desaparecendo, devido à desastrada intervenção do estado. Não fora isso, a nossa geografia urbana seria hoje bastante diferente, porque não nos faltariam recursos, capital e tecnologia para que fossem construídos imóveis de aluguel, legais, economicamente rentáveis, que pudessem abrigar a grande maioria da população favelada.
O segundo caso, também de consequências trágicas, refere-se à nossa legislação trabalhista. A relação de troca entre empregador e empregado é das mais antigas do mundo e também a que envolve o maior número de variáveis: jornada de trabalho, dias de férias (remunerados ou não), assiduidade, condições de rescisão, periculosidade, esforço físico — condições estas que, quando não estão explicitadas, obviamente se refletem no valor do salário. A tentativa de padronizar essas variáveis, determinando como devem ser as condições do contrato de trabalho, ao invés de permitir que as pessoas pudessem livremente pactuar as suas relações de troca, conduziu a resultados que são o oposto do que pretendiam os seus mentores quando introduziram a legislação trabalhista nas relações entre empregadores e empregados.
Convém notar que a introdução da legislação trabalhista resultou num jogo de soma negativa. Ou seja: os empregadores são obrigados a pagar mais pelo serviço contratado, e os empregados recebem menos pelo serviço prestado. Ambos foram obrigados a trocar 10 por 9.
Devemos ter em mente que a legislação trabalhista representa, de uma maneira geral, de um ponto de vista estritamente econômico, uma poupança compulsória que o empregado, queira ou não queira, seja-lhe vantajosa ou não, é obrigado a fazer. Uma parte dessa poupança — férias, 13º salário, aviso-prévio — fica em poder do empregador para ser devolvida ao empregado depois de um ano ou mais. A parte maior, entretanto, é entregue ao estado para ser devolvida 35 anos depois sob a forma de aposentadoria ou ao longo de sua vida, sob a forma de assistência de saúde.
Por que um empregado deve receber um 13º salário no mês de dezembro, em vez de receber essa importância todos os meses e fazer ele mesmo, se assim julgar mais importante e mais conveniente, uma poupança para ser utilizada durante o Natal? Por que não receber o valor das férias todos os meses, dando a esses recursos outras destinações mais urgentes, cabendo-lhe apenas o direito de se ausentar do trabalho durante um certo período, sem receber nada, pois já o recebeu junto com o salário? Ou mesmo não tirar férias e receber mais, o que, para inúmeras pessoas, sobretudo as que estão iniciando sua vida laboral, é uma alternativa bem mais conveniente?
Se no caso da poupança compulsória, deixada à disposição do empregador por pelo menos um ano, a situação já é um absurdo, no caso da poupança entregue ao estado o resultado é calamitoso. Obrigar o trabalhador a poupar cerca de 35% do seu salário durante 35 anos de vida para, ao final, ter direito a uma aposentadoria do INSS é inqualificável. Deve ser a isso que chamam de "justiça social"!
Se considerarmos que não fosse a compulsoriedade do sistema estatal as pessoas poderiam comprar o seu próprio plano de aposentadoria e de saúde e que 10% do salário seriam suficientes para garantir, após 35 anos, uma aposentadoria bem melhor do que à que hoje os trabalhadores brasileiros têm direito; se acrescentarmos 3% a título de seguro para que, em caso de morte antes dos 35 anos, a família possa receber a aposentadoria como se a contribuição houvesse sido feita integralmente e ainda 4% para atender a um seguro saúde, temos que com 17% do salário o trabalhador obteria muito mais do que obtém hoje "poupando" 35% do seu salário! E se, além disso, considerarmos que esse trabalhador não raro veio do Nordeste, trabalhou em diversos empregos, alguns sem carteira assinada, ficou algum tempo desempregado, quando consegue reunir toda a papelada para obter sua aposentadoria já está no limite de sua expectativa de vida — malnutrido que foi e sem acesso a uma assistência médica eficiente — podemos aquilatar a dimensão do disparate que estamos cometendo há mais de 50 anos. É, podemos assim qualificar, um caso de sadismo explícito.
A consequência natural dessa intervenção tão prolongadamente mantida graças ao poder de coerção do estado, impedindo que pudesse prevalecer uma livre negociação entre as partes, consiste no fato de que mais da metade da população brasileira economicamente ativa trabalha na economia informal. E isso por quê? Porque o empregador gasta menos e o empregado ganha mais. A economia informal foi a forma que empregador e empregado encontraram para não ter que trocar 10 por 9 e para poder estabelecer uma relação de troca que lhes seja mutuamente mais vantajosa.
Implementada sob o galardão de ser a "legislação trabalhista mais avançada do mundo", conseguiu a façanha de colocar metade da força de trabalho na economia informal. É o preço que estamos pagando por não levar em consideração a regra básica do comportamento humano.
A solução para essas mazelas, assim como para inúmeras outras que poderiam ser apontadas, consiste exatamente em não obstruir a liberdade que as pessoas devem ter para, na sua interação com outras pessoas, buscar o que consideram ser um aumento de satisfação — aumento de satisfação esse que só pode ser avaliado pelo próprio indivíduo, uma vez que só ele conhece as suas circunstâncias e o valor que atribui a cada uma delas. E, além disso, fazer valer o princípio da responsabilidade individual para que cada um possa se beneficiar ou sofrer as consequências de suas decisões e, dessa forma, modificá-las e aprimorá-las ao longo da vida nesse processo permanente de remoção da ignorância. Para que o princípio da responsabilidade individual seja efetivo, cabe ao estado zelar pelo cumprimento dos contratos, fazendo com que efetivamente as pessoas sofram as consequências de seus atos; para isso foi-lhe atribuído o monopólio da coerção, e não para determinar quais devam ser as nossas decisões.
A humanidade tem boa consciência das consequências de um comportamento que desrespeite as leis naturais; infelizmente, o mesmo não pode ser dito em relação às leis praxeológicas, ou seja, as leis da ação humana. Seria preciso que a humanidade e, sobretudo, as suas elites intelectuais compreendessem que o desrespeito às leis do comportamento humano provoca consequências que podem ser desastrosas e que poderiam ser evitadas. Mas, se não forem capazes de compreendê-lo, não estarão invalidando as leis do comportamento humano. Estarão apenas empobrecendo a sociedade humana ou impedindo que ela enriqueça tanto quanto poderia, diminuindo-se o grau de satisfação dos indivíduos que a compõem. 

Donald Stewart Jr. (1931--1999) foi um engenheiro civil, empresário e ativista liberal brasileiro. Fundador do Instituto Liberal, e tradutor de várias obras de Mises, inclusive Ação Humana, foi sócio da Sociedade Mont Pèlerin e um dos grandes expoentes do liberalismo no Brasil. Faleceu em 1999, vitimado pelo câncer.