quinta-feira, 18 de julho de 2013

Agora, o referendo


por Samuel Celestino
       
        O Congresso Nacional está a tentar enganar o grito das ruas. Determinou um “recessozinho branco” que começa hoje e termina no início de agosto. Tudo isso e mais alguma coisa combinado entre os líderes partidários, que já não escutam o eco das manifestações espontâneas que abalaram as grandes e médias cidades brasileiras em três semanas consecutivas no mês passado. O temor passou, pelo que se observa. Além do recesso, resolveram, ainda, depois das tentativas de mini-constituinte impossível e do plebiscito fracassado, lançar mão da terceira opção: o referendo.
 
        Os lideres congressistas tentarão, em agosto e setembro, costurar uma reforma política enganadora e apresentar ao eleitorado para que seja referendada. Desse modo, esperam que nas eleições do próximo ano possa estar inclusa no processo eleitoral. Será uma reforma, presume-se, ao gosto e de acordo com os interesses dos atuais partidos. Tudo isso foi construído de última hora, arrematado na terça feira, depois de projetos desencontrados e dificuldades para compor o grupo encarregado de “fabricar” a reforma, cuja coordenação ficará ao cargo do petista Vacarezza.
 
       Enquanto o Congresso cuidava dos seus interesses enganatórios, a presidente Dilma sofria novo abalo com a divulgação da pesquisa CNT-MDA, que apresentou uma queda significativa nas suas intenções de votos. Em apenas um mês caiu de 54,2% para 31,3%. Acendeu-se, o que, aliás, já havia acontecido com a pesquisa DataFolha, uma forte luz amarela no Palácio do Planalto com significado de sobressalto, não mais do que isso, porque embora seja certo (por ora) um segundo turno com Dilma, ela também ganharia no segundo em todos os cenários da pesquisa.
 
       O problema é como estancar a queda. A luz amarela é de tal sorte amedrontadora que o ministro da Educação, porta-voz atual de Dilma para todas as missões, inclusive política, Aloizio Mercadante, considerou-a como um fato superável. O ministro da Justiça, José Eduardo Cardozo, na mesma linha, afirmou que a pesquisa “reflete um momento”. Ambos usaram o óbvio do óbvio porque pesquisa  sempre significou um resultado momentâneo. Assim como Dilma desabou em um mês, pode recuperar a perda mais adiante. Como os ministros não tinham o que dizer, lançaram mão deste conceito antigo sobre as consultas eleitorais.
 
        O problema da presidente não está na questão “momento”, e sim na situação que o Brasil atravessa, assistindo à sua economia capotar com o PIB descendo a ladeira e a inflação subindo. Além de as contas correntes desabarem, na medida em que o País não consegue exportar, perdendo para as importações, em consequência da desvalorização do Real.  O País está mais para a Argentina do que para um emergente. Não consta que a situação possa ter melhoras repentinas, ou em pouco tempo, porque os Estados Unidos estão em processo de crescimento. É natural, óbvio para usar novamente a palavra, que os investidores prefiram ficar por lá do que descerem para estes trópicos complicados de Congresso corrompido e de negócios escusos.
 
          Aliás, o ex-presidente Lula escreveu na terça um artigo publicado pelo New York Times. Primou pela egolatria e esqueceu que foi ele quem inventou Dilma Rousseff. Para justificar os protestos ocorridos em junho, escreveu lá um disparate no qual diz que os protestos que ocorreram por essas bandas “são reflexos dos sucessos do seu governo nos campos econômico, político e social”. Numa tradução do seu “inglês” (este que está aspeado, aparece mascarado de português), significa que o seu sucesso agora derrapa nos três campos por ele referidos. Então, ele não tem nada a ver com isso (e não tem mesmo) porque acontece no governo da presidente da qual ele é avalista das ações, enfim daquilo que faz.
 
          Com o Congresso em recesso, a presidente talvez respire aliviada porque não terá a aperreá-la a briga que se desenvolve no campo da sua base aliada, que pouco a pouco dela se afasta. Também, como explicam seus ministros sobre a pesquisa do CNT-MDA, pode ser que sim, pode ser que não. Os políticos raciocinam de acordo com seus interesses políticos e pessoais. Se o governo estiver bem e o fisiologismo azeitado, eles estarão sempre junto do poder. Caso contrário, eles se afastam. São essas as regras do jogo. Dilma não soube agradar, a economia desabou, a inflação cresceu, as manifestações explodiram e ela não sabe o que faz. Já os políticos profissionais...

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