quinta-feira, 10 de outubro de 2013

CIENTISTAS BUSCAM EXPLICAÇÃO PARA "FOGO ETERNO" NOS EUA


Fonte: http://noticias.seuhistory.com/
Estima-se que existam aproximadamente uma centena de fenômenos conhecidos como "fogo eterno" ao redor do planeta. Até o momento, a ciência julgava ter determinado com precisão a natureza deste fato: a chama entre as rochas se mantém acessa por conta do gás de xisto gerado pelo calor das próprias pedras. Contudo, um grupo de pesquisadores da Universidade de Indiana, mostrou que esta explicação não se aplica, ao menos, a um caso: o do "fogo eterno" dos Estados Unidos, localizado atrás de uma cascata, no parque de Chestnut Ridge, no oeste de Nova York. Segundo Arndt Shimmelmman, autor do estudo publicado recentemente na revista Marine and Petroleum Geology, a temperatura destas rochas apenas poderia ser comparada ao calor produzido por uma xícara de chá, que não seria capaz de gerar o gás de xisto.

MENINO AUTISTA DESENVOLVE TEORIAS ASTROFÍSICAS E DÁ AULAS EM UNIVERSIDADE


Fonte e foto: http://noticias.seuhistory.com/
Jacob Barnett é um jovem norte-americano de 14 anos, diagnosticado com autismo aos poucos meses de vida. Na época, especialistas previam que seria impossível para ele realizar as tarefas mais simples, como tomar banho sozinho ou se vestir. Entretanto, Jacob atualmente faz seu doutorado em Física Quântica, na Universidade de Indiana e possuí um Q.I. superior ao do renomado físico Albert Einstein. Jacob passou seus primeiros anos de vida sem falar uma palavra, apesar dos cuidados que recebia de diversos especialistas para se desenvolver. Aos 4 anos de idade começou a falar e, para surpresa geral, o fez em quatro idiomas diferentes. No entanto, essa não era a primeira demonstração de sua capacidade excepcional: sua mãe conta que quando viajavam de férias, Jacob memorizava cada detalhe dos lugares por onde passavam e em seguida desenhava mapas de grande exatidão. Jacob iniciou seus estudos universitários aos 11 anos e 1 ano depois, já recebia um salário como professor adjunto e pesquisador da instituição. Atualmente, Jacob é considerado um provável candidato ao Prêmio Nobel, por um original que desenvolveu sobre Teoria Astrofísica.

Privatize tudo



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"Sim, privatizar é importante. Mas o estado possui papel fundamental na prestação de serviços essenciais, como água, esgoto, coleta de lixo e polícia."
Este é o pensamento padrão daquela fatia de pessoas que não se encontra completamente idiotizada pela ideologia marxista e que ao menos admite a importância das privatizações.
"Com certeza deve-se privatizar a Telebrás e a Eletropaulo, e quem sabe até a Petrobrás e os Correios. Mas a Sabesp e a Polícia, jamais. O que seria dos pobres?!"
Ou então diria o mais científico:
"Alguns destes serviços são monopólios naturais, logo, o estado deve assumir o monopólio de fornecimento de alguns deles."
Ao mesmo tempo em que estes abnegados defensores dos pobres — genuínos arautos de uma pseudociência econômica — continuam afeitos a estas ideias, os pobres vão se virando, vão superando as boas intenções alheias e as falácias econômicas estabelecidas, e vão conseguindo algumas coisas.
Apesar dos altos impostos, das regulamentações, da burocracia e das barreiras contra importações, não existem no Brasil empresas estatais monopolistas fabricantes de TV's, geladeiras, micro-ondas, celulares, carros, móveis e imóveis.  Por outro lado, serviços como esgoto, polícia, água e coleta de lixo são prestados por estatais monopolistas protegidas contra qualquer concorrência. (No caso do lixo, o serviço é geralmente feito por empresas privadas, que obtêm uma concessão monopolista dos governos locais).
E então vem a pergunta: entre estes dois arranjos, qual é aquele ao qual os pobres conseguem ter acesso? Areportagem da Folha de São Paulo do último sábado nos responde:
Casas têm mais TVs e menos rede de esgoto em 11 Estados do Brasil
Casas com TV, DVD, computador, carro e moto, mas sem esgoto e coleta de lixo.
Dados da Pnad (Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios), do IBGE, mostram que, enquanto no país avança a presença nas residências de bens duráveis, como eletrônicos, boa parte dos Estados fica paralisada —ou até regride— em serviços como água, esgoto e coleta de lixo.
De 2011 para 2012, 14 Estados tiveram redução no percentual de moradias com esses serviços (em 11 a rede de esgoto não teve nenhum avanço); apenas dois recuaram em bens duráveis. Na média nacional, houve crescimento ou estabilidade, dependendo do item.
E vejam que constatação impressionante agora:
Na prática, essa queda mostra que o aumento do número de moradias não é acompanhado no mesmo ritmo pelas políticas públicas.
Qual será o "mistério" que explica isso? Será que é porque o setor público não se guia pelo sistema de lucros e prejuízos, o que faz com que ele não possua nenhum incentivo em atender às demandas dos consumidores? Ou será que os moradores de regiões pobres não estão "votando direito"?  Ao que tudo indica, na eleição diária que ocorre no mercado, onde cada real conta como um voto decisivo para eleger o produto que eles irão adquirir, os votos estão sendo bem conscientes.
E quanto às preocupações de nossos defensores dos pobres em relação ao maléfico mercado e aos interesses do grande capital? "Se o estado não sobrepujar os interesses econômicos e prover saneamento básico para os mais pobres, estes ficarão sem esgoto e água." Parece que essas pessoas precisam tomar um choque de realidade antes de emitirem qualquer outra opinião.  Veja o que diz a reportagem:
Um dos maiores entraves ainda é a rede de esgoto. Ao todo, 11 Estados recuaram no acesso a este serviço. No Piauí, o percentual de casas com acesso à rede foi de 4% para 2,8% — queda de 29%.
A desculpa dos parasitas estatais? Sempre a mesma:
Para os Estados, a dificuldade está na falta de recursos.
Outro ponto, diz, é a "forte transferência" de moradores da zona rural para a periferia das cidades, o que traz demanda por expansão dos serviços.
A carência de recursos também é apontada como justificativa nos Estados onde a maioria das casas não tem rede de esgoto, como o Piauí.
A Cosanpa, companhia de saneamento do Pará, um dos Estados com maior queda no índice de casas com esgoto, diz que faz melhorias na rede desde 2008, mas enfrenta o crescimento populacional.
Eis a lógica do setor público: sempre que um programa está indo mal, é necessário tomar mais dinheiro da população.  O fracasso de uma iniciativa estatal significa que ela tem de ser recompensada com mais verbas confiscadas da população.  Exatamente o contrário do que ocorre na iniciativa privada, onde o fracasso é punido e o sucesso é recompensado com maiores lucros. 
Enquanto o setor privado reage a um aumento na demanda com regozijo, o setor público reage ao mesmo fenômeno com ameaças.  Enquanto o setor privado está sempre implorando por qualquer aumento na demanda, disputando acirradamente seus consumidores, o setor público está sempre culpando e punindo os consumidores por utilizarem demais seus serviços ou até mesmo por eles existirem.
Alguém consegue imaginar a Coca-Cola gastando milhões para fazer propaganda pedindo para as pessoas beberem menos Coca-Cola?  Pois é isso que as estatais monopolistas do fornecimento de água fazem, gastando milhões com suas campanhas pedindo para que as pessoas economizem água! "Mas se empresas privadas fornecessem água, empresários gananciosos iriam cobrar o quanto quisessem e os pobres não teriam acesso à água".Enquanto os "defensores dos pobres" ficam com estas divagações, os pobres vão tendo acesso à Coca-Cola e não à água.
E quanto a "cobrar o quanto quisessem", o monopólio estatal do fornecimento de água já chegou a um nível tão absurdo que, em São Paulo, é mais barato comprar água de um caminhão-pipa do que do encanamento da Sabesp.  Isso mesmo: o uso de um caminhão-pipa, o pagamento do motorista, da gasolina e do pedágio, e a compra da água em alguma fonte próxima — tudo isso sai mais barato do que o transporte por canos.  E não podemos ignorar o custo extra do mercado negro, pois, como a Sabesp possui o privilégio monopolístico no fornecimento de água, é ilegal concorrer com ela na venda de água para imóveis.  No entanto, ainda assim, centenas de imóveis em São Paulo enchem suas caixas d'água todas as noites com caminhões-pipa em vez de comprarem a água da Sabesp pelo encanamento.
A reportagem da Folha segue mostrando o exemplo de Jorge de Souza, motorista de ônibus morador de Manaus:
"A vida melhorou muito. Agora a gente até viaja para Fortaleza todo fim de ano. Mas a situação no bairro continua complicada", afirma Souza, que mora com a mãe, a mulher e o filho em frente a um igarapé no bairro São Jorge, na zona oeste da capital do Amazonas.
O lixo se acumula nas margens do canal, não há coleta de esgoto e a iluminação precária traz a sensação de insegurança — a casa dele já foi invadida duas vezes.
Na garagem, uma lona escura esconde um sonho antigo: o carro que ele comprou em fevereiro passado.
Dentro de casa, há geladeira, televisão e outros eletrodomésticos. Todos novos.
"A maioria dos produtos que comprei ficou com a minha ex-mulher", conta Souza. "Mas, aos poucos, estou comprando tudo de novo."
Jorge conseguiu comprar casa, carro, eletrodomésticos (duas vezes) e viaja todo final de ano, mas não pode comprar saneamento básico, segurança e tem que viver no meio do lixo, pois a coleta é monopolizada. 
O que seria dos pobres se tudo fosse privatizado?  Basta ver o exemplo de Jorge.  Ele consegue obter os bens e serviços fornecidos pelo mercado privado.  Ele não consegue obter os bens e serviços fornecidos pelo monopólio público.
Seria bom que aqueles benevolentes preocupados com os pobres — que fazem parte de uma minoria que possui saneamento básico onde mora — jogassem suas ideias estatistas em seus vasos sanitários, acionassem a descarga e passassem a defender a única solução definitiva para os problemas sociais: livre concorrência e privatização total

Fernando Chiocca é um intelectual anti-intelectualpraxeologista e conselheiro do Instituto Ludwig von Mises Brasil.


40 anos depois: o duradouro legado de Mises



mises_1944.jpgNota do editor: 10 de outubro de 2013 é a data do 40º aniversário da morte de Ludwig von Mises

Todos os anos, no início de outubro, o mundo intelectual se volta para a Suécia e para a Noruega, onde os vencedores do Prêmio Nobel são anunciados nas áreas da literatura, da medicina-fisiologia, da física, da química e do estabelecimento da paz.
O grande empreendedor sueco Alfred Nobel nunca patrocinou nenhum prêmio para a ciência econômica, e o comitê criado em sua homenagem (com o patrimônio que ele deixou) nunca concedeu nenhum prêmio desse tipo até hoje.  No entanto, existe um "Prêmio para as Ciências Econômicas em Memória de Alfred Nobel".  Mas ele é patrocinado pelo Banco Central da Suécia.  Desde 1969, este prêmio também vem sendo concedido anualmente no início de outubro.
O momento escolhido e o rótulo dado ao prêmio, bem como o fato de que seus laureados são selecionados pela Academia Real das Ciências da Suécia — a qual também escolhe os outros laureados (exceto para o prêmio da paz) —, iludiram as pessoas do mundo inteiro e as fizeram acreditar que o prêmio dado às ciências econômicas está na mesma categoria.  Assim como o dinheiro puramente eletrônico criado pelo sistema bancário, o prêmio dado às ciências econômicas circula normalmente entre o público incauto.
Alfred Nobel nunca teve a intenção de patrocinar um prêmio às ciências econômicas.  Aparentemente, nem o Banco Central sueco.  A verdade é que os prêmios concedidos pelo Banco Central sueco foram majoritariamente dados a intelectuais especializados em matemática aplicada, ou em psicologia aplicada, ou na arte de brincar com dados estatísticos, algo que ganhou o nome de "econometria".  Muito raramente o prêmio foi concedido a intelectuais que de fato dedicaram a maior parte de seu tempo a problemas econômicos do mundo real, e quase nunca foi dado a alguém que realmente tenha dito algo novo, importante e verdadeiro sobre a economia real.  É verdade que vários laureados eram bem versados em economia, mas mesmo eles, em regra, não obtiveram o prêmio em decorrência de alguma contribuição original para essa disciplina.
O problema com a economia — depreciativamente rotulada de "ciência sombria" pelo historiador vitoriano Thomas Carlyle — é bem conhecido por todos.  Ela impiedosamente desmascara e refuta todos os mitos que já foram inventados para justificar o planejamento central e o intervencionismo estatal.  Isso vai contra a própria instituição que financia e concede o Prêmio em memória de Alfred Nobel.  O Banco Central da Suécia está institucionalmente comprometido com o planejamento central no âmbito monetário.  É difícil imaginar que ele vá imprimir e gastar milhões de coroas para financiar pesquisas que sejam danosas à sua própria atividade.  Ademais, a Suécia tem sido governada por social-democratas durante a maior parte do pós-guerra.  A veneranda Academia Real das Ciências da Suécia não ficou imune a esta tendência.
Nada surpreendentemente, o prêmio de economia sempre foi tendencioso, ignorando economistas que se opõem à instituição do papel-moeda fiduciário e de curso forçado, uma criação fundamental e indispensável para dar sustento ao estado assistencialista e ao estado belicista.  Os fatos falam por si próprios.  Com a notável exceção de F.A. Hayek (laureado em 1974), nenhum dos vencedores do prêmio é conhecido por ser um crítico franco e sincero dos bancos centrais e do intervencionismo no âmbito monetário.  E até mesmo Hayek só foi sair do armário após ter ganhado o prêmio.  Foi só então que ele publicou Choice in Currency (1976) e Desestatização do Dinheiro (1977).
Como era de se esperar, dois gigantes do pensamento econômico, Ludwig von Mises (1881-1973) e Murray Rothbard (1926-1995), não ganharam o prêmio de economia em memória de Alfred Nobel.  Mises, que foi o maior economista de todos os tempos, faleceu exatamente quando este prêmio estava sendo concedido pela quinta vez.  Neste quadragésimo aniversário de seu falecimento, seria adequado comemorar suas conquistas e ressaltar seu duradouro legado.
Ludwig von Mises é conhecido por ser a fonte do renascimento do liberalismo clássico e do libertarianismo após a Segunda Guerra Mundial.  Mas sua influência sobre o pensamento político contemporâneo adveio totalmente de suas pioneiras contribuições metodológicas às teorias sociais, e mais especificamente à economia monetária.  Na mesma época em que ideias inflacionistas haviam invadido em definitivo o mundo acadêmico e estavam prestes a suplantar a economia clássica, Mises revolucionou a teoria monetária.  Ele foi o primeiro economista a desenvolver uma explicação completa e irrestrita para a formação dos preços, e foi também o primeiro a desenvolver uma análise abrangente das causas e consequências da criação de dinheiro pelo sistema bancário.  Seu trabalho renovou e reforçou enormemente o argumento contra o intervencionismo no âmbito monetário, postura esta que sempre foi o cerne da economia clássica.
Antes de Adam Smith, a opinião pública estava tomada pela ideia de que o volume de gastos (no jargão keynesiano atual, "demanda agregada") era o que comandava a economia.  Consequentemente, políticos e empresários faziam de tudo para aumentar a quantidade de dinheiro na economia com o intuito de estimular a produção e o crescimento econômico.  Smith entrou em cena e argumentou que todo este raciocínio estava errado.  As verdadeiras causas da criação de riqueza eram a divisão do trabalho e a poupança (mais especificamente, um estilo de vida frugal).  Políticas criadas para aumentar a quantidade de dinheiro na economia — por meio de um estímulo às exportações (que aumentavam a quantidade de ouro e prata em uma economia) e uma obstrução às importações (que geravam o efeito inverso) — eram danosas e ineficazes.  Em vez de promover o enriquecimento, elas empobreciam uma nação.
Esta tese inspirou o movimento intelectual conhecido como economia clássica.  Inspirou também os economistas da Escola Austríaca.  Quando Carl Menger desenvolveu sua teoria dos preços baseando-se nos sólidos fundamentos da teoria do valor subjetivo, ele não tentou subverter e derrubar a economia clássica completamente.  O que ele fez foi corrigir uma falha fundamental da teoria clássica sobre a formação de preços.  E, ao fazer isso, ele solidificou todo o edifício.  Eugen von Böhm-Bawerk veio em seguida e reforçou os ensinamentos clássicos sobre poupança e capital ao analisar as consequências do tempo de duração de cada processo de produção.  E então, no início do século XX, Ludwig von Mises completou, com sua teoria monetária, toda a revisão e reconstrução austríaca da economia clássica.
Adam Smith havia negligenciado a questão monetária porque nem a demanda por dinheiro e nem a oferta de dinheiro deveriam ser consideradas como sendo uma das causas da riqueza das nações.  Vários de seus discípulos — especialmente o grande David Ricardo — se aprofundaram com mais afinco nesta questão.  Mas as obras de todos eles continham erros sérios porque se apoiaram em uma grave falha na teoria de Smith: a teoria de que os preços decorrem dos custos de produção (sendo que a realidade é exatamente inversa: os custos de produção é que são formados de acordo com os preços dos bens de consumo).  Consequentemente, eles não foram capazes de lidar corretamente com a questão da atividade bancária e nem com as consequências práticas da infindável sequência de ciclos econômicos gerados pela atividade bancária.
Esta incapacidade prática em abordar corretamente as questões monetária e bancária acabou por desacreditar todo o edifício da economia clássica.  A consequência foi que as doutrinas inflacionistas voltaram à moda, inicialmente de forma lenta (na segunda metade do século XIX), depois de forma galopante (por volta da Primeira Guerra Mundial), até finalmente triunfarem na década de 1930.
Mises não desenvolveu sua teoria monetária com o intuito de criar conclusões práticas para o liberalismo clássico.  Muito pelo contrário: ele levou algum tempo para entender todas as implicações políticas daquilo que ele havia descoberto.  A primeira edição de seu tratado monetário, The Theory of Money and Credit, de 1912, é até bem comportada neste quesito.  Foi somente na segunda edição, de 1924, que ele começou a enfatizar as implicações anti-intervencionistas de seu trabalho no campo da economia monetária.  Aproximadamente à mesma época, ele também começou a se aprofundar em outras áreas de pesquisa, mais notavelmente na análise dos sistemas socialistas e intervencionistas de governo.  Estas obras lhe trouxeram grande fama, e foram essenciais para converter toda uma geração de jovens intelectuais — tais como Friedrich Hayek, Gottfried von Haberler, Fritz Machlup, Oskar Morgenstern e Lionel Robbins — às ideias liberais clássicas.  Porém, sua teoria monetária permaneceu sendo a espinha dorsal de todo o seu pensamento.  E Mises viria a apresentá-la de uma forma plenamente desenvolvida dentro do arcabouço de uma teoria geral sobre a ação humana nos livrosNationalökonomie (1940) e Ação Humana (1949).
O grande infortúnio de Mises foi que, durante toda a sua a vida, suas ideias econômicas e políticas estavam totalmente fora de moda.  Porém, exatamente por esta razão, seu legado é permanente e robusto.  Hoje, as ideias que Mises se esmerou em refutar já se exauriram.  O inflacionismo, o socialismo, o estatismo e o intervencionismo legaram corrupção, caos, pobreza e desalento.  Ler Mises nos permite entender melhor o mundo atual, e nos ajuda a ver o caminho que nos retira do atoleiro e nos conduz à prosperidade.
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Jörg Guido Hülsmann é membro sênior do Mises Institute e autor de Mises: The Last Knight of Liberalism e e The Ethics of Money Production.  Ele leciona na França, na Université d'Angers.

Tradução de Leandro Roque


A desigualdade e o egoísmo estimulam o desenvolvimento



3007.jpgA desigualdade de renda e de riqueza é uma característica inerente a uma economia de mercado. A eliminação desta desigualdade destruiria completamente qualquer economia de mercado.
O que as pessoas que propõem a igualdade têm em mente é sempre um aumento do seu próprio poder de consumir. Ao apoiar o princípio da igualdade como um postulado político, ninguém pensa em repartir sua renda com os que têm menos.  Quando os assalariados falam de igualdade, estão querendo dizer que os lucros dos patrões deveriam ser distribuídos entre eles.  Não estão propondo uma redução de sua própria renda em benefício dos 95% da população da terra cuja renda é menor do que a sua.
Em uma sociedade de mercado, a desigualdade de renda representa um papel bem diferente daquele que ela representa em uma sociedade feudal ou em outros tipos de sociedades não capitalistas. Entretanto, no curso da evolução histórica, essa desigualdade pré-capitalista foi de enorme importância.
Comparemos a história da China com a da Inglaterra.  A China chegou a desenvolver uma civilização de alto nível. Dois mil anos atrás, estava muito mais adiantada do que a Inglaterra.  Mas, no fim do século XIX, a Inglaterra era um país rico e civilizado, ao passo que a China era um país pobre.  Seu estágio de civilização era praticamente o mesmo que já havia alcançado alguns séculos atrás; era uma civilização estagnada.
Os esforços feitos pela China para implementar os princípios de igualdade de renda foram muito maiores do que os feitos pela Inglaterra.  A terra foi dividida e subdividida. Não havia proletários sem terras.  Já na Inglaterra do século XVIII, a quantidade de proletários sem terra era muito numerosa.  Durante muito tempo, as práticas restritivas das atividades não agrícolas, consagradas pelas ideologias tradicionais, retardaram o surgimento da moderna atividade empresarial.  Porém, quando a filosofia do laissez-faire, ao destruir completamente as falácias do restricionismo, abriu o caminho para o capitalismo, a evolução do sistema industrial pôde processar-se num ritmo acelerado porque a força de trabalho necessária já estava disponível.
O que gerou a "era da máquina" não foi, conforme imaginava Werner Sombart, uma obsessão especial pelo enriquecimento, surgida misteriosamente do dia para a noite e que se apossou das mentes de algumas pessoas, transformando-as em "homens capitalistas".  Sempre existiram pessoas ávidas para obter lucros ao melhor ajustarem a produção à satisfação das necessidades do público.  Mas essas pessoas eram paralisadas pela ideologia que estigmatizava o desejo de lucrar como sendo imoral e que erigia barreiras com o propósito de impedi-lo.
A substituição das doutrinas favoráveis ao sistema tradicional de restrições pelo laissez-faire removeu esses obstáculos ao progresso material e deu lugar a uma nova era.
A filosofia liberal combatia o tradicional sistema de castas porque sua preservação era incompatível com o funcionamento da economia de mercado.  Defendia a abolição dos privilégios para poder liberar aqueles que, graças à sua engenhosidade, sabiam como produzir de forma mais barata uma maior quantidade de produtos de melhor qualidade.  Utilitaristas e economistas, neste particular, estavam de acordo com as ideias dos que combatiam os privilégios de classe em nome de um alegado direito natural e da teoria da igualdade de todos os homens.  Ambos os grupos defendiam o princípio da igualdade de todos perante a lei.  Mas esta coincidência de pontos de vista em alguns aspectos não eliminou as diferenças fundamentais entre essas duas correntes de pensamento.
Para a escola do direito natural, todos os homens são biologicamente iguais e, portanto, possuem o inalienável direito a uma parcela igual de todas as coisas.  A primeira afirmativa contraria frontalmente os fatos.  A segunda, se interpretada consistentemente, conduz a absurdos tais que os seus defensores acabam abandonando completamente a lógica e passam a considerar certas instituições, por mais discriminatórias e iníquas que sejam, como perfeitamente compatíveis com a inalienável igualdade de todos os homens.  Os eminentes cidadãos da Virgínia, cujas idéias inspiraram a Revolução Americana, admitiram que fosse preservada a escravidão negra.  O sistema de governo mais despótico que a história jamais conheceu, o bolchevismo, se apresenta como a própria encarnação do princípio de igualdade e liberdade entre todos os homens.
Os defensores da igualdade perante a lei tinham plena consciência da inata desigualdade entre os homens e de que é precisamente essa desigualdade que dá origem à cooperação social e à civilização.  Para eles, o princípio da igualdade perante a lei não foi concebido com o propósito de corrigir os fatos inexoráveis do universo ou para fazer desaparecer a desigualdade natural.  Era, muito pelo contrário, uma maneira de assegurar à humanidade inteira o máximo de benefícios que os homens podem extrair dessa desigualdade.  Portanto, nenhuma instituição criada pelo homem deveria impedir alguém de atingir aquela posição na qual pudesse melhor servir a seus concidadãos.  Para os liberais, o problema da desigualdade era visto pelo ângulo social e utilitário, e não segundo um alegado direito inalienável dos indivíduos.  A igualdade perante a lei, diziam eles, é boa porque serve melhor aos interesses de todos.  Permite, principalmente, que os consumidores decidam quem deve dirigir as atividades produtoras.  Elimina, assim, as causas de conflitos violentos, o que assegura o estabelecimento de uma ordem social mais satisfatória.
Foi o triunfo dessa filosofia liberal que produziu todos os fenômenos que, em seu conjunto, são denominados de civilização ocidental moderna.  Entretanto, essa nova ideologia só poderia triunfar em um ambiente onde o ideal de igualdade de renda fosse ainda muito fraco.
Se os ingleses do século XVIII estivessem encantados com a quimera da igualdade de renda, a filosofia do laissez-faire não lhes teria despertado o interesse, assim como ainda hoje não o faz entre os chineses ou os maometanos.  Nesse sentido, o historiador deve reconhecer que a herança ideológica do feudalismo e do sistema senhorial muito contribuiu para o advento da civilização moderna, por mais diferente que esta seja daquela.
Os filósofos do século XVIII, que não lograram compreender os princípios da nova teoria utilitária, continuaram perorando acerca da superioridade da China e dos países islâmicos.  Certamente conheciam muito pouco sobre a estrutura social do mundo oriental.  O que achavam louvável nas vagas informações de que dispunham era a ausência de uma aristocracia hereditária e de grandes latifúndios.  Pelo que imaginavam, esses povos teriam conseguido implantar os princípios igualitários com mais êxito do que as suas próprias nações.
Mais tarde, no século XIX, essas teses foram redescobertas pelos nacionalistas dos vários países.  A mais em voga era o pan-eslavismo, cujos defensores exaltavam a superioridade do mir[1] e do artel[2] russos e dozadruga[3] iugoslavo.  A crescente confusão semântica acabou convertendo o significado de termos políticos no seu oposto; o epíteto democrático passou a ser prodigamente utilizado. Os povos muçulmanos, que nunca conheceram outra forma de governo que não fosse o mais completo absolutismo, passaram a ser chamados de democráticos.  Os nacionalistas indianos se vangloriam ao falar da tradicional democracia hindu.
Os economistas e os historiadores são indiferentes a este tipo de efusão emocional.  Ao descreverem as civilizações asiáticas como civilizações inferiores, não estão expressando um julgamento de valor.  Meramente consignam o fato de que esses povos não souberam estabelecer as condições ideológicas e institucionais que, no Ocidente, produziram a civilização capitalista, cuja superioridade os asiáticos hoje implicitamente reconhecem ao clamarem pelo menos por seus implementos terapêuticos e tecnológicos e por sua parafernália.  O reconhecimento do fato de que, no passado, a cultura de muitos povos asiáticos era mais avançada do que a dos seus contemporâneos ocidentais implica procurar saber as causas que impediram o progresso no Oriente.  No caso da civilização hindu, a resposta é óbvia: o férreo controle do inflexível sistema de castas tolheu a iniciativa individual e cortou pela raiz qualquer possibilidade de desvio dos padrões tradicionais.  Mas a China e os países muçulmanos, exceção feita à escravidão de um relativamente pequeno número de pessoas, não estavam sujeitos a um regime de castas.  Eram governados por autocratas.  Mas os súditos eram iguais sob o jugo do autocrata. Até mesmo os escravos e os eunucos não eram impedidos de exercer funções elevadas.  É a essa igualdade sob o déspota que as pessoas se referem quando hoje mencionam os supostos costumes democráticos desses povos orientais.
Esses povos e seus governantes estavam comprometidos com uma noção de igualdade econômica que, embora vaga e mal definida, era muito clara em um aspecto: o de condenar peremptoriamente qualquer indivíduo privado que acumulasse uma grande fortuna.
Os governantes consideravam aqueles súditos que fossem ricos como uma ameaça à sua supremacia política. Todas as pessoas, governantes e governados, estavam convencidas de que não era possível acumular muitos recursos sem que isto privasse outras pessoas daquilo que, de direito, lhes pertencia — portanto, o patrimônio dos poucos ricos era a causa da pobreza de muitos.  A situação de comerciantes prósperos em todos os países orientais era extremamente precária.  Ficavam à mercê dos funcionários públicos. Mesmo propinas generosas não conseguiam evitar o confisco de seus bens.  A população regozijava sempre que uma pessoa próspera era vitimada pela inveja e pelo ódio dos governantes.
Essa mentalidade anticrematística obstruiu o progresso da civilização no Oriente e manteve as massas à beira da morte por inanição.  Uma vez que a acumulação de capital estava impedida, não poderia haver progresso tecnológico.  O capitalismo chegou ao Oriente como uma ideologia importada, imposta por exércitos e navios estrangeiros sob a forma ou de domínio colonial ou de jurisdição extraterritorial.  Esses métodos violentos certamente não eram os mais adequados para mudar a mentalidade tradicionalista dos orientais.  Mas o reconhecimento deste fato não invalida a constatação de que foi a aversão à acumulação de capital o que condenou centenas de milhões de asiáticos à pobreza e à fome.
A noção de igualdade que os nossos atuais defensores do estado assistencialista têm em mente é uma réplica da ideia asiática de igualdade.  Embora seja vaga sobre todos os aspectos, é bem nítida ao condenar as grandes fortunas.  Opõe-se às grandes empresas e aos grandes patrimônios.  Preconiza várias medidas para tolher o crescimento de empresas privadas e para impor mais igualdade por meio de taxação confiscatória de rendas e de propriedades.  E apela para a inveja das massas menos avisadas.
As consequências econômicas imediatas das políticas confiscatórias já foram examinadas alhures.  É óbvio que, no longo prazo, tais políticas resultam necessariamente não só numa redução da acumulação de capital, como também no consumo do capital que havia sido previamente acumulado.  Não só impedem a criação de maior prosperidade material como até mesmo revertem essa tendência, dando origem a uma pobreza cada vez maior. Se estes ideais asiáticos triunfassem, o Oriente e o Ocidente acabariam por se igualar no mesmo nível de miséria.
Os defensores do estado provedor não pretendem ser apenas os defensores dos interesses da sociedade geral contra os interesses egoístas das empresas ávidas por lucros; eles também afirmam estarem cuidando dos interesses permanentes e seculares da nação, se opondo aos interesses de curto prazo dos empreendedores e capitalistas, que só se preocupam com o próprio lucro, sem nunca se importar com o futuro da sociedade.  Esta segunda pretensão é evidentemente incompatível com a preferência que tais pessoas dão a políticas de curto prazo em detrimento das considerações de longo prazo.  Mas a consistência lógica não é uma das virtudes dos defensores do estado assistencialista.  Não levemos em conta, portanto, esta contradição em suas proposições e examinêmo-las sem considerar sua inconsistência.
A poupança, a acumulação de capital e o investimento retiram recursos que seriam usados no consumo corrente para empregá-los na melhoria das condições futuras.  O poupador renuncia a um aumento da satisfação imediata a fim de melhorar o seu próprio bem-estar e o de sua família no futuro.  Suas intenções certamente são egoístas no sentido popular do termo.  Mas os efeitos de sua conduta egoísta favorecem os interesses permanentes da sociedade como um todo, bem como os de todos os seus membros.  Seu comportamento produz todos aqueles fenômenos que até mesmo os mais fanáticos defensores do estado assistencialista rotulam de "desenvolvimento econômico" e "progresso social".
Para haver acréscimo de poupança e acumulação de capital, ou mesmo para que o capital atual seja simplesmente preservado, é preciso que haja redução no consumo de hoje a fim de que possa haver maior oferta de bens amanhã. Há necessidade de uma abstinência, de uma renúncia a satisfações que poderiam ser desfrutadas imediatamente.  A economia de mercado cria um contexto no qual essa abstinência é praticada numa certa medida, e no qual o capital acumulado daí decorrente é investido para produzir aquilo que melhor satisfaz as necessidades mais urgentes dos consumidores.
As fábulas de Papai Noel dos defensores do estado provedor se caracterizam pela total incapacidade de compreender o papel representado pelo capital.  Precisamente por isso, não se pode aceitar a designação de "economia do bem-estar" autoatribuída a esta doutrina.  Quem não leva em consideração a escassez de bens de capital disponível não é um economista; é um fabulista.  Não lida com a realidade, mas com um fabuloso mundo de abundância.  Todas as generosidades verbais dos defensores do estado provedor baseiam-se, implicitamente, na pressuposição de que existe uma abundância de bens de capital.  Se fosse assim, certamente seria fácil remediar todos os males, dar a cada um "segundo suas necessidades" e fazer com que todo mundo fosse perfeitamente feliz.
Os defensores do estado provedor costumam afirmar que a motivação dos indivíduos é o egoísmo, ao passo que o governo atua com a intenção de servir a todos. Admitamos, pelo bem do debate, que os indivíduos sejam demoníacos e os governantes angelicais.  Mas o que conta na vida real — apesar da opinião contrária de Kant — não são as boas intenções, mas os resultados.  O que torna possível a evolução da sociedade é precisamente o fato de que a cooperação pacífica sob o signo da divisão do trabalho, a longo prazo, atende melhor aos interesses egoístas de todos os indivíduos.  A superioridade da sociedade de mercado consiste no fato de que o seu funcionamento confirma esse princípio.
Essa realidade, totalmente palpável e comprovada, já é o bastante para refutar o clichê paternalista que procura contrastar, de um lado, o egoísmo dos indivíduos de mentalidade estreita, preocupados exclusivamente com os prazeres do momento e sem nenhuma consideração com o bem-estar dos seus concidadãos e com os interesses permanentes da sociedade, e, do outro, o governo benevolente e clarividente, infatigável na sua dedicação para promover o bem-estar duradouro de toda a sociedade.
Os defensores do estado provedor vêem no governo uma materialização da Divina Providência que, sábia e imperceptivelmente, conduz a humanidade a estágios mais elevados e mais perfeitos de um inexorável processo evolutivo; eles não são capazes de perceber a complexidade do problema e suas ramificações.
O cerne de toda essa questão sobre a acumulação de capital consiste exatamente na forma como o egoísmo produz os seus efeitos.  Em um sistema em que haja desigualdade, o egoísmo impele o homem a poupar e a procurar investir sua poupança de maneira a melhor atender às necessidades mais urgentes dos consumidores. Em um sistema igualitário, essa motivação desaparece.  A redução do consumo em um futuro imediato é uma abstinência facilmente percebida, contrária aos interesses egoístas do indivíduo.  Já a maior disponibilidade futura que se espera obter em decorrência dessa abstinência imediata é menos perceptível ao homem de inteligência média.
O problema de manter o nível de capital existente e de aumentá-lo é insolúvel num sistema socialista no qual não se pode recorrer ao cálculo econômico.  Uma sociedade socialista não dispõe de método para verificar se o capital existente está aumentando ou diminuindo.  Mas, no sistema intervencionista atual, a situação não é tão grave.  Neste caso, ainda é possível compreender o que está ocorrendo.  Se em tal país prevalece um regime democrático, os problemas de preservação e de acumulação de capital adicional tornam-se o tema central dos antagonismos políticos. Não faltarão demagogos a propor que se dedique ao consumo mais do que o partido no poder ou os outros partidos estejam dispostos a aceitar.  Estarão sempre dispostos a afirmar que "na atual emergência" não se pode pensar em acumular capital e que, pelo contrário, justifica-se plenamente o consumo de uma parte do capital já existente.  Os vários partidos competirão entre si nas promessas feitas aos eleitores no sentido de aumentar os gastos públicos e de, ao mesmo tempo, reduzir os impostos que não onerem exclusivamente os ricos.  No tempo do laissez-faire, as pessoas consideravam o governo como uma instituição cujo funcionamento implicava despesas que deveriam ser custeadas pelos impostos arrecadados dos cidadãos.
No orçamento de cada indivíduo, o estado era um item da despesa.  Hoje, a maioria dos cidadãos considera o governo como uma entidade que distribui benefícios.  Os assalariados e os agricultores esperam receber do erário público mais do que contribuem para a sua receita.  Consideram o estado como uma fonte de benefícios e não como um coletor de impostos.
Essas crenças populares foram racionalizadas e elevadas à categoria de uma doutrina quase econômica por Lord Keynes e seus discípulos.  Gastos públicos e déficits orçamentários são apenas sinônimos de consumo de capital.  Se as despesas correntes, por mais benéficas que sejam consideradas, são financiadas ou por meio de impostos — principalmente pelo confisco daquela parte das maiores rendas que teria sido utilizada para investimento —, ou por aumento da dívida pública, o estado se converte no grande consumidor do capital existente.  O fato de que um país ainda apresente um excedente anual de acumulação de capital em relação ao correspondente consumo de capital não invalida a afirmativa de que o conjunto das políticas financeiras do governo federal, dos estados e dos municípios provoca um crescente consumo de capital.
No final, o que determina o curso da política econômica de uma nação são sempre as ideias econômicas aceitas pela opinião pública.  Nenhum governo, seja democrático ou ditatorial, pode libertar-se da influência da ideologia dominante na sociedade. Os que defendem uma limitação das prerrogativas parlamentares em matéria de orçamento e de impostos, ou mesmo a substituição de um governo representativo por um governo autoritário, estão iludidos pela imagem quimérica de um perfeito chefe de estado.
Esse homem, tão benevolente quanto sábio, se dedicaria sinceramente à promoção do bem-estar duradouro de seus súditos.  Na realidade, entretanto, esse caudilho seria um homem mortal como todos os outros, e estaria, acima de tudo, preocupado com a perpetuação de seu poder e o de sua família, de seus amigos e do seu partido.  Quando necessário, recorrerá a medidas impopulares apenas para atender a esses objetivos.  Não investe nem acumula capital; apenas constrói fortalezas e equipa exércitos.
Os tão famosos planos das ditaduras soviética e nazista consistiam em restringir o consumo corrente em favor dos "investimentos". Os nazistas nunca ocultaram que todos esses investimentos eram uma preparação para a guerra de agressão que pretendiam deflagrar.  Os soviéticos foram, de início, mais discretos; mais tarde, proclamaram orgulhosamente que todo o seu planejamento estava dominado por considerações de poderio militar.  A história não registra nenhum caso de acumulação de capital economicamente produtivo que tenha sido realizado pelo governo.  O capital investido na construção de estradas, ferrovias e outras obras públicas úteis foi sempre obtido pela poupança individual dos cidadãos ou por empréstimo.
Mas a maior parte dos fundos arrecadados através da dívida pública foi gasta em despesas correntes.  O que os indivíduos haviam poupado foi dissipado pelo governo.  Mesmo aqueles que consideram a desigualdade de renda e de riqueza uma coisa deplorável não podem negar que ela favorece a acumulação de novos capitais.  E é somente o capital adicional que pode produzir progresso tecnológico, aumento de salários e um melhor padrão de vida.


[1] Mir — comunidade rural. A terra era de propriedade comum dos lavradores, a cada um dos quais era atribuído um lote. O sistema não conseguiu sustentar a população crescente e foi abolido em 1906.
[2] Artel — mutirão.
[3] Zadruga — comunidade rural de quinze a setenta adultos e suas crianças, que viviam como uma grande família. A casa central do chefe da família possuía uma cozinha e um refeitório que atendia a todos. A propriedade não podia ser vendida.

Ludwig von Mises  foi o reconhecido líder da Escola Austríaca de pensamento econômico, um prodigioso originador na teoria econômica e um autor prolífico.  Os escritos e palestras de Mises abarcavam teoria econômica, história, epistemologia, governo e filosofia política.  Suas contribuições à teoria econômica incluem elucidações importantes sobre a teoria quantitativa de moeda, a teoria dos ciclos econômicos, a integração da teoria monetária à teoria econômica geral, e uma demonstração de que o socialismo necessariamente é insustentável, pois é incapaz de resolver o problema do cálculo econômico.  Mises foi o primeiro estudioso a reconhecer que a economia faz parte de uma ciência maior dentro da ação humana, uma ciência que Mises chamou de "praxeologia".

Na política monetária dos EUA, as relações de causa e efeito deixaram de ser previsíveis


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central_banks_monetary_policy.jpgA política monetária que vem sendo implantada pelo Banco Central americano desde o final de 2008 logrou a façanha de inverter completamente as possíveis relações de causa e efeito.  Antes de 2008, quando o Fed expandia a base monetária, era possível prever que haveria um aumento nos preços.  E quanto ele contraía a base monetária — ou, mais corretamente, quando ele reduzia o ritmo de crescimento da base monetária —, era possível prever que haveria uma diminuição da inflação de preços.  E ambas as relações de causa e efeito de fato ocorriam.
No arranjo atual, no entanto, não mais é possível prever essa relação.
Comecemos pelo fato de que o Federal Reserve começou a expandir acentuadamente a base monetária no final de 2008.  Desde aquela data, que já está completando cinco anos, o Fed mais do que quadruplicou a base monetária.  Isso nunca havia acontecido até então.
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Gráfico 1: evolução da base monetária
No entanto, os preços praticamente não se mexeram desde 2008.
Não há nenhuma dúvida de que, durante 5 anos, houve a mais acentuada expansão da base monetária na história dos EUA, e, não obstante, os preços mal se mexeram.  Antes de 2008, sempre se imaginou que, se o Federal Reserve quadruplicasse a base monetária em um período de 5 anos, isso geraria uma hiperinflação.  Mas não gerou.  E por que não?
A explicação é que os bancos, pelo menos até o momento, vêm se recusando a emprestar todo este dinheiro criado pelo Fed.  Eles estão se recusando a emprestar um dinheiro que eles legalmente podem emprestar.  Considerando-se toda a expansão da base monetária, e o fato de que o compulsório não foi alterado, os bancos não emprestaram praticamente nada do dinheiro que o Fed lhes deu.
O gráfico abaixo mostra a evolução da carteira de crédito do sistema bancário.  Note que, após algumas oscilações, o nível está praticamente igual ao de 2008.
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Gráfico 2: evolução dos empréstimos bancários
O explosivo aumento da base monetária não se transformou em empréstimos bancários porque a quase totalidade deste aumento transformou-se em "reservas em excesso".  "Reservas em excesso" são as reservas que os bancos mantêm voluntariamente depositadas junto ao Fed, além do volume determinado pelo compulsório.  Os bancos não emprestaram todo o dinheiro que o Fed lhes deu porque eles aumentaram suas "reservas em excesso" em mais de US$2 trilhões.  Os bancos, em vez de emprestar, preferem manter este dinheiro voluntariamente depositado junto ao Fed, que está pagando juros de 0,25% ao ano sobre este montante.
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Gráfico 3: evolução das reservas em excesso
Tal postura não foi prevista por ninguém antes de 2008.
Como os bancos não se mostraram propensos a emprestar este dinheiro durante os últimos 5 anos, o processo de expansão da oferta monetária por meio do sistema bancário de reservas fracionárias simplesmente não ocorreu.  A base monetária explodiu, mas a concessão de empréstimos pelo sistema bancário — que é o que realmente gera um aumento da quantidade de dinheiro na economia — não aumentou.
Perspectivas
Para mostrar como isso alterou radicalmente as relações de causa e efeito da política monetária americana, vejamos o que aconteceria caso o Fed finalmente parasse de criar dinheiro.  Suponha que ele decida estabilizar a base monetária, parando de comprar títulos da dívida do governo americano.  Ou seja, o Fed não mais aumentaria a base monetária; ele não mais compraria nenhum título da dívida pública que está em posse do sistema bancário.  O que ocorreria?  Vejamos.
O governo federal americano está incorrendo em um déficit orçamentário de US$750 bilhões ao ano.  Ele vende estes títulos para o sistema bancário, que os revende para o Fed.  Atualmente, metade dos títulos emitidos pelo Tesouro americano durante o ano é comprado pelo Fed (o Fed compra estes títulos dos bancos).  Logo, é factível imaginar que, caso o Fed parasse de comprar esses títulos, reduzindo totalmente a liquidez deste mercado, a reação imediata seria um forte aumento nas taxas de juros de longo prazo.  Com o Fed fora de cena, pelo menos metade das compras de títulos deixaria de ser feita pelos bancos caso as taxas de juros se mantivessem inalteradas.
Agora, aprofundemos um pouco mais.  Suponhamos que o Fed resolva reverter todo aquele aumento da base monetária.  Ou seja, ele começa a contrair a base monetária (que é o que Bernanke sempre disse que faria).  Para contrair a base monetária, o Fed tem de vender títulos da dívida pública que estão em sua posse.  Tal postura necessitará de uma enorme quantidade de compradores para estes títulos.  Mas há um agravante: não apenas teria de haver compradores para estes títulos que o Fed passou a vender, como também teria de haver compradores para aqueles US$750 bilhões em títulos que o Tesouro também está vendendo para financiar seu déficit.  Ou seja, os investidores agora teriam de ser persuadidos a emprestar volumosas quantias de dinheiro para o governo federal, principalmente a longo prazo.  Eles teriam de ser convencidos de que isso é uma ótima ideia.
Há apenas uma maneira de o governo federal americano persuadir os investidores a comprar títulos sob estas condições: pagar taxas de juros mais altas.  Se isso ocorrer — isto é, se os juros dos títulos públicos vendidos pelo Tesouro aumentarem —, os bancos ficarão em boa situação.  De um lado, eles agora poderão pagar juros de 1% ao ano para seus correntistas (atualmente, os juros não chegam a 0,25% ao ano); de outro, eles poderão emprestar para o governo federal a juros de 6% ao ano, ou mais.  Ou seja, os bancos terão um enorme benefício.  Eles passarão a ganhar um bom dinheiro com esse spread, algo que não ocorre atualmente.
Ato contínuo, os bancos começarão a reduzir suas "reservas em excesso" depositadas junto ao Fed.  Aqueles valores do gráfico 3 começarão a desabar.  Os bancos emprestarão esse dinheiro para o governo americano, que então irá gastá-lo, fazendo com que o dinheiro entre no sistema bancário de reservas fracionárias e seja multiplicado.  Assim, ao contrário de tudo o que ocorreu desde 2008, os bancos começariam a emprestar.
Nesse ínterim, o Fed, com o intuito de reduzir a base monetária, poderia vender US$1 trilhão de títulos do Tesouro em sua posse, desta forma contraindo a base monetária de US$3,6 para US$2,6 trilhões.  Isso representaria uma substancial deflação da base monetária, mas não teria nenhum efeito anti-inflacionário; os preços poderiam facilmente chegar a um valor anualizado de 100% em um curto espaço de tempo.  Por quê?  Por causa de toda a inflação monetária que estaria ocorrendo.  Os bancos, em busca de uma alta taxa de retorno paga pelo governo americano — que é considerado um tomador de empréstimo de baixíssimo risco —, retirariam dinheiro das reservas em excesso e emprestariam para o governo federal.  E eu posso garantir que o governo americano gastará cada centavo que lhe derem.  Não haverá parcimônia.
Logo, a quantidade de dinheiro na economia americana iria disparar.  Finalmente, aquilo que muitos imaginaram que aconteceria em 2009, de fato estaria acontecendo agora.  Quanto mais dinheiro for retirado das reservas em excesso para ser emprestado ao governo federal a taxas de juros mais altas, maior será a quantidade de dinheiro que será multiplicada pelo sistema bancário de reservas fracionárias.  Isso levaria a um aumento sem precedentes na inflação de preços nos EUA.
Portanto, uma política monetária que normalmente seria rotulada de deflacionária iria, na realidade, gerar uma incomparável inflação de preços nos EUA.
Conclusão
No que tange à política monetária, os EUA estão vivendo em um mundo que está de cabeça para baixo.  Trata-se de um mundo em que uma gigantesca expansão da base monetária levou a uma inflação de preços quase nula, e que uma maciça contração na base monetária pode facilmente levar a uma robusta inflação de preços, e talvez a uma hiperinflação.
É por isso que é extremamente difícil prever qual será o resultado de qualquer nova política monetária que venha a ser adotada pelo Fed.  É por isso que o Fed não sabe o que fazer.  A questão principal é que as pessoas agora têm de se acostumar com o fato de que as explicações tradicionais não mais se aplicam à política monetária americana.  Os EUA estão em uma espécie de dimensão paralela.  As trilionárias reservas em excesso mantidas pelos bancos distorceram e corromperam o sistema monetário a tal ponto que as relações de causa e efeito não mais são previsíveis.

Gary North , ex-membro adjunto do Mises Institute, é o autor de vários livros sobre economia, ética e história. Visite seuwebsite

O estado atrai sociopatas



Sociopata.jpgNo estudo de sistemas complexos e dinâmicos — a chamada 'ciência do caos' —, "atratores" são princípios operacionais ao redor dos quais a turbulência e o caos aparente são harmonizados.  Aquilo que as nossas simples experiências passadas descarta como sendo aleatoriedade e desordem, o estudo do caos e da complexidade revela como sendo padrões profundos de regularidade. 
Atratores ajudam a identificar a dinâmica por meio da qual sistemas complexos se organizam autonomamente.  Assim sendo, pode-se dizer que uma falha geológica serve como um atrator para forças geológicas em placas tectônicas, assim como redes de drenagem são atratores para um curso d'água exercer contínuas relações com as forças da gravidade.  Em um nível social, um leilão de bens antigos pode ser visto como um atrator para colecionadores de antiguidades; aterros sanitários, como atratores para coisas abandonadas; e hospitais, como atratores para doenças.  Na economia de mercado, o sistema de preços é um atrator para compradores e vendedores que querem transacionar suas propriedades.
O estudo do caos nos ajuda a entender por que todos os sistemas políticos produzem rupturas e são divisivos e destruidores do processo social.  Por meio desta nova ciência, estamos descobrindo — ao contrário das arrogantes suposições de Platão — que sistemas complexos produzem comportamentos que são, ao mesmo tempo, determinados e imprevisíveis. Se deixado à mercê das forças que operam sobre ele, um sistema complexo irá espontaneamente gerar consequências implícitas — embora imprevisíveis — dentro dele.
Mas sabemos que muitas pessoas não gostam de um mundo que seja imprevisível e indiferente aos seus interesses particulares.  É por isso que um empreendedor poderoso que seja incapaz de disputar clientes com seus concorrentes em um livre mercado irá fazer de tudo para perturbar essa ordem, uma vez ela não atende aos seus caprichos.  Ele pode começar tentando fazer acordos voluntários com seus concorrentes com o intuito de reduzir o ritmo no qual eles buscam seus respectivos interesses.  Porém, como essa estratégia raramente dá certo e rapidamente gera insatisfação nos membros desta indústria, esse empreendedor e vários de seus concorrentes irão recorrer ao estado para conseguir, por meio da força, resultados que eles não tiveram a competência de alcançar no livre mercado.
O estado é quase que universalmente definido como um sistema que usufrui um monopólio legal do uso da violência e das decisões jurídicas supremas dentro de um dado território.  Não obstante todo o circo montado pela mídia, todo o condicionamento mental e doutrinário feito pelo sistema de ensino controlado pelo governo, e todas as demais propagandas institucionais criadas para pintar o sistema político como algo nobre e moralmente dedicado a servir ao bem-estar geral, o fato é que o estado é capaz de fazer apenas uma coisa:compelir as pessoas — por meio da violência e da ameaça de violência — a fazer aquilo que elas voluntariamente optariam por não fazer, ou a se abster de fazer aquilo que elas gostariam de fazer
Se o estado for definido desta maneira realista e verdadeira — isto é, uma instituição que usufrui o monopólio do uso da violência e da tomada suprema de decisões jurídicas —, então qual é exatamente o caráter das pessoas que se sentem atraídas a integrar o estado e a fazer uso de suas ferramentas e práticas violentas?  Que tipo de indivíduo se sente atraído por carreiras que lhe dão o poder arbitrário de obrigar terceiros a obedecer suas ordens, um trabalho cuja premissa está no imperativo da obediência? 
No que diz respeito aos graus de conduta anti-social, há uma linha tênue que separa o comportamento sociopata do comportamento psicopata.  Um funcionário dos Correios ou um recepcionista de uma agência do DETRAN pode perfeitamente não exibir nenhum destes traços.  Mas e quanto aos funcionários públicos cujas atribuições são impingir algum decreto ou alguma regulamentação arbitrária do estado?  O indivíduo que está preparado para iniciar um ato de punição com o intuito de impingir obediência a um decreto ou regulamentação do governo não se distingue daquele policial valentão que integra uma equipe de força-tarefa que invade residências, confisca bens e tortura pessoas.  A mentalidade é a mesma.  O fato de que um utiliza a caneta ao passo que o outro recorre à força física representa apenas uma diferenciação de métodos. A mentalidade autoritária que os estimula é a mesma.  É o apetite pelo poder supremo sobre terceiros o que impulsiona tais pessoas. 
Se fossemos julgar as motivações destas pessoas tomando por base apenas as promessas que elas fazem, chegaríamos à conclusão de que elas desejam apenas promover o bem-estar de nossa sociedade ou até mesmo de toda a humanidade.  Querem também acabar com as injustiças e promover os direitos e interesses dos pobres e oprimidos.  Proteger as crianças.  Gerar prosperidade econômica.  Ou promover outros fins nobres que sirvam ao interesse público.  Nossa propensão em aceitar que tais objetivos benevolentes são a explicação para o fato de que alguns poucos querem ter poder coercivo sobre todo o resto é um reflexo de nossa tola credulidade.
É por isso que todo o sistema se sustenta apenas com mentiras.  Enquanto as mentiras forem propagadas e reforçadas por pessoas que são respeitadas pelo público em geral — e tais vozes respeitadas são encontradas nos corredores das instituições dominantes, na academia e na mídia —, qualquer incompatibilidade com a verdade raramente é questionada. 
Aqueles que querem ter poder coercivo sobre a sociedade têm de convencer seus almejados súditos a fazerem aquilo que nenhum indivíduo racional jamais pensaria em fazer: subordinar a busca de seus interesses próprios aos interesses da agenda política de terceiros.  Para sobrepujar a insanidade que é fazer com que os propósitos de um indivíduo — na realidade, a própria vida deste indivíduo — sejam inferiores aos interesses próprios dos elitistas que estão no controle do governo, instituições foram dotadas de plenos poderes para condicionar as mentes dos indivíduos a aceitar as virtudes da obediência e do auto-sacrifício.  Aqueles que porventura resistirem a esta campanha são imediatamente rotulados de "egoístas", "insensíveis" e "reacionários", palavras que, para esta elite estatal, têm um único significado: "indivíduos que colocam seus interesses mesquinhos acima dos meus."
No entanto, é inevitável que ao menos algum súdito mais observador possa inadvertidamente se deparar com a incongruência entre a mentira e a implacável aspereza do mundo real.  Porém, os efeitos de tal eventualidade podem ser facilmente isolados pelos membros filosóficos da classe dominante, cuja destreza na arte do ludibrio fará com que suas explicações sejam mais palatáveis para aqueles que descobriram a contradição.
Muito mais problemáticas para a classe dominante são aquelas pessoas que não apenas descobrem a verdade por trás das falsidades, como também a revelam para terceiros.  As mentiras, os exageros, as controvérsias meticulosamente criadas, e todas as outras distorções e adulterações da realidade são facilmente entendidas pelas mentes mais inteligentes e observadoras como sendo essenciais para os interesses do estado e de seus membros.  Se as instituições governamentais devem representar um fim em si mesmas, então todos os indivíduos devem subordinar seus propósitos aos propósitos da ordem estatal estabelecida.  Porém, dado que o mundo real funciona de acordo com práticas descentralizadas, a ideia de que instituições devem ter uma importânciacentralizada e proeminente sobre o comportamento humano é uma ficção que só pode ser mantida com fortes distorções da verdade.  Aqueles que dizem "Eu nunca acredito em nada que o governo diz", ou "nunca aceite nada como sendo verdadeiro até que seja oficialmente negado pelo governo", ajudam a despertar seus vizinhos para a natureza fundamentalmente desonesta de todos os sistemas políticos.
Randolph Bourne dizia que a guerra é o alimento do estado.  Exatamente por isso, aqueles que são atraídos para o estado querem, no fundo, exercer violência sobre indivíduos inocentes e produtivos, sempre em benefício próprio, mas espertamente utilizando termos insípidos como "bem-estar", "desfavorecidos", "prosperidade", "justiça social" e "equilíbrio" como o real motivo de suas agressões.
Assim como seria inconcebível imaginar Madre Teresa operando um bordel, também é inconcebível imaginar genuínos defensores da paz, da liberdade e da não-iniciação de violência contra inocentes procurando o poder estatal.  Mesmo aqueles indivíduos bem intencionados que genuinamente querem minimizar o poder do estado se infiltrando nele estão cometendo um erro tático: não se pode querer enfrentar, desde dentro, uma máquina construída justamente para atrair sociopatas e psicopatas.  É impossível querem reduzir, desde dentro, algo que foi construído especificamente para utilizar níveis crescentes de violência contra concidadãos inocentes e produtivos. 
No final, as palavras de H.L. Mencken resumem tudo: "A ânsia em salvar a humanidade é quase sempre uma máscara para disfarçar a ânsia em governá-la".

Hans F. Sennholz  (1922-2007) foi o primeiro aluno Ph.D de Mises nos Estados Unidos.  Ele lecionou economia no Grove City College, de 1956 a 1992, tendo sido contratado assim que chegou.  Após ter se aposentado, tornou-se presidente da Foundation for Economic Education, 1992-1997.  Foi um scholar adjunto do Mises Institute e, em outubro de 2004, ganhou prêmio Gary G. Schlarbaum por sua defesa vitalícia da liberdade.

Tradução de Leandro Roque

Idealismo e poder geraram tirania



000especial4.jpgO segundo milênio terminou com um século abominável.  Os três homens mais frequentemente citados como "Pessoa do Século" — Franklin Roosevelt, Winston Churchill e Albert Einstein — foram defensores, aliados e admiradores de um dos homens mais sanguinários do milênio: Joseph Stalin.  É como se os três homens mais ilustres da Idade Média tivessem sido amigos de Genghis Khan.  
Até mesmo a frase "Pessoa do Século" é uma relíquia do arcaico pensamento feminista do século XX.  O mais influente indivíduo de qualquer século provavelmente será um homem, porém já no final do século XX era uma quebra de etiqueta — um código de maneiras ideológico — reconhecer tal fato. 
O século XX foi marcado pela presunçosa crença de sua superioridade sobre todas as épocas anteriores.  Decidiu-se que os tradicionais costumes e padrões de ética da humanidade deveriam ser alterados — como se isso sequer fosse possível.  Consequentemente, o estado passou a ser o instrumento para a "construção de uma nova sociedade" por meio da força, da propaganda e da dependência econômica.  Tirania se tornou "libertação"; degeneração se tornou "progresso"; assistencialismo se tornou "riqueza"; imoralidade se tornou "governança".
Os "direitos civis", cujo significado é o aumento do poder do estado em ditar normas de associação entre indivíduos, não produziram nem liberdade nem igualdade racial, mas apenas mais tirania e ressentimento.  Longe de gerar uma sociedade "sem preconceitos", o que temos hoje é uma sociedade obcecada com raças e preferências sexuais, uma sociedade obcecada com "subclasses", direitos e privilégios.
O estado assistencialista, que prometeu tirar as pessoas da pobreza, logrou apenas habituá-las à pobreza, ao mesmo tempo em que eleva o fardo sobre a população geral.  "Ações afirmativas" mostraram apenas que, quando você promete justiça para todos, tudo o que consegue é fazer com que todos se sintam discriminados.  Diferenças raciais, sejam elas inerentes ou culturais, comprovaram-se teimosamente irremovíveis.  No entanto, a ideologia progressista nos ensinou que os resultados dessas diferenças decorrem apenas do "racismo" e devem ser remediados dando-se ao estado ainda mais poder para regular as relações voluntárias entre indivíduos e a propriedade privada.
A nova missão do estado é cortar todas aquelas raízes do passado que podem fazer com que seus súditos resistam a ser assimilados a essa Nova Sociedade.  Aqueles que resistem e conseguem manter suas raízes são acusados de reacionários, racistas, supersticiosos, anti-patriotas e odientos.  O estado clama ser "científico".  Ele age em nome do "oprimido", "do povo", "do proletariado", "das massas", "das minorias", "das mulheres" e até mesmo dos depravados (que são meras "vítimas" do código moral tradicional).
Pecados antigos como fornicação, sodomia e aborto se tornaram novos "direitos".  Ao mesmo tempo, direitos tradicionais como propriedade privada e liberdade de associação e de contrato foram severamente restringidos.  Por meio do estado, com seu ilimitado poder de tributação, algumas pessoas passaram a poder viver à custa da energia produtiva dos outros.  Isso passou a ser chamado de "justiça social".  O estado se tornou obcecado em preservar o meio ambiente ao mesmo tempo em que segue destruindo o ambiente cultural, moral e espiritual herdado da cultura ocidental.
Artistas, intelectuais e filósofos se tornaram entusiastas da Nova Sociedade, hostis à "burguesia" e à "classe média" — como são desdenhosamente chamados os remanescentes da sociedade tradicional.  Obscenidade e obscuridade, desarmonia e feiura se tornaram a característica distintiva da arte.  A arte popular, ainda pautada pelo mercado, descobriu que a obscenidade é mais lucrativa que a obscuridade — mas raramente desafia as premissas da Nova Sociedade.
A educação, controlada pelo estado, se tornou um mero instrumento de propaganda — chamado de "conscientização do cidadão" —, concebido para tornar as crianças meras unidades obedientes à Nova Sociedade.  A ideia da "evolução" foi adaptada para ensinar às crianças que a Nova Sociedade era o inevitável destino da história humana.  O "intelectual" das massas (o oposto do erudito tradicional e independente) se tornou um novo tipo social, dedicado a difundir as fantasias da Nova Sociedade, as quais são chamadas de "ideais".
A natureza intrinsecamente violenta do governo
De todos os dizeres apócrifos atribuídos aos Pais Fundadores dos EUA, meu favorito é um atribuído a George Washington: "O governo não é razão.  O governo não é persuasão.  O governo é força bruta."  Se ele nunca disse isso, deveria ter dito.
Qualquer um que acredite em uma ordem moral deveria ponderar essas quinze palavras.  O governo de fato é força bruta, uma força que reivindica justificação, e seu exercício ao menos requer alguma séria racionalidade.
Essa é uma verdade da qual as pessoas se esqueceram totalmente.  Frequentemente travo discussões com um velho amigo meu — que, embora progressista, é um homem muito decente e modesto demais para impor suas vontades sobre qualquer ser humano —, que implicitamente assume que o governo tem a autoridade de decretar legislações de "direitos civis" e restringir a liberdade de associação e os direitos de propriedade.
Esse meu amigo não é nenhum bobo.  Ele é inteligente e eloquente, e eu sempre aprendo algo com ele nessas nossas intermináveis discussões.  Porém, um pensamento — uma verdade autoevidente que eu esperava ocorrer a qualquer pessoa racional — aparentemente nunca passou pela sua cabeça: o governo é força bruta.  Assim como muitas pessoas, ele assume, sem qualquer reflexão, que se alguma suposta condição social parece ser desejável, então o governo deveria tentar promovê-la.  Ele admite algumas dificuldades práticas nesse processo, mas, para ele, o governo incorpora todas as aspirações e desejos que as pessoas sensatas têm em comum e que somente pessoas insensatas poderiam rejeitar.
É por isso que estremeço ao ouvir a palavra "idealista".  Ideais são fantasias, a maioria das quais jamais pode ser estabelecida.  Se o governo tentar materializá-las, poderá fazê-lo apenas aplicando a força e restringindo a liberdade.  E muitas pessoas veem esse empreendimento como algo nobre, mesmo que ele fracasse; o custo da liberdade raramente entra em seus cálculos.
Na famosa observação do filósofo inglês Michael Oakeshott, para algumas pessoas o governo é "um vasto reservatório de poder" que as inspira a sonhar com os usos que podem ser feitos dele, normalmente a serviço daquilo que elas consideram ser propósitos benignos, para o bem da "humanidade".  Entretanto, tais pessoas tipicamente esquivam-se do elemento 'poder', o qual, afinal, não é apenas uma mera propriedade do governo, mas sim a sua genuína essência.  A acepção que elas têm do poder, assim como a do meu amigo, é bastante mística, como se os reais feitos do governo não fossem nada mais do que a manifestação de um (na frase dele) "consenso emergente".  Porém, se os objetivos desejados fossem uma questão de consenso, então por que eles deveriam ser implementados à força, por decreto, ou mesmo pela guerra?
Não são somente os progressistas que pensam assim.  Alguns conservadores também, como quando eles alardeiam que o governo deve fazer cumprir aquilo que eles chamam de "valores".  Eu geralmente prefiro "valores" conservadores a "ideais" progressistas, uma vez que eles estão mais próximos daquilo em que realmente creio: as comprovadas normas da natureza humana.  Uma sociedade com direitos de propriedade, por exemplo, é normal; nós sabemos que ela pode existir.  Uma sociedade na qual a riqueza é igualmente distribuída pelo estado é meramente uma fantasia; ela nunca poderá existir, e a tentativa de criá-la vai acarretar violência sem propósito.
Como disse o poeta católico francês Charles Peguy no início do século XX: "Jamais saberemos quantos atos de covardia foram motivados pelo simples medo de parecer não suficientemente progressista."
Meu amigo odeia violência.  Mas ele é incapaz de perceber — e não há nada que eu diga que o faça perceber — que, quando ele clama por algo do governo, ele está na verdade clamando pela força, que nada mais é que a violência ou a ameaça de violência.  Seus ideais dependem de um mal e da obediência baseada no temor degradante desse mal.  Idealismo?  Eu chamaria isso de escravidão.
"Eu tenho um sonho", proclamou Martin Luther King Jr., cujo "sonho" foi inspirado em sua leitura de Marx e de outros profetas progressistas.  Assim como inúmeros visionários, King ficou alheio à advertência de Oakeshott: "A combinação entre poder e sonho gera tirania." 
Essa frase pode servir de epitáfio para o nosso atual século, em que a liberdade deixou de ser um direito nato e passou a significar "qualquer coisa que você porventura ainda tenha permissão para fazer".
A humanidade ainda vai levar tempo para se recuperar dos tempos atuais.