sábado, 7 de setembro de 2013

Manifestantes invadem desfile militar no Rio e são dispersados com gás


Os manifestantes, alguns mascarados, invadiram a Avenida Presidente Vargas, onde é realizado o desfile no centro do Rio, gritando slogans e confrontando a polícia, que já realizou várias prisões



Cinco pessoas ficaram feridas e foram levadas para o hospital, de acordo com (Ricardo Moraes/Reuters)
Cinco pessoas ficaram feridas e foram levadas para o hospital, de acordo com
Rio de Janeiro - Dezenas de manifestantes invadiram neste sábado (07/09) o desfile militar pelo dia da Independência brasileira no Rio de Janeiro e foram dispersados com gás lacrimogêneo em mais um dia de convocação de protestos em todo o país, constatou a AFP. Cinco pessoas ficaram feridas e foram levadas para o hospital. Dez manifestantes foram detidos, segundo a polícia civil.

Os manifestantes, alguns mascarados, invadiram a Avenida Presidente Vargas, onde é realizado o desfile no centro do Rio, gritando slogans e confrontando a polícia, que já realizou várias prisões. As forças de segurança dispararam gases lacrimogêneos diante dos espectadores do desfile, muitos deles famílias com crianças, que correram para se proteger.

Uma agência bancária próxima ao local do desfile foi destruída pelos manifestantes. Nem o prefeito do Rio, Eduardo Paes, nem o governador do Estado, Sérgio Cabral, assistiam ao desfile, cuja duração e número de participantes foi reduzido devido aos protestos previstos.

Vários grupos convocaram manifestações de ruas através das redes sociais em cerca de 150 cidades do país, na esperança de reviver a força das revoltas sociais ocorridas em junho, quando mais de um milhão de pessoas se manifestaram em plena Copa das Confederações contra a corrupção e por melhores serviços públicos.

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Em Brasília, onde a presidente Dilma Rousseff assistiu ao tradicional desfile militar, a segurança foi reforçada. Centenas de manifestantes começavam a marchar na direção do Congresso, exigindo que os políticos corruptos vão para a cadeia. "Queremos melhorias na educação, reforma política e democratização da mídia, os protestos de junho serviram para pressionar o Congresso a aprovar medidas, temos que manter isso vivo", afirmou à AFP Philip Leite, do movimento estudantil Kizamba.

Está previsto que as manifestações durem todo o dia. Em Brasília, também coincidem com uma partida amistosa da seleção brasileira contra a Austrália, no estado Mané Garrincha. Quase 4 mil policiais protegem a capital federal, onde a polícia advertiu que os manifestantes mascarados serão identificados e detidos, uma medida que já começou a entrar em vigor no Rio para impedir atos de vandalismo contra bancos, comércio e bens públicos.

A presidente Dilma disse na véspera, durante a transmissão de um pronunciamento à nação, que "a população tem todo o direito de indignar-se com o que está errado e exigir mudanças", mas pediu para que não deixem que "uma camada de pessimismo cubra tudo e ofusque o mais importante: o Brasil avançou como nunca nos últimos anos".

Em São Paulo, uma manifestação convocada com o lema "Grito dos Excluídos" bloqueava o trânsito em parte da Avenida Paulista, segundo a Companhia de Engenharia de Tráfego (CET). Em Recife, os manifestantes começavam a se concentrar usando traje de praia, com a ideia de fazer um protestos em bicicleta, segundo o site G1. A princípio, o objetivo era fazer o protestos com todos nus, mas a polícia alertou que haveria prisões caso isso acontecesse.

Chocolate branco é ou não é chocolate?

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Cada receita de chocolate tem suas particularidades. Mesmo os chocolates mais legítimos, exóticos e quase sempre e importados, tem um toque único.
Finos ou não, todos tem em comum um mesmo ingrediente: o cacau.
Mas, quando o assunto é chocolate branco, a história é bem diferente. O chocolate mais clarinho, que conquistou tanta gente, e é excelente para o uso culinário, tem muito mais açúcar que o chocolate comum e não leva o cacau, como a receita do chocolate ‘preto’.
Mas, se o cacau é o ingrediente base do chocolate, o chocolate branco pode ser considerado chocolate, ou apenas um doce?
  • Entenda
Na receita do chocolate branco não há pasta extraída do cacau. Somente a gordura extraída do  fruto quando o cacau é prensado.
Desta forma, utilizando apenas uma espécie de ‘manteiga’ do cacau, o chocolate branco existe ou é uma ilusão?
Para o chef pâtissier e chocolatier Diego Lozano , o chocolate branco não é chocolate. Calma, ele explica. “Chocolate sem cacau é que nem goiabada de banana, (é uma) fantasia. Não que seja ruim mas não é chocolate, é outro doce”, concluiu o chef.
Fonte: IG

Armas, drogas, distintivos e cartéis


por  

carteis.jpg"Será que existe alguém que realmente acredita que indivíduos que estão preparados para desobedecer às leis contra o homicídio irão obedecer às leis de desarmamento?" — Thomas Sowell
Sempre observo com grande interesse todos os debates sobre desarmamento e controle de armas, e venho fazendo isso há praticamente 50 anos.  Já ouvi os oponentes do desarmamento invocarem este argumento de Sowell.  Não me lembro de ter ouvido nenhuma resposta a ele.  Nenhum desarmamentista jamais forneceu uma resposta.  Eles simplesmente ignoram o desafio.  Eles fingem que ninguém fez uma pergunta.
Curiosamente, eleitores contrários ao desarmamento seguem votando em políticos desarmamentistas, políticos que não respondem ao desafio de Sowell.  Os eleitores nem sequer questionam essa postura fugidia dos políticos.  É verdade que, no geral, os eleitores defendem algum tipo de controle de armas.  A maioria não defende o desarmamento completo, mas eles defendem severas restrições à venda de armas e aos modelos que podem ser comercializados.  E, com isso, políticos desarmamentistas seguem sendo reeleitos, e sem jamais serem questionados acerca de sua postura racionalmente contraditória.
A lei do desarmamento é tão eficaz quanto as leis anti-drogas: ninguém realmente espera que leis anti-drogas irão eliminar o uso de drogas ilegais.  Porém, como os eleitores não querem admitir que a intervenção estatal no mercado de drogas é uma ilusão mais delirante do que a provocada pelo LSD, o ataque estatal a este mercado segue impávido, com a mesma eficiência de um gelo sendo enxugado.  E o mesmo raciocínio é válido para o desarmamento. 
Os eleitores não querem admitir que a intervenção estatal em ambos estes mercados só faz destruir ainda mais a liberdade dos indivíduos, a qual é diariamente sacrificada em nome do aumento do poder e do controle do estado.  A crença é a de que o estado é paradoxalmente capaz de deter o poder de controlar atividades que, em privado, as pessoas aceitam, mas que, em público, são obrigadas a condenar.
Sendo assim, reformulo a pergunta de Sowell:
Será que existe alguém que realmente acredita que indivíduos que estão preparados para desobedecer às leis contra o consumo de maconha irão obedecer às leis que as proíbem de utilizar um papel para enrolarem por conta própria um baseado?
Defensores das leis anti-drogas — pessoas que normalmente são contra o desarmamento — respondem a esta pergunta da mesma maneira que os defensores do desarmamento respondem à pergunta de Sowell.
Resultados: mais leis, mais intrusão estatal, mais gastos governamentais, orçamentos mais polpudos para os burocratas, menos liberdade, e mais discussões vápidas.
No final, tudo se reduz a isso: traficantes de drogas não irão obedecer às leis que supostamente restringem o uso de armas.
Se você quiser que traficantes de drogas parem de comprar armas, então é melhor você acabar com os traficantes, defendendo a descriminação das drogas.  Porém, os progressistas querem criminalizar as armas e os conservadores querem criminalizar as drogas.
E, se você pensa que este argumento não faz sentido, então não espere que os progressistas respondam ao argumento de que "indivíduos que estão preparados para desobedecer às leis contra o homicídio não irão obedecer às leis de desarmamento".
Você por acaso já parou para pensar na cronologia das leis anti-drogas?  Ela se assemelha à criação de licenças para médicos, uma regulamentação que criou um cartel extremamente rentável.  O cartel dos médicos é justificado com este argumento: "Não queremos que o público em geral saia comprando remédios (que são drogas).  Portanto, é necessário que o estado imponha leis e regulamentações para que apenas médicos diplomados possam prescrever receitas".
Tudo se resume a cartéis.  Se você quer criar um cartel extremamente rentável, é fácil.  Eleja um político influente, faça lobby, consiga que o estado torne ilegal um bem ou serviço que a maioria das pessoas quer, e então estipule que apenas um determinado grupo de especialistas tenha a licença para vender este bem ou serviço.  Pronto. 
O problema é que tal medida levará à criação de um cartel paralelo, não-autorizado e ilegal, o qual também venderá o bem ou serviço em questão.  E isso gerará um inevitável conflito: o primeiro cartel, ávido para defender sua reserva de mercado, irá enviar funcionários públicos com distintivos e armas para atacar este segundo cartel, o qual, por conseguinte, irá comprar armas para defender seu terreno e se proteger dos ataques do primeiro cartel.
Cartéis querem uma renda artificialmente elevada em decorrência de restrições colocadas sobre o livre mercado.  Cartéis querem uma renda artificialmente elevada em decorrência de uma reserva de mercado protegida pelo estado.  O verdadeiro debate gira em torno de quem irá portar armas legalmente e quem irá portá-las ilegalmente.

Gary North , ex-membro adjunto do Mises Institute, é o autor de vários livros sobre economia, ética e história. Visite seuwebsite

A AÇÃO SEM REAÇÃO

A AÇÃO SEM REAÇÃO


POR ANTONIO MACHADO

A disparada do dólar é um fenômeno global e chegou para ficar por bom tempo, se a recuperação em curso nos EUA não sofrer retrocesso. O fenômeno provoca sequelas que extrapolam a depreciação do real. Brasil e brasileiros estão mais pobres em dólar, embora, exceto em viagens ao exterior, esse efeito ainda seja pouco sentido no bolso.

A inflação devida ao encarecimento das importações — do trigo (com que se faz o pão) ao celular (do qual, tirando a carcaça, tudo mais vem de fora) — será gradual. E poderá até ser baixinha, se a reação preventiva do Banco Central ao esfriar a demanda, levar as empresas a optar entre subir preço e perder venda ou buscar produtividade.

A redução do poder de compra medido em dólar não é definitiva, mas condicionada ao que se fizer daqui para a frente. Não se trata do que tem feito o Banco Central, garantindo liquidez ao fluxo externo de pagamentos e proteção cambial (chamada de hedge) por meio da banca às empresas endividadas em dólar. Isso serve para baixar a febre.

No limite, o BC fará leilões de venda física de dólares da reserva de divisas (US$ 373,7 bilhões no dia 19) do país. Talvez não chegue a tanto. Tais medidas são para ordenar a desvalorização, não contê-la, já que inútil. Destinam-se a evitar que a especulação dirija o mercado e exagere o ajuste (overshooting, conforme o jargão) rumo a um cenário de liquidez global um pouco mais estreita. Quanto menor?

Vai depender da velocidade da volta à normalidade monetária dos EUA. Ela se dará em dois estágios. No primeiro, o Federal Reserve vai reduzir até zerar a emissão excepcional de dólar, hoje ao ritmo de US$ 85 bilhões/mês. No segundo, a taxa de juro básica, análoga à nossa Selic, ao redor de zero (contra 8,5% ao ano aqui), começará a subir. Pela ótica do Fed, esse processo será organizado. Começou em maio com o aviso de que se aproxima a hora do fim do laxismo.

Foi a alvorada para bancos centrais, Tesouros nacionais, políticas econômicas, bancos, empresas, investidores começarem a se preparar. Não se introduz mudanças tectônicas no mundo monetário à socapa. É o que estamos assistindo, com os gestores de hot money procurando pescar vantagens nas águas das economias mais enfraquecidas.

Know-how contra crises

 Infelizmente, fora a China, até agora, o tumulto cambial é a situação recorrente em todas as economias emergentes, nós, entre elas, com o cenário mais complicado onde há deficit externo (o nosso é de 3,1% do PIB). E pior para as que extraem o grosso das receitas em dólar da exportação de commodities. Depois da bonança, graças ao apetite chinês por alimentos e matérias-primas, elas entraram num ciclo de baixa, devido ao ajuste da China. E disso também padecemos. Reservas volumosas e o know-how obtido pelo BC na gestão de crises cambiais, e foram muitas no passado, reciclado depois do crash de Wall Street, em setembro de 2008, tornam o processo menos ruinoso e com menor risco, em princípio, de disrupções na economia.

Especulação com causa

Em nota distribuída segunda-feira, o presidente do BC, Alexandre Tombini, garantiu estar atento ao “realinhamento global das moedas” e ao suprimento de liquidez. Por agora, numa operação associada à recompra de títulos públicos pelo Tesouro, a depreciação parou no assoalho do patamar de R$ 2,40. Até quando? Nem o BC pode saber. A especulação quer mais juros para continuar aplicada em reais. E tira sua força do desequilíbrio entre o nível de demanda, dado pelo consumo privado e pelo investimento supridos por importações, e um mundo menos disposto a bancar deficits estruturais. Baixar demanda é a sequela do aumento do dólar em relação ao real, o que passa por alguma inflação para elevar a competitividade industrial.

Salário paga sozinho?

Esse é o embate estrutural entre o câmbio depreciado e o nível da atividade, o que torna falacioso alegar, como alguns ministros têm feito, que a alta do dólar é boa para a indústria e não tem impacto inflacionário. É a mudança de preços relativos que deve alavancar a indústria, o que implica promover a produção à custa da importação, com os custos da transição repassados ao consumidor doméstico.

Se for só esse o resultado, a economia voltará a crescer depois de completado o ajuste, mas com poder de compra em dólar menor. E isso quando, não obstante o aumento real de 70,5% desde 2003, o poder de compra em termos de salário mínimo continue baixo. Pelo índice Big Mac da revista The Economist, o prosaico hambúrguer toma quase três horas de trabalho aqui, contra 35 minutos nos EUA, 53 na Grécia há cinco anos em recessão, 18 na Austrália. Com maior produtividade do gasto fiscal e da máquina pública, o ônus cambial pode ser menor.

Derrama de US$ 32 tri

Entre 2006 e 2012, o suprimento de liquidez no mundo, segundo nota do banco inglês Bedlam, cresceu US$ 32 trilhões em dólar. Quando os governos reduzirem tais estímulos, prevê-se o enxugamento de US$ 1 trilhão a US$ 3 trilhões no médio prazo, conforme o ritmo da volta do crescimento econômico nos EUA, Europa, Inglaterra, Japão, os que mais abusaram das emissões para fortificar a economia. Trata-se de mudança brutal. Os governos não vão ficar parados. A China já iniciou o ajuste para depender menos dos investimentos em infraestrutura e de exportações para crescer, promovendo o mercado interno. E nós? Para crescer sem riscos externos, deve-se elevar a poupança nacional, sinônimo de superavit fiscal, ao menos enquanto o pré-sal não passar de despesa. E os políticos já querem gastá-lo por conta... Tais coisas ilustram a desembaraço da especulação.

PREPARE O BOLSO: COM DÓLAR ALTO, EMPRESAS PROMETEM REAJUSTE DE ATÉ 12%

PREPARE O BOLSO: COM DÓLAR ALTO, EMPRESAS PROMETEM REAJUSTE DE ATÉ 12%


POR DIEGO AMORIM E ROSANA HESSEL

O governo comemorou ontem os resultados da megaintervenção anunciada pelo Banco Central, que resultará na injeção de mais US$ 60 bilhões no mercado até o fim do ano. Depois de ter atingido R$ 2,45 na quarta-feira, a maior cotação desde 2008, a moeda norte-americana fechou a semana valendo R$ 2,353, registrando expressiva queda de 3,23%. Mas esforço algum será suficiente para impedir que o novo patamar da taxa de câmbio contamine os preços e prejudique o orçamento das famílias. A depender do segmento empresarial, as tabelas serão reajustadas em até 12%.

Grandes importadores do país não acreditam em recuos maiores do dólar até o fim do ano, e já renegociam as encomendas para o Natal. No caso dos alimentos e das bebidas, a arrancada da moeda norte-americana encarecerá os produtos entre 8% e 12% no início de setembro, segundo o presidente da Associação Brasileira dos Exportadores e Importadores de Alimentos e Bebidas (Abba), Adilson Carvalhal Júnior. O nível de importação das empresas, informou ele, caiu 10% desde junho.

Já no setor de eletroeletrônicos, bastante dependente de suprimentos importados, os preços devem subir de 7% a 12% no próximo mês. Computadores e, sobretudo, celulares, que têm quase 90% das peças trazidas de fora, custarão mais. “Não há escapatória. Portanto, quem puder antecipar as compras de Natal, que o faça, porque esses aparelhos estarão bem mais caros no fim do ano”, aconselhou o diretor de pesquisa da Consultoria IT Data, Ivair Rodrigues.

Diante dos sinais emitidos pelas empresas, o Ministério da Fazenda decidiu aumentar a vigilância da economia, para conter abusos. O entendimento do governo é de que, com a ação do Banco Central, que totalizará intervenções de US$ 105 bilhões, pois US$ 45 bilhões já foram despejados no mercado, é de que não há mais motivo para estresse ou especulação. A tendência, disseram integrantes da equipe econômica, é de que a divisa dos Estados Unidos se estabilize em um patamar mais próximo de R$ 2,30. “O importante é que haja previsibilidade. A economia não pode conviver com tantas incertezas, sendo o câmbio um fator importantíssimo para a formação dos preços da economia”, disse um técnico.

Falta de confiança

Quase tudo o que é vendido no Brasil está atrelado ao dólar de alguma forma. Para compensar as transações mais caras, as companhias se dizem obrigadas a reajustar os preços. “Desta vez, a variação cambial assusta mais, porque há um grave problema de descrédito com o país. A falta de confiança entre os empresários é muito alta”, sublinhou Carvalhal.

Uma das alternativas do governo para conter os repasses exagerados de preços é reduzir impostos sobre importados. Uma lista com centenas de produtos já foi divulgada neste mês, justamente para compensar a alta do dólar. “Sabemos que já está havendo repasses, mas em proporções pequenas, uma vez que a atividade está mais lenta que o desejado. Ou seja, os consumidores estão retraídos, com elevado endividamento, e não têm aceitado arcar com aumentos de preços fora do normal”, acrescentou outro integrante da equipe econômica.

Ele reconheceu que ainda é cedo para acreditar que os resultados das intervenções do BC são para valer. Mas admitiu que a presidente Dilma Rousseff deposita muita confiança na medida, como forma de manter a inflação sob controle e de evitar que o Comitê de Política Monetária (Copom), que se reunirá na próxima semana, seja obrigado a elevar tanto os juros. A expectativa dos analista é de que, na quarta-feira, quando o BC baterá o martelo, a taxa básica (Selic) passe dos atuais 8,50% para 9% ao ano. “O consenso dentro do governo é de que o aumento da Selic será de 0,5 ponto percentual, para acalmar os ânimos do mercado e reforçar a visão dos investidores de que se está trabalhando em todas as frentes para corrigir eventuais distorções”, frisou um assessor do Palácio do Planalto.

Estoque elevado

O Walmart é um dos grandes varejistas que começou a refazer o planejamento para o fim do ano, de acordo com o vice-presidente da marca no Brasil, Alain Benvenuti. A empresa reduziu em 15% o volume de importados para o Natal e intensificou as negociações com os fornecedores locais, na intenção de tentar absorver o impacto da escalada do dólar.

Como o consumo no país caiu nos últimos meses, os estoques do varejo estão acima da média, o que pode ser uma vantagem para os consumidores neste momento de forte desvalorização do real. “É possível encontrar produtos de linhas mais antigas, com preços 20% abaixo dos registrados nos “, destacou o diretor da Consultoria IT.

O impacto da mudança do câmbio, explicou o consultor, revela um problema estrutural no Brasil: as indústrias sem fumaça, que fabricam produtos com componentes basicamente vindos do exterior. “Celulares, por exemplo, são montados aqui com quase todas as peças importadas. A tela de um televisor de LCD, item que responde por 90% do custo total do produto, também vem de for a”, emendou.

Antes de mexer na tabela, os atacadistas decidiram esperar um pouco mais. Mas aumentos podem surgir, também em setembro. “Vamos ter o pé no chão. Não é hora de aumentar preço. No entanto, se a situação do câmbio continuar assim, não teremos escolha”, ponderou o presidente da Associação Brasileira de Atacadistas e Distribuidores de Produtos Industrializados (Abad), José do Egito Frota Lopes.

Sem escapatória

Mesmo que o impacto nos preços não existisse, o dólar descontrolado não é bom para o Brasil, acrescentou o presidente da Associação Brasileira das Indústrias da Alimentação (Abia), Edmundo Klotz. Ele reforçou que, ao mesmo tempo em que potencializa as exportações, a desvalorização do real eleva os custos da produção interna, uma vez que boa parte dos insumos — no caso do agronegócio — tem cotação internacional. São commodities.

O BRASIL DO DESPERDÍCIO: A CADA ANO, PAÍS JOGA R$ 1 TRILHÃO NO LIXO



POR VICTOR MARTINS, DIEGO AMORIM E CAROLINA MANSUR

Todos os anos, cerca de R$ 1 trilhão, o equivalente ao Produto Interno Bruto (PIB) da Argentina, é desperdiçado no Brasil. Quase nada está imune à perda. Uma lista sem fim de problemas tem levado esses recursos e muito mais. De cada R$ 100 produzidos, quase R$ 25 somem em meio à ineficiência do Estado e do setor privado, a falhas de logística e de infraestrutura, ao excesso de burocracia, ao descaso, à corrupção e à falta de planejamento.

Além de dinheiro, que poderia ser investido em educação, saúde e transporte público, escorre pelo ralo muitas outras oportunidades. O Brasil deixou passar a bonança externa — entre 2003 e 2008, o mundo viveu a sua era de ouro, puxado pelo supercrescimento chinês — sem fazer as reformas estruturais necessárias à economia. Agora, se vê sem capacidade de colher os frutos do bônus demográfico, período único em que as nações usam a sua força de trabalho para se tornarem ricas. De farto e próspero, o país ganha cada vez mais a cara do desperdício.

Não à toa, o Brasil está tomando uma sova de desconfiança. O real, que ostentou, por anos, o status de moeda forte, é hoje a divisa no mundo que mais perde valor ante o dólar. Para piorar, o crescimento médio anual do PIB, de 1,8%, é o menor em 20 anos. A inflação se mantém sistematicamente próxima ao teto da meta, de 6,5%. Os investimentos produtivos minguam e a confiança das famílias está no chão. Mais uma vez, o futuro que nos parecia tão perto começa a tomar feições de miragem.

O período de forte crescimento global na década passada, quando havia grande fluxo de capitais e os nossos produtores agrícolas eram muito bem pagos para alimentar o planeta, deu a folga necessária para a administração pública aposentar a incompetência e a ineficiência e entrega serviços melhores, apesar da montanha de dinheiro que os brasileiros depositam todos os meses nos cofres da Receita Federal. Nada foi feito. “Infelizmente, fizemos a opção pelo atraso”, resume o economista Paulo Rabello de Castro, presidente do Instituto Atlântico e integrante do Movimento Brasil Eficiente.

Amarras

Nas últimas três semanas, o Correio vasculhou o país para ir além do que se habituou a chamar de Custo Brasil. O resultado encontrado é assustador. As manifestações que tomaram as ruas entre maio e junho surpreenderam muita gente. Mas o desperdício justifica o sentimento de basta. Não é mais aceitável que uma nação com tantos recursos naturais, apontada como o maior celeiro do mundo, jogue no lixo, todos os anos, o equivalente a quase um quarto do PIB nacional. Essa, ressalte-se, é a parte visível dos prejuízos, baseada em estimativas conservadoras, admitem os especialistas.

A falta de cultura de manutenção e de planejamento e um sistema político que facilita os desmandos e os malfeitos se transformaram em barreiras que impedem que tanto dinheiro seja revertido em benefícios à sociedade. Água, energia elétrica, comida — tudo vai fora. Por causa das amarras da burocracia, as firmas perdem 2,6 mil horas por ano. Em países desenvolvidos esse tempo é dez vezes menor. Tal fatura, se convertida em dinheiro, pode chegar a R$ 200 bilhões. “Há também o desperdício moral. Todos esses problemas desmoralizam a capacidade desse eu coletivo, que é a sociedade brasileira, de ter vontade de perseguir a eficiência, a produtividade e o comprometimento com o sucesso”, argumenta Rabello de Castro.

A pesada carga tributária é o veículo por meio do qual o governo suga os recursos que serviriam de energia vital para as empresas e para as famílias. Verbas que viram gastos estéreis, jogados em obras que não andam. A ineficiência do Estado, contudo, tem queimado mais que dinheiro, despreza as chances de brasileiros que amargam uma vida de pobreza, impede uma educação formal de qualidade, ceifa vidas em leitos de hospitais sem estrutura.

Um carimbo em tempo hábil pode ser a diferença entre viver e morrer, ao menos para quem depende da saúde pública no interior do país. Em Águas Lindas (GO), distante quase 40 quilômetros da sede do Ministério da Saúde, em Brasília, é comum os pacientes terem de se deslocar para a capital federal em busca de atendimento. Muitos morrem no meio do caminho.

O socorro não pode ocorrer no município porque um dos hospitais da cidade, que deveria ter quase 300 leitos, está abandonado. A licitação para a obra foi embargada devido à corrupção. “É preciso reconhecer que a forma como o Estado contemporâneo atua não é mais capaz de atender as necessidades da população”, observa Márcio Pochmann, presidente da Fundação Perseu Abramo. Ele pondera que a forma de organização dos governos está ultrapassada, e encontrar maneiras de pensar e executar políticas públicas é um desafio não apenas do Brasil.

Diante de tanto descalabro, os especialistas são unânimes em um ponto: as ineficiências do Brasil são a maior fonte de riqueza e de oportunidade. Se todos os recursos desperdiçados fossem devidamente aproveitados, o país trocaria a cadeira de emergente por uma de desenvolvido. O PIB potencial, que é a taxa de crescimento possível sem gerar inflação e desequilíbrios, seria bem maior que os 2% ou 2,5% atuais. A população poderia ser beneficiada verdadeiramente com serviços públicos e privados eficientes.

O BRASIL DO DESPERDÍCIO: COMIDA JOGADA FORA ALIMENTARIA O MUNDO



POR DIEGO AMORIM

O Brasil esbanja recursos naturais. De tudo se perde. A cada ano, 26,3 milhões de toneladas de comida são jogadas fora: volume suficiente para distribuir 131,5 kg para cada brasileiro ou 3,76 kg para cada habitante do planeta. Toda essa comida alimentaria facilmente os 13 milhões de brasileiros que ainda passam fome, nas contas da Organização das Nações Unidas para Alimentação e Agricultura (FAO). Poderia ainda facilitar o trabalho do Banco Central no combate à inflação. Com uma oferta maior de produtos, os preços não subiriam tanto e o país poderia até mesmo diminuir a importação de feijão preto da China.

O desperdício de comida provoca mais do que prejuízos financeiros, gera revolta e inconformismo. Ainda assim, o Brasil pouco se mobiliza no sentido de mudar esse quadro aterrador. Desde 1998, a chamada Lei do Bom Samaritano, em alusão a uma passagem bíblica, tramita no Congresso Nacional, e não há previsão alguma para que seja votada. A intenção da proposta é isentar doadores de alimentos de responsabilidade civil e penal, se agirem de boa-fé, na distribuição de comida — semelhante ao que ocorre em países da Europa e nos Estados Unidos.

Enquanto essa lei não é aprovada, o Estado brasileiro pune severamente os doadores. A legislação atual prevê até cinco anos de prisão caso quem receba os alimentos sofra algum tipo de dano em decorrência da comida. Com isso, donos de restaurantes, por exemplo, se sentem obrigados a despejar no lixo as sobras diárias da produção. “É um crime”, define o diretor executivo da Associação Brasileira de Bares e Restaurantes (Abrasel), Gustavo Timo.

O ajuste na legislação, segundo Timo, poderia ajudar — e muito — o Brasil a conter o desperdício. “A regra em vigor é completamente inapropriada. Por parte do setor, não falta boa vontade”, insiste o representante da Abrasel, ressaltando que, em outros países, existem programas organizados de doações para evitar que toneladas de comida em bom estado acabem no lixo.

Entraves

Combater a assombrosa perda de alimentos, no entanto, é muito mais complexo. O pesquisador Antônio Gomes, do Centro de Agroindústria de Alimentos da Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária (Embrapa), enumera outros entraves, como o manuseio inapropriado dos produtos no campo, as embalagens inadequadas utilizadas no transporte e o armazenamento ineficaz no atacado.

Aprimorar o escoamento da produção agrícola, sustenta Gomes, aumentaria a oferta de alimentos sem a necessidade de alterar a área plantada. Em determinados casos, como o da banana e o do morango, o desperdício no caminho entre a propriedade e a prateleira do supermercado chega a 40%. “Quem arca com esse prejuízo é o consumidor”, lembra o pesquisador da Embrapa, ao explicar que, no fim das contas, o produto que se perdeu no caminho se converte em aumento de preço.

O desperdício de que fala Gomes é facilmente percebido nas centrais de abastecimento. Por dia, os irmãos Berlândio e Ernandes da Silva jogam no lixo de 50 a 60 caixas de alimentos que, na avaliação deles, não poderiam ser aproveitados. “Às vezes, a comida já chega estragada. Ou então com uma aparência que a gente sabe que a dona de casa não vai comprar”, diz Ernandes.

Vida real

São muitos os brasileiros que, diariamente, ficam de prontidão nas Ceasas espalhadas pelo país, enquanto funcionários separam as frutas e verduras aceitáveis pelo mercado. “A gente fica sentido, porque, mesmo assim, a perda é muito grande. Tanta gente passando fome e nós aqui jogando essa comida no lixo”, desabafa Berlândio.

Desde que contraiu uma trombose na perna e perdeu o emprego de auxiliar de serviços gerais, Cilene de Sousa Rodrigues, 47 anos, vai à Ceasa de Brasília duas vezes por semana garantir os alimentos de casa, onde vive com seis pessoas. “Isso aqui é ouro”, afirma ela, segurando uma maçã retirada de uma caçamba de lixo. “Amanhã é dia de verdura”, avisava ela.

Cilene diz que “muita coisa boa” vai para o lixo. As maçãs descartadas na Ceasa, por exemplo, ela usa para fazer doces e geleias. E ainda distribui o que sobra para vizinhos e o motorista do ônibus que a leva de volta para casa. “Teria vergonha se estivesse roubando ou fazendo coisa errada. Pegar comida do lixo é algo honesto”, comenta a moradora do Recanto das Emas, na periferia da capital federal.

Todos os dias, milhares de pessoas também desperdiçam comida nos restaurantes. Além de não consumirem tudo o que foi produzido pelos estabelecimentos, deixam comida no prato. No restaurante self-service João Rosa, em Belo Horizonte, onde cerca de 350 refeições são servidas por dia — uma média de 120 quilos de comida —, a perda chega a 16% do total produzido, cerca de 20 quilos por dia. Em dinheiro, o prejuízo diário varia entre R$ 600 e R$ 800. No mês, considerando 20 dias úteis, pode chegar a R$ 16 mil.

Além da comida que sobra no buffet e vai para o lixo, em função das normas da vigilância sanitária que não permitem o reaproveitamento, a sócia-proprietária Catarina das Graças Artur, conta que parte do seu faturamento vai embora com aqueles que colocam a comida no prato, mas não comem. “Cerca de 30% não consomem tudo o que retiram dos recipientes”, afirma.

DESCRÉDITO TOTAL

 - POR VICENTE


O governo não cansa de reclamar do que considera um pessimismo exagerado em relação à economia. Mas bem que poderia dar uma boa ajuda — real, sem maquiagens — para tentar reverter parte da desconfiança que tomou conta da sociedade e está condenando o país a registrar, na administração Dilma Rousseff, a menor taxa de crescimento em 20 anos.

Até a próxima sexta-feira, o Ministério do Planejamento terá de encaminhar ao Congresso a proposta orçamentária de 2014. Não é segredo para ninguém que esse instrumento sempre foi uma peça de ficção. Contudo, seria de bom grado se o governo, desta vez, explicasse direitinho como será cumprida a meta fiscal do ano que vem, independentemente se de 1%, 2,3% ou 3,1% do Produto Interno Bruto (PIB).

Boa parte do mau humor dos agentes econômicos com o governo tem como base a farra nas contas públicas. Nos últimos três anos, foi vergonhoso ver a forma, descarada, com que o Tesouro Nacional recorreu a truques, malabarismo, artimanhas, para atingir a meta de superavit primário. Portanto, se ao menos, agora, houvesse sinais claros, consistentes, de que a transparência prevalecerá, talvez os investidores dessem um voto de confiança ao Palácio do Planalto.

Dado o histórico do governo Dilma, é difícil acreditar. Desde a desastrosa era Collor de Mello, apeada do poder por corrupção, não se via uma administração tão ruim. A qualquer pessoa que se pergunte hoje qual o grande legado da primeira mulher a ocupar o Palácio do Planalto, ninguém conseguirá responder. Mesmo depois de muito esforço da memória e da boa vontade de quem estiver sendo questionado.

Na verdade, quando se avalia a administração Dilma, o que se constata é um governo perdido, que recuou em quase todas as medidas que anunciou como conquistas para o Brasil. A mais notória delas, a queda da taxa básica de juros (Selic) para o menor patamar da história, de 7,25% ao ano, em outubro de 2012. Isso, mesmo com a inflação em alta, encostando no teto da meta perseguida pelo Banco Central, de 6,5%.

Depois de ter brincado com a inflação, que solapou o poder de compra das famílias e tirou a previsibilidade das empresas, em abril último, o Planalto autorizou o Comitê de Política Monetária (Copom) a elevar a Selic. A taxa saltou para 8,50% e deve passar a 9% ao ano na quarta-feira. Com um discurso ainda titubeante, o presidente do BC, Alexandre Tombini, avisou que os juros subirão ao nível que for necessário para que o custo de vida volte ao controle e se situe mais próximo de 4,5%, o centro da meta definida pelo Conselho Monetário Nacional (CMN).

Esse arrocho, porém, não seria necessário em uma economia que está crescendo abaixo de 2% se a taxa Selic não estivesse atrelada aos interesses da presidente Dilma de se reeleger em 2014. Também o país não estaria pagando um preço tão alto neste momento, com a disparada do dólar. Está evidente que parcela importante da desvalorização do real — de 20% apenas nos últimos três meses — decorre da perda de credibilidade da política econômica.

Nu e de joelhos

Com os investidores mais seletivos, voltando a direcionar recursos para os países ricos, em especial os Estados Unidos, ficou claro o quanto o Brasil estava nu. Além de não fazer nenhuma das reformas estruturais para modernizar o ambiente de negócios, o governo adotou uma postura intervencionista cuja principal meta foi represar a inflação. Reduziu à força as tarifas de energia, adiou o quanto pode o reajuste das passagens de ônibus e trens — aumento derrubado pelos protestos das ruas — e vem corrigindo, a conta-gotas, os preços dos combustíveis.

Mesmo com essa política ultrapassada, o Índice de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA) jamais ficou abaixo de 6% em 12 meses ao longo deste ano. Os especialistas garantem que a inflação real do Brasil estaria girando hoje entre 8% e 10% — um escândalo para um país que pagou um preço tão alto para alcançar a estabilidade agora ameaçada.

Dependência

Mas não é só. Ao insistir em estímulos ao consumo, o Planalto provocou um desequilíbrio perigoso nas contas externas. Com o aumento desenfreado das importações, já que a indústria nacional não teve condições de atender a demanda crescente, as transações correntes do país com o exterior saíram de um superavit (sobra de recursos) de 1,25% do PIB, em 2006, para um rombo de 3,4% em julho último.

Para fechar essa conta, o governo está tendo de recorrer a capitais especulativos, que deixam qualquer nação de joelhos ao menor sinal de estresse. São justamente os países mais dependentes desses recursos — Brasil, Índia e Turquia — que apresentam as moedas mais desvalorizadas.

Quando havia o tsunami cambial criticado pelo ministro da Fazenda, Guido Mantega, os investidores pouco ligavam para as fragilidades dessas economias emergentes. Bastaram, contudo, os Estados Unidos avisarem que a enxurrada de dólares no mundo promovida pelo Federal Reserve (Fed) está chegando ao fim, para que a bolha estourasse.

Incompetência

Apesar das evidências claras dos estragos provocados na economia pelas escolhas erradas de Dilma, o Planalto já mandou preparar os tambores para tocarem na sexta-feira, quando o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) divulgará o PIB do segundo trimestre. O crescimento, ante os primeiros três meses do ano, deverá ficar entre 0,9% e 1,1%. Para o governo, será o sinal de que a atividade retomou o fôlego.

Para os que preferem lidar com a realidade, sem rodeios, será o retrato de uma economia que esboçou alguma reação, mas não conseguiu resistir à incompetência de quem dirige o país. Melhor será olhar para a frente e enxergar, com humildade, o que ainda pode ser feito rapidamente para que a situação não degringole de vez.

DESCASO COM A INFLAÇÃO LEVA JUROS A 9% AO ANO HOJE



POR DECO BANCILLON

Quando os diretores que integram o Comitê de Política Monetária (Copom) do Banco Central baterem hoje o martelo e elevarem a taxa básica de juros (Selic) em 0,5 ponto percentual, para 9% ao ano, conforme preveem os especialistas, eles estão assumindo o erro de cálculo da própria instituição, que, por um bom período, optou por abrir mão de fundamentos técnicos para atender os apelos políticos da presidente Dilma Rousseff.

Há dois anos, quando, sob pressão do Palácio do Planalto, o BC iniciou o processo de derrubada da Selic para o menor patamar da história, 7,25% ao ano, o presidente da instituição, Alexandre Tombini, justificou a medida como uma forma de proteger o país dos riscos que a recessão nas principais economias do mundo poderia provocar sobre a recuperação da atividade econômica no Brasil. Na prática, pregava que o menor crescimento externo ajudaria a reduzir a pressão sobre os preços de produtos e serviços no Brasil, o que não aconteceu. Muito pelo contrário.

Já naquele momento, a inflação no país vinha em uma espiral de alta, que culminou nos 6,5% acumulados em dezembro de 2011, teto da meta perseguida pelo BC. Tombini escapou de ser obrigado a emitir uma carta à Nação explicando os motivos de não ter cumprido a missão de manter o custo de vida no limite da tolerância. Nos meses seguintes, porém, foram frequentes o estouro da meta, mesmo com o ritmo da atividade desabando. A situação ficou tão complicada que, mesmo o BC tomando coragem para subir os juros a partir de abril, em nenhum momento deste ano o Índice de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA) ficou abaixo de 6%.

No entender dos especialistas, a crença do governo de que um pouquinho mais de inflação ajudaria a estimular o cambaleante Produto Interno Bruto (PIB) mostrou-se um equívoco, que minou tanto a confiança das famílias quanto do empresariado. Segundo o economista Juan Jensen, sócio da Consultoria Tendências, houve erros generalizados na condução da política econômica do governo Dilma. “A redução da taxa de juros promovida pelo BC foi uma medida que tinha como objetivo salvar o crescimento econômico, e não trazer a inflação para o centro da meta, de 4,5%”, criticou.

Agora, acrescentou Jensen, mesmo que a Selic seja elevada dos atuais 8,5% para até 10% ao ano, como preveem as instituições que mais acertam nas pesquisas semanais realizadas pelo BC, a ação do Copom não será suficiente para levar o reajustes de preços para o centro da meta. “O governo está muito confortável com uma inflação de 6% ao ano”, disse.

Caso o BC realmente estivesse comprometido em levar a inflação para próximo de 4,5%, afirmou Alexandre Schwartsman , doutor em economia pela Universidade da Califórnia, os juros básicos teria de ir além de 12% ao ano. “Mas isso não vai acontecer, justamente porque 2014 é um ano de eleições, e o governo não quer correr o risco de prejudicar a candidatura da presidente Dilma Rousseff”, ponderou.

Para ele, a atual elevação da Selic é um esforço do BC em tentar reescrever a história. “Há uma tentativa (do BC) em tentar em mostrar que foi traído, que a culpa por a inflação ter fugido do controle foram os erros da política fiscal frouxa (do Ministério da Fazenda). Mas isso é uma tremenda história para boi dormir”, criticou. “O BC errou porque abandonou o compromisso de levar a inflação para o centro da meta.”

INDÚSTRIA SEM GÁS



POR ANTONIO MACHADO

Num dia tomado de simbolismos sobre o significado para os rumos da indústria e da tecnologia no mundo, motivado pela compra da divisão de telefonia celular da Nokia pela Microsoft, o IBGE jogou um balde de água fria ao divulgar que a produção industrial recuou em julho, repetindo o movimento em ziguezague que vem desde meados de 2012.

Os sinais de rearticulação das cadeias produtivas globais começam a ficar visíveis com o desentesouramento dos caixas bilionários das grandes multinacionais da indústria e de serviços no momento em que o mercado financeiro vive sobressaltado pela expectativa do fim do laxismo monetário do Federal Reserve, já antecipada pelo aumento da taxa de juros dos treasuries dos EUA. Há algo além desse viés.

O movimento previsível, pela ótica financista, tenderia a reforçar o empoçamento no mercado de papéis dos EUA dos lucros retidos pelas grandes corporações. A Microsoft fez o contrário, ao sacar US$ 7,2 bilhões de seu caixa gigantesco para comprar à vista e em dinheiro a operação completa de celular da Nokia, incluindo as patentes, e, assim, incorporar à sua atividade principal, basicamente a produção de softwares, também um braço industrial.

A empresa fundada por Bill Gates e Paul Allen e conhecida pelo seu programa mais famoso, o Windows, segue o Google, que pagou US$ 12,5 bilhões em agosto de 2011 pelo controle da Motorola, ambas, por sua vez, reconhecendo o sucesso do modelo da Apple, que sempre fez tudo no mundo da tecnologia da informação, TI, simplesmente — do sistema operacional ao aparelho (embora com fabricação terceirizada), sejam celulares, smartphones, consoles de games, tablets e notebooks.

Trata-se de uma transformação aparentemente maior do que a simples aquisição de uma empresa por outra. Falaremos disso noutro dia. Por ora, importa atentar para os movimentos cruzados entre produtores de “inteligência” na direção da indústria física e vice-versa.

O Google não desmente rumores de que pode considerar uma incursão no setor automotivo como passo seguinte ao seu sistema de piloto automático, que dispensa o motorista. Também se fala da aproximação de montadoras como Ford, GM e Toyota do mundo criativo e glamouroso dos startups do Vale do Silício. É a chamada “internet das coisas”, que traz a funcionalidade do smartphone a fogões e automóveis, por exemplo, que começa a tomar forma. E nada lhe escapa na indústria.

A reação dos mastodontes

A decisão estratégica da Microsoft pode revelar-se um tiro n’água, já que a projeção da Nokia no mercado de celular é um espectro do que foi. De dominante, com 40% do mercado global em 2007, sucedendo à liderança da Motorola, hoje lhe resta 15%, e é um pigmeu no ramo de smartphone, com 3%. Mas o potencial transformador pode ser maior — se bem-sucedida —, que a outra operação gigante um dia antes.

A Verizon, uma das grandes telcos dos EUA, comprou a fatia de 45% da inglesa Vodafone na empresa criada por ambas em 2000 no mercado americano, a Verizon Wireless. Foi um negócio de US$ 130 bilhões, o terceiro maior da história, sendo US$ 58,9 bilhões em dinheiro e o restante em ações. O tamanho do cheque à vista sugere duas visões.

Uma delas é a expectativa de retomada da economia real. Outra, a “desfinanceirização” relativa dos negócios — a sequela dos tempos da desregulamentação do mercado financeiro, que levou à hegemonia da banca nos EUA e depois em escala global, culminando com o caos dos derivativos de recebíveis e o estouro da bolha das hipotecas.

Distante das tendências

E a nossa indústria em meio a esse frenesi? É expectadora, além de consumidora potencial de tecnologias e processos que um dia baterão em nosso mercado. A industrial brasileira está atrasada a tudo isso e inova pouco, apesar dos programas oficiais de suporte à inovação, com subvenção, financiamento barato e subsídios fiscais.

Sem grandes diferenciais competitivos, sujeita-se às oscilações da economia, como dos juros e da taxa cambial. Ela já usufruiu o que poderia da valorização do mercado doméstico. Parou no teto por não ter condições competitivas num cenário de economia aberta.

Passo lento e relutante

É o que explica a evolução errática da produção — estar no limite, influenciada por qualquer aragem da economia. Cresceu 2,1% em junho e recuou 2% em julho, tanto quanto o aumento em relação a igual mês de 2012. Mas piorou. Ao contrário de junho, quando só uma entre as quatro categorias de uso teve queda, agora todas recuaram, até bens de capital, que informam sobre o ritmo do investimento, com redução de 3,3%, contra aumento de 6,5% no mês anterior.

A indústria caminha para frente, mas a passo lento e relutante, o que empaca o aumento acumulado em 12 meses, apenas 0,6% até julho. Os dados antecedentes de produção de agosto indicam outro mês ruim, desfazendo o bom momento do PIB no segundo trimestre.

Mediocridade não é sina

O desempenho pífio da indústria, que se salva pela perspectiva um pouco mais alentadora do investimento, pode ser revertido, mas com outra abordagem. A política de apoio à inovação, por exemplo, terá de buscar a criação de indústrias capazes de competir, aqui e fora, sem aditivos como protecionismo tarifário. Satisfazer-se apenas com a produção no país, sem domínio sobre partes da cadeia produtiva no mundo, também não cria vantagens comparativas nem emprego de ponta.

Uma política industrial que ignore o peso majoritário do capital estrangeiro no setor de transformação leva a desperdiçar esforços (e dinheiro) sem contrapartida da instalação de centros de decisão no país. As multis operam assim na China — condição para merecer o tratamento de empresa chinesa. Seria como dar o incentivo do IPI ao setor automotivo não sobre o preço de venda de carros, mas a partes da cadeia produtiva que tomem o país como plataforma de exportação global. O que se quer da indústria? A resposta define a política.