domingo, 27 de outubro de 2013

RN usa royalties do petróleo como garantia de pagamento da Arena das Dunas

RN usa royalties do petróleo como garantia de pagamento da Arena das Dunas 

Vinícius Segalla
A governadora do RN, Rosalba Ciarlini Rosado, observa maquete da Arena das Dunas, estádio que
será operado pela OAS por, no mínimo, 20 anos

A empreiteira OAS está construindo a Arena das Dunas na cidade de Natal, para receber quatro jogos da Copa do Mundo de 2014. Para tanto, assinou um contrato de PPP (parceria-público privada) com o Governo do Estado do Rio Grande do Norte. O custo atual da obra é de R$ 417 milhões. Depois de pronto, a construtora passará a operar o equipamento por 20 anos, até 2031.
Durante este período, o governo estadual pagará à OAS pela manutenção parcelas mensais de R$ 10 milhões por 11 anos. Depois, por mais três, parcelas de R$ 2,7 milhões. Além disso, há uma garantia mínima de lucro, baseada em um estudo de viabilidade. Se o estádio não der o lucro esperado, o governo estadual garante a diferença.
Durante todo esse tempo, será mantido um fundo garantidor do investimento. Se o governo estadual não honrar seus compromissos contratuais com a empreiteira, o dinheiro deste fundo será utilizado como forma de pagamento.
Tal fundo sempre terá em caixa o valor mínimo de R$ 70 milhões. Este dinheiro, pelo contrato, virá de uma fonte segura de renda: os royalties que o Estado recebe pela exploração de petróleo em seus domínios.
O Rio Grande do Norte recebe da Petrobras cerca de R$ 250 milhões por ano. Então, parte deste valor vai garantir o pagamento da OAS pela Arena das Dunas.
Toda essa modelagem de negócio está preocupando o procurador-geral do Ministério Público de Contas do Rio Grande do Norte, Luciano Ramos.
Ele adverte para os riscos de endividamento a que o Estado está se submetendo. “Os riscos são assumidos em sua quase totalidade pelo poder público, havendo a possibilidade de aumento da contraprestação pecuniária e aumento do prazo do contrato”.
O que o procurador quis dizer com isso? Ele se refere às cláusulas de equilíbrio financeiro do contrato de PPP. Assim como ocorre em outras PPPs, como na da Arena Fonte Nova, ou como na da Arena Pernambuco, o poder estadual está comprometido a bancar uma lucratividade mínima para as empreiteiras que agora passaram a ser administradoras de arenas multiuso.
Então, se os públicos nos jogos não forem os esperados, se o estacionamento não der o resultado financeiro que se prevê, se a loja de souveniers que a empreiteira eventualmente instalar na arena não vender o quanto se acredita, então quem vai pagar o lucro da empreiteira é o contribuinte.
E, conforme disse o procurador Luciano Ramos, no caso do Rio Grande do Norte e da Arena das Dunas, esses eventuais custos extras ao Estado serão pagos aumentando os valores mensais cedidos à empreiteira ou ainda ampliando o período de concessão.
É isso o que consta no contrato. O contrato está aqui. A parte a que o procurador se refere é a que segue:
21.3. Sempre que necessária a recomposição do equilíbrio econômico-financeiro do CONTRATO, pela ocorrência dos fatos definidos neste CONTRATO essa recomposição poderá ter lugar, caso não haja acordo entre as PARTES, pela forma que for escolhida pelo PODER CONCEDENTE, por meio de uma das seguintes modalidades, na ordem que segue:
I. Revisão extraordinária do valor da CONTRAPRESTAÇÃO;
II. Redução ou prorrogação do prazo da CONCESSÃO ADMINISTRATIVA;
III. Modificação, de forma proporcional, das obrigações contratuais assumidas pela CONCESSIONÁRIA, diretamente relacionadas à hipótese causadora do desequilíbrio;
IV. Uma combinação das modalidades anteriores.
Ficou claro? Então, ou as coisas saem como o previsto e a OAS com seu lucro garantido, ou aumenta-se a mensalidade paga pelo Estado ou o tempo que a empreiteira poderá explorar o equipamento. Ainda bem que o Petróleo é Nosso.

Tá chovendo zumbi: quarta temporada de The Walking Dead promete

Tá chovendo zumbi: quarta temporada de The Walking Dead promete

Ana Maria Bahiana
Enquanto escrevo este post o grande debate da cidade é se a “linha invisível” que separa a TV por assinatura da TV paga foi ou não rompida com o mega sucesso do episódio de estreia de The Walking Dead, ontem: mais de 16 milhões de espectadores, sem contar os estimados 500 mil que baixaram o episódio informalmente pelo mundo afora.
A questão é a seguinte: ficou estabelecido que a TV por assinatura tem mais liberdade, mais qualidade, mais ousadia e, em tese, atinge um público mais reduzido e , por definição, segmentado.; a TV aberta não tem direito a nenhuma dessas regalias, mas atende uma massa de público muitas vezes maior.
Só que os zumbis da AMC acabam de quebrar esse conceito: 16 milhões é audiência de um NCISCSI da vida. Os cálculos ainda estão sendo feitos, mas parece que ontem o programa de maior audiência na TV norte americana foi mesmo The Walking Dead. Não da TV por assinatura, vejam bem: da TV.
Não é pouca coisa, principalmente considerando os percalços no caminho, com trocas sucessivas de showrunners (e, por consequencia, de pontos de vista…) e aquilo que muitos analistas consideravam um obstáculo irremovível para alcançar o grande público em casa: violência e sangueira.
Mudou a TV ou mudou o público? Ou ambos?
Com essa dúvida na cabeça, acrescento – Vi os dos primeiros episódios desta quarta temporada e ainda não sei se sei para que lado o novo showrunner, Scott M. Gimple vai levar a narrativa e a atmosfera da série.  Há uma desaceleração clara – “30 Days Without An Accident” se permite o luxo de explorar a bizarra paz da prisão, quase bucólica com suas hortas, refeitórios comunitários e horas de lazer para crianças (lembrem-se que a população aumentou consideravelmente com a chegada dos refugiados da terra do Governor…)… e com a mesma calma nos lembrar que esse condomínio campestre tem altas cercas de arame farpado cercadas por todos os lados por zumbis furiosos…
É um ritmo interrompido apenas quando é preciso com o habitual combate humanos/walkers (eu chamaria a do episódio de abertura de “Chuva de Zumbi”… com os devidos parabéns a Greg Nicotero – que dirige o episódio -e sua equipe, que está cada vez mais arrasando com os prostéticos..) e com uma trama secundária que vem vindo para o primeiro plano com grande força, trazendo novos obstáculos e novos zumbis (se eu entrar em mais detalhe será SPOILER…).

Mas de tudo o que vi nos dois episódios o que mais me impressionou foi esta cena aqui em cima – o encontro de Rick com uma sobrevivente, na mata em torno da prisão. Ali está Walking Dead no que tem de melhor – prendendo a atenção pelo suspense emocional, nos envolvendo em algo ao mesmo tempo terrível e misterioso, do tipo que não suportamos ver mas não resistimos não olhar. Palmas para a irlandesa Kerry Condon, irreconhecível como a mulher faminta que vagueia pelo mato, a verdadeira morta que caminha – como Rick, que perambula pela vida como um sonâmbulo nos braços da morte.

Notícias da não-TV: Netflix, Amazon aumentam poder de fogo

 Notícias da não-TV: Netflix, Amazon aumentam poder de fogo

Ana Maria Bahiana
John Goodman e um amigo numa cena da série Alpha House, da Amazon
Enquanto os canais “tradicionais” debatem que séries continuam e quais vão pro além, as notícias quentes da semana vem da outra TV, aquela que baixa em qualquer lugar onde haja uma tela de qualquer tamanho e acesso à internet.
* Em seu relatório anual para os acionistas, a Netflix anunciou que tem mais de 40 milhões de assinantes nos Estados Unidos – ou seja, muito mais que a HBO que, segundo analistas do mercado, tem cerca de 28. 7 milhões de assinantes (o canal não revela oficialmente quantos assinantes tem). É um marco: um serviço de distribuição de conteúdo fora do sistema tradicional (TV aberta/TV paga) com um volume de público maior que seus antepassados.
* Como consequência de sua base de audiência, aliada ao que o relatório chama de  “análise do comportamento de consumo de nossos espectadores”, a Netflix anunciou que vai dobrar  seu investimento em séries originais, aumentado e diversificando a oferta, acrescentando longa-metragens ao mix e alocando orçamentos “modestamente” mais generosos. Este é um ponto de divergência na competição: a HBO gasta 40% de seus recursos em produção original, enquanto a Netflix prevê, para 2014, a reserva de 10% de seus recursos para o mesmo fim. “Ainda temos muito espaço para crescer”, disse o diretor de produção Ted Sarandos.
* Tem espaço e mais competição:  depois de alguns balões de ensaio a Amazon está entrando firme na distribuição de conteúdo próprio. A sátira política Alpha House, estrelada por John Goodman e criada e escrita pelo cartunista Garry Trudeau, a série de comedia Betas, sobre a vida nas start ups do Vale do Silício, e três seriados infantis estreiam em novembro . E  a Amazon já anunciou que a próxima leva trará séries de drama na próxima leva…

Após liderar perdas, real vira a moeda que mais sobe entre 31 países

Após liderar perdas, real vira a moeda que mais sobe entre 31 países 

Sílvio Guedes Crespo
Depois de um período de forte queda, o real foi a moeda que mais subiu desde o início do mês, entre 31 selecionadas, incluindo os mercados desenvolvidos e os principais emergentes. O levantamento foi elaborado pela CMA, empresa de tecnologia e informações financeiras.
A moeda brasileira avançou 5,21% em relação ao dólar, do início de setembro até o dia 18. A trajetória de alta, no entanto, já estava acentuada desde que o Banco Central anunciou, no dia 22, que faria leilões diários de venda de dólares no mercado futuro.
Vale lembrar que, antes desse surto de alta, o real estava caindo fortemente em relação ao dólar. Do início de agosto até o dia 22, recuou 5,53%, tendo a maior perda entre as 31 moedas analisadas pela CMA.
Se considerarmos um prazo mais longo, vemos uma desvalorização do real. A moeda brasileira caiu 10,05% desde o início do ano até o dia 18 – mais do que, por exemplo, os pesos mexicano, peruano e colombiano. Nesse período, a maior queda entre os 31 países foi a do peso argentino, de 17%, conforme o gráfico abaixo.
Entrevista
O economista-chefe da CMA, Carlos Lima, autor do levantamento, concedeu a entrevista abaixo ao blog Achados Econômicos.
Por que o real subiu mais do que as outras moedas?
Foram dois fatores. Primeiro, o impacto da decisão do BC em entrar pesadamente no mercado de câmbio. Na época [22 de agosto], o BC foi claro: quem estaria entrando para especular, sofreria um impacto devido a um grande player [o BC] vendendo.
Depois, passou a haver uma desconfiança em relação à possibilidade de o Fed[Federal Reserve, o banco central dos EUA] retirar os estímulos. A meu ver, o mercado, que antes acreditava que o Fed iria retirar, passou a avaliar se ia retirar mesmo e se, caso retirasse, em quanto seria essa redução.
Então o real continua sendo uma das moedas mais voláteis, entre as maiores economias?
Sim. Existe um peso enorme da variável dólar na nossa economia, e isso está sendo demonstrado na variação do real. Entre 80% e 90% das empresas listadas no Ibovespa (principal índice da Bolsa de Valores de São Paulo) sofrem impacto do dólar.
Na sua visão, o real deve continuar subindo mais que as outras moedas?
A ideia do Fed de prorrogar a decisão [de retirar os estímulos] joga, para o mercado, uma certa especulação, o que gera volatilidade. Num curto prazo, me parece que o real encontrou um certo parâmetro, variando entre R$ 2,20 e R$ 2,25. Mas, quando o Fed começar a retirar os estímulos, o real tende a voltar a se desvalorizar.

CLIQUE NA IMAGEM E ENTENDA COMO FUNCIONA O MERCADO DE DÓLAR

Pesquisando, cliente pode poupar R$ 6 mil ao financiar carro popular

Pesquisando, cliente pode poupar R$ 6 mil ao financiar carro popular 

Sílvio Guedes Crespo

Evite desperdício de até R$ 6 mil ao financiar carro8 fotos

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O Fiat Uno Vivace 1.0 pode ser financiado em 48 vezes pelo Bradesco, com parcelas de R$ 631 mensais, o que dá um custo de 30,6% ao ano. Na Caixa, as parcelas ficam em R$ 504, ou 15,1% ao ano. Ao final do financiamento, o cliente terá desembolsado R$ 42,6 mil, no primeiro cenário, ou R$ 36,5 mil, no segundo. Nos dois casos, foi considerada uma entrada de 40% do preço à vista. Divulgação
O consumidor que financiar um carro popular pode economizar R$ 6 mil – ou até mais – somente pesquisando as diferenças de custo entre os bancos, sem precisar aumentar o valor da entrada, nem encurtar o prazo de pagamento ou muito menos abrir mão de algum recurso do veículo.
É evidente que o preço à vista é sempre o mais baixo; porém, uma vez que se tenha optado pelo financiamento, é possível evitar desperdícios ao se informar sobre o Custo Efetivo Total (CET) do empréstimo, que inclui a taxa de juros, a tarifa de cadastro, o registro de gravame e o IOF (Imposto sobre Operações Financeiras), entre outros gastos.
Uma pesquisa da Fundação Proteste analisou o CET do financiamento nos seis maiores bancos do país. A entidade escolheu quatro modelos de veículos 1.0. Em todos os casos, foi considerada uma entrada de 40%, mais o financiamento em 24 ou 48 meses.
Um Uno Vivace 1.0, que sai por R$ 30,7 mil à vista, se for financiado pela Caixa em 48 meses terá um CET de 15,11% ao ano, de modo que cada parcela fica em R$ 504. No Bradesco, o custo é de 30,64% ao ano, com parcelas de R$ 631 mensais. Com isso, o consumidor pagará, pela Caixa, um valor total de R$ 36,5 mil ao final de quatro anos. Já pelo Bradesco, o carro custará R$ 42, 6 mil, uma diferença de R$ 6,1 mil.

FINANCIAMENTO EM 48 VEZES (40% DE ENTRADA)

CarroPreço à vista (R$)Maior valor final* (R$)Menor valor final** (R$)
Uno Vivace30.70042.573 (Bradesco)36.483 (Caixa)
Gol Geração 631.50043.551 (Bradesco)37.329 (Caixa)
Classic 1.028.90039.861 (Bradesco)34.171 (Caixa)
Fiesta Rocam Hatch29.90041.430 (Bradesco)35.505 (Caixa)
  • * Maior custo efetivo total (CET) encontrado: 30,6% ao ano, no Bradesco
  • ** Menor CET: 15,1% ao ano, na Caixa
  • Fonte: Proteste. Bancos pesquisados: BB, Bradesco, Caixa, HSBC, Itaú e Santander

FINANCIAMENTO EM 24 VEZES (40% DE ENTRADA)

CarroPreço à vista (R$)Maior valor final* (R$)Menor valor final** (R$)
Uno Vivace30.70036.250 (HSBC)33.651 (Caixa)
Gol Geração 631.50037.074 (HSBC)34.435 (Caixa)
Classic 1.028.90034.002 (HSBC)31.525 (Caixa)
Fiesta Rocam Hatch29.90035.299 (HSBC)32.750 (Caixa)
  • * Maior custo efetivo total (CET) encontrado: 30% ao ano, no HSBC
  • ** Menor CET: 15,1% ao ano, na Caixa
  • Fonte: Proteste. Bancos pesquisados: BB, Bradesco, Caixa, HSBC, Itaú e Santander
Concessionárias
A pesquisa também comparou o custo do financiamento por meio de concessionárias. Algumas delas têm um preço à vista mais baixo que o de concorrentes, mas cobram mais caro no veículo financiado.
Em uma concessionária Chevrolet em Botafogo, no Rio de Janeiro, o Classic 1.0 está R$ 28.990 à vista – mais baixo, portanto, do que na concorrente da Barra da Tijuca (R$ 29.740). No entanto, o custo do financiamento em 48 meses é de 27,46% ao ano na primeira concessionária e de 17,39% na segunda. Por causa disso, valor final do carro financiado atinge R$ 39,1 mil no primeiro caso e R$ 36,1 mil no segundo, uma diferença de R$ 3 mil.
Outro lado
Procurados por Achados Econômicos, os bancos citados confirmaram os números levantados pela Proteste e informaram que eles se referem às taxas máximas cobradas. Dependendo do relacionamento com o cliente, as instituições financeiras disseram que dão descontos.
Os correntistas que apresentam menor risco (por exemplo, por ter uma renda estável ou um histórico de bom pagador) eventualmente conseguem juros menores. Na pesquisa, foi usado o mesmo perfil de cliente em todos os cenários.

EUA emitem US$ 2,3 trilhões desde 2008, mas bancos retêm 85%

EUA emitem US$ 2,3 trilhões desde 2008, mas bancos retêm 85%

Sílvio Guedes Crespo
Os Estados Unidos já injetaram US$ 2,3 trilhões no sistema financeiro desde 2008, o que equivale a tudo o que a população brasileira produz ao longo de um ano de trabalho. Mas 85% desse valor, ou US$ 1,9 trilhão, ficou retido com os bancos na forma de reservas  - ou seja, não está em circulação na economia.
Nos últimos cinco anos, o Federal Reserve (banco central americano) tem procurado estimular a atividade econômica mantendo uma taxa de juros baixa e também criando moeda a partir do nada.
Com dinheiro recém emitido, o Fed compra títulos no mercado para que os bancos se sintam seguros e percebam que, sempre que precisarem de liquidez (no caso, moeda), podem recorrer ao banco central.
Só que as instituições financeiras pegam esses dólares e deixam reservados em uma conta que eles mantêm no próprio Fed (leia entrevista ao final desde texto).
O gráfico abaixo dá uma ideia do que está acontecendo. A linha vermelha representa a base monetária dos EUA, que no conceito do Fed inclui todo o dinheiro em circulação no país mais as reservas dos bancos. A verde se refere apenas às reservas.
Ambas dispararam a partir de setembro de 2008, mês em que o banco Lehman Brothers quebrou e desencadeou a crise bancária americana. A linha verde praticamente acompanhou os movimentos da vermelha, o que significa que boa parte do dinheiro que foi injetado no sistema financeiro ficou guardada.
A linha azul representa a diferença entre a base monetária e as reservas dos bancos, ou seja, é uma forma de medir quanto dinheiro efetivamente entrou em circulação.
Esse indicador aumentou em US$ 341 bilhões desde 2007, mas repare que a linha azul já vinha subindo antes disso. A partir da crise, ela acentuou apenas ligeiramente a trajetória de alta. Não disparou, como ocorreu com as outras duas curvas.
A injeção trilionária de dólares na economia possibilitou, ou ao menos não impediu, que a quantidade de dinheiro em circulação continuasse avançando no mesmo ritmo que se encontrava antes da crise.
Conta corrente
Também se pode notar que a quantidade de dinheiro em depósitos à vista aumentou durante a crise. Não chegou a acompanhar a base monetária, mas subiu bem (195% desde 2007).
É possível que os americanos em geral estejam fazendo o mesmo que os bancos: sentando em cima do dinheiro, em vez de investir.
Não é atraente a ideia de comprar títulos do governo, porque o rendimento está praticamente zerado. Investir no setor privado pode trazer retorno melhor, mas é pode ser considerado arriscado demais enquanto não sabemos se a atual retomada econômica é para valer.
Crédito
Os bancos não aceleraram em nada o ritmo de concessão de crédito. É verdade que de 2007 a 2013 a quantidade de dinheiro que os americanos – pessoas e empresas – devem aos bancos subiu 25%, passando de US$ 33 trilhões para US$ 41 trilhões.
Mas antes da crise, ou seja, antes de o Fed iniciar seu programa de injeção de dinheiro, o crédito crescia a um ritmo muito maior. De 2001 a 2007, para pegar um intervalo de tempo equivalente em tamanho, a alta foi de 69%.
Ainda assim, sempre é possível argumentar – e possivelmente isso está certo – que se não fossem os estímulos do Fed o crédito teria crescido menos ou até se reduzido.
Se o crédito não está crescendo no mesmo ritmo que a emissão de moeda, a boa notícia é que os financiamentos às empresas estão subindo, enquanto aqueles direcionados para as famílias, têm caído.
Sinal de que a pequena parte que os bancos resolveram emprestar está indo para o setor produtivo, não para o consumo de uma população já endividada até o pescoço.
Entrevista
O economista Otto Nogami, professor do Insper, comenta o assunto na entrevista abaixo.
Sílvio Crespo: Por que o volume de reservas dos bancos aumentou tanto?
Otto Nogami: Grande parte do dinheiro injetado serve para reforçar a reserva bancária e reduzir o risco de liquidez [risco de não conseguir vender ativos na rapidez necessária, por exemplo por falta de moeda em circulação].
No Brasil, cada banco empresta um valor equivalente a oito ou nove vezes o seu patrimônio líquido. Nos EUA, essa proporção chegava até a 35 vezes em algumas instituições. Para minimizar o risco de o tomador de empréstimo não pagar, os bancos estão aumentando o volume de reservas.
SC: É um sinal de que os bancos ainda não estão confiantes na recuperação dos EUA?
ON: Sim. E não só os bancos, mas os americanos, em geral, ficaram mais comedidos depois da crise. Mesmo se o banco quiser emprestar, não encontra tomador. A preocupação maior do americano hoje é o emprego, não o consumo.
SC: Se a maior parte do dinheiro que o Fed injetou no sistema financeiro ficou guardada, de onde vem o “tsunami monetário”?
ON: À media que o governo americano mantém a taxa de juros baixa, dada a alta taxa de juros nossa, muitas vezes vale a pena, para o especulador estrangeiro, investir no mercado brasileiro ou de outros países emergentes. Isso criou um problema, porque valorizou as moedas locais.

Alta do juro faz títulos de renda fixa perderem até 25% no ano

Alta do juro faz títulos de renda fixa perderem até 25% no ano 

Sílvio Guedes Crespo
Para quem acha que investimento em renda fixa significa risco zero, aí vai uma informação importante: alguns títulos do Tesouro Direto acumulam uma perda de mais de 20% desde o início do ano.
Consequentemente, os fundos de renda fixa que têm esses papéis na carteira também tiveram queda expressiva em 2013 – mais de 10% em alguns casos.
Enquanto isso, o Ibovespa, indicador de referência da Bolsa de Valores de São Paulo, caiu 13% desde o início do ano até a última sexta-feira (4).
O principal motivo dessa perda, por contraditório que possa parecer, está nos recentes aumentos da taxa básica de juros, a Selic, que começou o ano em 7,25% e hoje atingiu 9,5%.
O primeiro gráfico mostra os títulos do Tesouro Direto com pior rentabilidade neste ano, que foram as Notas do Tesouro Nacional tipo B – papéis que rendem a inflação (medida pelo IPCA, o índice oficial) mais uma taxa prefixada.
O que teve o pior resultado, por exemplo, paga IPCA mais 5,75% ao ano. Os papéis que têm “Principal” no nome são aqueles que pagam os juros somente na data do vencimento; os demais oferecem remunerações a cada semestre.
O segundo gráfico, abaixo, apresenta os fundos de renda fixa que mais perderam em 2013, entre aqueles administrados pelos seis maiores bancos do país.
“A renda fixa pode ser tão variável quanto o mercado acionário. Tem gente que diz que você nunca perde, mas dependendo do momento em que você sair, pode perder mais do que na Bolsa”, afirma o economista Pedro Raffy Vartanian, professor da Universidade Presbiteriana Mackenzie.
No caso dessas perdas citadas nos gráficos, elas só valem para quem quiser vender os títulos agora. Se o investidor carregá-los até o vencimento, terá um rendimento positivo.
Também é preciso informar que nem todos os papéis do Tesouro Direto acumulam perdas em 2013. Os pós-fixados (cujo retorno só é conhecido na data de vencimento) tiveram alta, como as Letras Financeiras do Tesouro (LFT) para 2014, que renderam quase 6% (aqui, a rentabilidade de todos os títulos).
As LFTs acompanham a taxa Selic e por isso, as recentes elevações do juro básico beneficiaram esses papéis.
Entenda
Cada vez que o Banco Central aumenta a taxa básica de juros, o preço dos títulos prefixados cai. Isso acontece porque a Selic é uma das referências para o rendimento dos títulos públicos.
Quem comprou um título prefixado em janeiro, quando a Selic estava em 7,25% ao ano, não conseguirá vendê-lo hoje pelo mesmo preço que pagou, pois atualmente a taxa está em 9,5%. Se quiser se desfazer do papel, esse investidor terá que cobrar um preço baixo o suficiente para compensar essa diferença na taxa de juros.
Navegue pelas imagens abaixo para entender como funciona a marcação a mercado, nome dado a esse processo de ajuste diário dos preços dos títulos públicos, que pode fazer você ganhar ou perder dinheiro.
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Aplicação em renda fixa pode perder mais que Bolsa; entenda8 fotos

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Com juros de 10% ao ano, um título que paga R$ 1.000 na data de vencimento (daqui a três anos) é vendido hoje a R$ 751,31 Arte/UOL
Risco
Ainda se poderia argumentar que, para quem pensa em resgatar o título somente na data de vencimento, o Tesouro Direto não oferece um risco considerável.
Afinal, com ou sem essas oscilações no preço do papel, o investidor de longo prazo terá, na data de vencimento, o dinheiro que foi investido mais os juros prometidos. A chance de o governo dar um calote é mínima.
É verdade, mas ainda assim existe um risco. Por exemplo, e se você compra um papel prefixado de 20 anos e, quando for resgatar, a Selic estiver em 20%? Você terá deixado de ganhar muito dinheiro, ao comparar com as outras aplicações dos anos 2030.
Bom, então é melhor comprar títulos pós-fixados? Não necessariamente. E se a Selic cair para 1% em 20 anos? Quem previa, em 2003, que hoje essa taxa estaria em menos de 10%?
“O melhor a fazer [para quem reduzir os riscos] é diversificar misturando títulos prefixados com pós-fixados”, recomenda Vartanian. Dessa forma o investidor se protege de grandes variações na taxa de juros e obtém um rendimento intermediário.
* Atualizada a taxa básica de juros, anunciada pelo BC por volta das 20h. Título alterado (anterior: ‘Investimento em renda fixa perde até 25% no ano’.