domingo, 1 de dezembro de 2013

QUAD é quadrinho nacional de ficção científica com ar nostálgico

QUAD é quadrinho nacional de ficção científica com ar nostálgico 

Roberto Sadovski


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Vamos a um fato importante: as bancas e livrarias no Brasil nunca estiveram tão abarrotadas de histórias em quadrinhos. De lançamentos mega mainstream a apostas independentes. E não só mídia física. HQs digitais, gente nova experimentando novas mídias. Editoras tradicionais publicando gibis, criadores apostando na guerrilha, em crowd funding, em projetos coletivos. É uma época bacana. Ainda assim, eu sentia falta de gêneros. Boa parte dos gibis “de autor” nacionais querem ser um filme do Wes Anderson, usar camisa xadrez de flanela e deixar a barba por fazer. Não há nada de errado com isso, a não ser que “isso” seja a única oferta. Ainda bem que não é.
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QUAD é ficção científica. Ao passar os olhos pela antologia feita pelo quarteto Schaal, Sanches, Aluísio e Ferigato, a mente foi ao passado, numa época em que tramas fantásticas como Paralelas, de Watson Portela, encontravam espaço nas bancas do Brasil. Os artistas fizeram o caminho mais esperto e mais urgente: em vez de esperar pela boa vontade de editoras brasileiras a investir em material 100 por cento original, colocaram o bloco na rua, fizeram um crowd funding (quem colaborou ficou com um sketchbook lindão), criaram personagens bacanas e o resultado é um álbum belíssimo, que traz o ponto de partida de quatro tramas que podem, ou não, compartilhar um mesmo universo. E a idéia da ficção científica é bem essa. Criar um universo.
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“Terah & Elvis”, de Eduard Schaal, já abre QUAD com uma paulada. Estabelece este mundo futuro (uma terra aparentemente pós-apocalíptica, com tecnologia suja, mutantes, bots e aliens) em uma ambientação simples. A heroína, Terah, precisa se reconciliar cmo o passado e encara uma ameaça inusitada ao topar um trabalho simples. Bem delineada, a história já conta pontos por deixar a protagonista nas mãos de uma mulher sem nunca apelar para sexismo ou outras bobagens. “Esp-Trent”, de Aluísio Cervelle Santos, dá uma guinada cyberpunk com a aventura de um robô que tem como emprego caçar outras inteligências artificiais que violam as leis da robótica. “Muros”, de Diego Sanches, mira no quintal deste mundo, mostrando os “lixeiros” que preservam parte da cultura antiga da civilização, deixada à parte da classe trabalhadora – uma variação esperta de conceitos vistos em trabalhos comoMetrópolis e o recente ElysiumQUAD fecha com “Sally”, de Eduardo Ferigato, que mais se aproxima de uma ficção científica clássica, com um astronauta explorando mundos desconhecidos para atender um pedido de socorro, com um desfecho que mergulha no pessimismo de tramas clássicas como Planeta dos Macacos ou Druuna.
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Ou seja, a atmosfera é old school. Os conceitos, familiares, ajudam a mergulhar nas tramas com mais facilidade. Ninguém quer reinventar a roda, e sim usá-la com eficiência. É bem evidente que o quarteto de criadores absorveu o filé da ficção científica na cultura pop do século 20, e toda essa bagagem está refletida em cada uma das histórias. Estando as estrelas alinhadas, elas renderão mais e mais episódios. Isso, por sinal, é o aspecto mais legal deQUAD: não se trata de uma obra hermética, e a possibilidade de expansão é evidente. Principalmente se a idéia for usar os quadrinhos como ponto de partida para explorar outras mídias, como animação, web e até experiências live action. O Brasil anda carente de trabalhos de gênero, e uma iniciativa como essa merece atenção para que a cultura seja algo cada vez mais universal, sem a obrigação de “brasilizar” tudo que é produzido por aqui. O mundo de QUAD é aberto (e você pode conhecê-lo melhor aqui), assim como o mundo que hoje nos cerca. As fronteiras, como dizem, só existe em nossa imaginação.

governo zela por você!

 governo zela por você!


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A Anatel anunciou que a partir de sexta-feira passada os atuais 20% ficaram fora da lei. Agora os provedores de internet de “banda larga” terão de entregar “no mínimo” 30% da velocidade pela qual, desde sempre, nos cobram e, na média mensal, 70%.
E tem mais: para novembro de 2014 esses números serão reduzidos para um mínimo de 40% e uma média de 60%.
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Mantido o ritmo lá por 2020 estaremos empatando: elas vão nos entregar tudo por que pagamos estes anos todos.
A vantagem de se viver num país com “a legislação mais avançada do mundo” onde o governo realmente cuida da gente e tudo está garantido pela Constituição é que quando a lista dos nossos direitos cresce a ponto de esgotar a imaginação dos nossos benfeitores não tem problema. Eles a retomam do princípio, agora garantindo a entrega de parcelas dos direitos previamente adquiridos.
Não é o máximo?
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A arte de depenar o ganso

A arte de depenar o ganso

VESPEIRO
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Não foi pelo mérito, foi por “vício formal” ou, no caso, por “vício regimental”, como acontece com mais de 70% dos casos levados ao Judiciário.
À meia noite, fora da pauta, por 1 voto de um vereador especialmente fabricado para o golpe é demais! Não vale!
Foi esse o recado.
Uma a nosso favor, para variar…
Mas não quer dizer que essa alegria vá durar. Tudo que o Ministério Público, a entidade máxima de defesa dos interesses difusos dos cidadãos na nossa ordem institucional, pode fazer diante de um esbulho como é esse do aumento do IPTU em 35% por enquanto, e mais o que der na telha dos “nossos representantes” nos próximos 4 anos, é adiá-lo por algum tempo.
Revertê-lo não ha quem possa.
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A história vai começar de novo e é provável que haja, neste momento, gente “salivando” na Câmara Municipal porque, aumentado o desafio, aumentam as oportunidades de lucro.
A não ser que dê zebra. A não ser que o povo se anime como se animou na última vez que o Judiciário deu sinal de que era possível sonhar com mudanças e vá para a rua.
Difícil depois do celso de merdda…
Enfim, dentro da “normalidade”, é assim que funciona. Qualquer prefeitinho – e daí para cima – que acordar com essa boca, está feito: ele nos arranca exatamente quanto quiser e não ha força capaz de detê-lo se ele tiver constituído – por eleição ou por aquisição a preço módico, ainda que negociada à vista de todos – uma maioria no “seu” órgão legislativo.
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Levando-se em conta que todas as democracias conhecidas têm, no seu ato de fundação, uma revolução vitoriosa contra a prerrogativa do poderoso do momento de se apropriar do resultado do trabalho dos que têm de suar aqui embaixo para viver, está aí uma boa medida da nossa realidade institucional.
O Brasil ainda não fez a sua revolução fundadora. O único ensaio que houve por aqui, no gênero, foi o que nós perdemos: o do Tiradentes.
Do ponto de vista de nossa ordem institucional, rolamos, desde tempos imemoriais, como uma sucessão de mutações da nossa natureza essencial de monarquia absolutista. O truque é o de sempre. Seguimos dentro da receita criada por Colbert para Luís XIV: “A arte de depenar o ganso consiste em obter o maior numero de penas com o menor número de grasnidos”. Faltou dinheiro pra seguir com a festa? Basta o príncipe dividir os otários em dois grupos, cobrar o dobro do necessário de um e “nada” do outro e sair dizendo que isso não é roubo, é justiça.
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Outro componente essencial da receita de Colbert era cultivar a memória do povo segundo as conveniências de sua majestade. ”Vós sois historiógrafos do rei e pensionistas de Sua Majestade” lembrava ele aos professores de então; “deveis escrever a história como ele quer, e não como entendeis. Devo retirar-vos a vossa pensão”?
Se o príncipe tiver, portanto, tido o cuidado de manter a metade de baixo sempre no limiar da miséria absoluta e na mais santa ignorância, poderá contar sempre com uma reserva estratégica de memórias virgens para violentar.
Assim, quando o esbulho da vez tiver dado a volta no círculo e os produtos do comércio e da indústria, acrescidos do peso extra desses 35%, tiverem aprofundado um pouco mais a miséria deles, é para “a ganância” dos comerciantes e dos industriais que esses virgens de memória dirigirão a sua revolta … que o príncipe poderá, gostosamente, “justiçar” mais uma vez.
Enquanto o Estado eram “os outros“, o PT subia na vida bradando por aí que a solução para a miséria nacional era reforçar os direitos dos trabalhadores e dos cidadãos.
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Depois que o Estado passou a ser ele, fez as contas, dividiu o país entre pobres e ricos, negros e brancos, aniquilou a fonte legítima de intermediação de direitos e passou a se apresentar como o magnânimo provedor de dinheiro para uns e de  privilégios para os outros, enquanto trata de fazer o que essencialmente faz todo governo: “depenar o ganso“.
Desmoralizados pelo suborno e transformados em meros carimbadores de MPs, os Legislativos, mais que irrelevantes, tornarm-se desnecessários. Só tem de esperar que a lei da gravidade cumpra a sua função. Ou não. Pouco importa…
Como escreveu, certa vez, Demétrio Magnoli, “o PT transformou-se de partido político em organização de inteligência; tirou a política do espaço público e recriou-a no subterrâneo, como operação clandestina”, baseada na manipulação e na chantagem.
Na superfície,  mantém um país cada vez mais dividido e aprofunda sempre que pode essa fratura que só pode gerar, a cada volta do parafuso, “mais ressentimentos e mais preconceitos”.
Só a informação poderá derrota-lo.
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Foi “o Judiciário” ou foi Joaquim Barbosa?

Foi “o Judiciário” ou foi Joaquim Barbosa?
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Foi “o Judiciário” ou foi Joaquim Barbosa?
Isso teria acontecido sem ele?
O que vai ser do Supremo Tribunal Federal depois que a presidência sair das suas mãos e passar às de Ricardo Lewandowski? E depois de mais um mandato e novas nomeações de juízes pelo PT?
O que é que estamos vendo, afinal: Fênix ressurgindo das cinzas ou o último canto do cisne?
São as perguntas que suscita a “virada” de quarta-feira passada, obtida absolutamente “na raça” pelo ministro Joaquim Barbosa ao arrancar de seus pares, “na moral”, a titubeante “unanimidade” da Corte para a tese da antecipação do cumprimento das penas dos condenados do Mensalão antes da apreciação dos “embargos infringentes” sem a qual não teria restado nenhuma condição de sobrevivência para o Poder Judiciário e para a democracia brasileira.
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Cambaleante, sangrando da sucessão de punhaladas recebidas, é ela que se reergue, ao menos em potência para, no Dia da República, esfregar a bandeira da República na cara dos seus inimigos declarados.
Sim, vale a pena resistir!
Sim, cada homem faz diferença!
Sim, uma única e solitária vontade determinada pode mais do que um milhão de honras corrompidas!
Sim, ainda ha pelo que lutar!
Esta é a maneira otimista de encarar o que aconteceu na véspera deste feriado em Brasília.
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A realidade, porém, é sempre bem mais complexa que essas simplificações.
Todos os condenados menos quatro – um dos quais está foragido – saltaram pelo menos um degrau para baixo do limite do regime fechado no jogo de chicanas que uma Nação desiludida aprendeu que pode se dar também dentro do Supremo Tribunal Federal. E há, ainda, as reduções de penas até à sexta parte a que todos os condenados, é quase certo, farão jus.
Na dosimetria penal deste país, como no jogo de truco, nenhum número vale o que está escrito.
Mas isto sempre foi assim. Já estava lá antes. E o Brasil que caminha à beira do abismo bolivariano não está para luxos. O que resta daquelas penas é ainda o bastante para fazer com que, pela primeira vez em nossa história, corruptos do mais grosso calibre sejam constrangidos a exibir publicamente o seu fracasso.
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O problema”, costumava dizer Theodore Roosevelt tantas vezes citado aqui, “nao é haver corrupção. Ela é inerente à espécie humana. O problema é o corrupto poder exibir o seu sucesso, o que é subversivo”.
Nada tem mais força pedagógica e efeito profilático que a regular exibição pública do fracasso do corrupto flagrado como tal.
Mas cessa exatamente aí o que pode nos dar de graça o heroísmo de Joaquim Barbosa, mesmo com toda a carga simbólica que ele carrega, a  confirmar que o Brasil profundo é melhor que suas elites.
Nós estamos dando apenas o primeiro passo nessa direção a partir de uma realidade que, desde sempre, nos treinou a todos na direção contrária, o que nos põe diante de uma nova categoria de risco.
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O Brasil vive dentro de um ambiente institucional que é deliberadamente intransitável. Nossas instituições foram montadas – ou foram sendo amontoadas como são – para engendrar a corrupção e não para evitá-la. Terão de ser reformadas de alto a baixo para que possam se tornar operacionalmente respeitáveis (no sentido de poderem ser respeitadas).
Hoje não são.
Não se pode sobreviver na política dentro da regra estabelecida. Não se pode sobreviver na economia dentro da regra estabelecida. A condição de sobrevivência não é dada dentro do nosso cipoal regulatório. Tem de ser comprada.
Por isso não houve comemoração dessas prisões nem na oposição, nem em qualquer segmento do establishment.
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O próximo capítulo já está ha alguns meses no ar: a guerra de dossiêspara anular o handicap do partido no poder até a próxima eleição promete ir ao paroxismo, com o risco de destroçar irremediavelmente toda a classe política como aconteceu em processo extamente semelhante desencadeado pela Operação Mãos Limpas na Itália dos anos 90 que terminou com o poder sendo resgatado do chão por Silvio Berlusconi, a figura patética que domina o panorama político daquele país desde então.
Seja como for, de algum jeito nós tínhamos de iniciar o nosso caminho numa direção mais saudável do que vinhamos vindo.
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Mais uma vez, como vem acontecendo desde os primeiros passos da República e a cada encruzilhada porque ela passou, o Brasil chegou a uma síntese sobre aquilo que não quer mais, mas continua vago como sempre sobre aquilo que quer daqui por diante. Sabemos o que não mais nos representa; chegamos a identificar, até, alguns dos valores que as inovações institucionais produzem nas sociedades que as adotam – meritocracia, igualdade perante a lei, melhor distribuição de riqueza e justiça – mas nunca investimos no trabalho “chato” e meticuloso de reestruturar nossas instituições, detalhe por detalhe, para que produzam tais efeitos.
A História oferece, sim, cortes de caminho. Mas só para os humildes. Nós, latinos, porém, recusamos a solução asiática, que a cada dia se prova mais fulminantemente certeira, de partir para a cópia melhorada também e principalmente de sistemas institucionais mais avançados que os que já experimentamos. Insistimos em inventar a roda outra vez, sempre nos fingindo orgulhosos das dolorosas chagas que nos produz o esfalfante esfoço de arrastar pedra por pedra pelo mesmo velho chão de sempre.
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A arte da biografia não vivida

A arte da biografia não vivida

VESPEIRO
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Enquanto a minoria ilustrada, eleitoralmente insignificante, gasta o seu latim discutindo apaixonadamente o direito ou não de se publicar biografias não autorizadas, o PT trata de empurrar goela abaixo das massas as biografias nunca vividas que ele cria e recria “ao seu pesar ou seu contentamento” e impõe a todas as escolas do Brasil.
Não vou longe porque ao fim de 10 anos desse “esqueça o que eu escrevi”, “o que eu disse”, “o que eu fiz”, “o que eu acabei de dizer”, “o que eu acabei de fazer” em que não paramos mais de avançar, muito menos que meia palavra basta.
Fiquemos só com a última semana.
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Negar o crime e jurar inocência, vá lá. É proverbial. É o padrão, de Hollywood para cima. Agora, tentar transformar suborno, roubalheira e abuso de poder em atos de “heroísmo cívico”, péra lá!
Mas chocar não choca.
Desde que está pacificamente aceito e estabelecido que Dilma, Genoíno, Dirceu e cia. ltda. pegaram em armas “para lutar pela democracia brasileira” desde Cuba, que continua hoje como estava ha 56 anos, só que mais mansa, tudo mais que vier cola.
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O PT, por exemplo, “não privatiza” nem no minuto mesmo em que bate o martelo e sai pro abraço da maior venda de poços de petróleo do século. E o Mensalão, nem por ter, subitamente, se tornado heroico, deixou de nunca ter existido.
Brasileirices…
Agora vem essa segunda morte de João Goulart.
Não vou entrar no mérito sobre se foi envenenado ou não foi envenenado pois parece que isto ainda se vai aferir cientificamente se é que ainda não entramos no estágio da falsificação de cadáveres.
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Tentaram a mesma coisa com o JK, que nem era da tribo, e quanto pano pra manga rolou até que se confirmasse que o tiro dos “assassinos” na cabeça do motorista do ex-presidente não era senão o prego descuidado do coveiro mão-de-paca do cemitério São João Batista!
Pois o Getúlio Vargas, que saudava Hitler como “uma nova aurora para a humanidade” e nos legou o peleguismo fascista que Jango queria ver mandando na República não virou herói da esquerda brasileira?
Então quiéquitem querer fazer do vice do Jânio um fura-paredes que chegou “” nos ombros da classe operária e só saiu depois de muito resistir?
Como lembrou bem o Élio Gaspari neste fim-de-semana, a verdade verdadeira é que o Jango ouviu mais barulho com a salva de 21 tiros de canhão desta sua volta triunfal à Brasília petista do que os que foram disparados em todo o golpe militar que o pôs para correr antes da hora e mais os 21 anos inteiros da ditadura que se seguiu.
Coisa totalmente irrelevante, aliás. Porque aqui o que importa, cada vez mais, é só a versão.
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Ética para o juiz

Ética para o juiz

VESPEIRO
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Intervenção no 2o seminário “Ética para o juiz. Um olhar externo“ ocorrido na manhã de hoje na Escola Paulista da Magistratura
Antes de começar é melhor preveni-los sobre como ouvir o que tenho para dizer.
A minha trajetória pelo jornalismo se deu por aquela vertente que Raymond Aron definia como a de um “espectador engajado”.
Buscar a verdade com todo o empenho e a mais firme disposição de desconfiar de toda resposta fácil demais que subir à minha cabeça?
Ok. Isso é inegociável.
Mas fingir “neutralidade”, como está na moda hoje nas nossas escolas de jornalismo pra mim é só uma forma dissimulada de falta de isenção. Embaça muito mais do que esclarece.
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A chave para filtrar o que eu digo, portanto, é a seguinte:
A historia da construção da democracia tem sido o objeto do estudo de toda a minha vida. Desse esforço eu conclui que, entre todas as outras vertentes experimentadas pela humanidade, a democracia é o estágio moral e eticamente mais elevado que é possível alcançar na organização das relações humanas.
Democracia é o que eu quero para o meu país. Democracia é o que eu quero para os meus filhos. Portanto, a angulação do meu olhar para os acontecimentos do presente e toda a minha própria orientação ética está referida à contribuição que eu desejo dar para a construção da democracia no Brasil.
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Eu sei que há um psicanalista entre os convidados a falar para esta plateia. Vou tomar carona na especialidade dele.
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A ética relacionada a uma profissão é, sempre, um corolário da função. E a função se define ao longo da História. É uma cultura. E cultura é o que determina tudo que nós fazemos sem que tenhamos plena consciência disso.
Nesse sentido, uma cultura é quase um destino; uma fatalidade.
Mas o homem é o único animal capaz de mudar o seu próprio destino. E uma das maneiras de conseguir isso é com o recurso à psicanálise.
Eu gosto de dizer sempre que a História é a psicanálise das sociedades. Tanto individual quanto coletivamente nós só conquistamos a condição de alterar o nosso destino depois de entender claramente como foi que nos transformamos naquilo que somos.
A primeira coisa que constatei nesse meu mergulho na história da construção da democracia é que a estruturação de um determinado ordenamento jurídico é sempre o elemento fundador desse processo.
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É isto que me amarra a vocês. Jornalistas, juristas e democracias não podem viver uns sem os outros…
A segunda coisa que aprendi nestes 40 anos de observação direta e mais 140 anos de cultura familiar/profissional acumulada é que no campo das criações humanas não existem verdades absolutas nem fundamentos “científicos” imutáveis.
Não ha nada que esteja para as ciências humanas como a matemática, a geometria e as leis da física estão para as ciências exatas.
A gente trabalha para organizar as sociedades assim ou assado para um propósito. E tudo que nós temos para tentar atingir esse propósito são convenções apoiadas no máximo em hipóteses informadas.
A única medida possível da qualidade desses instrumentos, portanto, é o uso. O teste real da sua eficácia para a produção dos efeitos a que se propõem.
É por isso que o estudo das chamadas ciências sociais só traz proveitos concretos se for feito em bases comparativas.
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Só se pode andar para a frente, do ponto de vista institucional, medindo os resultados que cada sistema produz – os bons e os ruins – e relacionando esses resultados ao tipo de arranjo que os gerou.
Para esse efeito viver nesta nossa ilha cercada de língua portuguesa por todos os lados é um forte handicap negativo.
É impossível aprender democracia em português. Pelo simples fato de que nenhum povo que fala essa língua jamais experimentou uma.
Mas a língua não é o único obstáculo e nem, talvez, o principal. Os campeões desse tipo de estudo comparativo têm sido os franceses. Mas nem por isso eles são tão evoluídos assim do ponto de vista institucional.
Existem pelo menos mais duas barreiras importantes atrapalhando esse tipo de aprendizado.
A primeira decorre da lei universal do menor esforço que pode ser traduzida mais ou menos assim: o bicho homem vai viver da exploração do próximo sempre que isto lhe for permitido, e vai lutar com unhas e dentes antes de concordar em trocar essa condição pelo esforço pessoal e pelo mérito.
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A segunda, não menos formidável que a primeira, é a barreira do orgulho que, em geral, se apoia na ignorância.
O surgimento de um francês intelectualmente humilde é um dos eventos mais raros da natureza. Mas de vez em quando acontece.
Três deles se destacaram nos estudos comparativos das duas grandes linhas de construção de instituições da era moderna: Voltaire, com as suasCartas de Inglaterra, Tocqueville, com A Democracia na América, e o menos conhecido mas talvez o mais importante deles, especialmente para esta plateia, Henri Levy-Ullman, com o seu Le Systéme Juridique de l’Angleterre.
Depois deles é impossível dizer qualquer coisa de  novo a respeito da alternativa entre as duas linhas básicas de arquitetura institucional que, apesar das variações de grau e de estilo, segue até hoje sendo a única à disposição da humanidade.
O que me resta, portanto, é só repassar os pontos principais.
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Vamos a eles.
O Poder Judiciário nasce para atender a necessidade das sociedades humanas de dispor de um método pacífico de resolver controvérsias.
Historicamente falando, só existem duas maneiras de fazer isso:
  • pedindo proteção a um poder estabelecido capaz de se impor pela força em troca de vassalagem ou
  • atrelando o senso inato de justiça do homem, depurado pela prática da sua aplicação ao longo do tempo, à reconstituição da verdade dos fatos segundo regras precisas de aferição do equilíbrio entre as versões em conflito de modo a, no final, atribuir a cada um aquilo que os fatos provarem ser de cada um.
Toda a parcela da humanidade que superou o estado feral e, depois dele, a fase mágica, trilhou esse mesmo caminho pelo menos enquanto pôde.
turning point que bifurcou o mundo ocidental – e atrás dele o resto da humanidade – nas sendas do autoritarismo ou da democracia é Bolonha: o momento em que a Europa Continental é forçada a se desligar do esforço, até então comum a toda a comunidade europeia, de interrogar a natureza e a História para estruturar, de baixo para cima, um ordenamento jurídico baseado na tradição para atender à necessidade de proteger o mais fraco do mais forte e os súditos dos reis e dos barões.
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É a partir de Bolonha que esses europeus são constrangidos a regredir, pela força das armas dos que sabiam que seus privilégios não sobreviveriam à nova ordem que se ia esboçando em função dessa busca, para um ordenamento jurídico estruturado em cima de uma falsificação do Direito Romano especialmente desenhada para restabelecer a situação anterior e perpetuá-los no poder.
Naquela altura, só houve uma exceção.
O meu herói predileto chama-se Edward Coke. Ele era o juiz supremo da Inglaterra quando o primeiro Stuart subiu ao trono. Em 1605, cara a cara com James I que reivindicava os mesmos poderes absolutos dos seus pares do continente, ele declara o rei “under god and under the law”.
O “under the law” significa, literalmente, que sua majestade é “igual a todos nós” em direitos e em deveres. E, portanto, daí para baixo, todo mundo.
O “under god” significa, literalmente, que também o rei está submetido à verdade dos fatos e não tem mais a prerrogativa de troce-los como melhor lhe convier.
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As repercussões desse ato de coragem foram muito maiores do que qualquer coisa com que Coke pudesse ter sonhado.
Enviado o sinal para a sociedade de que fazia sentido resistir, o Parlamento tomou a bandeira que o Judiciário lhe passou e o resto é história.
Com o menor preço em sangue jamais pago por qualquer comunidade humana por mudanças tão profundas nas relações de poder o povo da Inglaterra, antes do ultimo quartil daquele século, já tinha, sobre o seu próprio destino, as mesmas condições de controle que continua tendo até hoje.
Mas não foi só isso.
Ao tirar o pressuposto da frente do fato e o dogma da frente da experimentação, Coke não estava apenas cravando no chão a primeira baliza sólida a partir da qual a democracia pôde iniciar a sua terceira tentativa de caminhar sobre a Terra.
Ele estava abrindo o caminho para o surgimento da ciência moderna.
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A semente  plantada por ele, fertilizada pela visão newtoniana da ordem cósmica, evoluiu para o sistema de pesos e contrapesos que os iluministas americanos costuraram com toda a minúcia para não deixar nas mãos de ninguém poder demais e para fazer o funcionamento do sistema depender de todos e de cada um dos cidadãos.
Foi o momento mais brilhante da humanidade.
Desde então a democracia e a inovação, que é o único antídoto seguro contra a doença política da miséria, andam juntas.
Uma depende da outra.
Mas, e nós?
Nós … não estávamos lá. Nós somos filhos da outra corrente.
O direito português é a última cópia das cópias da falsificação de Bolonha. E o direito brasileiro é o filho temporão do direito português.
Desde então tem havido tentativas de correção de rumo. Mas é sempre remar contra a corrente. Passados quase 800 anos desde Bolonha cá estamos nós, mais uma vez, sob a ameaça real de ficarmos reduzidos a um único poder absoluto que usa a corrupção como uma arma de conquista.
O Legislativo corre o sério risco de se afogar na lama.
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No Poder Judiciário o panorama também não é animador.
Nós temos 5 justiças e nenhuma definição clara de competências, embora vivamos todos sob uma única salada de leis.
Os juízes e os funcionários do Judiciário são nomeados pelos donos do poder que eles têm por função cercear.
Eu gastaria mais que a meia hora de que disponho somente para enumerar quem julga quem em quais circunstâncias, dentro dos 4 poderes (estou incluindo a imprensa), tantos são os “foros especiais”.
Daí para baixo, na escala social, sempre segundo o poder de cada corporação de afetar a vida alheia, todos e cada um têm tantos “direitos especiais” que é difícil saber se há mais brasileiros hoje sob regimes de exceção ou submetidos à regra geral.
E isso lembrando que os conceitos de “direito” e de “especial” são mutuamente excludentes num contexto democrático.
ju7
Para desfrutar do poder de distribuir e garantir tais benesses; para se apropriar desse “toque de Midas”; pode-se entrar no Judiciário pela porta da frente, pela porta dos fundos ou até semiclandestinamente, pelas janelas do chamado Quinto Constitucional.
Uma vez lá dentro, são dois anos e o sujeito sabe que ninguém mais tira ele de lá.
Removida do horizonte a ameaça da sanção contra a falta de merecimento pelo empenho que é o que move o mundo aqui fora, o resto é consequência.
Daí pra frente o que vale para a progressão na carreira jurídica, como nas demais carreiras públicas, são as relações de cumplicidade. O sangue fresco que entra no sistema fica obrigado a se comprometer com o sangue contaminado para subir hierarquia acima.
O processo judicial deixou de ser um meio para se transformar num fim em si. Mais de 70% dos que correm nestas terras não têm uma solução de mérito.
São tantos os furos na peneira dos recursos que o processo só termina se e quando o próprio condenado se declarar de acordo com a sua condenação.
Ou seja, não termina nunca.
ju7
Qualquer querela que bata numa corte – e tudo, neste país, tem de passar obrigatoriamente por elas – levará mais tempo, em geral para não ser resolvida, do que a última Guerra Mundial.
E por aí vai o nosso labirinto.
O resultado é que nós não somos mais um povo. É impossível criar laços de solidariedade até dentro de cada classe social. Nós somos uma multidão de grupinhos que vagam numa penumbra onde é difícil discernir qualquer limite do que quer que seja, cada um aferrado “ao seu”, sendo este “seu” garantido, à custa do próximo, por um padrinho que morde a melhor parte a cada vez que repete o truque de tirar alguma coisa que ele não produziu do bolso de alguém para depositá-la no bolso de outrém.
Vamos falar de ética?
Mas é possível discutir ética dentro de um sistema tão torto? Dá pra transitar dentro dele em linha reta?
Há muitos que tentam. Mas é uma luta perdida…
Portanto, senhores, a charada que, ou nós deciframos já, ou nos devora a todos é:
Como reconstruir essa máquina em pleno voo, sem que o avião caia”?
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O desafio é bravo!
Mas eu afirmo que isso é possível desde que a gente decida de que lado quer ficar.
Apesar de todas as travas e tortuosidades do sistema ele ainda está assentado no consentimento.
Se um número suficiente de nós não consentir mais isso não continua. E então os caminhos começam a se abrir como que por encanto.
Mas para que o processo se inicie é preciso uma sinalização forte. E esta sinalização tem de sair daqui.
Junho, filho das condenações do Mensalão, foi um ensaio dessa verdade que chegou a colocar o Sistema em pânico. Provou que nem ele é, nem ele se sente indestrutível. Ao contrário. É mais frágil do que se poderia pensar até então.
Mas depois foi o que foi…
Para que essa possibilidade volte a existir é preciso, antes de mais nada, que nós paremos de pensar no ritmo do nosso tempo vital e comecemos a pensar no ritmo do tempo histórico.
É só pensarmos menos em nós mesmos e mais nos nossos filhos que as respostas certas começam a se insinuar.
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Esse mesmo tipo de exercício projetado numa distância um pouco maior vai lhe dizer que você, afinal de contas, não está preso a essa herança negativa por compromisso nenhum que você mesmo tenha assumido; você é só mais uma vítima dela.
Mas, e daí? Quais são as medidas práticas? Os passos concretos possíveis?
Tem vários jeitos de abordar esse problema.
As culturas asiáticas, por exemplo, vêm agindo darwinianamente. Como é de sobrevivência que se trata, elas seguem sem pestanejar pelo caminho mais curto e mais eficiente.
Seja quem for que o tenha descoberto primeiro eles partem retos para a cópia melhorada; para as instituições híbridas do produto nacional com o produto estrangeiro cuidando de selecionar as características positivas de cada um a serem preservadas.
E têm colhido resultados fulgurantes com isso!
ju7
Já nós, latinos, somos mais complicados. Os católicos mais que os outros.
Nós vivemos confortavelmente demais dentro da mentira”, dizia Octavio Paz.
Um bom expediente, portanto, seria começar por um esforço de limpeza do entulho retórico com que insistimos em soterrar as verdades que já não adianta esconder porque todo mundo conhece, e passar a chamar as coisas pelos nomes certos.
Justiça garantista”? “Ideologias”? “ismos”?
Façam-me o favor, senhores juristas, senhores jornalistas! Sigam o dinheiro que as palavras certas vão colar por si mesmas nos fatos certos para produzir descrições honestas do que é que realmente nos aflige.
Parece nada mas é um exercício de condicionamento psicológico que tem um efeito muito mais poderoso para desencadear reformas do que parece à primeira vista.
Depois é só ir trabalhando os vetores básicos dos vícios do sistema para que as coisas comecem a se arrumar.
ju7
Eu sei que não existem panaceias e nem ha sistemas perfeitos no mundo. Mas o mundo está andando rápido demais e nós ainda estamos tão longe do “ruim” dos melhores que é suicídio deixar como está.
É preciso inverter as cadeias de cumplicidade; mudar os sistemas de nomeação; substituir nomeações por eleições de funcionários públicos; limpar o sangue do sistema do veneno da estabilidade no emprego a qualquer preço; atrelar as carreiras públicas ao mérito…
Aqui fora tudo já funciona assim. Mas como forçar quem manda lá dentro a fazer o mesmo?
Instituir o voto distrital com recall que arma a mão do eleitor e muda a iniciativa da pauta política e legislativa da Nação das mãos de quem não quer para as de quem necessita desesperadamente de reformas seria um excelente começo.
A bola que esse instrumento põe em movimento não para nunca mais de rolar. E sempre na direção que a gente quer. Os exemplos concretos estão aí para serem conferidos.
Enfim, senhores: o que tem faltado não são remédios, é a vontade de toma-los.
O consolo é que, enquanto ela permanecer aberta dependendo do voto, por mais capenga que ela seja a política funciona assim:
SE A GENTE ACREDITAR A GENTE VENCE!
ju7

Ser ou não ser (uma meritocracia)

Ser ou não ser (uma meritocracia)

VESPEIRO
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Rose Neubauer, que é professora aposentada e foi Secretária de Educação de Mário Covas, escreveu um artigo neste domingo para aFolha.
Culpar a vítima é escapismo”, clamava ela contra a decisão do governo de voltar a reprovar os alunos da escola pública que não passam de ano (aqui) como querem, antes de todos os outros lúcidos, os próprios pais desses alunos.
Em poucas palavras, o que Rose Neubauer advoga é que a solução para a qualidade miserável do ensino público brasileiro não é passar a reprovar os professores que não se mostrarem à altura da sua tarefa de modo a dar-lhes um incentivo real para se empenhar em melhorar, mas sim estender aos alunos as mesmas “estabilidade no curso” e “progressão na carreira por tempo de serviço” de que eles desfrutam no seu emprego público.
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É exatamente a mesma lógica que leva às “cotas” nas universidades para alunos de escolas públicas e outras “minorias”, em vez de melhorar a qualidade do ensino que os coloca em desvantagem; ou à política de esvaziar nossas prisões “desumanas” devolvendo bandidos às ruas em vez de elevá-las a uma condição humana, privilégio que fica reservado só para os criminosos “especiais”.
Como professora aposentada e portanto sujeita ao “quiéquiéisso companheira”! de uma das categorias mais organizadas e aguerridas no seu modo de reivindicar, Rose faz uma verdadeira ginástica mental em seu artigo para evitar tocar na questão essencial que explica não apenas a tragédia do ensino público como também a de todo o serviço público que o trabalhador brasileiro carrega nas costas.
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Como a indemissibilidade do professor é intocável, a culpa pelo que disso resulta tem sempre de ser “dos outros”:  do governo do outro, da sociedade, da “zelite” ou do imperialismo, conforme a circunstância ou o grau do “esquerdismo” – mais primário ou mais ilustrado – do  proponente.
Acontece que só uma coisa diferencia, nos dias que correm, os países de ponta dos países da periferia, passando por todos os que estão no meio: o grau de adesão à meritocracia do seu sistema político.
Ser “de esquerda” depois da Queda do Muro, da ascensão da gangstocracia na Rússia, do Capitalismo de Estado chinês e do abraço de Lula em Collor e Maluf, aliás, resume-se a isso: os dispensados da meritocracia negarem a meritocracia para poderem continuar sendo dispensados da meritocracia.
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Como os gangstocratas russos, os capitalistas de estado chineses e os integrantes dos nossos 32 partidos “de esquerda” têm em comum o fato de estarem dispensados da meritocracia e viverem todos dos impostos que cobram dos que estão submetidos a ela aqui fora, as variações na repetição desse mesmo cantochão, fora a língua em que é expresso, são só de grau e de estilo.
Não são diferenças irrelevantes posto que podem configurar quadros que vão desde a exploração branda até à escravização aberta e ao crime. Mas os que estão aquém da meritocracia jamais vão pisar o mesmo chão das conquistas de quem está além da meritocracia.
É ela o divisor de águas.
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No Brasil, tanto os partidos que têm origem nas universidades públicas quanto os que têm origem nos sindicatos pagos pelo Estado estão geneticamente comprometidos com a estabilidade no emprego do funcionalismo ou, na melhor hipótese, com uma meritocracia “sem dentes” que é aquela que até premia mas não pune.
No meio estão só os comedores de restos.
Por isso tudo que lhes resta nas disputas eleitorais é atirar dossiês uns contra os outros para mostrar quem abusa mais da sua condição de parasita do alheio.
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Não é atoa que a última pesquisa eleitoral publicada continha um dado aparentemente enigmático: embora 62% da população aqui de fora (a dos submetidos à meritocracia) declare que quer que “tudo mude”, Dilma continua “ganhando a eleição” (se fosse hoje) tanto de Serra quanto de Marina Silva, que mais ou menos se equivalem quanto à força eleitoral. Com Aécio ficaria mais fácil.
É o eleitor brasileiro, na sua fina sensibilidade, ainda que inarticulada como não poderia deixar de ser num país com a qualidade da educação que o nosso tem, dizendo a mesma coisa que se ouviu nas ruas de todo o país nas manifestações de junho: que não gosta disso que está aí, adoraria ouvir algo diferente, mas não identifica diferenças concretas nas propostas dos atuais candidatos.
E não as identifica porque elas não existem.
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