quinta-feira, 25 de julho de 2013

Os problemas da adaptação ao verão, por Ana Carolina Peliz


O verão finalmente chegou a Paris, com temperaturas que ultrapassam os 30 graus. Isso poderia ser uma boa notícia se a França não fosse um país despreparado para o calor. Os franceses têm tão pouca intimidade com as altas temperaturas, que a maioria deles não sabe como agir quando o termômetro ultrapassa os 25 graus, fato que acontece raramente.
Enquanto em outros países do mundo, nesta época do ano bares e cafés vendem uma variedade de frappés, chás e bebidas frias, aqui o conceito “gelado” não existe. Apesar de usarem o aquecimento durante quase o ano inteiro, a maioria dos franceses abomina o ar condicionado e o responsabiliza por todos os males da humanidade. Alguns se permitem utilizar um ventilador, mas somente durante a noite.
Além disso existem vários comportamentos que fazem parte de um senso comum ancestral, que persistem atualmente. Por exemplo, muitas pessoas acham que as portas e janelas devem ficar fechadas para o calor não entrar.
Claro que fechar as persianas pode ajudar a baixar a temperatura de um cômodo amplo. Mas um apartamento de 50 metros quadrados, com janelas herméticas, recebendo sol o dia todo ou escritórios acarpetados com computadores ligados se transformam rapidamente em verdadeiras estufas.

Foto: Bertrand Guay / AFP

Outra lenda que persiste é que é necessário se cobrir para se proteger do calor. Para os tuaregues do deserto, que se cobrem com roupas de linho para se proteger do sol, isso funciona. A versão parisiense destes povos nômades do norte da África, se cobre com camisetas, calças, meias e jaquetas.
Almoçar sob o sol do meio dia, correr e fazer esportes às três da tarde durante o verão também são atividades que parecem normais para um francês médio. Por isso, cada ano, o Estado francês lança um plano “canicule” para alertar as pessoas sobre os perigos das ondas de calor e informar sobre atitudes que parecem tão simples, como ingerir líquidos e evitar o sol nas horas mais quentes do dia.
Eu estou convencida de que na canícula de 2003 – uma das maiores da história da Europa, que custou a vida de 15 mil pessoas, somente na França –, as mortes foram causadas por estes comportamentos de alto risco e pela dificuldade de adaptação às mudanças de temperatura. Parece estranho, mas na verdade a relação que grande parte dos franceses tem com o calor não é muito diferente da que temos com o frio.

Ana Carolina Peliz é jornalista, mora em Paris há cinco anos onde faz um doutorado em Ciências da Informação e da Comunicação na Universidade Sorbonne Paris IV. Ela escreve aqui todas as quintas-feiras.

PT dividido dificulta reeleição, por Murillo de Aragão

Enviado por Murillo de Aragão - 
POLÍTICA


A reunião do Diretório Nacional do PT, ocorrida no último sábado (20), em Brasília, deu sinais que o partido vive seu pior momento desde a crise do mensalão, em 2005. Os problemas começaram a ser evidenciados na semana passada, quando deputados federais do partido divergiram publicamente no tema da reforma política.
O pano de fundo foi uma disputa entre Cândido Vaccarezza (PT-SP) e Henrique Fontana (PT-RS). Mas os desentendimentos ultrapassam a questão Vacarezza.
Relator da proposta de reforma política na comissão especial que tratou do tema, Fontana foi o indicado pelo PT para coordenar o grupo criado na semana passada. O nome de Cândido Vaccarezza, indicado pelo presidente da Câmara, Henrique Eduardo Alves (PMDB-RN), e pelos demais partidos da base, acabou prevalecendo.
Diante do problema que o episódio criou na bancada do PT, Henrique Alves decidiu que os petistas indicariam dois nomes (o coordenador do grupo, Vaccarezza, e Fontana, indicado pela bancada do partido). Insatisfeito com a derrota sofrida, Fontana desistiu de integrar o grupo de trabalho. Em seu lugar, o PT indicou o deputado Ricardo Berzoini (SP) para representar o partido.
A disputa entre Vaccarezza x Fontana pelo comando do grupo de trabalho da reforma política evidenciou um racha na bancada petista da Câmara. O clima no PT ficou pior depois que Vaccarezza declarou, na semana passada, que não seria aprovado nenhuma proposta para as eleições de 2014.

Cândido Vaccarezza (PT-SP) e Henrique Fontana (PT-RS).


Como a presidente Dilma deseja realizar um plebiscito para valer no próximo ano, a manifestação de Vaccarezza irritou o Palácio do Planalto e parte da bancada do PT na Câmara.
Logo após a manifestação de Vaccarezza, o líder do PT na Câmara, José Guimarães (CE), emitiu uma nota, respaldada por 40 dos 89 deputados petistas, dizendo que a posição de Vaccarezza não é a do PT e que o partido continua defendendo o plebiscito para reforma política com validade para as eleições de 2014.
A insatisfação existente no PT, sobretudo na Câmara, após a escolha de Vaccarezza para coordenar o grupo de trabalho da reforma política, foi ampliada na sexta-feira passada (19) depois que a presidente Dilma Rousseff desistiu de comparecer à reunião do Diretório Nacional do partido, ocorrida no sábado (20).

A decisão de Dilma deixou lideranças do PT irritadas, principalmente porque o partido pretendia dar uma demonstração de unidade em meio a conjuntura adversa ao governo.

Fuga para adiante, por José Serra

POLÍTICA


José Serra
A reunião deste fim de semana do diretório nacional do Partido dos Trabalhadores trouxe um fato inédito . A rotina desses encontros é culpar a oposição por todas as mazelas do país, como se os petistas não mandassem no seu próprio governo. Mas desta vez foi diferente.
Ao analisar o quadro político e as dificuldades da administração Dilma Rousseff - mais evidentes após as grandes manifestações de junho e a queda livre nas pesquisas - o PT pôs a culpa não na oposição, mas nos aliados!
Assim, os males do Brasil seriam devidos ao fato de os petistas não conseguirem governar sozinhos, sendo obrigados a composições com os “conservadores”, santo eufemismo. Tais alianças estariam a impedir os avanços que o governo tanto deseja realizar.
Será? O PT já domina completamente o Executivo em Brasília: Presidência, Casa Civil, Fazenda, Planejamento, Saúde, Educação, Justiça, todos os principais órgãos e ministérios são controlados pelo partido. Além das pastas responsáveis pelos temas que fizeram as ruas explodir de insatisfação, estão nas mãos deles todas as estatais relevantes.
Proveitoso seria, hoje, que fizessem autocrítica, e perguntassem “onde foi que nós erramos?" Mas essa atitude não combina com o DNA autoritário, de quem se julga portador de uma verdade histórica tão inquestionável quanto o teorema de Pitágoras.
Um exemplo de autocrítica possível seria o da forma perversa das alianças: baseadas não em programas mas sim no rateio dos benefícios do poder.
Assim, somos obrigados a assistir o filme da fuga para adiante - "fuite en avant", para lembrar a expressão de Ignacy Sachs. Ou seja, após três mandatos, o PT pede mais para ele mesmo, demanda o poder absoluto para fazer o que não conseguiu realizar em mais de uma década de hegemonia.
Eis a origem do tal plebiscito sobre reforma política. O objetivo é um só: como não consegue passar de 20% nos votos para o Legislativo, o PT quer mudar as regras para que a minoria nas urnas se transforme em maioria no Congresso, minimizando a necessidade de aliar-se a outros partidos. Por isso defende a lista fechada para a eleição de deputados e o financiamento exclusivamente público das campanhas eleitorais.
O PT tem cerca de 20% da preferencia popular. Como a maioria do eleitorado não se identifica com nenhum partido, se o voto for na lista partidária e não em candidatos, acreditam poder transformar os 20% nas urnas em pelo menos 40% do Congresso.

O peso do petróleo, por Míriam Leitão

ECONOMIA


Míriam Leitão, O Globo
Há mais um parafuso se soltando na economia brasileira: o do balanço de pagamentos. A situação hoje é diferente das crises do passado, mas o déficit em conta corrente aumentou rápido demais, não é mais coberto peloinvestimento produtivo e, além disso, a deterioração da balança comercial foi forte. Só o rombo da conta de petróleo, gás e combustíveis foi, no primeiro semestre, de US$ 15,8 bilhões.
O déficit em conta corrente chegou a 3,82% do PIB no primeiro semestre, ou US$ 43 bi, um aumento de 72% em relação ao mesmo período do ano passado. No passado, quando uma coisa assim acontecia, o país temia crises cambiais. A situação atual é diferente, mas não significa que não há riscos.
A grande mudança agora é que o Banco Central tem US$ 370 bilhões de reservas e nosso câmbio é flutuante, ou seja, consegue absorver choques. O problema, explica o economista Armando Castelar, do Ibre/FGV, é que o déficit em conta corrente está muito alto para um nível de atividade fraco e pode impedir que se tenha uma retomada mais forte, puxada pelos investimentos.
— Há 10 anos não víamos um quadro desse tipo. O balanço de pagamentos agora voltará a ser foco de monitoramento e isso tem reflexo sobre a confiança que se tem na economia. Nossa taxa de poupança é baixa, assim como a taxa de investimento. Se o PIB voltar a crescer mais forte, puxado por investimentos, o déficit na conta corrente vai subir — afirmou Castelar.
Chama atenção a velocidade com que esse quadro se inverteu. No primeiro semestre de 2012, o déficit em conta corrente foi de 2,28% do PIB. No primeiro semestre deste ano, foi de 3,8%. Já o Investimento Estrangeiro Direto (IED), na mesma comparação, caiu de 2,69% para 2,64%.
A queda é pequena, mas já não cobre o déficit da conta corrente. A previsão para o ano de 2013 como um todo, segundo a consultoria Rosemberg & Associados, é de que a conta corrente termine com déficit de 3,57% do PIB e o Investimento Estrangeiro Direto fique em 2,66% do PIB.

CIDADANIA



Por Rosinêide Rezende
O termo cidadania tem origem etimológica no latimcivitas, que significa "cidade". Estabelece um estatuto de pertencimento de um indivíduo a uma comunidade politicamente articulada – um país – e que lhe atribui um conjunto de direitos e obrigações, sob vigência de uma constituição. Ao contrário dos direitos humanos – que tendem à universalidade dos direitos do ser humano na sua dignidade –, a cidadania moderna, embora influenciada por aquelas concepções mais antigas, possui um caráter próprio e possui duas categorias: formal e substantiva.
A história da cidadania confunde-se em muito com a história das lutas pelos direitos humanos. A cidadania esteve e está em permanente construção; é um referencial de conquista da humanidade, através daqueles que sempre lutam por mais direitos, maior liberdade, melhores garantias individuais e coletivas, e não se conformam frente às dominações arrogantes, seja do próprio Estado ou de outras instituições ou pessoas que não desistem de privilégios, de opressão e de injustiças contra uma maioria desassistida e que não se consegue fazer ouvir, exatamente por que se lhe nega a cidadania plena cuja conquista, ainda que tardia, não será obstada. Ser cidadão é ter consciência de que é sujeito de direitos. Direitos à vida, à liberdade, à propriedade, à igualdade, enfim, direitos civis, políticos e sociais. Mas este é um dos lados da moeda. Cidadania pressupõe também deveres. O cidadão tem de ser cônscio das suas responsabilidades enquanto parte integrante de um grande e complexo organismo que é a coletividade, a nação, o Estado, para cujo bom funcionamento todos têm de dar sua parcela de contribuição. Somente assim se chega ao objetivo final, coletivo: a justiça em seu sentido mais amplo, ou seja, o bem comum.
Na Grécia de Platão e Aristóteles, eram considerados cidadãos todos aqueles que estivessem em condições de opinar sobre os rumos da sociedade. Entre tais condições, estava a de que fosse um homem totalmente livre, isto é, não tivesse a necessidade de trabalhar para sobreviver, uma vez que o envolvimento nos negócios públicos exigia dedicação integral.  Portanto, era pequeno o número de cidadãos, que excluíam além dos homens ocupados (comerciantes, artesãos), as mulheres, os escravos e os estrangeiros. Praticamente apenas os proprietários de terras eram livres para ter o direito de decidir sobre o governo. A cidadania grega era compreendida apenas por direitos políticos, identificados com a participação nas decisões sobre a coletividade.
  A história da cidadania mostra bem como esse valor encontra-se em permanente construção. A cidadania constrói-se e conquista-se. É objetivo perseguido por aqueles que anseiam por liberdade, mais direitos, melhores garantias individuais e coletivas frente ao poder e a arrogância do Estado. A sociedade ocidental nos últimos séculos andou a passos largos no sentido das conquistas de direitos de que hoje as gerações do presente desfrutam.
O exercício da cidadania plena pressupõe ter direitos civis, políticos e sociais e estes, se já presentes, são fruto de um longo processo histórico que demandou lágrimas, sangue e sonhos daqueles que ficaram pelo caminho, mas não tombados, e sim, conhecidos ou anônimos no tempo, vivos no presente  de  cada  cidadão  do  mundo,  através  do  seu “ir e vir”, do seu livre arbítrio e de todas as conquistas que, embora incipientes, abrem caminhos para se chegar a uma humanidade mais decente, livre e justa a cada dia.
O termo cidadania parece ter caído nas graças daqueles que têm na comunicação o instrumento de trabalho, como políticos, dirigentes, comunicadores, sociólogos e outros profissionais que, de alguma forma, interagem no meio social. Em seu ensaio a Veja, edição de 22/10/03, Roberto Pompeu de Toledo, ao fazer uma crítica ao comportamento do brasileiro, quando este se julga “estar por cima” e usa da impontualidade como meio de dominação, refere-se à pontualidade como expressão de igualitarismo. E acrescenta: “É, para usar detestável palavrão em voga, uma manifestação de ‘cidadania’. Na pontualidade, duas pessoas chegam junto.”. Considerada palavra “gasta”, ou não, o fato é que a cidadania é parâmetro balizador da história do homem enquanto ser social. Mesmo que, inconscientemente, o homem, na sua caminhada ao longo da História, sempre manteve a cidadania como questão central das suas lutas, como se verifica ao se recuar nos primórdios da humanidade.
Portanto, cidadania se expressa em cada movimento do cidadão em uma comunidade com o todo. Exercer seus direitos de cidadania também implica em obedecer às leis e as normas. O conceito de cidadania é muito amplo, mas pode-se resumir em ter direitos e deveres.





Justificativa de Barbosa para “desfeita” a Dilma, não cola



O presidente do STF, Joaquim Barbosa, alega ter ficado “surpreso” com o que foi visto por uma imensidão de internautas como um gesto de descortesia de sua parte para com a presidente DIlma Rousseff durante a cerimônia de boas-vindas ao papa Francisco, no Palácio da Guanabara, no Rio de Janeiro, no domingo (21).
Segundo a nota oficial emitida pela assessoria de Barbosa, ele não ignorou a presidente da República. Como a cena em que ela abre um largo sorriso para ele durante longos segundos sem que ele lhe dê bola foi captada de um ângulo em que ele estava de costas, sua argumentação é a de que retribuiu à presidente do Poder Executivo com um “discreto sorriso”.
Leia, abaixo, a íntegra da nota.
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Causou grande surpresa ao presidente do Supremo Tribunal Federal, ministro Joaquim Barbosa, a divulgação de suposta descortesia dele com a presidente da República, Dilma Rousseff, por ocasião da cerimônia com o papa Francisco no Palácio Guanabara, sede do governo do Estado do Rio de Janeiro. Com base em imagens de TV captadas a partir de determinado ângulo, foram criadas versões sobre o comportamento do ministro que não encontram amparo na realidade. O Ministro repudia interpretação de que teria sido deselegante com a Presidente e ratifica seu respeito pelos Poderes constituídos.
Na condição de presidente do STF, o ministro Joaquim Barbosa tem mantido relacionamento institucional de alto nível com a presidente Dilma. Em um espaço de dois meses, foram realizadas duas audiências no Palácio do Planalto, sendo a primeira convocada pela Presidente da República e a segunda solicitada pelo Presidente do Supremo. Nesses encontros foram discutidos temas de grande relevância para a vida do País. Em uma dessas ocasiões, foi feito o convite para que o presidente do STF comparecesse à cerimônia de recepção ao papa Francisco, convite que foi prontamente aceito.
No dia da cerimônia, logo ao chegar ao Palácio da Guanabara, o Ministro Joaquim Barbosa depois de cumprimentar outras autoridades presentes, foi convidado a dirigir-se à sala privativa onde se encontrava a Presidente, o Governador Sérgio Cabral, além dos Presidentes do Senado, Renan Calheiros, e da Câmara, Henrique Alves. Permaneceu lá por mais de uma hora. Depois, dirigiu-se junto com as demais autoridades até o local que lhes fora destinado na cerimônia.
Por ocasião dos cumprimentos, o Ministro apertou respeitosamente a mão do Santo Padre, e trocou discreto sorriso com a Presidente. Isso porque avaliou não ser necessário novo cumprimento protocolar, uma vez que isso já havia ocorrido por ocasião de sua chegada ao Palácio.
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Nada de novo. Este Blog antecipou a explicação que a assessoria do presidente do STF divulgara oficiosamente na segunda-feira e ela não explica a conduta que ele mesmo reconhece na nota acima: não responder a Dilma, limitando-se a lhe dar um “discreto sorriso”.
Vamos parar de enfeitar o pavão: várias personalidades e autoridades precederam Barbosa no cumprimento ao papa e todas, até então, haviam cumprimentado, também, a presidente.
O próprio vídeo, exibido à exaustão na internet, mostra que, desde o momento em que o presidente do STF se aproximou do papa e da presidente, ela lhe abriu um largo sorriso, o qual esmaeceu após ele ter retribuído, conforme diz, com o tal “discreto sorriso”.
Ora, Barbosa diz que apertou respeitosamente a mão do Santo Padre e deu “discreto sorriso” à Presidente “porque avaliou não ser necessário novo cumprimento protocolar, uma vez que isso já havia ocorrido por ocasião de sua chegada ao Palácio”.
Que sacrifício cumprimentar a presidente, não? Quer dizer que mesmo vendo que todos os que o precederam na fila de cumprimentos ao papa cumprimentavam também a ela, eximiu-se de tão penosa tarefa por já ter dado a sua cota de sacrifício em encontro ocorrido pouco antes?
Precisa dizer mais? Quando a gente respeita a pessoa ou gosta dela, cumprimenta com prazer. Cumprimentou em encontro privado? Cumprimente de novo agora, porque são pessoas públicas que estão em público.
Estando em cerimônia transmitida pela TV, Barbosa deveria passar imagem de cordialidade entre chefes de dois Poderes da República. Mas, para ele, parece não importar o simbolismo público. Sem falar que a educação manda que homens sejam especialmente gentis com mulheres em situações como essa.
Veja, abaixo, flagrantes do episódio.

ÉTICA E CIDADANIA


Por ROSINÊIDE REZENDE

Ética é um conjunto de valores morais e princípios que norteiam a conduta humana na sociedade. A ética serve para que haja um equilíbrio e bom funcionamento social, possibilitando que ninguém saia prejudicado. Neste sentido, a ética, embora não possa ser confundida com as leis, está relacionada com o sentimento de justiça social. Assim a ética é construída por uma sociedade com base nos valores históricos e culturais. Do ponto de vista da Filosofia, a Ética é uma ciência que estuda os valores e princípios morais de uma sociedade e seus grupos. Cada sociedade e cada grupo possuem seus próprios códigos de ética. Num país, por exemplo, sacrificar animais para pesquisa científica pode ser ético. Em outro país, esta atitude pode desrespeitar os princípios éticos estabelecidos. Aproveitando o exemplo, a ética na área de pesquisas biológicas é denominada bioética.
Portanto, falar sobre ética e cidadania é, também, correr o risco de repetir o que já foi dito por alguém que tenha passado por essa senda, porque o conhecimento está disperso nos diversos saberes, seja da academia, da arte ou da escola da vida; é, sobretudo, estar numa corda bamba entre a percepção da falta de cidadania nas gentes, que foi e é causa dos mais desgraçosos horrores; e a apologia de sua prática, a qual trouxe mudanças significativas, quando foi assumida com ardorosa sedução.
Portanto, falar de ética e cidadania não é tarefa fácil, porque pode-se resvalar num discurso repleto de ufanismo, pensando que pelo simples fato de deter o conhecimento e do consenso sobre a necessidade da ética e da cidadania, possa por si só alcançar grandes transformações e trazer novas esperanças para a humanidade; ou, ao contrário, pode-se trilhar um caminho carregado de desesperança e resignação ante o poder político e econômico. Principalmente, devido ao encabrestamento dos povos à lógica de mercado.
Cidadania é, nesse sentido, um processo. Processo que começou nos primórdios da humanidade e que se efetiva através do conhecimento e conquista dos direitos humanos, não como algo pronto, acabado; mas, como aquilo que se constrói.
Assim como a ética a cidadania é hoje questão fundamental, quer na educação, quer na família e entidades, para o aperfeiçoamento de um modo de vida. Não basta o desenvolvimento tecnológico, científico para que a vida fique melhor. É preciso uma boa e razoável convivência na comunidade política, para que os gestos e ações de cidadania possa estabelecer um viver harmônico, mais justo e menos sofredor.
É preciso fundar a responsabilidade individual numa ética construída e instituída tendo em mira o bem comum, ou seja, visando a formação do sujeito ético, porque aí é possível a síntese entre ética e cidadania, no qual possa prevalecer muito mais uma ética de princípios, do que uma ética do dever. Ou seja, a responsabilidade individual deverá ser portadora de princípios e não de interesses particulares.
Somente assim, o sujeito ético norteará um novo modo de viver e um novo sentido ético, para que os humanos alcancem a felicidade terrena.

Faz-se necessário um salto do individual para o coletivo, do privado para o público, do particular para o universal. Mas, isto não quer dizer que se exija que sejamos Sócrates, Cristo, Ghandi, Buda; ou Tiradentes, Antônio Conselheiro, Zumbi. Podemos, simplesmente fazer como alguns negros fizeram nos Estados Unidos. A lei os proibia de entrar em bares, eles entravam assim mesmo. Até que um dia aquela lei virou lixo. Em outras palavras, a responsabilidade individual é que vai garantir uma ética, fundada em princípios e valores que norteiem o viver em comunidade.

O protecionismo pode elevar os salários?



Imports.jpgInvestiguemos se ocorre ou não uma injustiça para com você quando o governo legislativamente decide determinar de quem você pode comprar os bens dos quais necessita — pão, carne, roupas ou artigos de cama e mesa —, bem como a escala artificial dos preços que você deve adotar em suas transações.
Seria verdade que o protecionismo, o qual admitidamente encarece os produtos que você compra e, nesse sentido, lhe impõe uma perda, aumenta proporcionalmente os seus salários? 
O que determina os salários?
Falando simplificadamente, porém ainda assim realisticamente, quando dois trabalhadores correm atrás de um empregador, os salários caem; quando dois empregadores vão atrás de um trabalhador, os salários sobem.
Em prol da brevidade, permita-me fazer uso desta fórmula um tanto científica, embora, talvez, não muito clara: os salários dependem da proporção entre a oferta de mão-de-obra e a demanda por ela.
Agora, o que determina a oferta de mão-de-obra?
O número de indivíduos em busca de emprego.  Apenas isso.  E, em relação a este fator, o protecionismo não possui efeito algum.  Aumentar ou diminuir tarifas não altera a quantidade de pessoas economicamente ativas em uma economia.
E o que determina o nível dos salários?
Todo o capital disponível em uma nação — isto é, a quantidade e a qualidade de ferramentas que auxiliam o trabalhador a efetuar seu trabalho, tornando-o mais produtivo.  Quanto maior a quantidade de capital disponível, maior tende a ser o salário do trabalhador.
Mas será que uma lei que diz que "Não mais adquiriremos determinado produto do exterior; vamos fabricá-lo nacionalmente" pode aumentar o capital?  Nem sequer infimamente.  Tal lei pode, no máximo, alterar o emprego do capital, retirando-o de um setor e direcionando-o para outro setor; mas ela não pode efetuar a mágica de aumentar a quantidade de capital disponível.  Consequentemente, se tudo o que houve foi um rearranjo de capital, esta lei não pode elevar a demanda geral por mão-de-obra.
Escolha o leitor um setor manufatureiro que lhe dá orgulho.  O capital que ele utiliza e que o mantém caiu da lua?  Não.  Este capital foi retirado da agricultura, do setor marítimo, da produção de bebidas.  E é por essa razão que, sob o sistema de tarifas protecionistas, existem mais trabalhadores em nossas minas e em nossas cidades industriais, e menos marinheiros em nossos portos e menos agricultores em nossos campos e vinícolas.  Eu poderia discorrer detalhada e longamente sobre este assunto, mas prefiro explicar meu ponto com um exemplo.
Um homem do campo possuía 20 acres de terra, no quais ele trabalhava com um capital de $400.  Ele dividiu sua terra em quatro partes e estabeleceu o seguinte esquema de rotação de culturas: 1º, milho; 2º, trigo; 3º, erva; 4º, centeio.  Ele destinava à sua própria família apenas uma porção moderada dos grãos, da carne e do leite que sua fazenda produzia, e vendia todo o excedente para comprar azeite, linho, vinho etc.  Todo o seu capital era gasto anualmente em salários, contratações e pequenos pagamentos para os trabalhadores que ofertavam serviços em sua vizinhança.  Mas todo este capital era recuperado com a receita das vendas de sua produção.  Mais ainda: ele crescia ano após ano. 
Este homem do campo, sabendo perfeitamente que o capital nada produz caso não esteja sendo devidamente utilizado, beneficiava a classe trabalhadora de sua vizinhança ao contratá-la, com seus excedentes anuais, para fazer serviços de manutenção em suas terras, bem como para aperfeiçoar seus instrumentos agrícolas e suas instalações.  Ele também possuía uma poupança depositada no banco da cidade mais próxima, cuja gerente, obviamente, utilizava esta poupança para conceder empréstimos para outros empreendedores, de modo que esta poupança se transformava em investimento e renda.
Após um longo tempo, este homem do campo morreu, e seu filho, que o sucedeu, disse para si próprio: "Meu pai foi um tolo durante toda a sua vida.  Ele gastava dinheiro comprando azeite sendo que nossa própria terra, com algum esforço, pode passar a produzir azeitonas.  Ele gastava dinheiro comprando tecidos, vinho e laranjas sendo que podemos cultivar cânhamo, parreiras e laranjeiras com relativo sucesso.  Ele gastava dinheiro com moleiros e tecelões sendo que nós mesmos podemos tecer nossos linhos e moer nosso trigo.  Desta forma ele desnecessariamente gastou com estranhos todo o dinheiro que ele poderia ter gasto em nossa própria fazenda."
Iludido por tal raciocínio, o obstinado jovem alterou todo o sistema de rotação de cultura.  A terra foi agora dividida em 20 porções.  Em uma ele plantou azeitonas, em outra ele plantou amoreiras, em uma terceira ele plantou linheira, em uma quarta ele plantou parreiras, em uma quinta ele plantou trigo, e assim por diante.  Ao fazer isso, ele conseguiu suprir sua família com tudo aquilo de que ela necessitava, e por isso passou a se sentir muito independente.  Ele não mais adquiria nada de fora da fazenda, o que significa que ele não retirava nada de circulação.  Da mesma maneira, ele não mais acrescentava nada à economia.
Ele ficou mais rico por causa disso?  Não.  O solo não estava adaptado para o cultivo da parreira, e o clima não era adequado ao cultivo satisfatório das azeitonas.  Não demorou muito para ele perceber que sua família estava agora menos provida do que na época de seu pai, que, ao comercializar o excedente de tudo o que produzia, conseguia prover fartamente a família com tudo aquilo que ela queria.
E no que diz respeito à classe trabalhadora da sua vizinhança, tais pessoas não tinham agora mais emprego do que antes.  Havia de fato cinco vezes mais campos cultivados, mas cada um deles era cinco vezes menor; eles produziam azeite, mas produziam menos trigo; o fazendeiro não mais tinha de comprar linhos, mas também não mais vendia centeio.  Adicionalmente, este fazendeiro podia gastar com salários apenas a quantia de seu capital, e seu capital havia diminuído consideravelmente.  Uma substancial fatia dele havia sido direcionada para a construção de novas instalações e para a obtenção dos vários instrumentos necessários para os cultivos mais diversificados em que ele agora estava incorrendo.  Em suma, a oferta de mão-de-obra permaneceu a mesma, mas dado que os meios de remuneração da mão-de-obra diminuíram, o resultado final foi uma forçosa redução dos salários.
Em uma escala mais ampla, isso é exatamente o que ocorre no caso de uma nação que se isola do mundo ao adotar tarifas protecionistas.  É verdade que tal medida pode gerar uma multiplicação de alguns setores específicos da indústria nacional, mas estes passam a apresentar uma escala menor.  Esta nação passa a adotar um sistema, por assim dizer, mais complicado de 'rotação de indústrias'.  Mas isso não será produtivo porque seu capital e sua mão-de-obra têm agora de lutar contra dificuldades naturais.  Uma maior fatia de seu capital circulante, o qual é utilizado para o pagamento de salários, terá de ser convertido em capital fixo (máquinas, equipamentos e instalações).  O que sobrar deste capital poderá ser empregado em funções variadas, mas a questão é que a massa total não foi aumentada.  É como distribuir a água de um grande reservatório entre vários pequenos reservatórios — uma maior área do solo será coberta e uma maior superfície estará exposta aos raios do sol, e a consequência inevitável é que toda essa água será absorvida, evaporada e perdida mais rapidamente.
A quantidade de capital e de mão-de-obra sendo constante, ambos criarão proporcionalmente uma menor quantidade de mercadorias sempre que tiverem de lidar com mais obstáculos.  Não há dúvidas de que, sempre que obstruções internacionais forçarem capital e mão-de-obra a serem canalizados para setores em que haja mais dificuldades com o solo e com o clima, o resultado geral será, inevitavelmente, a criação de menos produtos — o que significa um menor padrão de vida para todos.
O que nos leva à pergunta final.  Se o padrão de vida como um todo diminuiu, a fatia dos trabalhadores neste todo aumentou?  Ora, se o padrão de vida dos trabalhadores de fato aumentou, como alegam os protecionistas, então isso significa, por definição, que o padrão de vida dos ricos — aqueles que criaram as leis — não apenas diminuiu, como ainda teve de diminuir em uma intensidade maior do que o aumento ocorrido na fatia dos trabalhadores.  Isso é possível?  Isso é crível?  Por isso, fica aqui meu alerta para vocês, trabalhadores: rejeitem essa duvidosa "generosidade". 
O protecionismo serve apenas para encarecer produtos, proteger poderosos contra a concorrência estrangeira, reduzir a acumulação de capital e solapar a divisão do trabalho.  E o que é mais importante: os salários gerais, como demonstrado, não terão como ser elevados.



Frédéric Bastiat foi o grande proto-austrolibertário cujas análises polêmicas ridicularizavam todos os clichês estatistas.  Seu desejo primordial como escritor era passar às pessoas, da maneira mais prática possível, a urgência moral e material da liberdade.

Nova pesquisa CNI/Ibope aponta alta dramática na rejeição a Dilma



Por Redação - de São Paulo e Brasília

Dilma falou à nação, em cadeia de rádio e TV
Dilma falou à nação, em cadeia de rádio e TV e, desde então, seu prestígio não para de cair
A avaliação ruim péssima do governo da presidente Dilma Rousseff disparou para 31% em julho e agora empata com o percentual dos que consideram a administração da petista como ótima e boa, mostrou pesquisa CNI/Ibope divulgada nesta quinta-feira. Os que veem o governo como regular aumentaram para 37%, em comparação a 32% no mês passado. Em junho, antes das manifestações populares que tomaram as ruas do país, a avaliação positiva era de 55% e a negativa de 13%.
O percentual dos que aprovam a maneira da presidente governar desabou para 45%, em comparação aos 71% de junho. Agora, são 49% os que desaprovam, ante 25% no mês passado. O levantamento, feito pelo Ibope sob encomenda da Confederação Nacional da Indústria, foi realizado entre os dias 9 e 12 deste mês, junto a 2.002 pessoas. A margem de erro da pesquisa é de 2 pontos percentuais.
Cabral contribui
O Rio de Janeiro hoje é o terceiro maior colégio eleitoral do Brasil dentre os 27 estados da federação. Diante desse fato, a queda da popularidade do governador Sérgio Cabral, apontada pela pesquisa encomendada pela Confederação Nacional da Indústria (CNI) ao Ibope, divulgada nesta tarde, é a razão fundamental e única para que se possa justificar a queda tão acentuada da presidente Dilma Rousseff nas últimas pesquisas.
Na pesquisa da CNI, em que Cabral aparece com apenas 12% de aprovação da população do Estado, que consideram seu governo bom e ótimo, justifica o desmonte da popularidade da presidente por estar vinculada ao governo do Rio. Assessores políticos do PT temem o que poderá acontecer durante a Copa de 2014, em função das manifestações que deverão continuar ocorrendo, onde o Maracanã é a base fundamental da campanha, como suposto símbolo da corrupção, cujo orçamento inicial, que era de R$ 300 milhões, chegou ao final da reforma a mais de R$ 1,2 bilhão. Sem contar que foi arrendado a uma das empresas do Grupo X, do investidor Eike Batista, que amarga um período de queda acentuada em seus ativos, nas bolsas de valores. Os preços cobrados pelos ingressos, acima do que as faixas de renda mais baixas da população podem pagar, também colaboram com a derrapada na popularidade da presidenta Dilma.

Partido Militar anuncia que irá convidar Joaquim Barbosa para ser candidato à presidência


Partido está em processo final de legalização junto ao TSE e já conta com o apoio de 300 mil pessoas

Segundo idealizador do partido, Barbosa possui todos os requisitos necessários para ser Presidente (foto: Divulgação/ST)

Joaquim Barbosa, presidente do Superior Tribunal Federal (STF), poderá ser candidato à presidência da República pelo PMB (Partido Militar Brasileiro), que está em processo final de legalização junto ao TSE (Tribunal Superior Eleitoral). Incusive, segundo o idealizador da legenda, capitão Augusto Rosa, já foi publicado o estatuto no Diário Oficial da União, o partido já tem CNPJ e mais de 300 mil assinaturas em todo o País. Pela regra do TSE, é necessário ter 485 mil nomes e abrangência nacional para obter o registro.

A informação sobre Barbosa foi divulgada no site oficial do PMB. Segundo o capitão Augusto Rosa, Barbosa possui todos os requisitos necessários para assumir o cargo, enfatizando o combate à corrupção.

“A postura do ministro diante de grandes escândalos, como no caso do Mensalão, por exemplo, comprova a intolerância de Barbosa quanto à corrupção. Essa postura vem ao encontro aos ideais do PMB, que está em busca de candidatos que possam resgatar a moralidade na política nacional”, afirmou Rosa.

No comunicado, o partido destaca ainda que o nome do presidente do STF já teria grande aprovação popular e lembra que existe até mesmo um site que usa o slogan “Somos brasileiros que acreditam que o Brasil só achará seu caminho com um presidente sério” que apóia a candidatura de Barbosa.

Por fim, o idealizador do partido destaca que a população brasileira estaria querendo uma “verdadeira revolução no cenário político”, uma vez que o político no Brasil virou sinônimo de “piada, de avacalhação”. “Até quando isso vai continuar? Enquanto não houver pessoas sérias no comando, o país vai permanecer nessa desordem. A população precisa voltar a acreditar e respeitar o Brasil e os seus representantes legais”, finaliza Augusto Rosa
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O sonho impossível do liberalismo clássico


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liberalismo_sonho_impossivel.jpgO liberalismo clássico é um sistema de governo em que o estado detém apenas o monopólio da segurança e da justiça, e lida exclusivamente com estas questões, não se intrometendo em nada mais. 
Tendo essa definição em mente, é possível entender por que uma pessoa defenderia o liberalismo clássico.  Mais de quarenta anos atrás, eu mesmo era um resoluto defensor deste sistema.  As pessoas se tornam defensoras do liberalismo clássico por várias razões, sendo que as duas principais, as quais são interrelacionadas, são: 1) elas passam a entender que, se o objetivo é gerar prosperidade e paz, então o livre mercado funciona melhor do que sistemas econômicos controlados pelo governo; e 2) porque elas passam a acreditar que podem, com muita razão, reivindicar (seguindo um raciocínio um tanto lockeano) seus direitos à vida, à liberdade e à propriedade, sem sofrer coerção. 
Estas duas razões são interrelacionadas porque os direitos lockeanos fornecem os fundamentos necessários para o livre mercado existir e funcionar adequadamente.
Assim como Locke, os liberais clássicos reconhecem que algumas pessoas podem violar os direitos de outras pessoas à vida, liberdade e propriedade, e que algum meio deve ser empregado para defender adequadamente estes direitos.  Sob este aspecto, elas aceitam o governo, mas somente com a condição de que o governo se mantenha estritamente limitado a proteger as pessoas contra violências e fraudes que iriam injustamente privá-las de sua vida, liberdade e propriedade.  Elas de fato acreditam que o governo pode realizar estas funções e se manter limitado a apenas estas funções.  E elas também acreditam que indivíduos vivendo em um arranjo sem governo estariam à mercê de predadores, e consequentemente suas vidas seriam, como supôs Hobbes, solitárias, pobres, sórdidas, bestiais e curtas.  Ninguém quer isso.
Portanto, para enfatizar, é possível entender por que alguém venha a se tornar um liberal clássico.  No entanto, à medida que os anos vão se passando, confesso que tenho cada vez mais dificuldades para entender por que alguém continua sendo um liberal clássico.  É difícil entender por que essa pessoa não é capaz de levar a lógica adiante, dar aquele passo à frente e passar a defender a genuína autonomia do indivíduo em contraposição ao objetivo liberal clássico do "governo limitado".
Minha dificuldade surge nem tanto de uma insatisfação com o governo sendo encarregado de proteger os cidadãos contra violência e fraude, mas sim de uma crescente convicção de que o governo, no cômputo geral, não efetua estas tarefas.  Pior ainda, de que ele nem sequer tenta efetuá-las, exceto de uma forma insincera e preguiçosa — no fundo, tudo é uma falcatrua.
Verdade seja dita, o governo nunca se limitou e nem nunca irá limitar a proteger os cidadãos contra a violência e a fraude.  Com efeito, o governo é o pior violador dos direitos à vida, à propriedade e à liberdade de cada indivíduo.  Para cada assassinato, assalto ou roubo que o governo impede, ele comete centenas.  Para cada direito de propriedade que ele protege, ele viola milhares.  Embora pretenda suprimir e punir a fraude, o próprio governo nada mais é do que uma fraude em ampla escala, uma enorme máquina de espoliação, abuso e distribuição de privilégios e protecionismos, tudo santificado por suas próprias "leis", as quais redefinem seus crimes como sendo meras atividades governamentais.  Em suma, o governo nada mais é do que uma máquina de extorsão protegida da verdadeira justiça por seus próprios juízes e por suas legiões de funcionários públicos e de intelectuais e jornalistas a serviço da defesa do regime.
Confrontado com estes horrores, o liberal clássico respira fundo e, em vez de reconhecer o óbvio, resolve propor "reformas" para as políticas e ações "equivocadas" e "contraproducentes" do governo.  Ainda pior, o dedicado liberal clássico se recusa firmemente a reconhecer que tais ações do governo são tudo, menos equivocadas; com efeito, o governo está sempre atuando para alcançar seus verdadeiros objetivos de uma forma muito direta, e ele rapidamente suspende qualquer medida que se revele incapaz de enriquecer e de aumentar os poderes de seus próprios líderes e de seus amigos íntimos no chamado setor privado (o qual já está quase virando um mito, dada a generalizada interferência do governo, que está sempre ajudando seus empresários favoritos e prejudicando aqueles sem influência política). 
Apenas quando reconhecemos que este declarado objetivo do governo de servir o interesse público nunca teve outro propósito que não o de servir de cortina de fumaça para que ele pudesse roubar, coagir e intimidar o povo, é que conseguimos finalmente entender que as ações e os programas do governo não são de modo algum "contraproducentes",   Aquilo que economistas e outros palpiteiros chamam de "falha de governo" nunca de fato existiu; "falha de governo" é apenas a não-realização daquilo que os poderosos burocratas na realidade nunca tiveram a mais mínima intenção de fazer.
Em suma, o liberal clássico que, perante estas realidades, se agarre firmemente ao mito de que é possível haver um lockeano governo limitado nada mais é do que um indivíduo irracionalmente fiel a um pensamento fantasioso, um crente em contos de fadas.  Sonhos devem ter seu lugar na vida humana, sem dúvida, mas o sonho de um governo que se mantenha restrito e limitado às suas funções lockeanas já é um delírio que nunca foi e nunca será realidade.  Em algum momento, essas pessoas terão de abrir seus olhos e constatar a nudeza do rei — e, simultaneamente, toda sua depravação, crueldade, brutalidade e total e sistemática injustiça.  Caso contrário, os liberais clássicos servirão apenas de objeto de deleite para os cínicos que controlam o governo e que colocam seus poderes a serviço de sua própria exaltação e de seu próprio e agressivo engrandecimento.
Robert Higgs um scholar adjunto do Mises Institute, é o diretor de pesquisa do Independent Institute.

Tradução de Leandro Roque


“New York Times” faz reportagem relacionando os protestos aos altos preços praticados no Brasil


  • Fúria no país da pizza de queijo a US$ 30: matéria aponta abusos, como berço que custa seis vezes mais que nos EUA

NOVA YORK - O jornal “The New York Times” publicou nesta terça-feira em seu site uma reportagem assinada pelo correspondente no Brasil relacionando o custo de vida no país e as manifestações que desde junho tomam as ruas. Dos gastos com moradia, pelos preços estratosféricos de aluguéis, às tarifas de transportes coletivos, estopim da onda de fúria da população, o valor de serviços e produtos no Brasil é exorbitante e a qualidade muitas vezes deixa a desejar, destaca o “NYT”.

Um berço para bebê na Tok & Stok sai por mais de US$ 440, mais de seis vezes mais caro que um modelo similar na rede americana Ikea. Diz Romero: “Para os brasileiros fervendo de ressentimento com relação aos gastos perdulários da elite política do país, os altos preços que têm que pagar para quase tudo — uma pizza grande de mussarela pode custar US$ 30 — só aumenta a sua fúria.”Para sustentar seu argumento e explicá-lo ao leitor americano, o jornalista Simon Romero recorre a uma estratégia simples, porém eficaz: a comparação. E, de fato, um aparelho Samsung Galaxy S4, por exemplo, que nos EUA custa US$ 615 aqui custa quase o dobro.
Diante desse quadro, não é de se estranhar que as contas públicas mostrem um aumento robusto dos gastos dos brasileiros no exterior. Romero cita Luana Medeiros, de 28 anos, funcionária do Ministério da Educação: “As pessoas ficam zangadas porque sabemos que há como obter produtos mais baratos; vemos lá fora, por isso sabemos que há algo errado aqui.”
O peso dos impostos
O jornalista do “NYT” lembra que as manifestações que incendeiam o país começaram como um protesto contra o aumento das tarifas de ônibus no Rio e em São Paulo. Romero explica ao leitor do jornal nova-iorquino que os cidadãos dessas metrópoles gastam uma parcela bem maior de sua renda do que os residentes de Paris ou Nova York, cidades cujo custo de vida não é dos mais baixos. E não se está falando em qualidade dos transportes, que é bem inferior nas cidades brasileiras.
Romero cita economistas para afirmar que o custo do transporte é apenas um exemplo das dificuldades que o brasileiro enfrenta. “Alugar um apartamento em áreas cobiçadas ficou mais caro do que em Oslo, a capital da endinheirada produtora de petróleo da Noruega”, escreve o jornalista. “Antes dos protestos, a disparada de preços da cesta básica de alimentos, como o tomate, gerou piadas com a presidente Dilma Rousseff e seus conselheiros econômicos.”
O jornalista conclui citando a lei que obriga o varejista discriminar na nota o valor tributado, cuja parcela deixa os consumidores brasileiros indignados.


PSB e tucanos se articulam em Minas Gerais para garantir palanques duplos

  • Primeiro passo é ter espaço para Eduardo Campos e Aécio Neves

BRASÍLIA — De olho nos 15,1 milhões de eleitores do segundo maior colégio eleitoral do país, Minas Gerais, os presidenciáveis Aécio Neves (PSDB) e Eduardo Campos (PSB) deram passos importantes esta semana para acertar palanques duplos no estado, como forma de fortalecer suas prováveis candidaturas na disputa com a presidente Dilma Rousseff ano que vem. Estão articulando também repetir a fórmula em Pernambuco e São Paulo, maior colégio eleitoral, com 31 milhões de eleitores. A ideia é ter candidatos diferentes aos governos estaduais, onde for possível, ou fazer alianças em torno de um nome, mas dividindo o palanque para os dois presidenciáveis. Assim, acreditam, poderão isolar candidatos governistas, com prejuízo para os palanques da presidente Dilma.
De um lado, em Minas, Eduardo Campos tirou do dilmista Walfrido Mares Guia o comando do diretório do PSB no estado e o entregou para o deputado Júlio Delgado, que veste a camisa da candidatura própria e tem ligações com Aécio. Do outro, o pré-candidato tucano mandou de volta para Minas o ex-ministro Pimenta da Veiga para coordenar sua campanha no estado e para criar uma alternativa de nome para a sucessão do governador Antonio Anastasia.
Compromissos também no segundo turno
Júlio Delgado diz que, com a ausência de lideranças fortes em alguns estados, o PSB não descarta a possibilidade de apoiar candidatos de outro partido. Em Minas e São Paulo, onde o PSDB é forte, diz, os dois partidos podem dividir o mesmo palanque: quem não quiser votar em Aécio vota em Eduardo, diz Delgado. O mesmo está sendo trabalhado em Pernambuco e outros estados do Nordeste. E quem for para o segundo turno, afirma, tem o apoio de quem ficar para trás.
— Estamos trabalhando para ter palanque duplo em Minas, São Paulo e Pernambuco, por enquanto. Minha ascensão à presidência do PSB em Minas abre a possibilidade de isso acontecer aqui. Essa máxima do palanque duplo deve valer para esses outros dois colégios eleitorais importantes. O Eduardo está sintonizado e buscando possibilidade de palanques. Ao fazer esse movimento em Minas, ele deixa claro que está buscando alternativas, sabe que Minas é fundamental para seu projeto e que Aécio tem a hegemonia aqui, mas ele também quer ter seu espaçozinho — diz Júlio Delgado. — A situação andou um pouco esta semana, com minha condução à presidência do diretório de Minas. Agora tenho a tarefa de conduzir para andar o resto. Antes, os protagonistas eram Aécio e Anastasia. Agora, os protagonistas são outros. E o PSB e o PSDB vão trabalhar em consonância em busca de um projeto nacional.
Ex-prefeito de Belo Horizonte e ex-ministro das Comunicações do governo Fernando Henrique Cardoso, Pimenta da Veiga — como Tasso Jereissati — vem tendo atuação ativa no novo comando do PSDB nacional, no projeto “Aécio Presidente”. Pimenta está fechando seu escritório de advocacia em Brasília e voltando para Belo Horizonte para coordenar a campanha presidencial no estado.
— Eu volto para Minas por inteiro. Estou voltando para ajudar a organizar a sucessão aqui, animar a campanha. Aécio precisa ter uma votação forte em Minas, mas não pode ficar só aqui. Eu vou rodar o estado, cuidar das alianças, para que ele fique mais liberado para rodar o país — diz Pimenta da Veiga.
Deixando claro a proximidade dos dois candidatos e a atuação conjunta dos dois partidos em outros estados, e não só em Minas, Pimenta da Veiga afirma:
— Vamos respeitar a candidatura do Eduardo Campos no primeiro turno, para que possamos estar juntos no segundo turno.
Sobre a mudança do comando no PSB mineiro, Pimenta afirma que gostou da escolha de Júlio Delgado — filho de Tarcísio Delgado, peemedebista histórico de sua geração, também identificado com Aécio.
— Esse movimento no PSB não está desagradando nada! — admitiu Pimenta.
— O Pimenta fez política junto com o meu pai e sabe que minha ida para a direção do PSB de Minas é boa para o projeto dos dois: do Aécio e do Eduardo — concorda Júlio Delgado.
Com o enquadramento do PSB de Minas, o prefeito de Belo Horizonte, Márcio Lacerda (PSB), que se elegeu com o apoio de Aécio, é o nome de Eduardo Campos para o governo. Mas Márcio resiste, porque, além das boas relações com Aécio e Campos, tem ligações também com o ministro da Indústria e Comércio, Fernando Pimentel, o candidato petista.
A disputa em Minas, ainda que com o quadro de candidatos indefinido, será uma das mais importantes, não só pelo tamanho do eleitorado, mas pelo embate direto entre Aécio e Dilma. É nesse território, onde o PSB já conquistou também seu espaço, que Eduardo Campos quer garantir um palanque forte — seja de um candidato próprio ou em parceria com o PSDB, aliança que vem sendo repetida há anos.
Nesta negociação entre os dois partidos, existem outras alternativas em discussão para a sucessão de Anastasia: o deputado Marcus Pestana, presidente do PSDB mineiro; o vice de Anastasia, Alberto Pinto Coelho (PP); e o presidente da Assembléia Legislativa, Diniz Pinheiro, do PSDB.
— Fizemos todo o acerto de Minas de total acordo com o prefeito Márcio Lacerda. Ele está muito cauteloso, mas com muito interesse em participar do projeto do partido. Gostei da postura dele. O Walfrido preferiu seguir o Lula, e não o PSB. Particularmente, eu acho que ele tinha que tomar o rumo dele, e a gente, o nosso — disse o secretário-geral do PSB, Carlos Siqueira, que ainda crê na candidatura de Márcio Lacerda unindo os dois palanques, o de Eduardo Campos e o de Aécio Neves.
O palanque duplo não está descartado nem no Ceará, onde o ex-senador tucano Tasso Jereissati aparece em nova pesquisa do Ibope liderando a disputa pelo governo do estado, com 45% em determinados cenários, enquanto o candidato do governador Cid Gomes, o ministro dos Portos, Leônidas Cristino, aparece com 4% — Cid continua defendendo a reeleição de Dilma. O eventual palanque de Tasso, no entanto, poderia servir tanto a Aécio quanto a Eduardo Campos, no primeiro turno.
Resolvido o problema de Minas Gerais, Siqueira diz que a única situação pendente agora é o diretório do PSB do Ceará, presidido pelo governador Cid Gomes. Mas, por enquanto, não haverá qualquer intervenção junto aos Ferreira Gomes.
— O Cid e o Ciro têm dado declarações contraditórias. Uma hora apoiam a candidatura de Eduardo, outra hora dão marcha a ré. Estamos tendo uma tolerância, porque todo mundo tem direito a ter opinião. Mas, quando o partido decidir por ampla maioria, eles terão que acompanhar — diz o secretário-geral do PSB.
O diretório do PSB do Amapá, do governador Camilo Capiberibe, que também deu declarações de apoio à reeleição de Dilma, já estaria pacificado. Segundo Siqueira, os pais do governador, o senador João Alberto Capiberibe e a deputada Janete Capiberibe, estiveram em Recife e almoçaram com Eduardo Campos semana passada.
O diretório do Espírito Santo, do governador Renato Casagrande, também é contabilizado como pró-Eduardo, apesar das declarações do presidente do PT, Rui Falcão, de que o governador socialista tinha se comprometido em manter neutralidade. Faz parte, segundo os socialistas, da política de manter boas relações com o governo federal para não prejudicar a gestão dos estados.