quinta-feira, 25 de julho de 2013

Os problemas da adaptação ao verão, por Ana Carolina Peliz


O verão finalmente chegou a Paris, com temperaturas que ultrapassam os 30 graus. Isso poderia ser uma boa notícia se a França não fosse um país despreparado para o calor. Os franceses têm tão pouca intimidade com as altas temperaturas, que a maioria deles não sabe como agir quando o termômetro ultrapassa os 25 graus, fato que acontece raramente.
Enquanto em outros países do mundo, nesta época do ano bares e cafés vendem uma variedade de frappés, chás e bebidas frias, aqui o conceito “gelado” não existe. Apesar de usarem o aquecimento durante quase o ano inteiro, a maioria dos franceses abomina o ar condicionado e o responsabiliza por todos os males da humanidade. Alguns se permitem utilizar um ventilador, mas somente durante a noite.
Além disso existem vários comportamentos que fazem parte de um senso comum ancestral, que persistem atualmente. Por exemplo, muitas pessoas acham que as portas e janelas devem ficar fechadas para o calor não entrar.
Claro que fechar as persianas pode ajudar a baixar a temperatura de um cômodo amplo. Mas um apartamento de 50 metros quadrados, com janelas herméticas, recebendo sol o dia todo ou escritórios acarpetados com computadores ligados se transformam rapidamente em verdadeiras estufas.

Foto: Bertrand Guay / AFP

Outra lenda que persiste é que é necessário se cobrir para se proteger do calor. Para os tuaregues do deserto, que se cobrem com roupas de linho para se proteger do sol, isso funciona. A versão parisiense destes povos nômades do norte da África, se cobre com camisetas, calças, meias e jaquetas.
Almoçar sob o sol do meio dia, correr e fazer esportes às três da tarde durante o verão também são atividades que parecem normais para um francês médio. Por isso, cada ano, o Estado francês lança um plano “canicule” para alertar as pessoas sobre os perigos das ondas de calor e informar sobre atitudes que parecem tão simples, como ingerir líquidos e evitar o sol nas horas mais quentes do dia.
Eu estou convencida de que na canícula de 2003 – uma das maiores da história da Europa, que custou a vida de 15 mil pessoas, somente na França –, as mortes foram causadas por estes comportamentos de alto risco e pela dificuldade de adaptação às mudanças de temperatura. Parece estranho, mas na verdade a relação que grande parte dos franceses tem com o calor não é muito diferente da que temos com o frio.

Ana Carolina Peliz é jornalista, mora em Paris há cinco anos onde faz um doutorado em Ciências da Informação e da Comunicação na Universidade Sorbonne Paris IV. Ela escreve aqui todas as quintas-feiras.

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