quinta-feira, 25 de julho de 2013

O peso do petróleo, por Míriam Leitão

ECONOMIA


Míriam Leitão, O Globo
Há mais um parafuso se soltando na economia brasileira: o do balanço de pagamentos. A situação hoje é diferente das crises do passado, mas o déficit em conta corrente aumentou rápido demais, não é mais coberto peloinvestimento produtivo e, além disso, a deterioração da balança comercial foi forte. Só o rombo da conta de petróleo, gás e combustíveis foi, no primeiro semestre, de US$ 15,8 bilhões.
O déficit em conta corrente chegou a 3,82% do PIB no primeiro semestre, ou US$ 43 bi, um aumento de 72% em relação ao mesmo período do ano passado. No passado, quando uma coisa assim acontecia, o país temia crises cambiais. A situação atual é diferente, mas não significa que não há riscos.
A grande mudança agora é que o Banco Central tem US$ 370 bilhões de reservas e nosso câmbio é flutuante, ou seja, consegue absorver choques. O problema, explica o economista Armando Castelar, do Ibre/FGV, é que o déficit em conta corrente está muito alto para um nível de atividade fraco e pode impedir que se tenha uma retomada mais forte, puxada pelos investimentos.
— Há 10 anos não víamos um quadro desse tipo. O balanço de pagamentos agora voltará a ser foco de monitoramento e isso tem reflexo sobre a confiança que se tem na economia. Nossa taxa de poupança é baixa, assim como a taxa de investimento. Se o PIB voltar a crescer mais forte, puxado por investimentos, o déficit na conta corrente vai subir — afirmou Castelar.
Chama atenção a velocidade com que esse quadro se inverteu. No primeiro semestre de 2012, o déficit em conta corrente foi de 2,28% do PIB. No primeiro semestre deste ano, foi de 3,8%. Já o Investimento Estrangeiro Direto (IED), na mesma comparação, caiu de 2,69% para 2,64%.
A queda é pequena, mas já não cobre o déficit da conta corrente. A previsão para o ano de 2013 como um todo, segundo a consultoria Rosemberg & Associados, é de que a conta corrente termine com déficit de 3,57% do PIB e o Investimento Estrangeiro Direto fique em 2,66% do PIB.

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