sábado, 21 de setembro de 2013

Compras on-line ainda trazem insegurança



Todos os dias são lançadas novas tecnologias voltadas para o e-commerce. Os empresários, entretanto, não investem o suficiente em lojas virtuais. Com isso, a insegurança do consumidor em relação ao armazenamento de dados bancários é intensificada. Muitos ainda ficam com um pé atrás na hora de realizar compras on-line. Pesquisa divulgada no ano passado pela Clearsale, empresa líder na autenticação de fraudes virtuais, aponta que, de cada cem compras virtuais realizadas de computadores no Distrito Federal, seis apresentam alguma incidência de fraude. 

De acordo com levantamento do Instituto de Defesa do Consumidor do Distrito Federal (Procon-DF), do início deste ano até a semana passada, 666 pessoas registraram reclamações que envolvem problemas em compras on-line. O órgão, no entanto, esclareceu que não há como especificar quantas estavam relacionadas à segurança de dados. “O consumidor ainda é bastante inseguro para adquirir produtos em sites, não confia completamente por conta dos diversos casos de clonagem de cartão no ambiente virtual”, considera o presidente da instituição, Todi Moreno. 

Moreno destaca que, em caso de fraude, o consumidor deve ser ressarcido. “Ele não deve pagar por isso. A obrigação do site, assim como do banco, é oferecer segurança durante a operação. Atualmente, esse mercado movimenta R$ 22 bilhões em todo o país. Se os empresários investissem mais em segurança, esse número poderia aumentar exponencialmente”, afirma. 

Para ele, é importante que o comprador fique atento ao site em que deseja realizar o procedimento. “Além de checar a idoneidade do estabelecimento, é necessário verificar que as informações da loja estão disponíveis e se realmente existem. Também é bom observar se há aquele cadeado no canto da tela e se ele é criptografado, ou algum selo que identifique a segurança da rede”, orienta (veja Dicas). 

Setor imaturo 

O especialista da E-smart, empresa especializada em e-commerce, Vinícius Pessin, considera que os varejistas são displicentes com relação à implantação de tecnologia em seus sites. “A gente já tem muita variedade no mercado, mas essas ferramentas aumentam o custo dos empresários e, por isso, eles são tão resistentes. Além disso, há a antiga mentalidade de que a loja física dá mais retorno e, por isso, acabam desembolsando mais em melhorias relacionadas a elas. Podemos considerar que isso é uma imaturidade do setor”, acredita. 

Pessin frisa que o consumidor é o maior prejudicado. “Essa falta de investimento propicia experiências ruins para o cliente, como lentidão no site e problemas para acessar informações do produto, além da sensação de insegurança na compra virtual”, pontua. Para ele, o maior obstáculo para aqueles que nunca adquiriram um produto na internet é a falta de confiança em colocar dados bancários na web. “Depois da primeira tentativa, se for bem sucedida, o comprador perde o medo. Mas, se algo dá errado, ele fica novamente com um pé atrás”, conclui o especialista. 

O CEO (líder) da Precifica, empresa especializada em monitoramento de preços na web, Ricardo Ramos, destaca os principais investimentos para que as empresas on-line possam melhorar a estrutura do site. “É fundamental que ele desembolse fatores cruciais na experiência de compra: fácil usabilidade com menos cliques e menores formulários, logística, acompanhamento do pedido e pós- venda”, enumera. 

Em sua opinião, o consumidor ainda sente insegurança na hora de comprar por meio da web. “A falta de conhecimento sobre as certificações que garantem a segurança do usuário prejudica a finalização da compra. O conhecimento sobre o que é realmente seguro fica na cadeia de quem está relacionado com a tecnologia (lojista e fornecedor), mas não chega ao cliente final”, justifica. “Poucos consumidores sabem ao certo para que se usa um “https” e quais os diferentes tipos ou níveis de segurança que oferecem antes do endereço de um site, e esse é uma entre inúmeras ações feitas para deixar o ambiente mais seguro”, completa Ramos. 

Clonagem 

Quando tem informações bancárias clonadas, o consumidor sente dificuldade para descobrir onde e como isso ocorreu. Geralmente, ao constatar uma compra que não foi feita por ele, a instituição financeira é acionada e inicia uma investigação, mas o usuário não é informado dos procedimentos, o que também dificulta para que ele saiba como reforçar os cuidados. O engenheiro civil Antônio Marcos Pereira Júnior, de 26 anos, teve o cartão clonado há dois meses, mas não sabe os detalhes. 

“Tenho cadastrado meu celular na conta-corrente e recebo por mensagem qualquer transação. Na ocasião, recebi uma sobre uma compra de R$ 2,5 mil que não tinha feito e então descobri o crime”, lembra. O jovem costuma fazer compras pela internet, principalmente de passagens aéreas, mas não tem certeza de como seus dados foram roubados. “Não recebemos informação alguma, pode ser sido até em um posto de gasolina”, imagina Antônio Marcos. 

Lojas físicas 
Apesar da expansão do comércio virtual no DF, que cresce em média 20% ao ano, os consumidores brasilienses confiam mais em sites que possuem lojas físicas. De acordo com levantamento da Federação do Comércio de Bens, Serviços e Turismo do Distrito Federal (Fecomércio-DF), 73,7% preferem comprar em estabelecimentos on-line que também têm unidades concretas. Os motivos são por causa do contato anterior com o produto (67,4%) ou porque consideram a operação mais segura (30,2%). 

Celulares sofrem com atrasos tecnológicos 

Os atrasos em relação à tecnologia aplicada também podem ser observados nos celulares. Atualmente, 3,6% das compras virtuais são feitas pelo telefone móvel, de acordo com levantamento da E-bit, empresa pioneira na realização de pesquisas sobre hábitos e tendências virtuais. Os investimentos, entretanto, ainda não acompanham a demanda do consumidor, que já está habituado a realizar aquisições on-line. 

“O comportamento do consumidor evolui de acordo com as novas tecnologias — tablets, smartphones, smarTVs — e isso é apenas o começo da era da internet”, explica o especialista em e-commerce e CEO da empresa Agência Cadastra, Thiago Bacchin. 

Segundo ele, o comprador fica desestimulado a fazer compras virtuais também pelo celular por conta da falta de tecnologia. “Tentar acessar os canais digitais da uma empresa por meio de tecnologias já disponíveis há mais de cinco anos e não conseguir é desanimador. Ao não proporcionarem uma experiência razoável a esses consumidores, as empresas mostram que o cliente não é importante”, analisa o especialista. 

Ainda assim, no ponto de vista de Bacchin, o comprador não diferencia a compra pelo computador daquela feita pelo celular. “Não há resistência do consumidor nesse aspecto. Navegar por telefones móveis é algo tão comum que parece que sempre fizemos isso. As empresas desejam consumidores fiéis às suas marcas, mas, muitas vezes, não proporcionam os ambientes necessários. A evolução tecnológica é muito rápida e dificulta o processo de aprendizado e a implementação de mudanças”, conclui. 

Texto de Larissa Garcia 

O voto de Celso de Mello e o espírito do legislador

TEREZA CRUVINEL


“O homem é o homem e suas circunstâncias”. A frase célebre de Ortega y Gasset é uma luva para a situação vivida, com aparente tranquilidade, pelo ministro Celso de Mello. Apesar do alarido, das cobranças, das advertências sobre o descrédito em que recairá o STF caso os embargos infringentes sejam permitidos a alguns réus da Ação Penal 470, ele mesmo deu indicações de que votará pelo acolhimento, ressalvando que outra coisa será concordar com o mérito de tais recursos. As circunstâncias do ministro são ditadas por sua trajetória no STF, marcada pela observância do devido processo legal, o que sempre o colocou entre os “garantistas” da Corte. Ele estaria convencido de que os embargos sobreviveram no Regimento Interno do STF porque assim desejou o legislador. Negá-los, nesse caso, seria uma excepcionalidade, esta sim, nefasta para a mais alta corte de Justiça 
Na sessão de quinta-feira, a divisão entre os ministros foi sobre a vigência ou não da norma regimental, uma vez que a Lei 8.038, de 1990, ao fixar ritos judiciais para o STF e o STJ, não foi explícita quanto à validade de tais recursos no Supremo. O advogado e ex-deputado Sigmaringa Seixas, que foi relator da matéria, recorda o debate da época: exatamente por considerarem óbvia a pertinência desses recursos em ações originária do próprio STF, para garantir o duplo grau de jurisdição, os congressistas não teriam alterado a disposição do Regimento Interno. Em outros tribunais, inclusive no STJ, já seriam desnecessários pela razão oposta, a possibilidade de recurso à instância superior. 
Oito anos depois, entretanto, o Congresso teve outra oportunidade de suprimir os embargos infringentes no STF e não o fez. Em 1998, o ex-presidente Fernando Henrique, em mensagem presidencial, propôs o acréscimo de um novo artigo à Lei 8.038, de 1990. A redação proposta foi clara: “Artº 43: Não cabem embargos infringentes contra decisão do plenário do Supremo Tribunal Federal”. Entretanto, na Comissão de Constituição e Justiça, o deputado Jarbas Lima, que é professor de direito constitucional na PUC do Rio Grande do Sul, propôs emenda supressiva que foi aprovada e que prevaleceu na votação final. Esse episódio legislativo foi reconstituído pelo repórter Paulo Celso Pereira, em reportagem publicada no site do jornal O Globo, na sexta-feira passada. Foram portanto dois os momentos em que o legislador optou pela manutenção dos embargos infringentes no âmbito do STF, diz Sigmaringa. 
Nas manifestações que fez no ano passado sobre o assunto, lembradas pelo próprio ministro Celso de Mello, ele afirmou categoricamente que os embargos continua vigendo, pois nenhuma lei os revogou, tendo o regimento, nesse caso, força de lei. A fidelidade a suas próprias convicções jurídicas é que parece constituir a circunstância determinante para seu voto. Apesar do alarido externo. Essa mesma coerência deve levá-lo, no eventual julgamento do mérito dos recursos, a manter os votos incisivos que deu contra os futuros embargantes, nos casos de formação de quadrilha e lavagem de dinheiro.
 
Mitificações
 
O debate sobre os infringentes vem misturando opiniões de especialistas e de leigos pretensiosos, numa algaravia que reúne desejo e desinformação, ou desejo de desinformar. O que dificilmente estaria acontecendo se, entre os réus, houvesse não um José Dirceu, mas um obscurso José das Couves. A mais recorrente mistificação é que haveria novo julgamento, como se todo o processo fosse começar do zero quando, se acolhidos os embargos, a revisão incidirá apenas sobre as condenações em que os réus tiveram pelo menos quatro votos a favor. Tem-se dito ainda que os réus podem escapar pela prescrição das penas ou mesmo pela absolvição, forçando esclarecimentos de ministros do tribunal. 
Especificamente em relação a Celso de Mello, já se disse até que ele perderá uma oportunidade de entrar para a história, garantindo, com o voto contrário, o encerramento do processo e a prisão imediata dos condenados. Aqui temos uma ignorância ou arrogância. Goste-se ou não de Celso de Mello, ele já entrou para a história com votos monumentais em questões altamente relevantes para a consolidação da democracia, como no caso do aborto de fetos anencéfalos, da união de pessoas do mesmo sexo e da constitucionalidade das cotas raciais. Refutando as mistificações, o criminalista Renato de Moraes assegura: “O eventual acolhimento dos embargos infringentes não desacreditará o Supremo nem o Judiciário. A não ser que vinguem a desinformação e a violência”. 
  
Recados de Dilma
 
Reforma ministerial, só no fim do ano ou no começo de 2014, declarou ontem a presidente Dilma Rousseff. Com isso, avisou aos navegantes do PT e do PMDB que não vai defenestrar agora o ministro Fernando Bezerra, do PSB, indicado pelo governador Eduardo Campos. Ela e o ex-presidente Lula concluíram, na conversa de sexta-feira, que, ao tomar tal iniciativa, deixaria Campos no papel de vítima, denunciando a “truculência” do governo. Que se ele discorda fortemente do governo e pretende até ser candidato a presidente contra Dilma, já deveria ter tomado a iniciativa de sair. Quanto mais tarde fizer isso, mais difícil será explicar por que não rompeu antes. Se, em algum momento, ele passar do ponto, reexamina-se o assunto. Agora, a questão é acalmar os exaltados do PT e do PMDB.
    

PIRÂMIDE DA TELEXFREE COMEÇA A RUIR



POR ANA CAROLINA DINARDO

O esquema das empresas-pirâmides, que está deixando um rastro de prejuízos, está desabando. A Ympactus Comercial, conhecida como Telexfree, entrou com pedido de recuperação judicial no Tribunal de Justiça do Espírito Santo (TJ-ES), onde está localizada a sede da companhia. De acordo com o comunicado oficial publicado em uma rede social, os mais de 1 milhão de associados foram informados da situação. Segundo o informe, a decisão garante a proteção da empresa, como também a dos divulgadores. Caso seja deferida pela Justiça, a medida suspenderá por 180 dias todas as cobranças da Telexfree.

Até julho deste ano, a empresa era alvo de 176 processos judiciais. Ela é acusada pela Justiça de aplicar o golpe do lucro fácil, que já levou milhares de pessoas a pesados prejuízos. O TJ-ES confirmou que o pedido foi feito, mas que não daria informação sobre o processo até que o caso seja julgado. O ganho da Telexfree vem do recrutamento de pessoas, que têm que pagar uma taxa de adesão de R$ 600, e não da venda de produtos. A empresa-pirâmide está com as atividades e as contas bloqueadas desde 8 de junho último, a pedido do Ministério Público do Acre (MP-AC). 

Os representantes da Telexfree sempre negaram irregularidades e afirmam que a empresa pratica marketing multinível, um modelo de venda direta de produtos. O MP do Acre provou, porém, que a firma tinha mais pacotes Voip — produto que as pessoas que aderiram ao negócio comercializam — do que habitantes do estado. Procurado, o advogado da empresa, Horst Fuchs, não foi encontrado. 

Durante uma audiência pública na Câmara dos Deputados, em agosto deste ano, Fuchs disse que não há o que temer. “Não somos pirâmides e vamos provar isso”, declarou. No entender da juíza do MP do Acre, Nicole Arnold, o pedido de recuperação judicial já era esperado, tendo em vista os inúmeros processos judiciais que envolvem a Telexfree. “Acredito que não há surpresa no pedido de recuperação judicial da empresa, devido a todos os problemas e acusações que ela tem enfrentado”, destacou.

Alertas 

O golpe do dinheiro fácil tem atraído milhões de pessoas. Na avaliação do educador financeiro Pedro Braggio, as práticas de pirâmide atingem, sobretudo, dois perfis de pessoas. O primeiro deles envolve endividados, que acreditam que ganharão recursos fáceis para tirar a corda do pescoço. O outro inclui aqueles que almejam ficar ricos de forma rápida e sem esforço algum de trabalho. “Todos acabam se iludindo. Afinal, estamos falando de fraude. Não há vantagem nesse tipo de negócio, a não ser para os líderes do esquema”, explicou.

Braggio disse ainda que o consumidor deve ficar atento a todas as ofertas que prometem ganhos muito altos, principalmente sem esforço algum. “Trata-se de um armadilha em que as pessoas caem e só percebem que é um golpe quando já perderam muito”, afirmou. Outra dica é questionar as pessoas que estão oferecendo o negócio. Se elas não conseguirem dar explicações ou ficarem confusas, é sinal de que algo pode estar errado. 

“Pesquise, também, a imagem da empresa, se ela tem credibilidade. Caso cobre uma taxa de adesão e exija o recrutamento de pessoas, tudo indica que é fraude”, alertou Braggio. O educador financeiro acrescentou que ganhar dinheiro atraindo outras pessoas para o negócio, em vez de vender algum produto, é um dos sinais mais claros de se tratar de golpe de pirâmide financeira.

DILMA JÁ CONVERSOU COM MANTEGA E TOMBINI SOBRE REAJUSTE DA GASOLINA



POR PAULO SIVA PINTO

A recuperação do real ante o dólar — a moeda brasileira subiu mais de 5% neste mês — está sendo observada pelo governo como uma janela de oportunidade para reajustar os preços da gasolina, sem que a inflação estoure o teto da meta, de 6,5%. O aumento, que pode chegar a 10% nas refinarias e ser anunciado nas próximas semanas, ajudará a reforçar o caixa da Petrobras.

A correção já foi prometida pela presidente Dilma Rousseff à comandante da estatal, Graça Foster. “O pedido da Petrobras está muito próximo de ser atendido. O momento ficou mais favorável ao governo, pois a inflação está bem comportada e se reduziu a pressão do dólar sobre os consumidores”, explicou um técnico da equipe econômica.

Segundo a economista-chefe da ARX Investimentos, Solange Srour, o governo foi ajudado pelo Federal Reserve (Fed), o banco central dos Estados Unidos. Como a instituição decidiu adiar as mudanças na política de incentivos à maior economia do planeta, o real começou a ganhar força perante o dólar. Assim, o risco de a moeda norte-americana atingir os R$ 2,70, como previram os especialistas, foi afastado e a tendência, por enquanto, é de o dólar se acomodar entre R$ 2,20 e R$ 2,25, diminuindo o impacto na inflação, que atormentava o BC brasileiro.

A presidente Dilma, conforme interlocutores do Planalto, já teria consultado o ministro da Fazenda, Guido Mantega, e o presidente do BC, Alexandre Tombini, para saber se há espaço, agora, para a correção nos preços da gasolina e do diesel. Os dois teriam avalizado o reajuste até meados de outubro. A perspectiva é de que, no caso da gasolina, o aumento para os consumidores fique entre 6% e 8%. “O martelo já foi levantado e será batido mais cedo do que muitos acreditam”, destacou um assessor econômico da Presidência da República.

Eleições de 2014

A expectativa de Solange e de vários analistas é de que as medidas de estímulo do Fed à economia norte-americana se mantenham até dezembro, o que contribuirá para segurar a cotação do dólar em relação ao real. Nessas condições, segundo ela, é possível elevar o preço da gasolina entre 8% e 10% nas refinarias, o que provocará aumento de 0,2 ponto percentual no IPCA. Mesmo com esse impacto, o Índice de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA) encerrará o ano em 6%, abaixo do teto da meta.

O reajuste dos combustíveis neste momento teria um benefício extra para o Palácio do Planalto: evitar a má notícia em meados de 2014, quando a presidente Dilma Rousseff já estará em campanha aberta à reeleição. Além disso, destacou Solange, haverá outros fatores de pressão nos preços. “É melhor ter um pouco mais de inflação neste ano e menos no próximo”, explicou.

Para o economista e diretor de gestão da Vetorial Asset, Pedro Paulo Silveira, a desaceleração do custo de vida e o aperto de caixa da Petrobras aumentam as possibilidades de reajuste neste momento.

Segundo o economista David Zylbersztajn, professor da Pontifícia Universidade Católica do Rio de Janeiro (PUC-RJ) e ex-diretor-geral da Agência Nacional do Petróleo (ANP), seria necessário elevar em 30% o preço do combustível para zerar a defasagem em relação ao mercado internacional, que prejudica a Petrobras.

Ele acredita, porém, que o reajuste da gasolina ficará bem abaixo disso, em torno de 10%. “Isso não vai resolver os problemas de caixa da estatal, apenas vai reduzir as perdas”, afirmou.

Médico brasileiro comenta 'gritaria' da mídia sobre médicos cubanos


“Acho estranho o governo ter falado em atrair médicos cubanos, 

portugueses e espanhóis, e a gritaria ser somente em relação aos 

médicos cubanos. Será que somente os médicos cubanos precisam

 revalidar diploma?”

Carta do médico Pedro Saraiva, enviada para o jornalista Luis Nassif e
 inicialmente reproduzida em seublog esclarece diversos pontos sobre a 
vinda dos médicos cubanos ao Brasil.
Por Pedro Saraiva
Olá Nassif, sou médico e gostaria de opinar sobre a gritaria em relação à vinda 
dos médicos cubanos ao Brasil
Bom, como opinião inteligente se constrói com o contraditório, vou tentar 
levantar aqui algumasinformações sobre a vinda de médicos cubanos para 
regiões pobres do Brasil que ainda não vi serem abordadas.
médicos cubanos haiti brasil
Médicos cubanos no Haiti atendem mais de 15 milhões de miseráveis (Foto: Divulgação)
- O principal motivo de reclamação dos médicos, da imprensa e do CFM seria uma suposta validação automática dos diplomas destes médicos cubanos, coisa que em momento algum foi afirmado por qualquer membro do governo. Pelo contrário, o próprio ministro da saúde, Alexandre Padilha, já disse que concorda que acontratação de médicos estrangeiros deve seguir critérios de qualidade e responsabilidade profissional. Portanto, o governo não anunciou que trará médicos cubanos indiscriminadamente para o país. Isto é uma interpretação desonesta.
- Acho estranho o governo ter falado em atrair médicos cubanos, portugueses e espanhóis, e a gritaria ser somente em relação aos médicos 
cubanos. Será que somente os médicos cubanos precisam revalidar diploma?
 Sou médico e vivo em Portugal, posso garantir que nos últimos anos conheci 
médicos portugueses e espanhóis que tinham nível técnico de sofrível para terrível.
 E olha que segundo a OMS, Espanha e Portugal têm, respectivamente, o 6º e o
 11º melhoressistemas de saúde do mundo (não tarda a Troika dar um jeito nesse
 excesso de qualidade). Profissional ruim há em todos os lugares e profissões. Do 
jeito que o discurso está focado nos médicos de Cuba, parece que o problema
 real não é bem a revalidação do diploma, mas sim puro preconceito.
- Portugal já importa médicos cubanos desde 2009. Aqui também há dificuldade 
de convencer os médicos a ir trabalhar em regiões mais longínquos, afastadas 
dos grandes centros. Os cubanos vieram estimulados pelo governo, fizeram 
prova e foram aprovados em grande maioria (mais à frente vou dar maiores detalhes 
deste fato). A população aprovou a vinda dos cubanos, e em 2012, sob pressão 
popular, o governo português renovou a parceria, com amplo apoio dos pacientes. 
Portanto, um dos países com melhores resultados na área de saúde do mundo
 importa médicos cubanos e a população aprova o seu trabalho.
 Acho que é ponto pacífico para todos que médicos estrangeiro tenham que ser
 submetidos a provas aí no Brasil. Não faz sentido importar profissionais de baixa
 qualidade. Como já disse, o próprio ministro da saúde diz concordar com isso. Eu 
mesmo fui submetido a 5 provas aqui em Portugal para poder validar meu título de 
especialista. As minhas provas foram voltadas a testar meus conhecimentos na área 
em que iria atuar, que no caso é Nefrologia. Os cubanos que vieram trabalhar em 
Medicina de família também foram submetidos a provas, para que o governo tivesse 
o mínimo de controle sobre a sua qualidade.
Pois bem, na última leva, 60 médicos cubanos prestaram exame e 44 foram aprovados
 (73,3%). Fui procurar dados sobre o Revalida, exame brasileiro para médicos 
estrangeiros e descobri que no ano de 2012, de 182 médicos cubanos inscritos,
 apenas 20 foram aprovados (10,9%). Há algo de estranho em tamanha dissociação. 
Será que estamos avaliando corretamente os médicos estrangeiros?
Seria bem interessante que nossos médicos se submetessem a este exame ao 
final do curso de medicina. Não seria justo que os médicos brasileiros também só 
fossem autorizados a exercer medicina se passassem no Valida? Se a preocupação
 é com a qualidade do profissional que vai ser lançado no mercado de trabalho, o 
que importa se ele foi formado no Brasil, em Cuba ou China? O CFM se diz tão
 preocupado com a qualidade do médico cubano, mas não faz nada contra o grande
 negócio que se tornaram as faculdades caça-níqueis de Medicina. No Brasil existe
 um exército de médicos de qualidade pavorosa. Gente que não sabe a diferença
 entre esôfago e traqueia, como eu já pude bem atestar. Porque tanto temor em
 relação à qualidade dos estrangeiros e tanta complacência com os brasileiros?

REVALIDA

- Em relação este exame de validação do diploma para estrangeiros abro um 
parêntesis para contar uma situação que presenciei quando ainda era acadêmico 
de medicina, lá no Hospital do Fundão da UFRJ.
Um rapaz, se não me engano brasileiro, tinha feito seu curso de medicina na 
Bolívia e havia retornado ao país para exercer sua profissão. Como era de se
 esperar, o rapaz foi submetido a um exame, que eu acredito ser o Revalida 
(na época realmente não procurei me informar). O fato é que a prova prática 
foi na enfermaria que eu estava estagiando e por isso pude acompanhar parte
 da avaliação. Dois fatos me chamaram a atenção, o primeiro é a grande má
 vontade dos componentes da banca com o candidato. Não tenho dúvidas que 
ele já havia sido prejulgado antes da prova ter sido iniciada. Outro fato foi o tipo 
de perguntas que fizeram. Lembro bem que as perguntas feitas para o rapaz eram
 bem mais difíceis que aquelas que nos faziam nas nossas provam. Lembro deles
 terem pedidos informações sobre detalhes anatômicos do pescoço que só interessam 
a cirurgiões de cabeça e pescoço. O sujeito que vai ser médico de família, não tem 
que saber todos os nervos e vasos que passam ao lado da laringe e da tireoide. O 
cara tem que saber tratar diarreia, verminose, hipertensão, diabetes e colesterol alto. 
Soube dias depois que o rapaz tinha sido reprovado.
Não sei se todas as provas do Revalida são assim, pois só assisti a uma, e mesmo 
assim parcialmente. Mas é muito estranho os médicos cubanos terem alta taxa de 
aprovação em Portugal e pouquíssimos passarem no Brasil. Outro número que 
chama a atenção é o fato de mais de 10% dos médicos em atividade em Portugal
 serem estrangeiros. Na Inglaterra são 40%. No Brasil esse número é menor que
 1%. E vou logo avisando, meu salário aqui não é maior do que dos meus colegas 
que ficaram no Brasil.
- Até agora não vi nem o CFM nem a imprensa irem lá nas áreas mais carentes do
 Brasil perguntar o que a população sem acesso à saúde acha de virem 6000 
médicos cubanos para atendê-los. Será que é melhor ficar sem médico do que
 ter médicos cubanos? É o óbvio ululante que o ideal seria criar condições
 para que médicos brasileiros se sentissem estimulados a ir trabalhar no 
interior. Mas em um país das dimensões do Brasil e com a responsabilidade 
de tocar a medicina básica pulverizada nas mãos de centenas de prefeitos, isso 
não vai ocorrer de uma hora para outra. Na verdade, o governo até lançou nos 
últimos anos o Programa de Valorização do Profissional da Atenção Básica 
(Provab), que oferece salários mensais de R$ 8 mil e pontos na progressão de 
carreira para os médicos que vão para as periferias. O problema é que até hoje 
só 4 mil médicos aceitaram participar do programa. Não é só salário, faltam 
condições de trabalho. O que fazemos então? vamos pedir para os mais pobres
 aguentar mais alguns anos até alguém conseguir transformar o SUS naquilo que
 todos desejam? Vira lá para a criança com diarreia ou para a mãe grávida sem 
pré-natal e diz para ela segurar as pontas sem médico, porque os médicos do sul 
e sudeste do Brasil, que não querem ir para o interior, acham que essa história de
 trazer médico cubano vai desvalorizar a medicina do Brasil.
- É bom lembrar que Cuba exporta médicos para mais de 70 países. Os cubanos 
estão acostumados e aceitam trabalhar em condições muito inferiores. Aliás, é nisso
 que eles são bons. Eles fazem medicina preventiva em massa, que é muito mais
 barata, e com grandes resultados. Durante o terremoto do Haiti, quem evitou uma 
catástrofe ainda maior foram os médicos cubanos. Em poucas semanas os médicos 
dos países ricos deram no pé e deixaram centenas de milhares de pessoas sem auxílio
 médico. Se não fosse Cuba e seus médicos, haveria uma tragédia humanitária de 
proporções dantescas. Até o New England Journal of Medicine, a revista mais
 respeitada de medicina do mundo, fez há poucos meses um artigo sobre a medicina 
em Cuba. O destaque vai exatamente para a capacidade do país em fazer medicina 
de qualidade com recursos baixíssimos (http://www.nejm.org/doi/full/10.1056/NEJMp1215226).
- Com muito menos recursos, a medicina de Cuba dá um banho em resultados
 na medicina brasileira. É no mínimo uma grande arrogância achar que os médicos 
cubanos não estão preparados para praticar medicina básica aqui no Brasil. O CFM 
diz que a medicina de Cuba é de má qualidade, mas não explica por que a saúde dos
 cubanos, como muito menos recursos tecnológicos e com uma suposta inferioridade
 qualitativa, tem índices de saúde infinitamente melhores que a do Brasil e semelhantes
 à avançada medicina americana (dados da OMS).
- Agora, ninguém tem que ir cobrar do médico cubano que ele saiba fazer cirurgia de
 válvula cardíaca ou que seja mestre em dar laudos de ressonância magnética. Eles 
não vêm para cá para trabalhar em medicina nuclear ou para fazer hemodiálises nos 
pacientes. Medicina altamente tecnológica e ultra especializada não diminui 
mortalidade infantil, não diminui mortalidade materna, não previne verminose, não 
conscientiza a população em relação a cuidados de saúde, não trata diarreia de 
criança, não aumenta cobertura vacinal, nem atua na área de prevenção. É isso que
 parece não entrar na cabeça de médicos que são formados para serem 
superespecialistas, de forma a suprir a necessidade uma medicina privada e 
altamente tecnológica. Atenção! O governo que trazer médicos para tratar 
diarreia e desidratação! Não é preciso grande estrutura para fazer o mínimo.
 Essa população mais pobre não tem o mínimo!
Que venham os médicos cubanos, que eles façam o Revalida, mas que eles sejam avaliados em relação àquilo que se espera deles. Se os médicos ricos do sul maravilha não querem ir para o interior, que continuem lutando por melhores condições de trabalho, que cobrem dos governos em todas as esferas, não só da Federal, melhores condições de carreia, mas que ao menos se sensibilizem com aqueles que não podem esperar anos pela mudança do sistema, e aceitem de bom grado os colegas estrangeiros que se dispõe a vir aqui salvar vidas.
Infelizmente até a classe médica aderiu ao ativismo de Facebook. O cara lê a Veja ou O Globo, se revolta com o governo, vai no Facebook, repete meia dúzia de clichês ou frases feitas e sente que já exerceu sua cidadania. Enquanto isso, a população carente, que nem sabe o que é Facebook morre à mingua, sem atendimento médico brasileiro ou cubano.

A perseguição do estado aos automóveis



Dia-mundial-sem-carro.jpgO estado moderno foi criado e construído sob a crença de que traria o progresso material para o mundo.
E como as coisas mudaram.  Houve uma época em que, por mais equivocadas que fossem as políticas adotadas, elas ao menos tinham a intenção de acelerar o progresso.  Hoje, ao contrário, o mesmo estado se esforça para reverter o progresso de todas as maneiras possíveis.  Pior ainda: ele até mesmo se vangloria das coisas "gloriosas" que está fazendo para tornar nossas vidas ainda mais miseráveis. 
Ele inclusive tem a cara-de-pau de se auto-elogiar dizendo que, sozinho, é capaz de fazer retroceder nossa constante batalha em busca de uma vida melhor.  E, em troca disso, ele espera que sejamos gratos aos nossos senhores de engenho — e que paguemos por esse privilégio.
Estes são os pensamentos que cruzaram minha mente ao ler esta reportagem do The New York TimesEuropa atormenta motoristas em prol de paraíso para pedestres.  (Ou, no Brasil, Automóvel será vetado no centro de SP no Dia Mundial Sem Carro).
Sim, é isso mesmo: políticos não estão tentando facilitar o ato de dirigir um automóvel; ao contrário, querem torná-lo mais problemático e irritante, e tudo com o intuito de que as pessoas abandonem seus carros, esqueçam-nos e voltem a andar a pé, exatamente como era antes da invenção da roda.
Agora, sinceramente: o fato de que você pode entrar em um dispositivo de aço, dirigi-lo a altas velocidades e ir aonde quiser é algo que tem de ser considerado como uma das maiores façanhas da história da humanidade.  Isso representou a libertação da vontade humana.  Nos últimos 100 anos, sempre que encontrávamos o progresso, a alegria e a satisfação humana, lá estava o automóvel.  O automóvel chegou muito perto de sobrepujar os grandes problemas gerados pela escassez de tempo e de espaço, além de ter-nos tornado capazes de realizar tarefas essenciais.  Além de nos permitir trabalhar, residir e fazer compras onde queremos, o automóvel também nos dá a liberdade de viajarmos para onde quisermos, fazendo com que cheguemos a cada um desses locais em uma fração do tempo que nossos ancestrais demoravam.
E o que o estado resolve fazer?  Ele tenta acabar com tudo isso.  "Governos estão criando ambientes urbanos abertamente hostis aos automóveis", diz o Times.  "Os métodos variam, mas a missão é clara: tornar o uso do carro algo caro e impossível o suficiente para fazer com que os motoristas optem por meios de transporte mais sustentáveis."
Será que estes políticos estão ao menos cientes de que estão meramente ressuscitando o plano de transportes de Mao Tsé-tung?  Quando Mao chegou ao poder em 1950, ele declarou que a China seria um zixingche de guo, o Reino das Bicicletas.  A bicicleta era um dos três itens que todos os cidadãos obrigatoriamente deveriam ter (os outros dois: um relógio e uma máquina de costura).  A bicicleta supostamente deveria ser um grande símbolo da igualdade e da disposição do cidadão em utilizar os próprios músculos para trabalhar pelo triunfo do socialismo.
E assim já está acontecendo ao redor do mundo ocidental, por enquanto de maneira mais proeminente na Europa, onde ruas estão sendo fechadas, estacionamentos estão sendo demolidos, e a gasolina está sendo tributada ao ponto de torná-la inacessível para o mais pobres — nada mais elitista.  Em vários locais, os limites de velocidade estão sendo reduzidos a um valor equivalente ao de uma caminhada, e, em outras localidades, os carros estão sendo completamente banidos.  A ideia não é a de construir a grande utopia socialista, mas sim a de "salvar o ambiente" — e que se dane o bem-estar dos seres humanos que pagam os impostos que permitem a estes governos existir e prosperar.
É tudo pela natureza?  Não, essa é apenas uma das justificativas.  No caso da Europa, os políticos também estão dizendo que as ruas são muito estreitas para lidar com um alto tráfego de automóveis, uma vez que a maioria delas foi construída antes da invenção do automóvel.  Isso é estranho: as ruas nos EUA também são anteriores ao automóvel, mas os americanos — como o empreendedor Brigham Young, que construiu Salt Lake City — tiveram a ideia de fazer suas ruas largas o suficiente para permitir que carruagens pudessem dar meia-volta.  Na maioria das vezes, o verdadeiro motivo é que os "planejadores urbanos" simplesmente não gostam de carros e, consequentemente, como afirmar a reportagem, "em geral concordam que um aumento no uso de carros não é desejável para as cidades."
O problema com os "planejadores urbanos" é que eles não pensam nas pessoas como sendo indivíduos com interesses próprios e que agem de acordo com seus próprios planos, resultando disso uma ordem espontânea que torna as cidades grandiosas.  Ao contrário, eles querem planejar tudo — como se possuíssem um olhar de água sobre toda a cidade e realmente fossem oniscientes —, e obrigar todas as pessoas a obedecer aos seus caprichos, mesmo que estes sejam deprimentes.  Na pior das hipóteses, estes planejadores estão secretamente horrorizados pela visão de milhões de pessoas vivendo bem e cuidando de suas próprias vidas, e, assim como Mao, clamam desesperadamente por aquilo que acreditam ser um sistema mais ordeiro.
Armados com o poder do estado contemporâneo — que está destruindo a prosperidade e o avanço civilizacional porque, na realidade, é somente isso que o estado sabe fazer bem —, os planejadores urbanos estão realmente conseguindo seus objetivos.  Mas a que custo?  Reverter um século de progresso é uma boa maneira de melhorar nossas vidas?  Os planejadores juram que sim, pois não apenas eles têm outras ideias sobre como nossas vidas deveriam ser, como também querem nos obrigar a aceitar suas imposições.  Eles querem que as cidades sejam mais parecidas com um viveiro de formigas do que com um local onde as pessoas escolhem, sonham e realizam.  A existência estática de operários e camponeses sob o comunismo parece ser um arranjo muito mais parecido com o mundo com que sonham.
A questão é que o automóvel nunca realmente foi bem visto pelos governos.  O automóvel é produto do mercado, e é utilizado por pessoas que querem alcançar objetivos individuais.  Em meu livro It's a Jetsons World, mencionei que, se o governo não fosse o proprietário das ruas e se ele não regulasse de maneira tão pesada as inovações nos meios de transporte, já poderíamos estar usufruindo carros voadores a esta altura.  É claro que esta minha afirmação não pode ser comprovada e nem refutada, mas é assim mesmo em um mundo no qual não há como se verificar alegações a respeito do que poderia existir na ausência de controles estatais e de medidas punitivas sobre a inovação e a produção.
Pense no quão pequeno está sendo o progresso mesmo naquelas localidades em que o automóvel é tolerado.  Recentemente, um novo modelo do Honda Accord passou por mim e eu pensei que fosse um Lexus.  Logo depois, um Lexus passou por mim e eu jurava que fosse um Accord 1995.  E então pensei: os carros estão realmente se aperfeiçoando ou será que estamos apenas girando em torno de estilos e designs?  É isso o que fazem empresas de setores nos quais os consumidores querem apenas inovação no estilo, mas não na estrutura (roupas masculinas, por exemplo).  Mas isso não é verdade para o setor de transportes.  Sim, há novos apetrechos de segurança e alguns penduricalhos a mais nos carros.  Mas por que os "carros-conceito" das principais fabricantes nunca chegam às ruas?  Quais inovações estamos perdendo?
Foi após pesquisar tudo isso que resolvi escrever um artigo específico sobre o assunto.  [Ver Por que os carros de hoje são todos iguais].  O fato é que há um vasto aparato de planejamento central controlando a produção de carros.  Há imposições de emissão e de consumo, há regulações sobre absolutamente tudo, do pneu ao ar-condicionado, há leis federais sobre segurança e tamanho do motor, e há vários outros milhares de quesitos.  Não há um único elemento do carro que não esteja sujeito a alguma regulamentação específica, inclusive o formato exato das luzes de alerta no painel.  Qual espaço realmente restou para inovações?
Tudo ocorre exatamente como Bastiat havia alertado que ocorreria em uma economia mista.  Jamais saberemos ao certo quais inovações não puderem existir e jamais farão parte de nosso mundo por causa das regulações que paralisam os inovadores.  Jamais saberemos ao certo quais tipos de bênçãos materiais poderiam estar amplamente disponíveis não fosse a espoliação diária de capital e criatividade que ocorre sob os auspícios do leviatã.
Governos sempre foram inimigos do progresso, mesmo quando alegam querer o progresso.  Nos últimos anos, estamos ouvindo declarações cada vez mais francas desta gente (proibição de sacola plástica é apenas o começo).  Eles querem o retrocesso, e querem isso com volúpia.  Caso vençam, o único terreno que ainda vivenciará um progresso real será aquele criado no universo digital, o qual os planejadores são muito lentos (e muito idiotas) para regular e, com isso, incapazes de nos levar de volta à Idade da Pedra que eles consideram ser o ideal.

Jeffrey Tucker é o presidente da  Laissez-Faire Books e consultor editorial do mises.org.  É também autor dos livros It's a Jetsons World: Private Miracles and Public Crimes e Bourbon for Breakfast: Living Outside the Statist Quo


A esperança para a liberdade está na secessão - Hans Hoppe sobre economia, filosofia e política


Entrevista concedida ao instituto Association for Liberal Thinking, da Turquia.

secessao2.jpgComo o senhor se tornou um libertário e quais pensadores foram os mais importantes na formação do seu pensamento?
Hoppe:
Quando ainda jovem, estudante do ensinomédio alemão, eu era marxista.  Depois, já como estudante da Universidade de Frankfurt, descobri a crítica de Böhm-Bawerka Marx, e aquilo liquidou a economia marxista para mim.
Consequentemente, durante o período seguinte, tornei-me um tanto cético, atraído pela metodologia positivista e especialmente pela falsificacionista popperiana, bem como pelo programa gradual de engenharia social de Popper.  Como o próprio Popper, naquela época eu era um social-democrata de direita.
E então as coisas passaram a mudar rapidamente.  Primeiro, descobri Milton Friedman (muito bom), depois Hayek (melhor), depois Mises (muito melhor, devido à sua metodologia explicitamente antipositivista — apriorística) e, finalmente, o mais importante sucessor teórico de Mises, Murray N. Rothbard.
Até que ponto sua educação formal coincidiu com sua transformação libertária?
Hoppe:
Não aprendi nada de libertarianismo ou de livre mercado na universidade.  Meus professores eram ou socialistas ou intervencionistas.  Ocasionalmente (muito raramente), os nomes de alguns livre-mercadistas eram mencionados: Boehm-Bawerk, Mises, Hayek, e também Herbert Spencer como sociólogo.  No entanto, eles eram imediatamente descartados como antiquados e obsoletos apologistas do capitalismo, indignos da atenção de qualquer "intelectual sério".  Portanto, tive de descobrir tudo por conta própria, por meio de muita leitura.  Li praticamente tudo sobre economia — e hoje, analisando em retrospecto, grande parte do material lido representou uma total perda de tempo.
Nos primeiros anos do século XX, economistas 'capitalistas' estavam em posições mais defensivas.  Isso era particularmente explícito antes de Mises começar a criticar o socialismo em suas obras.  Os escritos de Mises foram decisivos em fazer com que os socialistas adotassem sua atual posição defensiva.  Os escritos de Mises também abriram caminho para uma economia distinta, fora do paradigma neoclássico.  Durante a sua educação formal, o senhor era da opinião de que a economia austríaca era, ou deveria ser, distinta do pensamento neoclássico?  Como foi o processo de deixar de ser apenas crítica para se tornar uma abordagem alternativa?
Hoppe:
Até os anos 1950, a maioria dos economistas compartilhava a mesma visão de Lionel Robbins a respeito da natureza da economia.  Robbins, que havia sido fortemente influenciado por Mises, apresentou, em seu famoso livro Nature and Significance of Economic Science (1932), a economia como sendo um tipo de lógica aplicada (Mises chamaria de 'praxeologia').  A análise econômica deveria partir de algumas premissas simples e evidentemente verdadeiras (axiomas) e chegar, por meio da dedução lógica, a várias conclusões irrefutáveis (teoremas econômicos). 
Essas conclusões ou teoremas, desde que nenhum erro houvesse sido cometido no processo da dedução, têm de ser logicamente verdadeiros, e seria um erro categorial se alguém quisesse 'testar empiricamente' tais teoremas.  (Nós também não testamos 'empiricamente' verdades e argumentos lógicos, ou mesmo proposições matemáticas.  Por exemplo, não testamos empiricamente a lei de Pitágoras; podemos prová-la dedutivamente.  E aquele que quiser 'prová-la' empiricamente, mensurando ângulos e comprimentos, não será considerado 'mais científico', mas sim alguém totalmente confuso).  Hoje, apenas os austríacos ainda defendem esta (correta) visão da ciência econômica como sendo uma lógica aplicada.
A partir da década de 1950, em grande parte devido à influência de Milton Friedman, a maioria dos economistas passou a adotar a visão 'positivista' de que a ciência econômica deveria tentar imitar os métodos utilizados na física.  Como resultado, a ciência econômica moderna foi transformada em uma simples matemática de baixo nível, não possuindo nenhum significado empírico e nenhum tipo de aplicação prática.  Os economistas de hoje se limitam a fazer duas coisas, ambas uma total perda de tempo: construir e testar 'modelos' para (na melhor das hipóteses) comprovar aquilo que já é óbvio para qualquer ser humano minimamente inteligente — como o fato de que a água corre para baixo — e demonstrar por meios empíricos aquilo que pode ser provado por meio da lógica (como confirmar a lei de Pitágoras empiricamente).  
No entanto, em muitos casos, e pelos mesmos métodos, eles também se esforçam para "provar" empiricamente que, em algumas situações, a água pode correr para cima e a lei de Pitágoras pode deixar de ser válida.  Isso acontece quando economistas defendem, por exemplo, o controle de preços para combater a carestia ou o aumento dos gastos para combater recessões, sempre sob o argumento de que "dessa vez será diferente".  E nunca é.  Em suma, a moderna economia convencional está em situação de total calamidade.
Quando eu comecei a estudar economia, ensinaram-me a metodologia positivista.  No entanto, desde o início, aquilo nunca me convenceu.  A lei da utilidade marginal, ou a teoria quantitativa da moeda, ou a afirmação de que um aumento no salário mínimo para $1.000 a hora resultaria em desemprego em massa não me pareciam ser hipóteses questionáveis que necessitassem de qualquer tipo de teste empírico, mas sim óbvias verdades lógicas.  Demorei um pouco para descobrir que esta era na verdade a visão clássica, defendida mais explicitamente por Robbins e Mises.  Descobrir Mises e Robbins, portanto, foi um grande alívio intelectual para mim, e foi o que me fez levar (e estudar) a ciência econômica a sério.
A atual economia convencional, chamada de mainstream, é totalmente irrelevante.  Pior ainda: está sempre aberta à perigosa ideia da experimentação e da engenharia social (qual outra forma de se testar hipóteses?), uma verdadeira tentação para políticos populistas.  É por isso que o moderno estado intervencionista sempre se mostra totalmente disposto a financiar toda uma seara de economistas.  O estado sabe que eles criarão justificativas para todo e qualquer programa intervencionista.  Por outro lado, a economia austríaca não apenas é de grande importância prática, como também se opõe rigorosamente a qualquer tipo de intervencionismo econômico por sabê-lo contraproducente.  Não é surpresa alguma, portanto, que a Escola Austríaca não receba nenhum apoio ou suporte financeiro. 
Não obstante, sou otimista quanto ao futuro da economia convencional: creio que ela desaparecerá devido à própria irrelevância (artigos acadêmicos publicados em famosos periódicos praticamente não têm leitores) e será desalojada pela Escola Austríaca.  Um bom indício disso é a proliferação espontânea de Institutos Mises ao redor de todo o globo, os quais têm mais leitores do que qualquer site sobre economia convencional.
Em sua versão moderna, a Escola Austríaca, com sua ênfase em direitos de propriedade, empreendedorismo e liberdade, possui aliados naturais entre as diferentes escolas de pensamento econômico.  Por exemplo, a abordagem sobre direitos de propriedade elaborada por Coase e Alchian é muito similar às posições dos austríacos.  O senhor acha que os escritos de Mises exerceram alguma influência sobre a ênfase dada aos direitos de propriedade e às soluções de mercado das outras escolas?  Há algum elo visível entre Mises e algumas destas pessoas?
Hoppe:
Desconheço qualquer elo intelectual entre Mises e a moderna Escola de Chicago, tanto a econômica quanto a jurídica.  Tampouco há algum elo entre o pensamento de Mises e as ideias de Coase e de seu sucessor, Richard Posner.  Por outro lado, Hayek foi um dos professores de Coase na London School of Economics.
A similaridade entre a visão austríaca e a visão de Chicago acerca da ciência econômica e do direito é meramente superficial.  Na realidade, ambas estas tradições intelectuais são fundamentalmente opostas umas às outras.  É um erro comum, mas extremamente sério, pensar que a Escola de Chicago é defensora dos direitos de propriedade.  Com efeito, Coase e seus seguidores são os mais perigosos inimigos dos direitos de propriedade.  Eu sei, isso pode soar inacreditável para algumas pessoas.  Sendo assim, permita-me explicar melhor esta posição, utilizando um dos exemplos oferecidos pelo próprio Coase em seu famoso artigo sobre "Custo Social".
Uma ferrovia passa ao lado de uma fazenda. O motor do trem emite faíscas, e as faíscas danificam as plantações do fazendeiro. O que deve ser feito?  Do ponto de vista austríaco (e também do clássico e também do bom senso), o que precisa ser estabelecido é quem estava lá primeiro: o fazendeiro ou a ferrovia?  Caso seja o fazendeiro, ele poderia então obrigar a ferrovia a interromper suas atividades (através de uma ordem de cessação), ou a parar de emitir faíscas ou então exigir compensação.  Caso seja a ferrovia quem se estabeleceu ali primeiro, então ela poderia continuar emitindo faíscas, e o fazendeiro teria de pagar à ferrovia caso ele quisesse se manter livre das faíscas.
Já a resposta de Coase e de Posner é totalmente diferente.  Segundo eles, é errado pensar no fazendeiro e na ferrovia em termos de "certo" ou "errado", de "agressor" e "vítima".  Permita-me citar o início do famoso artigo de Coase:
O problema é normalmente pensado como: 'A causa danos a B', e a decisão a ser tomada é 'Como deveríamos restringir A?'.  Mas isso está errado.  Estamos lidando com um problema de natureza recíproca.  Evitar o dano causado a B seria infligir dano a A.  A verdadeira questão a ser decidida é: deveria A ter permissão para prejudicar B ou será que B é quem deveria ter permissão para prejudicar A?  O problema é como evitar o dano mais sério.
Em outras palavras, o problema é maximizar o valor da produção ou a 'riqueza'.  De acordo com Posner, qualquer coisa que aumente a riqueza social é justa e qualquer coisa que não a aumente é injusta.  A tarefa dos tribunais, portanto, seria determinar direitos de propriedade (e responsabilidades legais) aos queixosos de tal maneira que a "riqueza" seja maximizada.
Para o exemplo acima considerado, isso significa que, se o custo de se evitar as faíscas for menor que o prejuízo da colheita, então o tribunal deveria ficar do lado do fazendeiro e responsabilizar a ferrovia. Por outro lado, se o custo de se evitar as faíscas for maior que o prejuízo da colheita, então o tribunal deveria ficar do lado da ferrovia e responsabilizar o fazendeiro.  Posner oferece outro exemplo. Uma fábrica emite fumaça e, por isso, diminui o valor das propriedades residenciais na vizinhança. Se o valor das propriedades cai $3 milhões e o custo de se remanejar a fábrica é de $2 milhões, a fábrica deve ser condenada e obrigada a se mudar.  Entretanto, se os números forem trocados — o valor das propriedades cai $2 milhões e os custos de remanejamento são de $3 milhões — a fábrica poderá continuar ali emitindo fumaça.
Ainda mais importante, tudo isso significa também que os direitos de propriedade (e as responsabilidades civis) não mais são estáveis, constantes e fixos; eles se tornaram variáveis.  Os tribunais designarão direitos de propriedade de acordo com os volúveis dados do mercado.  Se os dados mudarem, os tribunais podem rearranjar tais direitos.  Ou seja, circunstâncias diferentes levam a uma redistribuição dos títulos de propriedade. Nesse cenário, ninguém jamais está seguro de sua propriedade.  A incerteza jurídica se torna permanente.
Isso não parece ser justo nem eficiente.  Ademais, quem em sã consciência iria utilizar um tribunal que tenha anunciado que, no decurso do tempo, poderá realocar os atuais títulos de propriedade dependendo das voláteis condições de mercado?  Tal maneira de atribuir direitos de propriedade certamente não leva a uma maximização da riqueza no longo prazo.
O que o senhor pensa a respeito do papel do estado na sociedade?  O estado é uma necessidade prática ou ele é um mal necessário?  Como o senhor descreveria a transição de um modelo estatista para uma sociedade liberal-clássica?
Hoppe:
Antes é necessário definirmos rapidamente o que é o estado.  Eu adoto aquilo que pode ser chamado de definição padrão: um estado é uma agência que detém um monopólio da tomada suprema de decisões jurídicas para todos os casos de conflito, inclusive conflitos envolvendo o próprio estado.  Consequentemente, ele também possui o direito de tributar sem enfrentar resistência.
Em microeconomia aprendemos que monopólios são ruins do ponto de vista dos consumidores.  Monopólio, em seu sentido clássico, é entendido como sendo um privilégio exclusivo outorgado a um único produtor de um bem ou serviço — isto é, há uma proibição da livre entrada de concorrência em uma linha específica de produção.  Em outras palavras, apenas uma agência, A, pode produzir um determinado bem, x.  Qualquer monopolista desse tipo é ruim para os consumidores porque, pelo fato de estar protegido contra a entrada de potenciais concorrentes em sua área de produção, o preço do produto x do monopolista será mais alto e a qualidade de x será mais baixa do que seria em um ambiente concorrencial.
Por que este raciocínio deveria ser diferente quando aplicado ao monopólio estatal compulsório da jurisdição de seu território?  O estado detém o monopólio dos serviços jurídicos e policiais.  Por que esta lei econômica não se aplicaria a ele?  Dado que o estado é um monopolista clássico, é de se esperar que o preço de seus serviços (cuja aceitação é obrigatória) sejam mais altos e de menor qualidade do que seria em ambiente concorrencial.  Para piorar, uma vez que o estado é o juiz até mesmo dos conflitos em que ele próprio esteja envolvido, é de se esperar que o estado tenha interesse em causar conflitos para que ele os "resolva" de acordo com seus próprios interesses.  Isso não é justiça (um bem), mas sim injustiça (um mal).
Portanto, respondendo à sua pergunta: Não!  Considero o estado um mal desnecessário.  Em uma ordem natural, com uma variedade de agências de seguro e de intermediação, o preço dos serviços de justiça cairia e a qualidade destes serviços subiria.  Meu livro Democracia - o deus que falhou e meu artigo A produção privada de serviços de segurança explicam em detalhes consideráveis como sociedades sem estado — sociedades autônomas, geridas por si mesmas — funcionariam e gerariam uma prosperidade incomparável.
Agora, a respeito de metas de transição para a liberdade, a resposta é a mesma para qualquer país, seja ele a Turquia ou Alemanha, a França ou a China, a Colômbia ou o Brasil.  A democracia não é a solução — como também não foi a solução para os países do antigo império soviético.  Tampouco a centralização — como ocorre na União Europeia — seria a resposta.
Ao contrário, a maior esperança para a liberdade vem justamente dos países pequenos: Mônaco, Andorra, Liechtenstein, e até mesmo Suíça, Hong Kong, Cingapura, Bermuda etc.  Quem preza a liberdade deveria torcer e fazer de tudo pelo surgimento de dezenas de milhares destas entidades pequenas e independentes.  Por que não uma Istambul livre e independente, que mantém relações cordiais com o governo central da Turquia, mas que não tem de pagar impostos e nem receber repasses, e que não mais reconhece as leis impostas pelo governo central, pois tem as suas próprias?
Como seus antepassados clássicos, os novos liberais não buscam a tomada do governo.  Eles o ignoram e querem que ele os deixe em paz.  Mais ainda: querem se seceder de sua jurisdição para poderem organizar sua própria proteção.  Ao contrário de seus predecessores, que apenas tentaram substituir um governo grande por um menor, os novos liberais levam a lógica da secessão até seu extremo.  Eles propõem secessão ilimitada, isto é, a proliferação irrestrita de territórios livres e independentes, até que o alcance da jurisdição do estado se esvaeça.  Para este fim — e em completo contraste com projetos estatizantes como "Integração Europeia", ALCA, NAFTA, "Nova Ordem Mundial" —, eles promovem a visão de um mundo com dezenas de milhares de países, regiões e cantões livres, de centenas de milhares de cidades livres.  Ou, para serem ainda mais livres, distritos e vizinhanças completamente autônomos e integrados economicamente por meio do livre comércio.  Como será explicado a seguir, quanto menor o território, maior a pressão econômica para se aceitar o livre comércio.  E quanto menores as unidades políticas, maiores as chances de se adotar um padrão monetário baseado em alguma commodity, muito provavelmente o ouro.
Os apologistas de um estado forte e centralizado alegam que tal proliferação de unidades políticas independentes levaria à desintegração econômica e ao empobrecimento.  No entanto, não apenas a evidência empírica contradiz esta alegação — todos os pequenos países citados acima são mais ricos que seus vizinhos —, como também uma reflexão teórica mostra que tal alegação não passa de mais um mito estatista.
Governos pequenos possuem vários concorrentes geograficamente próximos.  Se um governo passar a tributar e a regulamentar mais do que seus concorrentes, a população emigrará, e o país sofrerá uma fuga de capital e mão-de-obra.  O governo ficará sem recursos e será forçado a revogar suas políticas confiscatórias.  Quanto menor o país, maior a pressão para que ele adote um genuíno livre comércio e maior será a oposição a medidas protecionistas.  Toda e qualquer interferência governamental sobre o comércio exterior leva a um empobrecimento relativo, tanto no país quanto no exterior.  Porém, quanto menor um território e seu mercado interno, mais dramático será esse efeito.  Se os EUA adotarem um protecionismo mais forte, o padrão de vida médio dos americanos cairá, mas ninguém passará fome.  Já se uma pequena cidade, como Mônaco, fizesse o mesmo, haveria uma quase que imediata inanição generalizada.
Imagine uma casa de família como sendo a menor unidade secessionista concebível.  Ao praticar um livre comércio irrestrito, até mesmo o menor dos territórios pode se integrar completamente ao mercado mundial e desfrutar todas as vantagens oferecidas pela divisão do trabalho.  Com efeito, seus proprietários podem se tornar os mais ricos da terra.  Por outro lado, se a mesma família decidir se abster de todo o comércio inter-territorial, o resultado será a pobreza abjeta ou até mesmo a morte.  Consequentemente, quanto menor for o território e seu mercado interno, maior a probabilidade de sua adesão ao livre comércio.
Por fim, irei apenas mencionar, mas sem no entanto adentrar em detalhes explicativos por pura falta de espaço, que a secessão também promoveria uma integração monetária e levaria à substituição do atual sistema monetário baseado em moedas fiduciárias nacionais — que flutuam entre si e se desvalorizam diariamente — por um padrão monetário baseado em uma commodity totalmente fora do controle dos governos.  Em suma, o mundo seria formado por pequenos governos liberais e seria economicamente integrado por meio do livre comércio e por uma moeda-commodity internacional, como o ouro.  Seria um mundo de prosperidade, crescimento econômico e avanços culturais sem precedentes.
O que o senhor tem a dizer a respeito do pensamento libertário em países em desenvolvimento?  Eles podem adotar uma economia de mercado mais livre?  O senso comum é o de que, quanto mais pobre um país, maior a necessidade de um governo forte e provedor.  O senhor é otimista quanto ao futuro destes países no que diz respeito aos valores liberais-clássicos?
Hoppe:
A humanidade foi dotada desta faculdade esplêndida que é a razão.  Por isso, sempre podemos ter a esperança de que a verdade irá vencer no final.  Agora, se é possível ser otimista em relação a um determinado país, isso vai depender totalmente da seguinte questão: quantos membros (em termos de proporção) da elite intelectual deste país possuem um conhecimento sólido a respeito de fundamentos econômicos?  Uma das tarefas centrais de um instituto que divulga ideias econômicas é produzir e multiplicar a quantidade destas pessoas, e assim criar motivos para o otimismo.
O que um país "em desenvolvimento" tem de entender é o seguinte: existem motivos pelos quais alguns países são ricos e outros são pobres — e tais motivos pouco têm a ver com a 'exploração' dos pobres pelos ricos (embora tal coisa indubitavelmente também ocorra).  Há apenas um caminho para a prosperidade geral: divisão do trabalho, poupança e investimento.  Países ricos são ricos porque, por meio de sua poupança e de seu investimento — ambos possibilitados pela divisão do trabalho —, acumularam uma grande quantidade de bens de capital per capita.  Países pobres são pobres porque acumularam pouco capital.  Por que há muita poupança, muito investimento e muito capital acumulado em alguns países e pouco ou quase nada em outros?  Porque em alguns países há, ou houve no passado, um grau relativamente alto de proteção e de garantias à propriedade privada, ao passo que em outros países a propriedade privada está ou já esteve sob constantes ataques, seja por meio da tributação, da regulamentação ou do confisco direto.  Onde a propriedade privada não está protegida, haverá pouca poupança e investimento.
Ademais, é essencial que um país 'em desenvolvimento' entenda que uma moeda forte e um sistema monetário sólido são também um aspecto essencial da segurança à propriedade.  Países com histórico de inflação alta não atraem investimentos e nem permitem a formação de riqueza.  Por isso, é de suprema importância entender a seguinte lei: um aumento na quantidade de papel-moeda criado pelo governo não pode — nunca, jamais — aumentar a riqueza social.  Isso é uma impossibilidade física.  Afinal, imprimir dinheiro significa apenas aumentar o número de pedaços de papel pintado na sociedade.  Tal medida não cria um único bem de capital ou de consumo.  Ela não aumenta o padrão de vida como um todo.  Se fosse fácil assim, se mais dinheiro de papel pudesse produzir maior riqueza, simplesmente não mais haveria uma só pessoa pobre ao redor do mundo.
A única coisa que a inflação pode fazer — e de fato faz — é uma sistemática redistribuição da riqueza social já existente, redistribuição esta que se dá em prol do governo (que é o produtor do dinheiro) e de seus clientes mais imediatos (estatais, funcionários públicos e empresários com boas conexões políticas), e à custa daqueles que recebem este dinheiro por último — e que, ao receberem-no, já estão com seu poder de compra reduzido, pois os preços dos bens e serviços da economia já aumentaram em decorrência desta inflação monetária.  Inflação monetária é o equivalente a roubo e confisco de renda, e os governos dos países 'em desenvolvimento' possuem o histórico de serem os piores agressores à segurança monetária de cidadãos e investidores.
Meu conselho aos países subdesenvolvidos: adquiram a reputação de ser um lugar que respeita a propriedade privada, um lugar em que a propriedade, inclusive o dinheiro, está garantidamente a salvo (pense na Suíça, por exemplo).  Assim haverá uma chance de prosperar.  Caso contrário, nada feito.

Hans-Hermann Hoppe é um membro sênior do Ludwig von Mises Institute, fundador e presidente da Property and Freedom Society e co-editor do periódico Review of Austrian Economics. Ele recebeu seu Ph.D e fez seu pós-doutorado na Goethe University em Frankfurt, Alemanha. Ele é o autor, entre outros trabalhos, de Uma Teoria sobre Socialismo e Capitalismo eThe Economics and Ethics of Private Property.