segunda-feira, 7 de outubro de 2013

"Pelo amor das vacas!" Alarde na comunidade vegetariana

"Pelo amor das vacas!" Alarde na comunidade vegetariana



A "milícia vegetariana" grita por justiça. Um "carnívoro do mal" ataca covardemente seu orgulho de comer salada com esta imagem:


Prontamente os "cavaleiros da justiça animal" respondem:


Ok... Agora que porra foi essa
Cá para nós, o vegetarianismo parece estar em voga com bastante força. Cada vez mais pessoas estão aderindo ao movimento, seja pela justiça animal, por questões religiosas ou por mudança de hábitos alimentares voluntária. 9% da população brasileira é vegetariana, o que dá um bom número. Para os que ainda não sabem, os vegetarianos eliminam do cardápio todo tipo de carne (bovina, suína, de aves e de peixes). Alguns consomem ovo, leite e seus derivados, enquanto outros eliminam o ovo da dieta. Os vegans vão além. Não comem nada que seja de origem animal e nem usam qualquer produto que tenha em sua composição qualquer coisa de origem animal, tampouco usam produtos testados em animais.
Perfeito, com as coisas esclarecidas, vamos ao fato mostrado acima. Um belo dia vi a primeira imagem, ri do "coma pedras" (lembrando de uma amiga que falava que comia até pedra) e descartei da mente. Pouco depois, começaram a pipocar inúmeras imagens em resposta, como a segunda, e abaixo delas sempre mais de 20 ou 30 comentários no Facebook, muitos deles furiosos com a primeira imagem, dando a entender que o autor era um criminoso digno de pena de morte. Alguns desses vegetarianos chegavam a falar que "na Nova Era ninguém mais vai comer carne, e os 'carnívoros' vão estar fodidos", quase como se os vegetarianos fossem jedis e os que consomem carne fossem o lado negro da força.
Todo esse alarde por causa de uma piada...
O primeiro problema da internet é que nela qualquer merda vira motivo de discussão ou polêmica, pela (falsa) liberdade que estar atrás de um monitor e um teclado dá ao indivíduo. É uma sensação boa a de poder falar o que quiser nas redes sociais, mesmo que seja uma tremenda estupidez, e sair ileso (no máximo com um orgulho ferido, talvez). Foi mais ou menos isso que começou esta babaquice em larga escala. Um zé-mané qualquer resolveu, de trás de sua fortaleza virtual, fazer uma piada para provocar a população vegetariana. E o mais triste é que conseguiu.
Vejo crianças brigando para provar que seu brinquedo é o melhor. Vejo pessoas verdadeiramente infantis incapazes de levar uma piada na esportiva. E vejo crianças mal-criadas não respeitando o ponto de vista do outro. Os que comem carne parecem achar ridículo que uma pessoa não o faça, por questões várias de acordo com cada um, e os vegetarianos não sabem manter a compostura ante uma piada, seja ela de mau-gosto ou não. Um precisou bater no orgulho do outro, e outro teve de responder à altura, esquecendo-se que responder à altura é, muitas vezes, rebaixar-se ao nível dos menos sensatos.
Existe uma tendência a impor um ponto de vista como a verdadeabsoluta. Não é diferente com esses vegetarianos que responderam da forma que responderam. Claro que existe a causa animal, que existem industrias produtoras pecuárias ganaciosas que abusam dos animais, claro que existe desmatamento fomentando pastagens para a criação de gado... São problemas sérios, de fato. Porém, agir como se quem consome carne fosse tão assassino e crimonoso quanto os que cometem tais crimes é generalizar, caluniar e semear discórdia. Para começar, perder a compostura por causa de uma piada é um grave sinal de imaturidade. Por mais que algo fira seus ideais, o importante é captar o que a pessoa realmente quer dizer com aquilo. Se foi dito somente para provocar, a melhor resposta é, de longe por anos-luz, ignorar
A segunda imagem diz: "Pense | Amadureça | Evolua". Falaram o que falaram sem lembrar que é necessário, antes, ser o exemplo. Na minha humilde opinião, quem se entrega à raiva não pensa, quem quer impor sua vontade não é maduro e quem só vê um lado do prisma não evolui.

lógica não fecha: China é líder em pedidos de patentes e Brasil carece de investimento privado em invoação

A China conquistou o primeiro lugar em pedidos de patentes, seguida por Estados Unidos, Japão e Europa. O trabalho foi feito em parceria com o Instituto Nacional da Propriedade Industrial (Inpi) e a Confederação Nacional da Indústria (CNI).
O mais curioso é que o relatório aponta que os maiores pedidos de patentes no Brasil são oriundos de empresas estatais e universidades, o que demonstraria uma carência do setor privado em inovação. Entretanto, a China, topo da lista, é reconhecida como maior financiador público da indústria e inovação. Ou seja, em termos de PI, o INPI continua com seus argumentos que não se sustentam até o segundo parágrafo.
A notícia foi publicada no site Vermelho:
Os cientistas brasileiros publicaram 46,7 mil artigos científicos em periódicos no ano passado, número que coloca o Brasil em 14º lugar como produtor mundial de pesquisas. Segundo o relatório feito pela empresa Thomson Reuters, isso equivale a 2,2% de tudo o que foi publicado no mundo, em 2012. Nos últimos 20 anos, o país subiu dez posições nesse ranking.
No Brasil, o ramo científico que mais produziu artigos foi a medicina clínica. No período de 2008 a 2012, foram produzidos quase 35 mil artigos. Em segundo lugar, ficou a ciência de plantas e animais, com 19,5 mil artigos no mesmo período. Ciências agrárias produziram 13,5 mil artigos entre 2008 e 2012. O maior crescimento foi visto nas ciências sociais e gerais, que saltaram de 1,5 mil entre 2003 e 2007 para 9,8 mil entre 2008 e 2012. Os maiores detentores de patentes no país, revelou a pesquisa, foram a Petrobras e as universidades públicas. De 2003 a 2012, a Petrobras registrou 450 patentes. Logo atrás, veio a Universidade Estadual de Campinas (Unicamp), com 395 patentes. Em terceiro, ficou a Universidade de São Paulo (USP), com 284 patentes. A Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG) vem logo em seguida, com 163 patentes.
Como consequência do aumento na produção científica, o pedido de patentes no país chegou a 170 mil no período de 2003 a 2012. Segundo o presidente do Inpi, Jorge Ávila, o órgão continua lidando com o forte crescimento do número de pedidos de patentes, que foi 33,5 mil em 2012, com projeção de alcançar 40 mil este ano.

Na internet nada se cria, tudo se copia ? Direitos propriedade intelectual

Pirate Flag and Computer MouseO acesso a internet e as teclas CTRL C e CTRL V
criaram um mercado de “cópia” de conteúdo sem
controle e com volumes impressionantes, tanto para
textos quanto para imagens. Conteúdos originais são
criados por poucos na internet, mas a cópia destas
produções acabam sendo feitas por uma grande
quantidade de usuários. Isto ocorre por vários motivos
 mas, basicamente, é estimulado pela facilidade de se
copiar conteúdos quanto pela falta de informação sobre direito autoral.
Neste artigo vou explicar tecnicamente como alguns sites estão utilizando a
 cópia de conteúdo para gerar “lucros” e como isso pode ser entendido pela
 justiça. Provavelmente este assunto não tenha ganhado destaque nas mídias
pois ainda é desconhecido por muitos e o controle sobre isto demanda trabalho
 e paciência. Para colaborar com este texto, o Dr. João Carmelo fará suas
considerações do ponto de vista jurídico buscando orientar os leitores a entender
 melhor o que é correto ou não neste meio digital.
BLOGS
Criar um blog é muito simples e rápido, mas gerar seu conteúdo dá trabalho.
Existem milhares de blogs na internet, sobre diferentes assuntos, atualizados
 diariamente. Mas o que motiva alguém a escrever um blog é o seu retorno,
pois um blog com grande visibilidade significa que ele terá um potencial para
 atrair leitores de um determinado segmento e isso pode gerar lucros com
anúncios ou programas de afiliados.
Ambos os meios citados, anúncios e afiliados, dependem de acessos dos usuários 
para terem retorno. Para gerar este acesso o blog precisa ter conteúdo para que este
 seja mapeado pelos mecanismos de busca, mostrando seu link preferencialmente
 nos primeiros resultados.
REDES SOCIAIS
Além de um blog, outro meio de conseguir grandes acessos são as redes
 sociais. Ferramentas como o Facebook permitem criar comunidades de
seguidores interessados em um determinado assunto. Postando com
certa frequência conteúdos de interesse do grupo e o compartilhamento
das informações pelos próprios membros, o aumento do tráfego e,
consequentemente, da audiência, será possível explorar financeiramente
estes acessos com o oferecimento de produtos e serviços de maneira
segmentada.
O PROBLEMA
Para alimentar seus blogs e comunidades em redes sociais, muitos
 usuários se utilizam de conteúdos de terceiros, copiando seus textos
e imagens. Ocorre que muitos destes usuários não citam os autores,
links originais ou simplesmente omitem esta informação, o que é mais
 grave. Além disso, mesmo citando o autor, é necessário ter uma autorização
do mesmo para uso do conteúdo.
Desta forma, estes usuários estão se utilizando de conteúdos de terceiros
 para conseguir manter seu volume de acessos e obter lucros por
 meios de propaganda segmentada.
COMO DESCOBRIR
Para descobrir se algum texto seu está sendo utilizado de forma
 indevida existe um mecanismo muito simples que eu utilizo por
 exemplo para descobrir quando algum aluno copiou o trabalho
da internet, ou pelo menos parte dele. Basta você escolher um
pequeno trecho do texto e colocar nas pesquisas do Google, mas
 coloque a frase entre aspas, assim o Google pesquisará a frase
idêntica, entre 5 a 10 palavras são suficientes. Recomendo que
você utilize um trecho qualquer do seu texto, mas não o título, pois
este normalmente é alterado.
O JURÍDICO
Passo a palavra para o Dr. João Carmelo, que falará mais sobre
 este tema do ponto de vista jurídico:
“O tema sobre a questão do direito autoral na internet apresenta
 situações jurídicas complexas, pois atualmente o Direito brasileiro
 não possui uma lei especifica no assunto, porém a jurisprudência
dos Tribunais destacam sua importância, principalmente quando
alguém interessado em publicar algo valendo-se do plágio, acaba
 copiando uma matéria ligada ao seu tema. Mas, para vc. obter um
 respaldo jurídico, necessário se faz obter uma autorização do autor,
 para que possa estar respaldado juridicamente, caso contrário,
responderá processos criminais e indenizatórios. Importante destacar,
 que a pesquisa, quando indica a fonte originária, ela possui semelhanças
 de autorização, mas não significa que a pessoa tenha dado autorização,
mas servirá de respaldo, desde que tenha trabalhado com a fonte inclusive
 mencionando seu ponto de vista. Assim, para evitar qualquer prejuízo futuro,
o importante é que tenha a autorização do autor, pois dessa forma servirá de
respaldo além da tranqüilidade para ambas as partes.”
Colaboração neste texto: Dr. João Carmelo, Alonso Advocacia

Democracia x Capitalismo


O povo brasileiro tem demonstrado claramente, e de forma democrática, pelo voto, o que ele quer: a continuidade dos governos do Lula e da Dilma. No entanto, o governo sente dificuldades para dar continuidade a esses governos, aprofundando e estendendo as transformações da década passada.

Porque o Estado não dispõe, por si só, dos recursos suficientes para dinamizar a economia. O governo depende dos investimentos privados e estes se recusam a se adequar ao que politicamente o povo deseja. Preferem permanecer na especulação financeira interna e na exportação de capitais para os paraísos fiscais.

Essa a contradição entre democracia e capitalismo. A vontade popular é uma, mas os recursos para concretizá-la são apropriados privadamente pelos grandes empresários. Estes demandam condições impossíveis do governo para investir.

A saída tem que vir dos investimentos estatais, que só podem provir de uma profunda reforma tributária, que faça com que os que têm mais paguem mais, propiciando ao Estado os recursos para se responsabilizar pela concretização da vontade popular. A democracia se choca frontalmente com o mecanismo fundamental do capitalismo – a apropriação privada do excedente e sua aplicação somente em condições imensamente favoráveis à multiplicação do lucro. 

A forma de superação atual da contradição só pode vir de um papel muito mais ativo e substancial do Estado na economia, não apenas com formas de regulação e incentivo, mas também como investidor fundamental. Para isso, precisa drenar recursos pela via da tributação, de uma profunda reforma socialmente justa dos impostos.

A estrutura tributária é extremamente injusta. Há muito mais impostos indiretos – pagos por todos de forma igual – do que impostos diretos. As grandes empresas conseguem formas de pagar pouco ou simplesmente não pagar impostos.

Quando se fala de reforma tributária, os grandes empresários imediatamente pensam em pagar menos impostos. Mas são beneficiários de infindáveis vantagens, entre créditos subsidiados, isenções, subsídios, etc.

Sem uma profunda reforma tributária socialmente justa, redistributiva, as grandes transformações que o Brasil precisa não serão viáveis. E, para isso, provavelmente só mesmo uma Assembleia Constituinte, com ampla participação popular.
Emir Sader

As raízes da crise egípcia


As raízes da crise egípcia

A chamada “primavera árabe” foi, de forma afoita, chamada por alguns de uma revolução. Foi muito importante, principalmente porque quebrou um eixo fundamental da política dos EUA para a região – a ditadura de Mubarak. Não por acaso o país ocupa o segundo lugar na lista de receptores de apoio militar dos EUA, só superado por Israel.

Mas como fenômeno político, foi a vitória de uma luta antiditatorial. Permitiu que novas forças laicas aparecessem, somadas à força mais tradicional da oposição à ditadura – os islâmicos, organizados na Irmandade Muçulmana. 

As eleições tiveram o triunfo dos islâmicos, que derrotaram, por estreita margem, no segundo turno, um candidato ligado à ditadura do Mubarak. Eleito Morsi, foi convocada uma Assembleia Constituinte, com maioria islâmica, mas um peso importante das novas forças laicas.

O erro mais grave de Morsi foi permitir que fosse elaborada e aprovada uma Constituição conforme os valores islâmicos, que impõe esses seus valores ao conjunto da sociedade, dividida entre forças islâmicas e laicas. Somada à crise econômica – que promoveu uma forte pressão do FMI para a aceitação de um empréstimo, com a correspondente Carta de Intenções, que Morsi rejeitou, consciente do que significaria para o país, mas sem elaborar alternativas – o Egito se viu envolvido em nova onda de mobilizações, agora contra sua administração.

Sucederam-se as mobilizações gigantescas, dos dois lados, a favor e contra o governo, numa situação de empate político. Que foi desempatado pela ação do Exército, que tinha sobrevivido incólume ao fim da ditadura e agiu para derrubar o governo do Morsi.

Um golpe militar, mesmo se com apoio popular. Setores que haviam se mobilizado saudaram o golpe, acreditando que poderiam derrotar os islâmicos e acercar-se ao poder. 

Mas a capacidade de resistência dos islâmicos terminou rapidamente com essa ilusão. A repressão militar não se fez tardar e a polarização entre o Exército e a Irmandade Muçulmana se impôs.

Os EUA, incomodados, porque têm no Exército seu principal aliado – por isso Obama não pode usar a palavra golpe, porque estaria obrigado a suspender os auxílios militares ao Exército – não podem aparecer publicamente apoiando a interrupção de um processo democrático, mas tampouco podem condenar o regime. 

O pior dos mundos se impôs: militarização do país – com o estado de sítio e a nomeação de governadores ligados ao militares nas províncias – e resistência dos islâmicos, com os setores laicos deslocados.

A primavera egípcia desembocou neste outono.
Emir Sader

Convencimento, vergonha ou conveniência na ‘autocrítica’ da Globo?



O editorial do Globo começa mentindo: não foi um “apoio editorial”. O jornal, junto com os outros que ele cita – quase toda a mídia da época, que quase toda ainda anda por aí –, participou do bloco golpista que criou o clima favorável ao golpe, promoveu as “Marchas da Família, com Deus, pela Liberdade”, que funcionavam para tentar passar a ideia de que a população pedia um golpe militar.

Apoiou o golpe, buscou sua legitimidade e apoiou a ditadura militar ao longo de toda sua existência. E seguiu justificando-a até agora.

Não apoiou apenas o golpe. Apoiou tudo o que ditadura fez de ignominioso: desde todas as formas de repressão – prisões arbitrárias, torturas, execuções, condenações sem provas, etc. etc. Apoiou a política de superexploração dos trabalhadores com o arrocho salarial, que permitiu a recuperação da economia, com um modelo de favorecimento dos ricos e dos capitais estrangeiros, em detrimento da massa da população e das pequenas e médias empresas nacionais.
Apoiou inclusive o famigerado AI-5, que terminou de liquidar com os pequenos espaços de oposição ainda existentes. Saudou o golpe, a ditadura, a repressão, a liquidação da democracia, tudo em nome da “democracia”, que ressurgiria.

Se opôs à democratização do país, às eleições diretas, ao direito de o povo brasileiro escolher seu presidente pelo voto universal, foi favorável à auto-anistia – vigente até hoje – imposta pelos militares.

Se projetou como a porta-voz oficial da ditadura, se enriqueceu com as vantagens que a ditadura lhe propiciou e que são responsáveis, até hoje, pelos privilégios que a Globo tem. 

Se poderia listar muito mais monstruosidades que a Globo apoiou e de que participou ativamente. Não foi um “mau momento”, um “equívoco” de avaliação no “apoio editorial” a uma circunstância concreta.

Foi uma posição firme e forte a favor da ditadura e contra a democracia, a favor das elites e dos interesses estrangeiros, e contra o povo e o Brasil.

Por que agora esse “arrependimento”? Não foi arrependimento, senão não teria o cinismo de tentar restringir o erro a um “apoio editorial”. Teria feito autocrítica da participação ativa no mais hediondo regime que o Brasil já teve.

Em parte, como confessam, é “vergonha”, porque pessoas jogam na cara deles ter participado do golpe e da ditadura. Tentam se limpar disso, dar álibis aos que colaboram com seus órgãos de imprensa, de que “fizeram autocrítica”.

Que chega a poucos meses de se completar 50 anos do golpe e do início da ditadura. Por que não o fizeram durante a ditadura? Por que não o fizeram no começo da democratização? Por que não o fizeram em outro momento?

Porque estão cansados de ser derrotados, de ser execrados, de ter manifestações diante das suas sedes, de ter seus jornalistas repudiados pelas manifestações dos jovens, de saber que está consagrado “O povo não é bobo / Abaixo a Rede Globo”, porque sabem que não tem credibilidade alguma. Que seus principais jornalistas são vítimas das chacotas e do ridículo.

É como se, nos anos 1980, fizessem autocrítica de terem sido contra a chegada do Getúlio ao poder, de terem se oposto sempre a seus governos e de terem promovido golpes contra o maior estadista brasileiro do século passado – autocrítica ainda pendente.

O editorial expressa conveniência de uma nova reconversão da empresa – em crise econômica, de audiência e com credibilidade zero. Não por acaso, ao mesmo tempo, os filhos do fundador foram visitar o Lula, depois de tripudiar contra ele durante mais de 10 anos.

Tirarão consequências do editorial? Mudarão radicalmente a orientação e a plana maior que da continuidade ao apoio e participação no golpe e na ditadura, ou seguirão como tem sido nestes 50 anos?

É por conveniência, envergonhada, sem convencimento algum, que a Globo faz como se fosse emendar rumos a partir do editorial. Quer limpar sua imagem diante de uma opinião pública que despreza o que o jornal fiz e opina.

Se dão conta que se desviaram ainda mais do Brasil real quando, depois de apoiarem os governos fracassados de Sarney, Collor e FHC, se opõem frontalmente aos governos que o povo brasileiro mais apoiou e apoia e que deve reeleger de novo. Se dão conta que não elegem presidente da república há mais de 10 anos e que correm o serio risco de seguir assim por pelo menos toda uma segunda década. Percebem que nem sequer no Rio de Janeiro, sua sede, não conseguem eleger governador, senador, prefeito há muito tempo, e devem seguir assim.

Arrependimento, não. Senão mudariam radicalmente sua linha editorial e informativa. Vergonha, não. Senão mudariam as equipes que os fazem passar vergonha. Conveniência, sim. Para tentar romper o isolamento, a desmoralização, a falta de credibilidade, a crise econômica, a perda acelerada de audiência.

Mas nunca conseguirão apagar o papel que tiveram e seguem tendo. “O povo não é bobo / Abaixo a Rede Globo” – seguirá ecoando por todo o país que conseguiu, contra a Globo, derrotar a ditadura, derrotar seus presidentes e consagrar os presidentes que expressam a construção de um país democrático, solidário e soberano, contra todos os que apoiaram o golpe, a ditadura e os governos antipopulares. 
 Emir Sader 

Quem ganha e quem perde com os acordos da Síria

Quem ganha e quem perde com os acordos da Síria


Quando um não quer, dois não brigam. E quando nenhum quer briga, aí sim que não há briga.

Por razões distintas, ninguém – salvo os opositores internos – queriam os bombardeios prometidos pelos EUA sobre a Síria. O governo sírio, pelos danos incalculáveis que os bombardeios – mesmo se prometidos como de curta duração e pouco alcance – poderia ter. A Rússia, porque colocaria um dilema difícil de responder e se envolver diretamente em um conflito com os EUA ou assisti-lo e se desmoralizar. Os EUA, porque o governo Obama não tinha apoio nem da Grã Bretanha, nem da ONU, nem do Congresso, nem da opinião publica e nem dos militares.

Dois deslizes verbais condicionavam o conflito. O da “linha vermelha” de Obama, há um ano, marcando o limite do uso de armas de gás, que levaria os EUA a intervir, caso fosse ultrapassado. E a afirmação recente de John Kerry de que a única alternativa aos bombardeios seria se o governo da Síria submetesse seus armamentos de gás a uma inspeção internacional.

O primeiro obrigava Obama a agir, senão se desmoralizaria, até porque seu governo, o da Grã Bretanha e o da França, embora não exibindo, diziam ter provas insofismáveis que esse tipo de armamento tinha sido utilizado pelo governo de Assad. Não havia, portanto, alternativa senão atacar, salvo que o faria sem apoios políticos mínimos.

O segundo deslize foi tomado ao pé da letra pelo governo da Rússia, que imediatamente consultou o governo sírio e formulou as bases de um plano de paz. A proposta veio a calhar para o impasse em que se encontrava o governo Obama, e este aceitou, mesmo se tentando disfarçar o recuo, alegando que a proposta fora possível pelas suas ameaças de bombardeios.

Mas, concretamente, não haveria punição à Síria, nem tentativa de dissuasão de que voltasse a usar as mesmas armas. Algumas bravatas continuaram a pairar nas declarações, para dissimular que os EUA recuavam de suas posições.

Do acordo, todos saem contentes, menos os opositores internos, que contavam com o enfraquecimento do governo de Assad para tentar reverter uma situação de guerra em que claramente estão sendo derrotados. Alguns aliados da região – como a Turquia, a Arábia Saudita, o Kuait – também não viram com bons olhos, mas não têm autonomia para agir por conta própria, dependem em tudo do que façam os EUA.

Das negociações sai fortalecida a Rússia – que aparece não apenas como o grande pacificador, como também como o grande operador diplomático, que tem diálogo com todos os agentes do conflito, especialmente Síria e EUA. Sai ganhando também o governo da Síria, que não apenas evita os bombardeios, como pode dar continuidade ao conflito interno, em que vai claramente levando vantagem.

Sai fortalecido também o novo Papa, que se jogou numa campanha contra a guerra – incluindo denúncia da indústria bélica, que seria a grande vitoriosa de um novo conflito.

O governo Obama sai chamuscado, não conseguiu gerar as condições políticas – internas e externas – para usar sua superioridade militar. As ambiguidades e contradições das declarações de Obama e Kerry demonstram como a vontade de exercer seu papel de “polícia do mundo” não conta com simpatia nem no povo norte-americano, nem de seus tradicionais aliados.
 Emir Sader 

A linha do Equador

A linha do Equador



O Equador não existia para nós. No máximo a linha – imaginária – do Equador, que nós nem assimilávamos bem a um pais. E na pergunta reiterada nas provas do colégio:

- Quais os dois países da America do Sul que não tem fronteira com o Brasil?

Pergunta que por si só buscava reduzir a importância desses dois "paisinhos" que sequer fronteira tinham com um país continente como o nosso.

Às vezes algum time de futebol, algum jogador que se destacava por um tempo. Nada mais do que isso era o Equador para nós.

Nem a pintura extraordinária de Guayasamin era conhecida por nós, nem a literatura, nem a música. O Equador era um espaço em branco na nossas cabeça. Ninguem vinha ao Equador. Se fosse perguntado sobre o país, no máximo saberiamos o nome da sua capital.

Hoje a personagem equatoriana mais conhecida no mundo – a ponto de nós também sermos obrigados a conhece-lo – é Rafael Correa, o presidente e líder do formidável processo de transformações que o Equador vive já por seis anos e que seguirá, dado que Correa foi eleito no primeiro turno, com uma enorme maioria de votos este ano, para seguir dirigindo o país.

Não sabíamos que o Equador é um país muito bonito, que Quito, com seu centro belamente restaurado, é uma das cidades mais bonitas da América Latina. Que o Guayasamin é um dos pintores mais importantes do continente.

Mas agora saber do Equador, conhecer o país, acompanhar o processo que, junto com o boliviano, é o que de mais avançado temos hoje na America Latina. 

A linha do Equador agora deixa de ser imaginária para nós. Vai dando o compasso de como se constrói alternativas conscretas ao neoliberalismo, enfrentando a feroz oposição da direita – em torno da velha mídia – e da ultra esquerda – derrotados fragorosamente nas eleições -, com Rafael Correa com apoio superior a 70%.
 Emir Sader

Todos contra a Dilma

Todos contra a Dilma

  • EMIR SADER



O fenômeno tem se repetido – na Bolívia, na Argentina, no Equador, no Brasil. Setores que saem dos governos – ou que sempre tinham se oposto – supostamente pela esquerda, percorrem uma trajetória que os leva a se situarem como oposições de direita.

Evo Morales, Rafael Correa, os Kirchner, Lula e Dilma – teriam “traído”. E seriam piores que outros contendores, porque seguiriam fingindo que defendem as mesmas posições que os projetaram como grandes líderes nacionais. Por isso tem que ser frontalmente combatidos, derrotados, destruídos, sem o que os processos políticos seguiriam retrocedendo e não poderia avançar.

Foi assim que setores que eram parte integrante do governo de Evo Morales declararam que ele é o inimigo fundamental a combater, porque teria “traído” o movimento indígena. Daí a proposta de uma frente nacional contra ele, que incorporaria a todos os setores opositores, não importa quão de direita sejam. 

A mesma coisa com Rafael Correa. Teria “traído” a defesa da natureza e se passado a um modelo extrativista, tornando-se o inimigo fundamental a combater. Daí que setores que se reivindicam porta-vozes dos interesses dos movimentos indignas e ecologistas, se aliam expressamente à direita, para combater a Correa.

Na Argentina, os Kirchner teriam “traído” o peronismo, daí setores que faziam uma critica de esquerda ao governo – expressados, por exemplo, no peronista Pino Solanas – se aliam a setores de direita – como Elisa Carrió, entre outros -, para combater ao governo de Cristina Kirchner.

Poderíamos seguir com a Venezuela, com o Uruguai, porque o fenômeno se repete. Para poder operar essa transição de uma oposição de esquerda a uma de direita, é preciso demonizar os lideres desses processos, que seriam, piores do que a direita, daí a liberação para alianças com esses setores contra os governos. 

No Brasil o fenômeno se deu, inicialmente, com o PSol e Heloisa Helena, que abertamente fizeram aliança com toda a oposição contra o governo Lula. Com a Globo, com os tucanos, com todos os candidatos opositores, na ação desenfreada e desesperada para tentar impedir a reeleição do Lula. 

Abandonaram as críticas de esquerda – sobre o modelo econômico e outros aspectos do governo – para se somarem à ofensiva do “mensalão”, sem diferenciar-se do tom da campanha da direita.

O fenômeno teve continuidade com a Marina, que repetiu de forma mecânica a trajetória da Heloisa Helena na volúpia contra o governo Lula e a Dilma, quatro anos mais tarde. O destempero faz parte do processo de diabolização, que se caracteriza sempre, também, pela ausência de qualquer tipo de critica à direita – à mídia monopolista, ao sistema bancário, aos tucanos, aos EUA.

A relação desses setores com a direita tradicional é explicita: a essa ausência de criticas à direita corresponde uma promoção explícita dos candidatos que se dispõem a esse papel: Heloisa Helena, Marina, agora Eduardo Campos.
Todos contra o Evo, todos contra o Rafael Correa, todos contra a Cristina, e assim por diante. Aqui, agora, todos contra a Dilma.

Não há nenhuma duvida que o campo opositor está composto pelas candidaturas do Aecio, do Eduardo Campos, ao que se soma agora a Marina. As reuniões de Eduardo Campos com Aecio, a entrada do Bornhausen, do Heraclito Fortes, entre outros, para o PSB e o discurso “anti-chavista” da Marina, completam o quadro. Vale tudo para tentar impedir que o PT siga apropriando-se do Estado brasileiro para seus fins particulares, impedindo que o Brasil se desenvolva livremente.

Nenhuma palavra sobre o tipo de modelo econômico e social que desenvolveria caso ganhassem. Nenhuma palavra sobre o tipo de inserção internacional do Brasil. Nada sobre o papel do Estado. Silêncio sobre tudo o que é essencial, porque do que se trata é de tentar derrotar a Dilma.

Na verdade hoje a direita – seus segmentos empresariais, midiáticos, partidários – já se contentaria em conseguir que a Dilma não triunfasse no primeiro turno. O que vier depois disso, sera’ lucro. 

Em todos os países, esses setores tem sido derrotados fragorosamente. Suas operações politicas não tem dado resultados, por falta de plataforma, de lideranças e de apoio popular.

Aqui também tem acontecido isso. O PSol foi ferido de morte por suas atitues em 2006. Marina abandona a plataforma ecológica para assumir o anti-comunismo de hoje (o anti-chavismo) e se somar à politica mais tradicional, sem sequer ter conseguido as assinaturas para registrar seu partido.

Termina no Todos contra a Dilma, cada um do seu jeito, mas com o objetivo comum. Esse cenário politico tem Evo, Correa, Cristina, como teve a Lula e agora tem a Dilma, como referência central. Os outros são os outros, sem plataforma, sem lideranças e sem apoio popular.

Roda de Barâ

Roda de Barâ

 Mais uma feira para tras. Desta vez de frente ao mar, funcionou das 6 da tarde até a meia noite. Tivemos o dia todo disponível para o banho de mar nas águas cristalinas do mediterrâneo, passeios naturais e arqueológicos.

 Pátio Andaluz


 Oliveira de fronte ao Arco Romano do século I na antiga Via Ápia, Uma dos muitos caminhos que uniam o imenso império romano. Daí o provérbio. Todos os caminhos levam a Roma

A feira não foi das melhores mas o passeio imperdível

Cripta Güell

Cripta Güell

Aproveitando um pouco o mês de julho de poucas feiras, fazemos  turismo regional. Saimos cedo pela manhã e retornamos a tarde. Desta vez o caminho foi curto, uns 20 quilômetros em direção ao mar até a Colônia Güell. Ali está a cripta de uma igreja projetada por Gaudí. O mecenas Güell encomendou de Gaudí e outros arquitetos modernistas a construção de uma tecelagem industrial às margens do rio Llobregat. Junto da fábrica foram construídas casas para trabalhadores, escolas, cooperativas de consumo, consultório médico e uma igreja. Novidades sociais inovadoras para a época. A Gaudí coube a construção da Igreja. Por problemas econômicos a obra foi interrompida. A magnífica igreja ficou só na Cripta. Mesmo assim sua obra é espetacular, diferente das outras em muitos aspectos. Utilizou colunas do duríssimo basalto, unindo as partes com chumbo, como faziam os romanos. As colunas dão ao conjunto uma força primitiva, lembrando o mundo dos Flinstones
Na minha opinião o conjunto de peças mais incríveis são as pias de água benta e o batistério.
Ele conseguiu converter a rigidez de conchas gigantes da Ásia numa fluideza e leveza infinitas. Os braços de ferro forjado encaixados nas reentrâncias naturais da concha parecem sustentar uma peça que se derrete como  um pano de seda, ou como os relógios fluidos de Dali. Como dizem os catalães, "Una passada !". Não me canso de admirar suas propostas.


Os móveis também foram desenhados por ele.


Maquete suspensa do que seria a igreja se fosse construida até o final. A antiga cooperativa de  consumo foi convertida em museu.

Casas da colônia projetadas por outros arquitetos.

Escola e  residência do professor.

As casas dos trabalhadores abrigam jardins de suculentas e cactáceas incríveis.




Caneca Aranha

Tassa Aranya -