domingo, 8 de setembro de 2013

Europeus querem resposta forte na Síria, mas sem apoio à ação militar


Um dia depois da reunião de cúpula do G20, Barack Obama pediu ao Congresso americanoque aprove uma intervenção militar contra a Síria



Vilna - Os países europeus concordaram neste sábado (7/9) com a necessidade de uma resposta internacional forte na Siria, mas não apoiaram o projeto de intervenção militar defendido pelo secretário de Estado americano, John Kerry.

Um dia depois da reunião de cúpula do G20 na qual o presidente americano, Barack Obama, não conseguiu um amplo apoio internacional, o presidente pediu ao Congresso americano que aprove uma intervenção militar contra a Síria.

"Somos os Estados Unidos. No podemos continuar com os olhos vendados diante das imagems que temos visto na Síria", declarou em seu programa semanal de rádio.

O governo dos Estados Unidos conseguiu a adesão da Alemanha ao pedido de "resposta internacionalforte" aos ataques químicos cometidos em 21 de agosto nas proximidades de Damasco, que na véspera foi assinado por 11 países do G20.

Sem retomar exatamente os termos do pedido, os ministros europeus das Relações Exteriores pediram neste sábado em Vilna uma "resposta clara e forte".

Ao ler a declaração final do encontro, a chefe da diplomacia europeia, Catherine Ashton, destacou que os ministros concordam que existem "fortes suspeitas" de que o regime sírio é responsável pela utilização de armas químicas nos ataques que provocaram centenas de mortes nos subúrbios de Damasco.

Mas os ministros insistiram que "apenas uma solução política pode acabar com o terrível banho de sangue, as graves violações dos direitos humanos e a destruição da Síria".

John Kerry, que viajou a Vilna para explicar a posição de Washington, celebrou o acordo. "Estamos muito satisfeitos com a declaração dos europeus, uma declaração forte baseada no princípio de responsabilidade", declarou, antes de deixar a Lituânia.

A chefe de Governo da Alemanha, Angela Merkel, comemorou a posição unânime europeia e destacou a "importância inestimável".

Os países europeus mais prudentes manifestaram satisfação com o compromisso assumido na sexta-feira pelo presidente francês, François Hollande, de esperar a divulgação do relatório da ONU antes de entrar em uma operação militar.

"Recebemos muito favoravelmente as declarações de Hollande", resumiu Ashton. "Isto permitiu desbloquear as discussões em Vilna", disse um diplomata. Mas John Kerry notificou aos aliados europeus que Washington não assumiu o mesmo compromisso. "Disse claramente que os Estados Unidos não decidiram esperar este relatório antes de uma possível ação", explicou uma fonte americana.

Kerry viajará ainda no fim de semana a Paris e Londres, anste de retornar a Washington na segunda-feira. Obama, que pretende discursar aos americanos na terça-feira, defendeu na semana passada ataques "seletivos e limitados" contra a Síria, mas somente depois de receber autorização do Congresso, que voltará a se reunir na segunda-feira.

Muitos países da UE consideram o relatório da ONU uma etapa essencial para confirmar de maneira independente as acusações de ataques químicos. Jean Asselborn, chefe da diplomacia de Luxemburgo, país que atualmente tem uma cadeira no Conselho de Segurança da ONU, afirmou que a elaboração do documento ainda pode demorar uma semana e meia.

Mas ele disse que é possível que "elementos importantes sejam transmitidos ao Conselho de Segurança" antes da publicação formal. Os contatos diplomáticos prosseguirão durante todo o fim de semana, especialmente na França, onde Hollande se reunirá com o presidente libanês, Michel Suleimane.


O Conselho de Cooperação do Golfo (CCG) pediu neste sábado à comunidade internacional uma intervenção imediata na Síria para "libertar" o povo da "tirania" de seu governo. O CCG é integrado por Bahrein, Kuwait, Omã, Emirados Árabes Unidos, Catar e Arábia Saudita.

Contrário a uma intervenção, o papa Francisco convidou cristãos, fiéis de outras religiões e até não religiosos ateus a uma jornada de jejum e oração neste sábado. Ele presidirá uma cerimônia de quatro horas na praça de São Pedro.

No campo de batalha, os combates entre forças leais ao regime sírio e os rebeldes foram retomados na cidade cristã de Maalula e arredores, ao norte de Damasco, dois dias depois da retirada dos insurgentes de uma das entradas da localidade.

A coluna de hoje

GOIS DE PAPEL

ANCELMO

Desfile-protesto





Anderson Gomes, filho do pedreiro Amarildo de Souza, que está desaparecido, vai estrear como modelo.
Com 21 anos, negro, de olhos azuis, ele estará no desfile-protesto, dia 16, no Teatro Fashion Mall, no Rio. O desfile vai mostrar réplicas de roupas da estilista Zuzu Angel.

Onde está Amarildo?...

Aliás, o desembargador Lindolpho Morais Marinho, da 16ª Câmara Cível, determinou que o Estado do Rio pague imediatamente um salário mínimo à família de Amarildo.
Decidiu também que a mulher e os filhos terão direito a tratamento psicoterápico de R$ 300 por sessão.

Calma, gente

A conversa, terça, do grupo de senadores que foi agendar uma visita às antigas instalações do DOI-Codi, no Rio, com o comandante do Exército, Enzo Peri, terminou bem.
Tanto que a visita será feita. Mas houve um momento tenso, quando o general chegou a dizer que se tratava de uma “provocação barata”.

Caso médico

Agora está melhor. Mas Dilma ficou duas semanas tomando antibióticos e corticoides por causa de uma gripe, agravada por constantes viagens.

Viva Dominguinhos!

Richard Galliano, acordeonista francês, vai tocar hoje pela primeira vez “Pra não esquecer Dominguinhos”, que ele compôs há um ano, com Chico César, em homenagem ao saudoso músico.
A apresentação será na Igreja da Sé, em Olinda, no festival Mimo.

Pura joia

Acaba de sair na Europa e nos Estados Unidos “O que será”, CD que reúne o consagrado pianista de jazz italiano Stefano Bollani e o fabuloso bandolinista brasileiro Hamilton de Holanda.
Abre com “Beatriz”, de Edu Lobo e Chico Buarque, passa por “O que será”, de Chico, “Rosa”, de Pixinguinha, e acaba com “Apanhei-te, cavaquinho”, de Ernesto Nazareth. Foi gravado ao vivo num festival de jazz em Antuérpia, na Bélgica, no ano passado.

O hotel dos escritores

Ainda sobre o fato de o Ministério da Cultura não ter definido onde hospedará a delegação brasileira na Feira do Livro de Frankfurt.
O escritor Flávio Moreira da Costa, que já foi três vezes à feira, acha difícil o MinC arrumar bonshotéis com um mês de antecedência.

Drogados...

Diz Costa que por duas vezes ficou numa cidadezinha a meia hora de trem de Frankfurt. Em outra, foi para um hotel nas imediações da estação ferroviária, onde todo dia, na ida e na volta, “precisava passar por traficantes e drogados, mesmo de manhã”.

Chico estilo black bloc





Um dia depois de Caetano Veloso ter coberto o rosto com uma camiseta preta, ao melhor estilo black bloc, durante visita à sede da Mídia Ninja, surgiu no território livre da internet esta foto semelhante, de Chico Buarque.
Só num perfil do Facebook foram mais de 1.800 compartilhamentos.

Mas...

A foto, de João Wainer, é antiga. Não tem nada a ver com os mascarados de hoje. Foi feita no inverno de Budapeste e estampada na capa da revista “Trip” de maio de 2006.

Fora da rede

Na quinta-feira, hackers invadiram o sistema de internet do Tribunal de Justiça do Rio.
O sistema ficou fora do ar o dia inteiro.

Lenny é nossa

Karl Lagerfeld, diretor criativo da grife Channel, elogiou no seu site o livro da brasileira Lenny Niemeyer, lançado ano passado na França.
Na obra, Lenny mostra casas e lugares do Rio, como o Palácio Laranjeiras, o Instituto Moreira Salles e a Casa de Arte Julieta de Serpa.

Cena carioca

Ontem, às 16h, um senhorzinho parou seu Kia Sorento preto bem embaixo da placa de proibido estacionar na Rua 19 de Fevereiro, em Botafogo.
Foi correndo até a farmácia da esquina e voltou feliz da vida com uma caixa de Cialis, concorrente do Viagra. Pegou a cartela de comprimidos e, olha só que porcalhão, jogou a caixa dentro do bueiro.
Tomara que na hora H tenha... deixa pra lá.

Três dias de liberdade


seminário.jpg"Parodiando aquele célebre intelectual residente no Palácio do Planalto", disparou o professor Ubiratan Iorio, "nunca antes na história desse país houve um evento tão libertário quanto este".
O professor se referia ao primeiro seminário de economia austríaca, realizado pelo IMB em Porto Alegre nos dias 11 e 12, evento esse que contou com vários patrocinadores, entre eles o Standard Bank e oInstituto Ling.  Porém, quando consideramos que logo após o seminário deu-se início ao Fórum da Liberdade, que durou do dia 12 ao dia 13, temos aí três dias libertários completamente inauditos na história do Brasil.
A seguir, um resumo dos eventos.
I Seminário de Economia Austríaca
Tudo começou no domingo, dia 11, com a palestra de Joe Salerno sobre quem foram Mises e Rothbard.  Além de relatar o histórico de ambos, bem como as principais ideias da Escola Austríaca, Salerno abordou as dificuldades enfrentadas por Mises e Rothbard no ambiente acadêmico americano, todo ele voltado para as teorias keynesianas pró-governo. 
Um ambiente que esposava ideias vazias e errôneas como "déficits são bons para a economia", "inflação monetária é um grande estímulo econômico", "gastos governamentais são ótimos para se tirar a economia de uma recessão" - ideias essas que são justamente aquilo que todo governante que ouvir - não estava preparado para ouvir verdades como "déficits são ruins para a economia, pois consomem a poupança necessária para financiar investimentos genuínos", "inflação monetária, além de criar ciclos econômicos, é um mecanismo insidioso de redistribuição de renda, dos pobres para os ricos" e "gastos governamentais servem apenas para confiscar recursos do setor privado, prolongando as recessões".  Consequentemente, ambos os economistas, justamente por não estarem atrás do aplauso fácil, foram marginalizados por toda a sua vida acadêmica. 
A insistência de ambos em defender a verdade acima de tudo, mesmo tendo contra si todo o establishment político e todo o aparato acadêmico, é uma grande lição não só de coragem, mas também de vida para todos nós, com o perdão do clichê.
Rodrigo Constantino e Antony Mueller foram os palestrantes seguintes.  Constantino citou dados da economia brasileira, mostrando que a dívida interna bruta atingiu níveis alarmantes, os quais, entretanto, são pouco divulgados, uma vez que o governo recorreu ao fraudulento artifício de utilizar o BNDES para mascarar esse aumento.  (O Tesouro se endivida, empresta esse dinheiro ao BNDES, que por sua vez o repassa - a juros camaradas - às grandes empresas com boas conexões com o governo.  No final do processo, esse trambique é classificada como "investimento", e a dívida líquida não se altera.  A coisa é tão bonita e profissional, que o BNDES aplicou R$ 100 milhões no frigorífico Independência, três meses antes desta empresa familiar quebrar.  Você, contribuinte, pagou por tudo).
Dentre outros dados, Constantino também mostrou a recente expansão da oferta monetária e o preocupante progresso da concessão de crédito facilitado para a compra de imóveis, algo que deixou os americanos - já familiarizados com esse processo, que foi o causador da bolha imobiliária americana - boquiabertos.
Já o professor Antony apresentou a perspectiva austríaca da atual crise mundial, discorrendo em detalhes sobre o funcionamento da estrutura do capital de uma economia - um insight desenvolvido unicamente pela Escola Austríaca, dentre todas as escolas de pensamento econômico existentes.
Mark Thornton palestrou em seguida, oferecendo um relato completo sobre toda a mecânica dos ciclos econômicos, fenômeno esse que, junto com a estrutura do capital de uma economia, apenas a Escola Austríaca explica com acuidade.  Os mais iniciados consideraram essa a melhor palestra de todo o seminário. 
Na sessão de perguntas, surgiu aquela inevitável: "Ora, já que os austríacos são tão bons em prever e explicar ciclos econômicos, por que não estão ricos?"  Uma resposta que poderia ser dada a essa pergunta é que os principais austríacos do mercado financeiro de fato estão ricos.  Jim Rogers, lenda viva, é o exemplo mais notável.  Peter Schiff e Marc Faber são outros que ganharam dinheiro dessa forma.  Porém, uma resposta bem mais completa a essa pergunta pode ser encontrada neste artigo: "Já que você é tão esperto, por que não está rico?"
O próximo palestrante foi Patri Friedman, filho de David Friedman e neto de Milton Friedman.  Patri, que não é austríaco, começou sua exposição mostrando que a democracia é um sistema que, justamente por permitir privilégios aos mais poderosos - isto é, para aqueles que têm conexões com regime e que podem votar -, não permitirá num prazo humanamente suportável que os defensores da liberdade cheguem ao poder.  Sendo assim, ele apresentou seu projeto de seasteading, a construção de plataformas marítimas nas quais as pessoas viveriam longe de qualquer intromissão governamental. 
Embora bastante esquisita a princípio, sua proposta nem de longe tem a intenção de mudar o mundo ou de recriar a humanidade (intenção típica dos vilões dos filmes de James Bond): sua ideia é apenas criar pequenos focos de resistência, possibilitando ao indivíduo viver uma vida livre, sem ter de entregar à força os frutos de seu trabalho para aquela "gangue de ladrões em larga escala" (Murray Rothbard) chamada governo. 
O palestrante seguinte foi o heroico Cleber Nunes, um pai de dois filhos (Davi e Jonatas, hoje com 16 e 17 anos) que desafiou o estado e resolveu educar seus filhos por conta própria, retirando-os do sistema de ensino estatal - mesmo as escolas particulares são obrigadas a seguir os currículos do Ministério da Educação - e educando-os em casa, método conhecido como Homeschooling.
Em decorrência dessa afronta ao estado - que repentinamente viu-se sem o monopólio da doutrinação -, os burocratas passaram a aterrorizar a família de Cleber de todas as maneiras, chegando inclusive a invadir sua casa, aos berros, ameaçando-o de prisão.  A ordem era que ele reconhecesse que seus filhos na verdade pertencem a estado, e que qualquer tentativa de negar a essa horda de parasitas a propriedade sobre os filhos alheios configura crime hediondo. 
Atualmente, Cleber está sendo condenado pelo "crime" de abandono intelectual - embora "abandono intelectual", a nosso ver, seja exatamente obrigar seus filhos a irem à escola para ouvir o que o estado tem a lhes dizer.  Os magistrados (funcionários do estado, obviamente) lhe aplicaram uma multa de 6 mil reais, a qual, caso não seja paga, levará Cleber direto para a cadeia.  Isso é o que chamam de "estado democrático e de direito".
O momento mais emocionante da palestra foi quando Cleber, voz firme e incisiva, declarou: "Não vou pagar um centavo!".  Helio Beltrão, presidente do IMB e fã confesso de Cleber, cumprimentou-o emocionado após o discurso.
O fato de que um homem possa ir para a cadeia simplesmente porque percebeu que o sistema estatal de ensino é uma tragédia, e, consequentemente, decidiu que é a família, e não o estado, quem sabe o que é melhor para a educação de seus dois filhos, mostra bem o descalabro em que vivemos.  E o pior é vivermos em uma sociedade que aceita passivamente este tipo de totalitarismo, sem esboçar qualquer reação em contrário.
O palestrante seguinte foi David Friedman, o anarcocapitalista não austríaco filho de Milton Friedman.  David, em uma abordagem que em praticamente nada se difere daquela defendida por Murray Rothbard ou por Robert Murphy em sua Teoria do Caos, falou sobre a superioridade, em termos de eficiência, de um sistema privado de leis. 
A mídia (leia a entrevista que ele concedeu ao Zero Hora) obviamente o chamou de extremista.  Para nós do IMB, entretanto, extremismo é exatamente esse estatismo em que vivemos, no qual um homem pode ir para a cadeia simplesmente por querer educar seus filhos em casa.  Como bem colocou o empresário e vice-presidente do IMB, Cristiano Chiocca, as pessoas tomam como "normal" o estado monopolizar a moeda, regular a forma de vender banana e pão, e decidir quantas horas você pode trabalhar.  E quem falar contra esse arranjo é imediatamente classificado como extremista.
No dia seguinte, os ciclos de palestras foram reiniciados com exposições de Fábio Barbieri e Ubiratan Iorio.
Ambos, acadêmicos brasileiros e austríacos, ofereceram as palestras mais completas em termos teóricos - os temas foram cálculo econômico no socialismo e processo de mercado.  As bases da palestra de Ubiratan podem ser encontradas aqui.
O palestrante seguinte foi Thomas Woods, o qual um dos membros do IMB considera ser o melhor palestrante da galáxia.  Woods falou sobre a (desconhecida) depressão americana de 1920-1921, a qual, após ter sido gerada por uma expansão do crédito ocorrida nos anos anteriores, não apenas foi solucionada de modo bastante rápido, como também o foi de uma maneira que desafia o "consenso" keynesiano: o governo cortou gastos, cortou impostos, equilibrou o orçamento (não incorreu em déficits) e reduziu seu endividamento - exatamente o oposto de tudo aquilo que a intelligentsia preconiza.  (Leia detalhes sobre essa depressão aqui).  O fato de tal depressão (na qual o desemprego pulou de 4 para 12%, e o PNB despencou 17%) ter durado apenas um ano - e sem intervenções governamentais para corrigi-la - é algo sobre o qual nenhum keynesiano gosta de falar.
O último palestrante do evento foi, obviamente, Lew Rockwell, o fundador do Mises Institute e o homem responsável por manter viva a divulgação das ideias misesianas e suas derivações.  Não é exagero algum dizer que, não fosse ele, praticamente ninguém hoje conheceria a Escola Austríaca.  Lew foi o homem que, sem qualquer ajuda financeira, largou praticamente tudo o que tinha em 1982 para fundar o Mises Institute.  Seus ativos: uma conta bancária em seu nome e uma máquina de escrever.  O fato de hoje a Escola Austríaca ser mundialmente conhecida - para todos aqueles que se interessam pela liberdade - se deve unicamente ao seu esforço.
Em sua palestra, Lew fez um comparativo entre Murray Rothbard e Alan Greenspan.  Enquanto o primeiro dedicou toda a sua vida à busca da verdade intelectual, o ultimo abjurou todos os seus ideais apenas para agradar a classe política, uma maneira fácil de ascender na vida.  Na sessão de perguntas, Lew não se furtou a responder perguntas polêmicas, como a falência das democracias modernas e a questão do Oriente Médio, com uma naturalidade e honestidade intelectual impressionantes.
Com cerca de duzentas pessoas na plateia, esse primeiro seminário de economia austríaca realizado pelo IMB foi um sucesso maior do que o esperado por nós, os organizadores.  Muito elogiadas foram as posturas dos palestrantes, que circulavam com simpatia, desenvoltura e sem qualquer estrelismo no meio do público, formado em sua maioria por jovens estudantes cansados das mentirosas teorias keynesiano-marxistas que predominam nacionalmente em nossas universidades.  Autógrafos e fotos eram concedidos a todo o momento, bem como conversas informais sobre todos os tipos de assunto.
Para o ano que vem, pretendemos voos mais altos.  O sonho do presidente Beltrão é conseguir trazer ninguém menos que Ron Paul (muito bem cotado em recentes pesquisas eleitorais para futuro presidente dos EUA) para uma palestra apoteótica tanto no II Seminário quanto no Fórum da Liberdade, para uma plateia de mais de 5.000 espectadores.
Fórum da Liberdade
Tão logo foi encerrado o I Seminário de Economia Austríaca, deu-se início à XXIII edição do Fórum da Liberdade, cujo tema foi o livro As Seis Lições, de Ludwig von Mises.
A primeira palestra do evento - a palestra especial de abertura, proferida por Carlos Ghosn, presidente dos grupos Renault e Nissan - foi absolutamente horrenda.
Ghosn subiu ao púlpito e disse abertamente que os governos mundiais intervieram financeiramente na crise a pedido das montadoras, pois sem essa injeção monetária "a indústria deixaria de existir e milhões de empregos seriam perdidos".  Tal afirmação estimulou um comentário jocoso de Lew Rockwell, presente ao evento junto com Salerno, Woods e Thornton: "Quer dizer então que as pessoas deixariam de consumir carros pra sempre?"
Ghosn, entretanto, deu continuidade, impávido, ao seu show de horrores: "Durante as crises, os governos têmde intervir.  Mas  durante as crises.  Depois, eles devem se retirar."  Joe Salerno, nesse momento, soltou uma estrepitosa gargalhada, atraindo os olhares (e os sorrisos complacentes) de várias pessoas.  Com efeito, durante toda a palestra de Ghosn os austríacos se remexiam inquietos em sua cadeira.  Salerno, abanando seguidamente a cabeça em tons de reprovação, parecia à beira da epilepsia.  Se estivesse próximo ao púlpito, sem dúvidas avançaria até o microfone e faria sua exposição teórica sobre a crise.  Thornton perguntou qual a diferença do discurso de Ghosn para um discurso de um sindicalista qualquer.  Woods disse que são exatamente empresários como Ghosn - que querem sempre recorrer ao governo para pedir ajuda, socializando seus prejuízos - que fazem com que as pessoas tenham uma ideia totalmente errada de capitalismo. 
Juan Fernando Carpio, equatoriano presidente do Instituto para la Libertad, fez a distinção mais feliz de todas: uma coisa é você ser pró-empresa; outra, bastante diferente, é você ser pró-mercado.  Ghosn é claramente pró-empresa (a dele) e radicalmente antimercado.  Ele não deve, em hipótese alguma, ser tomado como um símbolo do capitalismo.
Terminada a hedionda exposição de Ghosn, foi a vez de Leonardo Fração, presidente do IEE, subir ao púlpito.  Não perguntamos para ele, mas tudo indica que o rapaz andou lendo nossos artigos.  Seu discurso, bastante inflamado - talvez em decorrência do que ouviu de Ghosn - foi brilhante e surpreendentemente destemido, sem qualquer concessão ao politicamente correto.  Sem qualquer cerimônia, ele disparou: "o direito de propriedade está acima dos direitos humanos!", o que, obviamente, gerou uma onda de chiliques socialistas pela internet, histeria essa advinda de pessoas que não possuem o mínimo conhecimento filosófico necessário para perceber que, para haver um direito humano, é necessário, antes de tudo, haver um direito de propriedade.  Sem direito de propriedade não é possível haver absolutamente nenhum direito humano - afinal, você precisa, por definição, ter o direito de propriedade sobre seu próprio corpo para que então possa ter qualquer direito sobre qualquer outra coisa  (Veja Murray Rothbard comentando o assunto: Os "direitos humanos" como direitos de propriedade)
Ao arrematar seu discurso, Fração manteve a sobriedade: "Senhoras e senhores, não existe sistema mais justo que o capitalismo!"  E foi aplaudido efusivamente.
Logo em seguida, foi a vez do presidente do IMB, Helio Beltrão, receber o prêmio Libertas, conferido a empreendedores que se destacam no trabalho pela liberdade.  Seu discurso, uma ode ao indivíduo e à liberdade, gerou exclamações efusivas dos austríacos do Mises Institute e pode ser lido aqui. (Detalhe: o discurso foi feito na frente de várias autoridades políticas, com destaque para o prefeito de Porto Alegre e para o vice-governador do estado).
Em seguida, houve um debate entre Pedro Moreira SallesEliodoro Matte e Armínio Fraga.  O único destaque, se é que se pode falar assim, foi quando Fraga disse que não era liberal e que achava que qualquer ideia relativa a estado mínimo (quiçá estado nulo) era coisa de destrambelhado.  Deve ser por isso que durante sua gestão à frente do Banco Central - de março de 1999 a dezembro de 2002 - o senhor Fraga expandiu a base monetária em nada menos que 86%, dando substancial contribuição para o IGP-M de incríveis 25% em 2002.  A ojeriza de Fraga ao estado mínimo foi perfeitamente demonstrada no ritmo frenético das impressoras do BACEN sob sua gestão.  (A título de comparação, durante o mesmo período da gestão Henrique Meirelles, a base monetária expandiu "apenas" 70% ).  "Fraga is horrible", comentou Lew Rockwell.
No dia seguinte, o Fórum foi reiniciado com um debate entre Rodrigo ConstantinoJuan Fernando Carpio e João Quartim de Moraes, professor de Filosofia da UNICAMP.  Quartim, um socialista que não sabia nem o que era liberalismo (é um daqueles que considera o PSDB o cúmulo do tal "neoliberalismo"), foi atropelado sem quaisquer cerimônias por Constantino e Carpio, um libertário que lamentou a situação do Equador, seu país de origem.  Entretanto, deve-se congratular Quartim por sua coragem de ir a um seminário cuja plateia lhe é francamente desfavorável.
O painel seguinte foi bastante curioso.  Um debate, supostamente sobre inflação, entre Thomas Woods,Stephen Kanitz e Ricardo López Murphy.  Murphy, um bem humorado economista argentino formado na Universidade de Chicago, foi ministro da fazenda da Argentina em 2001 por exatos oito dias, sendo demitido pelo então presidente Fernando de la Rua por causa de suas propostas de austeridade fiscal.  Tom Woods fez um gracejo: "Ele foi ministro da fazenda apenas oito dias a mais do que eu." Sua palestra foi interessante, porém sem qualquer novidade.
Woods, com a segurança e o domínio de sempre, falou sobre como a inflação é uma política que, embora insidiosamente transfira renda dos mais pobres para os mais ricos e seja incapaz de trazer qualquer benefício econômico, continua sendo recomendada por economistas keynesianos e chicaguistas como uma panacéia capaz de fazer com que surjam milagrosamente os bens de capital necessários para o crescimento econômico. 
Porém, o ápice do painel ocorreu na exposição do administrador Stephen Kanitz.  Revelando-se um sujeito incrivelmente egocêntrico e com indefectíveis laivos de arrogância (do tipo que fica mexendo em seu i-Phone durante as palestras de seus debatedores), Kanitz teve uma participação, no mínimo, confusa.
Tão logo subiu ao púlpito, disse que a ideia de que é a mão invisível do mercado quem leva a comida à nossa mesa é pura balela.  "Mão invisível uma ova, senhoras e senhores!  Quem leva a comida às suas mesas são as mãos bastantes visíveis dos administradores".  Por que ele acha que os administradores não fazem parte do mercado, mas operam à margem dele, é algo que nos escapa.  Pareceu-nos apenas birra de administrador que se acha injustiçado por não aparecer devidamente explicitado quando se fala de mercado.
Ademais, Kanitz, após expor erroneamente o significado da "mão invisível" de Adam Smith, passou a criticar os defensores do livre mercado tomando por base justamente esse conceito errôneo que ele próprio criou.  Ou seja, ele estava atacando um conceito falso que ele próprio havia criado.  Woods gentilmente o corrigiu na sessão de perguntas após as exposições.
Porém, isso foi apenas a introdução da palestra de Kanitz.  Seu tópico principal se apoiava numa ideia insensata: segundo Kanitz, a bolha imobiliária ocorreu porque o governo americano havia criado um incentivo tributário, concedendo deduções no imposto de renda para pessoas que comprassem imóveis.  Segundo ele, após passar duas semanas pesquisando na internet sobre o assunto, ele não havia encontrado uma única menção a essa isenção fiscal na grande mídia.  Ninguém a apontava como causadora da bolha imobiliária.  Ato contínuo, o próprio fez questão de apregoar que se tratava de uma teoria da qual apenas ele sabia.  Nenhuma menção foi feita às políticas de expansão monetária do banco central americano.  Nada se falou sobre os juros artificialmente baixos.
Tristemente, essa sua teoria durou apenas duas semanas.  Tom Woods não precisou de mais do que duas frases curtas para mandá-la para o limbo: "Senhor Kanitz, esse incentivo fiscal existe há 40 anos.  Por que ele não provocou crises anteriores?"  Kanitz não respondeu.  Quando assumiu o microfone, preferiu voltar a comentar Adam Smith e seu exemplo da fábrica de alfinetes.
O destaque seguinte foi um painel entre Eduardo Marty, Arthur Badin e David Friedman.  O tema era intervencionismo.  Este talvez tenha sido o melhor debate do fórum.  Friedman fez picadinho do burocrata Artur Badin, presidente do CADE, que sustenta a paradoxal ideia de que apenas o estado pode preservar a concorrência e impedir que haja grandes concentrações que "geram ineficiências econômicas".  
Friedman demonstrou-lhe, tanto na teoria quanto na prática, que o estado faz justamente o oposto: é ele quem cria e permite a existência de carteis.  E, consequentemente, leis antitrustes são desnecessárias, pois um livre mercado impossibilitaria a formação de carteis.  Friedman citou a experiência norte-americana com a regulamentação das companhias ferroviárias.  Foram as próprias empresas ferroviárias que pressionaram pela criação de uma agência reguladora para o setor, a qual tinha a função de regulamentar ferrovias para impedir a concorrência e eliminar taxas discriminatórias.  Badin, um tanto inseguro, mudou de assunto e diz que seria impossível o mercado impedir que donos de postos de gasolina fizessem cartel.  Friedman retrucou dizendo que nada impediria que fornecedores de outras cidades viessem suprir o mercado, ao passo que, no arranjo atual, são justamente as regulamentações governamentais que impossibilitam tal liberdade, inclusive as restrições estatais impostas ao mercado de energia alternativa.
Badin não retrucou. 
Para arrematar, Friedman mostrou que o estado é o principal agente cartelizador da economia, pois é ele quem aprova tarifas que tornam produtos mais caros e é ele que impede a entrada de novos concorrentes - algo que aumenta a renda dos produtores para níveis acima daqueles que seriam obtidos no livre mercado.  Tudo em detrimento do consumidor, justamente quem o CADE afirma proteger.
O debate foi uma verdadeira carnificina.
O ultimo destaque fica para a palestra de Fernando Henrique Cardoso, que, dentre outras coisas, disse que suas privatizações, principalmente a da telefonia, foram feitas de modo a defender a competição - uma franca mentira, como foi demonstrado nesse artigo.  Vender um determinado setor para uma empresa e garantir-lhe exclusividade de operação, criando para tal uma agência reguladora, é exatamente o oposto de um livre mercado.  Mais ainda: é impossível que tal arranjo fomente a conclusão.
Conclusão
No cômputo geral, o saldo final não apenas foi extremamente positivo, como também foi sobejamente animador.  Foram realmente três dias inéditos.  Nunca antes um evento sobre Mises atraiu tantas pessoas no Brasil.  Mais de 4 mil.  Mesmo o I Seminário de Economia Austríaca, que foi um evento mais "reservado", atraiu a atenção de jovens do Brasil inteiro.  Havia gente de todos os cantos do país, desde um estudante de economia que veio do Pará até um garoto que ainda está no ensino médio, mora em Leme, no interior de São Paulo, e já conhece bastante sobre a Escola Austríaca (veja seu blog).
Embora seja um clichê tenebroso, é impossível não utilizá-lo: é justamente essa moçada quem vai decidir os rumos futuros do país no qual viverão seus filhos e netos.  Torçamos para que ela saiba tomar decisões sensatas.

Algumas fotos
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O professor Antony Mueller explica a estrutura do capital




















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                                 Lew Rockwell responde tudo





















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Rodrigo Constantino expôs números sobre a economia brasileira





















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Mark Thornton explicou cristalinamente os ciclos econômicos





















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Fábio Barbieri explica a impossibilidade do cálculo econômico no socialismo





















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O professor Ubiratan Iorio explicou o processo de mercado





















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Thomas Woods comenta a esquecida depressão de 1920-21






















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Um dos integrantes do IMB confessa para Woods que o considera "o cara"






















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De fato, não há palestrante melhor que Tom Woods






































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Cleber Nunes luta contra o estado para que ele próprio possa educar seus filhos





















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David Friedman é quase um clone de Murray Rothbard





















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Helio Beltrão e Lew Rockwell






















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Plateia séria





















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Plateia animada






















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Coffee Break






















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Maria Beltrão ofuscou as estrelas do seminário





















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Economia só é prazerosa se for austríaca 





















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Esse integrante do IMB que o diga






















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Lew Rockwell distribuiu vários autógrafos em seu livro Speaking of Liberty...







































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...enquanto Tom Woods experimentava a camiseta com o brasão do IMB...





















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...e Mark Thornton papeava com os estudantes






















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Lew Rockwell conversa com dois tradutores






















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Enquanto Tom Woods se estranha com a língua portuguesa, Patri Friedman segue projetando plataformas marítimas 
























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André Cardoso está apenas no 1º ano do ensino médio e já dá lições em keynesianos























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Thornton e Rockwell






















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Salerno e Rockwell são inquiridos sobre Bryan Caplan





















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Outro coffee break





















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E mais outro





















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Em vários idiomas






















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Carlos Ghosn quer que o governo tome o seu dinheiro para dar para as empresas dele










































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Mas, no que depender de Leonardo Fração, Ghosn não terá essa moleza























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A genialidade do rap estrelando Keynes versus Hayek



HayekVsKeynesRap.jpgNota do IMB: uma alma caridosa e extremamente competente traduziu e legendou o rap da batalha Keynes x Hayek.  Não é exagero algum dizer que a letra da música não só é fenomenal, como também apresenta uma descrição extremamente acurada da visão antagônica que ambos tinham da mecânica dos ciclos econômicos.  É um vídeo para se ver e rever inúmeras vezes.  Por mais que você já o tenha visto, sempre acabará descobrindo detalhes novos.

O debate entre J.M. Keynes e F.A. Hayek, ambos vivendo e lecionando na Grã-Bretanha nos anos 1930, foi um dos grandes debates do século.  Desafortunadamente, o charme keynesiano acabou prevalecendo, e Keynes, um homem que estava em frequentes viagens pelo mundo, acabou conquistando o pódio da audiência — a ponto de influenciar a política de todo o mundo até os dias de hoje. 
Enquanto isso, o sereno e estudioso Hayek nunca de fato teve uma grande plateia.  Assim como seu colega e mentor Mises, Hayek escrevia para jornais acadêmicos e era ouvido apenas por aqueles que tinham uma mente mais cética, pessoas que duvidavam das políticas e teorias convencionais e tinham a vontade intelectual de pesquisar os assuntos mais a fundo.
De um lado, portanto, o debate entre esses dois foi um dos mais decisivos para a modelagem das ideias econômicas que dominariam o mundo ao longo dos 75 anos seguintes.  De outro lado, entretanto, esse debate nunca de fato ocorreu, uma vez que o ponto de vista hayekiano foi e tem sido sistematicamente marginalizado e escondido pelo establishment político e acadêmico desde que Keynes foi prematuramente declarado o vencedor no final da década de 30.
A maravilha das novas tecnologias midiáticas é sua capacidade de nos mostrar coisas que de outra forma poderiam passar despercebidas.  Fear the Boom and Bust [Tema a Expansão e a Recessão], um vídeo do YouTube feito pelo produtor John Papola e pelo economista Russ Roberts, e apoiado pelo Mercatus Center, que pertence à George Mason University, explora genialmente essa vantagem, contrapondo Keynes e Hayek em um rap que captura uma realidade que poucos haviam compreendido por completo até agora.
Até o momento, o vídeo [o original] já foi visto mais de um milhão e cem mil vezes e virou notícia internacional.  Além de ser uma bela e elaborada produção, o que realmente impressiona é sua transparência e acuidade teórica.  Ele tirou a teoria austríaca dos ciclos econômicos de um plano secundário e a trouxe para o primeiro plano do debate.


É verdade que em 1974 Hayek recebeu o Prêmio Nobel, o que trouxe atenção para a sua obra que havia há muito sido esquecida.  O comitê do Nobel citou especificamente o trabalho de Hayek sobre a teoria dos ciclos econômicos.  Mas o renascimento desfrutado por Hayek nos anos seguintes não se centrou nesse aspecto da sua obra.  Ao invés disso, toda a atenção foi voltada para elaborações sobre sua evolucionária teoria social, suas concepções sobre a ordem do processo de mercado e seus estudos sobre lei.
Com efeito, seus livros e a maioria de seus artigos sobre ciclos econômicos sequer foram reeditados desde o lançamento de sua primeira edição — até o ano passado, quando o Mises Institute lançou um maciço compêndio de sua obra: Prices and Production and Other Essays (bem como o livro Tiger by the Tail).  O vídeo, portanto, vem a público de uma maneira acessível e trazendo a grande contribuição que Hayek deu à literatura econômica, a qual é essencial para se entender os atuais eventos da economia mundial.
Permita-me agora explicar por que esse vídeo é sensacional.
O vídeo começa com Keynes e Hayek chegando à recepção de um hotel.  Ambos estão ali para a "Conferência Econômica Mundial".  A recepcionista é toda remelexos com Keynes, tratando-o como a estrela que ele é.  Keynes arrogantemente anuncia que ele não precisa de uma pauta porque ele é a pauta.  Enquanto isso, Hayek humildemente tenta se fazer notar.  A recepcionista nunca ouviu falar dele.  Isso captura muito bem o espírito que perdurou desde a década de 1930 até hoje: o mundialmente famoso Keynes versus os desconhecidos austríacos.
Algo totalmente fiel à realidade: vários estudantes estão dizendo que mandaram esse vídeo para seus professores de economia, os quais responderam que, antes de verem vídeo, nunca tinham ouvido falar de Hayek.  Enfatizo: professores de economia.
Voltando ao vídeo, a caracterização dos personagens é fantástica.  Keynes é popular e amado por todos, sempre promovendo um estilo de vida boêmio, com festas e farras intensas — o futuro que se dane.  Já a personalidade de Hayek é mais intelectual, sóbria e até mesmo um pouco puritana, com um foco na realidade e no longo prazo.
Hayek chega ao quarto do hotel e, ao abrir a gaveta da mesa de cabeceira encontra, ao invés da Bíblia, a Teoria Geral.  O telefone toca e é Keynes anunciando que as festividades no Banco Central já estão quase começando.  Hayek fica espantado, pois achava que eles estavam ali para seminários e congressos.
Eles se encontram no lobby do hotel e saem — Hayek com um ticket de metrô na mão.  Keynes, sem perder tempo, pede uma limusine, enquanto Hayek balança negativamente a cabeça, indignado.
O tema do 'festeiro vs. economista sóbrio' perpassa toda a história.  Os termos da argumentação são expostos bem claramente.  Hayek diz que os ciclos econômicos são causados por "juros baixos" resultantes de intervenções do governo, ao passo que Keynes culpa o "espírito animal" que opera livremente em um mercado que necessita urgentemente ser controlado.
Keynes então começa a explicar sua teoria para a depressão.  Ela é causada pela rigidez de salários e só pode ser curada se houver um estímulo à demanda agregada por meio do aumento dos gastos governamentais e impressão de dinheiro.  Ele defende obras públicas, guerras e janelas quebradas — pois tudo isso estimularia a demanda —, alerta contra a armadilha da liquidez, defende déficits, vangloria-se de ter mudado o modo de se estudar economia, e conclui "Diga bem alto, com orgulho, somos todos keynesianos agora!".  Enquanto isso, o espectador vai assistindo a cenas de pessoas embriagadas farreando freneticamente.
Sobra então para Hayek a missão de trazer realismo à discussão.  Ele rejeita o argumento de Keynes pelo fato de este esconder muita agregação em suas equações, as quais ignoram toda a motivação e ação humana.  Hayek compara estímulos governamentais ao ato de beber mais para tentar curar uma ressaca.  Ele chama atenção para o fato de que não é possível haver prosperidade sem poupança e investimento — e em seguida começa a educar Keynes em sua perspectiva austríaca.
Ele começa sua exposição alterando o foco da análise: não é a recessão, mas sim a expansão que deve ser analisada.  Pois é durante a expansão que são plantadas as sementes do desastre.  A expansão econômica começa com uma expansão do crédito.  Esse dinheiro recém-criado passa a ser erroneamente visto como sendo poupança real, que pode ser emprestada e investida em novos projetos, como imóveis e construção.
Porém, há uma escassez de recursos necessários para se finalizar esses projetos.  Imprimir dinheiro não faz com que os recursos surjam do nada.  Esses projetos, portanto, se transformam em investimentos errôneos.  O "anseio por mais recursos revela que não há o bastante".  É aí que a expansão se transforma em recessão.  Quanto à armadilha da liquidez, ela é apenas uma evidência de um sistema bancário insolvente.  A lição: "Você precisa poupar para investir, não use a maquina de imprimir."
Toda essa explicação ocorre enquanto Keynes tenta dormir para curar sua ressaca.  Sem sucesso, ele corre para o banheiro para vomitar — os efeitos colaterais da farra da noite anterior.
O que Hayek discute no vídeo é sua própria teoria da estrutura de produção de uma economia.  Mas vale notar que há uma estrutura de produção atuando no mundo das ideias também.  Os primeiros pedaços da teoria austríaca dos ciclos econômicos foram juntados 100 anos atrás, quando Mises estava trabalhando em seu primeiro livro, que foi publicado em 1912.
Esse foi o primeiro tratado a juntar a teoria dos juros e da produção à teoria da moeda.  O principal ponto de Mises era mostrar que os bancos centrais — que estavam sendo criados em sua maioria naquela época — iriam acabar causando mais ciclos econômicos, e não menos.  Hayek deu sequência a esse trabalho nos anos 20 e 30, publicando uma série de estudos sobre o assunto.  Mais tarde vieram aprimoramentos feitos pelo próprio Mises, que os publicou em sua obra magna de 1949, Ação Humana.  Os estudos feitos por Roger Garrison na década de 1990 fornecem alguns dos termos que aparecem no vídeo.  Ainda depois, surgiu o livro de Jesus Huerta de Sotosobre ciclos econômicos, o qual explica o papel do sistema bancário de reservas fracionárias na criação das expansões econômicas e das subsequentes recessões — um livro que se baseia em várias constatações feitas por Rothbard na década de 1960.
O que vemos nesse vídeo, portanto, é a culminação de várias sequências de ideias que começaram há um século.  Trata-se de uma longa e complexa estrutura de produção de ideias.  Mas foi exatamente essa estruturação que possibilitou que uma teoria dessa complexidade pudesse ser construída de modo tão coerente, que é perfeitamente possível apresentá-la em um vídeo de rap num formato que qualquer leigo pode ver e entender.
Sinceras e cordiais congratulações a Russ Roberts e John Papola por terem compilado tudo e apresentado um fantástico exemplo de como a ciência econômica pode ser explicada para qualquer indivíduo.  Era justamente essa a visão de Mises: a ciência econômica não deve ser relegada às salas de aula; ela deve fazer parte dos estudos de cada cidadão.  Roberts e Papola levaram essa prescrição muito a sério e, com isso, fizeram algo extraordinário para Hayek, para as ideias austríacas, para a ciência econômica em geral e para o progresso intelectual do mundo.
É por isso que o vídeo é fantástico.
Jeffrey Tucker é o presidente da  Laissez-Faire Books e consultor editorial do mises.org.  É também autor dos livros It's a Jetsons World: Private Miracles and Public Crimes e Bourbon for Breakfast: Living Outside the Statist Quo