sexta-feira, 1 de novembro de 2013

Ex-presidente do BC de FHC é contra crescimento econômico e a favor do aumento de juros e desemprego

Ex-presidente do BC de FHC é contra crescimento econômico e a favor do aumento de juros e desemprego


Este aí da foto é Pérsio Arida, um dos gênios da equipe econômica do ex-presidente Fernando Henrique Cardoso, de quem foi presidente do Banco Central e do BNDES. Todos eles, hoje em dia, ou são banqueiros ou trabalham pra eles. O que por sí só justifica a ojeriza que o povo tomou pelos governos FHC.

Em palestra no 6º Congresso Internacional de Mercados Financeiro e de Capitais, em Campos do Jordão, no mês de agosto, Arida, que é sócio e membro do conselho do BTG Pactual (banqueiro, uau!), defendeu o seguinte:
  • novas altas na taxa básica de juros, porque o Brasil está crescendo mais do que poderia (ué, mas não criticaram o PIBinho?)
  • Os motivos para a taxa de juro subir são cristalinos
  • o desemprego deveria chegar a 6,5 a 7 por cento (está em torno de 5%, logo ele quer que o número de desempregados suba em algumas centenas de milhares)
  • PIB não poderia passar de 2 por cento (é a favor do PIBinho!)[Fonte]

Pérsio Arida é contra o crescimento econômico e a favor do aumento de juros e do desemprego. Depois não sabem por que povo não quer a volta deles ao governo.
ANTONIO MELLO

Mortalidade infantil no governo FHC chegou ao dobro do recorde mundial registrado na pior região da África

Mortalidade infantil no governo FHC chegou ao dobro do recorde mundial registrado na pior região da África

ANTONIO MELLO




O tempo passa, e as pessoas já não se lembram. A mídia corporativa trata de encobrir com o imenso véu do esquecimento o governo do ex-presidente Fernando Henrique Cardoso, que quebrou o país, como Pedro renegou Jesus, três vezes.

Mas, uma antiga entrevista de Hamilton Octavio de Souza com o jornalista Aloysio Biondi, em novembro de 1999, sugestivamente intitulada "Mau-caratismo de FHC), publicada na Revista Adunicamp, nos ajuda a lembrar o que é um governo tucano, que com seus aliados, coligados ou não, ameaça voltar.
Adunicamp - O novo Plano Plurianual de FHC, denominado “Avança Brasil”, mantém as mesmas diretrizes do primeiro governo ou apresenta alguma novidade?
 Aloysio Biondi: Acho bobagem falar do plano “Avança Brasil”, acho melhor falar da política econômica total do governo que aí está. A gente vai acabar falando de política tributária que não existe, de política industrial que não existe, de política agrícola que não existe. Recentemente, os jornais publicaram um quadro sobre a liberação de verbas do governo em relação ao total previsto e, então, tem lá: reforma agrária, 25% do previsto; Proger, que é um programa de geração de renda, 0,5% do previsto. Essa história das cestas básicas, por exemplo, já em abril, num artigo meu publicado na Folha, eu falava sobre uma reunião que houve no Palácio do Planalto entre o Comunidade Solidária e todos os ministros, o Fernando Henrique anunciou um aumento de verba para a área social que continuava sendo absolutamente ridículo. A Folha tinha publicado, semanas antes, uma matéria dizendo que a seca aumentou a mortalidade no Nordeste. O texto dizia que a mortalidade infantil no sertão tinha chegado a 400 mortes para cada mil crianças até um ano, que era o dobro do recorde mundial registrado na pior região da África. Na matéria, a prefeita de uma cidade dizia que a situação era dramática porque a população não estava recebendo as cestas básicas e os pagamentos das frentes de trabalho estavam atrasados há três meses. Quer dizer, o que estava matando não era a seca, mas o corte no orçamento, o ajuste fiscal. Isso lembra o que dizia o Fernão Bacha no início do governo Fernando Henrique: ele falava que era bobagem ficar discutindo verbas com o Congresso, que o negócio era deixar aprovar o que quiserem, depois a gente segura. E ele dizia: basta fechar os olhos e tapar os ouvidos à gritaria e à desgraceira ao redor, que é o que esse governo está fazendo.

Adunicamp - E o assunto sumiu do noticiário.
Aloysio Biondi: Eu digo que a imprensa é cúmplice no genocídio, porque isso está acontecendo, as pessoas estão morrendo de fome no Nordeste, a seca jamais acabou, o governo reduziu as frentes de trabalho a um quarto, a verba de cestas básicas foi liberada apenas um quarto do previsto (25%). Inclusive saiu nos jornais que o pagamento de quem trabalhou nas frentes de trabalho em dezembro ainda não tinha sido pago até julho. Quer dizer, é a primeira vez que eu vejo um governo ter a coragem de dar calote no flagelado da seca que trabalhou em frente de trabalho.[Fonte]
Há mais nessa entrevista. Mas, por enquanto, deixo este pequeno trecho com essa informação poderosa, vergonhosa e abafada, esquecida. 400 crianças mortas em cada mil, porque o dinheiro foi para o plano elaborado por aqueles que vivem deitando falação por aí, Pedro Malan, Armínio Fraga, André Lara Resende, Pérsio Arida (este comentei aqui, recentemente, Ex-presidente do BC de FHC é contra crescimento econômico e a favor do aumento de juros e desemprego).

Eles ameaçam voltar, por isso, como um breve, porque este é um blog político, já tratei de declarar aqui, no dia 10, que em 2014, vou votar igualzinho a 2010. E você?



A Rede da Marina, a Rede do Itaú, Marina na Rede do Itaú, e Marcelo Mirisola. Ou 'Caiu na Rede é...trouxa'

A Rede da Marina, a Rede do Itaú, Marina na Rede do Itaú, e Marcelo Mirisola. Ou 'Caiu na Rede é...trouxa'




Teria sido apenas uma incrível coincidência? Teria sido feito de caso pensado? Quem nasceu primeiro, o ovo (Rede) da Marina ou a galinha (Rede) do Itaú?

Logo após a ex-senadora Marina Silva tentar e não conseguir registrar seu Rede no TSE, o banco Itaú, que tem uma das herdeiras da família Setúbal, Maria Alice Setúbal, como uma das principais apoiadoras da Rede, o banco Itaú, eu dizia, resolveu que seu Redecard passaria a se chamar apenas Rede.

Num notável sincronismo, uma Rede balança a outra, tentando pegar os peixes-otários, os trouxas que somos nós - pelo jeito é o que pensam que somos.

Não vejo chiadeira contra essa tramoia canalha do partido sem registro com o banco sem vergonha, que quanto mais fatura e lucra, mais demite. Ou alguém aí leu alguma declaração de Marina sobre este excesso de Redes?

Para comentar essa miscelânea política, ou melhor, essa promiscuidade safada que nos tenta impingir gato (Rede de Marina) por lebre (Rede do Itaú), fui buscar trechos de um artigo do escritor Marcelo Mirisola, na época comentando outra miscelânea, esta cultural, envolvendo o mesmo banco e a mesma Maria Alice Setúbal (A nova senzala (transversalidades)):

(...) Pois bem, não é de hoje que me chama a atenção a presença constante de dona Maria Alice Setúbal na seção Tendências/Debates, o filé mignon da Folha de S. Paulo. Dona Maria Alice, como indica o nome, é herdeira de Olavo Setúbal, e provavelmente deve ser acionista do banco Itaú. Nos créditos de seus artigos, consta que é doutora em Psicologia e presidente dos conselhos do Centro de Estudos e Pesquisas em Educação, Cultura e Ação Comunitária da Fundação Tide Setúbal. Seus artigos são redundantes. Ela gosta de usar a palavra “transversalidade”.

(...) sou correntista do banco Itaú, pago altos juros pra dona Maria Alice Setúbal e também sou leitor de suas intervenções na seção Tendências/ Debates da Folha de S. Paulo. Gostaria de acreditar que o jornal  ainda não foi absorvido pelo acervo do Instituto Moreira Salles. 
Voltando à dona Maria Alice Setúbal.

O que madame teria de tão importante para acrescentar, tirante suas “transversalidades”, ao debate de ideias, ou, mais especificamente, por que as idéias dela são tão relevantes para desfilar na seção Tendências/ Debates da Folha?

Vou arriscar um diagnóstico.

Os textos de madame costumam ter a marca indelével que conduz do óbvio ao ululante, são como folders, propagandas de condomínio que indicam, ou melhor, cobram o caminho da felicidade, apesar de a felicidade, pobre e acuada felicidade, não ter sido consultada a respeito de tão nobre encaminhamento. Mas uma coisa dona Maria Alice sabe fazer, algo que circula em seu sangue de agiota, ela sabe cobrar.

No seu último artigo, “Novas formas de aprender e ensinar”, publicado no dia 27 de março, dona Maria Alice Setúbal aposta na “inteligência coletiva” que – segundo sua bola de cristal high-tech – está na iminência de ser consumada pela força da revolução tecnológica. Madame não costuma deixar lacunas porque cumpre sua função, repito, que é levar o nada a lugar nenhum com a marca da excelência, como se o mundo fosse uma agência bancária cor-de-laranja protegido por portas giratórias e slogans de publicidade.

Não obstante, dessa vez, madame deu uma vacilada.

Dona Maria Alice Setúbal esquece que o lado de fora não tem ar condicionado. Revolucionária, decreta o fim do ensino linear. Para madame, o ensino da maioria das escolas – que ainda trabalham com aulas expositivas e livros didáticos – não faz mais sentido diante do conhecimento que é “transversal e produzido nas conexões entre várias informações”. Bem, esses conhecimentos ou essas conexões, que eu saiba, só existem e funcionam em sua plenitude nos sistemas de cobrança do banco de madame e na bolsa de valores. No mínimo, dona Maria Alice Setúbal, que se imagina mensageira do futuro, é uma debochada. Convenhamos que a “realidade transversal” que os nossos professores experimentam nas salas de aula têm outros nomes que nem o eufemismo mais engenhoso poderia disfarçar, tais como humilhação, porradaria, salário de merda. Para coroar seu pensamento revolucionário, dona Maria Alice, sentencia: “Essa transversalidade se expressa nas demandas das empresas e nas expectativas dos jovens”.

Que jovens são esses?  Aqueles que madame adestra em seus canis cor-de-laranja?  Qual a expectativa deles?  Telefonar pras nossas casas às sete horas da manhã para nos lembrar que somos devedores do Itaú? Ou a expectativa desses jovens é subir na vida, e virar gerente de banco?

Dona Maria Alice vai além e se entrega, ela acredita que a tecnologia vai produzir “pessoas que saibam resolver problemas, comunicar-se claramente, trabalhar em equipe e de forma colaborativa. Que usem as tecnologias com desenvoltura para selecionar, sistematizar e criticar informações. E que sejam inovadoras e criativas”.

Ora, madame quer empregados que não a incomodem, e encerra seu raciocínio ou exige, de forma impositiva e castradora: “E que sejam inovadoras e criativas”.  Não querendo fazer leitura subliminar, nem ser Lacaniano de buteco, mas esse “E que sejam inovadoras e criativas” é de amargar, hein, madame?

O artigo de dona Maria Alice é uma ordem de comando. A voz da dona, a mulher que visivelmente não pode ser contrariada. Difícil ler e não sentir-se um empregadinho dela. Ao mesmo tempo em que ordena “inovação e criatividade”, elimina a possibilidade de reação: “para fazer da tecnologia uma aliada da educação, é preciso vencer o medo do novo e superar a cultura da queixa”. Como se madame dissesse: “Publiquem meu artigo genial, obedeçam, e calem a boca. O futuro é meu, e se eu disser que é coletivo e cor-de-laranja, dá na mesma”.
(...)
Eu falava de madame (versão 2013) que diz que samba é coisa de gente elegante. Dessa vez a visita periódica que madame faz à sua cozinha, também conhecida como “Tendências/Debates”, ultrapassou o terror costumeiro, e, no lugar de marcar presença e autoridade, madame só fez azedar o cuscuz. Ela devia ser mais discreta, como Olavão, o patriarca, o banqueiro. Não se deve confiar demais na vassalagem (leia-se correntistas e leitores).

No mesmo dia que madame publicou seu artigo, aconteceu uma coincidência reveladora, logo acima do texto de sinhá, no “Painel do leitor”, uma dona de casa, Mara Chagas, reclamava enfurecida da nova lei das empregadas domésticas, e fazia coro – às avessas, mas coro – à mme. Setúbal: “As empregadas domésticas não trabalham aos sábados, não cumprem as oito horas diárias, o serviço tem que ser ensinado (não são mão de obra especializada), almoçam e lancham na casa dos patrões sem cobrança alguma e faltam sem avisar. Como ficará o empregador diante disso?”


Desempregados do mundo se unem e fundam a DEMU - Desempregados do Mundo Uni-vos SA. Livro do Mello grátis para download

Desempregados do mundo se unem e fundam a DEMU - Desempregados do Mundo Uni-vos SA. Livro do Mello grátis para download

‘Haverá um dia em que os pobres morrerão de fome e os ricos, de medo. Em "A Fome e o Medo" esse dia chegou.

Sem emprego e sem qualquer perspectiva de conseguir um, os desempregados do mundo se unem e fundam a DEMU - Desempregados do Mundo Uni-vos SA.

Enviam aos poderosos que controlam o planeta uma proposta. "A Fome e o Medo" é esta proposta.
Segue abaixo um pequeno trecho. Se quiser fazer o download do livro, ele está aí à direita. É só clicar.
(...)... exis­tem vários de nós, como dizíamos, que adorariam pe­gar um de Vós (e fariam isso graciosamente, sem co­brar absolutamente nada, pelo simples prazer), pegar um de Vós, como dizíamos, e rea­gir, ter a oportunida­de de colocar as mãos, ambas, com todos os dedos, em Vosso pescoço, apertá-lo até sentir que Vossa Ex­celência, que é tão sufocante, começa a implorar por ar, que Vossos olhos se esbugalham apavorados, que Vossa garganta quer emitir um som desesperado, um pe­dido de socorro - agora tão inútil, extemporâneo, até ig­nóbil -, que todo Vosso corpo se contorce em convul­sões, enquanto a morte se aproxima de Vós, calma­mente, e ela não parece Vos ter respeito algum, ne­nhum medo na face da morte que se aproxima - e isso Vos desconcerta e apa­vora ainda mais - , e já não há cartão de cré­dito, promessa de emprego, aumento, dinheiro, pro­messa de felicidade, não há nada que afaste aquelas mãos de Vosso pescoço, não há nada mais que Vossa Excelência, que é tão pode­roso, possa fazer, a não ser tentar convencer, com Vossos uivos de sufoco, Vossos olhos esbugalhados, que tudo o que Vossas Excelên­cias, que são, como já dissemos, exce­lentes, tudo o que vêm fazendo foi sem querer, nunca houve ne­nhuma má intenção - foram apenas, como está escrito nas bulas de remédios, "efeitos colaterais indesejá­veis". Mas, infe­lizmente para Vós, é claro, as mãos em Vosso pescoço não concordarão com isto.(...)

Por que aconteceu o caso Amarildo e por que outros Amarildos vão ser torturados e assassinados

Por que aconteceu o caso Amarildo e por que outros Amarildos vão ser torturados e assassinados




Pela rotina cruel da execução do pedreiro Amarildo (publicada aqui em Confirmado: PMs de UPP da Rocinha sequestraram, torturaram e mataram Amarildo), ficou claro que o procedimento adotado pelos policiais da UPP não foi fruto do acaso, mas de uma prática talvez corriqueira. Não é de uma hora para a outra que se decide pegar um cidadão, torturá-lo e causar sua morte - intencionalmente ou não.

Quando o caveira, formado no Bope da Tropa de Elite que manda pro saco, comandante da UPP da Rocinha mandou trazerem o homem para os procedimentos de praxe, isso ficou claro para todos os PMs da UPP.

Dessa vez, deu errado para eles. Mas parece que o problema vai ficar restrito ao caso Amarildo e aos PMs envolvidos, que já são mais de 20. Para frente, fica tudo como dantes no quartel de Abrantes, é o que nos sugere a leitura de duas notícias que se completam:
1. Terça passada, a soldado Vanessa Coimbra, da Unidade de Polícia Pacificadora (UPP) da Rocinha, deu uma palestra em evento internacional em Nova Iorque (EUA) sobre novas tecnologias de investigação. Ela representava a PM e, por conseguinte, o estado do Rio. Detalhe: ela é um dos 25 PMs denunciados no caso Amarildo [Fonte];

2. O novo professor da disciplina Legislação Especial no curso de formação de oficiais da Polícia Militar é o delegado Ruchester Marreiros. Detalhe: Marreiros é acusado pela Corregedoria Interna da Polícia Civil (Coinpol) de cometer três infrações: "deu informações inexatas ou alteradas; agiu com displicência ou negligência e não exerceu a função policial com probidade, discrição e moderação, deixando de observar as leis com lisura". Tudo no caso Amarildo. Ele foi o autor do relatório que apontou envolvimento do ajudante de pedreiro Amarildo de Souza com o tráfico na Rocinha. Agora, vai dar aula de Legislação especial para PMs. [Fonte]

Se a segurança pública fosse um medicamento, a morte de Amarildos (no plural) não seria efeito colateral indesejável, mas o efeito esperado do medicamento. Tarja preta, de luto. Se é que me entendem.

Madame Flaubert, de Antonio Mello

Problema de Roberto Carlos com biografias não está na perna, mas no rabo, mora? São 'Traumas' do 'Careta'

Problema de Roberto Carlos com biografias não está na perna, mas no rabo, mora? São 'Traumas' do 'Careta'




O acidente que lhe teria decepado parte da perna não é a causa da proibição por Roberto Carlos de qualquer um que queira fazer sua biografia. Esse é o segredo mais conhecido do Brasil. O problema de Roberto Carlos é outro: as inúmeras acusações de plágio na Justiça.

Uma delas recebeu decisão definitiva, sem possibilidade de apelação: foi impetrada pelo compositor Sebastião Braga, que provou na Justiça que a composição O Careta, assinada pela dupla Roberto-Erasmo era plágio de uma canção de sua autoria.

Sebastião Braga não é o único. Uma consulta ao Google juntando Roberto Carlos e plágio apresenta mais de 100 mil resultados. Há o caso da professora de ensino municipal Erli Cabral Ribeiro Antunes, que afirma que a canção de Roberto Carlos "Traumas" é plágio da sua “Aquele amor tão grande”. Ela contratou o advogado Nehemias Gueiros para defendê-la e afirma que Traumas copiou 16 compassos e 64 notas de sua composição.

Numa entrevista, o advogado deu detalhes da estratégia de defesa de Roberto Carlos [grifo meu]:
Nehemias Gueiros Jr: Se considerarmos que o primeiro processo de plágio contra Roberto Carlos levou 11 anos para ser concluído podemos contar com um tempo razoável de andamento da ação. Entretanto, já fomos procurados pelos advogados do Rei, que ofereceram um acordo de apenas R$ 150.000,00 para a desistência da ação, imediatamente rejeitada por minha cliente. Devemos estar citando Roberto e Erasmo nos próximos 30 dias. [Fonte]
Sebastião Braga também falou desse tipo de negociação de Roberto Carlos, numa reportagem da IstoÉ:
“Ele [Roberto Carlos] colocava a mão no peito, dizia que era cristão e não havia plagiado minha música”, conta Sebastião. Roberto, segundo o advogado e compositor, chegou a sugerir uma indenização num valor bem menor, de R$ 300 mil. “Esta proposta foi absurda. Só a multa do processo foi calculada em R$ 380 mil”, diz ele.

Para seu azar, Sebastião Braga parece ter ficado muito empolgado com a vitória na Justiça, que poderia lhe render algo em torno de R$ 5 milhões. Disse que pretendia lançar um livro contando tudo o que ficou sabendo sobre plágios de Roberto Carlos durante seu processo e, numa entrevista, deu até o título do futuro livro: “O rei do plágio: detalhes e emoções da queda de um mito”.

Roberto Carlos entrou com ação contra ele. E ganhou. No frigir dos ovos, uma ação contra outra, Roberto Carlos pagou apenas R$ 200 mil a Braga pelo plágio. Mas, na real confissão e aceitação do plágio cometido, retirou a música "O careta" de seus discos e ela não é citada nem em sua página.

Sebastião Braga morreu quatro meses após esse acordo.

Para aguçar a curiosidade de você que me lê, publico o vídeo a  seguir. Dê uma conferida, a partir dos 38" e pense se a música lhe faz lembrar alguma outra... coincidentemente de Roberto Carlos.



Madame Flaubert, de Antonio Mello

VIDEOS

Saúde Pública: Mitos e Verdade





A Grande Farsa do Aquecimento Global




VÍDEO DA SEMANA

VÍDEO DA SEMANA




Lançamento de "O mínimo que você precisa saber para não ser um idiota"



Lançamento do livro de Olavo de Carvalho e Felipe Moura,  "O mínimo que você precisa saber para não ser um idiota".






Vídeos das semana anteriores:

Lobão e Olavo de Carvalho recebem Danilo Gentili ao vivo




O cantor, compositor e escritor Lobão e o filósofo e jornalista Olavo de Carvalho recebem o humorista e apresentador Danilo Gentili para um bate papo sobre censura, ensino e política.





Quem realmente inventou a internet?

Quem realmente inventou a internet?

D6F22267090610B0419855BBFAC2515F_1.jpgUm momento significativo da atual corrida presidencial norte-americana ocorreu recentemente quando Barack Obama disse: "Se você tem um empreendimento, não foi você quem o construiu.  Foi outra pessoa quem o possibilitou."  Ele justificou este seu ato de elevar burocratas acima de empreendedores referindo-se também a pontes e estradas, dizendo que todas existem unicamente graças ao estado.  E, no final, arrematou: "A internet não foi inventada do nada.  A pesquisa governamental criou a internet, de modo que, só então, todas as empresas puderam ganhar dinheiro com ela."
O governo ter criado a internet é uma daquelas lendas urbanas que perduram até hoje.  O mito é que o Pentágono criou a internet com o intuito de poder manter operantes suas linhas de comunicação mesmo sob ataque nuclear.  A verdade, no entanto, é bem mais interessante, e mostra como as inovações ocorrem no mercado — e mostra também o quão difícil é criar empresas tecnológicas bem sucedidas mesmo quando o governo sai da frente.
Para muitos tecnólogos, a ideia da internet remonta a Vannevar Bush, conselheiro da presidência dos EUA para assuntos tecnológicos durante a Segunda Guerra Mundial.  Foi ele quem supervisionou o desenvolvimento do radar e do Projeto Manhattan.  Em 1946, em um artigo escrito para a revista The Atlantic chamado "As We May Think", Bush definiu um ambicioso objetivo tecnológico para aquele vindouro período de paz: construir o que ele chamou de "memex", por meio do qual "formas totalmente novas de enciclopédias surgirão, trazendo com elas uma malha de trilhas associativas prontas para ser adicionadas ao memex e então ampliadas."
Isso excitou imaginações e, na década de 1960, tecnólogos já estavam tentando fazer com que redes de comunicações fisicamente separadas fossem conectadas em uma só rede global — a "world-wide web" [rede de alcance mundial].  O governo americano estava envolvido no projeto, modestamente, por meio da ARPA (Advanced Research Projects Agency — Agência de Projetos de Pesquisa Avançados, agência do Departamento de Defesa americano).  A ARPA criou a ARPANET, que tinha o objetivo de interligar as bases militares e os departamentos de pesquisa do governo americano
Mas o objetivo do governo americano não era o de manter suas comunicações durante um ataque nuclear, e tampouco a ARPA criou a internet.  O próprio Robert Taylor, que comandou o programa ARPA na década de 1960, enviou um email para os colegas tecnólogos em 2004 esclarecendo a questão: "A criação da ARPANET não foi motivada por considerações sobre a guerra. A ARPANET não era uma internet.  A internet é uma conexão entre duas ou mais redes de computadores."
Se o governo não inventou a internet, então quem a inventou?  Vinton Cerf foi o sujeito que desenvolveu os protocolos TCP/IP, que são espinha dorsal (ou, no contexto adequado, a rede de transporte) da internet.  E Tim Berners-Lee merece os créditos pelos hyperlinks.
Mas o crédito completo vai para a empresa na qual Robert Taylor trabalhou após ter saído da ARPA: a Xerox.  Foi nos laboratórios da Xerox PARC, no Vale do Silício, na década de 1970, que a Ethernet foi desenvolvida para conectar diferentes redes de computadores.  Os pesquisadores de lá, além de terem desenvolvido o primeiro computador pessoal (o Xerox Alto), também desenvolveram a interface gráfica do usuário, a mesma que ainda conduz a utilização dos computadores atuais.
De acordo com um livro sobre a Xerox PARC, "Dealers of Lightning", de Michael Hiltzik, os pesquisadores perceberam que não poderiam ficar eternamente esperando o dia em que o governo finalmente decidiria conectar as diferentes redes.  Logo, eles resolveram fazer tudo por conta própria.  "Nós temos um problema mais imediato do que eles", disse Robert Metcalfe ao seu colega John Shoch em 1973.  "Nós temos mais redes do que eles."  Mais tarde, o Sr. Shoch contaria que os funcionários da ARPA "estavam trabalhando com financiamento do governo e com contratos com universidades.  Eles tinham de lidar com burocratas que estavam supervisionando o contrato... e com todo aquele comportamento lento e lúgubre típico dessa gente."
Mas então, tendo criado a internet, por que a Xerox não se tornou a maior empresa do mundo?  A resposta explica a discrepância que há entre uma visão empreendedorial pautada pelo estado e como as inovações realmente ocorrem.
Os executivos da matriz da Xerox na cidade de Rochester, estado de Nova York, estavam concentrados em vender copiadoras.  Do ponto de vista deles, a Ethernet era importante apenas para que pessoas em um escritório pudessem conectar seus computadores para compartilhar uma copiadora.  Foi então que, em 1979, Steve Jobs negociou um acordo pelo qual o departamento de capital de risco da Xerox investiu US$1 milhão na Apple, com o requisito de que Jobs fosse completamente informado sobre todas as inovações da Xerox PARC. "Eles não faziam a menor ideia do que possuíam", Jobs diria mais tarde, após lançar seus extremamente lucrativos computadores Apple, nos quais ele utilizou os conceitos desenvolvidos pela Xerox.
O ramo de copiadoras da Xerox se manteve lucrativo por décadas, mas a empresa, no final, vivenciou anos de prejuízos gerados pela revolução digital.  Os administradores da Xerox podem se consolar com o fato de que é raro uma empresa conseguir fazer a transição de uma era tecnológica para outra.
Quanto ao papel do governo no processo, a internet foi completamente privatizada em 1995, quando uma fatia da rede que ainda estava sob o controle pela National Science Foundation (Fundação Nacional da Ciência) foi abolida — imediatamente quando a internet comercial começou a crescer.  O blogueiro Brian Carnell escreveu em 1999: "A internet, de fato, reafirma aquela crítica básica feita pelos defensores do livre mercado ao governo.  Por 30 anos, o governo deteve um protocolo imensamente poderoso de transferência de informações, o TCP/IP, mas ele ficou mofando sem ser utilizado. . . .  Em menos de uma década, empresas privadas assumiram o controle deste protocolo e criaram umas das mais importantes revoluções tecnológicas do milênio."
É importante entender a história da internet porque ela é, com muita frequência, citada enganosamente como exemplo e como justificativa para se ter um governo grande.  É importante também reconhecer que construir grandes empresas de tecnologia é algo que requer, além de inovações, a habilidade para saber levar estas inovações ao mercado.  Como nos mostrou o contraste entre a Xerox e a Apple, são poucos os empreendedores que obtêm sucesso nesse desafio.  Aquele que conseguem merecem o crédito por fazer isso acontecer — e não o governo.



Gordon Crovitz é executivo e conselheiro de mídia e da indústria de informação.  Foi editor do The Wall Street Journal e vice-presidente executivo da Dow Jones.  Formou-se na Universidade de Chicago e é bacharel em direito pelas universidades de Oxford e Yale.

Ciência financiada pelo livre mercado versus ciência estatal

Ciência financiada pelo livre mercado versus ciência estatal 

ciencia_injeccaoampolas.jpgEm um livre mercado, a ciência se origina na mente de cada cientista em particular, que estudou e pensou sobre os problemas que lhe interessam.  Agindo desta maneira, esses cientistas podem, de tempos em tempos, chegar a novas descobertas, as quais eles desenvolvem em maior profundidade, sempre verificando os resultados.  No decurso de seu trabalho e na disseminação dos resultados, eles frequentemente precisam de mais financiamento, os quais eles próprios podem obter.  Nesse caso, inspirados pelo valor que veem em seu trabalho, eles recorrem a outros indivíduos para tentar obter os fundos necessários, persuadindo-os a compreender a essência do seu trabalho e do seu valor.
Em um livre mercado, a principal fonte de financiamento seriam empresários ricos e herdeiros abastados.  Em um livre mercado, não haveria impostos sobre a renda e nem sobre a herança, pois ambos são uma violação da liberdade do indivíduo gastar sua própria riqueza como melhor lhe aprouver.  E pelo fato de não haver impostos sobre a renda e sobre heranças, não haveria nenhuma necessidade de se criar fundações e entidades que servem como meios de se evitar esses impostos.  Tampouco haveria a necessidade de se nomear gestores com o poder de determinar como seriam utilizados os fundos de uma determinada pessoa.  Desta forma, haveria um maior número de empresários e herdeiros abastados, que exerceriam total controle sobre seus próprios fundos.  E um empresário não teria de se preocupar com a possibilidade de entrar em conflito com alguma agência reguladora que pudesse utilizar seu poder coercivo para prejudicar seus negócios — como, por exemplo, em retaliação ao seu apoio a algum projeto de pesquisa que fosse impopular ou tido como indesejado pelo governo.
Indivíduos em posse de uma quantidade substancial de riqueza, e com o total poder de determinar como ela será utilizada, é algo de vital importância.  Isso porque não somente as novas ideias se originam nas mentes de alguns poucos indivíduos — que necessariamente precisam começar do nada qualquer tentativa de mudar a mentalidade e as ideias do resto da humanidade —, mas também porque a mudança na mentalidade das pessoas — fenômeno esse que necessariamente precisa ocorrer como consequência do esforço — é algo que acontece em ritmo gradual, uma mente de cada vez.
Um indivíduo entender algo novo e significativo não é uma tarefa fácil ou automática, mesmo na melhor das circunstâncias.  Pois para o descobridor original deve ser um tanto quanto desencorajador pensar que há uma verdade significativa que, até o momento, em todo o mundo e em toda a história do mundo, apenas ele compreende.  Um indivíduo assim precisa ter um nível considerável de confiança no poder e na confiabilidade de sua mente.  Galileu, Newton, Pasteur, Edison — todos os grandes inovadores da ciência necessariamente estiveram nessa posição. 
As primeiras pessoas a serem persuadidas da verdade e da importância de uma nova descoberta, além do próprio descobridor, precisam também ter um nível considerável de confiança no poder e na confiabilidade de suas próprias mentes.  Afinal, a situação delas é clara: apenas elas e o descobridor compreendem essa verdade e o valor dela.  Ambos precisam estar preparados para prosseguir baseando-se unicamente em seu próprio e independente julgamento de que a descoberta é de fato verdadeira e valiosa.
Em relação a isto, deve-se notar que mesmo a maior evidência e clareza de uma verdade nunca é uma garantia de que ela será aceita por um indivíduo.  Existem tantas pessoas tão inseguras da sua própria capacidade de julgar a verdade, tão receosas da possível necessidade de ter de defendê-la em uma confrontação com terceiros — os quais, espera-se, irão discordar —, que sua reação à mais extremamente óbvia porém ainda não amplamente reconhecida verdade é que ela, com efeito, provavelmente não dever ser verdade, pois se fosse, já seria amplamente reconhecida e aceita.  Para tais pessoas, a capacidade de reconhecer a verdade se dissolve quando não há a certeza de que praticamente todo o mundo está preparado para confirmá-la como verdadeira. 
Considere, por exemplo, como a esmagadora maioria das pessoas seguiu acreditando, século após século, que o mundo era plano.  Certamente era assim que o mundo lhes parecia todas as vezes que olhavam para a enorme extensão de terra à sua frente.  Mas algumas pessoas nesse período sabiam que o mundo era redondo e que sua aparente planura poderia facilmente ser conciliada com o fato de que ela era, na verdade, redonda.
A conclusão de que o mundo era redondo foi uma dedução óbvia retirada de fenômenos como o fato de que o topo dos mastros dos veleiros aparecia no horizonte antes do restante do mastro, que ia aparecendo aos poucos, sendo então seguido pelo aparecimento completo do mastro, e depois de todo o corpo dos veleiros, à medida que eles vinham se aproximando.  Foi também uma dedução óbvia do fato de que, quando se olhava para o horizonte, era possível ver apenas até uma determinada distância, sendo que esse campo de visão não era o limite de extensão da terra, o qual era muito maior.  A curvatura da terra era a óbvia explicação para ambos os casos.
Embora algumas pessoas compreendessem esse fato à época, a maioria das pessoas não foi persuadida por essa explicação durante muitos séculos.  Elas eram essencialmente imunes a esse conhecimento.  Se isso correu simplesmente por medo de um conflito com outros a quem elas teriam de dar explicações e sofrer resistência ou um possível escárnio, ou se era simplesmente uma questão de preguiça intelectual da parte delas, ou ambas as coisas, o fato essencial é que essa era uma verdade extremamente simples que a grande maioria da humanidade não foi persuadida a aceitar durante muito tempo.  E mesmo hoje, quando virtualmente todo o mundo finalmente reconhece que a terra é redonda, isso provavelmente ocorre porque a grande proporção das pessoas que pensa assim, o faz simplesmente porque é nisso que elas sabem que a grande maioria das pessoas acredita — e, consequentemente, é nisso que elas acham que também devem acreditar.
Pessoas intelectualmente inertes e receosas continuam a ser extremamente numerosas.  Elas podem ser encontradas em todos os níveis culturais e educacionais.  A diferença entre pessoas com maior nível educacional e pessoas com menor nível educacional é que aquelas simplesmente sabem mais sobre o que a maioria das pessoas pensa e no que elas supostamente acreditam.  Consequentemente, elas sabem que também devem acreditar no mesmo em que a maioria acredita.  O conhecimento delas é como se fosse uma coleção de pesquisas de opinião pública.  Muito pouco — para não dizer nenhum — de seu conhecimento ostensivo está solidamente edificado.  Elas têm pouca ou nenhuma base para formar um julgamento independente sobre a verdade ou a falsidade de um novo conhecimento.
Tais pessoas são tão numerosas que, mesmo em grupos relativamente pequenos, uma ou mais delas podem ser encontradas.  É exatamente esse fato que faz com que seja tão importante que o poder de tomar decisões esteja nas mãos de indivíduos, e não de grupos, comitês ou conselhos de qualquer tipo.  Caso o poder de decisão estivesse nas mãos de grupos, comitês ou conselhos, a provável presença de tais pessoas e o reforço mútuo que cada uma daria à outra constituem um grande obstáculo ao surgimento e progresso de uma ideia nova.
O avanço da ciência depende da existência de um livre mercado, pois o fato de o livre mercado dar poder de decisão a indivíduos — e não a grupos — é o que faz com que aqueles que não possuem uma capacidade própria de julgamento sejam ignorados.  Estes são relegados a atividades paralelas, nas quais podem usufruir todos os benefícios do progresso econômico e científico, porém sem atrapalhar o avanço.
Agora concentremo-nos na ciência sob a tutela do estado.
Controle estatal da ciência é a tentativa de se combinar opostos.  Essencialmente, ciência é alma, espírito, consciência, intelecto, mente; já o estado é pura força física.  A ciência avança por meio do assentimento da verdade feito voluntariamente pela mente individual humana.  Em contraste, o estado — e tudo aquilo que o estado patrocina — só avança por meio da força física e da ameaça de força física.  Não há uma única lei, regulamentação, decisão, ordem ou decreto feito pelo estado que não seja respaldado pela ameaça de força física para compelir obediência a ele.  O estado não diz para o indivíduo "faça isso por uma questão de racionalidade, ou simplesmente não faça isso caso pense não ser algo racional.  Independente de sua escolha, leve o tempo que quiser até finalmente mudar de ideia e reconhecer que estávamos certos desde o início."  Não.  O que o estado na realidade diz é "faça isso ou não faça isso se você quiser ficar longe da cadeia e evitar ser ferido ou morto caso resolva resistir."
Qualquer apoio financeiro que o estado propicie à ciência será por meio de impostos coletados sob a mira de uma arma, arrancado de pessoas que sabem que serão aprisionadas caso não paguem os impostos, e feridas ou mortas caso resistam à prisão.  Trata-se realmente de uma fundação notável para o progresso da ciência, muito parecida com a pretensa construção de um laboratório por gorilas.
Portanto, o ponto de partida de uma ciência financiada pelo estado é o exato oposto do ponto de partida da ciência real: é a força física e não o assentimento voluntário da mente individual.
Há uma outra diferença importante em relação ao ponto de partida.  A ciência se inicia na mente do indivíduo cientista que está à procura de uma verdade importante que ainda não foi anteriormente identificada.  Já a ciência financiada pelo estado, em contraste, se inicia tipicamente com um já pré-estabelecido consenso em relação ao assunto a ser pesquisado.  Isso porque a existência de um consenso aumenta a probabilidade de se conseguir apoio político para o projeto.
É claro que nem toda a ciência financiada pelo estado requer a existência de um consenso.  Stalin não precisou de um consenso quando ele decidiu promover a carreira do biólogo Lysenko por causa do apoio deste à teoria daherança dos caracteres adquiridos.
O exemplo de Stalin e Lysenko joga luz sobre o tipo de busca científica que qualquer político ou funcionário do governo irá iniciar, caso tenha o poder para tal.  Como a principal preocupação dessa gente sempre será a manutenção e o aumento do poder, os projetos que elas irão favorecer serão aqueles criados intencionalmente para aumentar seu poder e prestígio.  Qualquer vínculo com uma verdade científica provavelmente será mera coincidência.  Assim, no caso de Stalin e Lysenko, o objetivo não era a promoção da ciência biológica, mas sim dar apoio — tirado à força da ciência biológica — à doutrina marxista de que a vida sob um regime comunista poderia alterar a natureza humana em virtude de uma sucessão de gerações que iriam adquirir características que seriam então geneticamente transmissíveis para as gerações futuras.
Independente de se a ciência estatal vai depender de um consenso já existente ou se vai depender da iniciativa de um único político, em ambos os casos ela se difere radicalmente da ciência genuína em outro aspecto: a relação entre ciência e dinheiro.  Em um livre mercado, é a veracidade e a importância da ciência que irão conduzir a angariação de fundos.  Dinheiro é angariado com o intuito de facilitar o desenvolvimento e a disseminação da ciência.  O dinheiro é o meio; a ciência é o fim.  Com uma ciência financiada pelo estado, essa relação é completamente invertida.
O estado, com efeito, oferece fortunas na forma de "subvenções" para o estudo de assuntos escolhidos por políticos e seus nomeados; dado esse cenário, os cientistas irão escolher as áreas de investigação que tenham a maior probabilidade de garantir para si parte daquele dinheiro.  Os "cientistas" se amontoam em volta do dinheiro das subvenções como abelhas em volta de um pote de mel, ávidos para conseguir uma fatia do butim.  Para tanto, eles apresentam exatamente o tipo de proposta de pesquisa que creem irá melhor promover os ideais daqueles políticos que têm o poder de determina a concessão das subvenções.
O significado desse estado de coisas é que a iniciativa da ciência é transferida dos cientistas para o estado — isto é, para políticos e seus nomeados.  E ao invés do dinheiro servir à ciência, é a ciência que agora serve ao dinheiro.  E, deve ser enfatizado, não se trata de dinheiro comum, mas sim de dinheiro coletado sob a mira de uma arma, e disponibilizado sob condições determinadas exclusivamente por políticos e por seus apaniguados.
Em um livre mercado, obviamente, a ciência aplicada serve ao dinheiro.  Se há empresas que querem desenvolver produtos específicos, elas irão empregar cientistas que ajudarão a desenvolvê-los.  Mas como os fundos são angariados voluntariamente, a ciência aplicada precisa ser verdadeira, caso contrário os produtos não funcionarão.  Também há empresas e indivíduos ricos que, em um livre mercado, poderão estar interessados na exploração de vários campos da ciência pura e que irão oferecer incentivos monetários para os cientistas desempenharem tais pesquisas.  De novo, vale ressaltar que tal relação será, no mínimo, estritamente voluntária.
O crucial é que, em um livre mercado, há espaço para cientistas independentes, cientistas que tomam iniciativa por conta própria e que, graças principalmente à existência de uma quantidade substancial de empresários ricos e herdeiros abonados, têm a chance real de obter os fundos de que necessitam para realizar seu trabalho e disseminar seus resultados.  Com efeito, em um livre mercado, sem impostos sobre a renda, é bem possível que haja um significativo apoio financeiro para a ciência independente oriundo inclusive da classe média.
A ciência financiada pelo estado surge em grande escala em um ambiente em que as bases da genuína ciência pura já estão amplamente solapadas pela existência de impostos progressivos sobre a renda e sobre heranças, e por uma concomitante coletivização até mesmo das decisões privadas: a saber, a substituição do ato de decisão individual pela decisão tomada por grupos de vários tipos, particularmente conselhos e comitês.
Tão logo o financiamento estatal da ciência torne-se uma realidade, as chances de que isso promova grandes avanços na ciência são mínimas.  Um grande avanço na ciência representa o surgimento de algo radicalmente novo e diferente.  Mas por mais verdadeiro que seja esse algo novo e diferente, sua veracidade ainda não possui partidários.  E exatamente por essa razão, é praticamente certo que ele seja rejeitado por aqueles cujo único critério de veracidade é a aceitação de terceiros.  É claro que esse algo novo ainda não pode ter essa aceitação justamente pelo fato de ser uma novidade.  Se for para ser aceito, isso terá de acontecer com base em critérios independentes de julgamento, e nada mais.  Porém, o exercício da independência de julgamento necessita virtualmente que haja uma riqueza independente para financiá-la.  Uma riqueza independente — isto é, que seja propriedade privada — pode ser utilizada para dar suporte a tudo que é radicalmente novo e diferente.  Nesse caso, se o julgamento estiver errado, o prejuízo será unicamente da pessoa que o fez.  Porém, quando a riqueza que está sendo utilizada é "pública", então quem quer que esteja fazendo o julgamento sobre como utilizá-la, deve acima de tudo ter a certeza de que pode provar que não fez absolutamente nada fora do comum com ela.  Somente dessa maneira poderá ele não ser responsabilizado por qualquer perda.
A ciência financiada pelo estado é necessariamente um atoleiro de mediocridade.  É o âmbito dos jornais acadêmicos e dos estudos estatísticos.  Nos jornais acadêmicos, em que há revisão por pares, nada é considerado digno de publicação a menos que assim seja considerado pelos "pares".  O que isso significa é que, para que uma nova e radical ideia seja aceita para publicação, ela deve imediatamente ganhar o apoio daqueles cujas ideias ironicamente agora ficaram obsoletas e antagônicas em decorrência da descoberta dessa nova ideia.  Se estes não apoiarem, então essa nova ideia não será publicada. 
Tal arranjo é o equivalente a exigir que Galileu só possa publicar suas descobertas após suas ideias terem sido endossadas pelos mesmos astrônomos que, até aquele momento, eram seguidores fieis do sistema ptolemaico de astronomia.  É o equivalente a exigir que Louis Pasteur só possa publicar sobre a teoria germinal das enfermidades infecciosas após sua ideias terem o assentimento daqueles que negam a própria existência dos germes.
A ciência financiada pelo estado tem enorme semelhança com os estudos estatísticos.  Isso porque ambos podem ser adaptados para se ajustar a critérios facilmente especificados em relação a questões como tamanho da amostra, intervalos de confiança e níveis de confiança.  Ambos são, portanto, uma ótima maneira de se manter empregados um grande número de "cientistas" cuja função é tentar estabelecer ou negar a probabilidade de existir uma relação entre praticamente quaisquer duas coisas no universo.  Desde que o "cientista" possa comprovar que seguiu as regras de tal estudo, ele pode ter a certeza de que conseguirá manter sua subvenção estatal; mais ainda, de que irá participar do próximo "estudo" e da próxima subvenção estatal.
Cientistas sérios estão preocupados com a busca da verdade científica, e não com a politicagem por trás da ciência.  É improvável que eles estejam interessados nesse jogo.  Esse jogo interessa exatamente aos tipos opostos de "cientistas" — a saber, aqueles para quem é a política da ciência que conta, e não a verdadeira substância da ciência.  Esses são os tipos que realmente gostam de ser membros de comitês.  E são essas pessoas, vários degraus abaixo na hierarquia burocrática, que hoje comandam o destino da ciência.
A ciência financiada pelo estado é a destruidora da ciência.  Se quisermos que a ciência sobreviva, o financiamento estatal da ciência deve acabar.
George Reisman é Ph.D e autor de Capitalism: A Treatise on Economics. (Uma réplica em PDF do livro completo pode ser baixada para o disco rígido do leitor se ele simplesmente clicar no título do livro e salvar o arquivo). Ele é professor emérito da economia da Pepperdine University. Seu website: www.capitalism.net. Seu blog georgereismansblog.blogspot.com

Tradução de Leandro Roque

Palimpsestos e o tal “estado empreendedor”

Palimpsestos e o tal “estado empreendedor”

palimpsesto.jpgUm palimpsesto (do grego palimpsestos, os, on e do latim palimpsestus, i) é um pergaminho ou papiro cujo manuscrito original tenha sido lavado ou raspado com pedra- pomes para ser substituído por um novo texto.  Ao pé da letra significa "riscar de novo". De um lado, os palimpsestos tinham o objetivo de tentar paliar ou amenizar erros cometidos, mas também eram utilizados para escrever novos textos, já que os custos do papiro eram elevados naquela época. 
Talvez o mais famoso dos palimpsestos seja o palimpsesto de Arquimedes (287 a.C — 212 a.C), um texto escrito sobre outro anterior em pergaminho e formando um códice e que originariamente foi uma cópia em grego de diversas obras de Arquimedes — o famoso matemático, físico e engenheiro de Siracusa — e de outros autores. Posteriormente foi apagado de forma rudimentar e usado para escrever salmos e orações em um convento.
Mas vamos escrever agora sobre outro palimpsesto, bem mais moderno, que podemos chamar de palimpsesto de Keynes.  Neste café requentado, com gosto de terra, economistas, jornalistas e pretensos "intelectuais" nada mais fazem do que tentar, sem sucesso, apagar as velhas teses de que o estado deve ser o "indutor" do crescimento para em seguida reescrevê-las.  Há incontáveis exemplos desse tipo de pretensão fatal para as liberdades individuais.  Citarei apenas um, para não me estender muito.  Quanto aos demais, pretendo apresentá-los em artigo acadêmico para a Revista MISES, mais especificamente sobre a crise econômica atual e o êxito dos economistas da Escola Austríaca em antecipá-la, explicar suas causas e propor os remédios adequados, em contraposição ao fracasso das palimpsésticas tentativas keynesianas e monetaristas no que diz respeito à antecipação, à explicação, à identificação das causas e à administração de "remédios", que só têm feito piorar o estado do doente.
O exemplo que escolhi dentre tantos outros é o da Professora Mariana Mazzucato, britânica de origem italiana, economista da Universidade de Sussex, com doutorado na New School de Nova York, uma universidade de Economia e Ciências Sociais com viés claramente intervencionista e de esquerda.  Entrevistada no programa "Milênio" da Globonews, parece cantar um hino — ou, melhor dizendo, um funk de péssimo gosto — ao estatismo.
Ela defende a tese de que o estado deve ser o maior responsável pelas pesquisas inovadoras nas áreas fundamentais da ciência e tecnologia, e separa o que chama de invenções "ligeiras" (naturalmente, as produzidas pelo setor privado), como novos modelos de tablets, e inovações "grandes", de horizontes mais amplos, como as da área da saúde e mecanismos de "ciclo completo", como a Internet.
Ela diz que as grandes inovações produzidas nos EUA foram todas financiadas pelo estado, como a Internet, o GPS (pelo Pentágono) e medicamentos (pelo Departamento de Saúde).  E ainda elogiou o estado brasileiro e o BNDES, referindo-se obviamente à Finep.  Chegou a afirmar que o setor privado tem "medo" de assumir riscos, o que não acontece com o estado.  Ao que tudo indica, essa senhora vê o mundo de cabeça para baixo, ou olha para trás pensando que está olhando para adiante.  As teses que defende parecem um palimpsesto lavado ou raspado sem cuidado, ou ambas as coisas. Vejamos por quê.
A Internet, ou melhor, sua tataravó, foi de fato concebida em plena Guerra Fria por técnicos da NASA, mediante o ARPA (Advanced Research Projects Agency), mas só se expandiu e progrediu com o desenvolvimento da rede em ambiente mais livre, não militar — ou seja, privado —, em que não apenas os pesquisadores, mas também seus alunos e os amigos desses alunos, puderam ter acesso aos estudos já empreendidos e usaram sua inteligência e desenvolveram esforços para aperfeiçoá-los de uma forma fantástica.  
O mesmo processo se deu com a Internet propriamente dita: foram jovens da chamada "contracultura" — e não funcionários do estado —, ideologicamente defensores da difusão livre de informações, que realmente contribuíram decisivamente para a formação da Internet como hoje é conhecida.
Masaru Ibuka, um engenheiro, e Akio Morita, um físico, ambos japoneses, logo após a II Guerra Mundial, procuraram o Ministério da Indústria e Comércio do Japão em busca de recursos para desenvolverem suas ideias. Receberam um sonoro "não"!  Resolveram, então, fundar a empresa Totsuko, em maio de 1946, em um grande armazém bombardeado pelos americanos, em Tóquio.  A nova empresa não tinha qualquer maquinaria e possuía muito pouco equipamento científico e contava apenas com a inteligência, conhecimentos de engenharia e o espírito empreendedor de Ibuka e Morita. Trata-se, como o leitor já deve ter percebido, simplesmente, da Sony.
Como você poderá ver aqui e também aqui, graças ao espírito verdadeiramente empreendedor desses dois fantásticos homens, a Sony cresceu e hoje seu nome está associado a inovação, tecnologia avançada, qualidade e durabilidade.  Ver televisão em uma Bravia, trabalhar em um laptop Vaio, tirar fotos com uma Cybershot, jogarPlaystation, gravar com uma Handycam, ouvir música em um Walkman... Essas são apenas algumas das "crias" tecnológicas de dois indivíduos, graças ao "não" recebido dos burocratas japoneses.  Perguntemos à Professora Mazzucato se eles eram funcionários púbicos.
E o que dizer de Steve Jobs, cofundador, presidente e Diretor Executivo da Apple Inc. e que revolucionou seis indústrias: computadores pessoais, filmes de animação, música, telefones, tablets e publicação digital?  Era por acaso funcionário público?  E Bill Gates e Paul Allen, criadores da Microsoft em 1975, em Albuquerque, no Novo México?  Eram burocratas iluminados ou empreendedores que acreditaram em suas ideias e assumiram os riscos de colocá-las em prática?
Mais exemplos: Jorge Paulo Lehmann é um burocrata?  E Alexandre Tadeu da Costa, fundador da Cacau Show?  E Antônio Alberto Saraiva, criador da Habib´s?  E Romero Rodrigues, da Buscapé Company?  E Robinson Chiba, daChina in Box?  E Flavio Augusto da Silva, que com apenas 23 anos decidiu lançar um projeto inovador com o objetivo de, em 18 meses, dar fluência na língua inglesa a adultos, e que, para fundar sua empresa, a Wise Up, usou R$ 20 mil de seu cheque especial, com juros de 12% ao mês?  Qual o papel exercido pelo estado em todos esses casos, a não ser o de recolher tributos para benefício próprio?
Quanto ao GPS — e poucos sabem disso — foi uma ideia de uma estrela de Hollywood, a belíssima Hedy Lamarr, nome artístico de Hedwig Eva Maria Kiesler (1913-2000), nascida em Viena, estrela sexy de filmes como Idílio Perigoso (1944), Sansão e Dalila (1949), O Vale da ambição (1950) Meu Espião Favorito (1951), e A História da Humanidade (1957), entre muitos outros.  Hedy criou a tecnologia básica para o Sistema de Posicionamento Global (GPS, na sigla em inglês) durante a II Guerra Mundial.  Judaica de origem e horrorizada com o avanço nazista, queria ajudar os EUA e os aliados.  Havia aprendido sobre radiocomunicação graças à convivência, ainda na Áustria, com o ex-marido, Fritz Mandl, um rico fabricante de armas e seus colegas engenheiros.  E sua contribuição científica aconteceu quando já havia se divorciado de Mandl e fugido para os EUA.
Além do GPS, Hedy inventou também uma coleira fluorescente para cachorros e um aparelho de banho para deficientes.  Mas, naquela época, ninguém levou seus dotes científicos, que eram admiráveis, a sério, preferindo admirar seus dotes físicos (também admiráveis), a ponto dela ter dito: "Meu rosto foi minha ruína".  Hedy foi uma burocrata ou economista de esquerda, Professora Mazzucato?
Conforme relatado aqui, a famosa atriz inspirou-se no som do piano para bolar sua maior invenção: em 1940, conheceu o compositor George Antheil, também curioso por ciência. Certa noite, quando tocavam piano, ela se deu conta de que cada tecla emitia uma frequência de longo alcance diferente.  E, assim como elas se alternavam rapidamente em uma música, talvez algo parecido pudesse ser aplicado aos espectros de comunicação militar. Aprimorada por Antheil, a análise de Lamarr originou o sistema "salto de frequência", no qual estações de radiocomunicação eram programadas para mudar de sinal 88 vezes seguidas (o mesmo total de teclas de um piano).  Com isso, as forças inimigas teriam dificuldade em detectar esse registro alternado, que poderia ser então usado por navios e aviões, para orientar torpedos.
A dupla chegou a patentear a ideia e a ofereceu à Marinha dos EUA, mas foi rejeitada, sob o argumento de que seria demasiadamente cara (existe algo "caro" para governos)?  A invenção perdeu — felizmente — exclusividade militar e se tornou a base de várias tecnologias atuais.  Ela é aplicada, por exemplo, em satélites de orientação para meios de transporte civis — o famoso GPS (Global Position System) e também no wi-fi e no bluetooth.
Quanto ao BNDES e à Finep, é desnecessário comentarmos o que todos os brasileiros (e estrangeiros) com um mínimo de bom senso já sabem: que se trata de um órgão extremamente custoso para os pagadores de tributos e mero distribuidor de benesses para pseudo-empreendedores, aqueles que têm bons amigos em Brasília, ou que são amigos do rei ou rainha de plantão no Planalto.  Ou que contratem bons lobistas.
Na página da University of Sussex há diversos vídeos com palimpsestos da professora Mazzucato, quase todos versando sobre o tema do "Estado empreendedor", que nós austríacos sabemos ser um fenômeno tão contraditório quanto o "molhado seco".  Um desses vídeos tem o título de "The Entrepreneurial State: Debunking public vs. private sector myths".  E há um comentário do Professor Robert Wade, da London School of Economics, sobre o novo livro de Mazuccato, "The Entrepreneurial State", lançado em junho deste ano, que me causou arrepios, a ponto de não conseguir relê-lo:
O livro Entrepreneurial State fornece um desmonte bem pesquisado e elegantemente escrito (até mesmo divertido) à crença que perpassa quase todo o espectro político, bem como a profissão econômica, de que "o mercado sabe melhor".  Dado que vários governos da atualidade estão às voltas com a questão de como estimular a produtividade e a inovação de seus setores industriais, o livro fornece diretivas — baseadas em casos exitosos e nem tão exitosos — de como fazer uma boa política industrial.  Acima de tudo, mostra por que a comum pressuposição de que o estado 'sobrepuja' o setor privado — como se o setor privado fosse um leão enjaulado por um estado sufocante — é contraditada pela realidade de que governos de economias que vão dos EUA ao Brasil e China de fato 'trazem' inovações para o setor privado.
Creio que basta uma interjeição — que nada tem de científica, que não está nos dicionários, mas que todos entenderão — para descrever esse palavrório palimpséstico: argh!
É curioso lembrarmos que esses economistas que se autodenominam como "desenvolvimentistas" são de duas espécies: os ignorantes, que não conseguem interpretar corretamente o passado, e os "não-ignorantes mal intencionados", que até enxergam o passado, mas o interpretam ao sabor e com as tintas da ideologia.
Dei o exemplo da economista britânica para ressaltar, primeiro, como os palimpsestos, que remontam ao século V a.C, continuam sendo usados.  Simplesmente, tentam apagar os erros do passado — como no caso da defesa do "capitalismo de Estado" —, para reescrevê-los.  Francamente, se isso é "desenvolvimentismo", então borboletas são mamíferos...
E, segundo, para lembrar como nossa mídia valoriza esses garranchos, piores dos que sou obrigado a ler quando corrijo provas de certos alunos da UERJ.
Não existe "capitalismo de estado", não existe "estado empreendedor", não existe "função social do estado", não existe "investimentos socialmente úteis"!  Existe apenas intervencionismo.  E seu oposto, que é a liberdade.  Quando será que vão entender isso?
Uma boa leitura, escrita de forma simples, mas bastante esclarecedora é o livro de Adriano Gianturco Gulisano, "L'Imprenditorialità di Israel Kirzner — L'Etica della Proprietà e la Moralità Del Profitto nel Libero Mercato Imperfetto", editado neste ano por Rubettino, na Itália.  É uma boa vacina contra os palimpsestos dos "desenvolvimentistas do estado-empreendedor".

Dois tipos de individualismo

Dois tipos de individualismo

6569.jpgHá dois tipos de individualismo: há o individualismo genuíno, que leva à liberdade e a uma ordem espontânea, e há o pseudo-individualismo, que leva ao coletivismo e às economias controladas e planejadas.
Antes de explicar o que seria o individualismo genuíno, seria útil fornecer algumas indicações da tradição intelectual à qual ele pertence.  O individualismo genuíno começou a ser desenvolvido ainda no século XVII por John Locke.  Posteriormente, no século XVIII, Bernard Mandeville e David Hume ampliaram o pensamento, o qual alcançou uma envergadura completa pela primeira vez com as obras de Josiah Tucker, Adam Ferguson, Adam Smith, e daquele que foi o maior contemporâneo de Smith, Edmund Burke — o homem que, segundo Smith, foi a única pessoa que ele conheceu que abordava questões econômicas exatamente como ele, embora ambos nunca houvessem se comunicado de absolutamente nenhuma maneira.
No século XIX, tal pensamento foi representado à perfeição nas obras de dois de seus maiores historiadores e filósofos políticos: Alexis de Tocqueville e Lord Acton.  Estes dois homens desenvolveram com o mais pleno êxito tudo aquilo que havia de melhor na filosofia política de Burke, dos filósofos escoceses e dos Whigs ingleses. 
Por outro lado, os economistas clássicos do século XIX — ou pelo menos os discípulos de Jeremy Bentham ou os radicais entre eles — se mostraram crescentemente sob a influência de outro tipo de individualismo, um individualismo de origem distinta.
Esta segunda e completamente distinta linha de pensamento, também conhecida como individualismo, é representada predominantemente por escritores franceses e por outros pensadores do continente europeu — um fato que, creio eu, se deve ao papel dominante que o racionalismo cartesiano tem em sua composição.  Os principais representantes dessa tradição foram os enciclopedistas, Rousseau e os fisiocratas.  E, devido a alguns motivos que iremos aqui analisar, este individualismo racionalista sempre tende a se degenerar e a se transformar no exato oposto do próprio conceito de individualismo: isto é, descamba para o socialismo e o coletivismo. 
É justamente pelo fato de apenas o primeiro tipo de individualismo ser consistente, que eu lhe atribuo a denominação de individualismo genuíno, ao passo que este segundo tipo de individualismo deve ser considerado como uma fonte para o socialismo moderno tão importante quanto as próprias teorias coletivistas.
Não há melhor ilustração da atual confusão a respeito do significado de 'individualismo' do que o fato de aquele homem tido como um dos maiores expoentes do individualismo genuíno, Edmund Burke, ser comumente (e corretamente) acusado de ser o principal oponente do "individualismo de Rousseau" — cujas teorias ele dizia que iriam rapidamente dissolver a sociedade "na poeira e no pó da individualidade" —, e que o próprio termo "individualismo" tenha sido apresentado pela primeira vez no idioma inglês por meio da tradução de uma das obras de outro grande representante do individualismo genuíno, Alexis de Tocqueville, que utilizou o termo em sua obra Democracia na América para descrever uma atitude que ele deplora e rejeita.  No entanto, não há dúvidas de que tanto Burke quanto de Tocqueville estão, em toda a sua essência, próximos de Adam Smith — a quem ninguém negaria o título de individualista —, e que o "individualismo" ao qual eles se opõem é algo completamente diferente daquele de Smith.
O próximo passo na análise individualista da sociedade será dirigido àquele pseudo-individualismo racionalista que também leva ao coletivismo.  Trata-se da controvérsia de que, ao se investigar os efeitos combinados das ações individuais, descobrimos que várias das instituições responsáveis pelas conquistas e façanhas humanas surgiram e seguem funcionando sem a existência de uma mente planejadora e criadora.  Descobrimos que, como Adam Ferguson disse, "nações dependem de instituições, as quais realmente são resultado da ação humana, e não do planejamento humano"; e que a espontânea colaboração de indivíduos livres frequentemente leva a criações que são maiores do que suas mentes individuais são capazes de compreender.  Este é o grande tema por trás das obras de Josiah Tucker, Adam Smith, Adam Ferguson e Edmund Burke.
A diferença entre esta visão — que diz que toda a ordem que percebemos nas relações humanas é o resultado não-premeditado de ações individuais —, e a visão que atribui toda essa ordem perceptível a um planejamento deliberado é o primeiro grande contraste entre o individualismo genuíno dos pensadores britânicos do século XVIII e o suposto individualismo da Escola Cartesiana. 
Mas essa diferença é apenas um aspecto de uma diferença ainda mais ampla entre as duas visões.  De um lado, temos uma visão que, no geral, não endeusa o papel da razão nas relações humanas, afirma que o homem alcançou tudo o que já alcançou apesar do fato de ser guiado apenas parcialmente pela razão, e afirma que a razão individual é muito limitada e imperfeita.  De outro, temos uma visão que pressupõe que a Razão, com R maiúsculo, está sempre disponível de maneira plena e igualitária para todos os seres humanos, e que tudo que o homem alcança é resultado direto de estar submetido ao controle da razão de uma mente planejadora.
A abordagem anti-racionalista, a qual considera o homem não como um ser altamente racional e inteligente, mas sim um ser extremamente irracional e falível, cujos erros individuais serão corrigidos apenas no decorrer de um processo social, e que tem como objetivo tirar o melhor proveito possível de um material altamente imperfeito, é provavelmente a característica mais notável do individualismo inglês.
Portanto, para concluir, volto ao que foi dito no início: a atitude fundamental do individualismo genuíno é de humildade em relação aos processos pelos quais a humanidade alcançou vários feitos que não haviam sido planejados ou compreendidos por nenhum indivíduo sozinho, e que são, com efeito, maiores do que as mentes individuais.  A grande questão neste momento é se a mente humana poderá continuar crescendo como parte deste processo ou se ela deverá ser acorrentada aos grilhões que ela própria criou.  O que o individualismo nos ensina é que a sociedade será maior do que o indivíduo apenas se ela for genuinamente livre.  Se ela for controlada ou planejada, será totalmente limitada pelos poderes das mentes dos indivíduos que a controlam ou planejam. 
Se a presunção da mentalidade moderna — que não respeita nada que não seja conscientemente controlado por alguém — não entender a tempo suas limitações, poderemos, como nos alertou Edmund Burke, "estar seguros de que tudo a nosso respeito e à nossa volta irá definhar gradualmente, até que, no final, nossos objetivos serão encolhidos à insignificante dimensão de nossas mentes."