sábado, 27 de julho de 2013

Igreja, estado e políticos - o estatismo quer ser a nova religião oficial



22jul2013.jpgDiga e pense o que quiser a respeito do chefe da Igreja Católica, e discorde de todos os pontos que ele defende.  Ainda assim é inescapável o fato de que ele representa uma voz de genuína autoridade moral em meio a uma cultura política totalmente pútrida e carente de genuínos porta-vozes da verdade.
E é por isso que é extremamente patético e repugnante ver sórdidas figuras políticas se esmerando para aparecer ao lado do sumo pontífice em cerimônias especiais, fazendo discursos e poses para fotos ao lado de um líder que impõe um respeito natural, respeito este que nenhum político ou chefe de estado usufrui. 
Mas não deixa de ser divertido ver políticos, sempre tão acostumados a ser o alvo das pompas, subitamente terem de trocar de posição e se rebaixarem ao papel de meros coadjuvantes perante um chefe de estado que, ao contrário deles, usufrui respeito e admiração genuínos, sem que para isso tenha de fazer promessas assistencialistas e contar mentiras populistas.
Políticos se submetem a esse protocolo porque sabem que o papa é um dos poucos seres humanos da terra que não podem ser ameaçados ou coagidos por nenhum governo.  O papa — bem como outros líderes religiosos — pode não ter nenhum regimento de soldados, mas ele tem algo de fazer inveja aos políticos, para grande desespero destes: um exército de seguidores voluntários, que o admira por aquilo que ele é, e não por aquilo que ele promete fazer. 
Estado x religião
Se levarmos em conta a história da longa e conturbada relação entre igreja e estado, esta atual postura submissa de políticos e chefes de estado ao líder de uma religião é algo extraordinário, e suas implicações merecem uma exploração mais profunda.
Historicamente, a religião sempre representou uma ameaça aos governos porque ela compete pela lealdade dos cidadãos.  A maioria dos políticos considera que é o estado, e não Deus, o regente supremo da terra.  Eles simplesmente não toleram uma visão de mundo — uma fé — que está em contradição com a ideia de que o poder do estado deve ser supremo e ilimitado.
A principal razão por que a religião é um contínuo e eterno incômodo para os líderes políticos advém do fato de que essa instituição define a autoridade moral independentemente do poder dos governos.  Todas as outras organizações da sociedade (com a possível exceção da família) veem o estado como a fonte suprema das sanções éticas. 
Desde a Revolução Francesa, o estado vem querendo tomar o lugar da igreja e da religião na tarefa de arbitrador do que é certo e do que é errado na vida privada e cívica do indivíduo.  Porém, por causa de toda a corrupção, de toda a roubalheira, de toda a extorsão tributária, de todas as recessões e de todas as intromissões ilimitada em nossas vidas, o estado desperdiçou toda a autoridade moral que um dia ele reivindicou para si próprio.  Por mais que ele tenha se esforçado, o fato é que, no final, a população ainda reconhece a igreja, a religião e várias outras entidades privadas como as genuínas merecedoras de atenção e respeito, ao passo que a esfera política é amplamente considerada um paraíso apenas para os salafrários e esbanjadores.
Mesmo entre agnósticos e ateus não-ativistas, várias figuras religiosas são admiradas por seus feitos, palavras e atitudes.  Por exemplo, Madre Teresa de Calcutá e João Paulo II representavam carismas bem distintos dentro da tradição cristã: ela passou sua vida servindo aos mais pobres da humanidade com humildade e desprendimento; ele proclamou o evangelho desde sua eminente posição no topo da hierarquia católica.  No entanto, ambos foram creditados como genuínos portadores das melhores intenções, mesmo quando provavelmente estavam errados, e eram respeitados por verbalizarem posições íntegras e probas, ainda que várias vezes impopulares, sobre os assuntos mais prementes da atualidade.
Qual figura política atual consegue exalar naturalmente o mesmo tipo de deferência e respeito?  Por acaso, o cidadão comum possui uma profunda ternura e afeição a algum político, mesmo aquele em quem ele votou?  Pense nos líderes políticos de hoje, tanto aqueles que ocupam cargos para os quais foram eleitos quanto aqueles que meramente foram nomeados para funções burocráticas.  Há algum cuja morte geraria uma efusão em massa de pesar e tristeza, mesmo entre seus não-eleitores? 
Esta realidade se deve, em parte, à ideia — hoje já totalmente arraigada — de que líderes políticos não são guiados por boas intenções, e nem muito menos por uma genuína convicção moral de fazer o que é certo, mas sim por interesses próprios.  São os votos, as propinas e os lobbies que azeitam as engrenagens da máquina estatal, e todos sabem disso.  Não importa se de direita, de esquerda ou de centro: políticos são ávidos em satisfazer apenas os desejos dos grupos de interesses que os apóiam e financiam sua eleição, e que por isso conseguem vários privilégios protecionistas do estado.
Em contraste, pense naquelas instituições que estão separadas do estado, como a família, a igreja, a religião e a classe de micros e pequenos empreendedores.  Cada uma delas é uma instituição voluntária cuja autoridade não é impingida por meio da força, mas sim conseguida por meio do consentimento.  Nenhuma destas instituições é perfeita porque todas são formadas por seres humanos falíveis; porém, como um todo, elas conseguem obter nosso respeito e atenção, e exercem mais influência sobre a cultura de uma sociedade do que o setor político e suas ramificações na mídia e nas universidades.
E é exatamente por isso que políticos, intelectuais a soldo de políticos, artistas e demais grupos organizados se dedicam diariamente a demonizar todas essas classes.  Só que esta tática de demonização não é de modo algum inédita na seara da política.  Durante séculos, o estado vem tentando fazer isso com a igreja, caluniando a voz moral da religião como algo hipócrita e potencialmente tirânico.  O estado atual assumiu funções que, para serem de fato executadas, necessitariam de atributos que outrora eram vistos como pertencentes exclusivamente a Deus, dentre eles a onisciência e a onipotência.
Progressistas e conservadores contra a igreja
As posições imutáveis e inflexíveis da igreja geram incômodos a ambos os lados do espectro ideológico, de progressistas a conservadores.  João Paulo II, por exemplo, foi violentamente atacado pelos neoconservadores americanos por ter se pronunciado de forma veemente contra a invasão do Iraque.  Um deles chegou a fazer a vergonhosa insinuação de que o papa era inimigo dos EUA simplesmente porque ele não apoiava essa campanha de agressão ao Oriente Médio.  A verdade é que o pontífice jamais ignoraria a inerente contradição entre ser pró-vida e pró-guerra, e tampouco iria distorcer a doutrina católica da 'guerra justa' apenas para apoiar o ataque a uma nação que claramente não representava perigo algum aos EUA.  Os conservadores não perdoaram isso.  Os eventos de 11 de setembro não mudaram as leis morais, e o papa entendia que assassinato ainda era assassinato. 
Já os progressistas e demais adeptos do secularismo — dentre eles vários políticos — atacam a igreja e a figura do papa sempre que seus pronunciamentos teológicos vão contra a sua agenda.  Eles rotineiramente criticam — e de forma violenta — as posições da igreja em relação ao aborto, à eutanásia, ao casamento gay, ao feminismo e aos métodos contraceptivos.  Eles simplesmente não entendem que o catolicismo, como todas as religiões, possui regras que não podem simplesmente ser descartadas para satisfazer os modismos culturais da época.  Eles veem a igreja e a religião como um obstáculo à sociedade plenamente secular que sonham em criar — tendo o estado como o agente desta revolução cultural.
Ambos os espectros ideológicos não entendem que as posições da igreja e do papa são teológicas, e não políticas.  Eles não aceitam que haja pessoas que colocam a obediência a Deus acima da obediência ao estado.  O papa é um homem a serviço de Deus, e não um político a serviço de agendas partidárias.  Sua função é manter inalterada a já estabelecida e consagrada doutrina católica, e não atender a caprichos de políticos.  Sua missão é salvar almas e não servir aos ditames de grupos organizados.
Para estas pessoas, a não-subserviência do papa a nenhum governo e a nenhuma agenda ideológica é o pecado imperdoável do líder religioso.
O estado jamais poderá substituir a religião
Uma evidência explícita de que estas pessoas têm o estado como religião e fazem dele sua profissão de fé é que o mesmo julgamento rigoroso que elas direcionam ao papa e às instituições religiosas não é aplicado ao estado.
O estado se comprovou um fracasso em fornecer resultados minimamente satisfatórios para qualquer pessoa tenha um comprometimento espiritual a uma genuína fé.  Sua seguridade social não apenas não foi capaz de fornecer uma segurança real, como também se mostrou uma péssima substituta para as obrigações familiares; seu assistencialismo não elevou de forma definitiva o padrão de vida das pessoas; os conflitos de classe criados pelo estado — entre pagadores de impostos e consumidores de impostos — estão cada vez mais exacerbados; e suas tentativas de gerenciar a economia geraram apenas estagnação e desilusão.
E, principalmente: quando mensurado por padrões mínimos de moralidade, o estado é reprovado já em sua própria natureza.  Ele é o maior dos ladrões, o maior dos corruptores, o maior dos corruptos, o maior dos espoliadores, a mais coercitiva das instituições, o mais notório fraudador e falsificador de dinheiro, e o mais insolente dos mentirosos.  E, em cada um destes crimes, o estado conta com toda uma classe de intelectuais ávida para defendê-lo, justificá-lo e dizer que não há nada de errado nessas medidas — os mesmos intelectuais que condenam a igreja por estar em descompasso com as "demandas da modernidade".
O estado é um erro em suas mais fundamentais e conspícuas formas, enquanto que a igreja e outras organizações baseadas no consentimento e na liberdade de escolha jamais chegaram perto do tipo de fracasso que diariamente é exibido pelo estado.  Políticos e burocratas nunca estiveram tão impopulares perante o povo, um fato que a grande mídia tenta minimizar ao dizer que a insatisfação é apenas pontual e corrigível.  E, no entanto, quando olhamos para todas as sociedades do planeta, constatamos que o estado nunca teve tantos poderes sobre nossas vidas como tem atualmente — poderes que a igreja jamais presumiu ter, mesmo em seu ápice. 
Como pode o estado manter este seu maciço e espantoso poder mesmo em meio à mais ampla e disseminada percepção de sua falência moral?  A resposta está na força: o estado aliciou a população por meio de ardilosos esquemas confiscatórios e implantou um cuidadoso arranjo de concessões e benefícios a grupos de interesse.  Tal arranjo é eficaz, mas é totalmente instável.  E não há nenhuma grande figura política que não saiba disso.  Estou certo de que não há um dia em que eles não se preocupem com o futuro da instituição ao qual juraram dedicar suas vidas.
Toda a efusão de bajulação, respeito involuntário e até mesmo inveja que os políticos direcionam ao papa possui significados muito mais profundos do que aparentam à primeira vista.  Se você quer ver o formato da ordem social do futuro, olhe para os homens e mulheres de fé e coragem — prelados, empreendedores, pais, mães, intelectuais autônomos e filantropos.  É para eles, e não para a classe corrupta de parasitas, que a história está se voltando em busca de uma genuína liderança que mereça confiança.
Até lá, reconfortemo-nos com o fato de que todos estes políticos sabem que jamais receberão o mesmo tipo de adulação sincera que o povo direciona ao pontífice.

Lew Rockwell e Ron Paul 

Lew Rockwell é o presidente do Ludwig von Mises Institute, em Auburn, Alabama, editor do website LewRockwell.com, e autor dos livros Speaking of Liberty e The Left, the Right, and the State.

Ron Paul é médico e ex-congressista republicano do Texas. Foi candidato à nomeação para as eleições presidenciais de 2012. Seu website: http://www.ronpaulcurriculum.com/

Derrotados, petistas retomam o embuste e tentam ligar os próprios fracassos à era Fernando Henrique




images-1Fim do jogo – Quando Luiz Inácio da Silva, o lobista, e a presidente Dilma Vana Rousseff desembarcaram em Salvador, onde participaram de mais um evento em comemoração aos dez anos do PT no poder central, ambos já sabiam dos resultados prévios da pesquisaCNI/Ibope, que apontou queda de 24 pontos percentuais na aprovação do governo petista, despencando de 55% para 31%.
Apesar de a pesquisa ter sido realizada durante os recentes protestos – essa foi a explicação dada pela CNI –, o grande problema de Dilma Rousseff é a contínua derrota do governo para a inflação, que tem corroído sistematicamente o salário do trabalhador.
No evento realizado na capital baiana, Lula, sempre abusado e embusteiro, tratou do principal fantasma da economia, mas acionou a máquina de messianismo petista e comparou a inflação atual com a da época deFernando Henrique Cardoso, como se isso explicasse a derrocada do PT.
Ciente de que o partido caiu em desgraça junto à opinião pública, Lula ressuscitou o discurso fanfarrão dos primeiros anos do seu governo, quando insistia em falar na herança maldita. O PT comemora uma década de desserviço ao País, mas não tem coragem de assumir que a herança maldita com que o brasileiro ora convive é resultado da incompetência generalizada que se instalou na Esplanada dos Ministérios, sem contar a lufada de corrupção que varre o Planalto Central.
A fixação do PT em relação a Fernando Henrique Cardoso é tão vexatória quanto doentia, mas será usada àexaustão para tentar salvar o que não tem salvação. Esse comportamento obtuso e repetitivo da cúpula petista em relação aos antecessores é típico de quem não aceita os próprios desvarios, mas qualquer psiquiatra minimamente experiente é capaz de dar fim a essa psicose política.
Para que o leitor avalie a extensão do desatino petista, a tropa de choque, mantida pelo partido para patrulhar a internet, horas depois do discurso de Lula, em Salvador, já atormentava nas redes sociais com a cantilena que não mais convence. A de conectar os seguidos tropeços do PT palaciano com a era FHC.
Fonte: Ucho.info

Grupo quer Dilma longe do projeto de iniciativa popular





Na corrida contra o tempo para coletar 1,5 milhão de assinaturas, com o objetivo de tornar viável uma reforma política que valha para as eleições de 2014, o Movimento de Combate à Corrupção Eleitoral (MCCE) teme que o respaldo do Palácio do Planalto carimbe a proposta como "chapa branca", antes mesmo de a oposição ser convencida sobre as virtudes da iniciativa. O objetivo dos organizadores é fazer com que o projeto popular siga autônomo e ganhe apoio da sociedade.
Ciente das dificuldades políticas para aprovar um plebiscito no Congresso e das resistência dos partidosinclusive os da base aliada, para agilizar uma reforma política que tenha validade para a próxima eleição, a presidente Dilma Rousseff afirmou a auxiliares, conforme antecipou o Estado em sua edição do último dia 5, que poderá declarar apoio ao projeto de iniciativa popular.
Entre as principais mudanças defendidas pelo movimento intitulado "Eleições Limpas" estão o sistema de voto em dois turnos nas eleições proporcionais (com votação primeiro nos partidos e depois nos candidatos), proibição da doação de empresas a campanhas (cada eleitor poderá doar até R$ 700), criminalização do caixa dois (com pena de reclusão de dois a cinco anos) e a escolha dos candidatos de cada partido por meio de prévias fiscalizadas pelo Ministério Público e Justiça Eleitoral.
Caso o modelo já tivesse sido adotado nas últimas eleições municipais, estimam os organizadores, o número de candidatos despencaria 73,5%.
"Não queremos que a proposta seja vinculada ao governo ou à oposição, queremos deixar clara a qualidade da nossa proposta para a vida política brasileira", afirmou o presidente da Ordem dos Advogados do Brasil (OAB), Marcus Vinícius Furtado, que aposta no trâmite do projeto no Congresso em agosto, antes mesmo da conclusão da coleta de assinaturas.
"Não interessa para o movimento que ele seja adotado pela presidente Dilma. Isso seria ruim porque queremos justamente evitar a partidarização. Não seria justo (que o projeto) recebesse qualquer tipo de vinculação. O que queremos e precisamos do apoio de todas as forças políticas na hora da aprovação (no Congresso). Uma aproximação partidária ou com o governo nesse momento poderia inviabilizar a proposta", admite o juiz Márlon Reis, do MCCE, e presidente da Associação Brasileira dos Magistrados e Promotores Eleitorais.
Encabeçado pela OAB, o MCCE é composto por 55 entidades dos mais diversos segmentos sociais, como Associação Nacional dos Delegados de Polícia Federal e União Nacional dos Estudantes (UNE), além de lideranças evangélicas e do movimento de gays e lésbicas (movimento LGBT).
Presidenciáveis
Dos presidenciáveis de 2014, a OAB já teve conversas com a presidente Dilma, o senador Aécio Neves (PSDB) e o governador de Pernambuco, Eduardo Campos (PSB). Todos teriam demonstrado interesse e simpatia à proposta - Campos chegou inclusive a pedir que o fim da reeleição fosse incorporado ao projeto. A ex-senadora Marina Silva, que tenta viabilizar a sua Rede Sustentabilidade, já está sendo procurada pelo grupo.
O projeto "Eleições Limpas", se aprovado, acabaria com a doação de empreiteiras, bancos e grandes empresas. Esses segmentos são os principais doadores em campanhas eleitorais no País, sobretudo presidenciais.
A presidente Dilma demonstrou simpatia ao projeto de iniciativa popular ao se encontrar com Furtado e outros integrantes do MCCE no Planalto no mês passado. Estaria até disposta a se manifestar publicamente favorável a ele, mas foi convencida a aguardar a coleta de assinaturas.
Declarações do ministro da Secretaria-Geral da Presidência da República, Gilberto Carvalho, de que o governo poderia "dar força" à proposta, no entanto, preocuparam integrantes do MCCE.

Dilma afirma que não haverá "volta, Lula" porque o ex-presidente "não saiu"



MÔNICA BERGAMO

COLUNISTA DA FOLHA

Em entrevista exclusiva à Folha, a presidente Dilma Rousseff disse que o ex-presidente Lula "não vai voltar porque ele não saiu". De acordo com ela, as comparações com o seu antecessor não a incomodam. "Não me incomoda nem um pouquinho."
A presidente ressaltou ainda que a reforma política, que encontra resistência no Congresso é um pedido de "todo mundo". Para Dilma, o plebiscito --sugerido por ela e rechaçado pela maior parte do Parlamento-- daria mais legitimidade às mudanças no sistema político.
Ele negou que esteja pensando em cortar o número de ministérios, medida que até mesmo alguns aliados já sugeriram, já que isso não traria economia para o governo federal. Dilma garantiu a permanência de Guido Mantega na Fazenda. Para a presidente, a inflação está sob controle.
Folha - A senhora teria características que não contribuiriam para que projetos deslanchassem. Seria centralizadora, autoritária.
Dilma Rousseff - Não, eu não sou isso, não. Agora, eu sei, como toda mulher, que, se você não acompanha as coisas prioritárias, tem um risco grande de elas não saírem. É que nem filho. Você ajuda até um momento, depois deixa voar.
Leia a íntegra da entrevista na edição deste domingo (28).
Ricardo Stuckert/Instituto Lula
O ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva (centro) entre sua mulher Marisa Letícia (esq.) e a presidente da República Dilma Rousseff
Ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva entre sua mulher Marisa Letícia (esq.) e a presidente da República, Dilma Rousseff

Independência de Brasília ou morte



brasilia_protesto.jpg"Viveram pouco para morrer bem
Morreram jovens para viver sempre."
Este verso encontra-se na base do Obelisco do Parque do Ibirapuera, o maior monumento de São Paulo, construído em homenagem à Revolução de 9 de julho de 1932. Ele é um mausoléu onde estão os restos mortais dos estudantesMartins, Miragaia, Dráusio e Camargo — o MMDC — e de mais 713 combatentes que morreram durante os conflitos.  Mas o monumento não é grande o suficiente, pois junto com estes homens, morreu o espírito de liberdade de todas as gerações posteriores: o poder de um governo central nunca mais foi enfrentado.
Um dos objetivos dos revolucionários era a proclamação de uma nova Constituição para o Brasil, que devolvesse ao estado de São Paulo poderes usurpados pela ditadura de Getúlio Vargas — por isso ela também é chamada de Revolução Constitucionalista.  Mas entre os líderes do movimento havia os separatistas, lutando pela independência total de São Paulo.
O separatismo, que sempre foi muito forte por toda a história de São Paulo, foi representado durante a Revolução de 1932 por escritores como Mario de Andrade, que declarou que naquele momento "faria tudo, daria tudo para São Paulo se separar do Brasil", e Monteiro Lobato, que afirmou que o constitucionalismo era apenas um disfarce para o separatismo:
Após a vitória de São Paulo, na campanha ora empenhada, se faz mister que seus dirigentes não se deixem embalar pelas ideias sentimentais de brasilidade, irmandade e outras sonoridades.[...] Ou São Paulo desarma a União e arma-se a si próprio, de modo a dirigir doravante a política nacional a seu talento e em seu proveito, ou separa-se.[...] Trata-se de uma guerra de independência disfarçada em guerra constitucionalista.
De fato, a história de São Paulo é repleta de levantes por mais autonomia, o primeiro deles ocorrendo em 1641, quando o fazendeiro Amador Bueno foi aclamado Rei de São Paulo, que pretendia se tornar independente da Coroa Portuguesa.  Os motivos dos separatistas podiam não ser os mais nobres[1], mas a causa separatista é sempre bem vinda, e o proeminente historiador inglês Robert Southey (1774 – 1843) chegou a declarar que "se a aclamação (separação) tivesse ocorrido, os paulistas seriam o povo mais formidável das Américas." 
Depois deste, muitos outros conflitos ocorreram, nem todos de cunho separatista, desde a Revolução Liberal de 1842, até a Greve Geral Anarquista de 1917, mostrando uma tradição paulista de não aceitar passivamente os desmandos do poder central.  E esta não é uma característica exclusiva de São Paulo, pois ocorreram muitas revoltas separatistas em diversos outros estados, como a Inconfidência Mineira, a Revolução Farroupilha, a Guerra do Contestado, a Conjuração Baiana, a Sabinada, a Confederação do Equador, a Revolução Pernambucana, a Revolução Praieira e muitas outras.  De todos os movimentos, apenas dois obtiveram sucesso em sua secessão: o Grito do Ipiranga, que marcou a Independência do Brasil de Portugal, e a Guerra da Cisplatina, que separou o Uruguai do Brasil.
Por estes dois exemplos, podemos ver que secessão não é nenhuma panaceia.  O Brasil continua sob quase todos os aspectos pior do que Portugal, e o Uruguai não é nenhuma Suíça — mas podemos imaginar como o Uruguai estaria se, além de todos os seus problemas, ainda tivesse de ajudar a sustentar Brasília; e se o todo o Brasil tivesse de, além de sustentar Brasília, ainda pagar impostos para Lisboa.
Gary North apontou em controverso artigo publicado neste site na semana passada que a Revolução Americana que separou os Estados Unidos da Grã Bretanha prejudicou em muito a liberdade, pois quando os EUA eram parte do império, recaia sobre os colonos um imposto de apenas 1% e eles gozavam de um dos ambientes de maior liberdade do mundo.  Porém, já no eclodir da Revolução, os revolucionários inflacionaram a moeda, impuseram um controle de preços e, após a Revolução, a carga tributária havia triplicado — e nunca mais parou de subir.
Enquanto os revolucionários americanos destruíram o sistema monetário imprimindo desenfreadamente o Continental, os revolucionários paulistas de 9 de julho criaram uma moeda própria lastreada em ouro, o que deu indícios de que a consolidação da secessão iria dar início a uma região autônoma muito mais livre.
Conquanto as secessões de Brasil e Estados Unidos não tenham representado por si sós avanços na liberdade, elas careceram de um elemento específico que consiste na maior vantagem do separatismo: ambas formaram estados de proporções continentais.  Em uma espetacular palestra sobre as vantagens de estados pequenos e os perigos da centralização, Hans-Hermann Hoppe explica que estados pequenos devem necessariamente adotar políticas de livre mercado.  Países como Andorra e Liechtenstein não iriam sobreviver se impusessem protecionismo, ao passo que um país com as dimensões dos EUA consegue produzir praticamente tudo internamente e, embora fosse empobrecer demasiadamente, poderia suportar enormes barreiras de importações.  Países pequenos também tendem a adotar menos regulamentações e impostos mais baixos, pois competem com outros estados pelos seus súditos, e as pessoas simplesmente se mudam de vizinhança (estado) caso este se torne opressor.  Logo, a esperança para a liberdade seria um mundo formado por milhares de Andorras, Mônacos, Liechtensteins, Hong Kongs, Cingapuras etc.
Além dos políticos que controlam territórios gigantescos e se tornam multibilionários por conta disso, acho que um mundo com estas configurações seria uma desvantagem apenas para entidades desportivas e seus campeonatos mundiais entre países.  Para a FIFA, por exemplo, organizar uma Copa do Mundo entre dezenas ou centenas de milhares de micro-países seria talvez inviável e nada atrativo.  No entanto, poderia levar um pouco mais de "justiça", já que faria mais sentido o Uruguai enfrentar a seleção do Rio Grande do Sul, ou a Espanha enfrentar a seleção de Minas Gerais, do que o enorme Brasil.  Mas a própria Espanha possui fortes movimentos separatistas, e quando sua seleção foi campeã do mundo, diversas bandeiras das regiões que lutam por independência entraram em campo na comemoração, erguidas pelos jogadores das específicas localidades.  Nacionalistas catalães, galegos e bascos ignoram a seleção espanhola.
Mas por que falar de futebol no meio de um texto sobre revoluções separatistas?  Não está desviando demais do assunto?  Na verdade, não.  O Brasil não passa de uma abstração e o futebol, que antes era considerado um estrangeirismo, é um dos elementos que compõem a identidade nacional, a qual era inexistente antes de 1930, como nos mostra o historiador revisionista libertário Leandro Narloch em seu best seller Guia politicamente incorreto da história do Brasil.  O samba, a feijoada, a capoeira, o futebol, o mulato etc. foram artificialmente elevados a itens de uma cultura brasileira.  E para quê?  Para ajudarem a fortalecer um governo altamente centralizado, já que o que segura esta enorme entidade política unida é tão somente a opinião popular.  E se as pessoas das diferentes e longínquas regiões não se identificarem culturalmente umas com as outras, a união não tem como se manter.  Destruir diferenças regionais através do multiculturalismo também ajuda a manter um poder central no comando de um grande território.
É realmente surpreendente o fato de os brasileiros dos diferentes estados concordarem com a união e o comando central de Brasília.  Apesar de todo autoritarismo do governo federal, é certo que alguns estados levam suas vantagens neste arranjo político, como mostra o redistributivismo entre os estados; mas e quanto aos brasileiros dos estados que só obtêm desvantagens, como eles aturam isto?  O que aconteceu com o espírito revolucionário que foi tão presente na história? Por que continuam sendo súditos de um presidente que sequer escolheram? Este mapa mostra que a pessoa que ocupa a presidência atualmente foi a vitoriosa nas eleições em apenas parte dos estados.
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Eleições já são uma grande farsa que não legitimam a autoridade de ninguém, e mesmo um vitorioso com 90% dos votos sequer foi o escolhido pelos que votaram no outro candidato e pelos que nem votaram.  Mas um mapa com esta coloração já não é motivo suficiente para se separar a parte azul da vermelha, cada uma ficando com seu presidente? Este vídeo mostra como a atual presidente é extremamente rejeitada mesmo no Rio de Janeiro, estado em que ela foi a vitoriosa com 60% dos votos:
E, logicamente, o mais sensato seria que cada um dos estados tivesse como seu presidente o respectivo governador eleito; e, prosseguindo com a lógica secessionista, ela só iria encontrar limites no indivíduo, como notou Ludwig von Mises.  Mas se alcançássemos um território formado por milhares de cidades-estados como vislumbrado por Hoppe, um ambiente propício para a liberdade e o consequente progresso e enriquecimento geral iria vigorar.
A revolta contra o poder que foi revelada durante a recente onda de protestos parece estar generalizada, e o sentimento separatista esboça um ressurgimento. O professor Antony Mueller traçou um paralelo da atual presidente como uma espécie de Maria Antonieta, ao comparar os gastos extravagantes das duas cortes. Apenas para citar um exemplo, a rainha atual levou uma comitiva para Roma para a posse do novo Papa que ocupou 52 quartos num hotel de luxo, tudo pago pelos trabalhadores brasileiros que são obrigados a força da bala a sustentar essa opulência.  Quanto mais tempo o povo terá que suportar tudo isso até que um governador proclame a independência de seu estado?  Sustentar Brasília pra quê?


[1] Uma das motivações dos separatistas foi continuar com a prática de escravizar índios, proibida pela Bula Papal de 1640, que excomungava todos que escravizassem índios (o que fez com que os paulistas expulsassem os jesuítas de São Paulo).  E, além disso, a Coroa Portuguesa possuía interesses comerciais no tráfico negreiro.  Mas os separatistas também objetivavam a manutenção do livre comércio com o Paraguai, também ameaçado pela Coroa Portuguesa.

Fernando Chiocca é um intelectual anti-intelectualpraxeologista e conselheiro do Instituto Ludwig von Mises Brasil.

O Brasil continua a ser uma ilha de iniciativa cercada de governo por todos os lados



Matéria do Instituto Millenium

40881_1418751989365_1249590172_31017785_4139488_n.jpgDe um lado as demandas dos empresários, do outro as incontáveis promessas da equipe econômica da presidente Dilma Rousseff. Esse foi o tom do encontro entre a presidente e o grupo de 29 grandes empresários brasileiros, realizado na última semana, no Palácio do Planalto.
Entre as promessas do ministro da Fazenda, Guido Mantega, estão: a manutenção das medidas para impedir a valorização do real frente ao dólar, a desoneração dos impostos e das folhas de pagamentos, a redução das taxas de juros e das tarifas de energia e o aumento dos investimentos em infraestrutura.
Apesar de reconhecer a necessidade de se conter a valorização do real, o especialista do Instituto Millenium e presidente do Instituto Mises Brasil, Helio Beltrão, não acha que a questão do câmbio seja o principal problema da economia brasileira. "O mais importante é desonerar a economia e tirar a intrusão enorme e crescente do Estado, para deixar o empresário empreender. Como a Dilma quer que se aumente a taxa de investimentos, se o Brasil continua a ser uma ilha de iniciativa cercada de governo por todos os lados?"
Protecionismo
O especialista chamou a atenção para a diferença entre o discurso do governo e a realidade, em relação ao protecionismo. "Aparentemente, a Dilma não vai pelo lado do protecionismo, que é o pior lado de todos. Mas sabemos que a Receita Federal já esta fazendo isso de uma forma indireta, segurando registros no Sistema Integrado de Comércio Exterior (Siscomex), para impedir o aumento das importações."
Tributação
Beltrão tem uma postura cética ao plano de desoneração de tributos do governo. "No discurso, a Dilma tem demonstrado um comprometimento em dar melhores condições para os empresários. Ela tem um plano que parece ser liberal e que promove a eficiência da economia. Agora, não acredito que ela vá reduzir efetivamente os impostos. Essa tal desoneração parece ser para inglês ver. Mas se o inglês, o americano e os empresários brasileiros não virem de fato essa desoneração não vai acontecer o investimento que a Dilma pretende."
Em contrapartida aos pedidos dos empresários, o governo cobrou mais investimentos e maior empenho da iniciativa privada no Congresso. Beltrão explica que os empresários só investirão se enxergarem a possibilidade de retorno. "Mesmo com toda essa intrusão governamental, o Brasil tem um certo nível de investimentos, porque, mal ou bem, você tem um mercado consumidor bastante grande e empresários bastante talentosos. Mas, com todos esses impostos e com essa burocracia fica muito complicado, principalmente para o empresário de porte médio e pequeno investir.  "
O especialista alertou para o risco da formação de um arranjo entre o governo e os empresários, prejudicando os consumidores. "É possível que haja um conluio, em uma situação em que o Estado e os empresários ganhem, e o consumidor e contribuinte percam."
Para Beltrão, o fim da guerra fiscal, proposto pelo governo, representa um grande perigo para os estados brasileiros. "A unificação de alíquotas e a eliminação dos descontos dados pelos governos é extremamente negativa. Como a maior parte da infraestrutura está em São Paulo, Rio de Janeiro e Minas Gerais, os outros estados ficarão sem armas para poder competir. Isso seria uma cartada final na centralização do estado brasileiro no governo central."
Helio Beltrão é o presidente do Instituto Mises Brasil.

postado por Helio Beltrão 

Três erros libertários muito comuns



641e68852ea87ada744c53e45f263062.jpgAo defenderem os princípios de uma sociedade livre, os libertários frequentemente esbarram em obstáculos de todos os tipos.  Tal empreitada pode ser encarada como uma batalha ou — melhor ainda — como um comercial de vendas.  Mas o fato é que nossos métodos de persuasão e de debate são uma parte muito importante da nossa mensagem.  É deles que depende o sucesso da empreitada.  Portanto, algumas vezes, nossos erros se transformam no maior obstáculo para o nosso sucesso.  Vejamos agora três erros muito comuns.
1. Pensar que o libertarianismo é "intuitivo" ou "óbvio"
É verdade que certas posições morais (como, por exemplo, contra o roubo ou o assassinato) são universais e suficientemente intuitivas.  Porém, todo o edifício teórico não é óbvio e tampouco fácil de ser compreendido.  O problema é que a maioria dos libertários se esquece de como eles aprenderam e, principalmente, se esquecem de como eram ignorantes antes de adquirirem o conhecimento.  Assim, eles projetam uma luz de conhecimento sobre todo o seu passado, comportando-se como se já possuíssem aquele conhecimento desde sempre.
Isso é fácil de ser observado naqueles que já leram gigantes como Mises e Rothbard.  Tão logo absorvemos algumas de suas perspicazes observações, inevitavelmente as internalizamos e passamos a pensar e agir como se tais constatações fossem absolutamente "óbvias" para todos os outros.  Mas o problema é que elas não são.  Nós adquirimos o conhecimento ao longo de anos de estudo, lendo dezenas de livros.  Todo libertário que conheçocontinua a ler e a debater os fundamentos do libertarianismo — e não apenas sua aplicação aos eventos atuais ou à história.  Isso, para mim, mostra que o libertarianismo é um edifício com muitas partes ainda em construção.  Mesmo que alguns possam resumi-lo de várias formas, elas jamais poderão substituir a totalidade da doutrina.
2. Pressupor um ponto em comum com todo o resto
Aquele conflito essencial que perpassa toda a história da humanidade — Liberdade versus Poder — pode ser compreendido apenas quando os fundamentos básicos são adequadamente identificados.  Comecemos pela liberdade.  Em tempos antigos, a liberdade era definida como a capacidade de poder participar em tomadas de decisão coletivas e de ter independência em relação a outras nações.  Portanto, a liberdade era uma questão de participação política e de soberania nacional.  O indivíduo não era uma unidade política relevante.  E assim permaneceu até o advento do Humanismo, quando o indivíduo foi colocado no centro da análise política e econômica.  Foi a partir daí que a Liberdade começou a ter o significado que nós libertários precisamos que ela tenha a fim de possibilitar que nossas constatações sejam populares em qualquer época e lugar.
Poder, por outro lado, para nós significa poder político.  Ele surge do uso da força ou da ameaça do uso da força.  A educação, a mídia e os valores tradicionais sem dúvida influenciam o comportamento humano, mas todos eles podem ser escolhidos ou rejeitados se preciso for.  É por isso que toda aquela conversa de comerciais ou conteúdos televisivos exercerem poder sobre a sociedade não se sustenta.  Porém, da mesma forma, ideias como "patrões opressivos" ou "tirania masculina" são enganosas.  Patrões não têm o poder de privar nenhum indivíduo de seus direitos, pois ter um patrão (em contraste com um senhor de escravos, um ditador socialista, um soberano ou um rei) significa que o indivíduo entrou voluntária e livremente em um contrato.  Por conseguinte, patrões implicam direitos, e onde há direitos há liberdade, e o poder opressivo inexiste.  Um patrão pode ser exigente, reclamão e rude, mas enquanto o indivíduo tiver a liberdade de "sair", não está havendo opressão.
Tirania masculina significa estritamente que são negados às mulheres seus direitos políticos (individuais) à integridade pessoal e à propriedade.  Porém, se ocorre uma discriminação de gênero quando tais direitos estão totalmente presentes — como ocorre na maioria dos países ocidentais —, então tal discriminação nada mais é que um direito (de liberdade) de terceiros.  Quando se prefere homens a mulheres para um determinado tipo de trabalho que pode ser perfeitamente executado por mulheres, quem está perdendo com isso é a empresa, que está se privando de talentos femininos.  Porém, em muitas profissões que lidam com questões de segurança física e força bruta, tal discriminação não é apenas necessária; é sábia e compreensiva.  Achar que está havendo ausência de direitos femininos quando, na verdade, está havendo apenas uma discriminação pró-homens (como no caso da escolha de homens para um trabalho que pode ser perfeitamente executado por mulheres) é algo perigoso, pois irá dar espaço para intervenções estatais, as quais tentarão "corrigir" um problema inexistente — ou, na melhor das hipóteses, um problema que deve ser resolvido (caso seja necessário) por meios civis e pacíficos.
Portanto, o "poder" deve ser entendido como uma manifestação de poder político.  Seus vínculos com quaisquer formas culturais são apenas isso: vínculos.
Se liberdade e poder devem ser assentidos para que o discurso libertário faça todo o sentido, o mesmo é válido para os conceitos de propriedade, contrato, mercado, estado, leis e vários outros.  Não podemos pressupor um ponto em comum com todo o resto — especialmente nesses tempos pós-modernos, em que cada conceito ocidental está sendo matizado e redefinido pelos tiranos locais.
3. Ironicamente, esquecer-se da importância das ideias e da persuasão
Estreitamente relacionado aos pontos 1 e 2, os libertários algumas vezes pensam que, a partir de certo momento, as ideias deixam de ter importância.  Tão logo o indivíduo adotou uma visão de mundo libertária, há uma forte tentação de se esquecer da difusão das ideias e passar a considerar todas aquelas pessoas que acham que o estado ainda deve exercer algumas funções como um bando de preguiçosos, de idiotas ou de corruptos.  Sendo um ex-social democrata, bem sei que não é assim: vários pensadores e ativistas políticos são bem intencionados; eles apenas não tiveram a sorte de compreender aquelas noções pelas quais temos tanto apreço.
Pode estar certo de que a maioria possui uma boa noção das nossas posições; porém, como qualquer bom professor pode atestar, isso não é o suficiente.  Incorporar uma ideia por completo exige não apenas uma boa exposição aos conceitos desta, mas também um estado de espírito adequado, que propicie a disposição ao aprendizado.  Muitos libertários manejam seus insights como se fossem espadas, adotando uma atitude de superioridade moral, procurando sempre punir o não-convertido.  Como qualquer fanático por músicas pode atestar, se você quer que um amigo seu passe a gostar do álbum de uma banda que você idolatra, uma proposição frontal quase nunca vai funcionar.  Com o ego humano sendo como é, esse objetivo certamente será consumado por meios mais sutis, como quando você faz parecer como se fosse ele próprio quem tivesse descoberto a banda.
Entenda: é a nossa atitude que afasta as pessoas das ideias.  Se elas, as ideias, fossem intuitivas, a persuasão não seria necessária.  Mas elas não são.  Porém, se elas fossem, então seríamos duplamente culpados: isso significaria que as ideias socialistas, por sua vez, seriam contra-intuitivas; e, ainda assim, a persistência e a habilidade persuasiva dos socialistas foram capazes de levá-las a um êxito mundial.  O que houve?
Concluindo, o libertarianismo se beneficiaria enormemente caso reconhecêssemos que a batalha das ideias políticas é apenas um caso especial dentro da batalha filosófica global sobre conceitos e significados.  Da mesma forma, não seria nada doloroso lembrarmos a nós mesmos de que uma visão de mundo como o libertarianismo deve estar sujeita aos mesmos princípios a que estão submetidos quaisquer outros bens no mercado, ainda que o mercado de ideias seja severamente obstruído e voltado contra a liberdade humana.
Se quisermos ter êxito nesse mercado, se quisermos ganhar os corações e mentes de nossos contemporâneos, precisamos nos lembrar de como esse bem foi vendido para nós em primeiro lugar.  Adotarmos uma postura diretamente antagônica, criando hostilidade e inimizade, pressupondo como óbvias ideias que hoje são difíceis de se compreender de primeira — graças a 150 anos de controle socialista da educação —, é uma receita certa para o fracasso.



Juan Fernando Carpio mora em Quito, Equador, possui mestrado em Economia Empreendedorial pela Universidad Francisco Marroquin, da Guatemala e é o presidente do Instituto para la Libertad, um think tank libertário equatoriano.