segunda-feira, 11 de novembro de 2013

Ditador Kim Jong-un, já executou publicamente 80 pessoas em novembro [E tem retardado que diz que "coreia do norte sofre bullying"...]

Ditador Kim Jong-un, já executou publicamente 80 pessoas em novembro [E tem retardado que diz que "coreia do norte sofre bullying"...]

O líder da Coreia do Norte, Kim Jong-un, fala durante um banquete realizado para cientistas, engenheiros, operários e funcionários que participaram do lançamento do foguete Unha-3
O líder da Coreia do Norte, Kim Jong-un, fala durante um banquete realizado para cientistas, engenheiros, operários e funcionários que participaram do lançamento do foguete Unha-3
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São Paulo - O governo da Coreia do Norte, liderado pelo ditador Kim Jong-un, já executou publicamente 80 pessoas em novembro. A maioria teria sido morta por ter assistido a vídeos contrabandeados de programas da Coreia do Sul e algumas por prostituição.

As informações são do jornal sul-coreano Joongang Ilbo, que cita uma fonte anônima e também um desertor norte-coreano.
A fonte diz que é próxima dos assuntos do governo e que recentemente voltou ao país. Ela afirmou que, em ao menos sete cidades, houve execuções no dia 3 de novembro.
Em Wonsan, no sudeste do país, autoridades teriam prendido dez mil pessoas em um estádio esportivo para obrigá-las a ver a execução de oito pessoas por fuzilamento. Com sacos brancos na cabeça, os presos foram amarrados a estacas e mortos.
O site North Korea Intellectual Solidary, feito por desertores do país, disse que tinha informações de que o governo já planejava a onda de execuções públicas há meses. Ela teria o objetivo de intimidar a população e evitar qualquer protesto.
Na Coreia do Norte, assistir a pornografia e também filmes e programas estrangeiros é um crime considerado grave.
Contudo, muitos norte-coreanos têm burlado essa regra nos últimos anos, com a popularidade do DVD e dos pendrives. Bíblias também são proibidas. 
Histórico
Em setembro, o jornal japonês Asahi Shimbun relatou que nove membros da Orquestra Unhasu, norte-coreana, foram mortos depois de venderem filmes pornográficos.
Em 2012, segundo a Anistia Internacional, seis pessoas foram executadas naquele país. Contudo, o número é muito subestimado, já que a maioria das prisões, julgamentos e mortes no país, extremamente fechado, não vem à tona.

Ministro da Justiça inova e inventa a “espionagem light”, a espionagem “boazinha”, que não viola a privacidade de ninguém

Espionagem light”

A espionagem do Brasil é diferente. É "boazinha", segundo o ministro da Justiça (Ilustração: emfsafetynetwork.org)
A espionagem do Brasil é diferente. É “boazinha”, segundo o ministro da Justiça (Ilustração: emfsafetynetwork.org)
Que fique bem claro para os amigos leitores, antes de mais nada: acho que todo país minimamente importante deve zelar pelos seus interesses de todas as formas — e isto inclui serviços de informação e de contra-informação.
Espionagem, se quiserem usar o termo.
Sou, portanto, inteiramente favorável a atividades que o governo brasileiro desenvolva nesse sentido, por intermédio da Agência Brasileira de Informações (Abin), desde que obedecidos os ditames da lei.
Para mim, portanto, não constitui escândalo algum o estardalhaço feito pela Folha de S. Paulo com a notícia segundo a qual a Abin xeretou o trabalho — e, eventualmente, a vida — de embaixadores dos Estados Unidos, da Rússia e do Irã.
É evidente que governo algum fica confortável com a revelação pública de que praticou esse tipo de atividade, que nenhum país de algum porte deixa de fazer.
O que chega perto do ridículo são algumas explicações dadas pelo governo lulopetista. O ilustre ministro da Justiça, José Eduardo Cardozo, que não tem nada a ver com essas atividades porque elas estão sob o guarda-chuva do Gabinete de Segurança Institucional da Presidência, depois de dizer que o que o Brasil praticou foi contra-espionagem, saiu-se com a seguinte declaração:
– “O que foi feito não houve violação à intimidade e foi feito em território nacional. não vejo nenhum abalo [à imagem do Brasil]“.
Pronto: Cardozo acabou de inventar a “espionagem light”. À maneira da feijoada “light”. Uma espionagem que não viola “a intimidade”. Uma espionagem, portanto, “boazinha”, que não mexe com ninguém.
Em que consistirá espionar alguém dessa forma?
Ficar olhando de longe, de binóculos?
Ficar de plantão esperando o sujeito entrar e sair de seu local de trabalho e anotar num papelzinho?
Conversar com o faxineiro do prédio onde o “espionado” reside?
Cardozo, uma vez mais, perdeu uma magnífica oportunidade de ficar calado.


Creio porque é absurdo


ARTIGO: "Creio porque é absurdo".

Por Maria Lucia Victor Barbosa (*)
Uma minoria esclarecida pergunta um tanto perplexa: por que um tipo como Lula da Silva, pelego sindical, sujeito sem instrução, dono de palavreado grosseiro e atitudes constrangedoras faz tanto sucesso? Ele foi eleito presidente da República, reeleito, elegeu uma senhora que não consegue juntar de forma coerente dois parágrafos, um “poste” que está levando o Brasil para o buraco mais profundo da economia. Agora Lula “decretou”: Dilma será reeleita e fim de papo.
Não duvido. Há mais de um ano em campanha esta senhora dispõe da máquina presidencial que lhe faculta todo e qualquer poder financeiro e político, em detrimento dos minguados recursos de outros candidatos se com ela comparados. Tudo justificado como se a compra descarada de votos fosse a mais pura arte de governar. Rousseff “faz o diabo” conforme prometeu sob o comando do “presidento” Lula da Silva.
Provavelmente foi do “presidento” e não da “presidenta”, já que o raciocínio dela é tardo, a ideia dos médicos estrangeiros, notadamente os cubanos entre os quais alguns brasileiros sem-terra que foram estudar na Ilha do sanguinário companheiro Fidel Castro. Os cubanos serão tratados como escravos já que receberão uma espécie de bolsa sem nenhum direito trabalhista. Boa parte do que deveriam receber irá para El Comandante e para onde mais só Deus sabe. Estranho tratamento dado a trabalhadores pelo governo do Partido dos Trabalhadores. Em todo caso, isso faz parte da campanha e fez com que aumentasse a popularidade da senhora Rousseff. Quando começar a morrer gente o PT culpará os Conselhos Médicos, apesar de que agora é o Ministério da Saúde que dá o revalida.
Muito êxito também obtiveram os rompantes nacionalistas da governanta contra a espionagem norte-americana. Ela foi à ONU, espinafrou o presidente Obama e afirmou que não iria visitá-lo se ele não pedisse desculpas e prometesse nunca mais fazer aquela coisa tão feia. Só faltou Rousseff mandar Obama ajoelhar no milho para se penitenciar.  Isso levaria o povo ao delírio. Afinal, somos latino-americanos e odiamos o Grande Satã Branco, apesar de nossas idas constantes aos Estados Unidos para comprar, passear, estudar, tratar da saúde. E se é chique ser de esquerda desconheço milhões pessoas indo à Cuba para comprar charutos.
De todo modo, o piti da senhora Rousseff ficou meio esquisito quando foi noticiado que o Brasil também espionou diplomatas da Rússia, do Irã, do Iraque, uma sala alugada pela Embaixada Americana em Brasília e franceses. A governanta justificou tais atos como constitucionais e “espionagem preventiva”.
Não foi mencionado que se mais não fizemos foi porque não possuímos a tecnologia avançada dos Estados Unidos, país que se notabiliza em todos os avanços graças, inclusive, ao grande número de judeus que lá moram e que fazem evoluir para a humanidade um espetacular desenvolvimento em todas as áreas científicas.
Mas voltemos à pergunta inicial que envolve também a ascensão de inúmeros trastes como o finado Hugo Chávez ou de seu sucessor, Nicolás Maduro, farsante de quinta categoria ao qual teremos que doar até papel higiênico, na medida em que tudo falta no Socialismo do Século 21.
Lula, o chibante, foi sempre bafejado pela sorte. Dono de uma verborragia de repentista, no pouco tempo em que trabalhou como metalúrgico conseguiu empolgar operários e agradar patrões. Assim, chamou atenção do PT que precisava de seu proletário para justificar a ideologia de esquerda da burguesia intelectual que organizou o partido, tornado seita pela fé dos militantes. O PT fez de Lula seu Mussolini de Terceiro Mundo e com ele, depois de inúmeras tentativas, chegou lá de onde não pretende mais sair. Coisa fácil uma vez que não existe nenhum tipo de oposição no país.
Mas há algo mais por trás do borbulhante sucesso de tipos como Lula: a mentira e a linguagem pervertida, próprias da propaganda comunista, em que pese o “presidento” e seus “mandarins” viver como abastados capitalistas.
Conforme O Livro Negro do Comunismo, “as palavras pervertidas aparecem como uma visão deslocada que deforma a perspectiva de conjunto: somos confrontados a um astigmatismo social e político”. “A impressão primeira permanece e graças a sua incomparável potência propagandista, amplamente baseada na perfeição da linguagem, os comunistas utilizaram toda a força das criticas feitas aos seus métodos terroristas para retorná-las contra essas próprias críticas, reunindo, a cada vez, as fileiras de seus militantes e simpatizantes na renovação do ato de fé comunista”. “Assim, eles reencontraram o princípio primeiro da crença ideológica, formulada por Tertuliano em sua época: ‘Creio porque é absurdo”.
Qualquer semelhança com as técnicas usadas pelo PT não é mera coincidência.
(*) Marisa Lucia Victor Barbosa 

A inovação e a evolução requerem liberdade

A inovação e a evolução requerem liberdade

4786.jpgUma civilização é o produto de uma visão de mundo já definida, e sua filosofia se manifesta em cada uma de suas realizações.  Os artefatos produzidos pelos homens podem ser chamados de matérias; porém, os métodos utilizados no arranjo das atividades de produção desses artefatos são idealizados pela mente; eles são o resultado de ideias, as quais determinam o que deve ser feito e como deve ser feito.  Todos os ramos de uma civilização são impulsionados pelo espírito que permeia sua ideologia.
A filosofia que é a marca característica do Ocidente e cuja sólida elaboração transformou, nos últimos séculos, todas as instituições sociais tem sido chamada de individualismo.  O individualismo afirma que ideias, tanto as boas quanto as más, originam-se na mente de um indivíduo.  Somente alguns poucos homens são dotados da capacidade de conceber novas ideias.
Porém, dado que as ideias podem funcionar apenas se forem aceitas pela sociedade, tudo vai depender, em última instância, exatamente da aceitação ou da rejeição dessas ideias pela sociedade.  É a população — ela própria incapaz de desenvolver novas maneiras de pensar — quem vai aprovar ou desaprovar as inovações dos pioneiros.  Não há garantia nenhuma de que essa massa de seguidores irá fazer um uso inteligente do poder contido nessas ideias.  Uma sociedade pode rejeitar boas ideias — aquelas cuja adoção iria beneficiá-la — e aderir a ideias ruins que irão prejudicá-la seriamente.
Se uma sociedade opta pelas ideias ruins, a culpa não é apenas dela.  A culpa também deve ser imputada aos pioneiros das ideias boas por não terem tido êxito em apresentar seus pensamentos de uma forma mais convincente.  A evolução benéfica das relações humanas depende, em última instância, da capacidade da raça humana em gerar não apenas autores mas também arautos e disseminadores de ideias benéficas.
Pode-se lamentar o fato de que o destino da humanidade seja determinado pela mente dos homens — a qual certamente não é infalível.  Porém, tal lamento não pode mudar a realidade.  Com efeito, a superioridade do homem deve ser vista em seu poder de escolher entre o bem e o mal.  É precisamente isso que os teólogos tinham em mente quando louvaram a Deus por ter conferido ao homem o livre arbítrio para escolher entre a virtude e o vício.
Os perigos inerentes à incompetência das massas em fazer escolhas certas não podem ser eliminados pela simples transferência dessa autoridade de tomar decisões supremas para uma ditadura de alguns poucos homens, por mais notáveis que estes sejam.  É uma ilusão crer que o despotismo irá sempre se aliar às boas causas.  A característica intrínseca do despotismo é que ele tenta reprimir os esforços dos pioneiros em tentar melhorar a situação de seus semelhantes.
O principal objetivo de um governo despótico é impedir quaisquer inovações que possam porventura ameaçar sua supremacia.  Sua própria natureza o empurra para a adoção de um conservadorismo extremo, isto é, a tendência de preservar as coisas exatamente como estão, não importa o quão desejável uma mudança possa ser para o bem-estar das pessoas.  O regime se opõe a novas ideias e a qualquer espontaneidade da parte de seus súditos.
No longo prazo, mesmo o mais despótico dos governos, com toda a sua brutalidade e crueldade, não é páreo para as ideias.  No final, a ideologia que ganhou o apoio da maioria irá prevalecer e destruir as bases que sustentam a tirania.  E então os oprimidos irão se erguer em rebelião e derrubar seus opressores.
Entretanto, tal processo pode ser bastante lento; pode demorar a acontecer.  Nesse meio tempo, danos irreparáveis podem ser infligidos a toda a população.  Ademais, uma revolução necessariamente gera uma violenta perturbação na cooperação social, produz ódio e divisões irreconciliáveis entre os cidadãos, e pode causar uma amargura que até mesmo séculos serão incapazes de apagar.
Foi com esta ênfase nas ideias, que a filosofia do individualismo demoliu a doutrina do absolutismo, a qual atribuía revelação divina a soberanos e tiranos.  Ao suposto direito divino dos reis ungidos, o individualismo opunha os direitos inalienáveis conferidos ao homem por seu criador.  Contra a pretensão do estado de impor a ortodoxia e exterminar aquilo que ele considerasse heresia, o individualismo proclamou a liberdade de consciência.  Contra a inflexível preservação de antigas instituições que se tornaram detestáveis com o passar do tempo, o individualismo recorreu à razão.  Assim, ele inaugurou uma era de liberdade e progresso rumo à prosperidade. 
Os filósofos liberais dos séculos XVIII e XIX não imaginaram que uma nova ideologia surgiria para rejeitar resolutamente todos os princípios da liberdade e do individualismo, e para proclamar que a total submissão do indivíduo à tutela de uma autoridade paternal era o mais desejável objetivo da ação política, o mais nobre fim da história, e a consumação de todos os planos que Deus tinha em mente ao criar o homem.
Não apenas Hume, Condorcet e Bentham, mas até mesmo Hegel e John Stuart Mill teriam se recusado a acreditar caso alguns de seus contemporâneos tivessem profetizado que no século XX a maioria dos escritores e cientistas da França e dos países anglo-saxões iria se tornar entusiasta de um sistema de governo que eclipsa todas as tiranias do passado ao praticar uma impiedosa perseguição de dissidentes e ao fazer de tudo para privar o indivíduo de toda e qualquer oportunidade de incorrer em atividades espontâneas.  Seria considerado um lunático o homem que dissesse a eles que a abolição da liberdade, de todos os direitos civis e do governo baseado no consenso do governado seria chamada de libertação.  Entretanto, tudo isso aconteceu.
O historiador pode entender e fornecer explicações psicológicas para essa radical e repentina mudança na ideologia.  Porém, tal interpretação de modo algum invalida as análises e críticas que os filósofos e economistas fizeram das doutrinas charlatãs que geraram esse movimento.
O pilar da civilização ocidental está no âmbito das ações espontâneas que ela assegura ao indivíduo.  Sempre houve tentativas de reprimir a capacidade de iniciativa do indivíduo, mas o poder dos opressores e inquisidores nunca foi absoluto.  Não se conseguiu impedir o surgimento da filosofia grega e de seu desdobramento romano, bem como o desenvolvimento da ciência moderna e da filosofia.
Guiados pelo seu gênio inato, os pioneiros consumaram suas obras a despeito de toda hostilidade e oposição.  O inovador não teve de esperar pelo convite ou pela ordem de ninguém.  Ele pôde avançar de acordo com sua própria vontade e assim desafiar os ensinamentos tradicionais.  Na esfera das ideias, o Ocidente em geral sempre usufruiu as bênçãos da liberdade.
E então veio a emancipação do indivíduo no campo dos negócios, um feito do novo ramo da filosofia: a economia.  Plena liberdade foi dada ao homem empreendedor que sabia como enriquecer seus semelhantes por meio do aprimoramento dos métodos de produção.  Uma abundância de bens foi despejada sobre o homem comum em decorrência da adoção do princípio capitalista da produção em massa para a satisfação das necessidades das massas.
Para avaliarmos corretamente os efeitos da ideia ocidental de liberdade, temos de contrastar o Ocidente com as condições predominantes naquelas partes do mundo que jamais compreenderam o significado de liberdade.
Alguns povos do Oriente desenvolveram a filosofia e a ciência muito antes dos antepassados da atual civilização Ocidental terem emergido do barbarismo primitivo.  Há boas razões para supor que a astronomia e a matemática gregas ganharam seu primeiro impulso ao entrarem em contato com o que já havia sido realizado no Oriente.
Mais tarde, quando os árabes adquiriram um conhecimento da literatura grega por meio das nações que eles haviam conquistado, uma extraordinária cultura islâmica começou a florescer na Pérsia, na Mesopotâmia e na Espanha.  Até o século XIII, a ciência árabe não era inferior às façanhas contemporâneas do Ocidente.  Mas então a ortodoxia religiosa islâmica impôs o conformismo permanente e inabalável, e, com isso, pôs fim a toda atividade intelectual e a todo pensamento independente que existiam até então nos países muçulmanos, como já havia acontecido antes na China, na Índia e na esfera do cristianismo oriental.
As forças da ortodoxia e a perseguição de dissidentes, por outro lado, não conseguiu silenciar as vozes da ciência e da filosofia ocidentais, pois o espírito da liberdade e do individualismo já estava forte o bastante no Ocidente para sobreviver a todas as perseguições.  Do século XIII em diante, todas as inovações intelectuais, políticas e econômicas originaram-se no Ocidente.  Até que o Oriente voltasse a prosperar há apenas algumas décadas, quando entrou em contato com o Ocidente, o histórico dos grandes nomes da filosofia, das ciências, da literatura, da tecnologia, do governo e dos negócios dificilmente mencionava algum oriental.
O Oriente estava estagnado em um conservadorismo rígido até o momento em que as ideias ocidentais começaram a se infiltrar.  Para os orientais, coisas como escravidão, servidão, intocabilidade, costumes como osati ou a mutilação dos pés das meninas, punições bárbaras, miséria em massa, ignorância, superstição e desprezo por hábitos de higiene não lhes afetavam em nada.  Incapazes de compreender o significado da liberdade e do individualismo, eles estão ainda hoje encantados com o programa do coletivismo.
Embora esses fatos sejam bem conhecidos, milhões de pessoas hoje apóiam entusiasmadamente políticas que intencionam substituir o planejamento autônomo do indivíduo pelo planejamento feito por uma autoridade.  Tais pessoas estão ansiosas para se tornarem escravas.
Obviamente, os paladinos do totalitarismo protestam dizendo que o que eles querem abolir é "apenas a liberdade econômica", sendo que todas "as outras liberdades" permanecerão intocadas.  Porém, a liberdade é indivisível.  Essa distinção entre a esfera econômica da vida e da atividade humana e a esfera não-econômica é a pior de suas falácias.  Se uma autoridade onipotente possui o poder de especificar para cada indivíduo qual tarefa ele deve efetuar, então não lhe restou nada que possa ser chamado de liberdade ou autonomia.  Ela poderá apenas escolher entre obediência estrita ou morte por inanição.
Pode-se formar comitês de especialistas para aconselhar a autoridade planejadora sobre se um jovem deve ou não ter a oportunidade de trabalhar no campo artístico ou intelectual.  Porém, tal arranjo irá meramente educar discípulos dedicados à repetição, qual papagaios, das ideias inventadas pela geração anterior à dele.
Inovadores que discordassem das maneiras pré-aprovadas de se pensar seriam barrados.  Nenhuma inovação jamais teria sido realizada caso seu inventor tivesse de pedir autorização para aqueles de cujos métodos e doutrinas ele quisesse divergir.  Hegel jamais teria autorizado Schopenhauer ou Feuerbach, tampouco o professor Rau teria autorizado Marx ou Carl Menger.
Se o comitê de planejamento supremo tiver de determinar em última instância quais livros devem ser impressos, quem pode fazer experimentos nos laboratórios, quem deve pintar ou fazer esculturas, e quais alterações devem ser feitas em métodos tecnológicos, não haverá nem melhorias nem progresso.  O indivíduo se torna um peão nas mãos dos soberanos, os quais, em sua "engenharia social", irão manuseá-lo da mesma maneira que engenheiros manuseiam os objetos com os quais constroem edifícios, pontes e máquinas.
Em todas as esferas da atividade humana, uma inovação é um desafio não apenas para aqueles que gostam de seguir rotinas e para os especialistas e praticantes de métodos tradicionais; é um desafio ainda maior para aqueles que no passado foram inovadores.  Toda inovação enfrenta, em seu começo principalmente, uma obstinada oposição.  Tais obstáculos podem ser superados em uma sociedade em que haja liberdade econômica.  Mas eles são intransponíveis em um sistema socialista.
A essência da liberdade de um indivíduo é a oportunidade de divergir e se distanciar das maneiras tradicionais de se pensar e de se fazer as coisas.  O planejamento feito por uma autoridade central estabelecida impossibilita todo e qualquer planejamento feito pelos indivíduos.

Ludwig von Mises  foi o reconhecido líder da Escola Austríaca de pensamento econômico, um prodigioso originador na teoria econômica e um autor prolífico.  Os escritos e palestras de Mises abarcavam teoria econômica, história, epistemologia, governo e filosofia política.  Suas contribuições à teoria econômica incluem elucidações importantes sobre a teoria quantitativa de moeda, a teoria dos ciclos econômicos, a integração da teoria monetária à teoria econômica geral, e uma demonstração de que o socialismo necessariamente é insustentável, pois é incapaz de resolver o problema do cálculo econômico.  Mises foi o primeiro estudioso a reconhecer que a economia faz parte de uma ciência maior dentro da ação humana, uma ciência que Mises chamou de "praxeologia".

Liberdade e custo de oportunidade

Liberdade e custo de oportunidade 

Opportunity-Cost-580.jpgEis um dos maiores e menos reconhecidos inimigos da liberdade: o caráter subjetivo e abstrato da noção de custo. A tese que pretendemos explorar, em uma frase, pode ser colocada da seguinte maneira: quanto mais nos aprofundamos na trilha intervencionista, mais difícil é conceber alternativas liberais.
Iniciemos com a noção de custo: trata-se da importância que uma pessoa atribui àquilo que abdica quando faz uma escolha. Por isso utilizamos por vezes a expressão "custo de oportunidade": o custo de ler este artigo é igual ao valor que você atribui à outra coisa que faria com esses minutos empregados na leitura. Simples, não? De fato, a Economia é baseada em uns poucos princípios simples como esse.
Contudo, existe uma trágica ironia aqui: embora a maioria das pessoas considere tais princípios bastante óbvios, quando examinamos as consequências lógicas desses princípios e os aplicamos a questões econômicas, as mesmas pessoas não percebem ou não aceitam essas conclusões. Vejamos alguns exemplos que giram em torno da ideia de custos.
Em primeiro lugar, sempre que houver escassez de algum recurso, existirão usos alternativos dos mesmos. O mais popular erro de análise econômica — a falácia do almoço grátis — nega esse princípio.  Quantas vezes ouvimos falar das realizações dos políticos, sem sequer uma palavra proferida sobre os custos dos projetos implementados? Mas, se algo for feito, sempre será à custa de outra coisa útil que deixou de existir.
Apesar disso, quantas vezes nas aulas de Economia Brasileira ouvimos a história de que se o governo brasileiro não tivesse adotado medidas protecionistas, o Brasil não teria se industrializado? Será que as pessoas ficariam de fato inertes, plantando banana?
A falta de imaginação sobre caminhos alternativos se relaciona com outro aspecto da noção de custo: sua natureza subjetiva. Isso significa que o custo de oportunidade de uma escolha depende de quem faz essa escolha. Sendo assim, o custo da leitura dessas páginas será, para certo indivíduo, deixar de ler outros textos, para outro, deixar de paquerar uma vizinha, ou não assaltar a geladeira naqueles minutos, para um terceiro.
Poderíamos concluir então que o custo de oportunidade da política protecionista depende de quem a analisa? Para o intervencionista, tal custo seria plantar bananas. Para o liberal, uma economia ainda mais industrializada. De fato, como o conceito de custo está relacionado à noção de escolha, as decisões políticas tomadas pelo intervencionista ou pelo liberal refletem suas opiniões sobre o valor das alternativas disponíveis.
Isso nos leva a outro aspecto dos custos, relacionado ao seu caráter subjetivo: sua natureza conjectural. Se fizermos uma escolha, o custo dessa escolha será, estritamente falando, para sempre desconhecido. Se alguém escolhe profissionalmente a academia, abdica de se dedicar ao mercado financeiro. Essa escolha implica que a primeira alternativa é preferida, mas, quem garante que, ao se dedicar ao mercado, essa pessoa não teria descoberto sua "verdadeira vocação" ou mesmo uma nova teoria, com base em sua experiência? Sendo assim, não há como medir os custos de uma decisão se não tivermos uma máquina do tempo que nos levasse de volta ao passado, possibilitando que explorássemos, em um universo paralelo, o que ocorreria se a decisão fosse outra.
Mas, se os custos são subjetivos e conjecturais, nada pode ser dito sobre seu conteúdo? Na verdade, se nos afastarmos da "pura lógica da escolha" utilizada para estudar uma decisão de um único indivíduo e passarmos a estudar as decisões nos mercados, o grau de subjetivismo do conceito é menor e os agentes podem de fato discordar sobre o valor dos bens.  Os agentes podem, por exemplo, se enganar sobre o valor que os outros atribuiriam a certo produto. No mercado, o custo monetário do aluguel de um imóvel, por exemplo, reflete seu custo de oportunidade, já que a disposição a pagar por esse serviço por parte dos demais empresários reflete a opinião que esses têm sobre a capacidade de imóveis semelhantes gerarem riqueza em outros mercados, que operam ao mesmo tempo.
Quanto mais usos alternativos são possíveis simultaneamente, mais concreto será o custo de oportunidade. Sob competição, existem incentivos para que a atividade empresarial seja dirigida à avaliação dos usos alternativos e uma má avaliação tende a resultar em prejuízo, corrigindo assim a opinião equivocada sobre o valor dos bens. Sob monopólio, por outro lado, esses incentivos são diminuídos — os custos de oportunidades começam a sofrer de falta de imaginação.
Uma decisão de que carreira seguir, por sua vez, envolve custo de oportunidade mais indefinido, como vimos. De fato, um engenheiro poderia apenas conjecturar quão feliz seria se fosse um bailarino profissional. Isso ocorre porque não existe a possibilidade de se dedicar simultaneamente a várias carreiras. Finalmente, se tomarmos uma decisão de política econômica, pelo fato de que apenas uma delas pode ser testada por vez, é muito mais difícil perceber o custo de oportunidade das escolhas feitas.
Nos exemplos acima, quanto mais alternativas houver para serem exploradas, mais definido será o custo de oportunidade de uma ação. Isso nos leva de volta à tese deste artigo: quanto mais nos aprofundamos na trilha intervencionista, mais difícil será conceber alternativas liberais. Quanto mais intervencionista for uma sociedade, maior a quantidade de escolhas tomadas sob ambientes controlados centralmente, sobrando menos espaço para que a ação livre tente caminhos alternativos não imaginados anteriormente. Menos soluções tentadas simultaneamente, menor imaginação a respeito de alternativas.
O leitor pode testar essa tese propondo, em encontros com colegas, a desestatização de qualquer serviço, ou uma reforma mais modesta, mas na direção de menor controle. A reação negativa sempre inclui observações sobre a impossibilidade de se viver sem as instituições presentes. Sem regulação no setor aéreo, o que garante que rotas menos importantes seriam mantidas? Sem correio estatal, o que garantiria que cartas seriam entregues em lugares remotos? Sem reservas fracionárias, o que garantiria que a poupança financiasse o investimento? Sem bancos centrais, o que garante que os preços sejam estabilizados? Sem faróis estatais, o que garante que os navios não se choquem com recifes, já que seria impossível cobrar de navios que usem o serviço, mas se recusam a pagar por ele?
Em todos esses casos, a dificuldade em perceber que existiriam alternativas resiste até mesmo a ensaios históricos que mostram como as coisas de fato eram diferentes em tempos passados ou ainda hoje em outras sociedades. Embora Coase[1] tenha mostrado como na Inglaterra faróis sinalizadores privados resolveram o problema da cobrança de seus serviços, ainda assim esse serviço é utilizado nos livros-textos modernos como um dos principais exemplos de serviços que não poderiam ser ofertados por firmas privadas.
É sempre muito divertido mencionar a proposta de Hayek sobre a desnacionalização do dinheiro e observar a reação do seu interlocutor. Este, invariavelmente, ficará irritado com a simples discussão de uma hipótese interessante, mas radicalmente diferente das instituições que santifica. Ironicamente, será você o acusado de dogmatismo.
Naturalmente, propostas muito diferentes das adotadas no presente não passaram por um processo de seleção por tentativas e erros. Nesse caso, o conservadorismo tem papel crucial para a preservação da civilização. Contudo, isso não serve como desculpa para justificar indiscriminadamente o monopólio estatal e o status quo. Em muitos casos, se as alternativas fossem de fato inviáveis, por que o temor? Por que proibi-las? Além de preservar privilégios, a garantia do monopólio impede que alternativas sejam vislumbradas.
Em um mundo intervencionista, o estatista é o verdadeiro conservador. Uma crucial tarefa "progressista" do liberal será então mostrar que existem alternativas ao estatismo, por meio de estudos teóricos e históricos que mitiguem a falta de imaginação a respeito do custo de oportunidade das escolhas de políticas econômicas.


[1] Coase, R. H. The Lighthouse in Economics, Journal of Law and Economics 17 (2): 357—376, 1974.



Fabio Barbieri é mestre e doutor pela Universidade de São Paulo.  Atualmente, é professor da USP na FEA de Ribeirão Preto.

O "direito" à gratuidade e a injustiça da tributação

O "direito" à gratuidade e a injustiça da tributação 
por  

impostos.jpg"Defender o direito à educação gratuita ou à saúde gratuita ou à cultura gratuita é similar a defender a escravidão parcial".
Experimente dizer publicamente a frase acima.  Chega a ser inimaginável o que os progressistas politicamente corretos, esses seres tão dóceis e preocupados com o bem-estar da humanidade, farão com você.
Realmente, quem seria tão insensível a ponto de pensar assim?  Quem negaria a oferta gratuita de bens e serviços aos seus semelhantes?  Quem seria tão imoral a esse ponto?  Afinal, é maravilhoso ser coagido e expropriado.  Você nasceu para ser dominado e governado por seus soberanos democraticamente eleitos.  A eles você deve aquiescência e reverência.
Os mais benevolentes e pacíficos podem retrucar: "Ah, mas se não utilizarmos a força e a ameaça de violência contra algumas pessoas, se não pegarmos um pouquinho do dinheiro delas, os pobres viverão em um terrível estado de privação e desamparo, sem educação e saúde." 
Curiosamente, utilizar o dinheiro próprio para doações, ou simplesmente instituir programas caridosos voluntários, ou até mesmo defender o trabalho de igrejas, é algo que aparentemente nunca passa pela cabeça dessas pessoas, ocupadas demais que estão em serem consumidas pela inveja e em arquitetar maneiras de tomar o dinheiro dos ricos.
Porém, esse é um assunto para outro artigo.  O que quero aqui é apenas lidar com o princípio que fundamenta toda essa situação.  Especificamente, gostaria de elaborar dois pontos: um sobre direitos e outro sobre tributação da renda.
De onde vêm os direitos
Primeiro, se quisermos avaliar se um determinado direito, um suposto direito, é de fato um direito genuinamente válido — isto é, um direito natural, um direito que todos nós como seres humanos usufruímos pela simples virtude de sermos humanos —, então é necessário fazermos um teste crítico e logicamente irrefutável, qual seja: todos nós temos de ser capazes de usufruir esse mesmo direito, ao mesmo tempo e da mesma maneira
Apenas assim esse direito pode ser natural.  A obviedade dessa afirmação vem do fato de que, para um direito ser natural, seu usufruto não pode levar a nenhum conflito ou a nenhuma contradição lógica. 
Por exemplo, suponha que você esteja em uma ilha deserta com uma outra pessoa.  Apenas vocês dois estão nessa ilha deserta.  Não há nenhuma dificuldade lógica em imaginar, por exemplo, que ambos podem usufruir separadamente, ao mesmo tempo e à mesma maneira, seu direito à vida.  Da mesma forma, não há nenhuma dificuldade lógica em imaginar que ambos podem simultaneamente usufruir seus direitos de propriedade privada.  Por exemplo, você pode ter seu iPod e manejá-lo como quiser, e a outra pessoa pode ter uma cesta de maçãs e fazer o que quiser com ela.
Não há nenhum conflito lógico nesse arranjo, e não há nenhuma dificuldade em entender por que ele funciona.
Agora, suponha que vocês dois, um belo dia, determinam que ambos têm direito a uma Ferrari.  Pergunta: como esse direito será impingido?  Quem o cumprirá e quem o fará ser cumprido?  Você, por exemplo, como conseguirá sua Ferrari?  A única maneira de você conseguir sua Ferrari é exigindo que a outra pessoa fabrique uma para você.  Da mesma forma, a única maneira de a outra pessoa conseguir uma Ferrari é obrigando você a construir uma para ele.
Imediatamente, já é possível ficarmos um tanto céticos quanto ao fato de isso realmente ser um direito natural.  Na verdade, o que ocorrerá é que vocês dois ficarão infrutiferamente apenas latindo ordens um para o outro. 
Entretanto, caso vocês dois realmente tentassem impor e fazer cumprir esse direito, imediatamente veriam que se trata de um direito que ambos não podem usufruir igualmente, ao mesmo tempo e da mesma maneira.  Afinal, para você conseguir exercer o seu direito a uma Ferrari, você teria de obrigar a outra pessoa a incorrer em trabalho físico contra a vontade dela; da mesma maneira, essa outra pessoa teria de obrigar você a incorrer em trabalho físico para fabricar a Ferrari dele, contra a sua vontade.
Isso obviamente não pode ser um direito natural, um direito inerente a todos os seres humanos.  Tal direito não é uma parte natural e integral à condição humana.
Embora o exemplo acima seja aparentemente simplista, não é necessário nenhum malabarismo lógico para entender que ele se aplica a qualquer bem e serviço de uma economia, seja saúde, educação, segurança, alimentação, judiciário, eletricidade, cultura etc.
O que nos leva ao segundo ponto.
A injustiça da tributação da renda
Robert Nozick, o grande filósofo de Harvard, ao comentar sobre a tributação da renda, disse que essa nada mais era do que uma 'forma direta de trabalho forçado'.  Com efeito, qual a diferença entre você confiscar os frutos de cinco meses de trabalho de uma pessoa ou simplesmente tomar cinco meses da vida dessa pessoa?  Isso tem apenas um nome: trabalho forçado.
Por favor, esqueça toda a propaganda governamental que diz que você está apenas fazendo uma "contribuição".  Esqueça toda a lavagem cerebral que você sofreu na escola.  Já passou a época em que tínhamos doze anos de idade.  Apenas sejamos francos e diretos, e vamos simplesmente chamar a coisa pelo seu nome verdadeiro: trabalho forçado.
Para ilustrar esse ponto mais incisivamente, Nozick criou aquilo que ele viria a chamar de O Conto do Escravo[*].  Nesse conto, Nozick convida o leitor a se imaginar como sendo o escravo da história.  A história é bem curta e se desenvolve ao longo de 9 estágios, que vão desde a escravidão clássica até a democracia moderna. 
Primeiro estágio: Você é um escravo submisso a um mestre brutal que lhe obriga a trabalhar para ele, sem horas de descanso.  Você apanha frequente e arbitrariamente.
Segundo estágio: O mestre relaxa um pouco e passa a lhe surrar somente quando você quebra as regras.  Ele até lhe concede algum tempo de descanso.
Terceiro estágio: Você agora é parte de um grupo de 10.000 escravos igualmente sujeitos a esse mestre.  Ele decide, de acordo com seus princípios, como irá repartir entre vocês parte dos bens que vocês próprios produziram.
Quarto estágio: O mestre, agora mais brando, exige que você e seus companheiros escravos trabalhem apenas três dias por semana, concedendo os quatro dias restantes de folga.
Quinto estágio: O mestre agora permite que você trabalhe onde você quiser, mas há uma condição: você tem de entregar para ele 3/7 do seu salário, o que corresponde aos três dias de trabalho por semana que você era obrigado a efetuar na terra dele.  Além disso, ele retém o direito de convocar você para servi-lo sempre que ele quiser, e continua com o poder de aumentar arbitrariamente a fatia do seu salário que ele pode confiscar.
Sexto estágio: O mestre concede a todos os seus 10.000 escravos, exceto você, o direito de votar.  Eles agora têm o poder de decidir entre eles o que você pode fazer e o que você não pode fazer.  Eles também ganham o poder de determinar qual porção do seu salário será confiscado e onde esse dinheiro será gasto.
Sétimo estágio: Você ainda não tem o direito de votar, mas agora tem a permissão de tentar influenciar aqueles 10.000 que podem.  Você pode tentar persuadi-los a exercer seus poderes de determinada maneira.
Oitavo estágio: Os 10.000 concedem a você o direito de votar, mas apenas caso haja um impasse na votação.  Você escreve o seu voto e, apenas caso haja um empate na eleição, o seu voto é considerado como critério de desempate.  Nenhum empate jamais ocorreu.
Nono estágio: Você finalmente adquire o direito irrestrito de votar.  Porém, em termos práticos, isso significa apenas que, assim como no oitavo estágio, o seu voto realmente valerá apenas caso haja algum empate.  Mas nunca houve um empate.
A pergunta a ser feita é: em que momento, entre o primeiro e o nono estágio, essa história deixou de ser o conto de um escravo?  Em que momento você, o escravo, realmente tornou-se livre?
Você vive hoje no nono estágio.  Você saberia dizer em qual estágio você genuinamente deixou de ser um escravo?
Esse é o tipo de pergunta enlouquecedora capaz de fazer qualquer um repensar tudo aquilo que ele sempre foi ensinado sobre tributação, sociedade e governo.  É o tipo de pergunta que, no mínimo, torna alguém bastante cético quanto a qualquer propaganda governamental que ele venha a ouvir dali em diante.
E é justamente por isso que essa pergunta jamais é feita.
___________________________________
Nota
[*] Robert Nozick, Anarchy, State, and Utopia (New York: Basic Books, 1974), 290-92

Thomas Woods 
é um membro sênior do Mises Institute, especialista em história americana.  É o autor de nove livros, incluindo os bestsellers da lista do New York Times The Politically Incorrect Guide to American History e, mais recentemente, Meltdown: A Free-Market Look at Why the Stock Market Collapsed, the Economy Tanked, and Government Bailouts Will Make Things Worse. Dentre seus outros livros de sucesso, destacam-se Como a Igreja Católica Construiu a Civilização Ocidental (leia um capítulo aqui), 33 Questions About American History You're Not Supposed to Ask e The Church and the Market: A Catholic Defense of the Free Economy (primeiro lugar no 2006 Templeton Enterprise Awards). Visite seu novo website.

Afinal, quem são os racistas?

Afinal, quem são os racistas?

img_2230ok.jpgAlguns anos atrás, uma pessoa disse que, de acordo com as leis da aerodinâmica, um abelhão não pode voar.  Mas os abelhões, alheios às leis da aerodinâmica, vão em frente, contrariam os dizeres dos especialistas, e voam assim mesmo.
Algo semelhante ocorre entre as pessoas.  Enormes e tediosos estudos acadêmicos, bem como melancólicos e sombrios editoriais de determinados jornais, são produzidos às pencas lamentando o fato de que a maioria das pessoas pobres e negras não consegue ascender socialmente, e que isso seria uma fragorosa demonstração de discriminação. 
O curioso é que, em vários países ao redor do mundo, inclusive naqueles países chamados de terceiro mundo, vários imigrantes extremamente pobres, principalmente oriundos da Ásia, não apenas conseguem prosperar mesmo sendo de uma cultura totalmente distinta, como também conseguem enriquecer sem jamais recorrer a favores especiais e a políticas de ação afirmativa.
Normalmente, estes imigrantes asiáticos chegam a um novo país praticamente sem nenhum dinheiro, sem nenhum conhecimento do novo idioma e sem nenhuma afinidade cultural.  Eles frequentemente começam trabalhando em empregos de baixa remuneração.  Mas trabalham muito.  A norma é trabalharem em mais de um emprego.  Trabalham tanto que conseguem poupar e, após alguns anos, utilizam esta poupança para empreender.  Muitos abrem um pequeno comércio, no qual continuam trabalhando longas horas e ainda continuam poupando, de modo que se tornam capazes de mandar seus filhos para a escola e para a faculdade.  Seus filhos, por sua vez, sabem que seus pais não apenas esperam, como também exigem, que eles sejam igualmente disciplinados, bons alunos e trabalhadores.
Vários intelectuais já tentaram explicar por que os imigrantes asiáticos são tão bem-sucedidos tanto em termos educacionais quanto em termos econômicos.  Frequentemente chega-se à conclusão de que eles possuem algumas características especiais.  Isso pode ser verdade, mas seu sucesso também pode ser atribuído a algo que eles não têm: "líderes" e autoproclamados porta-vozes lhes dizendo diariamente que são incapazes de prosperar por conta própria, que o sistema está contra eles, que eles não têm chance de ascender socialmente caso não sigam os slogans repetidos mecanicamente por estes líderes e sociólogos, e que por isso devem se juntar sob o rótulo de "vítimas do sistema" e exigir políticas especiais e tratamento diferenciado.
Vá a qualquer país, seja ele rico ou em desenvolvimento, e pesquise sobre a existência de "líderes" e de grupos de interesse voltados para a promoção de políticas de ação afirmativa para os asiáticos.  Você não encontrará.  Você não encontrará sociólogos dizendo que os imigrantes asiáticos, por serem minoria e por estarem culturalmente deslocados, estão em desvantagem e que por isso o governo deve criar leis de cotas para ajudá-los a ascender socialmente.
Infelizmente, é exatamente esta linha de raciocínio, só que em relação aos negros, que vem sendo diariamente propagada por acadêmicos e sociólogos irresponsáveis.  Eles são a versão humana das leis da aerodinâmica, que dizem precipitadamente que determinadas pessoas não podem ascender e prosperar a menos que haja um empurrão do governo.
Aquelas alegações morais que foram feitas no passado por gerações de genuínos líderes negros — alegações que acabaram por tocar a consciência de várias nações e que viraram a maré em prol dos direitos civis para todos — hoje foram desvalorizadas e apequenadas por uma geração de intelectuais, sociólogos e autoproclamados "líderes" de movimentos raciais que tratam os negros como seres abertamente incapazes de prosperar sem a ajuda destes pretensos humanistas, os quais agem abertamente de acordo com uma agenda política de escusos interesses próprios.
O que é perfeitamente perceptível é que, ao longo das gerações, as pessoas que dizem falar em prol do "movimento negro" sofreram uma mutação de caráter: se antes possuíam uma alma nobre, hoje não passam de charlatães descarados.  Após a implantação definitiva de políticas de ação afirmativa nos EUA, esses charlatães perceberam que era muito fácil ganhar dinheiro, poder e fama ao redor do mundo ao simplesmente se dedicarem à promoção de ações e políticas raciais que são totalmente contraproducentes aos interesses das pessoas que eles próprios dizem liderar e defender.
No passado, vários outros grupos de imigrantes também representavam minorias que tinham tudo para ser consideradas oprimidas e discriminadas, pois chegavam a outros países quase sem nenhum dinheiro, com pouquíssima educação e com total desconhecimento da cultura local, mas que não obstante ascenderam por conta própria, muito provavelmente porque não foram "privatizadas" por líderes raciais.  Imigrantes e outras minorias que nunca tiveram "porta-vozes" e "líderes" raramente dependeram de subsídios do governo e quase sempre apresentaram altos níveis educacionais obtidos com o esforço próprio.
Grupos que ascenderam da pobreza à prosperidade raramente o fizeram por meio de líderes étnicos ou raciais.  Ao passo que é fácil citar os nomes de vários líderes do "movimento negro" ao redor do mundo, tanto atuais quanto os do passado, quantos são os lideres étnicos que defendem os interesses dos asiáticos ou dos judeus em países em que eles são a minoria?
Ninguém pode negar que há anti-semitismo e que já houve discriminação aos asiáticos.  Sempre houve.  Mas eles nunca seguiram "líderes" cujas mensagens e atitudes serviram apenas para mantê-los presos à condição de bovinos.
Essa postura de dizer aos seus "seguidores" que eles são mais atrasados, tanto econômica quanto educacionalmente, por causa de outros grupos "opressores" — e que, portanto, eles devem odiar estas outras pessoas — tem paralelos na história recente.  Essa foi a mesma motivação utilizada pelos movimentos anti-semita no Leste Europeu no período entre-guerras, pelos movimentos anti-Ibo na Nigéria na década de 1960, e pelos movimentos anti-Tamil, que fizeram com que o Sri Lanka, outrora uma nação pacífica e famosa por sua harmonia intergrupal, se rebaixasse, por influência de intelectuais, à violência étnica e depois se degenerasse em uma guerra civil que durou décadas e produziu indescritíveis atrocidades.
Será tão difícil entender, mesmo com todos os exemplos históricos, que o progresso não pode ser alcançado por meio de líderes raciais ou étnicos?  Tais líderes possuem incentivos em demasia para promover atitudes e políticas polarizadoras que são contraproducentes para as minorias que eles juram defender e desastrosas para o país.  Eles se utilizam das minorias para proveito próprio, atribuindo a elas incapacidades crônicas que supostamente só podem ser resolvidas por políticas que eles irão criar.  Eles são os verdadeiros racistas.

Thomas Sowell , um dos mais influentes economistas americanos, é membro sênior da Hoover Institution da Universidade de Stanford.  Seu website: www.tsowell.com.

Tradução de Leandro Roque

Explicando a recessão europeia

Explicando a recessão europeia

indignados-madrid.jpgO economista americano Steve Hanke, professor de economia aplicada da Universidade Johns Hopkins, em Baltimore, EUA, considerado uma sumidade em assuntos monetários (foi ele quem acabou com todas as hiperinflações das ex-repúblicas soviéticas no Leste Europeu, da Bósnia e da Argentina), cunhou uma frase da qual todo cidadão comum jamais deveria se esquecer.  Hanke a rotulou de 'regra dos 95%': "noventa e cinco por cento de tudo que é escrito sobre economia ou está errado ou é irrelevante."
Tal regra é perfeitamente aplicável para as análises feitas sobre o atual estado das economias europeias.  Segundo os especialistas, o problema está na tal 'austeridade', a qual estaria sendo imposta a todo o continente pelos malvados alemães por motivos puramente sádicos, e estaria sacrificando os pobres gregos, espanhóis e portugueses.  Culpar a austeridade é uma postura que gera aplauso fácil porque significa condenar cortes nos sagrados programas assistencialistas europeus, os quais todos os economistas convencionais sonham ver serem adotados universalmente em todos os países do Ocidente — adoção essa que requereria a supervisão destes economistas, é claro.
Muito embora a "austeridade" europeia esteja sendo feita não por meio exclusivo da redução de gastos, mas sim por uma combinação entre redução de gastos e elevação de impostos — e, como mostrou Philipp Bagus, os déficits orçamentários continuaram intocados —, ela não é a causa precípua da prolongada recessão do continente.
Qual é então o problema? 
Como tudo começou
Durante a década de 2000, os países europeus, e mais acentuadamente Espanha, Portugal, Grécia e Irlanda, vivenciaram tão explicitamente todas as etapas de um ciclo econômico descrito pela Escola Austríaca, que tal exemplo deveria doravante figurar em todos os escritos sobre o tema ciclos econômicos.  O ciclo econômico vivenciado por estes quatro países está sendo tão completo, que é difícil imaginar algum outro exemplo prático que melhor ilustre aquilo que é descrito pela teoria austríaca.
A crise econômica e financeira europeia começou da mesma maneira que se iniciam todos os ciclos econômicos: por um processo de enorme expansão do crédito orquestrado pelo Banco Central Europeu em conjunto com o sistema bancário de reservas fracionárias dos quatro países citados.  Tal processo de expansão do crédito consiste meramente em um processo de criação de dinheiro do nada.  E é assim em todo o mundo atual. 
Sempre que uma empresa ou um indivíduo qualquer vão a um banco e pedem um empréstimo, o banco cria do nada dinheiro eletrônico na conta-corrente deste tomador de empréstimo.  O dinheiro não foi retirado de nenhuma outra conta.  Ele simplesmente foi criado.  O bancário apertou algumas teclas no computador e dígitos eletrônicos surgiram na conta-corrente do mutuário.  É assim que o dinheiro entra na economia no sistema monetário atual e é assim que a quantidade de dinheiro em uma economia aumenta.  O sistema bancário destes países europeus, atuando sob a proteção e estímulo do Banco Central Europeu, literalmente criou bilhões de euros para serem emprestados para empreendedores e consumidores.
Veja a evolução do crédito na Espanha, de janeiro de 2002 (ano da introdução do euro) até janeiro de 2009, ano do início da crise.
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Observe que o crédito concedido mais do que triplicou em apenas 7 anos, indo de 600 bilhões de euros para mais de 1,8 trilhão de euros.
Todo este processo de concessão de crédito gerou quase que o mesmo efeito na oferta monetária do país, que neste mesmo período saiu de 400 bilhões para 1 trilhão.[1]
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O mesmo fenômeno ocorreu na Irlanda.  O crédito triplicou...
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... e a oferta monetária duplicou.
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E, finalmente, na Grécia.  O crédito mais que dobrou...
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... assim como a oferta monetária.
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Qual foi a consequência de toda esta expansão creditícia e monetária?
Empreendedores, ao tomarem como empréstimo este dinheiro criado do nada pelo sistema bancário, passaram a investir naqueles projetos que mais estavam sob demanda.  Nos casos específicos da Espanha e da Irlanda, no setor imobiliário.  Os consumidores destes países, por sua vez, estavam recorrendo aos bancos justamente para obter financiamento para comprar imóveis.  Esta súbita demanda por imóveis foi possibilitada pelo fato de que a expansão creditícia feita pelo sistema bancário de reservas fracionárias e orquestrada pelo Banco Central Europeu gerou uma forte queda nos juros.
Uma expansão creditícia e monetária é sempre um fenômeno extremamente perigoso porque funciona como uma droga.  Quando o dinheiro recém-criado é injetado na economia pelos bancos, todo o sistema econômico passa a reagir de maneira expansionista.  As pessoas ficam animadas.  Empreendedores recebem financiamento barato para praticamente qualquer investimento que queiram fazer, não importa o quão irracional tal investimento seria em outras circunstâncias.  Ao mesmo tempo, trabalhadores e sindicatos percebem que a demanda por seus serviços aumentou, pois há mais dinheiro na economia.  Bens de consumo também passam a ser demandados com mais intensidade.  A renda das pessoas cresce anualmente.  Todo mundo fica feliz, principalmente porque tal arranjo faz parecer ser possível aumentar a riqueza sem qualquer sacrifício na forma de poupança e trabalho duro.  Forma-se uma bolha. 
Este aparente ciclo virtuoso da nova economia ludibria todos os agentes econômicos: investidores estão muito contentes ao verem que suas ações crescem diariamente; as indústrias de bens de consumo conseguem vender tudo que põem no mercado e a preços crescentes; restaurantes estão sempre cheios e com longas listas de espera apenas para arrumarem uma mesa; trabalhadores e seus sindicatos veem o quão desesperadoramente empresários estão demandando seus serviços em um ambiente de pleno emprego, aumentos salariais e (nos países mais ricos) imigração; líderes políticos se beneficiam daquilo que parece ser uma economia excepcionalmente boa, a qual eles venderão ao eleitorado como resultado direto de sua liderança e de suas boas políticas econômicas; burocratas responsáveis pelo orçamento do governo ficam impressionados ao descobrir que, a cada ano, a receita está aumentando em cifras de dois dígitos.
Porém, tal arranjo não pode durar.  Há um enorme descoordenação entre o comportamento dos consumidores e dos investidores.  Os consumidores seguem consumindo sem a necessidade de poupar, pois a quantidade de dinheiro na economia aumenta continuamente, o que torna desnecessário qualquer abstenção do consumo.  E os investidores seguem aumentando seus investimentos, os quais são totalmente financiados pela criação artificial de dinheiro virtual feita pelos bancos e não pela poupança genuína dos cidadãos.  Tal arranjo é completamente instável.  Trata-se apenas de uma ilusão de que todos podem obter o que quiserem sem qualquer sacrifício prévio.
Com o tempo, tamanha demanda gerada pela criação de dinheiro leva a um inevitável aumento dos preços.  Ato contínuo, o Banco Central eleva a taxa básica de juros da economia e os bancos, além de reduzirem o volume de empréstimos concedidos, também começam a cobrar juros maiores.  Afinal, se os bancos não aumentassem os juros cobrados, eles simplesmente receberiam — no momento da quitação do empréstimo — um dinheiro com um poder de compra menor do que o que esperavam receber quando concederam o empréstimo.
Essa nova postura dos bancos leva a uma redução da taxa de crescimento da quantidade de dinheiro na economia.  E tal redução na taxa de crescimento da oferta monetária é exatamente o que põe um fim na euforia e gera o início da recessão.
A recessão
Durante a fase da expansão econômica artificial, os indivíduos intensificaram seu endividamento para poder consumir, na crença de que a expansão do crédito continuaria farta e que sua renda futura continuaria aumentando, o que facilitaria a quitação destas dívidas.  Já as empresas embarcaram em investimentos de longo prazo levadas tanto pela redução artificial dos juros criada pela expansão do crédito (o que faz com que os investimentos se tornassem mais financeiramente viáveis) quanto pela expectativa de que o aumento futuro da renda possibilitaria o consumo dos produtos criados pelos seus investimentos.
No entanto, a redução da expansão monetária — que não pode se perpetuar para sempre — traz a realidade à tona.  O aumento esperado da renda não se concretiza, o que faz com que as dívidas se tornem mais difíceis de serem quitadas.  Isso faz com que todos aqueles investimentos que foram estimulados pela expansão artificial do crédito entrem em colapso, pois nunca houve uma demanda genuína por eles.  Como os consumidores estão mais endividados e o nível geral de preços da economia aumentou — mas a oferta monetária se estabilizou —, a demanda cai (não cairia caso os investimentos houvessem sido financiados por poupança genuína, isto é, pela real abstenção do consumo dos indivíduos). 
Todos aqueles empreendimentos que até então pareciam lucrativos — como o setor imobiliário — se revelam um grande desperdício. A realidade é que simplesmente não havia demanda para tais projetos, pois tudo era baseado numa ilusão de prosperidade, aditivada pela expansão monetária e do crédito.
Até aqui, a narração acima em nada se distingue do atual momento brasileiro.  A mecânica inicial de um ciclo econômico, seja no Brasil, seja na Europa ou nos EUA, é a mesma, variando apenas qual será o setor que receberá a maior parte dos investimentos estimulados pelo crédito fácil.  O que tornou a recessão europeia especialmente dolorosa foi o que aconteceu com seu sistema bancário.
O que ocorreu na Europa — especialmente na Espanha e na Irlanda — é que o processo de expansão creditícia foi direcionado majoritariamente para o setor imobiliário.  E em gigantesca escala.  A bolha imobiliária espanhola foi muito maior que a americana — ao ponto de existirem hoje na Espanha, segundo Jesús Huerta de Soto, mais de um milhão de casas vazias, o que representa um incalculável desperdício de recursos escassos.
Sendo assim, quando a expansão creditícia foi interrompida e os juros foram elevados, não apenas a demanda por imóveis foi estancada, como também, e principalmente, as pessoas que estavam pagando hipotecas simplesmente começaram a dar o calote nos bancos.  Como as construtoras que haviam tomado empréstimos também não mais estavam conseguindo vender seus imóveis, elas também começar a dar calote nos bancos.  Acrescente a isso o aumento no desemprego em decorrência do mecanismo explicado acima, e você terá um ideia de quão volumosos foram os calotes nos bancos.
Ato contínuo, os bancos perceberam que seus empréstimos imobiliários — tanto para construtoras quanto para pessoas físicas — não mais seriam quitados aos valores originalmente esperados.  Como os empréstimos fazem parte do ativo dos bancos, a consequência é que os ativos bancários passaram a valer muito menos do que imaginavam. 
Essa queda no valor dos ativos gerou um enorme problema nos balancetes dos bancos: o valor dos ativos despencou, mas o valor dos passivos (todos os depósitos de seus clientes) permaneceu o mesmo.  Em termos contábeis, se há uma forte redução nos ativos e os passivos permanecem os mesmo, então há uma redução no patrimônio líquido (capital).  Os bancos se tornaram insolventes
Quando um banco se torna contabilmente insolvente, ele pode fazer duas coisas: ou ele aumenta seus ativos (sem que tenha de aumentar seus passivos), ou ele reduz seus passivos. 
Aumentar ativos em um cenário de recessão é praticamente impossível.  Ele teria de vender papeis em troca de dinheiro para aumentar suas reservas.  Porém, além de as pessoas não estarem em condições de comprar papeis dos bancos, o próprio ato desesperado de venda de papeis já forçaria para baixo os preços dos mesmos, pois tal medida deixaria explícita a péssima situação do banco.  O valor de seus ativos poderia cair ainda mais. 
Logo, a única solução plausível foi reduzir os passivos.  E como os bancos reduzem passivos?  Deixando de conceder empréstimos.  Cobrando empréstimos pendentes (cuja quitação aumenta seus ativos), e não concedendo novos empréstimos.  Essa era a única maneira de sanear seus balancetes.
E a consequência desta postura está perfeitamente ilustrada nos gráficos abaixo. 
Na Espanha, o volume de crédito concedido está em queda.
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Assim como a oferta monetária, que está apresentando deflação.
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O mesmo é válido para a Irlanda.
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E é ainda mais intenso para a Grécia, cujo volume de crédito e oferta monetária recuaram para níveis de sete anos atrás.
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A encrenca
Olhando o gráfico, fica fácil entender por que a situação grega é tão calamitosa.  Além da inevitável contração do crédito, que por si só reduz a quantidade de dinheiro na economia, também está havendo uma fuga de euros daquele país para os bancos alemães, mais seguros.  Espanha e Irlanda também vivenciam o mesmo problema, embora com intensidade um pouco menor.
Enquanto o mundo vivia seu período glorioso de expansão monetária (2003-2008), o governo grego aproveitou essa bonança para aumentar os gastos, inchar o funcionalismo e a folha de pagamento.  E fez tudo isso sem precisar aumentar impostos.  Como foi possível?  Como o crédito vinha de fora, e era abundante e barato, o governo percebeu que era mais vantajoso se endividar (em vez de tributar) para aumentar os gastos — e, depois, apenas rolar a dívida, pagando juros bastante camaradas. 
É lógico que tal arranjo grego seria insustentável no longo prazo, mesmo que os juros continuassem baixos.  É como se você fosse a um restaurante e, em vez de pagar a conta inteira, pagasse só a metade, e prometesse pagar o resto e mais juros no dia seguinte.  Porém, quando chegasse o dia seguinte, você faria um acordo com o dono do restaurante e, novamente, pagaria apenas a metade da conta daquele dia e empurraria todo o resto acumulado para o dia seguinte.  E assim você iria fazendo todos os dias.  Quando chegasse o fim do mês, o dono, desconfiado de que você iria dar o calote, simplesmente lhe apresentaria a conta total, com principal e juros acumulados, e exigiria o pagamento, não dando chances para mais rolamentos de dívida.  É aí que você teria o infarto.
No caso da Grécia, a crise financeira internacional, com a contração do crédito, acelerou esse processo de cobrança da dívida — logo, os juros exigidos para a rolagem da dívida subiram.  A farra grega acabou e, temerosos de um calote, as pessoas começaram retirar seu dinheiro do país, o que deixou os bancos em situação extremamente delicada.
Em um cenário de deflação monetária como esse que está acometendo estes países, a última coisa que os governos deveriam pensar em fazer seria aumentar impostos.  Mas foi exatamente isso que os governos desses três países fizeram e prometem continuar fazendo.  Não é à toa que a cada trimestre a imprensa noticia com fanfarra que o PIB destes países segue encolhendo.  Óbvio.  Deflação monetária com aumento de impostos é um coquetel mortífero.  Dado que há uma grande rigidez nos preços e nos salários nestes países (se os sindicatos não aceitam reduções salariais, os empresários não irão reduzir preços, pois seus balancetes iriam para o vermelho total), o resultado inevitável é uma disparada no desemprego.
Veja a evolução do desemprego em cada país clicando em seus respectivos nomes:  EspanhaIrlandaGrécia.
Para complicar ainda mais a situação, há a imposição de Basileia III, que exige o aumento do capital dos bancos.  Como explicado, na atual situação, a única maneira de os bancos aumentarem seu capital é cobrando a quitação de empréstimos pendentes, restringindo a concessão de novos empréstimos e contraindo ainda mais a oferta monetária.  Para Espanha e Grécia, que possuem economias amarradas, sindicatos fortes, altos impostos, e uma alta quantidade de regulamentações, esta nova rodada de deflação, a qual dificilmente será acompanhada de uma redução de preços e salários, poderá ser fatal para o desemprego.  A Irlanda, por ter uma economia mais dinâmica, tem mais chances de sofrer menos. 
Conclusão
Todo processo de expansão creditícia, cedo ou tarde, se transforma em um processo de restrição ou contração do crédito.  A intensidade da recessão tende a ser proporcional à intensidade da exuberância econômica que o país vivenciou.
Durante uma recessão, os consumidores estão mais pobres do que antes justamente por causa de todos os investimentos errôneos e insustentáveis que foram empreendidos em decorrência da expansão artificial do crédito, investimentos estes que imobilizaram capital e recursos escassos para seus projetos, recursos estes que agora não mais estão disponíveis para serem utilizados em outros setores da economia.  No geral, a economia está agora com menos capital e menos recursos escassos disponíveis.  Na Espanha, como dito, há hoje um milhão de casas vazias, sem compradores.  Capitais e recursos escassos foram desperdiçados na construção destes imóveis, capitais e recursos que poderiam estar hoje sendo aplicados em outros setores da economia espanhola.
Adicionalmente, é fácil entender por que o atual problema destas economias não é de 'demanda'.  Crises e recessões não são um problema de demanda.  Crises e recessões são causadas por investimentos errôneos e insustentáveis — em decorrência da expansão do crédito bancário e pela distorção das taxas de juros —, para os quais nunca houve demanda legítima.  Não se trata de um problema de demanda agregada, mas sim de um problema de capital que foi desviado para aplicações que não eram genuinamente demandadas pelo público.
Sendo assim, de nada adianta os governos — e principalmente os malvados alemães — incorrerem em déficits, aumentar os gastos e o Banco Central Europeu imprimir mais dinheiro, imaginando que tudo magicamente seria resolvido.  O fato é que recursos escassos foram aplicados em investimentos para os quais não havia demanda. Este capital se encontra agora destruído (ou com um valor extremamente reduzido).  A recessão nada mais é do que o período de reajuste desta estrutura de produção que foi distorcida pela expansão do crédito bancário e pela distorção das taxas de juros.
Portanto, para acabar com uma recessão, é preciso fazer com que este capital mal investido seja liquidado e que os investimentos sejam voltados para áreas em que haja genuína demanda dos consumidores.  O governo fazer políticas que estimulem a demanda agregada, de modo a não permitir que haja essa reestruturação do capital, irá apenas prolongar a recessão.  O governo elevar impostos e incorrer em déficits irá apenas retirar poupança do setor privado, justamente em um momento em que ele mais necessita dela. 
É exatamente isso que os governos europeus estão fazendo, e é exatamente isso que está prolongando a recessão.   A culpa não é dos alemães, que foram bastante frugais nos últimos treze anos.


[1] O motivo de toda a criação de crédito não se traduzir em idêntica expansão da oferta monetária se deve a dois fatos:
1) Importações.  Na zona do euro, parte desse dinheiro é exportada para outros países em troca de bens importados.
2) Recapitalização dos bancos.  Quando um banco quer aumentar seu capital, ele vende um papel.  A pessoa ou empresa que comprar este papel irá transferir dinheiro da sua conta-corrente para este banco.  O banco pegará este dinheiro (totalmente eletrônico) e irá contabilizá-lo como 'reservas bancárias', que é um ativo em seu balancete.  Ao final do processo, houve uma redução da quantidade de dinheiro na economia e um aumento das reservas bancárias, que é um dinheiro que não está na economia.  Exatamente o mesmo procedimento ocorre quando um banco vende dólares em sua carteira para algum cliente.  Ou seja, embora bancos criem dinheiro concedendo crédito, eles também destroem dinheiro quando vendem algum papel para se recapitalizar.