quinta-feira, 29 de agosto de 2013

Graciliano Ramos: realidade e ficção!

PSICANÁLISE DA VIDA COTIDIANA


CARLOS VIEIRA
Relato testemunhal e ficção, narrativa do “Velho Graça” no inquietante romance: “Angústia”. Na terceira leitura dessa obra, sinto-me novamente envolvido, apaixonado, mergulhado e, às vezes identificado com a maneira como, o alagoano escritor desvela, publica e denuncia estados de alma, crises existenciais do ser humano, tanto no aspecto individual, micro, como observação dos fenômenos sociais. 
Com seu jeito “seco”, “enxuto” de não desperdiçar palavras e usá-las quando elas apreendem sua intuição, o texto vai se fazendo numa conjuntura individual e social do personagem Luis da Silva. Sinto como alguém revela sua genialidade para apreender e nomear estados profundos, alucinatórios, quase psicóticos da mente humana. No caso desse romance, o autor narra de uma maneira simples, dura, ansiosa, depressiva, a olhares fenomenológicos do amor, ciúme, perseguição, ódio, violência, culminando com o ato homicida. 
Graciliano descreve uma triangulação mítica, edípica, entre Luis da Silva, Marina e Julião Tavares. Penetra na experiência psíquica de uma pessoa perseguida em função de uma paixão; de um crime; da culpa e do castigo, tanto interno como externo, culminando com uma prisão de fato. Ao mesmo tempo, o ex-prefeito da cidade de Palmeira dos Índios, no estado de Alagoas, contribui para mim como psicanalista, uma fenomenal “vivencia do tempo”, do tempo psicótico, do tempo do inconsciente, um tempo onde passado, presente e futuro se mesclam numa conjunção onírica. Escreve o Graça:” Mas no tempo não havia horas...e o dia estava dividido em quatro partes desiguais: uma parede, uma cama estreita, alguns metros de tijolo, outra parede.” 
O livro é uma ficção e também um texto de memórias. Graciliano pinta com palavras a importância da memória, da sua memória, da memória de fatos e memórias de ficção. Uma memória do passado e uma memória do futuro. A experiência narrada mostra um “arco-íris” preenchido por percepção reais, momentos alucinatórios, pesadelos, sonhos acordados, claro que elaborando consciente e inconsciente sua história pessoal, íntima, subjetiva, A genialidade do escritor repousa nessa condição peculiar de apreender fenômenos que a maioria dos “viventes” não se dão conta. Perceber, digerir, mastigar, sonhar, procurar a palavra e comunicar – a arte exige a passagem ao território social, caso contrário seria uma experiência masturbatória, egocêntrica e abortiva. 
No que tange à procura da palavra, em Graciliano a questão sempre foi de muita exigência, paciência e técnica. Cecilia Prada, escritora e jornalista, em seu rico livro: “Profissionais da Solidão”, Editora Senac, São Paulo, 2013 citando Antonio Candido, escreve: “escritor sem gorduras, magro convicto, de carnes, porte, personalidade e evidentemente estilo literário. 
Aliás, em todas as contracapas, editadas pela Record, lemos a maravilha metafórica da escrita de Graciliano. Vejam: “ Deve-se escrever da mesma maneira como as lavadeiras lá de Alagoas fazem seu ofício. Elas começam com uma primeira lavada, molham a roupa suja na beira da lagoa ou do riacho, torcem o pano, molham-no novamente, voltam a torcer. Colocam o anil, ensaboam e torcem duas vezes. Depois enxáguam, dão mais uma molhada, agora jogando a á água com a mão. Batem o pano na laje ou na pedra limpa, e dão mais uma torcida e mais outra, torcem até não pingar do pano só uma gota.Somente depois de feito tudo isso é que elas dependuram a roupa lavada na corda ou no varal, para secar. Pois quem se mete a escrever devia fazer a mesma coisa. A palavra não foi feita para enfeitar, brilhar como ouro falso, a palavra foi feita para dizer.” 
O método de escrever do cânone Graciliano é um belo exemplo que pode se estender a qualquer ofício: observação, observação, cuidado com a narrativa dos fatos e dos estados conscientes e inconscientes, enxugar as palavras e procurar aquela que revele de mais exata o pensamento. Recorda-me Platão: primeiro as sombras e depois o sol em sua própria morada. 
Lembra-nos Ricardo, filho do mestre, citado na página 234 do livro de Cecilia Prada:” – a sobriedade, a precisão da escolha vocabular, o sistemático ato de “cortar a gordura do texto”, a calma da rotina diária: de pijama, sentado à mesa que ficava em seu quarto, escrevia desde cedo até as onze horas, em letra miúda e regular... da crônica ao artigo sobre livros, da revisão de textos às traduções, ganhando a vida que considerava fundamental: a sua opinião” (Ramos 1992), pois nunca escreveu, ou subscreveu, aquilo que não acreditava.” 
O livro “Angústia” é uma prova da genialidade desse nordestino preocupado, tanto quanto João Cabral de Melo Neto, Guimarães Rosa, José Lins do Rego e Euclides da Cunha, com o que ele próprio escreve em seu livro:”Está aí uma história que narro com satisfação a Moisés. Ouve-me desatento. O que lhe interessa na minha terra é o sofrimento da multidão, a tragédia periódica das secas. Procuro recordar-me dos verões sertanejos, que duram anos. A lembrança chega misturada com episódios agarrados aqui e ali, em romances. Dificilmente poderia distinguir a realidade da ficção.” 
Enfim, “Angústia” é mais do que um drama psicológico de Luis da Silva, é um constante e atual grito de desespero do Nordestino, esmagado, esfoliado, subjugado pelo poder da aristocracia e da política brasileira que continua apática, insensível e perversa diante das classes menos privilegiadas. Ler Graciliano, nesse ano em que a Feira Internacional de Paratí o homenageou, é sentir na pele psíquica a realidade de nosso país e compreender de modo mais profundo o grito da Juventude atual: a angústia consequente às atrocidades dos “Juliões Tavares”.
Carlos.A.Vieira, médico, psicanalista, Membro Efetivo da Sociedade de Psicanálise de Brasília e de Recife. Membro da FEBRAPSI e da I.P.A - London.

Cubanos presos, aqui e lá

Cubanos presos, aqui e lá


O problema não é que sejam médicos, muito menos cubanos. O problema é o método de contratação, que convalida grave violação de direitos humanos.

Importar trabalhadores é normal. Importam-se, por exemplo, os melhores profissionais, para agregar conhecimento e expertise às práticas locais. Ou se traz um tipo de trabalhador que não se encontra no país importador. Ou ainda pessoas que topam salários e serviços que os locais não aceitam.

Este é o caso da importação de médicos pelo governo brasileiro. Tanto que os estrangeiros só poderão exercer um tipo de medicina e apenas nos lugares para os quais foram designados. Não vieram para transmitir alguma ciência ou prática nova. O médico de família e o atendimento básico não são novidades por aqui.

Mas são insuficientes, diz o governo. É um argumento. As entidades médicas brasileiras, portanto, não têm razão quando se opõem à importação em si.

Ocorre que a história não termina aí. Tão normal quanto a importação de trabalhadores é a exigência de qualificação — algum tipo de avaliação do profissional estrangeiro para saber se atende às necessidades nacionais. Todos os países fazem isso.

Portanto, o governo brasileiro pode abrir uma espécie de concurso internacional para contratar médicos. Mas, primeiro, eles têm que passar por prova de capacitação, como passa qualquer brasileiro quando entra para qualquer serviço público. Segundo, esse mercado deve ser livre.

Assim: o país importador oferece a oportunidade e dá as condições de trabalho, os estrangeiros, pessoalmente, se candidatam, fazem os testes e assinam o contrato. Esse documento, obviamente, pode ser rescindido. Imagine que o médico chega numa cidade remota e verifica que não tem a menor condição de atender. Ou não recebe o salário acertado. Ele pode retirar-se e rescindir o contrato. Inversamente, se começa a fazer besteira, o governo, o contratante, pode afastá-lo.

E se o médico, afinal, achar que entrou numa fria, e que sua família não se adaptou — ele pode pegar um ônibus, ir até o aeroporto mais próximo e embarcar, com seu passaporte e o de seus familiares, de volta para casa. Ou para Miami.

Essa é a situação dos médicos argentinos ou portugueses. Não é, obviamente, o caso dos cubanos. Estes não têm o contrato de trabalho com o governo brasileiro ou outra entidade local, não recebem salário brasileiro, não têm o direito de desistir, têm passaporte que só dá direito de voltar a Cuba, não têm, pois, a liberdade de deixar o Brasil e ir para qualquer lugar que desejarem.

São funcionários do governo cubano, destacados para trabalhar no Brasil — sob as regras contratuais do regime cubano, uma ditadura. E não poder trazer a família, que permanece refém em Cuba, sem poder viajar para o Brasil ou para qualquer outro lugar — isso é de uma violência sem limite.

Os médicos ficam presos no Brasil, suas famílias, em Cuba. Parece exagerado, mas é a pura verdade. Tanto que o governo brasileiro foi logo avisando os doutores cubanos que não tentem fugir ou pedir asilo, porque serão presos e deportados.

Por isso, não vale a comparação com empresas brasileiras que levam trabalhadores brasileiros para suas obras em outros países. Os brasileiros foram livremente e podem voltar ao Brasil (ou qualquer lugar) quando quiserem.

Tudo considerado, o governo brasileiro pode importar médicos, mas não praticar a violação de direitos humanos embutida no contrato dos cubanos. Os médicos brasileiros podem exigir provas de validação dos estrangeiros. Mas não podem hostilizar pessoalmente os cubanos. Tirante os militantes, a situação pessoal deles é penosa.

O governo brasileiro mentiu várias vezes nesse episódio. Em maio último, o então chanceler Patriota havia dito que se preparava a importação de 6 mil cubanos. Dada a reação ruim, o ministro Padilha disse que o governo havia desistido do projeto. Agora, assim de repente, aparecem 4 mil médicos preparados para vir ao Brasil.

O governo apenas aproveitou o momento para lançar o Mais Médicos, com esse propósito principal de trazer os cubanos. Com marketing: quem pode ser contra a colocação de médicos em lugares carentes? Por outro lado, a presidente Dilma comprou uma briga feia com os médicos brasileiros, caracterizados como ricos insensíveis no discurso oficial e aliado. Uma ofensa, claro, mesmo considerando que há médicos que não cumprem suas obrigações. A grande maioria está aí, ralando.

Finalmente, e se algum cubano entrar, por exemplo, na embaixada dos EUA e conseguir refúgio, o que fará o governo brasileiro?
E se algum cubano entrar, por exemplo, na  embaixada dos EUA e conseguir refúgio, o que fará o governo brasileiro? 
Carlos Alberto Sardenberg é jornalista
* Texto publicado no Globo de hoje

Decisão sobre asilo ou extradição de Molina é de Dilma, diz ministro

MUNDO


O Globo
O novo ministro das Relações Exteriores, Luiz Alberto Figueiredo Machadi, disse, nesta quarta-feira, 28, que "não há uma crise com a Bolívia" e que a decisão sobre a manutenção do asilo ou uma possível extradição do senador boliviano Roger Pinto Molina (foto abaixo) cabe à presidente Dilma Rousseff.
"Quem conduz essa questão é a presidente Dilma. Os dois governos estão em contato permanente, portanto não há uma crise com a Bolívia em si. Há conversas em curso e será feito o que a presidente determinar", disse o chanceler em entrevista coletiva, poucas horas após ser empossado por Dilma em cerimônia no Palácio do Planalto.

 O novo ministro das Relações Exteriores, Luiz Alberto Figueiredo Machadi, disse, nesta quarta-feira, 28, que "não há uma crise com a Bolívia" e que a decisão sobre a manutenção do asilo ou uma possível extradição do senador boliviano Roger Pinto Molina cabe à presidente Dilma Rousseff.
"Quem conduz essa questão é a presidente Dilma. Os dois governos estão em contato permanente, portanto não há uma crise com a Bolívia em si. Há conversas em curso e será feito o que a presidente determinar", disse o chanceler em entrevista coletiva, poucas horas após ser empossado por Dilma em cerimônia no Palácio do Planalto.
Nesta quarta, o presidente da Bolívia, Evo Morales, disse que o Brasil deveria "devolver" o senador ao país. "O que cabe ao Brasil é devolver Roger Pinto para que ele se submeta à Justiça boliviana. Seria a melhor forma de contribuir com a luta contra a corrupção", afirmou o presidente boliviano em declaração à imprensa, sobre o senador, opositor ao seu governo.
Figueiredo Machado substituiu Antonio Patriota, demitido após Pinto Molina sair da embaixada brasileira em La Paz e chegar ao Brasil no fim de semana sem o conhecimento do governo.
Investigação
O novo ministro não quis se manifestar diretamente sobre o episódio, alegando que uma comissão está investigando a ação, planejada pelo encarregado de negócios da embaixada brasileira na Bolívia, Eduardo Saboia.
"Você pode imaginar que tudo o que o ministro disser nesta hora, de alguma forma, pode dirigir o trabalho da comissão. Não é porque eu não tenha opinião, eu tenho. Mas acho que não seria adequado , neste instante, eu dizer algo", declarou o chanceler. Ele garantiu que será dado "o pleno direito à defesa" para Saboia e que não é possível determinar quando a investigação será concluída.


 

Para segurar inflação, BC sobe juros a 9%, na 4ª alta seguida

ECONOMIA


Gabriela ValenteRonaldo D'Ercole e João Sorima Neto, O Globo
Mesmo com o cenário econômico cada vez mais turbulento e incerto, o Banco Central decidiu manter o plano de voo e aumentou a taxa básica (Selic) em 0,5 ponto percentual. Por unanimidade, o Comitê de Política Monetária (Copom) elevou os juros de 8,5% para 9% ao ano.
Foi a quarta alta seguida e a terceira nessa proporção. A decisão foi tomada num ambiente repleto de dúvidas sobre a economia mundial e sobre os reflexos no Brasil. No radar da cúpula do BC, estão uma possível guerra na Síria, a pressão sobre o dólar por causa do fim dos estímulos à economia americana, uma provável alta da gasolina e novas ameaças à inflação brasileira como a seca nos EUA.
Após a reunião, que terminou mais cedo do que de costume, o BC publicou exatamente o mesmo comunicado divulgado nos dois encontros anteriores. No curtíssimo texto, disse que a decisão mira no controle dos preços em 2014. Com isso, os diretores deram a entender que continuarão a subir os juros na mesma dose usada na quarta-feira.

 BRASÍLIA E SÃO PAULO - Mesmo com o cenário econômico cada vez mais turbulento e incerto, o Banco Central decidiu manter o plano de voo e aumentou a taxa básica (Selic) em 0,5 ponto percentual. Por unanimidade, o Comitê de Política Monetária (Copom) elevou os juros de 8,5% para 9% ao ano. Foi a quarta alta seguida e a terceira nessa proporção. A decisão foi tomada num ambiente repleto de dúvidas sobre a economia mundial e sobre os reflexos no Brasil. No radar da cúpula do BC, estão uma possível guerra na Síria, a pressão sobre o dólar por causa do fim dos estímulos à economia americana, uma provável alta da gasolina e novas ameaças à inflação brasileira como a seca nos EUA.

“O comitê avalia que essa decisão contribuirá para colocar a inflação em declínio e assegurar que essa tendência persista no próximo ano”, afirmou o Copom em nota.Após a reunião, que terminou mais cedo do que de costume, o BC publicou exatamente o mesmo comunicado divulgado nos dois encontros anteriores. No curtíssimo texto, disse que a decisão mira no controle dos preços em 2014. Com isso, os diretores deram a entender que continuarão a subir os juros na mesma dose usada na quarta-feira.
— A decisão, em linha com que esperava o mercado, e o mesmo teor do comunicado mostram que eles entendem que o ritmo é adequado e a aposta óbvia é que haverá mais uma alta de 0,5 ponto percentual — afirmou o economista-chefe do Santander, Maurício Molan.
Para o economista-chefe da corretora Gradual, André Perfeito, o Copom deveria ter sido mais claro. Ele apostava que o BC usaria a comunicação para atacar um dos principais problemas da inflação: o aumento das previsões dos agentes econômicos que contaminam as projeções de preços.
— O Copom perdeu uma chance maravilhosa de ancorar melhor as expectativas com um comunicado mais explícito — criticou.
Fiesp e Firjan cobram melhora na política fiscal
Apesar de a maioria do mercado esperar esse desfecho, alguns especialistas passaram a admitir na terça-feira a possibilidade de uma alta mais intensa, de 0,75 ponto percentual. A hipótese surgiu por causa da alta do dólar. Quanto maior a cotação da moeda americana, mais pressão para a inflação, já que o Brasil é um grande consumidor de produtos importados.
Para o ex-diretor do BC Alexandre Schwartsman, o câmbio é o fator doméstico mais perigoso. Ele ressalta que, apesar da queda da moeda americana na quarta-feira, que fechou em queda de 0,84% a R$ 2,348, o patamar do dólar é bem mais alto do que o de julho, quando estava em R$ 2,25. Apesar do cenário de tensão no mercado internacional com a perspectiva de uma intervenção militar na Síria, operadores justificaram a queda do dólar citando as intervenções programadas do Banco Central no mercado futuro até o fim do ano. No mercado de ações, a Bolsa registrou o terceiro pregão de queda, com desvalorização de 0,45%, aos 49.866 pontos.
Schwartsman lembra que as altas dos juros feitas agora não combatem o efeito imediato do dólar nos preços internos, porque demora uns seis meses para o remédio do BC começar a fazer efeito. E justamente por causa dessa defasagem, o economista afirma que não espera que o Copom promova todo o aumento dos juros necessário para conter a inflação.
— O Banco Central tem restrições políticas para isso. Estamos em ano pré-eleitoral e como os próximos aumentos dos juros terão impacto só no ano que vem, primeiro no crescimento e só depois nos preços, duvido que o BC irá até onde for preciso — disse Schwartsman.
Após a ação do BC, o Brasil ficou em terceiro lugar no ranking de juros reais, com uma taxa de 2,8% ao ano, atrás de Chile (3,1%) e China (3,3%). Os dados são do site de informações financeiras Moneyou, com informações de 40 países.
— Nossa taxa real está impactada pela perspectiva de inflação mais forte nos próximos 12 meses. Embora estejamos de novo subindo os juros, não significa que vamos retomar a atração dos investidores externos no curto prazo, por causa dos riscos regulatórios que veem no Brasil atualmente —disse o economista Jason Vieira, diretor da Moneyou.
Na previsão dos economistas ouvidos semanalmente pelo Banco Central, os diretores do Copom ainda subirão os juros mais uma vez. Se isso ocorrer, a taxa chegará a 9,5% ao ano.
Mesmo com a deterioração das expectativas, Perfeito acredita que a decisão de manter a dose do remédio contra a inflação estava dada, porque além das incertezas, o BC deve esperar novos dados da economia brasileira, como o crescimento do segundo trimestre, que será divulgado amanhã.
As principais entidades empresariais cobraram do governo mas rigor na política fiscal para restabelecer o equilíbrio da inflação sem sacrificar a economia com juros mais altos. Paulo Skaf, presidente da Federação das Indústrias de São Paulo (FIesp), disse que o Copom “errou novamente” ao elevar a Selic diante do “quadro letárgico” da economia.
— Não é hora de subir juros. Há muito tempo pedimos mudanças na política econômica, na direção de maior controle de gastos e menos uso da taxa de juros — disse Skaf.
Em comunicado, a Federação das Indústrias do Rio de Janeiro (Firjan) insiste na necessidade de correção no mix de políticas do governo, “de forma que a política fiscal contribua no combate à inflação e na retomada da confiança dos empresários e investidores estrangeiros”.
As centrais sindicais engrossaram o coro de críticas à decisão do Copom. Paulo Pereira da Silva, o Paulinho, presidente da Força Sindical,disse que elevar a Selic “só contribui para a redução de investimentos no setor produtivo, obrigando o governo a pagar mais juros a especuladores”.


Blecaute atinge todo Nordeste, com corte de 10.900 MW de energia

Reuters
Por Anna Flávia Rochas e Rodrigo Viga Gaier
SÃO PAULO/RIO DE JANEIRO, 28 Ago (Reuters) - A região Nordeste do país
 sofreu nesta quarta-feira um blecaute de grandes proporções provocado por uma
 queimada no Piauí, que levou ao desligamento de duas linhas de transmissão e ao
 corte de 10.900 megawatts (MW) de carga de  energia, informou o Operador Nacional
do Sistema Elétrico (ONS).
A interrupção do fornecimento de eletricidade, iniciada por volta das 15h, afetou
 áreas de todos os  Estados do Nordeste --Pernambuco, Bahia, Rio Grande do Norte,
 Piauí, Alagoas, Ceará, Paraíba,  Sergipe e Maranhão--, no primeiro grande blecaute
 a atingir o país este ano. "Queimada provoca esse tipo de desligamento, lamentavelmente
 acontece...Isso já aconteceu outras vezes no Brasil e no mundo inteiro isso acontece", disse
 o ministro de Minas e Energia, Edison Lobão, a jornalistas, na tarde desta quarta-feira.
O ONS informou, por meio de nota, que às 14h58 ocorreu o desligamento da linha de
 transmissão de 500 kV Ribeiro Gonçalves-São João do Piauí (circuito 2), da IENNE,
empresa controlada pela espanhola Isolux, devido ao foco de calor da queimada. Às
15h04, esse circuito foi religado  manualmente, mas às 15h06 houve um outro desligamento
 pela mesma razão.
A segunda linha Ribeiro Gonçalves-São João do Piauí (circuito 1), da Taesa,
controlada pela Cemig, também foi desligada às 15h08, devido à queimada. Com isso,
 houve perda de sincronismo do sistema.
"Com isso, todo o Nordeste ficou separado do restante do sistema interligado
e aí a carga (consumo)  é muito maior que a geração (de energia) da região e aí
houve o desligamento", disse o diretor-geral do ONS, Hermes Chipp, a jornalistas.
Segundo Chipp, a queimada foi espontânea, o que é normal nessa época do ano.
 Até o final desta quarta-feira, Chipp disse que todo o fornecimento de energia nas
 áreas atingidas estará reestabelecido.
Uma reunião extraordinária do Comitê de Monitoramento do Setor Elétrico (CMSE)
 foi convocada  para quinta-feira, 11 horas, informou assessoria de imprensa do
Ministério de Minas e Energia.
Fontes do setor afirmaram à Reuters na semana passada que os reservatórios das
 hidrelétricas brasileiras estão, em geral, em níveis que não geram preocupações.
 Mas alertaram que o Nordeste necessita atenção, já que as represas estão em níveis
 baixos e existe limitação para exportar energia de outras áreas do país para a região,
onde o consumo continua crescendo.
HISTÓRICO
A mitigação dos riscos na oferta de energia ganha ainda mais importância com a
 exposição externa que o Brasil terá ao sediar a Copa do Mundo de 2014 e os Jogos
Olímpicos de 2016.
No ano passado, pelo menos seis apagões de energia de maior porte ocorreram no
 Brasil, todos eles no segundo semestre e a maioria por ocorrências na área de transmissão.
 Quase todos afetaram a região Nordeste.
As sucessivas quedas de energia em 2012 levantaram dúvidas sobre a segurança do sistema
 elétrico brasileiro, área em que a presidente Dilma Rousseff deu início à trajetória que a
 levaria ao Palácio do Planalto.
Autoridades do governo têm afirmado repetidamente que o sistema elétrico brasileiro
é seguro.
(Edição de Cesar Bianconi e Raquel Stenzel)


Maria do Rosário reconhece dificuldades da Comissão da Verdade

POLÍTICA


Mariana Timóteo da Costa, O Globo
A ministra-chefe da Secretaria de Direitos Humanos da Presidência da República, Maria do Rosário (foto abaixo), reconheceu nesta quarta-feira que há dificuldades no trabalho da Comissão Nacional da Verdade; mas negou uma crise, classificando como “injustas” as críticas à presidente Dilma Rousseff.
Elas ocorrem em relação à demora na nomeação de novos integrantes para vagas em aberto, assim como pela condução de problemas internos da comissão — conforme afirmou nesta quarta-feira o ministro Gilson Dipp, do Superior Tribunal de Justiça.
Em visita ao Largo de São Francisco, a faculdade de Direito da Universidade de São Paulo (USP), onde encontrou-se com ativistas de direitos humanos numa reunião preparatória para um fórum mundial que será realizado em dezembro, Maria do Rosário disse que o trabalho da Comissão da Verdade é “efetivamente difícil e com tensões, mexendo com questões muito fortes para o Brasil e para as pessoas que estão na linha do trabalho”.


SÃO PAULO - A ministra-chefe da Secretaria de Direitos Humanos da Presidência da República, Maria do Rosário, reconheceu nesta quarta-feira que há dificuldades no trabalho da Comissão Nacional da Verdade; mas negou uma crise, classificando como “injustas” as críticas à presidente Dilma Rousseff. Elas ocorrem em relação à demora na nomeação de novos integrantes para vagas em aberto, assim como pela condução de problemas internos da comissão — conforme afirmou nesta quarta-feira o ministro Gilson Dipp, do Superior Tribunal de Justiça.
Em visita ao Largo de São Francisco, a faculdade de Direito da Universidade de São Paulo (USP), onde encontrou-se com ativistas de direitos humanos numa reunião preparatória para um fórum mundial que será realizado em dezembro, Maria do Rosário disse que o trabalho da Comissão da Verdade é “efetivamente difícil e com tensões, mexendo com questões muito fortes para o Brasil e para as pessoas que estão na linha do trabalho”.

Maria do Rosário já contabiliza como resultado positivo iniciativas para mudança em atestados de óbito, cujo exemplo maior é o atestado do jornalista Vladimir Herzog, assim como o conhecimento, segundo ela “efetivo”, das circunstâncias da morte do deputado Rubens Paiva.— É natural que existam tensões e possam existir até dificuldades, estilos diferentes entre quem faça o trabalho. Mas nós temos absoluta segurança como governo, pelo incentivo que demos para a criação da comissão, que ela trará resultados muito positivos para o Brasil — declarou a ministra.
Maria do Rosário assegurou que o governo “está tranquilo que essas circunstâncias, que podem parecer complexas e contraditórias, serão superadas e enfrentadas pelos coordenadores” — reiterando o apoio da Presidência ao novo coordenador da comissão, João Carlos Dias.
Sobre as vagas em aberto — a do ministro Gilson Dipp, afastado por motivos de saúde, e a do ex-procurador da República Claudio Fonteles, que demitiu-se —, Maria do Rosário negou que Dilma esteja demorando a nomear sucessores.
— É injusto dizer que ela está demorando. Porque ela está produzindo sua escolha com base em primeiro lugar no diálogo com o próprio ministro Dipp, além de com os outros integrantes da comissão — disse Maria do Rosário, que, depois do evento na USP, voltou a criticar a ação da polícia especialmente nas periferias brasileiras. — Devemos reconhecer que já existem iniciativas positivas em curso (sobre reformas nas polícias), mas precisamos reconhecer também que a reforma democrática do Brasil não aconteceu nas polícias.


STF reduz multa de Marcos Valério e rejeita recursos de José Genoino

POLÍTICA


Mariângela Gallucci e Valmar Hupsel Filho, Estadão
Os ministros do Supremo Tribunal Federal confirmaram nesta quarta-feira, 28, as penas estabelecidas para os deputados José Genoino (PT-SP, foto abaixo) e Pedro Henry (PP-MT) e para o empresário Marcos Valério Fernandes de Souza por envolvimento com o escândalo do mensalão.
Com a sessão, o STF contabiliza a análise de embargos declaratórios — recursos que apontam incongruências no julgamento — de 17 dos 25 condenados. A expectativa entre os ministros é de que o julgamento de todos os recursos seja encerrado nas próximas semanas. Antes disso, porém, eles terão de decidir se vão aceitar ou não os chamados embargos infringentes - recursos que pedem novo julgamento no caso de condenação com placar apertado.


Os ministros do Supremo Tribunal Federal confirmaram nesta quarta-feira, 28, as penas estabelecidas para os deputados José Genoino (PT-SP) e Pedro Henry (PP-MT) e para o empresário Marcos Valério Fernandes de Souza por envolvimento com o escândalo do mensalão.
Com a sessão, o STF contabiliza a análise de embargos declaratórios — recursos que apontam incongruências no julgamento — de 17 dos 25 condenados.
A expectativa entre os ministros é de que o julgamento de todos os recursos seja encerrado nas próximas semanas. Antes disso, porém, eles terão de decidir se vão aceitar ou não os chamados embargos infringentes - recursos que pedem novo julgamento no caso de condenação com placar apertado.
Ao concordar com a pena de 6 anos e 11 meses imposta a José Genoino, o ministro Luís Roberto Barroso, novato no STF, criticou o sistema político brasileiro e disse lamentar o fato de ter de condenar um homem que participou da resistência à ditadura e do processo de reconstrução democrática. Barroso ressaltou que, ao que tudo indica, Genoino vive modestamente.
“Temos um sistema político distorcido e perverso, indutor da criminalidade. De um lado, há parlamentares eleitos em campanhas de custos estratosféricos, que transformam o Parlamento em um balcão de negócios. E, de outro lado, condenados por corrupção ativa, líderes do governo, querendo implementar a sua agenda política - reformas como a da Previdência, Tributária -, e comprando aquilo que consideravam o interesse público. Essa é a dura realidade: um modelo político no qual o interesse público frequentemente precisa ser comprado”, afirmou o ministro.
Rigor. Pedro Henry teve confirmada a pena de 7 anos e 2 meses de prisão. No caso de Marcos Valério, os ministros rejeitaram a alegação de que a Corte teria fixado pena muito rigorosa para o crime de formação de quadrilha com o objetivo de evitar a prescrição e, consequentemente, garantir a punição do réu.
Revisor do processo, Ricardo Lewandowski afirmou que a pena para esse delito, estabelecida no caso de Marcos Valério em 2 anos e 11 meses, foi fixada em patamares muito superiores às punições impostas para outros crimes. Para ele, o STF alargou a pena apenas para que o crime não fosse prescrito. “Não poderia a Corte aumentar a pena para escapar da prescrição”, afirmou Lewandowski.
Presidente do STF e relator do processo, o ministro Joaquim Barbosa rebateu os argumentos e disse que a fixação da pena ocorreu de forma transparente. “(Valério) era simplesmente o pivô de todas as tramas”, disse.
A decisão desta quarta-feira reforça a percepção de que o ex-ministro José Dirceu, considerado o chefe de uma quadrilha formada para comprar apoio político para o governo Luiz Inácio Lula da Silva, não deve ter sucesso na sua tentativa de reduzir a pena por formação de quadrilha.
Os ministros também analisaram o valor da multa imposta a Marcos Valério. Eles alteraram o montante, fixado originalmente em R$ 3,29 milhões, para R$ 3,06 milhões. Havia dúvidas sobre a quantia porque o valor havia sido impresso incorretamente num trecho do acórdão.

Quem deveria sentar no banco dos réus, por Ricardo Noblat

MUNDO


Finalmente apareceu alguém sem medo de confrontar a presidente da República - o diplomata Eduardo Saboia, cérebro da operação que resultou na retirada da Bolívia do senador Roger Pinto Molina, refugiado em nossa embaixada de La Paz há mais de 450 dias.
O Brasil acatara o pedido de asilo político dele, que denunciara autoridades do seu país por envolvimento com narcotráfico. A Bolívia negara o salvo-conduto para que Roger deixasse o país em segurança sob a acusação de que é corrupto.
Saboia disse que Roger não podia receber visitas. Nem circular dentro do prédio da embaixada. Nem se comunicar com a família. Nem tomar banho de sol. Uma autoridade do governo boliviano comentou certa vez que ele ficaria ali até morrer.

Eduardo Saboia

- Você imagina ir todo dia para o seu trabalho e ter uma pessoa trancada num quartinho do lado, que não sai? Aí vem o advogado e diz que você será responsável se ele se matar. Eu me sentia como se fosse o carcereiro dele, como se eu estivesse no DOI-Codi.
Presidente da República não bate-boca com funcionário de escalão inferior. Dilma bateu ao dizer ter provado da desumanidade dos DOI-CODIs. E que a distância que os separava das condições de vida na embaixada de La Paz equivalia à distância entre céu e inferno.
O dia sequer terminara e Saboia já replicava Dilma. "Eu que estava lá, eu que posso dizer. O carcereiro era eu. Ninguém mais viu aquela situação", respondeu. Desautorizou a presidente, portanto. E sugeriu que ela nada poderia falar a respeito porque simplesmente não estava lá.
Nenhum ministro, senador, deputado ou presidente de um dos poderes da República foi tão longe em relação a Dilma quanto Saboia, um mero encarregado de negócios que respondia por uma embaixada de segunda classe na ausência do embaixador.
Mas, de duas, uma. Dilma e o bando de assessores que a cercam não prestaram atenção no que afirmou Saboia. Ou prestaram, mas a presidente quis bancar a esperta e mudar o foco da discussão sobre o traslado do senador. Até este momento, a discussão é favorável a Saboia.
Recapitulemos. Disse Saboia: “Eu me sentia como se fosse o carcereiro dele, como se eu estivesse no DOI-Codi”. Era Saboia, bancando o carcereiro, quem se sentia como se estivesse no DOI-CODI. Não disse que o senador enfrentava condições semelhantes às dos DOI-CODIs.
As palavras ditas por Dilma: “Eu estive no DOI-Codi, eu sei o que é o DOI-Codi. E asseguro a vocês que é tão distante o DOI-Codi da embaixada brasileira lá em La Paz (Bolívia) como é distante o céu do inferno”.
Em resumo: Saboia disse uma coisa. Dilma, outra.
No último sábado, ao ficar sabendo que Roger chegara a Corumbá depois de rodar mais de mil e quinhentos quilômetros dentro de um carro da embaixada acompanhado por Saboia e dois fuzileiros navais, Dilma só faltou escalar as paredes do Palácio da Alvorada.
Cobrou a demissão imediata de Saboia ao ministro Antonio Patriota, das Relações Exteriores. Patriota estava em São Paulo pronto para viajar à Finlândia. Dilma foi grosseira com ele, como de hábito. Mandou que retornasse a Brasília. E o demitiu em seguida.
A indignação de Dilma tem a ver com duas coisas. A primeira: ela ficou mal diante do presidente Evo Morales. Que acusou o Brasil de desrespeitar tratados internacionais ao providenciar a fuga de Roger sem que ele tivesse obtido antes um salvo-conduto.
A segunda coisa: Dilma tem medo de que reste provada a negligência do governo brasileiro no caso do senador boliviano. Saboia tem como provar a negligência. E para evitar que o governo tente por um fim em sua carreira diplomática de mais de 20 anos, está disposto a provar.
- Eu perguntava da comissão bilateral para resolver a questão do senador, e as pessoas me diziam: "Olha, aqui [no Brasil] é empurrar com a barriga.". Tenho e-mails dizendo: "A gente sabe que é um faz de conta, eles fingem que estão negociando e a gente finge que acredita".
Tem um filme na praça chamado “Hannah Arendt”. Conta a história do julgamento em Jerusalém do carrasco nazista Adolf Eichmann. E da cobertura do julgamento feita para a revista americana The New Yorker pela filósofa judia de origem alemã Hannah Arendt.
A teoria da “banalidade do mal” começou a nascer ali quando Hannah se convenceu de que Eichmann, de fato, não se sentia responsável pela morte de milhões de judeus. Ele não se cansou de repetir em sua defesa: apenas cumprira ordens.
Ninguém ordenou que Saboia tentasse salvar a vida do senador boliviano que ameaçava se matar, segundo atestados médicos. Mas sentindo-se responsável por ele, Saboia decidiu em certo momento obedecer ao que mandava a sua própria consciência.
Alguns dias antes de fazê-lo, despachou para o Itamaraty uma mensagem antecipando o que iria se passar. A resposta foi o silêncio. Quem por aqui se lixava para a sorte do senador boliviano? Quem em La Paz se lixava?
Por negligência, omissão e desumanidade, Saboia não poderá ser punido. Não deverá ser punido. Não merece ser punido. Por tais crimes são outros que deveriam sentar no banco dos réus.

Razões humanitárias, por Mara Bergamaschi

POLÍTICA


Além de serem assuntos polêmicos da semana, o que há em comum entre a chegada dos médicos cubanos e do senador boliviano ao Brasil? Razões humanitárias, alegadas nos dos dois episódios. Vamos começar pelo Ministério da Saúde; ao final passaremos ao das Relações Exteriores.
É a “primazia do bem da vida sobre todos os demais interesses” - como escreveu o juiz de Minas, João Batista Ribeiro, ao negar liminar ao Conselho Regional de Medicina (CRM) contra o Programa Mais Médicos -, que deixa o governo confortável diante dos críticos à contratação de estrangeiros.
Como se opor, como destacou o juiz, ao fato de “a população carente e marginalizada poder dispor, pela primeira vez, de assistência médica, nos mais variados rincões do País, podendo prolongar suas expectativas de vida?” Seria desumano, não é mesmo?
Esse é o argumento, também explorado por Brasil e Cuba, que precede e supera todos os demais, facilitando o marketing político. E é isso que os nossos doutores, talvez por terem a morte como fiel escudeira nos depauperados hospitais públicos, ignoram em sua guerra corporativa.
O que temos de saber é se a empreitada vai dar certo para os estrangeiros, em sua maioria cubanos propagandistas de uma “medicina do oprimido”, e para a população brasileira mais vulnerável. Para os governantes de ambos já deu.
São evidentes os potenciais ganhos eleitorais em 2014 para a presidente Dilma Rousseff, candidata à reeleição, e para o ministro da Saúde, Alexandre Padilha, que deverá disputar o governo de São Paulo.
Com a papelada pronta em tempo recorde, Cuba, por sua vez, receberá logo do Brasil mais de R$ 500 milhões. Um gasto suportável no orçamento da União de 2013. Até 18 de agosto, foram gastos R$ 47 bilhões (de um total de R$ 100 bilhões) com o Ministério da Saúde e R$ 37 bilhões com o da Educação – mesmo valor desembolsado com o Desenvolvimento Social.


Itamaraty - Foi também por razões humanitárias – não reconhecidas por uma irada Dilma - que o diplomata Eduardo Saboia disse ter organizado, sem consulta ao Itamaraty, a fuga para o Brasil do senador boliviano Roger Pinto, asilado há 15 meses na embaixada brasileira em La Paz.
O diplomata, que é filho do ex-embaixador em Haia e na ONU Gilberto Saboia, afirmou que o senador, desafeto de Evo Morales, estava deprimido com o confinamento e ameaçava-se suicidar.
Saboia, agora processado por quebra de hierarquia, disse ainda que, ao agir em defesa de uma vida, cumpriu seu dever ético e funcional. Sua atitude insurgente custou o cargo do chanceler Antônio Patriota. E mostrou que presidente não é rei – como parecem pensar os ocupantes do Palácio do Planalto.

Mara Bergamaschi é jornalista e escritora. Foi repórter de política do Estadão e da Folha em Brasília. Hoje trabalha no Rio, onde publicou pela 7Letras “Acabamento” (contos,2009) e “O Primeiro Dia da Segunda Morte” (romance,2012). É co-autora de “Brasília aos 50 anos, que cidade é essa?” (ensaios,Tema Editorial,2010). Escreve aqui às quintas-feiras.

Crise econômica contribui para elevar tendência ao suicídio nos EUA



A crise econômica dos Estados Unidos resultou em um novo problema para os norte-americanos: vem crescendo o número de pessoas que procuram a ajuda dos centros de prevenção a suicídios. O incremento ao longo do ano é de cerca de 30%.
Em Los Angeles, na Califórnia, um dos Estados mais castigados pela crise econômica, o número de chamadas aos centros de prevenção a suicídios aumentou 80% em dezembro de 2008 na comparação com o mesmo mês de 2007. Foram 2.748 chamadas, contra 1.553. A curva no gráfico acompanha a escalada do índice de desemprego.
“Há uma sensação geral de desesperança, comparável ao que vimos depois dos atentados de 11 de Setembro”, diz Kita Curry, presidente do Centro Comunitário de Saúde Mental do Condado de Los Angeles. “Muitas das pessoas que ligam falam de um mundo que parece desolador.”
Enquanto os norte-americanos não se preocupavam muito com o extrato bancário, os centros eram demandados principalmente por portadores de distúrbios mentais. E os atendentes também ouviam problemas do tipo “eu amo meu namorado, mas ele não me quer”.
Ao longo deste ano, no entanto, à medida em que as empresas mandavam as pessoas para casa e os bancos tomavam as casas para cobrir empréstimos, o telefone começou a tocar com mais frequência, e as conversas se tornaram mais tristes.
De acordo com Kita Curry, as pessoas são afetadas não apenas por aquilo que acontece em suas próprias vidas, mas também com as pessoas do seu entorno, que funcionam como uma rede de apoio emocional.
“Se estas pessoas também estão experimentando perdas, elas podem não estar disponíveis para dar apoio. Uma pessoa que hoje liga para os centros pode ter sido confortada por um amigo anteriormente. Mas agora este mesmo amigo também pode estar sofrendo os efeitos da recessão, de maneira que a pessoa em crise já não pode contar com ele”, explica.
O Serviço Nacional de Prevenção ao Suicídio, que administra 135 centros espalhados pelo país, começou o ano registrando 39 mil ligações ao mês. E chegou ao final de 2008 com cerca de 50 mil. D
esde que foi lançado, em janeiro de 2005, o serviço já recebeu mais de 1 milhão de chamadas. “Estresses pela perda da casa ou do emprego podem colaborar para elevar o nível de risco de uma pessoa”, afirma Richard McKeon, secretário de Saúde Pública da Agência de Saúde Mental dos Estados Unidos.
De acordo com os especialistas, os suicídios raramente acontecem por apenas um motivo. Em geral, múltiplos problemas e fatores de risco, tais como depressão ou abuso de substâncias tóxicas, se combinam para aumentar o risco. Segundo Mckeon, “problemas econômicos que levam a sentimentos de desesperança ou desespero podem aumentar claramente o risco de suicídio”.
Entre os sinais de comportamento suicida, os psicólogos citam a perda de humor, desesperança, desespero, ansiedade, tensão, aumento do consumo de álcool e outras drogas.
A pessoa também passa a sofrer acessos de impulsividade, correndo riscos desnecessários. Isto não significa que as pessoas que apresentam um ou mais destes sintomas são suicidas, mas eles podem indicar uma tendência e elas devem ser incentivadas a buscar apoio.
No Brasil, várias instituições prestam o serviço, entre eles, o Centro de Valorização da Vida (telefone 141), que tem 48 postos pelo país e atende 24 horas por dia.

O plebiscito do Senado, por Ilimar Franco

POLÍTICA


Ilimar Franco, O Globo
O presidente do Senado, Renan Calheiros (PMDB), anuncia hoje projeto de resolução para realizar um plebiscito sobre a reforma política nas eleições de 2014. Os temas: coincidência das eleições; fim ou não da reeleição; financiamento público ou privado; sistema eleitoral; fim ou não das coligações. Renan não acredita que prospere na Câmara o plebiscito proposto ontem pelo PT.

Renan Calheiros, presidente do Senado