sexta-feira, 19 de julho de 2013

Geração Facebook diz “não” à Força Sindical, à CUT e aos partidos políticos, e Dia Nacional de Lutas vira um grande mico. Falha tentativa dos “aparelhos” de ganhar as ruas



Micou de maneira retumbante o tal Dia Nacional de Lutas. A CUT, a Força Sindical, outras centrais e os partidos políticos de esquerda foram malsucedidos na tentativa de pegar carona da onda de protestos que sacudiu o país. Houve, sim, muita atrapalhação nas estradas, ocupação em porto, escaramuças, dificuldades aqui e ali, mas nada nem remotamente parecido com os protestos havidos no mês passado. ATENÇÃO, LEITOR! Se eu fosse um desses “cientistas sociais” que têm medo dos seus alunos e gostam de posar de moderninhos – aquela gente, sabe?, que agora deu para falar em “crise da democracia representativa” –, estaria achando lindo o que aconteceu. Mas eu não acho, não. Na verdade, o evento desta quinta jogou ainda mais luzes sobre os havidos no mês passado e só reforçou alguns temores que eu tinha. O que significa o micão desta quinta, em contraste com aquele milhão e meio de dias atrás? Significa que reivindicar o inexequível é bem mais gostoso, o que nos remete a um dos lemas de Maio de 1968, na França: “Seja realista, peça o impossível”. O evento também expõe uma das forças e, ao mesmo tempo, das maiores fragilidades da “onda de protestos” no Brasil: a composição social de quem vai ou foi às ruas. O primeiro passo para responder de forma eficiente à realidade e admiti-la: os pobres, com raras exceções, preferiram, até agora, ficar em casa.
Assim, entendam direito o meu ponto: não lamento o fato de o protesto desta quinta ter sido malsucedido porque gostaria de ver a CUT, a Força e até os petistas a liderar a massa… Eu não! Deus me livre! Lastimo é que a pobreza de liderança política no Brasil se reflita também nos sindicatos e que estejamos sem o fio que possa desatar o nó. Vamos lá. Milhões de trabalhadores poderiam ter ocupado as praças para cobrar redução na jornada de trabalho, certo? É uma reivindicação muito mais, como direi?, palpável do que os tais 20 centavos. Mas aí alguém se lembrou de gritar: “Não é pelos 20 centavos”. E estava dada a deixa para uma mobilização que tem, sim, âncoras no mundo real – corrupção dos políticos, ineficiência do serviço público, gastança de dinheiro –, mas que se expressa numa espécie de bolha de sensações e de emoções. Para voltar a Maio de 1968, o que conta é fazer as barricadas do desejo. A utopia é a da ausência de estado, assuma isso a forma violenta (os baderneiros) ou pacífica (uma coisa, assim, “faça amor, não faça a guerra”).
Cobrar redução da jornada e fim do fator previdenciário, olhem que coisa!, parece apequenar o movimento e a razão por que se vai às ruas; é, como diriam os adolescentes hoje em dia (de maneira irritante), “tipo assim” coisa de pobre, de um pragmatismo incompatível com o sonho e com as evocações românticas. Os “sonháticos” querem um outro mundo possível… Não! Na verdade, pretendem um outro mundo… impossível. Nele, não só os políticos não roubam como, a rigor, não há políticos nem política.
É claro que eu poderia lembrar àqueles valentes cientistas sociais que têm medo de contrariar os alunos que também as manifestações de junho levaram às ruas as… minorias!, ainda que tenham mobilizado, sei lá, 20 ou 30 vezes mais gente do que a desta quinta-feira. Huuummm… Então vamos ver: líderes que efetivamente representam grupos e com os quais se podem fazer acordos mobilizam meia dúzia de gatos-pingados; não líderes – e que, portanto, não lideram, mas alçados pela imprensa à condição de estrelas da não representação – conseguem criar eventos que reúnem alguns milhares. Muito bem! O que se vai negociar com eles? Chamem a Mayara Vivian e os coxinhas radicais do Passe Livre… 
Há quem se deixe cair de encantos por um paradoxo cuja graça, havendo alguma, é não mais do que literária – e literatura meio velha, da década de 60: a “juventude” (ah, os tarados pela juventude…) que está nas ruas tem força, mas não sabe o que quer, e os que sabem o que querem já não têm força. Mas onde está a virtude desse troço? Se isso produzir algo, tenho minhas dúvidas, será, no máximo, um impasse. Para o qual ninguém tem resposta.
Dilma está encalacrada? Está, sim, de dois modos distintos: há o impasse de fundo, que diz respeito ao esgotamento do modelo lulo-petista, do qual, vamos ser francos, até havia pouco, a esmagadora maioria da imprensa não havia se dado conta. Ou havia? Leiam os jornais de há dois ou três meses. Com ou sem “povo” na rua, o país ia mal das pernas. E agora ela enfrenta o descontentamento com “tudo isso que está aí”. Ocorre que esse “tudo isso” pode se voltar contra qualquer um; ele é dirigido, na verdade, contra o governante de turno. E não consegue se transformar numa agenda.
Essa conversa mole da “sociedade horizontal”, sem hierarquia de valores, sem eixo e sem centro, sinto muito, é conversa de bêbados. É divertido e coisa e tal, mas sempre chega a hora de pagar a conta e de voltar para casa – sem contar a ressaca… Não vai a lugar nenhum e ainda pode produzir alguns desastres. Boa parte do que o Congresso votou até agora, emparedado pelas ruas, se querem saber, não é coisa boa e tende a ter efeitos deletérios. Na esfera econômica, o país vive um congelamento branco de tarifas públicas que pode ter efeitos desastrosos. Ensaia-se facilitação de mecanismos de democracia direta que, se efetivados, tornarão a democracia brasileira refém de minorias organizadas e barulhentas.
Caminhando para a conclusão
Sim, as centrais sindicais e os partidos quebraram a cara ao tentar, de maneira oportunista, pegar carona no movimento das ruas. Tiveram uma lição e tanto. Mas isso só nos diz o tamanho do impasse e os riscos que estão por aí. Não há nada de belo ou de bom numa sociedade sem interlocutores considerados confiáveis para articular o futuro. Vivemos, nesses dias, sob uma espécie de ditadura do presente.
Pode dar em quê? No quadro atual, há, sim, o risco de eleger em 2014 alguém que fale em nome da “não política”, e aí saberemos o que é crise! Mas o mais provável é que se tenha mesmo uma saída “conservadora” – no caso, conservadora do statu quo; vale dizer: a continuidade do petismo. E isso seria igualmente desastroso.
Por Reinaldo Azevedo

Dilma e Marina no segundo turno ou Lula no primeiro? Que tal uma injeção no olho, sem anestesia? Ou: Os pobres ainda não apareceram para falar


Uma pausa nas minhas férias para comentar pesquisa Estadão-Ibope de intenção de votos para a Presidência da República. Vocês encontram mais detalhes do portal do jornal. Destaco aqui alguns dados que me parecem relevantes. Também este levantamento, a exemplo de outros que o antecederam, registra a monumental despencada de Dilma Rousseff (PT), que caiu de 58% em março para 30% – no cenário em que aparecem Marina Silva (Rede), Aécio Neves (PSDB) e Eduardo Campos (PSB). Com esses mesmos nomes, Lula obteria 41% e se elegeria no primeiro turno. Em qualquer dos casos, quem mais ganhou eleitores entre o levantamento de março e o de agora é Marina: com Dilma na disputa, ela salta de 12% para 22%, Aécio passa de 9% para 13%, e Campos, de 3% para 5%. Quando o nome do PT é Lula, a ex-ministra do Meio Ambiente fica com 18%, e o senador tucano, com 12%. Em qualquer cenário, a ex-senadora petista fica em segundo lugar. Num eventual segundo turno entre as duas, há empate: 35% para Dilma contra 34% para Marina.
É claro que eu não gosto do resultado, mas ele traduz, sim, o espírito das manifestações de rua, que, sabem vocês, nunca foi do meu agrado. Os números apontam para duas perspectivas para mim horripilantes: a que garantiria a vitóriade Lula no primeiro turno e a que permitiria uma disputa, em segundo, entre Dilma e Marina Silva. Nesse caso, ocorreria o que chamo de choque de obscurantismos – o deste mundo (Dilma) contra o do outro mundo (Marina). Sei que ainda não há campanha na TV; que a petista tende a ter um latifúndio de tempo, contra alguns segundos da sua eventual adversária e coisa e tal… A diferença pode fazer diferença no primeiro turno; no segundo, tudo se iguala. Uma Marina Silva falando contra a política tradicional, emprestando-se ares de Davi contra a Golias da Maldade, do “tostão contra o milhão”… Ah, meus caros, a chance de um desastre dessas proporções de realizar é imensa!
E há, como se constata, a chance de Lula entrar na jogada. E cumpre não descartar essa possibilidade. Em palestra para estudantes da Universidade Federal do ABC, ele reiterou que sua candidata é Dilma e coisa e tal, mas avisou: não está doente coisa nenhuma! Sendo ele quem é, não é o tipo de desmentido que se deva ignorar. “Ah, ele só está corrigindo uma informação…”. Não quando se é Lula e quando vemos o patrimônio eleitoral do PT se desmanchar. É uma tolice supor que ele possa mesmo estar fora da jogada. É preciso ignorar a natureza do petismo para supor que o partido caminharia para uma derrota eleitoral certa ou para uma disputa de máximo risco. Se preciso, Lula volta à cena, sim, senhores!, pouco importa o seu real estado de saúde. Se puder fazer uma campanha mínima, isso basta.
Não, não… O resultado eleitoral das ruas buliçosas não é nada bom. No cenário em que Lula (38%) é candidato e em que aparecem Joaquim Barbosa (6%) e Marina Silva (17%), a soma desses três nomes alcança 61%. Nesse caso, o tucano Aécio Neves obtém apenas 12% – índice que se repete em dois outros; o máximo que atingiu foi 13%. Isso significa que o único nome identificado com a oposição obteve bem pouco ganho com a derrocada de Dilma. Como se explica? O movimento das ruas, ainda que assentado, às vezes, em causas as mais meritórias, é, infelizmente, contra a política. E Marina Silva é muito mais eficiente do que todos os seus adversários na arte de fingir de que faz outra coisa que não… política!
E os pobres?
Tomei aqui algumas pancadas porque escrevi que, até agora, os pobres não foram às ruas. Pancadas, acho eu, injustas porque eu não estava desqualificando nada. Fazia um registro para entender a realidade e não alimentar falsas ilusões. A pesquisa Ibope evidencia que a minha observação era pertinente. O movimento das ruas fez quase dobrar o índice de Marina. Agora vejam este número: Marina tem 44% das intenções de votos de quem ganha mais de 10 mínimos, contra apenas 19% de Dilma – em março, era o contrário: 43% a 18% em favor da petista. Já entre os que ganham até um mínimo, a presidente alcança 43%, contra apenas 13% da ex-ministra.
Os números estão aí. Reproduzo na íntegra, título incluído, um post que publiquei no dia 28 de junho. E volto aos dias de hoje para encerrar:
Não tem pobre na rua mesmo, ué! Por que a braveza? Ou: Existe um jeito de combater a esquerda que só a fortalece
No fim do debate de ontem da VEJA.com (assista ao vídeo), afirmei que “não há pobres nas ruas”. Algumas pessoas ficaram bravas. É possível que tenham entendido tudo errado. Disse isso no contexto em que sustentei que Lula é um dos vitoriosos dessa jornada infeliz porque voltou ao jogo sucessório. E não precisou fazer muita coisa para isso. Sua candidatura em 2014 é debatida a céu aberto no PT.
Fazer o quê? As pesquisas estão aí. Os miseráveis e os muito pobres não estão nas ruas. Lula fala com eles melhor do que qualquer grupo portando cartolinas. E já se articula freneticamente para fazer o que mais sabe: jogar brasileiros contra brasileiros. Os 52 milhões que são tocados, de algum modo, pelo Bolsa Família estão cantando e andando para o Passe Livre ou para protestos como “Hospitais Padrão Fifa”.
Alguns bobos acham — justo eu??? — que estou colaborando com o petismo quando faço essa crítica. Bobagem! Eu estou fazendo um alerta. Há motivos, sim, para protestos, mas não para esses ensaios meio grotescos de insurreição popular. “Ah, mas se tudo andasse às mil maravilhas…” Olhem aqui: com o processo de demonização da polícia a que assistimos, esse desdobramento era óbvio e cheguei a antevê-lo aqui. Pura lógica. Há mais causas contingentes do que de fundo. A economia vai mal, mas a ruindade ainda não chegou às ruas com esse força. Reconhecer a realidade ajuda a gente a não errar…
É claro que o PT mobilizará seus aparelhos ou para fazer frente a essa onda ou, como é mais provável, para surfar nela. Afinal, é o que estão fazendo hoje parlamentares, o governo federal e até ministros do Supremo. Quando a equação incluir os pobres, aí vamos ver. A torção à esquerda da política já se deu. Uma coisa é certa: enquanto o incentivo ao vandalismo (ver post anterior) for chamado de “movimento pacífico infiltrado por baderneiros”, os baderneiros continuarão a serviço do suposto “movimento pacífico”.
Será que eu “petizei”? Não é isso, não! Nunca esses caras me provocaram mais repulsa! É que existe um modo de combatê-los que os enfraquece, e existe um modo de combatê-los que os fortalece. Os métodos até agora empregados e incensados atuam contra a racionalidade administrativa, o estado democrático e a sociedade de direito. E quem conhece essa praia são as esquerdas, antes e depois do Facebook.
Encerro
Marina é de esquerda, ainda que modernosa. E é do pior tipo. Finge ser vegetariana, ou herbívora, para que possa ser mais eficientemente carnívora.
Pronto! Agora volto à minha viagem ao século 15, antes que o Brasil retorne ao… 19!
Por Reinaldo Azevedo

Cartas de Toronto: Primavera e o Blue Jays!, por Veronica Heringer


Os Torontonians adoram acreditar que o mês de março anuncia o início da primavera. A minha experiência pelas terras geladas atesta que o Equinox do dia 20 é uma tentativa acanhada de oficializar o fim do inverno enquanto a última nevasca de março ainda é esperada. Com o tempo, aprendi que a estreia da temporada de basebol é o anúncio real da primavera no Canadá.
Esse ano, a expectativa em torno do início da temporada do Blue Jays l é maior do que o normal. Ano passado, o time nem chegou perto dos playoffs – os jogos entre os finalistas da temporada. Em 2013, o gerente geral do time Alex Anthopoulos reestruturou completamente o time canadense que estrategicamente pouco se parece com time de 2012.
Para se ter uma ideia, proliferam-se nos jornais locais projeções sobre a temporada. A contratação do pitcher (lançador) R.A. Dickey iniciou o frisson em torno do time de 2013. Dickey é o único jogador na liga capaz de lançar aknuckleball – forma de lançar a bola usado as juntas dos dedos, minimizando a rotação da bola e criando uma trajetória imprevisível para o rebatedor.
Além do knuckler de Dickney, os fãs do Blue Jays alimentam grande expectativa em torno da performance de Jose Reyes. Conhecido como um dos melhoresshortstops e rebatedores da liga, é esperado que a performance de Reyes transforme o Blue Jays num time mais dinâmico e “esperto,” já que ele vai ser a muralha dentro do diamante.
A única má notícia para os Brazucas-Torontonians é a partida de Yan Gomes para Cleveland Indians (boa notícia para os brasileiros em Ohio). No entanto, as estrelas Jose Bautista (que é a cara do meu grande amigo carioca Oswaldo), Encarnacion, Brett Lawrie e o queridinho das meninas J.P. Arencibia estão de volta para mais uma temporada no Skydome.


É oficial, meu povo. A primavera chegou por aqui. O Booster Juice – loja de sucos local – já trouxe de volta as fotos de Bautista, em tamanho real, promovendo a marca. Banners como o da foto se multiplicam pelas vizinhanças da cidade enquanto a neve derrete ao seu redor. Chegou a hora de comprar o passe da temporada e torcer para o Blue Jays!
Esse ano tem bonecos do Encarnacion e do Lawrie para os primeiros 20,000 fãs dos jogos dos dias 21 de abril e 11 de agosto, respectivamente. O Opera Bob’s Public House segue com as suas tradicionais atividades para os jogos do time em outras cidades. E é claro, amendoim, pipoca e cachorro quente ainda são os melhores acompanhamentos para horas e horas de basebol.
Seja bem-vinda, Primavera, sua linda! Let’s go, Blue Jays!

A charge de Chico Caruso



O 'vale-tudo' de Dilma, Renan e Barbosa para mudar o país

Chefes dos três Poderes resolveram apresentar nesta terça-feira suas ideias para chacoalhar o país. E concordaram com a realização de um perigoso plebiscito para a realização de uma reforma política

Presidente do Senado, Renan Calheiros, Presidente Dilma Rousseff e o Presidente do STF, Joaquim Barbosa
PODERES - O presidente do Senado, Renan Calheiros, a presidente Dilma Rousseff e o presidente do Supremo Tribunal Federal, Joaquim Barbosa (ABr)
Depois de a presidente Dilma Rousseff ter lançado sua "resposta às ruas" na segunda-feira - entre as propostas, a ideia desastrada de convocar um plebiscito e uma constituinte para tratar da questão específica da reforma política - a terça-feira foi o dia em que os representantes dos outros dois poderes da República, o Legislativo e o Judiciário, desfiaram um rosário de soluções para a crise. Os presidentes do Congresso, Renan Calheiros (PMDB-AL), e do Supremo Tribunal Federal, Joaquim Barbosa, se encontraram com Dilma e depois divulgaram suas receitas para o Brasil. Renan anunciou que vai cancelar o recesso parlamentar para que o Congresso possa apreciar, nos próximos quinze dias, uma longa pauta de temas - muitos deles, objeto de propostas adormecidas há anos nas gavetas da Câmara e do Senado. A oposição não ficou atrás, e também trouxe à luz suas sugestões. Confira quais são as propostas que, passados mais de quinze dias do início dos protestos que tomaram o país, as autoridades puseram sobre a mesa: 

Cartas de Seattle: Recorde de grito, balão d’água e neve


Melissa de Andrade
Minha sina é morar em cidades que adoram se vangloriar por títulos e recordes de importância duvidosa.
Quem se importaria em quebrar o recorde mundial de maior briga de balões d’água? Seattle! Está marcado: daqui a um mês, na famosa fonte do Seattle Center, doze mil pessoas convocadas para arremessar 300 mil balões cheios de água uns contra os outros (dependendo da sua região do país, você chama balão de bexiga ou bola de soprar).
E a disputa é acirrada. O atual detentor do título, a Universidade de Kentucky, vai tentar superar a marca oficial de quase 9 mil participantes e 175 mil balões, conquistada em 2011, e a marca não oficial de 11.660 pessoas e 230 mil balões, do ano passado. Um grupo de Atlanta também tentará superar esses números.
Disputado mesmo é o recorde de torcida mais barulhenta. Sim, isso existe. Cada torcida de futebol americano se diz detentora do título. Pois um grupo de Seattle pagou pra ver. Literalmente. Mandou trazer um especialista do Livro Guinness de Records para gravar os gritos dos fãs no estádio em dia de jogo e comprovar se a torcida do Seahawks é mesmo imbatível.
A visita está marcada para daqui a dois meses em uma partida contra os 49ers de São Francisco. O recorde atual é de um jogo de futebol na Turquia, em 2011: 131.76 decibéis. Haja gogó.
Esses caçadores de recordes devem ter ficado motivados depois dos Guinness recentes que Seattle ganhou. A biblioteca pública detém agora o recorde de derrubar a maior sequência de livros como se fossem dominós.
Seattle também bateu o recorde de maior briga de bolas de neve. Detalhe – não nevou na cidade este ano. Oitenta toneladas de neve foram trazidas até o centro para que 6 mil adultos se deleitassem com uma atividade geralmente associada à infância. Atirar bolas de neves uns nos outros, sob a supervisão dos especialistas do Guinness, rendeu aos participantes o recorde que tanto queriam.


Galhofas à parte, o bom é que os organizadores desses eventos aproveitam para inserir uma causa social ao que parece ser puramente supérfluo. Na briga de balões d’água, espera-se arrecadar mais de US$ 75 mil para a organização não-governamental local Camp Korey, que fornece ajuda a crianças com problemas graves de saúde. Os organizadores de Atlanta, Water Wars, têm a missão de fornecer água potável para vários países da África.
Se o recorde fizer bem para alguém além do ganhador do título, tanto melhor.

Vaia enfrentada por Dilma em Fortaleza explica gasto milionário do governo com a segurança do papa


Escudo oficial – Na quinta-feira (18), durante cerimônia de inauguração de estação de metrô, em Fortaleza, a presidente Dilma Rousseff foi alvo de constrangedora vaia. De início a neopetista teve de enfrentar um grupo de índios, que protestavam contra a morosidade do governo na demarcação das terras indígenas. Na sequência foi a vez de um grupo de médicos descontentes com as recentes medidas anunciadas no Palácio do Planalto para a saúde pública.
Vencidas essas duas etapas, Dilma foi surpreendida por uma vaia generalizada, que por pouco não acabou em confusão. Se isso de fato ocorresse, o governo iria ao fundo da vala da desmoralização, pois nem mesmo no Nordeste, onde o Bolsa Família ronca alto, o PT consegue convencer. Cercada por uma crise política que só cresce em amplitude e intensidade, a presidente prefere fingir que nada acontece no Brasil e que as recentes medidas foram suficientes para responder às roucas vozes das ruas.
Os palacianos se equivocam ao pensar que a fingida lua de mel do Partido dos Trabalhadores com a população brasileira ainda continua. Paralisado, o governo está sendo corroído pela incompetência assustadora de seus integrantes, mas a soberba oficial continua a desfilar pelo Eixo Monumental, em Brasília.
A ruidosa vaia enfrentada por Dilma na capital cearense explica o gasto de R$ 70 milhões com a segurança do argentino Jorge Mario Bergoglio, o papa Francisco, que chega ao Brasil na próxima segunda-feira (22) para participar da Jornada Mundial da Juventude. Os 22 mil policiais civis e militares responsáveis pela segurança do chefe da Igreja Católica na verdade terão de proteger os políticos brasileiros dos protestos que devem ocorrer ao longo do event

Queda na popularidade de Dilma é alerta para 2014


Lutando contra a inflação e acelerar o crescimento do PIB, a presidente se vê em meio a problemas com a base e ainda precisa neutralizar adversários

Gabriel Castro e Talita Fernandes
Dilma Rousseff, na cerimônia de lançamento dos Planos Setoriais na reunião do Fórum Brasileiro de Mudanças Climáticas, em Brasília
Dilma Rousseff, na cerimônia de lançamento dos Planos Setoriais na reunião do Fórum Brasileiro de Mudanças Climáticas, em Brasília (Ueslei Marcelino/Reuters)
A presidente Dilma Rousseff chegou ao poder na primeira eleição que disputou e manteve a popularidade a despeito de seguidos escândalos de corrupção e demonstrações de ineficiência administrativa. Agora, no 30º mês de governo, um elemento novo passou a afetar diretamente o seu apoio entre a população: a inflação. Dos assuntos que levam alguém a decidir se dá ou não sua confiança a um político, a economia costuma ser o número um. E dentre os temas econômicos, a inflação está entre os que mais diretamente influenciam a avaliação de um governo.

Pesquisa divulgada na última semana pelo Instituto Datafolha mostra que a avaliação do governo piorou: a aprovação caiu de 65% para 57% em três meses. E que, no cenário eleitoral de 2014, a vantagem de Dilma Rousseff não é incontestável. Isso está longe de significar um cenário apocalíptico. Dilma ainda desfruta de índices de aprovação superiores aos dos dois antecessores no mesmo período do governo. Ela também tem ampla vantagem na intenção de voto. Mas o cenário de incertezas na economia e a ausência de perspectiva de grandes realizações nos próximos meses tornam o cenário nebuloso. Além disso, na eleição de 2014 Dilma deve ter três adversários competitivos: Eduardo Campos (PSB), governador de Pernambuco, tem potencial para tirar votos da petista no Nordeste. Marina Silva (Rede) é popular em grandes centros urbanos. E o senador Aécio Neves (PSDB) é o favorito para levar os dois maiores colégios eleitorais do país, Minas Gerais e São Paulo.

Economia se torna mico de governo - Desde que assumiu o poder, em 2011, Dilma, graduada em Economia, não conseguiu colher os louros de um crescimento robusto, tal como seu antecessor. O melhor desempenho registrado até o momento foi em seu primeiro ano de mandato, quando o Produto Interno Bruto (PIB) expandiu 2,7% - número considerado decepcionante à época. De lá para cá, a cada divulgação do PIB, surge uma nova frustração. No ano passado, o crescimento não passou de 0,9%. E, dado o ‘pibinho’ do primeiro trimestre de 2013 (avanço de 0,6%), as expectativas para o acumulado deste ano não são as mais animadoras.

Contudo, como o baixo crescimento (ainda) não afetou o avanço do mercado de trabalho, seus efeitos não pesam tanto sobre a avaliação positiva da presidente como o antigo vilão conhecido dos brasileiros: a inflação. Ela tem sido, nos últimos meses, um pesadelo de Dilma e da equipe econômica. Em maio, o Índice de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA), que mede a inflação oficial, tocou o teto da meta no acumulado de 12 meses, de 6,5%, apesar de ter apresentado leve desaceleração na comparação com o mês anterior. No início do ano, o IPCA chegou a estourar a meta.

O problema, que vem sendo apontado desde 2010, último ano do governo Lula, e negligenciado pelo governo Dilma, só ganhou importância no seio do Palácio do Planalto depois que uma emblemática escalada no preço do tomate devolveu a inflação ao repertório de assuntos das famílias, no primeiro trimestre deste ano. “A inflação está trazendo desconforto para a população”, diz o ex-presidente do Banco Central Gustavo Loyola. “Esse é um flagelo que a sociedade brasileira não tolera mais.”

Contudo, a subida de juros – remédio necessário para conter a inflação, mas impopular porque afeta diretamente o consumo – veio em momento tardio. Conforme argumentou o ex-presidente Fernando Henrique Cardoso em evento nesta semana, apenas a subida da Selic não será suficiente para deter o avanço do IPCA. “É preciso um ajuste fiscal”, disse FHC. Para o economista e ex-diretor do Banco Central Alexandre Schwartsman, o remédio tardio terá de vir em doses mais fortes - e nocivas politicamente. “A alta da Selic para 9,0% ou 9,25% até o final do ano não vai mexer na inflação. O governo não fez a lição de casa”, diz.

Retomar o tripé macroeconômico, contudo, não será tarefa fácil – sobretudo porque a presidente não reconhece as decisões erradas tomadas ao longo do governo e relega ao cenário externo a culpa pelos males que atingem a economia do país. Segundo Gustavo Loyola, a combinação da política de juros, câmbio flutuante e ajuste fiscal se mostrou vencedora no governo FHC e deve voltar a ditar os rumos econômicos. “Foi o que levou o Brasil para um patamar melhor nos anos 1990 e 2000. O país precisa ainda retomar a agenda de reformas”, comenta.

A política fiscal é outro assunto que tem afetado a credibilidade de Dilma e da equipe econômica – sobretudo para o mercado internacional. Na semana passada, a agência de classificação de risco Standard & Poor’s reduziu a perspectiva da nota de crédito do país de “estável” para “negativa”, o que pode implicar em rebaixamento do rating de crédito. Ainda que essa decisão não tenha grande peso para o eleitorado de Dilma, ela afeta diretamente a imagem do país em relação aos investidores. Com a imagem arranhada, ficará cada vez mais difícil para o governo atrair investimentos privados necessários para que a economia retome fôlego e volte a crescer em breve.

Para o ex-secretário-executivo da Fazenda Bernard Appy, a popularidade de Dilma não foi mais afetada porque o nível de emprego ainda é alto. “O baixo crescimento ainda não afetou na taxa de emprego, porque o setor de serviços ainda continua contratando, mas isso pode ser mudar”, explica.

Sobre a questão fiscal, Appy indica que o erro do governo é a falta de transparência. “Há uma perda de transparência na forma como a política fiscal vem sendo gerida, devido aos ajustes do superávit primário”, pontua. “Nos últimos anos viu-se também um uso muito grande de recursos do Tesouro para financiar os custos correntes. A medida não é de todo ruim e pode ser defensável em casos de desaceleração da economia. Mas é preciso indicar qual será a trajetória da dívida bruta do país, ou seja, é preciso ser transparente.”
Política - Além dos percalços na economia, a presidente tem enfrentado problemas com o Congresso. Por razões diversas, mas todas ligadas à falta de articulação política do Planalto, partidos aliados passaram a se comportar de maneira cada vez menos fiel. Indiretamente, esses atritos prejudicam a popularidade da presidente porque atrapalham a aprovação de propostas que o Planalto considera importantes. Foi o que ocorreu, por exemplo, com a MP dos Portos e o Orçamento de 2013 - aprovado apenas em fevereiro deste ano.

Variações de popularidade são comuns ao longo dos mandatos. Também é comum a colheita de dividendos eleitorais no último ano de gestão, com a inaguração de obras e a consolidação de programas importantes. A presidente, entretanto, parece não ter cartas na manga para 2014. "A gente sabe que ela não tem tempo de inaugurar obras porque as obras não estão sendo realizadas. Não há tempo de ela inaugurar empreendimentos como a transposição do rio São Francisco", diz o senador Alvaro Dias (PSDB-PR).

O cientista político David Fleischer, da Universidade de Brasília, afirma que o governo ainda não tem uma marca que conquiste o eleitorado - apesar de programas como o Brasil Sem Miséria. "Dilma vai ter de inventar uma outra bandeira", afirma. Um sinal de que o eleitor, embora aprove a presidente não se entregou incondicionalmente a ela vem da já mencionada pesquisa Datafolha: 73% da população diz ainda não ter escolhido seu candidato pra 2014.

Reação - A queda de popularidade não pode ser atribuída ao desleixo da presidente com sua imagem. Pelo contrário: desde o começo do ano, ela intensificou o anúncio de medidas de apelo popular, passou a viajar mais pelo país, aumentou sua exposição nas cadeias de rádio e TV e passou a discursar mais vezes, e por mais tempo, em eventos da Presidência - o que garante exibição no noticiário.

A estratégia de Dilma, moralmente questionável, é comum na política brasileira. Ao mesmo tempo em que ela embarcava na campanha antecipada, Aécio Neves e Eduardo Campos, também ocupantes de cargos públicos, faziam o mesmo. E por isso a queda na popularidade da presidente pode servir como um alerta importante: o recuo ocorreu exatamente no período em que Dilma crescia em exposição nos meios de comunicação.
Os petistas dizem que tudo está sob controle. "Em 2009 o PIB diminuiu, a presidente tinha 4% nas pesquisas e José Serra tinha 45%. Isso não significa nada", diz o deputado Cândido Vaccarezza (PT-SP). A ministra de Relações Institucionais, Ideli Salvatti, também faz pouco da queda de popularidade: "Pesquisa sobe e desce. É da vida. O mais importante é o trabalho e o resultado do trabalho frente à situação que temos no mundo e no Brasil."

Mas são claros os sinais de que o governo recebeu os números com preocupação. Já na primeira aparição pública depois da divulgação das pesquisas, Dilma Rousseff usou uma obviedade para enfatizar sua disposição em impedir o avanço da inflação: "Não há a menor hipótese de que o meu governo não tenha uma política de controle, de combate à inflação", disse ela, que também criticou duramente o que acredita serem "Velhos do Restelo" - pessimistas que torceriam contra sua gestão.

De qualquer forma, como mostram as pesquisas de popularidade, o jogo eleitoral é uma guerra defensiva em que a política é apenas parte do campo de batalha enfrentada por Dilma Rousseff. Em 2014, quanto mais incertezas houver na economia, mais difícil vai ser convencer o eleitor a dar mais quatro anos de mandato à chefe do Executivo.
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Inflação

A inflação se tornou um dos principais vilões da economia este ano. Depois de encerrar 2012 em 5,84%, acima do centro da meta, de 4,5%, o Índice de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA), continua elevado este ano. Em maio, apesar de uma leve desaceleração ante abril, a inflação atingiu o teto da meta no acumulado dos 12 meses, de 6,5%. Os preços elevados corroem a renda da população, reduzindo o poder de consumo, o que fere a popularidade da presidente. Apesar do cenário, Dilma Rousseff e o ministro da Fazenda, Guido Mantega, continuam dizendo que a inflação “está sob controle”. Mesmo com recente alta dos juros, usada pelo Banco Central como remédio de combate à inflação, o IPCA deve encerrar o ano em torno de 5,8%, de acordo com economistas ouvidos semanalmente pelo BC.

Manter a ordem, por Luiz Garcia


Luiz Garcia, O Globo
É muito fácil falar mal da polícia, aqui e na maioria dos países — mesmo nos mais adiantados, com a possível exceção de democracias tranquilas, tipo Suíça ou Noruega.
Em geral, quem reclama e se queixa é a opinião pública — da qual a imprensa é, ou tenta ser, porta-voz tão fiel quanto eloquente (ou, na opinião de alguns, simplesmente barulhento). É por isso notável o comportamento do nosso governo estadual, a propósito da reação da PM às manifestações populares de dias recentes.
É indiscutível que, por mais justa que fosse a causa, a rapaziada caiu na bagunça. Talvez seja mais correto dizer que, no meio de uma manifestação legítima e em boa causa, havia grupos que perderam o controle, se é que já não saíram de casa sem ele.


E seu comportamento obviamente prejudicou a visão da opinião pública sobre um protesto absolutamente legítimo. Não é fácil, para os legítimos líderes dos eventos, evitar que isso aconteça — mas devem ter essa preocupação, evitá-lo tanto quanto possível.
A ação dos policiais, embora legítima na sua origem e na sua intenção, foi prejudicada, na opinião pública, pela falta de controle de alguns deles. Principalmente no caso de uma moça de 26 anos, atingida por uma bomba lançada por um PM, que lhe causou a perda da visão num olho.
É notável — e raro — que as autoridades tenham reconhecido que os policiais reagiram com força excessiva. Talvez seja necessário incluir na formação de policiais a consciência de que a energia usada na repressão a criminosos profissionais não pode ser a mesma empregada no restabelecimento da ordem em protestos legítimos de cidadãos.
Pode ser possível — na verdade, indispensável — incluir, na formação dos nossos PMs, a consciência de que deve haver uma nítida diferença entre o combate a bandidos e a manutenção da ordem no caso de manifestações de reivindicação ou protesto de cidadãos honestos. É provável ou talvez inevitável que, nesta segunda hipótese, baderneiros ou mesmo criminosos profissionais entrem em ação.
Cabe à polícia — e reconhecemos que não é muito fácil, às vezes quase impossível — distinguir uns de outros. Manter a ordem já não é simples; restabelecê-la, bem mais complicado.
Mas não custa lembrar que também é dever e interesse dos manifestantes legítimos fazerem o possível para não serem confundidos com baderneiros, amadores ou profissionais.

Moreira Franco: ‘Os partidos aliados estão estressados’

Ministro do PMDB afirma que dificuldade de relação do governo com o Congresso e antecipação da corrida eleitoral fizeram base “brigar em casa”

Laryssa Borges e Silvio Navarro, de Brasília
Temer e Moreira Franco na posse do novo ministro: 'Não haverá dificuldade de diálogo com PT'
Temer e Moreira Franco na posse do novo ministro: 'Não haverá dificuldade de diálogo com PT'
Moreira Franco é homem de confiança do vice-presidente Michel Temer (PMDB) (Ailton de Freitas / Ag. O Globo)
"Todo mundo começou a viver intensamente como se nós estivéssemos no ano de 2014. Isso é uma neurose. Evidentemente, isso amplia o estresse na base aliada."
Homem de confiança do vice-presidente da República, Michel Temer (PMDB), o ministro Moreira Franco(Aviação Civil) afirma que a dificuldade de relacionamento do governo com o Congresso e a antecipação da corrida eleitoral fizeram os partidos aliados “brigarem em casa”. “Provocou-se uma neurose no processo político”, disse ao site de VEJA.
Há cerca de quatro meses comandando a Secretaria de Aviação Civil (SAC), o ministro avalia que o país passou no primeiro teste, a Copa das Confederações, mas não esconde a bronca com as críticas frequentes da Fifa e do Comitê Olímpico Internacional (COI) aos aeroportos brasileiros: “É importante que não só o presidente do COI, como o pessoal da Fifa, entendam que eu não os considero colonizadores”.
Os aeroportos conseguiram atender à demanda da Copa das Confederações? As coisas ocorreram normalmente. O Santos Dumont [no Rio de Janeiro] bateu recorde de pessoas no domingo, dia do jogo da final. A expectativa é que agora na visita do papa tenhamos no Galeão e no Santos Dumont a mesma capacidade de atendimento demonstrado nos aeroportos na Copa das Confederações. As medidas de contingência foram tomadas, com ênfase no Galeão. Creio que teremos uso intensivo em alguns dias da chegada e da saída [da Jornada Mundial da Juventude].
Mas a Fifa e COI têm renovado sempre as críticas envolvendo a má qualidade dos aeroportos. O COI tem que ficar frio, não precisa estar preocupado. Preocupados estamos nós em garantir a todos os aeroportos melhores condições, conforto e segurança ao usuário brasileiro. Em função de décadas de falta de investimentos no sistema aeroportuário, hoje, na maioria dos aeroportos, os serviços são precários. Temos um tipo de cultura em que o passageiro não é tratado como cliente, como se o operador estivesse prestando um favor. É inaceitável, vamos mudar isso. Nos aeroportos que têm concessões, esse processo já está em curso. Ainda não se presta um serviço bom, mas não tenho dúvidas de que isso vai acontecer, como acontecerá no Galeão e em Confins quando eles forem concessionados também. É importante que não só o presidente do COI, como o pessoal da Fifa, entendam que eu não os considero colonizadores. Não me sinto colonizado. Eles têm que saber que nós estamos cumprindo com as nossas obrigações. A prioridade no sistema aeroportuário é o passageiro brasileiro, é o cliente.
Nas discussões sobre reforma ministerial, fala-se na incorporação da SAC a outro ministério, como o dos Transportes. Isso depende de uma avaliação da presidente. A própria definição de prioridade cabe à presidente. A avaliação se convém [cortar], não só a SAC, mas o conjunto dos ministérios é dela. Ninguém melhor do que a presidente, que era ministra da Casa Civil quando da criação do sistema, da Agência Nacional de Aviação Civil e da definição da SAC como o comando político-administrativo do setor, para saber se é conveniente ou não [incorporar a SAC a outro ministério]. Existe hoje um programa de obras de modernização do sistema aeroportuário de muita envergadura. Não só as concessões, mas obras em vinte aeroportos no PAC e um programa de aviação regional para garantir a interiorização do sistema e o acesso a esse modal.
Como o senhor avalia o momento do PMDB no Congresso? Há uma crise com o governo? Não é só o PMDB. No Congresso, o clima está muito estressado por força de uma expectativa de relacionamento de qualidade diferente com o Poder Executivo. Os partidos estão muito estressados, o PT, o PMDB... O fato de não ter uma oposição de expressão numérica e com uma atuação forte faz que essa hegemonia da base absorva todo o estresse. Como não tem adversário ou com quem debater ou disputar, os partidos acabam brigando em casa.
O vice-presidente Michel Temer tem atuado como mediador para acalmar os ânimos?No PMDB, temos o vice-presidente Michel Temer, que tem experiência parlamentar de muitos mandatos, há muito tempo é o presidente do PMDB e ele tem cada vez mais ampliado sua colaboração. Situação de estresse é assim mesmo, é o casamento.

Mas o líder do PMDB, Eduardo Cunha, teve postura beligerante em relação ao governo federal em algumas votações. Como líder da bancada, ele tem que expressar o sentimento e a vontade dos deputados. Tem gente na bancada que é até mais beligerante do que ele. Como líder, ele tem que procurar trabalhar na média. O esforço que fazemos, todos nós, Michel Temer, Henrique Alves e Renan Calheiros, é no sentido de trazer uma margem de bom senso, de temperança, de prudência e de cautela.
Há risco de se desfazer a aliança PT-PMDB no projeto de reeleição da presidente Dilma Rousseff? Todo movimento político se move por um objetivo: uma alternativa de poder. É preciso entender que, no momento, temos de manter a tradição de lealdade do partido, sobretudo em momentos difíceis. A lealdade partidária é um ativo fundamental. Temos de construir alternativas. Hoje, a alternativa majoritária no partido é a manutenção da coligação com a Dilma. Mesmo sem unanimidade, partido é isso.
Os palanques regionais nas eleições podem aumentar essa tensão? Um equívoco brutal que se cometeu – uma das razões que vejo da tensão política e econômica que vivemos – é a antecipação do processo eleitoral. À medida que se antecipa esse processo e se coloca cada vez mais a presidente Dilma não como presidente da República, mas como candidata, os problemas econômicos são trazidos para o debate eleitoral. E inflação é uma coisa terrível, muito impulsionada pela percepção. A percepção da inflação é o maior elemento inflacionário que a inflação tem.
Quais são os efeitos políticos dessa antecipação da corrida eleitoral? Os efeitos políticos se agravaram porque, ao antecipar a eleição do presidente da República com o lançamento de candidaturas, antecipou-se a eleição para deputado federal. Provocou-se uma neurose no processo político. A neurose é construir uma realidade e começar a viver essa realidade que não tem nada a ver com a realidade do dia a dia. Vivemos como se estivéssemos em junho do ano que vem, véspera das eleições. Todo mundo começou a viver intensamente como se nós estivéssemos no ano de 2014. Isso é uma neurose. Evidentemente, isso amplia o estresse na base aliada.


Com a queda da popularidade da presidente Dilma, o senhor acredita que o movimento ‘Volta Lula’ é para valer? Acho que sim. Isso é um movimento que tem mais dentro do PT do que em outros partidos. É natural. Querer evitar ou impedir esse movimento é um erro. Em política, tudo que é inútil é um erro. É inútil achar que se inibem determinadas ações ou iniciativa que tem laço social. É preferível conviver com elas, saber como vai tratá-las, se dá para tirar algo de bom delas e afastar o que tem de ruim. É mais produtivo e democrático assim.

Baderna não é democracia, por Merval Pereira


Merval Pereira, O Globo
Se o governador do Rio, Sérgio Cabral, leva até seu cachorrinho de helicóptero para o fim de semana em Mangaratiba e pretende continuar agindo assim, sem noção de que sua ostentação é ofensiva aos cidadãos do estado que governa, merece ser duramente criticado.
Os protestos podem até mesmo sitiá-lo no palácio onde despacha, e é discutível se sua residência privada deve ser ponto de protestos, perturbando a paz da vizinhança. O melhor mesmo talvez fosse que se mudasse para o Palácio das Laranjeiras, mas essa é outra discussão.
Mesmo que infiltrados nas manifestações existam agentes de seus concorrentes oposicionistas, como ele acusa, os protestos só encontram eco porque o governador tornou-se, por seus hábitos e gestos, um mau exemplo de homem público, mesmo que seja um bom administrador.
Os inegáveis avanços na política de segurança pública, a melhoria econômica do estado, tudo é louvável, mas nada disso dá permissão ao governador de abusar de seus poderes transitórios.

Coronel Erir Ribeiro Costa Filho, comandante-geral da PM. 
Foto: Fabiano Rocha / Agência O Globo

Mas o que aconteceu ontem nas ruas do Leblon e de Ipanema é inaceitável em uma democracia, e não porque sejam os bairros mais ricos da cidade, mas porque vandalismo e depredação não são métodos de quem luta pela melhoria de vida das populações, mas de bandidos que devem ser repudiados pela sociedade e presos.
O comandante-geral da Polícia Militar, coronel Erir Ribeiro Costa Filho, revelou que fizera um acordo com a Ordem dos Advogados do Brasil e algumas instituições ligadas aos direitos humanos, como a Anistia Internacional, para não usar gás lacrimogêneo nem bombas de efeito moral, e o que se viu foram horas e horas de vandalismo nas principais ruas do bairro, mostradas tanto pela Globo News quanto pela Mídia Ninja, sem que nenhum policial aparecesse.
Só os arredores da residência do governador estavam fortemente policiados. Isso não acontece em parte alguma do mundo civilizado. O que a OAB tem a dizer, ela que se propôs a intermediar uma trégua?
A impressão é que não se tem nem governo nem polícia nem lideranças capazes de combater a ação dos grupos de vândalos, perfeitamente identificáveis pelo Facebook.
Se os policiais não têm treinamento suficiente para enfrentar essas turbas sem cometer excessos, estamos mal parados. Se, por outro lado, ficam paralisados diante das acusações de abuso de força, estamos, nós os cidadãos, também em maus lençóis.
Se, como adeptos de teorias da conspiração divulgam pela internet, a polícia do Rio de Janeiro deixou de atuar para justificar atitudes mais violentas em futuras manifestações, contando com a rejeição da população à baderna que tomou conta das ruas, estamos no pior dos mundos.

Sociólogo é vítima de sequestro-relâmpago após dar entrevista sobre protestos

FABÍOLA GERBASE

  • Depois de ser pego no Aterro do Flamengo por dois homens armados, Paulo Baía foi levado de carro até a Cinelândia, onde foi liberado
  • Ele foi alertado pelos sequestradores a não voltar a dar entrevistas nem falar da Polícia Militar





O sociólogo Paulo Baía foi ameaçado após falar sobre protestos ao GLOBO Foto: Gustavo Stephan / Agência O Globo

O sociólogo Paulo Baía foi ameaçado após falar sobre protestos ao GLOBO Gustavo Stephan / Agência O Globo
RIO - O sociólogo e cientista político Paulo Baía afirma que foi vítima de um sequestro-relâmpago na manhã desta sexta-feira, por volta das 7h10m, quando saía de casa para caminhar no Aterro do Flamengo. Ele foi abordado por dois homens vestidos com moletons e encapuzados, e recebeu como recado que não desse mais nenhuma entrevista como a publicada nesta sexta-feira no GLOBO nem falasse mais nada sobre a Polícia Militar. Na reportagem, o sociólogo analisa o perfil dos grupos que praticam atos mais violentos nos protestos. Lembrando a noite de confrontos no Leblon, na última quarta-feira, ele afirmou que “a polícia viu o crime acontecendo e não agiu. O recado da polícia foi o seguinte: agora eu vou dar porrada em todo mundo”.
— Eles me abordaram quando eu estava numa passagem subterrânea indo para o Aterro, perto de casa. Eram dois homens, de touca ninja e óculos escuros. Eles mostraram que estavam armados e me levaram pelo gramado até a pista do Aterro que vai para Botafogo. Parou ali um Nissan preto, de vidro fumê, e me colocaram no carro sentado entre eles. O motorista e um homem ao lado também estavam de capuz. Só conseguia ver as mãos deles. O motorista era negro, o homem ao lado dele era branco. E os dois que me pegaram eram mulatos. No carro, me deram o recado e não falaram mais nada. Disseram para eu não dar mais nenhuma entrevista como a de hoje no GLOBO e para que eu não falasse mais nada da PM, porque, se eu falasse, seria a última entrevista que eu daria na vida. Eles deixaram as armas visíveis, mas não apontaram para mim — conta Paulo Baía, que é professor do Departamento de Sociologia da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ).

— Quando desci do carro, disseram para mim: “o recado está dado”. Em casa, procurei imediatamente o Ministério Público e fiz um registro da ocorrência. Vou levar o caso ao procurador-geral de Justiça, Marfan Vieira.Segundo o sociólogo, os sequestradores seguiram em direção a Botafogo pelo Aterro e depois pegaram um retorno para a Praia do Flamengo. Por esse caminho, foram até a Cinelândia, onde ele foi deixado em frente à Biblioteca Nacional. Baía notou que o carro não tinha placas:
Paulo Baía foi recebido na tarde desta sexta na sede do Ministério Público estadual por Marfan Vieira e pelo subprocurador-geral de Justiça de Direitos Humanos e Terceiro Setor, Ertulei Matos. Ele foi orientado a fazer registro do caso numa delegacia policial, mas disse a Vieira que só o faria com a chefe de Polícia Civil, a delegada Martha Rocha. O procurador-geral agendou um encontro entre os dois. Segundo Vieira, o Ministério Público e a Polícia Civil devem buscar as imagens de câmeras instaladas no Aterro e no entorno da Biblioteca Nacional.
— Essa foi uma tentativa de calar uma voz importante no cenário político e acaba por atingir o estado democrático de direito. O caso provavelmente será apurado como sequestro para fins de ameaça — disse o procurador-geral.