por Rosely Sayão
As ruas são consideradas locais inseguros que provocam medo; transformaram-se em depósitos de problemas originados por nossos estilos de vida. Todo o aparato de segurança que usamos - de condomínios fechados a travas de segurança nas portas dos carros - servem para nos colocar fora das ruas. Vivemos em pequenos "quartos de pânico", não parece?
Em segundo lugar, também já faz tempo que nós, adultos, perdemos a mão de como nos postar diante dos adolescentes. Em parte porque eles têm aquilo que mais desejamos, perseguimos e fazemos de conta ter: a juventude. Por isso, passamos a tratá-los como iguais, como se ocupassem lugares simétricos aos nossos.
A questão da educação democrática é um capítulo à parte. Passamos a acreditar que os adolescentes devem ser respeitados em seus direitos sem saber ao certo o que são tais direitos e sem também ensiná-los sobre os deveres correlatos. Sim: cada direito - o de ser respeitado, por exemplo - exige um dever - o de respeitar. Mas isso serviu mesmo a mais uma deserção: de nossa autoridade.
Em nome dessa ideia de educação, sentimo-nos sem o direito de ocupar um lugar legítimo para conter, restringir, coibir ou suspender, mesmo que temporariamente, os quereres impulsivos e impositivos deles. Finalmente, vivemos um período em que, voluntariamente e em nome de causas aparentemente nobres, temos abdicado de nossa autonomia. Vivemos em tempos de terceirizar nossas vidas, lembra-se? E é isso que abre espaço para a entrada do estado. Basta enumerar, como exemplo, quantos decretos proibitivos que envolvem a vida social já foram editados.
Voltemos ao toque de recolher. Muitos pais são favoráveis à medida. Imagino que seja mais fácil, para eles, segurar o filho em casa pela força do estado do que pela própria autoridade. Mas é bom lembrar que essa medida restringe a liberdade de escolha dos pais de como educar seus filhos.
Em relação aos jovens, diretamente atingidos, a medida é preconceituosa. Afinal, qual a porcentagem de adolescentes nas ruas que comete delitos, envolve-se em confusão ou entra em contato com drogas, por exemplo? E a dos que não fazem nada disso? E a dos que fazem tudo isso dentro de casa? Mais uma vez, optamos por demonizar a juventude e retirá-la de cena.
Cada vez mais, permitimos - e queremos - a intervenção do estado em nossas vidas. Parece mesmo que buscamos nele um pai que as governe. Quem precisa de pai e de mãe são as crianças e os jovens. Que sejam eles a governar a vida dos filhos, e não o estado, a polícia etc.
Nenhum comentário:
Postar um comentário