sábado, 7 de junho de 2014

Não se deixe educar pelo estado

Não se deixe educar pelo estado
 

251901_4143506106430_100602640_n.jpgNão é nenhuma coincidência que os governos de todos os países do mundo queiram estar no controle da educação das crianças.  Os serviços de educação fornecidos pelo aparato estatal supostamente devem ser vistos como uma evidência da bondade do estado e da preocupação de seus burocratas para com nosso bem-estar.  Mas o real objetivo é bem menos bajulador, e muito fácil de entender: se toda a propaganda governamental inculcada nas salas de aula conseguir criar raízes dentro das crianças à medida que elas crescem e se tornam adultas, estas crianças não serão nenhuma ameaça ao aparato estatal.  Elas mesmas irão prender os grilhões aos seus próprios tornozelos.
H.L. Mencken certa vez disse que o estado não quer apenas fazer com que você obedeça às suas ordens inquestionavelmente.  O estado quer fazer com que você queira obedecê-lo voluntariamente.  E isso é algo que a educação controlada pelo estado — não importa muito se as escolas são públicas ou privadas, desde que seja o estado quem esteja ditando os currículos — faz muito bem.
Um pensador político há muito esquecido, Étienne de la Boétie, nunca deixava de se questionar por que as pessoas sempre toleravam regimes opressivos.  Afinal, os governados estão em maioria esmagadora em relação aos governantes.  Sendo assim, as pessoas poderiam pôr um fim a todo o autoritarismo se elas realmente quisessem.  E, no entanto, isso raramente acontecia.
Por ora, gostaria apenas de entender como pode ser que tantos homens, tantos burgos, tantas cidades, tantas nações suportam às vezes um tirano só, que tem apenas o poderio que eles lhe dão, que não tem o poder de prejudicá-los senão enquanto eles têm vontade de suportá-lo, que não poderia fazer-lhes mal algum senão quando preferem tolerá-lo a contradizê-lo.  Coisa extraordinária, por certo; e, porém, tão comum que se deve mais lastimar-se do que espantar-se ao ver um milhão de homens servir miseravelmente, com o pescoço sob o jugo, não obrigados por uma força maior, mas de algum modo (ao que parece) encantados e enfeitiçados apenas pelo nome de um...
Chamaremos isso de covardia? ... Se cem, se mil aguentam os caprichos de um único homem, não deveríamos dizer que eles não querem e que não ousam atacá-lo, e que não se trata de covardia e sim de desprezo ou desdém?  Se não vemos cem, mil homens, mas cem países, mil cidades, um milhão de homens se recusarem a atacar um só, de quem o melhor tratamento fornecido é a imposição da escravidão e da servidão, como poderemos nomear isso?  Será covardia?  ... Quando mil ou um milhão de homens, ou mil cidades, não se defendem da dominação de um homem, isso não pode ser chamado de covardia, pois a covardia não chega a tamanha ignomínia. . . Logo, que monstro de vício é esse que ainda não merece o título de covardia, que não encontra um nome feio o bastante . . . ?
De la Boétie concluiu que a única maneira pela qual qualquer regime poderia sobreviver seria se o público lhe desse seu consentimento.  Tal consentimento poderia ser tanto um apoio entusiasmado quanto uma resignação estóica.  Mas se tal consentimento desaparecesse, os dias do regime estariam contados.
E, de fato, é necessário um sistema educacional enormemente distorcido para fazer com que as pessoas emprestem seu consentimento a qualquer arranjo estatal.  Afinal, o que é o estado?  É um grupo dentro da sociedade que clama para si o direito exclusivo de controlar e espoliar a vida de todos.  Para isso, ele utiliza um arranjo especial de leis que permite a ele fazer com os outros tudo aquilo que esses outros são corretamente proibidos de fazer: atacar a vida, a liberdade e a propriedade.
Por que uma sociedade, qualquer sociedade, permitiria que tal quadrilha desfrutasse incontestavelmente desse privilégio?  Mais ainda: por que uma sociedade consideraria legítimo esse privilégio?  É aqui que o controle da mente entra em cena.  A realidade do estado é inquestionável: trata-se de uma máquina de extorsão, pilhagem e autoritarismo — tudo isso em larga escala.  Sendo assim, por que tantas pessoas clamam por sua expansão?  Aliás, por que sequer toleramos sua existência?  A própria ideia da instituição estado é tão implausível por si só que é preciso que ele, o estado, coloque sobre si um manto de santidade para que consiga apoio popular
E é por isso que a educação autônoma — a verdadeira educação — é uma enorme ameaça para qualquer regime.  É por isso que ela é combatida tão veementemente pelo estado e seus burocratas.  Se o estado perder o controle daquilo que entra em sua mente, ele perde o segredo de sua própria sobrevivência.
E o estado já está começando a perder este controle.  A mídia tradicional, aquela que sempre se esforçou disciplinadamente para carregar água na peneira pelo estado desde tempos imemoriais, já está se sentindo ameaçada por vozes independentes na internet.  Não creio que hoje qualquer pessoa com menos de 25 anos leia algum jornal.  Algumas escolas públicas nos EUA já estão implementando um programa abertamente despótico, mas necessário para sua sobrevivência: as crianças têm de usar braceletes eletrônicos que monitoram sua exata localização durante os horários de aula.  A intenção clara é se certificar de que as crianças estão comparecendo regularmente à escola para ouvir o que o estado tem a lhes dizer.
Como tudo isso irá acabar?  Impossível saber de antemão, mas os prospectos da liberdade são animadores.  Por mais que a mídia e a classe política operem em conjunto para sustentar a santidade do estado, tal blindagem já foi rompida.  E esta tendência é irreversível.
É por isso que o nosso desafio é o mais radical que já foi apresentado ao estado.  Nossa intenção não é tornar o estado mais "eficiente", ou dar ideias de como ele pode aumentar suas receitas.  Tampouco queremos mudar seu padrão de protecionismo, de privilégios e de redistribuição de riqueza.  Nossa intenção não é dizer qual programa de subsídio é o melhor e qual deve ser alterado, ou qual tipo de imposto faria com que o sistema fosse gerido mais harmoniosamente.  Não queremos alterações pontuais no estado.  Rejeitamos o atual sistema por completo.
E não nos opomos a essa máquina de extorsão, pilhagem e autoritarismo que é o estado por ele ser 'ineficiente' ou 'improdutivo'.  Nós nos opomos ao estado porque extorsão, pilhagem e autoritarismo nunca podem ser medidas moralmente aceitáveis.
O estado moderno nada mais é do que uma disputa de poder entre quadrilhas, cada qual visando seus próprios interesses e os de sua base de apoio.  Quem está interessado apenas em liberdade, não apenas está sem representação como também é obrigado a sustentar ambos os grupos.  Por isso, não imploramos pelas migalhas que eventualmente caem da mesa do banquete totalitário.  Tampouco queremos um assento a esta mesa.  O que queremos é derrubar a mesa totalmente.
Há muito trabalho a ser feito.  Um número incontável de indivíduos foi persuadido de que é do interesse deles ser roubado, proibido de adquirir bens estrangeiros, ter seu poder de compra destruído e ter de obedecer a todas as ordens ditadas por uma elite governamental que na realidade não está nem aí para nosso bem-estar e cujo único objetivo é aumentar seu poder e sua riqueza à custa do nosso padrão de vida.
A mais letal e antissocial instituição da história da humanidade continua a se autodescrever como sendo a fonte essencial de toda a civilização.  A partir do momento em que o governo assumiu o controle da educação, as pessoas aprenderam que o estado está ali para protegê-las da pobreza, dos remédios estragados e até dos dias chuvosos; para dar estímulos quando a economia estiver ruim e para nos defender de todos aqueles elementos perigosos ou gananciosos que estão fora da máquina estatal (pois dentro dela eles não existem).  Esta visão, por sua vez, é diariamente reforçada e intensificada pela mídia impressa e eletrônica, os porta-vozes do regime.
Se o público foi iludido, cabe a nós a imprescindível tarefa de desiludi-lo.  É necessário rasgar o manto de santidade sob o qual o estado se esconde.  Esta é a tarefa mais crucial de nossa época.  E qualquer um pode fazer sua parte.
Comece consigo próprio.  Eduque-se.  Aprenda tudo o que puder sobre uma sociedade livre.  Leia os grandes, como Frédéric BastiatLudwig von MisesMurray RothbardHenry HazlittHans SennholzGeorge ReismanTom Woods,Thomas DiLorenzo e Jesús Huerta de Soto.  À medida que você for aprofundando seus conhecimentos, compartilhe o que você está lendo e aprendendo.  Crie um blog.  Crie um canal no YouTube.  Oragnize um grupo de estudos.  O que quer que faça, aprenda e espalhe seu conhecimento.  Jamais pare.
Se foi por meio da propaganda que as pessoas irrefletida e insensatamente aceitaram as alegações do estado, então será por meio da educação que elas serão trazidas de volta ao seu juízo.
Com a mídia — o suporte indispensável do estado — em franca decadência, será cada vez mais difícil para o aparato estatal fazer com que suas alegações sejam prontamente aceitas; será difícil o estado continuar persuadindo as pessoas a aceitarem suas mentiras e propagandas.
Você certamente já ouviu dizer que a pena é mais poderosa que a espada.  Pense na espada como se ela fosse o estado.  Pense na pena como se ela fosse você divulgando as ideias da liberdade.  Qual, no final, terá mais chances de ganhar os corações e a mente das pessoas?
Tenha sempre em mente esta constatação de Étienne de la Boétie: todo e qualquer governo depende do consentimento das pessoas; tão logo o público retirar seu consentimento, qualquer regime estará condenado.
É por isso que o regime ora nos ridiculariza, ora nos teme.  E é por isso que, não obstante todos os horrores que lemos diariamente, podemos ter a ousadia de olhar para o futuro com alguma esperança.

Contra a absurda Lei da Palmada

Contra a absurda Lei da Palmada


tira da palmada.jpgVocê é a favor de que pais mantenham seus filhos em cárcere privado, sem água, comida e brinquedo, por dias a fio?  Não? Então você tem que defender a proibição do castigo no quarto quando ele for malcriado.  Colocar no quarto ou no cantinho é uma violência similar à do sequestro.
Achou meio exagerado?  É exatamente esse o raciocínio que justificou a Lei da Palmada, ou Lei do Menino Bernardo.  Dar uma palmada é torturar; é violentar.
No mundo real, por outro lado, palmada não é tortura e não traz danos às crianças. Como documentado, por exemplo, por Judith Rich Harris em The Nurture Assumption, as evidências a esse respeito em geral não controlam variáveis básicas (ex: influência genética, cultura do meio infantil do qual a criança participa, etc.) e descartam interpretações alternativas: crianças são mais violentas porque apanham mais ou apanham mais porque são mais violentas?
Quando têm algum rigor, os resultados são fracos, e sempre do tipo: crianças que levam palmada podem ser um pouco mais briguentas.
Mas veja: mesmo que haja algumas consequências negativas, nem por isso se segue que a palmada jamais deva ser usada. A necessidade de controlar a criança no presente pode justificar um pequeno desvio de comportamento futuro. (Ou por acaso é um dever moral deixar que os pimpolhos dominem o lar?) Esse tipo detrade-off é normal na criação dos filhos.
Peguemos exemplos de outras áreas. Ao levar o filho para a praia ou para uma piscina, os pais estão conscientemente aumentando o risco de morte da criança. Mesmo assim, julgam que a diversão daquele momento justifica o risco.  Ao levar o filho para a casa da avó pra passar a noite, os pais voluntariamente aumentam as chances de o filho morrer ou de ter sequelas pela vida toda (ao colocá-lo num carro) para que possam desfrutar uma noite a dois.  É tão horrível assim?  Não.  É natural.
Pequenos riscos e danos fazem parte da vida, e podem ser justificados por ganhos significativos em outras áreas. Da mesma forma, manter a paz no presente pode justificar um microaumento da probabilidade de que o filho arrume briga no parquinho.
A palmada é apenas uma alternativa para coibir maus comportamentos.  Não é das melhores.  Depender menos dela é bom.  Aliás, quanto mais palmada se dá, menos eficaz ela se torna.  Sua vantagem é ser uma punição imediata com baixo custo e alto poder de coibir malcriação.  O castigo, a conversa séria, o "tirar brinquedos" também funcionam em diferentes contextos, mas todos exigem mais tempo e esforço dos pais, que às vezes estão exaustos demais. Às vezes, nada como uma boa palmada, ainda que não seja a ferramenta ideal.
Palmada é como ter um pneu remoldado de estepe. Pior e menos seguro, mas, quando necessário, quebra um galho; melhor com ele do que sem.
O ideal da criação sem palmada pode até ser admirado, mas na maioria dos casos não é realista e por isso não deveria em hipótese alguma ser obrigatório.  A proibição só serve para abolir uma ferramenta dos pais, tornando a criação dos filhos algo mais cansativo, sem dar nada em troca.  Com essas e outras neuroses perfeccionistas que assolam a relação entre pais e filhos, dá pra entender por que ninguém mais quer tê-los.
A proibição depende de imaginar um mundo fantasioso da infância perfeita; trata-se de algo similar à mentalidade que proibiu a propaganda infantil (que, como todo mundo sabe de primeira mão, é coisa inofensiva). Nesse sentido, a escolha da Xuxa como garota-propaganda foi perfeita: uma eterna adolescente que vive num mundo de fantasias infantis e conta com serviçais para toda e qualquer tarefa; e cuja filha, aos 15 anos, ainda tem babá.
O conteúdo da lei é só o começo dos problemas.  É preciso implementar a proibição.  E como é que a Justiça vai descobrir se a palmada ainda vigora nos lares?  A princípio, é mais uma lei que não pegará.
Ou será que o estado vai levá-la a sério?  Nesse caso, e na ausência de Fiscais da Família visitando-nos toda semana pra interrogar as crianças (ainda é cedo pra isso — quem sabe em 2050), a única saída é estimular a cultura da delação.  Seus vizinhos, seus parentes, seus conhecidos; não arrume confusão com eles, ou já sabe…
Ensinamos as crianças a recorrerem à autoridade ao primeiro sinal de conflito, como se fosse um reflexo.  Agora instaremos os adultos a fazê-lo também.  Não é a primeira vez.  Pode ter certeza de que interessa ao estado quebrar laços de confiança entre as pessoas.  Quanto mais as pessoas confiam umas nas outras, menos o poder estatal é necessário.  Já tivemos os Fiscais do Sarney, agora podemos ressuscitá-los, não para multar comerciantes, mas para arruinar famílias. Belo e moral!
Entre a lei que não pega e a vigilância totalitária, minha mulher apontou uma terceira alternativa, e essa é minha aposta.  Para o grosso das pessoas, a lei não vai pegar.  A vida seguirá como sempre.  O custo social da implementação é alto demais.  Mas, de vez em quando, quando um conflito ou desavença surgir, apossibilidade de delatar a palmada às autoridades será mais uma opção do cardápio; mais uma tática possível no arsenal de militantes bem-intencionados ou vizinhos invejosos.  Virá à tona especialmente em disputas virulentas pela guarda dos filhos.
A Lei do Menino Bernardo entrará, assim, no rol das leis hipócritas: aquelas que ninguém espera que sejam seguidas, mas que continuam valendo quando convém. Como a Lei Seca.  Desastrosa se aplicada de verdade, ela é aplicada arbitrariamente, de vez em quando.  Sobrevive como um pequeno exercício de poder para ferrar a vida de algum azarado.
Agora não há mais escolha: ou se opera no (suposto) ideal, ou se está quebrando a lei e pode-se perder a guarda dos filhos e até mesmo ir para a cadeia por um período de 1 a 4 anos.
Mas me digam, o que será pior para uma criança: levar uma palmada no bumbum ou ser tirada à força de seus pais, dada aos cuidados da Assistência Social, ir e vir a tribunais familiares, e ser repassada a uma nova família?
Sendo assim, todo mundo que levou palmada na infância tem agora apenas duas opções: apontar o dedo na cara da mãe e dizer que ela é uma criminosa e que deveria ter sido presa, ou protestar em alto e bom som contra essa lei imbecil.

Joel Pinheiro da Fonseca é mestre em filosofia