quinta-feira, 25 de julho de 2013

Fuga para adiante, por José Serra

POLÍTICA


José Serra
A reunião deste fim de semana do diretório nacional do Partido dos Trabalhadores trouxe um fato inédito . A rotina desses encontros é culpar a oposição por todas as mazelas do país, como se os petistas não mandassem no seu próprio governo. Mas desta vez foi diferente.
Ao analisar o quadro político e as dificuldades da administração Dilma Rousseff - mais evidentes após as grandes manifestações de junho e a queda livre nas pesquisas - o PT pôs a culpa não na oposição, mas nos aliados!
Assim, os males do Brasil seriam devidos ao fato de os petistas não conseguirem governar sozinhos, sendo obrigados a composições com os “conservadores”, santo eufemismo. Tais alianças estariam a impedir os avanços que o governo tanto deseja realizar.
Será? O PT já domina completamente o Executivo em Brasília: Presidência, Casa Civil, Fazenda, Planejamento, Saúde, Educação, Justiça, todos os principais órgãos e ministérios são controlados pelo partido. Além das pastas responsáveis pelos temas que fizeram as ruas explodir de insatisfação, estão nas mãos deles todas as estatais relevantes.
Proveitoso seria, hoje, que fizessem autocrítica, e perguntassem “onde foi que nós erramos?" Mas essa atitude não combina com o DNA autoritário, de quem se julga portador de uma verdade histórica tão inquestionável quanto o teorema de Pitágoras.
Um exemplo de autocrítica possível seria o da forma perversa das alianças: baseadas não em programas mas sim no rateio dos benefícios do poder.
Assim, somos obrigados a assistir o filme da fuga para adiante - "fuite en avant", para lembrar a expressão de Ignacy Sachs. Ou seja, após três mandatos, o PT pede mais para ele mesmo, demanda o poder absoluto para fazer o que não conseguiu realizar em mais de uma década de hegemonia.
Eis a origem do tal plebiscito sobre reforma política. O objetivo é um só: como não consegue passar de 20% nos votos para o Legislativo, o PT quer mudar as regras para que a minoria nas urnas se transforme em maioria no Congresso, minimizando a necessidade de aliar-se a outros partidos. Por isso defende a lista fechada para a eleição de deputados e o financiamento exclusivamente público das campanhas eleitorais.
O PT tem cerca de 20% da preferencia popular. Como a maioria do eleitorado não se identifica com nenhum partido, se o voto for na lista partidária e não em candidatos, acreditam poder transformar os 20% nas urnas em pelo menos 40% do Congresso.

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