sábado, 7 de setembro de 2013

PREPARE O BOLSO: COM DÓLAR ALTO, EMPRESAS PROMETEM REAJUSTE DE ATÉ 12%

PREPARE O BOLSO: COM DÓLAR ALTO, EMPRESAS PROMETEM REAJUSTE DE ATÉ 12%


POR DIEGO AMORIM E ROSANA HESSEL

O governo comemorou ontem os resultados da megaintervenção anunciada pelo Banco Central, que resultará na injeção de mais US$ 60 bilhões no mercado até o fim do ano. Depois de ter atingido R$ 2,45 na quarta-feira, a maior cotação desde 2008, a moeda norte-americana fechou a semana valendo R$ 2,353, registrando expressiva queda de 3,23%. Mas esforço algum será suficiente para impedir que o novo patamar da taxa de câmbio contamine os preços e prejudique o orçamento das famílias. A depender do segmento empresarial, as tabelas serão reajustadas em até 12%.

Grandes importadores do país não acreditam em recuos maiores do dólar até o fim do ano, e já renegociam as encomendas para o Natal. No caso dos alimentos e das bebidas, a arrancada da moeda norte-americana encarecerá os produtos entre 8% e 12% no início de setembro, segundo o presidente da Associação Brasileira dos Exportadores e Importadores de Alimentos e Bebidas (Abba), Adilson Carvalhal Júnior. O nível de importação das empresas, informou ele, caiu 10% desde junho.

Já no setor de eletroeletrônicos, bastante dependente de suprimentos importados, os preços devem subir de 7% a 12% no próximo mês. Computadores e, sobretudo, celulares, que têm quase 90% das peças trazidas de fora, custarão mais. “Não há escapatória. Portanto, quem puder antecipar as compras de Natal, que o faça, porque esses aparelhos estarão bem mais caros no fim do ano”, aconselhou o diretor de pesquisa da Consultoria IT Data, Ivair Rodrigues.

Diante dos sinais emitidos pelas empresas, o Ministério da Fazenda decidiu aumentar a vigilância da economia, para conter abusos. O entendimento do governo é de que, com a ação do Banco Central, que totalizará intervenções de US$ 105 bilhões, pois US$ 45 bilhões já foram despejados no mercado, é de que não há mais motivo para estresse ou especulação. A tendência, disseram integrantes da equipe econômica, é de que a divisa dos Estados Unidos se estabilize em um patamar mais próximo de R$ 2,30. “O importante é que haja previsibilidade. A economia não pode conviver com tantas incertezas, sendo o câmbio um fator importantíssimo para a formação dos preços da economia”, disse um técnico.

Falta de confiança

Quase tudo o que é vendido no Brasil está atrelado ao dólar de alguma forma. Para compensar as transações mais caras, as companhias se dizem obrigadas a reajustar os preços. “Desta vez, a variação cambial assusta mais, porque há um grave problema de descrédito com o país. A falta de confiança entre os empresários é muito alta”, sublinhou Carvalhal.

Uma das alternativas do governo para conter os repasses exagerados de preços é reduzir impostos sobre importados. Uma lista com centenas de produtos já foi divulgada neste mês, justamente para compensar a alta do dólar. “Sabemos que já está havendo repasses, mas em proporções pequenas, uma vez que a atividade está mais lenta que o desejado. Ou seja, os consumidores estão retraídos, com elevado endividamento, e não têm aceitado arcar com aumentos de preços fora do normal”, acrescentou outro integrante da equipe econômica.

Ele reconheceu que ainda é cedo para acreditar que os resultados das intervenções do BC são para valer. Mas admitiu que a presidente Dilma Rousseff deposita muita confiança na medida, como forma de manter a inflação sob controle e de evitar que o Comitê de Política Monetária (Copom), que se reunirá na próxima semana, seja obrigado a elevar tanto os juros. A expectativa dos analista é de que, na quarta-feira, quando o BC baterá o martelo, a taxa básica (Selic) passe dos atuais 8,50% para 9% ao ano. “O consenso dentro do governo é de que o aumento da Selic será de 0,5 ponto percentual, para acalmar os ânimos do mercado e reforçar a visão dos investidores de que se está trabalhando em todas as frentes para corrigir eventuais distorções”, frisou um assessor do Palácio do Planalto.

Estoque elevado

O Walmart é um dos grandes varejistas que começou a refazer o planejamento para o fim do ano, de acordo com o vice-presidente da marca no Brasil, Alain Benvenuti. A empresa reduziu em 15% o volume de importados para o Natal e intensificou as negociações com os fornecedores locais, na intenção de tentar absorver o impacto da escalada do dólar.

Como o consumo no país caiu nos últimos meses, os estoques do varejo estão acima da média, o que pode ser uma vantagem para os consumidores neste momento de forte desvalorização do real. “É possível encontrar produtos de linhas mais antigas, com preços 20% abaixo dos registrados nos “, destacou o diretor da Consultoria IT.

O impacto da mudança do câmbio, explicou o consultor, revela um problema estrutural no Brasil: as indústrias sem fumaça, que fabricam produtos com componentes basicamente vindos do exterior. “Celulares, por exemplo, são montados aqui com quase todas as peças importadas. A tela de um televisor de LCD, item que responde por 90% do custo total do produto, também vem de for a”, emendou.

Antes de mexer na tabela, os atacadistas decidiram esperar um pouco mais. Mas aumentos podem surgir, também em setembro. “Vamos ter o pé no chão. Não é hora de aumentar preço. No entanto, se a situação do câmbio continuar assim, não teremos escolha”, ponderou o presidente da Associação Brasileira de Atacadistas e Distribuidores de Produtos Industrializados (Abad), José do Egito Frota Lopes.

Sem escapatória

Mesmo que o impacto nos preços não existisse, o dólar descontrolado não é bom para o Brasil, acrescentou o presidente da Associação Brasileira das Indústrias da Alimentação (Abia), Edmundo Klotz. Ele reforçou que, ao mesmo tempo em que potencializa as exportações, a desvalorização do real eleva os custos da produção interna, uma vez que boa parte dos insumos — no caso do agronegócio — tem cotação internacional. São commodities.

Um comentário:

  1. Sem escapatória

    Mesmo que o impacto nos preços não existisse, o dólar descontrolado não é bom para o Brasil, acrescentou o presidente da Associação Brasileira das Indústrias da Alimentação (Abia), Edmundo Klotz. Ele reforçou que, ao mesmo tempo em que potencializa as exportações, a desvalorização do real eleva os custos da produção interna, uma vez que boa parte dos insumos — no caso do agronegócio — tem cotação internacional. São commodities.

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