terça-feira, 23 de julho de 2013

Alvos de protestos são temas comuns na imprensa


Manifestantes pelo país exigem nas ruas soluções para mazelas que jornais, revistas e sites de notícia abordam com frequência há anos
A histórica e inédita onda de protestos que se espalhou pelo país nas últimas duas semanas cobra soluções para questões que há anos estão nas páginas e nos sites dos veículos de comunicação: os gargalos nos transportes, a falta de recursos para Saúde, os resultados preocupantes na Educação, a impunidade dos corruptos, a crescente desilusão com políticos e partidos e o estouro do orçamento na organização da Copa do Mundo são alguns temas que foram tratados em inúmeras reportagens. E, agora, ganham as ruas na voz dos manifestantes e nos milhares de cartazes por eles exibidos.

Essas manifestações mostram a relação que tem se desenvolvido entre as chamadas novas mídias, como as redes sociais, e a mídia tradicional, avalia o professor e diretor do Centro Knight para Jornalismo nas Américas, Rosental Calmon Alves:

— Apesar de o movimento ter sido articulado fora da mídia tradicional, ele se nutre não só das informações e opiniões de seus participantes, mas também, em grande medida, se nutre do jornalismo. Há uma relação simbiótica inegável entre as redes sociais e o jornalismo profissional — diz ele. — O jornalismo se torna ainda mais importante como uma instância verificadora, profissionalmente preparada para investigar e publicar os fatos de uma maneira organizada.



Mal crônico: Tal qual Macunaímas modernos, brasileiros tomaram as ruas e repetiram à sua maneira o diagnóstico feito pelo herói criado por Mario de Andrade: “Pouca saúde, muita saúva/Os males do Brasil são”. Boa parte dessa revolta se alimenta das denúncias recorrentes da imprensa sobre o estado dos hospitais e da falta de médicos, principalmente no interior país. Como a publicada pelo “Extra” em 2008 sobre o Hospital Central do Iaserj, que, apesar de ter recebido investimento de R$ 50 milhões, não tinha sequer centro cirúrgico em atividade.

Longe do ideal: O brado por mais educação que ecoou na voz de um milhão de manifestantes pelo país inteiro é uma reação a uma realidade que os jornais vêm denunciando permanentemente. Em sua edição de 1º de abril deste ano, “A Folha de S. Paulo” destacou a queda do rendimento no aprendizado em Matemática nos alunos da rede pública entre o 5º e o 9º ano do ensino fundamental, segundo a Prova Brasil, exame do governo federal. Especialistas apontaram como causas para o desempenho pífio tanto o déficit como a má formação de professores.


SEM cadeia: Ao longo de quatro meses e meio em 2012, a imprensa se dedicou à cobertura daquele que é chamado o maior julgamento da história do Supremo, o do mensalão, sobre o esquema de compra de votos de parlamentares. E o caso continua em pauta, como atesta reportagem de “O Estado de S.Paulo” de abril, sobre a possibilidade de recursos darem a mensaleiros condenados direito a “novo julgamento”. Mais de meio ano após proferidas suas sentenças, nenhum mensaleiro cumpre pena, reforçando sentimento de impunidade que tomou conta das ruas.


Incentivo à impunidade: Em 16 de junho deste ano, O GLOBO estampou em editorial o seu temor em relação à Proposta de Emenda à Constituição (PEC) 37, que impede procuradores e promotores de Justiça de investigar crimes, deixando essa missão exclusivamente para forças policiais: “É inquestionável que cassar parte do espaço de atuação do MP significa enfraquecer o Estado no combate à corrupção”. Alertas como esse ganharam os principais meios de comunicação, preocupados com a manutenção da impunidade.


em baixa: O crescente afastamento dos partidos políticos dos eleitores e o desvirtuamento dessas siglas vêm sendo tratados pela imprensa, que também abriu espaço para o debate sobre uma reforma política que melhores a qualidade da nossa democracia. No início de junho, O GLOBO mostrou como alguns partidos tornaram-se uma verdadeira ação entre amigos: pelo menos 150 parentes de políticos ocupam cargos de direção nessas agremiações, sendo pagos com recursos do Fundo Partidário, uma verba pública




Freada brusca: O grave quadro dos transportes já era denunciado pela imprensa bem antes de gerar o grito inicial de protesto das manifestações que tomaram conta do país. Em abril deste ano, por exemplo, dois repórteres do site G1testemunharam a precariedade das estradas brasileiras acompanhando durante quatro dias, ao longo de 2,3 mil quilômetros, caminhões que levavam soja de Sorriso, em Mato Grosso, até o Porto de Santos. Um mês antes, O GLOBO mostrara como o governo, em um ano, reduzira em R$ 4,3 bilhões o seu investimento no setor

 * Texto publicado no Globo 

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