domingo, 1 de setembro de 2013

Julgamento reflete luta pelo poder na China (Editorial)

GERAL


O Globo
O caso Bo Xilai é um divisor de águas na história recente da China. O julgamento dessa ex-estrela do Partido Comunista, caída em desgraça, abre uma fresta para os bastidores da ditadura. O que se vê é uma batalha entre os atuais detentores do poder, seguidores da abertura e das reformas promovidas a partir de Deng Xiaoping, e uma ala neomaoista mais ligada às raízes da revolução comunista, portanto retrógrada, representada por Bo e seus seguidores.
É um escândalo que ultrapassa a esfera política, mistura corrupção, abuso de poder, assassinato, traição e, talvez, adultério. O político chefiava o Partido Comunista em Chongqing, maior dos quatro municípios chineses com status de província, com cerca de 30 milhões de pessoas. Carismático, seu governo populista garantiu-lhe prestígio entre os habitantes. Ele tinha assento no Politburo do PC chinês.
O mundo de Bo caiu quando sua mulher, Gu Kailai, foi acusada de assassinar um amigo da família, o empresário inglês Neil Heywood. O político recebeu acusações de tentar interferir na investigação e de causar grande embaraço ao PC quando o chefe de polícia de Chongqing, Wang Lijun, que denunciou o crime, foi a um consulado americano em busca de asilo político, o que não conseguiu. Mas relatou o caso.

Bo Xilai, ex-líder do Partido Comunista

O julgamento durou cinco dias e teve um detalhe inusitado: o tribunal divulgava diariamente seu andamento no microblog Weibo, equivalente chinês ao Twitter. A estratégia de defesa de Bo foi evitar a seara política, admitir alguns erros de conduta, negar veementemente que tenha lucrado US$ 4,3 milhões via corrupção, tachar sua mulher de louca e dizer que o chefe de polícia tivera um caso com ela.
A estratégia do governo chinês foi mostrar que o julgamento marcou o fim da linha para o líder de uma ala perigosa, cujo objetivo era boicotar o caminho do país rumo à maior abertura econômica e a futuras reformas políticas, através de uma volta ao passado. Bo era concorrente do atual presidente, Xi Jinping, pelo mais alto cargo na hierarquia comunista. Ambos são princelings, ou descendentes dos que fizeram a revolução com Mao Tsé-tung. Ele foi desmascarado no 18º Congresso do PCC, em novembro de 2012, o mesmo que ungiu Xi. O caso chamou a atenção para a corrupção na alta cúpula do partido, algo explosivo. Bo tem uma vila na França e desviou dinheiro público para custear a educação de um filho, Guagua, em Harvard e Colúmbia.
O “New York Times” revelou, por sua vez, que a família do premier Wen Jiabao, que deixava o poder, amealhara US$ 2,7 bilhões. O próprio presidente Xi teria bens acima de US$ 1 bilhão, segundo a Bloomberg.
A sentença de Bo sairá no início de setembro. A cúpula em Pequim espera que seja suficiente para tirá-lo de circulação até cair no esquecimento. Teme que, se for branda, Bo e seus partidários voltem para assombrá-la.

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