domingo, 1 de setembro de 2013

Cartas de Buenos Aires: Hackers - anjos e demônios

GERAL


Gabriela Antunes
Snowden, Assange, Manning. Informantes, espiões, hackers, anjos para alguns e demônios para outros. Nossa época vai se assemelhando àquela realidade tecida por simulacros, tal como teorizou o filósofo francês Baudrillard, que ganhou notoriedade quando Hollywood resolveu tomar emprestado algumas de suas ideias, ao idealizar o filme icônico Matrix.
Hackers podem acessar seu computador, seu telefone, um marca-passo e até mesmo a cabine de um avião. Mocinhos e vilões, criadores e destruidores convivendo lado a lado. E a Argentina, como não poderia deixar de ser, também tem seu quinhão de anjos e demônios virtuais.
No último dia 18, acusações de que a Presidenta havia feito uma visita extraoficial ao paraíso fiscal Seychelles, corroborando acusações de corrupção e lavagem de dinheiro, sacudiram a Argentina e deterioraram as já bastante tensas relações entre o Governo e o jornalista Jorge Lanata. Ele exibiu um informe sobre o assunto em seu programa de domingo, culminando em um episódio insólito que levou ao encerramento da conta de twitter da Casa Rosada.
“Lanata, seu gordo descarado”, dizia um dos posts emitidos naquela noite pela conta oficial de twitter do Governo. “ Assassino mediático”, dizia outra mensagem.
Segundo o Governo, as mensagens seriam o resultado de um suposto ataque de hackers. Muitos se adiantaram em dizer que a Presidenta, em um dos seus ataques verborrágicos usuais, havia perdido a cabeça. Mas a Casa Rosada aclarou, em um comunicado oficial, que sua conta havia sido hackeada. Estava armado o barraco virtual, ainda não elucidado pelo provedor do serviço.

Twitter da presidência durante suposto ataque de hackers.

“Um hackeio a uma conta de twitter pode ser fácil ou difícil, tanto para mim, meu vizinho, uma empresa ou a Casa Rosada”, explicou ao Cartas de Buenos Aires uma das maiores autoridades em segurança de redes, o argentino Matias Katz, recentemente escolhido um dos hackers mais influentes do mundo.
Segundo Katz, especializado em detectar e proteger ameaças de hackers a empresas e instituições, o país vem se tornando um celeiro de talentos para a indústria de proteção da informática.
“A Argentina se destaca pelo reconhecimento e respeito a nível mundial. Muitas das grandes empresas de segurança nasceram aqui”, explica.
Em maio, um grupo de hackers britânicos chegou a atacar uma empresa Argentina que desenvolvia um jogo, o qual buscava “corrigir” o resultado histórico da guerra das Malvinas. Lembrando: a Argentina saiu derrotada pelos ingleses.
Parece que política e hackers começam a andar lado a lado por aqui também.

Gabriela Antunes é jornalista e nômade. Cresceu no Brasil, mas morou nos Estados Unidos e Espanha antes de se apaixonar por Buenos Aires. Na cidade, trabalhou no jornal Buenos Aires Herald e mantém o blog Conexão Buenos Aires. Escreve aqui todos os sábados.

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