sábado, 17 de agosto de 2013

Dez conclusões falaciosas da ideologia dominante


progress.gifEm toda e qualquer situação, em qualquer época e em qualquer lugar do mundo, o que dominará o pensamento das pessoas, bem como a ação que elas exigirão de suas autoridades, é a ideologia dominante.  A ideologia dominante possui o indelével poder de moldar a maneira como as pessoas interpretam o que está ocorrendo no campo social,por que isso está ocorrendo, e o que deve ser feito a respeito.  A ideologia exerce seu poder em grande parte por meio daquilo que podemos chamar depoder da predisposição, isto é, o poder que ela possui de gerar conclusões padrões e predeterminadas, as quais, quando examinadas mais detidamente, nada mais são do que meros saltos de fé.
No presente, por uma conjunção sem precedentes de fatores, a ideologia dominante ao redor do mundo é o progressivismo.  Embora haja pequenas nuanças aqui e ali, pequenas diferenças emocionais e intelectuais, o fato central é que o progressivismo, em todos os lugares, mantém coeso um elemento central: sua inabalável fé no estado, em seu poder de correção e em sua capacidade de agir vigorosamente nas mais variadas frentes possíveis, sempre com o intuito de aprimorar a sociedade e melhorar o comportamento dos cidadãos.
Um economista observa em particular que a ideologia progressivista hoje abraça de maneira inflexível as seguintes conclusões predeterminadas:
1. Se um problema econômico ou social parece existir, o estado deve impor regulações para corrigi-lo ou, no mínimo, remediá-lo;
2. Se as regulações já foram impostas e não funcionaram, elas devem se tornar mais severas e mais abrangentes;
3. Se houver uma recessão econômica ou uma simples desaceleração da economia, o estado deve adotar medidas de "estímulo", utilizando ativamente seus arsenais monetários e fiscais;
4. Se, não obstante todas as medidas estatais de "estímulo", a recessão ou estagnação persistir, o estado deve aumentar o tamanho, a duração e a abrangência destes programas;
5. Se o crescimento econômico parecer muito lento e não estiver satisfazendo o padrão de desempenho exigido por pessoas poderosas (como a mídia), o estado deve intervir para acelerar a taxa de crescimento fazendo "investimentos" em infraestrutura, em educação, em saúde e emtecnologia;
6. Se o estado já estiver fazendo tais "investimentos", então ele deve fazer ainda mais destes investimentos;
7. Durante uma recessão, para combater o aumento no déficit do orçamento do governo, os impostos sobre "os ricos" devem ser elevados;
8. Se a economia estiver crescendo, os impostos sobre "os ricos" também devem ser elevados, só para garantir que eles contribuam com uma "fatia justa" para a sociedade e ajudem o governo a equilibrar suas contas;
9. Se os progressistas perceberem qualquer tipo de "falha de mercado", o estado deve intervir de maneira tal que prometa a criação de um Nirvana;
10. Se as intervenções passadas e presentes não gerarem o prometido Nirvana, então o estado deve aumentar sua intervenção até o Nirvana ser finalmente alcançado.
As predisposições progressistas supracitadas, e várias outras numerosas demais para serem citadas aqui, fornecem as bases sobre as quais o estado justifica suas medidas correntes e suas propostas para agir ainda mais expansivamente.  Progressistas não conseguem ver nenhuma situação em que a melhor medida a ser tomada seja a redução do tamanho do estado ou a diminuição de sua intervenção.  Tampouco são eles capazes de admitir que o governo não pode fazer nada de construtivo em qualquer situação.  Eles veem o estado como uma instituição benevolente, bem intencionada, suficientemente capacitada e corretamente motivada para corrigir absolutamente qualquer problema econômico e social.  Para eles, todo o necessário para o estado funcionar bem é que os cidadãos concedam ao governo plena liberdade de ação, e aceitem de bom grado financiar seus custos, sem questionar.
Donde se conclui que os progressistas desejam que o tamanho, o escopo e o poder do estado mudem sempre em apenas uma direção, independentemente de quais sejam as condições passadas e presentes, e independentemente do sucesso com que tais panacéias progressistas foram implantadas no passado — com efeito, se honestamente avaliadas, virtualmente todas elas se revelam um completo fracasso.  A fé progressista no estado, no entanto, segue eterna e inabalável.
É um grande infortúnio para os países do Ocidente que não haja desafios sérios a esta ideologia atualmente dominante.  Os partidos políticos de hoje competem entre si apenas por cargos, cada um deles se esforçando para pilhar o estado ao máximo e direcionar os espólios para seus correligionários e apoiadores.  Não há diferenças ideológicas substanciais entre eles.  Todos os partidos políticos acreditam em um estado poderoso, dominante, difuso e engajado.  Compreensível.  Quanto maior o estado, maior o espaço para a corrupção, mais poderosos são os políticos e maior é o enriquecimento ilícito desta gente.  O que é inconcebível é ver pessoas comuns defendendo sua própria espoliação.  Hoje, toda a discussão política se limita apenas a debater qual grupo de escroques deve ficar com o comando do Leviatã.

Robert Higgs um scholar adjunto do Mises Institute, é o diretor de pesquisa do Independent Institute.

Tradução de Leandro Roque

Inflação dá uma trégua temporária em julho e fica perto de zero


  • Com queda em transportes e alimentos, preços sobem 0,03% em julho, menor alta em 3 anos


Dona de casa Sandra Carvalho notou a queda dos alimentos: “O tomate até que baixou o preço”
Foto: Fabio Rossi / Agência O Globo
Dona de casa Sandra Carvalho notou a queda dos alimentos: “O tomate até que baixou o preço” Fabio Rossi / Agência O Globo
RIO - A inflação deu uma trégua temporária em julho e ficou perto de zero. Com deflação em alimentos e transportes, o Índice de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA) avançou 0,03% no mês passado, a menor variação em três anos, desde julho de 2010 (-0,01%). Em 12 meses, a alta acumulada é de 6,27%, ainda considerada elevada, mas que voltou a ficar abaixo do teto da meta de inflação do governo, de 6,5%. Em junho, o acumulado em 12 meses chegou a 6,70%.

Sem ônibus, IPCA teria subido 0,13%Economistas alertam, porém, que a taxa deve voltar a acelerar nos próximos meses, com a saída de cena de fatores atípicos que determinaram o resultado de julho e com a influência da alta do dólar. A notícia positiva virá dos desempenhos acumulados em 12 meses, que devem desacelerar, sugerindo um cenário melhor para a inflação no segundo semestre do que foi no primeiro.
Com a redução das tarifas de ônibus, metrô e trem urbano após os protestos populares do fim de junho, houve deflação de 0,66% no grupo transportes, a queda mais intensa desde junho de 2012 (quando tinha sido de 1,18%). Das 11 regiões pesquisadas pelo IBGE, em sete ocorreu redução na tarifa de ônibus.
O item ônibus urbano, com queda de 3,32%, foi o maior impacto individual no IPCA para baixo, de 0,09 ponto percentual. Estimativa da LCA Consultores é de que, sem a revogação dos aumentos das tarifas de ônibus, o IPCA teria subido 0,13% em julho e não o 0,03% registrado.
— Na média, os preços para as famílias ficaram praticamente estáveis em julho. Alimentação e transportes trouxeram o índice para muito perto de zero, mas as pessoas continuam pagando mais por alimentação que no ano passado. De janeiro a julho, os alimentos acumulam alta de 5,67% no ano. Em 12 meses, o aumento é de 11,42% — afirmou Eulina Nunes, gerente do índice de preços do IBGE.
Depois de serem o vilão da inflação no início do ano, os alimentos agora ajudaram a segurar os preços. No grupo alimentos e bebidas, houve deflação de 0,33% em julho. O destaque foi o grupo de alimentos in natura, que mais subiram no início do ano, e que agora tiveram queda de 7,1%.
A dona de casa Sandra Carvalho, de 74 anos, percebeu o recuo nos alimentos:
— O tomate até que baixou bastante. A cebola e a batata também estão com preços um pouco melhores.
O grupo vestuário também deu sua contribuição para a inflação baixa do mês passado. As liquidações dessa época do ano levaram a uma queda de 0,39% nos preços do grupo.
em agosto, Alta de até 0,35%
Se alimentos, transportes e vestuário puxaram os preços para baixo, o item empregado doméstico pressionou o custo das famílias, com alta de 1,45%, e impacto de 0,06 ponto percentual, a maior influência individual no mês. O grupo despesas pessoais, no qual o item está incluído, teve alta de 1,13%.
— Com a nova legislação, muitas pessoas valorizaram as próprias empregadas, e passaram a pagar mais. E as faxineiras também ficaram mais caras. Além disso, a oferta está reduzida — disse Eulina.
A alta nos preços deve voltar a acelerar em agosto, com projeções de analistas de até 0,35%, como é o caso do HSBC. Para o resultado fechado do IPCA em 2013, as estimativas estão abaixo de 6%.
— O IPCA deve acelerar para 0,32% em agosto, mas devemos ter um segundo semestre melhor que o primeiro — explica Fabio Romão, da LCA Consultores.
Apesar de concordar que o perfil da inflação será melhor no segundo semestre, o economista da Rosenberg & Associados Fernando Parmagnani diz que a inflação de 6,27% em 12 meses ainda é alta.
Pela primeira vez desde agosto de 2010, o Índice Nacional de Preços ao Consumidor (INPC), que mede a inflação para as famílias com rendimento entre um e cinco salários mínimos, registrou deflação, de 0,13%. Em agosto de 2010, a deflação tinha sido de 0,07%.
— Alimentos e transportes pesam mais no orçamento das famílias de mais baixa renda — disse Eulina.
Economistas não acreditam que o Banco Central (BC) vá mudar sua estratégia de alta de juros.
— A combinação de crescimento fraco com inflação baixa pode trazer mais pressão para uma interrupção prematura da alta dos juros, mas não acredito nisso. Os últimos comunicados do BC reconhecem a necessidade de uma inflação declinante — diz o economista e estrategista de Brasil para o Barclays, Guilherme Loureiro.
(Colaboraram Bruno Villas Bôas e João Filipe Passos)


Seis anos após acidente da TAM, réus começam a ser julgados em SP


  • Testemunhas acusam diretores da Anac. Tragédia provocou a morte de 199 pessoas

SÃO PAULO — No primeiro dia de depoimentos de testemunhas do julgamento do acidente da TAM que matou 199 pessoas no aeroporto de Congonhas, diretores da Agência Nacional de Aviação Civil foram acusados de levar uma desembargadora a erro. As testemunhas de acusação começaram a ser ouvidas nesta quarta-feira na 8ª Vara Criminal Federal, em São Paulo, sobre o acidente ocorrido em 17 de julho de 2007.
Estão sendo julgados pelo crime de atentado contra a segurança de transporte aéreo: Marco Aurélio dos Santos de Miranda e Castro, que era diretor de Segurança de Voo da TAM na época do acidente; Alberto Fajerman, que era vice-presidente de Operações da TAM; e Denise Maria Ayres Abreu, então diretora da Agência Nacional de Aviação Civil (Anac).
Nesta quarta-feira, a desembargadora Cecília Marcondes, do Tribunal Regional Federal da 3ª Região, disse que autorizou as operações nas pistas de Congonhas meses antes do acidente e depois de ter sido induzida a erro pela Anac.
Em fevereiro de 2007, meses antes do desastre, Cecília julgou um recurso em que a Anac pedia que algumas aeronaves não fossem impedidas de decolar e pousar em Congonhas. A Anac havia perdido em primeira instância numa ação civil pública, em que o MP pedia para que alguns modelos de aeronaves não tivessem autorização para pousar e decolar no terminal. O modelo da aeronave do acidente não estava nesta lista.
Cecília afirmou que solicitou esclarecimentos à Anac e disse que recebeu da agência um documento em que o órgão afirmava que a pista era segura. A desembargadora, então, decidiu que as aeronaves poderiam usar as pistas e reformou a decisão de primeira instância, ressaltando que a Anac poderia ser responsabilizada civil e criminalmente por ocorrências.
Porém, Cecília disse ter se sentido enganada após saber que Denise Abreu afirmou, em depoimento ao Congresso Nacional após o acidente, que o documento apresentado não tinha valor suficiente para garantir a segurança da pista.
O juiz da 8ª Vara Federal Criminal de São Paulo, Márcio Assad Guardia, também ouviu hoje outra testemunha de acusação, o piloto da TAM José Eduardo Brosco, que deu explicações técnicas sobre os procedimentos que devem ser seguidos pelos pilotos e sobre o funcionamento de aeronaves. Brosco, que pousou em um avião no dia anterior ao acidente em Congonhas, afirmou que a pista estava um pouco escorregadia no dia 16 de julho. Esse problema foi relatado por ele em documento à época.
Amanhã, serão ouvidas mais duas testemunhas de acusação: o piloto da TAM João Baptista Moreno de Nunes Ribeiro e o comandante da TAM Elias Azem Filho. Uma outra testemunha de acusação que prestaria depoimento, Elias Azem Filho, conseguiu na Justiça um habeas corpus preventivo e não precisará se pronunciar no processo.
As testemunhas de defesa só serão ouvidas pela Justiça Federal em novembro e dezembro.

O "nós" é uma falácia


Antwerp1920Olympics.jpgQuando assistimos às Olimpíadas ou a qualquer competição esportiva internacional, temos a tendência a torcer de acordo com as nacionalidades.  Torcemos para os atletas de nosso paíscontra os do resto do mundo.  Embora não haja nada de errado com esse tipo de diversão, o conceito do indivíduo nunca deve ser perdido em meio ao ideal coletivista — a crença de que os membros do coletivo (a nação, nesse exemplo) são robôs sem personalidade dedicados a servir ao todo.
Antes de continuar, deixe-me introduzir um termo matemático que irá ajudar a expor a falácia do coletivo: o fractal.  Resumidamente, um fractal é uma forma geométrica que pode ser dividida em partes que são, cada uma, tão complexas quanto o formato original da figura.  Ou seja: após essa divisão, cada parte terá sempre o mesmo formato da figura original.
Considere uma árvore: os principais galhos são tão complexos quanto a árvore em si.  Em essência, o galho é "uma cópia em escala reduzida do todo".  Um galho plantado no chão seria indistinguível de uma árvore.  Iterativamente, os galhos dos galhos são eles próprios cópias em escala reduzida da árvore, e assim por diante.
Adicionalmente, considere imagens geradas por computador que tenham qualidades fractais.  Nesse caso, desenha-se uma estrutura complexa que aparentemente possui bordas irregulares, conquanto bem definidas.  Uma análise mais detalhada de uma borda vai revelar uma estrutura que é tão complexa quanto a imagem original.  Mantendo-se esse procedimento iterativamente, uma análise mais detalhada da borda dessa borda irá revelar novas e igualmente complexas estruturas, ad infinitum.
fractal.jpgA ideia básica é que cada observação revela uma nova complexidade e singularidade.  Essencialmente, quanto mais conhecemos, menos sabemos.
Agora voltemos nossa atenção para a estrutura da sociedade.
A topologia da sociedade possui qualidades fractais.  Partindo-se de um ponto de vista global, tendemos a ver os países como agregados homogêneos.  Pressupomos que cada país possui certos atributos que automaticamente se reproduzem em todos os seus habitantes — existem chineses, existem americanos, existem indianos, existem russos e existem brasileiros.
De acordo com essa visão, o cidadão A do país X nada mais é do que uma personificação ideal das características agregadas que são atribuídas a X.  Imediatamente alegamos saber tudo sobre A simplesmente porque sabemos que A é um cidadão de X.  "Eles agem dessa forma porque ele é francês e ela é russa".  Essa é uma maneira perigosa e excessivamente simplista de classificar homens e mulheres que agem, como veremos.
Agora, vamos aplicar o conceito de fractais e centrar nossa atenção apenas no país X.  Olhando-se exclusivamente para X, percebemos variações dentre suas várias regiões.  Ao invés de um grupo homogêneo, descobrimos uma complexidade que é similar à complexidade observada em relação aos outros países do mundo.  Pegando-se os Estados Unidos como exemplo, é possível perceber diferenças entre os residentes de Ohio e os da Califórnia, por exemplo.  Repentinamente, o americano que até então víamos como um ser homogêneo passa a ser o agregado de vários agrupamentos singulares.
Seríamos arrojados a ponto de criar o tipo ideal do nativo de Ohio?  É óbvio que não, uma vez que uma análise mais detalhada de Ohio vai revelar variações dentro do estado que são tão complexas quanto aquelas entre os estados.  À medida que vamos aprofundando essa análise iterativa, acabamos por chegar ao pior dos agregados: a comunidade.
Escolhi a comunidade porque ela é o conceito que permite que todas as análises mais amplas tenham significado.
Todas as ideias coletivistas começam pela comunidade.  Desde os primeiros dias no jardim de infância, as escolas martelam o conceito de comunidade na mente das crianças.  As escolas instruem as crianças a se verem a si próprias como componentes similares e indistinguíveis de suas comunidades, independente de se a comunidade é a escola, um distrito escolar ou alguma outra agregação.
Com esse fim, as escolas se definem a si próprias como "comunidades de aprendizes" — não como uma comunidade de indivíduos, mas como uma comunidade cujos membros anônimos esforçam-se pelo bem coletivo.
Questões que afetam uma comunidade afetam cada membro (ou criança) igualmente.  As crianças devem agir de maneira que deixem orgulhosas suas escolas.  Elas são encorajadas a propor projetos comunitários e são obrigadas a se voluntariar para serviços comunitários.  A mensagem implícita é a de que morrer — de modo figurado, nesse caso — pelo coletivo é o destino a ser aspirado durante a vida.  Como disse Mises,
O universalismo e o coletivismo não podem aceitar a solução democrática para o problema do poder. Na sua opinião, o indivíduo, ao sujeitar-se ao código ético vigente, não o faz em benefício direto de seus interesses particulares; ao contrário, ele está abstendo-se de realizar seus próprios objetivos em benefício dos desígnios da Divindade ou da comunidade.
Entretanto, a comunidade sempre é mal definida.  A sua comunidade é a sua vizinhança ou uma das várias e sobrepostas subdivisões políticas?  Ou a sua comunidade é formada por aqueles cuja companhia você aprecia?
Quem pretende iniciar o estudo da ação humana a partir de entidades coletivas esbarra num obstáculo insuperável, qual seja, o fato de que um indivíduo pode pertencer ao mesmo tempo, e na realidade pertence — com exceção das tribos mais primitivas —, a várias entidades coletivas.  Os problemas suscitados pela coexistência de um grande número de entidades sociais e seus antagonismos recíprocos só podem ser resolvidos pelo individualismo metodológico.
Uma vez que a ideia de comunidade cria raízes, as crianças passam a ter dificuldades em se ver como qualquer outra coisa que não seja parte do coletivo.  Lamentavelmente, isso vai seguir na criança por toda a sua vida adulta.  Assuntos tributários, por exemplo, são propostos para o bem da comunidade.  E os bons membros da comunidade devem sempre apoiar as finalidades coletivas.
Portanto, partindo-se da ideia de comunidade coletiva, é fácil ampliar o escopo de atuação (ou tirar o zoom, se preferir) e incorporar maiores horizontes, até que, finalmente, a nação coletiva e o seu governo são abordados.  Se você deve se sacrificar para ser um membro de sua comunidade local, você também deve se sacrificar para ser um membro da sua nação, independentemente de suas políticas e ações.
Se a sociedade, ou o Estado, é uma entidade dotada de vontade e intenção e de todas as outras qualidades que lhe são atribuídas pela doutrina coletivista, então é simplesmente absurdo confrontar as aspirações triviais do pobre indivíduo com seus majestosos desígnios.
Entretanto, homens e mulheres dotados da capacidade de agir não são abelhas que trabalham para o bem da colméia.  Quando humanos são controlados pela autoridade central, eles não mais estão agindo; eles estão reagindo.  E, como Mises demonstrou há muito tempo, humanos que reagem aos comandos do ditador não estão construindo uma colméia, eles estão simplesmente consumindo o mel remanescente — o capital — e esperando passivamente períodos inevitavelmente mais difíceis à frente.
Porém mesmo a comunidade é em si um agregado de vários agrupamentos singulares.  Uma análise mais detalhada vai revelar a existência de famílias.  E mesmo as famílias são o produto de várias entidades singulares: homens, mulheres e crianças que agem individualmente.  É essa complexidade — a complexidade essencial do indivíduo — que explica por que discutir política e assuntos paternais entre membros de família é algo tão delicado.  Ela também explica por que assistir a um jogo de futebol é mais seguro do que conversar informalmente à mesa durante uma tarde de reunião familiar.  Mas é essa complexidade que permite o crescimento da divisão do trabalho, que faz aprimorar e prosperar as economias.
Há duas visões da estrutura da sociedade.  Há a visão coletivista, que falsamente cria agregações características e pressupõe que todos os membros são personificações ideais dessas características agregadas.  E há a visão austríaca, que enxerga apenas o indivíduo e não tenta criar qualquer tipo de agregação.
Todas as variantes de credos coletivistas estão unidas na sua implacável hostilidade às instituições políticas fundamentais do sistema liberal: governo da maioria, tolerância para com as opiniões divergentes, liberdade de pensamento, de expressão e de imprensa, igualdade de todos perante a lei.
O coletivista mancha a face do indivíduo, fazendo com que o caminho para os maléficos "ismos" do nosso mundo seja relativamente fácil e desejável.
Os austríacos, por outro lado, veem o indivíduo independentemente da geopolítica em voga, e é o foco no indivíduo que leva cada vez mais à liberdade.
Torça para seu time.  E alegre-se com os fractais que são seus vizinhos, amigos e colegas.  Não os perca em uma neblina coletiva.

Jim Fedako  vive em Ohio, EUA, é pai de seis crianças que ele próprio educou em casa e mantém o blog Anti-Positivist.

Tradução de Leandro Roque

Bate-boca entre ministros do STF encerra sessão plenária


  • Joaquim Barbosa e Ricardo Lewandowski trocam ofensas dentro e fora do plenário da Corte
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Segundo dia do julgamento dos recursos do mensalão termina após discussão entre Barbosa e Lewandowski Foto: André Coelho / Agência O Globo
Segundo dia do julgamento dos recursos do mensalão termina após discussão entre Barbosa e Lewandowski André Coelho / Agência O Globo
RIO E BRASÍLIA - Por volta das 17h30, quando o Supremo Tribunal Federal (STF) debatia os embargos de declaração apresentados à Corte pelo ex-deputado Bispo Rodrigues (PL-RJ), o ministro Joaquim Barbosa, atual presidente da Casa e relator da ação penal 470, encerrou a sessão de forma abrupta por conta de um forte bate-boca travado com o ministro Ricardo Lewandowski, revisor do caso.
A discussão entre os dois ministros se prolongou, após a sessão, na antessala do plenário da Corte. Do lado de fora, era possível ouvir um cobrando “respeito” do outro. De longe, também foi possíve escutar a palavra “palhaçada”.
Barbosa e Lewandowski trocaram acusações e ofensas quando a Corte decidia sobre o prolongamento ou não da discussão em torno do embargo declaratório do ex-deputado Bispo Rodrigues. Barbosa achou que Lewandowski comportava-se de maneira inadequada:
— É irrazóavel (estar aqui para discutir os embargos)? — disse Lewandowski.
— Vossa Excelência está querendo rediscutir (algo superado)!
— Então é melhor não julgarmos mais nada! — disse o revisor.

Visivelmente irritado, Barbosa retrucou:
— Peça vista, então. Traga o embargo somente no ano que vem!
Lewandowski sugeriu, por sua vez, que fosse dado mais tempo à analise da questão.
— Nós estamos com pressa de quê? — disse ele.
— Para fazer o nosso trabalho e não chicana — disparou Barbosa.
— Você está acusando um ministro de estar fazendo chicana? Peço à vossa excelência que se retrate imediatamente — disse Lewandowski.
Barbosa afirmou que não se retrataria e encerrou a sessão. No jargão jurídico, chicana é manobra para dificultar andamento de um processo.
Antes da discussão, os ministros debatiam se aceitavam ou não o argumento da defesa do Bispo Rodrigues que alegou que o réu foi julgado por uma lei posterior ao crime ocorrido (lavagem de dinheiro). O réu pede para ser julgado pela lei mais branda, a anterior.
Mais cedo, o STF rejeitou os embargos declaratórios de outros três reús condenados pelo mensalão: o presidente de honra do PTB Roberto Jefferson, o ex-deputado do PTB-MG Romeu Queiroz, e a ex-diretora administrativo-financeira da SMP&B Simone Vasconcelos.
Marco Aurélio diz que discussão afeta credibilidade
Após o término da sessão, o ministro Marco Aurélio criticou Joaquim Barbosa e defendeu a iniciativa do ministro Lewandowski de suscitar o debate sobre as penas aplicadas ao ex-deputado Bispo Rodrigues a partir de um embargo de declaração. Para Marco Aurélio, é natural que se tente esclarecer todas as dúvidas sobre o processo. Ele entende que Barbosa exagerou nos ataques a Lewandowski.
- Acho que houve arroubo retórico e a essa hora o presidente deve estar arrependido - disse Marco Aurélio
Para o ministro, o bate-boca entre os dois colegas em plena sessão é ruim e afeta a credibilidade da instituição:
- Não podemos deixar a discussão descambar para o lado pessoal - afirmou.
Ainda segundo Marco Aurélio, Lewandowski agiu corretamente ao levantar dúvidas sobre eventuais contradições na definição da pena do ex-deputado. O ministro disse que ele próprio pediu ajuda a assessoria para esclarecer alguns pontos mencionados por Lewandowski.
- Se houve omissão ou se surgiu alguma obscuridade ou contradição, temos que abrir. Esses vícios é que levam ao acolhimento dos embargos. O importante é saber o teor da denúncia, porque o acusado se defende do que está na denúncia - disse.


sexta-feira, 16 de agosto de 2013

A filosofia da miséria e o novo nacional-desenvolvimentismo do governo brasileiro



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Dentre todas as inúmeras concepções erradas e falsas doutrinas que assombram o pensamento econômico, há uma que se destaca e que pode ser considerada, sem rivais próximos, a mais destruidora e nociva de todas elas: a ideia de que vivemos em um mundo de abundância, um mundo em que não há escassez.
Tal ideia se resume a crer que o principal problema de uma economianão é a criação de riqueza — isto é, a produção de bens e serviços.  O problema seria simplesmente estimular o consumo de maneira igualitária.  Por exemplo, peguemos o inevitável exemplo da "saúde gratuita e de qualidade para todos".  Seus defensores apenas exigem que todas as pessoas possam consumir esse bem gratuitamente.  Nenhum deles jamais se preocupa em explicar como tal bem será produzido e distribuído de maneira racional e gratuita entre todos os seus consumidores.  A produção e a criação não fazem parte da súmula de preocupações destas pessoas.  É como se serviços de saúde, remédios e todos os tipos de tratamento médico, desde cirurgias até engessamento de braço, fossem bens amplamente disponíveis na economia, bastando apenas que haja uma "distribuição correta" de dinheiro para que eles possam ser consumidos igualmente por todos.
Essa visão de mundo parte do princípio de que bens e serviços surgem do nada e estão ali, inertes na natureza, apenas esperando serem descobertos e consumidos — e para que isso ocorra, basta o governo tributar, imprimir dinheiro e gastar. 
Porém, como perfeitamente pode compreender qualquer ser que se disponha a fazer uso de sua razão, nenhum bem ou serviço surge pronto do nada.  Todos eles precisam ser criados e trabalhados.  Um carro não surge do nada.  É preciso trabalhar o aço, o alumínio, a borracha e o plástico que irão formá-lo.  E esses quatro componentes também não surgem do nada.  Eles precisam ser extraídos da natureza ou fabricados.  O mesmo é válido para todos os outros bens de consumo que você possa imaginar, de laptops a aviões, passando por parafusos, palitos de dente e fio dental.  Todos precisam ser trabalhados.  De nada adianta o Banco Central imprimir dinheiro ou o governo aumentar seus gastos — aumento da quantidade de dinheiro ou aumento dos gastos do governo não podem abolir a realidade da escassez; não podem driblar e contornar o problema da produção, fazendo com que os bens finais surjam como em um passe de mágica.
Vejamos um exemplo simples que, em sua essência, revela como é extremamente complexa a estrutura de produção de uma economia.  Imagine uma simples empresa que venda presuntos.  Tudo o que você precisa fazer para adquirir seus produtos é ir até a gôndola de um supermercado, pegar a iguaria com a marca dessa empresa, ir até o caixa e pagar.  Um cidadão comum dificilmente faz uma pausa para pensar em todo o processo produtivo por trás daquele simples presunto.  Muitos creem que fazer um presunto é algo simples.  Muito pelo contrário. 
Em primeiro lugar, a empresa que fabrica presuntos precisa ter instalações adequadas para mantê-los bem conservados enquanto estiverem estocados.  Isso significa ter um armazém com um bom sistema de refrigeração.  O sistema de refrigeração necessita de manutenção e reparos constantes.  Isso significa custos com mão-de-obra.  Esse sistema precisa também de peças de reposição, e tais peças são geralmente feitas de aço.  E como se obtém o aço?  Compra-se de uma siderurgia.  E como a siderurgia fabrica o aço?  Como o aço é uma liga de ferro e carbono, é preciso antes escavar minas para achar ferro.  Portanto, a siderurgia tem de comprar ferro das mineradoras, e as mineradoras têm todo o seu processo de produção.  Vamos parar por aqui, pois, caso contrário, poderíamos nos estender infinitamente.
Após ter sido produzido pela siderurgia, o aço precisa ser transportado para a empresa de refrigeração que irá montar todos os insumos para fazer o equipamento de refrigeração.  O transporte normalmente é feito por uma empresa terceirizada.
Observe que ainda estamos falando apenas do sistema de refrigeração que vai conservar o presunto.  Só aí já vimos várias etapas da cadeia produtiva; vários processos de produção, sendo que cada um desses processos tem várias etapas.  Agora vamos falar mais especificamente do presunto.  O presunto, obviamente, não surge do nada.  Quem o traz?  Uma empresa de transportes.  Ela o traz de onde?  De um frigorífico.  E onde o frigorífico arrumou a matéria-prima (porcos) que se transforma em presunto?  Em um abatedouro.  Quem fornece pro abatedouro?  Um suinocultor.  Qual a função do suinocultor?  Criar os porcos.  Como se cria porcos?  Com milho e soja.  Onde ele arruma milho e soja?  Com agricultores.  E estes precisam de fertilizantes, que precisam ser manufaturados por vários outros processos de produção, e assim por diante.
Ou seja, aquele simples presunto que você compra no supermercado só chegou àquela prateleira após passar por várias etapas de uma intrincada cadeia produtiva.  E todo esse longo processo não pode ser contornado, driblado, evitado ou abolido por meras políticas governamentais.  Tampouco políticas sociais ou redistributivas podem fazer com que haja presunto farto para todas as pessoas de uma economia.  Tudo precisa ser trabalhado e produzido para que venha a existir.
Quando se entende essa realidade de que vivemos na escassez e de que tudo precisa ser trabalhado e produzido para que possa existir, é fácil concluir que, sempre e em todo lugar, haverá trabalho a ser feito.  Seja na fabricação de um bem de consumo, seja na prestação de algum serviço.
E é justamente a ignorância tanto desta realidade — a de que vivemos na escassez — quanto de sua consequência direta — que tal escassez significa que há uma infinita necessidade de trabalho e produção — o que está por trás de absolutamente todas as políticas danosas que frequentemente são implementadas com o objetivo de "estimular a economia" ou "proteger os empregos". 
É essa ideia de que não há escassez — e que, logo, há um número fixo de empregos na economia — que está por trás de políticas inflacionistas, assistencialistas, regulatórias e de aumento gastos governamentais. 
E é também essa ideia que está por trás de todas as políticas protecionistas.
"As importações destroem empregos!"
Como todos que se dão ao trabalho — e ao desgosto — de acompanhar o noticiário econômico bem sabem, o governo brasileiro vem adotando políticas protecionistas de vários tipos, que vão desde o aumento de tarifas de importação até a surrada prática da substituição de importações (com a participação do BNDES, por favor).  A ideia que sustenta tais políticas é uma só: impedir que os chineses e os coreanos — que se atrevem a nos vender a preços baixos produtos que queremos comprar — destruam empregos aqui no Brasil, ou, o que dá no mesmo, impedir que "nossos empregos" sejam exportados.
É importante fazermos uma análise mais detalhada desta recente e vigorosa ascensão protecionista e nacionalista, pois a própria existência do livre comércio — e de toda a prosperidade por ele trazida — depende disso.
Considere esta notícia:
Em meio a uma invasão de importados, a indústria nacional de calçados enfrenta dificuldades para manter empregos e até transfere sua produção para outros países. Dois grandes grupos empresariais do Rio Grande do Sul, principal pólo do setor no país, fecharam fábricas e levaram a produção para a Nicarágua e para a República Dominicana. O objetivo é aproveitar acordos comerciais desses governos com os EUA e criar unidades voltadas ao mercado americano.
A Abicalçados (associação da indústria do setor) diz que outras dez empresas podem tomar o mesmo rumo. A Argentina também recebe empresas brasileiras, que planejaram a mudança devido às barreiras para vender ao país vizinho. O grupo Schmidt Irmãos, que tinha uma série de fábricas no interior gaúcho, transferiu a produção para a Nicarágua no ano passado. O governo nicaraguense divulgou que o investimento da empresa brasileira será de US$ 25 milhões. A unidade em uma zona franca da Nicarágua precisa receber até máquinas e insumos vindos do Brasil, devido à escassa estrutura industrial do país. Procurado, o grupo preferiu não se pronunciar.
Dona de marcas como a Ortopé, a empresa Paquetá, de 12.500 funcionários, fechou em agosto uma fábrica em Sapiranga (RS) e a transferiu para a República Dominicana. Centenas de vagas de trabalho foram perdidas. A empresa disse que tomou a medida para "manter a competitividade industrial e continuar crescendo". A valorização do real também influencia na decisão. A federação dos trabalhadores do setor no Estado fala em risco de desindustrialização e diz que há  debandada para locais que oferecem salários mais baixos. A produção no acumulado do ano no país caiu. Até agosto, a exportação de calçados brasileiros recuou 25% ante o mesmo período de 2010. Enquanto isso, o volume de mercadorias importadas subiu 18%. A Indonésia quase dobrou suas vendas ao Brasil.
Ou seja, além dos chineses e dos coreanos, agora pelo visto também temos de nos "proteger" dos nicaraguenses e dos dominicanos.  E não precisamos ficar apenas nos exemplos diretos de perda de empregos e transferências de indústrias para o exterior.  Podemos pegar também o exemplo da transferência virtual de empregos.  Por exemplo, quem é da área de Tecnologia da Informação sabe perfeitamente que sua maior concorrência não está aqui no Brasil, mas sim na Índia, onde há técnicos plenamente capazes dispostos a trabalhar por salários menores do que seus congêneres brasileiros (e principalmente americanos).  Este é um dos motivos de os salários desta área, como recentemente nos disse um leitor que atua neste setor, estarem relativamente estagnados, por mais crescente que seja a demanda por tais serviços.
E isso é fácil de entender.  Ao passo que um engenheiro de software americano exige um salário de pelo menos US$ 100.000 por ano, e um brasileiro se contenta com uns US$ 30.000 (R$ 52.000), um competente indiano fica plenamente satisfeito com um salário de US$ 20.000.  Fazendo uso de modernos equipamentos de telecomunicação, este indiano poderá trabalhar desde a Índia tão eficazmente quanto se estivesse fisicamente presente no Brasil ou nos EUA.  Nos EUA, inclusive, há um fenômeno que vem assombrando o establishmentmédico daquele país (e que rapidamente pode aportar aqui no Brasil): o número de radiologistas, segundo a imprensa, vem declinando significativamente.  Isso ocorre simplesmente porque as imagens por ressonância magnética podem perfeitamente ser enviadas pela internet para radiologistas da Ásia plenamente capazes de diagnosticar o problema, e que cobram por isso apenas uma fração do que cobra o altamente cartelizado setor médico americano.  Tem-se aí um ótimo exemplo de como o livre mercado trabalha para manter os custos sempre baixos.
O que nos interessa aqui é observar que não há diferença entre substituir um trabalhador no Brasil por outro na Ásia, ou transferir uma fábrica para a Nicarágua e para a República Dominicana, ou desempregar trabalhadores de indústrias cujos produtos não conseguem concorrer com produtos importados mais baratos — no final, o desemprego nestes setores aumentará. 
E é aí que surgem os protecionistas com suas lamúrias sobre o livre comércio gerar desindustrialização, perda de renda, miséria e estagnação econômica.
Donde vem a pergunta: quais são realmente os fenômenos gerados pelo livre comércio?  Eles devem ser temidos?  Seriam eles um ataque ao nosso padrão de vida e, consequentemente, justificariam intervenções governamentais concebidas para controlá-los?
Para responder a esta pergunta, temos acima de tudo de entender a lei das vantagens comparativas e a distinção entre 'valor' e 'riqueza', algo que David Ricardo já havia feito em seu "Princípios de economia política e tributação".  'Valor' deve ser entendido como a renda monetária, e 'riqueza' deve ser entendida como os bens e serviços que a renda monetária pode adquirir.  Ou, colocando de outra forma, 'valor' é o dinheiro utilizado em uma troca, e riqueza é aquilo que é recebido nessa troca.
Assim, comecemos abordando o exemplo mais fácil: engenheiros de software brasileiros sendo substituídos por asiáticos que recebem salários menores.  O motivo desta substituição estar ocorrendo é óbvio: os brasileiros não estão dispostos — ou os custos trabalhistas são maiores aqui, o que dá na mesma — a aceitar salários tão baixos quanto os de seus concorrentes asiáticos.  Logo, o custo de tal serviço é maior aqui do que na Índia. 
E o fato de os brasileiros não estarem dispostos a aceitar esta redução salarial implica que eles preferem ir para outras linhas de produção (isto é, outros empregos) que, embora ofereçam salários menores do que aqueles que receberiam nos empregos que acabaram de perder, não requerem reduções tão severas quanto as que seriam necessárias para que eles se tornassem competitivos nos empregos agora preenchidos por indianos.
Por exemplo, supondo que os engenheiros de software ganhavam R$ 6.000 por mês e não aceitaram reduções salariais, de modo que indianos e chineses foram contratados em seu lugar, eles agora terão de se mudar para empregos que irão pagar, digamos, R$ 5.000 ou R$ 4.000.  Estes engenheiros, ao se mudarem para outros ramos da economia, irão levar todo o seu conhecimento e aptidão para estes setores, aumentando a oferta e melhorando a qualidade dos serviços.  E, principalmente, a maior oferta de mão-de-obra nestes setores irá reduzir os custos.  Caso o fenômeno que está ocorrendo com radiologistas nos EUA ocorra aqui no Brasil, o efeito será o mesmo: uma maior oferta de médicos em outras áreas da saúde, o que levará a uma redução real (isto é, descontada a inflação gerada pelo aumento da oferta monetária) dos preços — algo sempre bem-vindo.
E, como explicado no início do texto, o fato de vivermos em um mundo de escassez implica que sempre haverá, em todo e qualquer lugar, serviços (empregos) a serem feitos.  Em teoria, não há por que haver desemprego.  Logo, o fato de haver desemprego no mundo real se deve às regulamentações governamentais, as quais geram esse descasamento entre a demanda por trabalho, sempre infinita, e oferta de mão-de-obra, naturalmente escassa (tal fenômeno foi explicado mais detalhadamente aqui).  Consequentemente, se são as regulamentações governamentais que atrapalham o remanejamento da mão-de-obra deslocada pelas forças de mercado, então são elas que deveriam ser abolidas, e não o livre comércio.
Expandindo o raciocínio
Toda a explicação acima pode ser expandida para a economia como um todo.  Basta generalizarmos a situação.  Assim, imagine que vários setores da economia brasileira — automotivo, calçados, siderúrgicos, têxteis etc. — sejam confrontados por concorrentes estrangeiros ofertando produtos baratos que os consumidores brasileiros voluntariamente optam por comprar.  Tal concorrência desemprega vários trabalhadores brasileiros, os quais terão agora de ir para outros setores.  Isso irá gerar uma redução na renda monetária destes indivíduos.  Porém, e isso é o mais importante, a redução na sua renda monetária sempre será menor do que a redução nos custos implantada por seus concorrentes.  Ou, colocando de outra forma, a redução nos custos será maior do que a redução na renda monetária.
E isso é fácil de entender.  Quando uma empresa busca reduções de custo (a genuína concorrência no mundo atual se dá por meio da redução de custos e não da redução de preços nominais) e consegue continuar produzindo o mesmo tanto de antes com uma mão-de-obra menos dispendiosa — ou com insumos mais baratos —, isso gera um aumento líquido na produção total de toda a economia.  Reduzir custos de produção significa, geralmente, encontrar uma maneira de produzir a mesma quantidade de bens com menos mão-de-obra.  Isso faz com que haja um aumento na produção total da economia, pois a mão-de-obra que foi dispensada deste setor está agora livre para ir produzir mais bens em outras áreas do sistema econômico. 
Vale a pena enfatizar esse fenômeno:  o que ocorre nestes casos é que a mão-de-obra e os insumos mais dispendiosos são liberados de um setor (calçadista, automotivo etc.) e, com isso, podem ser utilizados para expandir a produção de outros setores comparativamente mais importantes.  Ao mesmo tempo, mão-de-obra e insumos menos dispendiosos são retirados das linhas de produção comparativamente menos importantes e direcionados para este setor em que houve as demissões — e cujo tamanho agora foi reduzido.
Este contínuo processo de substituição de mão-de-obra e materiais mais caros por mão-de-obra e materiais menos caros gera um ganho econômico líquido, equivalente a um aumento na produção, pois a produção de algo considerado mais importante pelos consumidores está sendo aumentada em detrimento da produção de algo considerado menos importante.
As fronteiras geográficas que delimitam estes processos são irrelevantes.  O efeito de trabalhadores da indústria de calçados gaúcha sendo desalojados por sapatos chineses é o mesmo de uma padaria de bairro dispensar seus empregados porque uma grande rede varejista se instalou na vizinhança e está roubando clientes.  Em ambos os casos, desde que haja plena liberdade de comércio e desimpedida mobilidade da mão-de-obra, haverá uma maior produção em outros setores e uma consequente maior oferta de bens na economia como um todo.  É desta forma que as reduções de custo trazidas pelo livre comércio beneficiam os próprios brasileiros. 
Logo, vale repetir: se são as regulamentações estatais que atrapalham o remanejamento da mão-de-obra deslocada pelas forças de mercado, então são elas que deveriam ser abolidas, e não o livre comércio.
Apenas quando se entende todo esse processo é que se torna possível entender como as reduções de custos geradas pelo livre comércio aparecem como reduções reais de preços nos bens e serviços que os brasileiros compram.  Tais reduções de preços ocorrem porque as reduções nos custos são maiores do que o declínio nos salários.  Em outras palavras, os salários reais dos brasileiros — e não os salários nominais — aumentam.  E isso é algo totalmente visível.  O número de horas trabalhadas necessárias para se adquirir bens e serviços vem caindo ao longo dos anos, não obstante toda a inflação monetária e consequente aumento nominal dos preços gerados pelo governo.  Esse fenômeno representa bem o princípio ricardiano das vantagens comparativas e da distinção entre valor e riqueza.
Não obstante tudo o que foi dito, é claro que, se analisarmos exclusivamente a situação de um grupo isolado da economia, principalmente o daqueles assalariados que tendem a ganhar salários mais altos — como os engenheiros de software, os radiologistas ou mesmo os operários sindicalizados da indústria automotiva —, o declínio de sua renda é muito mais acentuado do que qualquer eventual declínio nos preços de bens e serviços que os membros destes grupos tendem a consumir.  Porém, da mesma maneira, para cada um destes exemplos pode-se citar inúmeros contra-exemplos de brasileiros que são beneficiados por reduções nos custos de serviços de informática e serviços médicos e nos preços de automóveis e sapatos.  E sem terem sofrido nenhuma redução salarial.
Conclusão
A divisão do trabalho é algo infinito, e o fato de vivermos em um mundo de escassez significa que sempre haverá serviços a serem feitos.  Consequentemente, sempre haverá empregos para todos.  O fato de isso não ocorrer hoje se deve às várias intervenções do governo no mercado de trabalho — são os encargos sociais (INSS, FGTS normal, FGTS/Rescisão, PIS/PASEP, salário-educação, Sistema S) e trabalhistas (13º salário, adicional de remuneração, adicional de férias, ausência remunerada, férias, licenças, repouso remunerado e feriado, rescisão contratual, vale transporte, indenização por tempo de serviço e outros benefícios), além do salário mínimo, que provocam esse descasamento entre demanda por trabalho e oferta de mão-de-obra.
O livre comércio por si só não gera desemprego.  Muito pelo contrário: ele possibilita a expansão do emprego e o consequente desenvolvimento de outros setores até então pouco ou nada explorados, além de gerar redução de custos e aumento dos salários reais na economia.  As pessoas que são demitidas das indústrias menos eficientes (que não conseguem concorrer com os produtos importados) e não conseguem outros empregos devem debitar ao estado e às suas regulamentações esse seu atual suplício.  O que elas não podem fazer é utilizar justamente o governo para impedir que outras pessoas voluntariamente adquiram os produtos de seus concorrentes.
Há também efeitos indiretos gerados pelo livre comércio.  Países que abrem suas economias expõem seus empreendedores ao mercado global, algo que os obriga a ser eficientes, inovadores e ousados.  De quebra, todo o país é obrigado a melhorar suas referências em educação e a aperfeiçoar seu ambiente burocrático, diminuindo impostos e regulamentações, e aprimorando sua infraestrutura — um setor em que, caso o estado se retirasse de cena, haveria grandes oportunidades para a livre concorrência fazer seu trabalho.
Por trás do protecionismo está justamente a ideia de que os empregos são limitados e de que não há a possibilidade de exploração de novas áreas da economia.  Fosse o governo habitado por seres minimamente racionais em termos econômicos, todas as leis anti-emprego e anti-empreendedorismo já teriam sido repelidas juntamente com todas as tarifas de importação e todas as regulamentações anti-comércio.  E isso traria um benefício enorme para toda a população, principalmente em termos de renda real.
Por fim, nunca é demais ressaltar que o desenvolvimento econômico da China, da Índia, dos países do leste asiático e de todos os países considerados como de terceiro mundo, em conjunto com sua total integração a um sistema de divisão global do trabalho, é algo que deve ser fervorosamente desejado por qualquer pessoa que genuinamente entenda os benefícios do livre comércio e reconheça toda a prosperidade por ele gerada.  Tal desenvolvimento econômico, se deixado livre, geraria, além de todos os benefícios das vantagens comparativas, a máxima economia de escala possível em cada setor da produção.  Mais ainda: cada ramo da ciência, da tecnologia, da invenção e da inovação empreendedorial passaria a ser buscado por um número cada vez maior de indivíduos inteligentes e altamente motivados.  O resultado inevitável seria um progresso econômico mais acelerado ao redor de todo o globo, o que elevaria o padrão de vida de todos para um nível muito acima do atual padrão vigente nos países mais ricos da atualidade — algo desesperadoramente necessário nesses tempos de crise econômica aguda.
O protecionismo nada mais é do que o medo dos incapazes perante a inteligência e as habilidades alheias.  Tal postura, além de moralmente condenável, por ser covarde, é também extremamente perigosa.  Como já alertava Bastiat, se, ao invés de nos permitirmos os benefícios da livre concorrência e do livre comércio, começarmos a atuar incisivamente para impedir o progresso de outras nações, não deveríamos nos surpreender caso boa parte daquela inteligência e habilidade que combatemos por meio de tarifas e restrições de importações acabe se voltando contra nós no futuro, produzindo armas para guerras ao invés de mais e melhores bens de consumo que eles querem e podem produzir, e os quais nós queremos voluntariamente consumir.
Como disse Bastiat, quando bens param de cruzar fronteiras, os exércitos o fazem.  O mundo seria incalculavelmente mais rico e desenvolvido caso as pessoas lessem mais Mises e Bastiat, e menos Marx e Keynes.

Leandro Roque é o editor e tradutor do site do Instituto Ludwig von Mises Brasil.

Parlamentares fazem farra com cota para aluguel de veículos



Câmara gasta R$21,3 mil por mês com aluguel
de cinco veículos para o deputado Arnon Bezerra.
Imagem: Congresso em Foco
Enquanto milhões de brasileiros 
dependem de um transporte de 
péssima qualidade para se 
locomoverem, como deixaram claro 
os protestos de junho em várias cidades 
brasileiras,os parlamentares federais 
contam com uma excepcional ajuda 
do contribuinte para nunca ficarem a pé.
Dos muitos benefícios a que os 
congressistas têm direito, que já colocam nosso Parlamento no topo do ranking 
mundial nessa área, destaca-se a Cota para o Exercício da Atividade Parlamentar (Ceap). 
Ela confere em média a cada deputado – e, segundo o Senado, os valores são 
equivalentes para os senadores – cerca de R$ 400 mil por ano. O dinheiro serve, 
em tese, para bancar despesas necessárias ao bom exercício do mandato. 
Entre elas, auxílio para divulgação do mandato, passagens aéreas, aluguel de 
veículos e gastos com combustíveis. Estes últimos, limitados a R$ 4,5 mil mensais 
para o deputado e, para o senador, ilimitados desde que fiquem dentro do teto 
da Ceap, que é mais conhecida como cota parlamentar ou simplesmente “cotão”.
Como cada congressista tem total liberdade para usar essa verba, ela se transformou 
em um extraordinário ralo de desperdício de recursos públicos. Basta dizer que entre 2012 
e 2013, somente a Câmara dos Deputados já gastou mais de R$ 31 milhões em aluguéis 
de veículos e R$ 22,8 milhões com combustíveis e lubrificantes. Mas o valor pode ser 
ainda maior, pois os deputados têm até 90 dias para prestar contas. Ou seja, valores
gastos entre maio e julho deste ano ainda podem ser ressarcidos.
O montante é suficiente para comprar mil carros populares, o que daria quase dois 
carros por parlamentar (a Câmara tem 513 deputados). Ou 413 carros executivos de 
uxo, como os deputados demonstram preferir. É como se cada parlamentar, gastasse 
em média, todo mês, R$ 3,1 mil para alugar carros.  Apesar dos elevados gastos, as 
empresas contratadas, frequentemente, são pequenas e muitas sequer têm loja montada.
 Enfim, a inevitável conclusão é que o Congresso, que já protagonizou em ar a farra das 
passagens, também encena em terra uma outra folia com os reais que nos são 
retirados através dos impostos.
Arnon Bezerra, o campeão de gastos
Vários parlamentares chegam a desembolsar mais de R$ 15 mil mensais para ter 
à disposição carros executivos e de luxo.
É o caso do deputado Arnon Bezerra (PTB-CE), recordista no gasto com aluguel de 
carros. Desde 2012, ele gasta todo mês R$ 21,3 mil para locar cinco carros, sendo
 três de luxo. Segundo Arnon, o custo está dentro dos valores de mercado, mesmo 
tendo valor tão elevado. “Eu uso os carros e transporto também o pessoal que me 
acompanha sempre para o interior. Você não usa todo dia, mas eles têm que estar 
à disposição. Porque nem sempre quando precisa se tem os carros à disposição. E
eu consegui preços mais acessíveis para, justamente, ter os carros à disposição”, 
disse ele ao Congresso em Foco.
O próprio deputado confirma que aluga uma Toyota Hilux, uma Mitsubishi Pajero, 
uma Triton e dois carros populares cujos modelos o deputado não informou. Em 2010,
 quando concorreu a uma vaga na Câmara, Arnon declarou à Justiça eleitoral  possuir 
uma Toyota Hilux no valor de R$ 50 mil. Segundo o parlamentar, os carros são 
utilizados em Juazeiro do Norte e em outras cidades próximas, no interior do Ceará.
Desde o início do atual mandato até junho o deputado gastou nada menos que 
R$ 505,8 mil em aluguel de veículos, locados em duas empresas de Fortaleza – a 
Levita Locação de Veículos Ltda. e a Top Rent a Car Ltda. Ou seja: destinou, em
dois anos e meio, mais de meio milhão a esse tipo de despesa. O deputado discorda 
que seja muito.
“Considero, sim, que esse gasto é necessário para garantir o transporte, para fazer um
 trabalho confortável. Se não, eu teria que fazer a opção de ir com um avião pequeno 
para determinados lugares do interior. E eu não posso diminuir o meu trabalho. Se a gente
 não volta para a
 base, a gente não volta para Brasília. Temos que estar na base permanentemente, 
fazendo trabalhos, fazendo palestras, discutindo e recebendo críticas também”, justificou.
A maioria dos parlamentares prefere alugar os automóveis porque a verba indenizatória não
 permite a compra de automóveis. Além disso, os contratos, em geral, preveem a substituição
 dos carros em caso de defeitos ou desgaste.

Mariana Haubert
Congresso em Foco