sábado, 2 de novembro de 2013

A denúncia da denúncia


A denúncia da denúncia


de8
Volto aos fiscais do Kassab, na sequência da Alstom, que são só os exemplos mais recentes de “revelações” feitas na hora exata em que algum escândalo atinge o PT. Quase tudo que se tem lido na imprensa na linha “denúncias” nos últimos anos tem essas mesmas origem e sentido: é muito mais tiroteio de bandido que trabalho jornalístico.
Não escrevo para atacar a imprensa. Insisto porque ainda acredito nela.
Tenho de acreditar. Dos políticos não espero nada. Nem do Executivo nem do Legislativo. Do Judiciário também não. Só resta o “Quarto Poder”, na sua diversidade ainda que minguante.
Como lidar com denuncias endereçadas parece uma questão eticamente sutil e difícil de destrinchar mas não é tanto.
de8
A dúvida não está em publicar ou não publicar as denúnicias que lhe são jogadas no colo. Tem de publicar todas, desde que checadas. Afinal, de um modo ou de outro, é assim que mesmo as que não são politicamente endereçadas começam.
Mas, ainda que checadas e confirmadas o que, diga-se de passagem, as redações já não costumam fazer como antigamente, é obrigatório o “disclosure”.
A desonestidade está em se apropriar indevidamente da denuncia alheia e vende-la como obra própria. É obrigatório contar ao leitor como ela chegou ao jornal quando isso é parte essencial do nexo da história que está sendo publicada. Omitir essa informação de modo a impedir que o leitor use os devidos filtros para entender o verdadeiro significado do que está lendo é, simplesmente, uma maneira de mentir. É deturpar dolosamente – isto é, com má intenção – a verdade inteira que supostamente está sendo “revelada”.
de8
Não me venham com a desculpa de que tomar a iniciativa de fazer isso é abrir espaço para a concorrência. Ou quebrar o sigilo da fonte. No primeiro caso, cai-se no “Eu sou, mas quem não é”? que é a desculpa usada por 10 entre 10 dos ladrões que brandem instituições para nos assaltar onde os seus colegas da rua brandem apenas armas de alcance mais restrito. No segundo, sejamos claros: a justificativa do sigilo é proteger o interesse público e não prejudicá-lo.
O que tem faltado é curiosidade básica demais para ser perdoada. Afinal, pegar fiscal achacador nos tres niveis de governo, se a policia quiser trabalhar, é coisa para se contar por minuto. Você acredita que foi só coincidência este caso “explodir” numa entrevista coletiva convocada pelo prefeito para o dia seguinte de um aumento do IPTU de 30% arrancado da Câmara Municipal no “tapetão” na calada da noite?
de8
E o que lhe parece: esse pormenor é mais ou é menos informativo do que a “revelação” do Prefeito em si mesma?
E alem do mais, a que é que levam essas “revelações”“? Quando a imprensa começar a fazer materias para mostrar quantos participantes algemados desses shows televisivos continuam presos em vez de continuar festejando o “acesso“ a informações magnanimamente “obtido” (e o magnanimamente nunca é mencionado) segundo as conveniências dos donos das policias como se isso fosse fruto de trabalho próprio haverá esperança para este país.
Escândalo é o que acontece depois que eles são pegos, algemados, escrachados na televisão com as cabeças cobertas e as sirenes ligadas.
Depois que as luzes da ribalta se apagaram alguém foi condenado? Ou será? Daqui a quantas décadas? E algum condenado foi preso? Continua preso? Está cumprindo pena?
de8
Pois é…
O que de fato está acontecendo, então, quando você vê um carnaval desses na televisão; nos jornais? Quem realmente está sendo beneficiado e quem está sendo prejudicado? Esses shows representam redução ou aumento da corrupção no país?
Para poder responder a essas perguntas com absoluta fidelidade aos fatos a imprensa tem, antes, de fazer uma confissão. E depois, um “mea culpa“.
Se não começar pela imprensa não ha esperança. Enquanto ela fizer parte da farsa não vai…
de8

Nenhum comentário:

Postar um comentário