quarta-feira, 21 de agosto de 2013

‘O que fizeram foi terrorismo’, diz brasileiro detido em Londres

MUNDO


Roberto Kaz, O Globo
Antes de pegar um voo do Rio para Berlim, há duas semanas, David Michael Miranda (foto abaixo à esquerda), de 28 anos, comentou rindo com seu parceiro, o jornalista americano Glenn Greenwald:
- Será que vão me parar?
A preocupação, em tom de chacota, concretizou-se no domingo, quando, durante a viagem de volta, ele foi retido e interrogado por onze horas, em Londres - onde o voo fazia escala -, com base no que permite a Lei Antiterrorismo do Reino Unido. Teve um celular, um computador, um PlayStation Vita, um aparelho de wi-fi, dois relógios e um barbeador elétrico apreendidos, além de pen drives com informações enviadas a Greenwald pela documentarista Laura Poitras (que também esteve com o ex-agente da CIA Edward Snowden).

 A preocupação, em tom de chacota, concretizou-se no domingo, quando, durante a viagem de volta, ele foi retido e interrogado por onze horas, em Londres - onde o voo fazia escala -, com base no que permite a Lei Antiterrorismo do Reino Unido. Teve um celular, um computador, um PlayStation Vita, um aparelho de wi-fi, dois relógios e um barbeador elétrico apreendidos, além de pen drives com informações enviadas a Greenwald pela documentarista Laura Poitras (que também esteve com o ex-agente da CIA Edward Snowden).
- O que fizeram comigo foi terrorismo. Só pude ver meu advogado depois de oito horas - diz Miranda. - A mensagem deles ao Glenn foi: “A gente vai fazer isso com as pessoas próximas a você”. Só que deu errado.
Vivendo há nove anos com Greenwald - responsável por denunciar no jornal britânico “Guardian”, no GLOBO e na revista “Época” os abusos da Agência de Segurança Nacional dos Estados Unidos -, Miranda se viu, desde então, alçado à linha de frente do caso. Na segunda-feira, foi entrevistado pelo “Jornal Nacional”.
- Eu imaginava o Glenn no “Jornal Nacional”. Não eu. Mas há três meses, quando a gente bateu nos EUA, nossa vida mudou completamente - conta. - Agora está sendo bom para minha carreira, para a carreira dele. Ontem (terça-feira), no mercado, um cara me reconheceu. A gente ainda tem liberdade, mas com alguns limites.
Que limites?
- Tenho tido receio de falar pelo telefone com amigos e com a família. Eu e o Glenn estamos preparados para o que der e vier nessa guerra que começou. As outras pessoas, não.
‘Só estava fazendo um favor’
Criado pela tia, Miranda morou na favela do Jacarezinho, até sair de casa, aos 15 anos. É órfão de mãe, desconhece o pai, tem quatro irmãos com quem perdeu o contato. Trabalhou como office boy, faxineiro, despachante e gerente de uma casa lotérica. Conheceu Greenwald aos 19 anos, quando jogava futevôlei em frente à Rua Farme de Amoedo, em Ipanema. O americano viera ao Rio a turismo. Em uma semana, já estavam morando juntos.
Hoje, dividem uma casa no Alto da Boa Vista com o gato Paco e nove cachorros (Uli, Enzo, Pulo, Raika, Mila, Mable, Lugh, Silvester e Kane). Miranda fala com os animais - a maioria adotada ou achada na rua - em inglês. Na sala, o mobiliário é simples: uma mesa, um sofá, uma enorme televisão de tela plana, um videogame. Diz que que seu sonho é ser diretor de marketing da Sony, para lidar com os lançamentos do console Playstation.
Aluno do sétimo período da Escola Superior de Propaganda e Marketing, no Centro, administra a carreira do parceiro. Costuma falar das matérias publicadas por Greenwald na primeira pessoa do plural. Ainda assim, afirma desconhecer o conteúdo dos arquivos que foram retidos pela polícia inglesa:
- Eu nunca tinha viajado com esse tipo de material. A Laura é minha amiga, fui passar uma semana de férias com ela, em Berlim. Eu só estava fazendo um favor transportando o material.
Glenn Greenwald acha que a informação contida nos pen drives dificilmente será acessada (“É muita criptografia”). Já Miranda diz que a apreensão de seus bens só comprova os abusos de poder que o parceiro denunciou.
- Eles entraram no meu Skype ainda agora. Meu nome estava on-line. É uma sensação horrível. Todas as minhas fotos e conversas estão sendo invadidas nesse exato momento. Me sinto pelado na frente de várias pessoas.
Miranda quer processar o governo britânico. No Brasil, foi procurado por uma vereadora (que não recorda o nome) e pelo senador Ricardo Ferraço (PMDB-ES), presidente da Comissão de Relações Exteriores e Defesa Nacional. Cobra uma explicação de Dilma Rousseff:
- Tem que pensar que isso aconteceu porque eu sou brasileiro. Tem outras pessoas trabalhando nessa história, indo do Brasil a Londres o tempo todo, e nada acontece. Não é o caso só do Itamaraty se pronunciar. Quero saber o posicionamento da Dilma. Um líder de Estado tem que falar. Ela vai ficar calada?


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