sábado, 21 de setembro de 2013

Matemática na economia: bom ou ruim?



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Como o termo "matemática" é muito amplo, é melhor restringirmos o seu significado para essa discussão. Evidentemente, ninguém acha que matemática básica é algo inútil para a economia. Se A tem dois reais e B tem três, ninguém condenará a conclusão de que A e B juntos têm cinco reais.

O que se questiona é o uso do "cálculo" — ou, mais precisamente, das ferramentas que a física clássica utilizava — para a economia. Ou seja, quando atacamos o uso da matemática na economia estamos contra a aplicação do cálculo diferencial e infinitesimal, das equações diferenciais e de métodos geométricos na praxeologia.

A minha defesa dessa tese — de que essa parte da matemática é inútil à economia quando não positivamente prejudicial — será feita em diversos níveis de abstração.

Economia e física

É inegável que a aplicação dos métodos matemáticos usados pelos físicos na economia tem como inspiração o próprio triunfo da física como modelo de ciência. A aplicação de poucas leis gerais traduzíveis em equaçõesmuito simples e que davam imensa capacidade preditiva mostravam ao mundo as vantagens de uma ciência ancorada no cálculo diferencial e infinitesimal.

Não se deve esquecer que o título da maior obra de física de todos os tempos era Princípios Matemáticos de Filosofia Natural. A física antiga, aristotélica, não era ancorada em equações. As idéias eram colocadas emlinguagem natural. A partir de Galileu, sobretudo com Newton, os avanços da física foram sem precedentes.

A física agora tinha uma visão unificada da natureza — até porque eletromagnetismo na época era um fenômeno mais ou menos irrelevante —, em que se explicava desde o movimento de pêndulos simples às leis de Kepler; daengenharia básica à estabilidade do sistema solar. Laplace chegou a afirmar que bastava que lhe dessem as condições iniciais do universo para que ele desvendasse tudo que ocorreria no universo. O poeta Alexander Pope, parodiando a Bíblia, disse algo assim: "E Deus disse: haja Newton. E houve luz".

Havia, pois, uma confiança natural nos poderes da mecânica newtoniana. É claro que, inspirado nisso, os homens do saber começaram a tentar estender as idéias matemáticas de Newton a todos os outros campos doconhecimento humano. Mesmo quando não aplicavam diretamente a matemática, era a filosofia geral de Newton que dominava. David Hume, por exemplo, diz explicitamente no prefácio do Tratado da Natureza Humana que a sua filosofia é uma tentativa de aplicar os grandes princípios de Newton ao homem.

A essa suposição de que todo o conhecimento humano deva ser baseado nos métodos da mecânica clássica chamaremos de cientificismo.

A pergunta natural que devemos responder é: o cientificismo está certo?

Para responder essa questão, é necessário investigar, ainda que brevemente, o tipo de objeto de conhecimento da economia e compará-lo com o da física. Basicamente, a física se preocupa com a matéria e seu movimento. Donde se conclui que a fonte primária de informações do físico necessariamente é o mundo exterior. A matéria, enquanto tal, não pensa, não tem motivos. Então só observamos o seu comportamento a partir da observação, só após o seu movimento ter ocorrido.

Na praxeologia, a questão é fundamentalmente distinta. O que importa não é o movimento do corpo do agente, o seu gasto de energia nos processos metabólicos e na sua locomoção. O que importa para a ciência da ação humana é a estrutura formal por trás da própria noção do que é ação.

Ação é comportamento teleológico, é a busca de um fim empregando meios que o agente acredita que levarão ao objetivo desejado. A fonte do conhecimento do que é uma ação, portanto, não está na observação do mundo exterior, mas no próprio sujeito de conhecimento.

De um lado, causalidade determinística e observação exterior; do outro, ação motivada e observação interior.

Há ainda uma outra diferença. O mundo natural exterior é marcado por uma observável regularidade. Isso significa que a descrição dos fenômenos é invariável. Um resultado observado no laboratório X será o mesmo observado no laboratório Y. E esses resultados podem ser descritos imediatamente como dados matemáticos. Pois, sendo a preocupação da física o movimento – em sentido restrito – da matéria, os seus dados podem ser analisados via a atribuição de um sistema de referência que possibilite imediatamente uma métrica, i.e., uma noção de distância. Para diferenças de posições, podemos atribuir números.

Portanto, a atribuição quantitativa aos fenômenos físicos surge naturalmente. E a regularidade quantitativa dos fenômenos é o que permite a elaboração de equações para a descrição do mundo natural — mesmo na mecânica quântica, na qual importam mais distribuições de probabilidade.

Essa atribuição quantitativa não é formal, mas material. Por exemplo, se eu sei qual é o coeficiente de atrito cinético de um determinado plano e faço deslizar sobre ele um objeto com determinadas aceleração e velocidade iniciais, a equação que descreve o movimento desse objeto me dirá explicitamente o ponto em que o objeto ficará parado — se é que isso irá ocorrer.

Não há a mesma espécie de regularidades nas ações humanas. As pessoas possuem preferências e estas são modificadas sem nenhum padrão. Dependem da vontade de cada indivíduo. Ao contrário dos experimentos laboratoriais da física, indivíduos diferentes agem de forma diferente em experimentos em condições semelhantes. Um mesmo indivíduo pode agir de forma distinta em experimentos semelhantes. Como dizia Ludwig von Mises, "não existem constantes na ação humana".

A regularidade nos fenômenos da ação humana é formal, não material — como na física. Trata-se meramente de regularidades qualitativas, não quantitativas. Os dados relevantes da praxeologia são juízos de valor. E a juízos de valor não é possível dar uma medida quantitativa objetiva. Logo, o uso de equações não é útil na descrição dos fenômenos da ação humana, exatamente por essa não ser a linguagem apropriada ao objeto de estudo.

Ciência

Toda ciência possui dois aspectos. Uma ciência, para ser ciência, tem que possuir uma qualidade explicativa, na qual se tenta demonstrar o nexo causal dos fenômenos. Por outro lado, a ciência deve ter um aspecto preditivo. Essa é a idéia básica do que seja uma ciência.

A sociedade americana de econometria adotava como lema a frase que dizia que "ciência é fazer previsões". Nessa visão, portanto, o caráter explicativo da ciência é reduzido ao seu aspecto quantitativo. O que implica, por sua vez, uma visão muito restrita da ciência. Aqui, ciência não seria o conhecimento do seu objeto de estudo, mas o conhecimento que se revela por relações quantitativas.

Pelo que foi dito acima, esse ponto de vista implica a inexistência de uma ciência da ação humana, pois esta não pode ser encarada do mesmo modo que a física. O caráter explicativo da praxeologia não é quantitativo, mas qualitativo; é teleológico.

Então, se a econometria é uma pseudociência que só teria uma aspecto (falho) preditivo, poder-se-ia objetar que a praxeologia peca pelo oposto: ao possuir apenas um lado explicativo, não teria à sua disposição a predição. Donde a praxeologia não seria também uma ciência no sentido que usualmente é atribuído a este termo.

O erro de tal objeção é confundir predição com predição quantitativa. Predição pode ser tanto quantitativa quando qualitativa. A redução que se faz do caráter preditivo de uma ciência a aspectos quantitativos — donde a ferramenta imprescindível de toda ciência ser a matemática, que é a ciência que trata das quantidades por excelência, embora não se reduza a isto — advém precisamente do cientificismo, que, como foi argumentado acima, é uma filosofia falsa.

Portanto, a praxeologia é uma ciência cujo aspecto qualitativo reside na estrutura formal da ação humana — não matematizável — e cujo lado preditivo é qualitativo, não quantitativo.

O uso da matemática na economia

Como foi observado na seção 1, a física tornou-se modelo de ciência pelo seu aspecto preditivo. E o seu aspecto preditivo foi tomado com seu poder explicativo, na medida em que os resultados eram generalizados para uma quantidade enorme de casos. Assim, os próprios princípios da física tornaram-se equações.

Se na praxeologia começamos dizendo que os homens agem, na física começamos dizendo que tais e tais objetos satisfazem determinada equação. É mais do que evidente a diferença qualitativa das ciências, que reflete a diferença dos objetos das respectivas disciplinas e da forma como conhecemos esses objetos.

Porém, uma vez que tentemos matematizar a praxeologia e reduzi-la a uma espécie de mecânica da ação humana, que resultados efetivos poderíamos mencionar em defesa desse procedimento? Se a física como matemática aplicada é imediatamente justificada por seus resultados preditivos, podemos invocar os resultados da economia matemática como defesa da sua existência como ciência?

Antes de tudo, é necessário observar que nem mesmo os economistas levam a sério na prática a economia matemática, mesmo quando são economistas matemáticos. O sistema de equações fundamental do equilíbrio do consumidor diz que o indivíduo maximiza sua utilidade quando a razão entre a utilidade marginal à quantidade consumida de um bem e o seu preço é igual a essa mesma razão para todos os outros bens. Ou seja, se houver n bens, então haverá um sistema de n(n-1)/2 equações diferenciais parciais. Ninguém nunca viu um economista tentando resolver essas equações.

O que significa que os economistas, ao usar a matemática e lhe tentarem dar um aparato preditivo quantitativo, abandonam a fundamentação explicativa da teoria via teoria do comportamento para focar em grandes agregados, aos quais ele não consegue dar uma explicação razoável. Isto é, parte-se para a estatística e para as milhões de regressões.

Pois bem, a estatística funciona muito bem para o passado, mas o fato é que durante um século os economistas tentaram na prática aplicar as suas conclusões econométricas para controlar a economia e falharam.

Em suma, a economia matemática não se justifica do mesmo modo que a física matemática, na medida em que não possui poder preditivo.

A matemática, o espaço e a economia

Conforme já foi dito, o cálculo é muito apropriado à física, pois é possível estabelecer muito naturalmente duas das unidades fundamentais desta ciência: tempo e espaço. Nós sentimos o tempo passar continuamente, de modo que estabelecemos com fundamentação que o tempo corre continuamente. Por outro lado, os matemáticos fazem a suposição de que o conjunto dos reais pode ser representado como uma reta.

Assim, o físico tem bons motivos para considerar o movimento como função em espaços vetoriais reais, que é o ambiente mais apropriado para a formulação do cálculo diferencial e infinitesimal.

O físico, então, interpreta o movimento dos objetos como sendo variações das posições de pontos num espaço. Ou seja, ele iguala o espaço real com o espaço matemático. Portanto, uma vez fixada a unidade de medida do espaço, as descrições matemáticas correspondem – caso estejam corretas – aos fenômenos reais observados. Isso acontece porque, como já foi colocado antes, os próprios princípios da física são equações básicas nesse próprio espaço em que ele trabalha.

Na economia, as coisas não são assim. Por exemplo, se estamos tratando da teoria de produção, as unidades não são divisíveis. As quantidades devem ser sempre números naturais, de modo que não se tem um ambiente favorável ao cálculo diferencial e infinitesimal. As funções de produção não contínuas na topologia usual do espaço euclidiano n-dimensional, não sendo, pois, diferenciáveis, e tampouco são integráveis (à Lebesgue), uma vez que o conjunto dos pontos de descontinuidade não tem medida nula.

O caso da produção numa economia monetária seria o mais favorável possível à formulação matemática, mas, como acabamos de mostrar, os métodos do cálculo diferencial e infinitesimal são simplesmente inaplicáveis. A única forma de usá-los seria não com uma simplificação da realidade, mas por uma deliberada falsificação dela. Nenhuma ciência pode ser considerada como tal se busca a mentira por vontade própria.

O caso é ainda mais dramático no caso da teoria do consumidor — ou, se fôssemos generalizar, para a teoria da ação humana em geral —, já que é simplesmente estabelecer as relações algébricas usuais para utilidade. Não faz sentido adicionar, subtrair, multiplicar ou dividir utilidades. Não se pode sequer atribuir uma estrutura de espaço vetorial — ou, ainda mais geralmente, de módulo — ao conjunto das utilidades, muito menos tentar criar cálculo diferencial.

Matemática como ilustração

Complementando o argumento acima, não se pode criar uma álgebra com as operações usuais para utilidade. Qualquer um que se aventure a pegar um livro-texto de microeconomia, encontrará no começo, provavelmente no primeiro capítulo, alguma seção explicando que utilidade é ordinal, não cardinal; que não faz sentido fazer comparações interpessoais de utilidade. No entanto, provavelmente na seção seguinte, ele encontrará alguma curva de indiferença, que supõe que as pessoas não ordenam os bens numa escala de preferência.

Sem discutir esse procedimento ilegítimo que é o uso de curvas de indiferença, o autor do livro-texto basicamente atribuirá níveis de utilidade, aos quais fará corresponder algum número. Ou seja, primeiro ele diz que não é possível atribuir uma medida à utilidade, mas logo em seguida finge esquecer o que disse e atribui medida, mesmo sem lhe dar um significado realista. A justificativa é que é mera ilustração.

Antes de tudo, é preciso notar que ilustrar uma teoria não pode ser feita através de algo falso. Ilustrar uma teoria é dar-lhe um exemplo em que ela realmente seja aplicável, embora num contexto bastante simplificado. Por exemplo, quando um físico quer explicar o princípio da relatividade, ele cita o caso de uma pessoa no leito de uma ferrovia e outra dentro de um trem. Agora, não faria sentido dizer que o movimento de carro é uma ilustração da dualidade matéria/onda da luz.

Quando o economista utiliza o cálculo, ele não está fazendo uma ilustração, mas está jogando fora as proposições verdadeiras anteriores para adotar algo que ele sabe ser falso. Ele está substituindo uma teoria por outra, uma teoria melhor por uma pior.

E qual não será a surpresa do leitor atento ao perceber que, de repente, toda a teoria que é desenvolvida nos capítulos ulteriores será justamente a aplicação daquela "ilustração"! Por fim, não será raro encontrar até comparações interpessoais de utilidade. A chamada economia do bem-estar, por exemplo, tem como seu fundamento essa suposição, embora ela seja sempre tomada implicitamente.

A linguagem matemática como forma de evitar erros

Uma defesa dos métodos matemáticos na economia é que a linguagem matemática, por ser mais formal, acabaria facilitando a identificação de erros no raciocínio, de modo que seria uma forma de evitar erros lógicos. Esse argumento não deixa de ser irônico. Para evitar um erro acidental, justifica-se um erro essencial!

No entanto, sendo este argumento de ordem pragmática, não precisamos mostrar o seu descabimento filosófico. Na prática, a economia matemática tem sido fonte de acertos ou de erros? Bem, a maior parte das políticas econômicas adotadas no século XX tiveram como base de sustentação teorias econômicas fortemente calcadas em equações. Como essas políticas, em geral, foram desastrosas, podemos dar duas explicações diferentes — apesar de não serem mutuamente exclusivas: i) houve erros matemáticos ou ii) houve erros nos fundamentos da teoria.

Já sabemos que as teorias econômicas matemáticas são falsas por falsificarem deliberadamente a realidade. O melhor, então, que a economia matemática pode fazer é nos assegurar que provavelmente os erros da sua fundamentação serão carregados nas deduções das equações!

Equilíbrio de Nash

Por último, comentarei um pouquinho sobre teoria dos jogos, que, aparentemente, estaria livre de alguns excessos da economia matemática. A teoria dos jogos não é exatamente uma teoria que usa os métodos matemáticos aplicados à física. Então poderia ser um ramo da economia válido que exigiria um maior conhecimento de matemática.

O resultado mais importante da teoria dos jogos é o Teorema de Nash, que diz que em todo jogo não-cooperativo com um número finito de jogadores com estratégias mistas há pelo menos um equilíbrio de Nash.

Do ponto de vista matemático, eu não tenho nada a objetar. A demonstração feita por Nash na sua tese de doutorado me parece válida. Não encontrei nenhum erro e, tendo ela sido aprovada, devemos considerar aqui que realmente ela esteja correta do princípio ao fim.

Então qual seria a minha "implicância" com o equilíbrio de Nash? Na verdade, nenhuma. A minha implicância é com o uso que se faz desse resultado em teoria econômica. O problema do teorema de Nash é que ele não é aplicável à realidade.

A demonstração do Teorema feita por Nash utiliza noções de topologia. O que nos interessa aqui é uma observação. Suponha que haja n estratégias puras disponíveis a um jogador. Então o espaço de todas as estratégias para esse jogador é o conjunto S = {(p_1,p_2,...,p_n): p_1+p_2+...+p_n = 1 e p_i >=0, para todo i e p_i sendo número real}. Atribuindo a cada eixo de um espaço real euclidiano n-dimensional uma estratégia pura, então isso será um politopo n-dimensional. Por exemplo, se n=2, haverá um triângulo de vértices (0,0), (1,0) e (0,1) e as estratégias do jogador será qualquer ponto na reta que liga os vértices (1,0) e (0,1). A partir daí, define-se uma função pay-off para cada jogador P : S —> R, R é o conjunto dos reais.

Qual a importância disso? Além do problema óbvio de que a função pay-off terá que ser uma função de utilidade caso tenha alguma aplicação praxeológica — e isso não faz sentido —, existe uma suposição que é "ilegítima" de que as probabilidades podem ser números reais quaisquer entre 0 e 1. Por exemplo, se num jogo, eu escolho as minhas estratégias mistas apostando dinheiro em cada uma delas, então as probabilidades estão condicionadas pela divisibilidade do dinheiro.

Se eu tenho que apostar 1 real em três estratégias, eu posso fazer uma escolha de apostar 10 centavos em uma, 28 centavos em outra e 62 centavos na restante. É claro, o número de apostas possíveis é imenso — mas é finito. Então, nesse caso, o Teorema de Nash é inaplicável.

Não custa nada dizer: só se pode garantir a conclusão de um teorema de as hipóteses dele forem satisfeitas. Ora, em economia, dinheiro sempre tem divisibilidade finita. Logo, a hipótese de Nash nunca é satisfeita e, assim, o teorema nunca é aplicável na realidade.

O que estamos ressaltando aqui é que o uso da matemática na economia é totalmente inválido. Nenhum economista discute o que eu acabei de colocar. Procurem nos livros de economia se há alguma discussão sobre a validade do Teorema de Nash na economia. Simplesmente ninguém fala disso. A matemática é uma ciência rigorosa.

O que os economistas têm feito é agir como sanguessugas da matemática. Como esta é uma ciência prestigiada, o economista pega um teorema que possui uma demonstração rigorosa, no entanto aplicando-o a uma situação sobre a qual ele não diz respeito!

Alguém poderia objetar: "ora, mas nós podemos pensar nisso como um caso limite da realidade!" Mas isso é uma palavra de ordem, não um argumento... Porque, antes de tudo, a demonstração do teorema depende essencialmente da topologia que é utilizada — que se compromete com a forma específica dada ao conjunto S. E, além disso, seria preciso uma análise matemática para saber se realmente esse procedimento de ser "caso limite" realmente se aplica. É dizer, é preciso esquecer o teorema tal como ele e desenvolver uma teoria totalmente diferente e, só depois, ver como se dá essa relação.

A função da matemática para os economistas

A matemática tornou-se uma forma de intimidação retórica dos economistas. Podemos até dizer que essa é a sua grande função. Não é uma utilização meramente científica, é um uso da arrogância. É a fonte dos discursos "técnicos", em que são ditas mil bobagens aplaudidas, reverenciadas e temidas. Quem se atrever a discutir com a matemática?

A matemática é a ciência mais segura que existe. Se temos uma "demonstração" matemática, somos os donos da verdade. Ninguém discute que 2+2=4. Por que discutiriam as medidas que os burocratas tecnicistas advogam?

Em suma, a matemática tornou-se, na mão dos economistas, uma arma para autolegitimização de um discurso pseudocientífico.
Bernardo Emerick é matemático.


Uma observação sobre o uso da matemática na economia


3638.jpgO método matemático, assim como várias outras falácias, conseguiu adentrar e dominar o pensamento econômico moderno por causa da influente epistemologia do positivismo.  O positivismo é essencialmente a metodologia da física elevada a uma teoria geral do conhecimento para todas as áreas do saber.
O raciocínio que fundamenta a adoção da metodologia da física no pensamento econômico é o seguinte: a física é a única ciência realmente bem-sucedida.  As "ciências sociais" são retrógradas porque são incapazes de mensurar, de prever com exatidão etc.  Por conseguinte, elas têm de adotar o método da física se quiserem se tornar bem-sucedidas.  E um dos pilares da física é, obviamente, o uso da matemática.
Os positivistas tendem a separar o mundo em dois lados imiscíveis: de um lado estão as verdades incontestáveis da física; de outro, a mera "poesia".  Daí sua predileção pelo uso difundido da matemática e seu desprezo pela explicação verbal como sendo algo meramente "literário".
Como Ludwig von Mises havia observado, há uma distinção crucial entre o mundo natural estudado pela física e o mundo da ação humana.
Na física, os fatos da natureza nos são dados.  Eles podem ser decompostos até seus mais simples elementos em um laboratório e, em seguida, ter seus movimentos observados.  No entanto, não conhecemos as leis que geram os movimentos das partículas físicas; partículas físicas não têm uma motivação.
Consequentemente, torna-se necessário determinar as causas criando hipóteses e formulando teorias gerais, de modo que, destes axiomas, seja possível deduzir não somente os fatos originais da natureza, mas também outras teorias que possam ser diretamente testadas pelo fato (o famoso conceito do "significado operacional").  Por mais que possamos evoluir no conhecimento das leis da física, nosso conhecimento jamais será absoluto, uma vez que leis sempre podem ser corrigidas por outras leis mais gerais ou por meio de novos testes empíricos.
Na economia, por outro lado, as condições são praticamente opostas.  Na economia conhecemos a causa, pois a ação humana, ao contrário do movimento das pedras, é motivada.  Sendo assim, é possível construir a ciência econômica partindo de axiomas básicos — como a existência incontestável da ação humana e as implicações lógicas da ação —, axiomas estes que são originalmente reconhecidos como verdadeiros.
Destes axiomas, podemos deduzir passo a passo várias leis que também são reconhecidas como incontestavelmente verdadeiras.  E este conhecimento é absoluto, e não relativo, exatamente porque os axiomas originais já são conhecidos.  Eis alguns exemplos:
  • Sempre que duas pessoas, A e B, se envolvem em uma troca voluntária, ambas esperam se beneficiar desta troca.  E elas devem ter ordens de preferência inversas para os bens e serviços trocados, de modo que A valoriza mais aquilo que ele recebe de B do que aquilo ele dá para B, e B avalia as mesmas coisas do modo contrário.
  • Sempre que uma troca não é voluntária e ocorre em decorrência de uma coerção, uma parte se beneficia à custa da outra.
  • Sempre que a oferta de um bem aumenta em uma unidade, contanto que cada unidade seja considerada idêntica em utilidade por uma pessoa, o valor imputado a esta unidade deve ser menor que o da unidade imediatamente anterior.
  • Entre dois produtores, se A é mais eficiente do que B na produção de dois tipos de bens, eles ainda assim podem participar de uma divisão de trabalho mutuamente benéfica. Isto porque a produtividade física geral será maior se "A" se especializar na produção de um bem que ele possa produzir mais eficientemente, em vez de "A" e "B" produzirem ambos os bens autônoma e separadamente.
  • Sempre que leis de salário mínimo forem impostas obrigando os salários a serem maiores do que os salários que vigorariam em um livre mercado, um desemprego involuntário será o resultado.
  • Sempre que a quantidade de dinheiro na economia aumentar sem que a demanda por dinheiro também seja elevada, o poder de compra da moeda irá diminuir.
Por outro lado, não existem elementos simples ou "fatos da natureza" na ação humana; os eventos da história são fenômenos complexos, os quais não podem "testar" nada.  Eles, por si sós, somente podem ser explicados se forem aplicadas várias teorias relevantes aos diferentes aspectos de um determinado "fato" complexo que está sendo analisado.
Por que a matemática é tão útil na física?  Exatamente porque os próprios axiomas utilizados, bem como as leis deles deduzidas, são desconhecidos e, com efeito, sem significado.  Seu significado é exclusivamente "operacional", uma vez que eles são significantes somente na medida em que podem explicar determinados fatos.
Por exemplo, a equação da lei da gravidade, por si só, não tem sentido nenhum; ela só adquire sentido quando nós humanos observamos determinados fatos que a lei pode explicar.  Consequentemente, a matemática, que efetua operações dedutivas sobre símbolos por si só inexpressivos (sem significado), é perfeitamente apropriada para os métodos da física.
A ciência econômica, por outro lado, parte de um axioma que é conhecido e possui significado para todos nós: a ação humana.  Dado que a ação humana, em si própria, possui significado (o que não quer dizer que ela sempre será avaliada como racional e correta), todas as leis deduzidas passo a passo da ação humana são significativas.  Esta é a resposta para aqueles críticos que exigiram que o professor Mises utilizasse métodos da lógicamatemática em vez da lógica verbal.  Ora, se a lógica matemática tem de lidar com símbolos inexpressivos, então seu uso iria destituir a economia de todo o seu significado.
Por outro lado, a lógica verbal permite que toda e qualquer lei tenha sentido quando deduzida.  As leis da economia já são conhecidas aprioristicamente como significativamente verdadeiras; elas não têm de recorrer a testes "operacionais" para adquirir significância.  O máximo que a matemática pode fazer, portanto, é converter laboriosamente símbolos verbais em símbolos formais inexpressivos e, então, passo a passo, reconvertê-los em palavras.
No entanto, por causa da esterilidade dos símbolos matemáticos, tal procedimento tende a gerar graves erros.  Se um indivíduo for obstinado o bastante para, ainda assim, embarcar em tal aventura, podemos apenas desejar-lhe boa sorte.  O fato é que, por mais metódico que este indivíduo seja, este procedimento de conversão de palavras em símbolos matemáticos e posterior reconversão de símbolos matemáticos em palavras não sobrevive à Navalha de Occam — o famoso princípio científico que diz que não deve haver nenhuma multiplicação desnecessária de entidades, ou seja, que a ciência deve ser o mais simples possível.[1]
Dado que, na física, o conhecimento nunca é certo e absoluto, os positivistas jamais conseguirão entender como economistas podem chegar a verdades específicas; por isso, eles acusam os economistas de serem "dogmáticos" e "aprioristas".  Similarmente, a causa, na física, tende a ser frágil, e os positivistas sempre foram propensos a substituir o conceito de causa pelo de "determinação mútua".  Equações matemáticas são exclusivamente apropriadas para descrever um estado de determinação mútua de fatores, e não de relações de causa e efeito determinadas isoladamente.  Portanto, e novamente, a matemática é apropriada singularmente para a física, e não para as ciências humanas.
Tenho sérias dúvidas filosóficas sobre se o conceito de causa pode realmente ser omitido da física.  No entanto, ele certamente não pode ser removido da economia.  Pois, na economia, a causa é conhecida desde o início — a ação humana utiliza meios para se alcançar determinados fins.  Disso, podemos deduzir apenas determinados efeitos, e não equações mutuamente determinadas.  Esta é outra razão pela qual a matemática é singularmente inadequada para a economia.
Economistas positivistas ridicularizam economistas praxeológicos como sendo interessantes, mas irremediavelmente não-instruídos em matemática.  "Tautológicos" é uma das acusações preferidas. 
Tentei neste curto artigo analisar o uso da matemática na economia pelo melhor ângulo possível.  A realidade, no entanto, é que os métodos matemáticos necessariamente introduzem vários erros e futilidades que não podem ser plenamente desenvolvidos neste espaço.
Por exemplo, o uso das ferramentas do cálculo, como as integrais — algo que tem se tornado endêmico na economia matemática —, pressupõe passos infinitamente pequenos.  Passos infinitamente pequenos são ótimos para as análises físicas, em que partículas viajam ao longo de um determinado caminho; mas são completamente inapropriados em uma ciência baseada na ação humana, em que indivíduos somente passam a considerar determinadas questões quando estas se tornam grandes o bastante para serem visíveis e importantes.  A ação humana ocorre em passos discretos, e não em passos infinitamente pequenos.
Um exemplo do cúmulo deste absurdo pode ser encontrado em um artigo no jornal acadêmico Metroeconomica, do economista indiano S. S. Sengupta: "Complex Numbers: An Essay in Identification", (Dezembro de 1954, pp. 129 – 35).  Sengupta trata uma transação de trocas como se fosse um número complexo; consequentemente, se $3 é trocado por duas unidades de bens, isso gera um número complexo utilizando três e dois.  Se $4 é trocado por seis unidades de bens, teremos outro número complexo.  E então ele sai somando e multiplicando os números complexos, e genuinamente acredita que está chegando a grandes verdades econômicas.
O melhor guia para a selva da economia matemática é ignorar o pomposo e sofisticado emaranhado de equações e se concentrar na busca pelas hipóteses que dão sustento a essas equações.  Invariavelmente, tais hipóteses são poucas, simples e erradas.  E elas são erradas exatamente porque os economistas matemáticos são positivistas, que ignoram que a economia se baseia em genuínos axiomas.
Os economistas matemáticos, portanto, criam hipóteses que são admitidamente falsas ou parcialmente falsas, mas as quais eles esperam ao menos poderem servir como aproximações úteis, como ocorre no mundo da física. 
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[1] A popularidade da lógica matemática na filosofia em detrimento da lógica verbal pode ser atribuída à influência do positivismo na filosofia.  Para uma constatação de que a lógica matemática é essencialmente subordinada à lógica verbal, ver as observações de Andreé Laelandes e Renée Poirier sobre "lógica" e "logística" in (A. Laelande, ed.) Vocabulaire Technique et Critique de la Philosophie, 6th eEd. (Paris, 1951). Pp. 574, 579.

Murray N. Rothbard (1926-1995) foi um decano da Escola Austríaca e o fundador do moderno libertarianismo. Também foi o vice-presidente acadêmico do Ludwig von Mises Institute e do Center for Libertarian Studies. 

Ludwig von Mises e seu conceito de sociedade livre


por , 

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"O liberalismo não tem flores nem cores, não tem música nem ídolos, não tem símbolos e nem slogans.  Ele tem a substância e os argumentos.  Ambos devem levá-lo ao triunfo."
Qualquer filosofia política deve concentrar-se em uma questão essencial: sob quais condições a iniciação de violência deve ser considerada legítima?  Uma filosofia pode endossar tal violência em nome dos interesses de um grupo racial majoritário, como fizeram os Nacional-Socialistas da Alemanha.  Outra pode endossá-la em nome de uma classe econômica em particular, como fizeram os Bolcheviques da Rússia Soviética.  Uma outra pode preferir evitar uma posição doutrinária de uma forma ou de outra, deixando para o bom juízo daqueles que administram o estado decidir quando o bem comum demanda a iniciação de violência e quando não.  Essa é a posição das sociais-democracias.
Um liberal clássico determina um limiar muito alto para a iniciação da violência.  Além da tributação mínima necessária para manter os serviços jurídicos e de defesa — e vários liberais anti-estado recusam até mesmo isso —, ele nega ao estado o poder de iniciar violência, procurando exclusivamente soluções pacíficas para os problemas sociais.  Ele se opõe à violência praticada em nome da redistribuição de riqueza, do enriquecimento de grupos de interesse e empresariais influentes e da tentativa de aprimorar a condição moral do homem.
Pessoas civilizadas, diz o liberal clássico, interagem entre si não de acordo com a lei da selva, mas por meio da razão e da discussão.  O homem não pode se tornar bom em decorrência do guarda da prisão e do carrasco; caso estes sejam necessários para torná-lo bom, então sua condição moral já está muito além de qualquer possibilidade de salvamento.  Como Ludwig von Mises afirma em seu livro Liberalismo, o homem moderno "deve se libertar do hábito de recorrer ao estado sempre que algo não lhe agrada".
Houve uma espécie de renascimento dos estudos misesianos no rastro da crise financeira que assolou o mundo em 2007 e 2008, dado que foram os seguidores de Mises que apresentaram as mais convincentes explicações sobre os fenômenos econômicos que deixaram a maioria dos "especialistas" gaguejando.  A importância das contribuições econômicas de Mises para as discussões atuais tende a nos fazer negligenciar suas contribuições como teórico social e filósofo político.  Seu livro Liberalismo ajuda a retificar esse descuido.
O liberalismo que Mises descreve nesse livro não é, obviamente, o "liberalismo progressista" do qual se fala hoje em dia, mas sim o liberalismo clássico, que é como o termo continua a ser conhecido na Europa.  O liberalismo clássico defende a liberdade individual, a propriedade privada, o livre comércio e a paz — os princípios fundamentais dos quais todo o resto do programa liberal pode ser deduzido.
Não seria nenhum insulto a Mises descrever sua defesa do liberalismo como parcimoniosa, no sentido de que, seguindo a lógica da navalha de Occam, ele não emprega em sua defesa nenhum conceito que não seja estritamente necessário ao seu argumento.  Sendo assim, Mises não faz nenhuma referência aos direitos naturais, por exemplo, um conceito que possui um papel central em tantas outras exposições do liberalismo.  Ele concentra-se principalmente na necessidade de uma cooperação social de larga escala.  Essa cooperação social — por meio da qual complexas cadeias de produção geram um aprimoramento do padrão de vida de todos — pode ser criada somente por um sistema econômico baseado na propriedade privada
A propriedade privada dos meios de produção, em conjunto com a progressiva ampliação da divisão do trabalho, ajudou a libertar a humanidade das horríveis aflições que antigamente devastavam a raça humana: doenças, pobreza opressiva, taxas pavorosas de mortalidade infantil, miséria e imundícies generalizadas, e uma radical insegurança econômica, com pessoas frequentemente vivendo a apenas uma colheita ruim da completa inanição.
Antes que a economia de mercado surgisse e possibilitasse a criação de riqueza gerada pela divisão do trabalho e pela acumulação de capital, era tido como certo que essas características grotescas das condições de vida do homem eram imposições irreversíveis de uma natureza fria e impiedosa, sem possibilidades de ser substancialmente aliviada — muito menos subjugada inteiramente — pelo esforço humano.
Os estudantes foram ensinados, por várias gerações, a pensar na propriedade como sendo uma palavra suja, a exata materialização da avareza.  Mises não tolera tal concepção. 
Se há algo que a história pode provar em relação a essa questão, é que em nenhum lugar e em nenhuma época já houve algum povo que, sem a propriedade privada, tenha melhorado seu padrão de vida para além da mais opressiva penúria e selvageria, uma situação dificilmente distinguível da existência animal. 
A cooperação social, Mises demonstrou, é impossível na ausência de propriedade privada, e quaisquer tentativas de restringir o direito de propriedade irão solapar a coluna central da civilização moderna.
De fato, Mises ancora firmemente o liberalismo na propriedade privada.  Ele estava perfeitamente ciente de que defender a propriedade significa atrair a acusação de que o liberalismo é meramente uma apologia velada ao capital.  "Os inimigos do liberalismo o rotularam como a ideologia que defende os interesses especiais dos capitalistas", observou Mises.  "Isso é típico da mentalidade deles.  Eles simplesmente não conseguem entender uma ideologia política.  Para eles, qualquer ideologia que não seja a deles representa a defesa de certos privilégios especiais em detrimento do bem-estar geral." 
Mises mostra em seu livro, e em todo o restante de sua obra, que o sistema de propriedade privada dos meios de produção resulta em benefícios não apenas para os donos diretos do capital, mas também para toda a sociedade.
Na realidade, não há nenhum motivo em particular para que as pessoas em posse de grandes riquezas sejam a favor do sistema liberal de livre concorrência, sistema este no qual um esforço contínuo deve ser feito para se estar sempre atendendo aos desejos dos consumidores — caso contrário, essa riqueza será reduzida gradualmente.  Aqueles que possuem grandes riquezas, especialmente os que herdaram essa riqueza, podem com efeito preferir um sistema intervencionista, o qual tem maior propensão a manter congelados os padrões de riqueza existentes.  Não é de se estranhar, por exemplo, que as revistas de negócios dos EUA, durante a Era Progressiva (1890-1920), estivessem repletas de apelos pela substituição do laissez-faire, um sistema em que os lucros não estão protegidos, por um arranjo de carteis sancionados pelo governo e por vários outros esquemas de conluio.  E não é de se estranhar que, no mundo atual, os grandes empresários possuam laços umbilicais com o governo, pois sabem que dependem do governo — de suas regulamentações e de seu protecionismo — para manter sua riqueza livre de qualquer perigo de concorrência.
Naturalmente, dada a ênfase de Mises na importância da divisão do trabalho para a manutenção e no progresso da civilização, ele é particularmente franco em relação aos males das guerras, as quais, além de seus danos físicos e humanos, geram um progressivo empobrecimento da humanidade em decorrência de seu radical rompimento com a harmoniosa estrutura de produção que abrange todo o globo.  Mises, que raramente mede as palavras, mas cuja prosa é geralmente elegante e comedida, fala com indignação e revolta quando o assunto passa a ser o imperialismo europeu, uma causa da qual ele não admite qualquer argumento a favor. 
Assim como seu pupilo, Murray Rothbard, iria mais tarde identificar guerra e paz como a questão fundamental de todo o programa liberal, Mises da mesma forma insiste em dizer que essas questões não podem ser negligenciadas — como elas frequentemente são por liberais clássicos atuais — em prol de questões políticas mais inócuas e menos delicadas.
A principal ferramenta do liberalismo, afirmou Mises, é a razão.  Isso não significa que Mises achava que todo o programa liberal deveria ser realizado por meio de tratados acadêmicos densos e elaborados.  Ele admirava consideravelmente aqueles que transmitiam essas ideias nos palcos de teatro, nas telas de cinema e no mundo dos livros de ficção.  Porém, é extremamente importante que a defesa do liberalismo permaneça arraigada em argumentos racionais, uma fundação muito mais sólida do que o instável irracionalismo da emoção e da histeria, os quais outras ideologias utilizam para agitar as massas.  "O liberalismo não tem nada a ver com tudo isso", insistia Mises.  "Não tem flores nem cores, não tem música nem ídolos, não tem símbolos e nem slogans.  Ele tem a substância e os argumentos.  Ambos devem levá-lo ao triunfo."
Atualmente, estamos vivendo em um momento perigoso da história.  Com várias crises fiscais ocorrendo ao redor do mundo — e as consequentes escolhas difíceis que elas impõem — e ameaçando uma onda de agitação civil por toda a Europa, as promessas impossíveis feitas por estados assistencialistas, hoje completamente quebrados, estão se tornando crescentemente óbvias.  Como argumentou Mises, não há nenhum substituto para a economia livre que seja estável no longo prazo.  O intervencionismo, mesmo em prol de uma causa tão ostensivamente positiva quanto o bem-estar social, cria mais problemas do que soluções, levando assim a ainda mais intervencionismos, até que o sistema esteja inteiramente socializado — isso se o colapso não ocorrer antes.
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A posição de Mises é contrária à daqueles que afirmavam que o mercado era de fato um lugar de rivalidade e discórdia, em que os ganhos de uns implicavam perdas para outros.  Podemos pensar, por exemplo, em David Ricardo e em sua alegação de que salários e lucros se movem necessariamente em direções opostas.  Thomas Malthus alertou para uma catástrofe populacional, a qual implicava um conflito entre alguns indivíduos (aqueles já nascidos) e outros (no caso, o suposto excesso que viria depois).  E depois, é claro, veio toda a tradição mercantilista, a qual via o comércio e as relações de troca como um tipo de combate de baixa intensidade que produzia um grupo definido de vencedores e de perdedores.  Karl Marx apresentou uma clássica declaração de que há um inerente antagonismo de classes no mercado em seu O Manifesto Comunista.  Ainda mais velho que todas essas figuras era Michel de Montaigne (1533-1592), que em seu ensaio "O Fardo de um Homem é o Benefício de Outro" argumentou que "todo e qualquer lucro só pode ser feito em detrimento de outro".  Mises mais tarde veio a rotular essa ideia de "a falácia de Montaigne".
Para o bem da própria civilização, Mises nos exortou a descartar os mitos mercantilistas que opõem a prosperidade de um povo à prosperidade de outro; os mitos socialistas que descrevem as várias classes sociais como inimigas mortais; e os mitos intervencionistas que dizem que a prosperidade só pode ser alcançada por meio da pilhagem mútua dos cidadãos.  No lugar dessas ideias juvenis e destrutivas, Mises forneceu um convincente argumento em prol do liberalismo clássico, o qual vê "harmonias econômicas" — pegando emprestada a formulação de Frédéric Bastiat — onde outros veem antagonismos e discórdias. 
O liberalismo clássico, tão habilmente defendido por Mises, não busca dar a ninguém nenhuma vantagem obtida coercivamente, e exatamente por essa razão ele é o único arranjo que gera os mais satisfatórios resultados de longo prazo.

Thomas Woods 
é um membro sênior do Mises Institute, especialista em história americana.  É o autor de nove livros, incluindo os bestsellers da lista do New York Times The Politically Incorrect Guide to American History e, mais recentemente, Meltdown: A Free-Market Look at Why the Stock Market Collapsed, the Economy Tanked, and Government Bailouts Will Make Things Worse. Dentre seus outros livros de sucesso, destacam-se Como a Igreja Católica Construiu a Civilização Ocidental (leia um capítulo aqui), 33 Questions About American History You're Not Supposed to Ask e The Church and the Market: A Catholic Defense of the Free Economy (primeiro lugar no 2006 Templeton Enterprise Awards). Visite seu novo website.

Blogueiro que denunciou estupro envolvendo filho do diretor da RBS é encontrado morto


Mosquito foi o blogueiro mais incisivo nas denúncias sobre o 

caso de estupro envolvendo o filho do dono da poderosa RBS, afiliada 

da TV Globo

Blogueiro Mosquito
A quem interessava a morte de Mosquito?
morte de Mosquito, que
 jamais se calou diante 
da operação abafa implementada 
por um grupo poderoso e pelos
 seus cúmplices, é um alívio para 
quem não estava nem um pouco 
acostumado a ter o calcanhar 
pisoteado. Agora já podem 
retomar tranquilamente a rotina. Caberá novamente às mídias alternativas 
fazer um pouco de barulho em meio ao silêncio conveniente; um silêncio
 que nem sequer esboça sinal de partida.
O blogueiro Amilton Alexandre, o Mosquito, foi encontrado morto em seu
 apartamento, em Palhoça, Santa Catarina, na tarde de ontem (13). 
Segundo a polícia, tratou-se de “suicídio por enforcamento”. A rápida 
conclusão, porém, não convenceu seus amigos e familiares, que exigem 
rigorosa apuração do caso.
Com suas “tijoladas” na internet, Mosquito fez inúmeros inimigos. Nos 
últimos tempos, ele alertou que estava sendo ameaçado. Na semana retrasada, 
ele anunciou o fim da sua página: “O blog Tijoladas acabou para eu continuar 
vivo. Não é uma capitulação. Não mudei meu modo de pensar. Não mudei minhas
 convicções”.
Um amigo pessoal de Mosquito, que pediu para ter o seu anonimato por ora
 preservado, revelou aPragmatismo Político suas importantes impressões sobre 
misteriosa morte do blogueiro. As informações seguem caminho completamente 
contrário às versões oficiais.
“Quem conheceu Mosquito sabe que não se suicidaria”, disse, enumerando as 
diversas razões que indicam a impossibilidade de suicídio. “Ele era alvo de 
várias ameaças de morte. Era defensor da sustentabilidade, modo de vida 
saudável, andava de bicicleta, trocava frutas e verduras do quintal com seus 
vizinhos. Era defensor da transparência e combatia os poderosos. Era pai de
 uma adolescente. Filho querido de uma mãe ainda viva por quem tinha muito
 carinho. Um cidadão com esse perfil não se suicida. A porta da sua casa estava 
aberta. Sua casa é de esquina, de um lado os fundos, do outro, um terreno baldio.
 Foi encontrado com lençol enrolado no pescoço, quem se suicida de forma tão 
cruel, correndo risco de morte lenta e dolorosa? Sendo morador solitário, não
 seria mais fácil entupir-se de comprimidos?
Mosquito ganhou fama nacional ao denunciar um caso de estupro em Florianópolis, 
envolvendo o filho de um diretor da poderosa RBS, afiliada da TV Globo. A 
mídia corporativa abafou o escândalo, só noticiado pela TV Record (vídeo abaixo).
A morte de Mosquito não pode ser abafada. O que se exige é que o caso, 
bastante estranho, seja apurado com rigor!

sexta-feira, 20 de setembro de 2013

A Globo só é contra os recursos que não lhe convém


Globo chamou recursos da AP 470 de "pizza". Mas se a 

emissora é contra recursos, por que apresentou um no 

processo em que foi condenada por sonegar R$ 713 milhões?

globo recurso mensalão sonegação
Se a Globo é contra recursos, por que apresentou um no processo em que foi condenada por, supostamente, sonegar R$ 713 milhões?; atitudes desse tipo, que violentam a democracia e os direitos individuais, têm gerado protestos contra a emissora (Pragmatismo Político / Capa de O Globo)
Os embargos infringentes, confirmados quarta-feira pelo Supremo
 Tribunal Federal na Ação Penal 470, representam, para alguns réus
 a primeira chance de apelação no processo. Com eles, terão direito
ao que o ministro Celso de Mello definiu como “recurso ordinário”.

O caso mais notório é o da Globo, que, desde o início do processo, tentou 
conduzir os rumos da suprema corte brasileira. Na edição de ontem, 
inconformados com essa primeira chance de apelação, os editores do 
Globo, que pertence à família Marinho – a mesma que recentemente 
confirmou seu apoio à ditadura militar de 1964 –, noticiam os embargos
 como um caso de impunidade prorrogada até 2014. A capa teve direito 
até à charge de Chico Caruso, em que o ex-ministro José Dirceu agarra 
uma pizza.O decano também enfatizou que os embargos representam 
uma garantia de defesa do STF a direitos individuais assegurados em 
todas as Constituições brasileiras. Garantia contra o arbítro e contra
 pressões ilegítimas exercidas fora do âmbito da Justiça, como fazem 
diuturnamente alguns meios de comunicação.
Ao que tudo indica, portanto, a Globo encara a possibilidade de recursos
 em questões judiciais não como um direito de defesa, mas como uma 
chicana de réus, que lutam para se manter impunes.
Mas, se é assim, por que, afinal, a Globo apresentou recurso administrativo
 no processo em que foi condenada por, supostamente, sonegar R$ 713 milhões
 na compra dos direitos de transmissão da Copa de 2002? Pela lógica 
adotada hoje, deveria ter pago a multa e arcado com as consequências 
penais do não pagamento de impostos.
Em tempo: a Globo perdeu o primeiro recurso (leia aqui matéria do 
Conjur a respeito), mas certamente apresentará outros. Pizza?
É por essas e outras que a Globo têm sido alvo de manifestações –
 como no protesto em que o Levante Popular da Juventude atirou fezes 
na sede da emissora. Jovens enxergam na Globo uma postura 
antidemocrática, que coloca em risco direitos de todos os cidadãos.

As melhores montagens das "atrizes globais de luto pelo Brasil"






A atriz Bárbara Paz não imaginava que iria virar piada ao

 postar uma foto dela junto com as colegas da Globo em 

que se dizem de "luto pelo Brasil"

com Youpix
A atriz Bárbara Paz não imaginava que iria virar piada ao postar uma 
foto dela junto com as colegas de trabalho em seu perfil no Instagram
 protestando contra a corrupção no Brasil.

Carla Perez, Xandy e os filhos
 também entraram na dança e aos poucos
 montagens da foto deles também.A imagem onde Carol Castro,
Rosamaria Murtinho, Natlhália Timberg, Susana Vieira e Bárbara
aparecem abraçadas, vestindo preto e com cara de bravas (ou chateadas?
ou meio cadavéricas?) recebeu diversas montagens e foi encarada por
internautas com um sentimento de vergonha alheia.
A seguir, algumas das melhores montagens sobre a foto das atrizes globais
 de luto pelo Brasil.
Ps.: O meme com a foto das atrizes já ganhou um Tumblr chamado 
50 tons de luto.
atrizes globo luto brasil
(Reprodução)
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(Reprodução
)

segunda-feira, 16 de setembro de 2013

Espionagem: episódio pode impedir compra de caças americanos

BRASIL


PAULO CELSO PEREIRA
Segundo assessores, presidente tinha inclinação pela proposta da Boeing, após visita de Joe Biden.
A divulgação de documentos mostrando que a Petrobras foi alvo da espionagem americana não foi de todo surpreendente para a presidente. Desde a primeira revelação, semana passada, de que o Brasil havia sido alvo da NSA, Dilma já havia afirmado a interlocutores que desconfiava de que o interesse envolvido na interceptação era econômico, e não de segurança nacional. Agora, os americanos já podem contabilizar o primeiro prejuízo: a inclinação que a presidente tinha pela proposta dos EUA para os caças que a Força Aérea Brasileira (FAB) pretende comprar. 

Nos últimos meses, a norte-americana Boeing havia assumido o favoritismo na disputa pela compra de 36 caças por cerca de US$ 4 bilhões, imbróglio que se arrasta há anos. A visita do vice-presidente dos EUA, Joe Biden, em junho, havia fortalecido decisivamente a posição da empresa. Agora, com o caso de espionagem, a disputa volta à estaca zero, segundo interlocutores da presidente. 

Na avaliação de integrantes do governo, a tendência é que, com isso, a compra dos caças sequer ocorra no primeiro governo Dilma. Isso porque as demais opções, o francês Rafale e o sueco Grippen, também sofrem resistências. O avião francês chegou a ser o favorito do governo durante a gestão do ex-presidente Lula, mas problemas na negociação dos aviões deste modelo com a Índia criaram resistências em Dilma. Como não haveria condições políticas de Dilma anunciar a compra dos caças em breve, e o valor envolvido é muito grande, a tendência é que a decisão fique para após o ano eleitoral. 

Após a nota de ontem, a ordem no Planalto é aguardar que o governo de Obama viabilize a viagem da presidente a Washington. O maior temor é que a visita de Estado seja ofuscada por novas denúncias. O governo avalia que, se ocorresse sem sobressaltos, a visita seria amplamente positiva para a imagem de Dilma. Por isso, o cancelamento pode ser uma perda.
Publicado no Globo de hoje. Paulo Celso Pereira é repórter de política do Globo em Brasília.