quarta-feira, 9 de outubro de 2013

Fazendo a Diferença

Fazendo a Diferença
O segredo é ter feito uma diferença.







Ser rico, famoso ou poderoso 
tem sido o objetivo da maioria 
das pessoas, mas sempre falta 
algo. Recentemente, ouvi sobre 
uma nova postura ética de sucesso, que vale a pena resumir aqui, porque na época 
ninguém noticiou.
Numa reunião no World Economic Forum, em Davos, o local onde o mundo empresarial 
se reúne uma vez por ano em janeiro, um empresário que acabava de fazer um tremendo 
negócio foi convidado numa das várias sessões a expor suas idéias.
Primeiro perguntaram como ele se sentia, subitamente um bilionário. Sem pestanejar 
um único minuto, ele afirmou que o dinheiro não lhe pertencia, e que doaria toda sua 
fortuna a instituições beneficentes.
“Sou simplesmente fruto do acaso, tenho os genes certos e estou no momento certo,
 no setor certo. É difícil falar em ‘mérito’ numa situação dessas.”
“Se eu, o Bill Gates aqui presente, ou então o Warren Buffett, tivéssemos nascido
 2.000 anos atrás, nenhum de nós teria tido o porte atlético necessário para se tornar
 um general do Império Romano, posição de destaque equivalente à nossa, na época. 
Teríamos sido trucidados na primeira batalha.”
Alguns seres humanos sempre estarão momentaneamente mais adequados ao ambiente 
que os outros e receberão, portanto, melhores salários, apesar do esforço dos demais.
A ideia da meritocracia, tão decantada pela direita conservadora como justificativa 
para a sua riqueza, cai por terra se levarmos em consideração a nova teoria de que 
somos todos frutos do acaso genético das interpolações do DNA de nossos pais.
Se nossos genes são mero acaso da variação genética, falar em QI, mérito, proeza 
atlética e se achar merecedor de 100% dos ganhos que esses atributos nos proporcionam
 não faz mais muito sentido. O que há de meritocrático em ter os genes certos?
Ninguém está sugerindo o outro extremo de salários iguais para todos, porque toda
 sociedade precisa incentivar os que se esforçam mais, os que trabalham melhor e
 especialmente os que assumem riscos e têm a coragem de inovar.
O que essa nova postura sugere delicadamente é uma maior humildade e generosidade
 daqueles que ganham fortunas por ter uma inteligência superior, um porte atlético 
avantajado ou um talento excepcional. Por trás de toda “fortuna” existe um elemento
 de sorte, muito maior do que os “afortunados” gostariam de admitir.
Mas a frase que mais tocou a plateia estarrecida foi esta: “Mesmo doando toda a minha 
fortuna”, disse o empresário, “continuará a existir uma enorme injustiça social no mundo.
 Eu terei tido um privilégio que muitos não terão. O privilégio de ter feito uma diferença
 com o meu trabalho e minha vida.”
Segundo essa visão, o mundo é dividido entre aqueles que fizeram ou não uma diferença 
com sua vida, o dinheiro não é o objetivo final. E existem inúmeras maneiras de fazer uma diferença, 
desde inventar coisas, gerar empregos, criar produtos, até ajudar os outros com o dinheiro obtido.
Aproximadamente 55% dos empresários americanos não pretendem legar sua fortuna aos filhos. Acham 
que estariam estragando sua vida gerando playboys e um bando de infelizes. Percebem que o divertido
 na vida é chegar lá, não estar lá. Ser filho de empresário e receber de mão beijada uma BMW, um
 Rolex e uma supermesada não é o caminho mais curto para a felicidade. Muito pelo contrário, é uma 
roubada.
Por isso, os ricos de lá criaram instituições como a Fundação Rockfeller, a Fundação Ford, a Fundação
 Kellogg, a Fundação Hewlett. No Brasil, estamos muito longe de convencer os empresários a fazer o
mesmo, razão pela qual sua fortuna provavelmente virará mais um imposto. O imposto sobre herança.
O segredo da felicidade, portanto, não é ganhar dinheiro, que a maioria acabará perdendo de uma 
forma ou de outra. O segredo é ter feito uma diferença.
Revista Veja, Editora Abril, edição 1838, ano 37, nº 4, 28 de janeiro de 2004, página 22

Nenhum comentário:

Postar um comentário