segunda-feira, 2 de setembro de 2013

Laizer Fishenfeld, nosso correspondente no Jardim Botânico

FOTOGRAFIA


Laizer Fishenfeld: o fotógrafo de natureza, que colabora com a coluna de Ancelmo Gois
Por Maria Elisa Alves*
Aos 83 anos, não falta energia, muito menos paciência, a Laizer Fishenfeld. Todos os dias, ele chega bem cedo ao Jardim Botânico para se ajoelhar e curvar o corpo, ou, dependendo da situação, ficar em pé, imóvel, minutos a fio, sempre carregando peso. Penitência? Exercícios de contorcionismo? Nada disso. Laizer, um simpático senhor que veio do Rio Grande do Sul aos 19 anos, se esforça para capturar a beleza fugidia. É um fotógrafo de passarinhos.

O hobby surgiu há apenas oito anos, depois que ele acompanhou por uma semana uma coruja que fazia ninho na praia de Ipanema. Animado com o resultado das fotos — uma delas decora o corredor de sua cobertura no Leblon —, ele rumou para onde imaginou que encontraria uma variedade maior de aves, o Jardim Botânico. A dedicação diária — ele bate ponto nas aleias todos os dias, às 7h30m—, já garantiu frutos. No concurso de fotografias promovido pelo parque todos os anos, ele tirou o primeiro lugar nas três últimas edições.

Diretora de comunicação da Sociedade de Amigos do Jardim Botânico, Anamaria Giglio conta que a qualidade das fotos de Laizer é tão boa que já foi feita uma vez a categoria hour concours para ele. Se bobear, ele ganha sempre na categoria fauna. Às vezes, também na flora. E engana-se quem pensa que o concurso é fácil.

— No ano passado, ele ganhou flora e fauna. Eram mais de mil candidatos. As fotos dele, além de qualidade técnica e muita beleza, ajudam a preservar os pássaros do parque. Usamos as imagens em cartazes pedindo que não se alimente os animais, por exemplo — diz Anamaria.

O mais impressionante no trabalho de Laizer não é apenas o resultado das fotos, é o que há por trás delas: ele não enxerga nada de um olho por causa de um glaucoma mal tratado.

—Tenho muita dificuldade porque sou cego do olho direito. Não enxergo nada. Então tenho que olhar a cena com o olho esquerdo, botar a máquina no olho bom (sim, ele ainda usa o pequeno visor, que todos ignoram nas máquinas digitais), e torcer para que tudo dê certo.

Laizer também concorreu no concurso Talentos da Maturidade, mas não viu muita graça:

— Só podia mandar uma única foto. Mas já perdi a conta de quantas tenho, devem ser mais de cem mil. Na minha última viagem a Cachoeiras do Macacu, voltei com mais de três mil. Como escolher uma só?

Laizer armazena seus milhares de fotos em sete HDs externos, em DVDs e, por que não?, em velhos álbuns. Para ele, apostar na tecnologia é divertido, mas ver as fotos impressas é mais prazeroso.

— Aprendi a usar o photoshop, mas só faço ajustes normais. Não tiro galho da frente do passarinho, só mexo na intensidade da luz — diz ele, que carrega sempre três câmeras e é modesto. — Considero a câmara como um carro de Fórmula-1. Os mecânicos ajustam os pneus durante a corrida, verificam os freios, mas não sabem qual será o resultado. Nem sempre tudo sai direito. Com a foto é a mesma coisa. Nunca sei o resultado, depende do sol, do local, são muitas as nuances — diz Laizer, que só gosta de ver o que fotografou quando chega em casa.

Laizer já se tornou conhecido dos frequentadores do Jardim Botânico e dos leitores do GLOBO. Quando consegue uma imagem bonita, Laizer as manda por e-mail para o colunista Ancelmo Gois, que volta e meia publica uma das fotos. A última foi de um tucano de bico preto. Com equipamento profissional, bom enquadramento e muita sorte, Laizer registrou o momento em que a ave se alimentava. Na sequência de fotos, é possível ver o tucano pegando um fruto vermelho para depois equilibrá-lo entre o bico.

— Eu sempre faço fotos de aves soltas na natureza. Esta semana, recebi uma carta de uma moça dizendo que o que mais a entristece é ver passarinho em gaiola. Ela pediu para eu registrar alguma ave presa e mandar para o jornal para tentar começar uma campanha pela liberdade de todas.

*Maria Elisa Alves é repórter da editoria Rio do GLOBO, onde foi publicada a reportagem

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