sexta-feira, 27 de setembro de 2013

A dicotomia de Portugal


PEDRO VICENTE


Portugal ou seja nós Portugueses somos engraçados... tentamos legislar a ética, e ensinar a "componente técnica"... quando poderíamos estar a incutir e ensinar a ética e a legislar a "componente técnica". 

Vemos todos os dias casos e casos de corrupção quase gritante e centenas de indivíduos que perpetuam uma sucesso de crimes nunca sendo considerados culpados em última instância.

Podemos dizer e muitas vezes dizemos que são os nossos tribunais, e os políticos que fazem as leis que são corruptos. Até pode ser. Mas estamos, na minha opinião, a focar-nos no espaço-tempo errado.

Como é que existe um número grande de indivíduos que praticam crimes?

Podemos considerar que é sinal dos tempos ou que sempre foi assim mas que só agora com as notícias nacionais e globais temos mais noção disso. Pode ser que seja verdade, mas mesmo assim acho que estamos a olhar para o espaço-tempo errado. 

Como é que estas pessoas chegaram ali? Essa é a pergunta que considero que tem mais valor. Não me refiro à aprendizagem de como furar os trâmites legais.

Mas realmente como é que formamos um vasto número de indivíduos com poucos valores éticos?

Grande parte das pessoas dirá que também é sinal dos tempos. Temos o que se chama de mais "famílias desestruturadas", em que existem conflitos entre pai e mãe que causam revolta nas crianças e que por uma serie de consequências mais tarde as podem tornar mais propicias à delinquência.
Outros que viveram nessas famílias de certo irão logo protestar contra estes argumentos, indicando que tendo estado em famílias divorciadas, por exemplo, nunca se degeneraram e que vêm muita gente corrupta vinda de "famílias boas".

A verdade é que todas as famílias tem problemas e discussões mas empiricamente é mais provável uma criança ter mais problemas quando vive num meio familiar onde passa por um divorcio ou por onde vive conflitos diários entre os pais ou avós. Existe também o outro espectro em que não existem conflitos, mas simplesmente os pais não tem o tempo ou a vontade para serem pais...

Mas acho que é ingenuidade nossa pensar que se isso se resolvesse tudo estava bem e seriamos todos excelente pessoas com uma alta moral e ética.

Tal como somos as escolas e faculdades são ingénuas a ter disciplinas de ética dadas com os alunos sentados numa sala de aula, a ouvir uma pessoa falar.... até porque, é fácil perceber que vivemos numa sociedade que dobra a ética quando lhe convém. A ética pode-se apregoar... mas para ser aprendida tem que ser vivida.


Para perceber a diferença abismal Portuguesa para outras realidades com uma ética mais forte vamos pegar em alguns exemplos do Japão. Teremos de exemplos que consideraremos muito bons e outros maus ou pelo menos estranhos dados a diferença da cultura. Para efeito de reflexão peguemos num simples exemplo útil neste contexto:
  • Os alunos japoneses limpa e lavam a escola.
    Pergunto-me qual seria a reacção de grande parte dos pais se o Ministério da Educação hoje anunciasse que seriam os seus filhos a limpar a escola, rotativamente e que seriam as empregadas de limpeza as suas monitoras nessa tarefa (isto para eliminar o argumento do despedimento).

    Escândalo? Duvidas sobre a legalidade? Provavelmente os tão na moda, processos de impugnação da decisão...


    Algum tem dúvidas que isto teria dificuldade em ser implementado?

    E porquê?
    Limpar é um trabalho que não ensina nada!
    As pessoas que tem esse trabalho estão ali porque não estudaram! Para quê por as crianças a fazer isso? Exploração infantil!

    Preveria uma serie de cartazes e manifestações assim... 


    No entanto, na prática, qual seriam as implicações?
    Alguns dias por mês, cada um dos alunos, ia primeiro que tudo aprender uma coisa útil e ao mesmo tempo perceber que sujar, deitar papeis para o chão tem implicações... e último e mais importante ia reduzir os preconceitos com aquele trabalho.




    Podemos achar que isto é um exemplo pontual. E na prática nem será por nenhuma destas questões que achamos que por crianças a limpar é uma má ideia. É porque são crianças, e as crianças devem ter é mais tempo para brincar.

    Muito bem, isto foi apenas um acidente no nosso raciocínio. Somos até um país ético...

    Então e quando copiamos num teste... é falta de ética? Quase de certeza que muitos de nós o fizemos, possivelmente os nossos pais também e até brincaram connosco a explicar como copiaram, as suas técnicas.

    Assumimos "não faz mal" é só um teste. É só porque desta vez estamos menos seguros da matéria, mesmo tendo estudado, portando, merecendo passar....

    Então e se esse teste for um teste na faculdade?

    E se esse teste for o teste de um médico que no futuro o vai atender? Ainda "não faz mal" ele copiar?

    E se for um teste do professor que vai ensinar o seu filho, também não faz mal?


    Estou a ser radical? Provavelmente alguém que tenha copiado muito e de facto não saiba não vai conseguir entrar na faculdade de acabar o curso... ou será que vai?

    Acham que esta dúvida não existe?


    Se não existe porque estão a aumentar o número de profissões onde existe mais provas após terminar o curso?

    1. Avaliação dos professores antes de ser colocados.
    2. Avaliação dos advogados antes de entrarem na ordem
    3. ...

    Podemos dizer que são mil outras coisas a criaram estes exames, até decisões políticas... mas a minha visão é que, como disse no inicio, estamos a legislar ética, em vez de a ensinar.

    Não há confiança nos conhecimentos das pessoas que acabaram de ser formadas por instituições de ensino superior. Seja pelo que elas fizeram, seja pelas práticas da instituição em si... algo vai mal...

    E a ética resolvia tudo? Provavelmente não, mas se todos temos mais ética no estudo e no trabalho e levamos as coisas à seria, com rigor, então os motivos para a desconfiança acima começam a deixar de ter motivo...


    Como mudar? 

    Essa é a parte simples... e complicada.

    Hoje em dia as escolas em geral tem como objectivo educar as crianças funcionalmente. Por funcionalmente quero dizer dar-lhe competências técnicas para o seu próximo grau escolar ou para a sua profissão futura.

    No entanto são poucas as que arriscam dizer que também são responsáveis pela educação pessoal para junto com os pais passar a ensinar ética e moral. Geralmente só o fazem as escolas com educação de base religiosa, mas acho que isso é um profundo erro que cometemos.

    Todas as pessoas que tem contacto no dia-à-dia com crianças, jovens, adolescentes e mesmo adultos são educadoras: Primeiro e sobretudo pela maneira como estão e se comportam, que será imitada, mas em segundo caso também pela teoria.

    Quando é que ouviram que um aluno que copiou foi chamado pela professora que lhe explicou que o problema eram as consequências de ele não saber para o seu futuro?

    Quando é que ela achou que podia haver ser também um erro dela a não conseguir transmitir a matéria ou o beneficio de a aprender?

    E sobretudo, quando é que os pais em geral acharam mais importante o filho aprender em vez de ter notas altas?

    Geralmente a opção dos professores é anular o teste simplesmente e mandar o aluno para a rua.. ou mais recentemente ignorar, para não ter que agir. Caso se alerte os pais recentemente as reacções não são no sentido de repreender o filho.. mas de repreender a escola/professor... o importante é ter notas altas, não aprender.

    Por outro lado os professores diria que em resposta começam a seguir a filosofia de...
    Educar é trabalho dos pais... eles é que o têm que educar, nos estamos cá para ensinar.
    Hum?! O quê?!

    Como a priberam gentilmente partilha no seu site da internet:

    ensinar
    (latim insignio, -ire, pôr uma marca, distinguir) 
    v. tr.
    1. Instruir, dar lições a.
    ...

    6. Educar.


    Este país, e se achamos que a globalização veio para ficar, este mundo, é uma equipa.


    Os pais tem o seu papel preponderante, mas todos temos o dever de lutar por um país melhor. Uns nas escolas, onde tudo começa... outros em tudo o resto!


    O problema de Portugal nunca foi e creio que nunca será de valor implícito das pessoas... foi sempre da má utilização dele por algumas, pelo qual todas as outras pagam.

    Mudar um adulto é muito difícil. Somos muito teimosos e já temos a mania que temos a certeza que sabemos o que é bom. Mudar a maneira como educamos impactando as próximas gerações já está perfeitamente na nossa mão.


    Entretanto..

    Pagamos sobretudo pela nossa indiferença e coaduno com a chamada "micro, pequena e média" corrupção de onde um dia florescerá a grande.

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