terça-feira, 16 de julho de 2013

Comunicação Em Totalidade



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comunica2Por Mario Cardeal - A maior parte das nossas dificuldades, conflitos e mal-entendidos, para com os demais e para connosco, provem de uma falta de comunicação. A comunicação interpessoal, por exemplo, é um método de comunicação que promove a troca de informações entre duas ou mais pessoas. Cada pessoa, que passamos a considerar como interlocutor, troca informações baseadas no seu repertório cultural, sua formação educacional, vivências, emoções, toda a "bagagem" que traz consigo, no fundo, ...
toda a forma de pensar que foi amealhando desde o seu nascimento, com todos os seus condicionamentos, preconceitos e ideias transmitidas por outros e é este facto o maior construtor da individualidade. O processo de comunicação prevê, obrigatoriamente, a existência mínima de um emissor e de um receptor, no caso de ser interpessoal, pois, a comunicação mais rica, por vezes, ...
é a unipessoal e não menos importante. Cada qual tem seu repertório cultural exclusivo e, portanto, transmitirá a informação segundo seu conjunto de particularidades e o receptor agirá da mesma maneira, segundo o seu próprio filtro cultural o que, não raras vezes, leva a que exista opiniões diferenciadas.

Como em todo processo de comunicação, os ruídos existentes devem ser minimizados pelo melhor nível de qualidade que o emissor possa dispor e o receptor deve-se portar da maneira mais aberta para receber a informação mas, o grande problema, é que o nível de ruído mental é tal que o receptor ouve a mensagem distorcida e vice-versa. Este ruído é bastante prejudicial na medida em que o próprio emissor não consegue ouvir a ele próprio. São aqueles casos tão conhecidos, infelizmente, do diz que disse, que não se recorda do que disse, que quis dizer o contrário do que disse e, por aí fora. O contrário também é verdade. Quantas vezes já assistimos a pessoas que não ouvem o que lhes é dito e ouvem apenas o que querem ouvir? Dizemos uma coisa e elas ouvem outra. Este facto desventurado acontece porque não se encontram no processo de comunicação, mas sim, fechados na sua forma de pensar, fechados na sua crença, na necessidade de ouvir aquilo que quer.
Existe também os casos dos medos da crítica e insegurança que, a juntar ao que já foi referido, empobrecem o conteúdo da nossa comunicação, afectam a qualidade do nosso tom de voz, e nos impedem de transmitir com carisma o que queremos dizer. Geralmente nossa comunicação não passa de uma ilusão. Porque? Porque estamo-nos a esconder atrás de máscaras, máscara de pessoas boazinhas, máscara de beatitude, máscara de advogado, de engenheiro, de político, de homem, de mulher. Temos medo de não sermos compreendidos, medo de sermos julgados.
A comunicação não é o que acreditamos transmitir, mas o que é recebido e é aqui que reside o problema. Outro grande problema prendesse com os nossos actos em relação ao que dizemos. É extremamente complicado quando alguém nos diz algo e o seu comportamento é inverso ao que se disse. Deixa-nos numa situação em que deixamos de acreditar no que nos foi dito e, com a agravante, que pomos em causa tudo o que aquele emissor nos disse e também esta situação existe devido há existência de máscaras.
Talvez a pior máscara é de se esconder atrás duma teoria seja ela verídica ou falsa, atrás duma linguagem intelectual. Esconder-se atrás da sua própria cabeça, sem corpo, sem alma.Uma comunicação verdadeira é uma comunicação de todo o Ser, em totalidade. Para dar um corpo e uma alma à nossa comunicação, precisamos ser sinceros connosco, precisamos viver o que estamos a dizer e é por esse motivo que sou apologista de deixar as emoções manifestarem-se enquanto comunicamos. Assim o que sentimos vai passar, de maneira natural, na nossa voz. E quando verbalizamos, a energia da palavra irá fluir de uma forma natural e, essa naturalidade comunicativa, será o garante de uma boa comunicação. Nossas palavras irão comunicar com a inteligência racional da pessoa, irão encontrar eco dentro do receptor, e nosso tom de voz com o subconsciente dela, com o mundo profundo dela, que toma as decisões. Porque nossas decisões racionais são apenas a racionalização das decisões que foram tomadas no nosso mundo profundo.
Nossas palavras podem ser criticadas, mas nosso tom de voz não é conscientemente percebido, afecta directamente o inconsciente da pessoa sem censura. Programa o mundo interior da outra pessoa. Devemos então usar nosso tom de voz com ética, respeitando o receptor. E este respeito, primeiramente, passa pela escolha de palavras e estas devem estar adequadas para uma comunicação eficaz e salutar. Calões, ofensas, ordinarices, decerto que não serão palavras adequadas para uma comunicação proveitosa. E sim, o tom de voz também é importante pois este é hipnótico. Para nos respeitar a nós próprio, devemos agir com ética!
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Podemos ler a respeito de mantras, de palavras mágicas, sagradas, o que for. Podemos ler livros belicismos, de grande ajuda, leituras edificantes e salutares. O segredo não está em tal o qual arranjo de letras, não está nas frases, nas orações gramaticais mas no tom de voz com que lê. Basta visualizar, sentir, viver o que diz. Suas palavras falam à inteligência racional das pessoas; seu tom de voz fala ao mundo profundo delas. É fácil perceber, no tom de voz das pessoas, o que elas são, a qualidade de Energia que irradia delas, o que elas fazem acontecer ao redor delas. É fácil usar a magia do tom de voz, para provocar mudanças nas pessoas e ao redor de nós, e como é triste verificarmos que algumas pessoas, quanto desequilibradas, esquecem-se disso. Quanta dor é causada por dizer-mos algo a alguém sem reflectir, quantas vezes já ouvimos dizer que tal pessoa magoou outra pelo que disse e,  sobretudo, pela forma como o disse. O tom de voz é a estrada que leva a palavra comunicada até ao receptor!Por vezes não sei o que é pior; aqueles que falam com sete pedras em cada mão ou aqueles que criam ilusões de toda a espécie e difamam, espalhando a mentira, o veneno e a hipocrisia… A comunicação é algo muito sério, que tanto pode construir como destruir; tudo depende da intenção do emissor, embora, é claro, também depende muito do receptor em aceitar ou não a mensagem transmitida. É através do que se diz que tanto se pode construir a guerra como construir a paz. É através da comunicação que se pode encontrar-se a concórdia ou a discórdia, que se fazem as chantagens, que podemos levar a bem-aventurança a quem necessite. É através da comunicação que nos podemos unir ou, bem pelo contrário, afastar. Podemos fazer sofrer ou acalentar corações necessitados de uma palavra amiga. A comunicação é algo tão sério que deve ser levado em conta com todo o nosso Ser. Quantas vezes já ouvimos repetidas vezes expressões tais como: “nunca digas que desta água não beberás”, “é pela boca que morre o peixe”, “o que está dito, está dito”, “etc.
Para que exista uma comunicação verdadeira, sincera, torna-se necessário saber lidar melhor com nossas emoções. Mas para lidarmos com as nossas emoções primeiramente temos de as conhecer e isso nem toda a gente quer ou está preparada. Durante uma imensidade de tempo dizem que existir tal situação procedem de uma forma mas quando essa mesma situação acontece, procedem da forma inversa ao que disseram. O que aconteceu aqui? Apenas a pessoa não se conhece porque, caso contrário, procederia conforme disse que faria. Alguém perguntou-me certa vez se era capaz de matar alguém. A pessoa que me fez essa pergunta conhece-me e sabe que sou contra a violência sob que aspecto for. Fez essa pergunta convicta que responderia que não. Ficou chocada quando lhe respondi que não sabia, tudo dependeria do momento, da situação, do meu estado emocional. Esta é a verdade; não sei se mataria ou não! Não há ninguém que, em consciência, diga que nunca faria isto ou aquilo. O mais cómico é que todos dizem que nunca farão isto ou aquilo e algo surge que altera o panorama e acabam por fazer o contrário daquilo que apregoavam.
Não pode haver comunicação verdadeira se não for feita com toda a sua totalidade. Mas quantos de nós somos seres totais? Quantos de nós não está fragmentado? Fragmentado devido ao medo. E a maior parte das pessoas têm medo do que os outros dizem; mais uma vez um problema de comunicação. O que é que os outros vão comunicar de mim? Damos demasiada importância ao que os outros dizem e não ao que realmente pensamos. Somos tão infantis que guiamos a nossa vida segundo padrões de outros e será que aquele padrão é o melhor para mim? O que vão dizer de mim? O que vão julgar de mim? Não queira viver segundo o que os outros dizem, mas sim, segundo aquilo que pensa que é o melhor para si porque, se assim não fizer, estará eternamente fragmentado porque uma parte de si quer fazer algo, e faz não o que quer mas o que os outros dizem para fazer. Então nunca poderá comunicar com toda a sua totalidade e nunca comunicará com verdade.
Cada vez mais aprendo a estar calado. Sou acusado de ser calado. Costumo dizer que quando nada tenho a dizer o silêncio é a melhor comunicação. Quantas vezes o meu silêncio levou há não criação de conflitos? Outras vezes são situações tão absurdas que tampouco merecem resposta.

Mas quando nos conhecemos podemos ficar em silêncio produzindo comunicações, diálogos bastante enriquecedores. E como é tão bom comunicarmos connosco. É nessa forma comunicativa que nos vamos conhecendo, que vamos crescendo interiormente, pois, é através da aceitação, do desbravar do nosso interior, as nossas dores, angustias, tristezas para as podermos as sanar! Mas nem toda a gente está preparada para isso. É uma tarefa árdua, bem sei! Então para não se darem ao trabalho de se conhecerem, trajam as mais variadas máscaras. Máscaras de bondade, de caridade, etc. São pessoas que passam a imagem que estão sempre prontas a ajudar os outros, que quem precisar podem contar com elas e, na verdade, elas até agradecem, pois, durante esse tempo não estão a pensar nelas próprias, logo, não existe comunicação com o seu interior. Isso não é de todo ajuda; é hipocrisia, são processos de fuga!
Comunicar é muito mais que falar, é partilhar, é sentir, é viver. Na minha experiência com o xamanismo tenho tido experiências de comunicação verdadeiramente enriquecedoras. Tenho comunicado com flores, com árvores, com pedras e, acreditem, têm muito para comunicar e, o mais agradável disto tudo, é que acredito que o que dizem é verdadeiro, pois, até agora nenhuma rocha disse algo e procedeu ao contrário, nenhuma árvore me intrujou, me chantageou. Falar com o Irmão Vento é algo grandioso e ouvir a sua canção, a sua mensagem é algo salutar. Falar com a Irmã água é uma bênção profunda ao nível de nos conhecermos emocionalmente.
Como disse São Francisco de Assis “ quanto mais conheço o homem, mais gosto dos animais”. Homem sábio… Disse-o porque sabe que os animais são sinceros, são verdadeiros, são totais, pois, não necessitam de máscaras. Nunca vi um cão preocupado com que o outro cão irá ladrar dele. Isso não existe porque os cães não têm ego. E o ego é o inimigo. As máscaras existem graças a ele. Então liberte-se das suas máscaras, não ligue para que os outros possam dizer de si desde que esteja bem em consciência com as suas atitudes.
Então, o primeiro passo é libertar-se do seu ego; o segundo não ligar ao que os outros possam dizer de si; o terceiro conheça-se e não permita estar desfragmentado; o quarto tenha em atenção ao ruído; quinto cuidado com o que diz e como o diz; sexto promova uma comunicação cuidada e produtiva. Seja sincera quando comunica, deixe as suas emoções revelarem-se, seja total.
Comunique, comunique-se e seja feliz.
Muita Paz,
Mario_Cardeal
Mário Cardeal é Fundador da Nascente de Luz. Considerado por muito como Xamã. Conta na sua vida diária com muitas Curas realizadas naqueles que o procuram. Dedica-se ao estudo e formação Xamânica e promove várias actividades. Terapeuta, Autor de vários textos, palestrante, facilitador, sobretudo um Pensador. Saiba mais em: www.nascentedeluz.com

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