segunda-feira, 27 de maio de 2013

Dos acontecimentos recentes no mundo do socialismo oriental.

Dos acontecimentos recentes no mundo do socialismo oriental.

A revolta dos povos contra o regime chinês e russo é antiga e parece estar a atingir um ponto que há muito era desconhecido. No caso russo, o sentimento de revolta contra o actual regime poderá ser amortecido pela utilização da falsa oposição de vários partidos que fazem o jogo do Kremlin, mas não deixa de ser um elemento que pode sair de controlo no caso do regime sofrer um cerco do resto do mundo, enquanto no caso chinês, onde uma aldeia de 20 mil pessoas se revoltou e está sob cerco, as coisas parecem bem mais graves.
Há riscos e oportunidades a considerar, porém, tendo em conta o tipo de liderança que temos no mundo ocidental, estou mais preocupado com os riscos do que com as oportunidades. Digo isso pois a crescente fraqueza militar do Ocidente aumenta a tentação das elites russas e chinesas de jogar a cartada do nacionalismo no caso do agravamento da situação interna dos seus países, o que, diante das perspectivas económicas mundiais, é mais do que esperado.
Acredito que o problema enfrentado pelo regime chinês é ainda maior que o enfrentado pelo russo. Em primeiro lugar, a razão é demográfica. Apesar da política de restrição da natalidade do governo chinês, mais forte nas cidades do que no interior, a quantidade de jovens na China é enorme e ainda por cima há uma desproporção gritante entre homens e mulheres, o que acaba por aumentar o nível de agressividade da sociedade. A segunda razão se prende às tradições familiares do interior chinês, onde o espírito de clã ainda é forte e serve como base para um sistema de redes que acaba por possuir tentáculos em toda a parte e se mistura a factores tipicamente chineses, como as antigas sociedades secretas, das quais sabemos muito pouco. A terceira é histórica. Mao, ao fazer a revolução, optou pelo campo pois conhecia a tradição das revoltas camponesas na China, que foram, junto à invasão de povos do Norte, o grande factor de mudança dinástica por lá. A ascensão da dinastia Ming, a rebelião Taiping e a revolta An Lushan são bons exemplos dessa antiga tradição chinesa de revolta contra o poder central.
Portanto, me parece que a melhor política que o Ocidente poderia praticar nesse momento é a de fortalecimento da sua capacidade militar em conjunto com um abrandamento da actividade externa, o que fecharia a válvula de escape externa a estes regimes inimigos ao mesmo tempo que diminuiria a possibilidade de uso retórico da política externa ocidental como factor de união nacional entre russos e chineses. Infelizmente, estamos a fazer tudo ao contrário. Cortamos os nossos gastos militares ao mesmo tempo que intervimos militarmente em várias nações do mundo árabe (ainda por cima instalando inimigos em todas elas!), o que nada mais é do que implorar para sermos atacados.
A verdade é que enquanto tivermos palhaços instalados no poder em todo o Ocidente, só nos resta contar com a providência: só a intervenção dela explica que a nossa civilização ainda não tenha caído apesar dos esforços da sua classe política.

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