sexta-feira, 19 de julho de 2013

'Papa cobrará que políticos deixem os interesses egoístas'


Porta-voz do Vaticano diz que mensagem à classe dirigente será forte, exigindo atenção a pobres, doentes e desvalidos
Jamil Chade, O Estado de S.Paulo
O papa Francisco vai cobrar da classe política que deixe de "oprimir" o povo por "interesses egoístas" e assuma suas "responsabilidades" por criar uma "sociedade justa". Quem faz a revelação é o próprio porta-voz do Vaticano, padre Federico Lombardi, que indica que o papa pedirá ainda "respeito" pelos pobres. Em entrevista exclusiva ao Estado, o responsável pela mensagem do Vaticano confirmou que Francisco pedirá uma mudança de atitude dos líderes e antecipou o conteúdo de alguns dos discursos do pontífice.
Lombardi ainda revelou que o papa passou uma ordem clara aos organizadores de sua segurança e às autoridades brasileiras: não quer nenhum obstáculo entre ele e o povo.

Desacertos do BNDES


Rogério Furquim Werneck

Com o governo ainda aturdido com os protestos de junho, voltaram a ganhardestaque na mídia más notícias sobre o BNDES. Tendo em conta o teor das insatisfações que afloraram nas ruas e o retumbante fracasso da “nova matriz de política econômica”, o mais provável é que a atuação do BNDES seja objeto de críticas cada vez mais contundentes nos próximos meses.
É preciso ter em mente que a instituição se converteu em ponto de confluência de vários dos piores desacertos da política econômica.
Para entender como se chegou a isso, vale a pena relembrar a paradoxal estratégia de financiamento do crescimento proposta pelo ministro Guido Mantega, em entrevista ao “Financial Times”, quando assumiu a pasta da Fazenda em 2006: como o governo não contava com recursos para investir, a solução seria recorrer ao investimento privado financiado com recursos do governo. Dito assim, parecia ser apenas uma contradição em termos.
Mas a verdade é que, com a operosa ajuda do BNDES, essa ideia despropositada seria afinal posta em prática, dando lugar a um enorme programa de financiamento de investimentos bancado com dinheiro público, não obstante a inegável carência de recursos do governo.
Se o Tesouro não dispunha de recursos, que então se endividasse para fazer empréstimos subsidiados de longo prazo ao Banco. Estabeleceu-se, por fora do Orçamento, uma ligação direta entre o Tesouro e o BNDES, através da qual recursos provenientes da emissão de dívida pública passaram a ser transferidos ao Banco, sem contabilização no resultado primário e sem que a dívida líquida do setor público fosse afetada.
Desde 2007, cerca de R$ 370 bilhões foram transferidos do Tesouro ao BNDES. E isso permitiu a montagem de gigantesco orçamento paralelo no BNDES. Embora todos os recursos proviessem do Tesouro, passaram a conviver no Governo Federal dois mundos completamente distintos.
De um lado, a dura realidade do Orçamento da União, em que se contavam centavos. De outro, a Ilha da Fantasia do BNDES, nutrida com emissões de dívida pública, em que parecia haver dinheiro para tudo.
Não chegou a ser uma surpresa que tanta fartura tenha dado lugar a um clima de megalomania e dissipação no Banco, propício ao surgimento de agendas próprias, missões inadiáveis e projetos de investimento grandiosos e voluntaristas. Que têm abarcado desde programas de cerceamento deliberado da concorrência para a formação de “campeões nacionais” ao desajuizado projeto do trem-bala.
Como era de se esperar, as contas de muitas decisões impensadas já começaram a chegar. E o Banco vem tendo de se desdobrar para explicar o inexplicável. O maior desgaste político, contudo, ainda está por vir.
A decodificação dos protestos que tomaram as ruas do país, em junho, continuará a ser, por muito tempo, matéria altamente controvertida. Mas, em meio às insatisfações difusas que parecem ter inspirado as manifestações, foi possível distinguir clara irritação com as deficiências dos serviços públicos e a carência de investimentos em infraestrutura urbana, especialmente em transporte de massa.
Vistos dessa perspectiva, os vultosos investimentos que vêm recebendo financiamento subsidiado do BNDES, com dinheiro público advindo da emissão de dívida pelo Tesouro, mostram notável descompasso com as prioridades populares.
Pouco ou nada dos 370 bilhões mobilizados desde 2007 foi efetivamente canalizado para a redução das carências de investimento denunciadas nos protestos de junho.
Boa parte foi destinada ao financiamento de investimentos no setor elétrico e no setor petróleo. Em grande medida, a projetos da própria Petrobras.
Apesar das carências vergonhosas que o país continua exibindo em saneamento básico, transporte de massa, saúde, segurança e educação, o governo, por capricho ideológico, vem concentrando os financiamentos do BNDES, bancados com recursos do Tesouro, em projetos de investimento estatal em áreas nas quais o setor privado está interessado em investir. Um desacerto lamentável que, agora, pode lhe custar caro.

Rogério Furquim Werneck é economista e professor da PUC-Rio.

Fazendeiros do ar, por Nelson Motta


Nelson Motta, O Globo
Eles podem até acreditar que é tudo inveja e ressentimento dos que estão fora do ar, como devem lhes dizer seus assessores, mas os abusos de aviões da FAB pelos presidentes da Câmara e do Senado se tornaram um símbolo do ponto de saturação a que chegamos e de como estamos longe — e eles mais longe ainda — das transformações exigidas pelas ruas e que eles fingem que ouviram, votando projetos populistas de afogadilho, mas fazendo tudo para atrasar o fim de seus privilégios.
Diante de tudo que aconteceu ultimamente, a melhor justificativa que eles poderiam dar para voar em jatos da FAB para casamentos e jogos de futebol seria a segurança, a que têm direito por lei.
Como enfrentar um aeroporto lotado, escondido nas salas VIP e cercado de assessores e seguranças? Como entrar num avião de carreira sob vaias e insultos? Para os mais conhecidos já está difícil ir a bares e restaurantes, e os cinemas, mesmo escurinhos, ficam perigosos quando a luz acende. Estádios, nem pensar. Está dura a vida dos políticos brasileiros.
Todo político adora ser conhecido, ter um rosto familiar, ser cumprimentado nas ruas, afinal eles vivem disso. Mas agora, com raras e notórias exceções, eles querem passar despercebidos, se possível invisíveis, como se fossem, ó ironia, cidadãos anônimos e comuns.

Henrique Alves, presidente da Câmara dos Deputados. Foto: J. Batista/ Ag. Câmara

Mas suas fotos caíram na rede e vai ser arriscado enfrentar as multidões nas festas juninas do Nordeste sob a ameaça de vaias e insultos a qualquer parada da música ou imagem no telão. A quadrilha não pode parar.
Mas eles não mudam, é da sua natureza, só vão trocando de nome e de partido. O presidente da Câmara, Henrique Alves, é o arquétipo do político profissional brasileiro, com incontáveis mandatos, a mais completa tradução das oligarquias nordestinas e dos velhos políticos execrados pelas ruas.
Ele não se contenta com um avião da FAB exclusivo para transportá-lo, faz questão de dar carona a amigos, parentes e correligionários, distribuir assentos e privilégios no velho estilo coronelesco, para impressionar provincianos deslumbrados e demonstrar seu poder. É como se o avião fosse a sua fazenda.

Nelson Motta é jornalista.

E o dinheiro do petróleo não virá para a educação



Com o sepultamento da MP 592/2012, mais uma vez o Congresso Nacional inviabiliza a destinação das receitas arrecadadas com o petróleo para a educação. E para retomar a pauta, o movimento educacional precisa conhecer o péssimo marco regulatório brasileiro de exploração de hidrocarbonetos, contrário aos interesses da nação brasileira 


Daniel Cara


Teve vida curta a Medida Provisória (MP) 592/2012, que vinculava parte das receitas com royalties do petróleo ao financiamento da educação. A Comissão Mista dedicada a analisar a matéria optou, absurdamente, por deixá-la perder sua vigência, ou seja, caducar. Um estranho acordo entre parlamentares da oposição e do governo, de Estados e Municípios confrontantes e não confrontantes, resultou nessa decisão.

A desculpa dada foi aparentemente boa. A distribuição federativa das receitas arrecadadas com a exploração do petróleo está sendo analisada pelo STF (Supremo Tribunal Federal). Esse é um fato, mas que não inviabiliza outro: a destinação desses recursos para a educação.

Após ter sido aprovada pela Conae (Conferência Nacional de Educação) de 2010, o Governo Federal assumiu como sua a proposta de vincular a riqueza do petróleo às políticas educacionais. Nenhum problema, pelo contrário. Considerando-se a relevância da ideia e a contabilidade de votos no Congresso Nacional, esmagadoramente favorável ao Palácio do Planalto, conceder autoria se transforma em uma atitude estratégica e de responsabilidade cívica.

Contudo, boas ideias não concretizadas equivalem a um jogo de soma zero, com o prejuízo de gerarem frustração e desânimo. Além disso, no âmbito das leis, toda e qualquer intenção declarada precisa ser materializada em redações claras e objetivas, capazes de atingir um objetivo. Caso contrário, só servem como exercício de propaganda verborrágica.

Após ser estranhamente derrotada em sua primeira tentativa de investir a riqueza gerada pelo petróleo em educação, a Presidenta Dilma Rousseff anunciou com a assertividade que lhe é característica, a edição da MP 592/2012, comemorada com euforia no entardecer de novembro do ano passado. Mas, ao ler o conteúdo da MP, publicada na primeira segunda-feira de dezembro, o movimento educacional compreendeu que, por aquele instrumento, as receitas do petróleo não tinham sido vinculadas à educação.

Naquele momento, a experiência acumulada na tramitação do Fundeb (Fundo de Manutenção e Desenvolvimento da Educação Básica e Valorização dos Profissionais da Educação), da Lei do Piso Nacional Salarial do Magistério, da Emenda à Constituição 59/2009 e do PNE (Plano Nacional de Educação), além da vitoriosa derrubada do Recurso 162/2012 -- apresentado pelo Governo Federal para prender a proposta do novo plano educacional na Câmara dos Deputados --, me colocou entre os prudentes.

Frente a um texto desanimador, em conjunto com a CNTE (Confederação dos Trabalhadores em Educação) e em diálogo com os 'campanheiros' (como identificamos os membros da Campanha Nacional pelo Direito à Educação) Idevaldo Bodião e Luiz Araújo, propusemos 7 emendas aos parlamentares Fátima Bezerra (PT/RN), Ivan Valente (PSOL/SP), Eudes Xavier (PT/CE) e Paulo Rubem Santiago (PDT/PE), todas devidamente apresentadas. Ocorre que não podemos desperdiçar qualquer chance. O nosso trabalho, muitas vezes, pode ser sintetizado como a transformação do natural oportunismo eleitoral dos governantes em oportunidades para consagração dos direitos educacionais. Não deixa de ser uma tentativa de reificar o realismo político em benefício dos direitos humanos.

Adicionalmente, aproveitando o recesso parlamentar e após reuniões com o Ministério da Educação e lideranças do Congresso Nacional, em janeiro, conseguimos, por meio das projeções do Prof. Gil Vicente dos Reis da Ufscar (Universidade Federal de São Carlos), demonstrar que a disputa pelas receitas com royalties e participações especiais não podia ser abandonada, mas que o financiamento adequado das políticas educacionais exigia muito mais. Ou seja, para o Brasil fazer jus à meta do novo PNE, que determina um investimento equivalente a 10% do PIB para a educação pública, a ser alcançado em 10 anos, se faz necessária a vinculação de todas as receitas arrecadadas com o petróleo, pela União, Estados e Municípios, incluindo os recursos oriundos do polígono do pré-sal, apelidado de 'bilhete premiado brasileiro'. E esse tesouro, na prática, não foi vinculado à educação pela MP.

Graças ao reconhecimento e relevância do trabalho da Campanha Nacional pelo Direito à Educação, em 19 de março, fui convidado a apresentar na Comissão Mista da MP 592/2012 os cálculos capazes de justificar a vinculação de todos os recursos arrecadados com o petróleo à educação pública. Não foi fácil defender a destinação exclusiva em uma mesa compartilhada com prefeitos, pesquisadores dedicados à exploração do petróleo, representantes da ANP (Agência Nacional do Petróleo) e da SBPC (Sociedade Brasileira para o Progresso da Ciência). Apenas a Andifes (Associação Nacional dos Dirigentes das Instituições Federais de Ensino Superior), também presente à mesa, apoiou explícita e integralmente a causa. Embora eu considere justo o apelo da SBPC para que seja destinada uma menor parte dessa receita à ciência e tecnologia.

Como resultado, é possível afirmar que a exposição surtiu efeito. Embora a riqueza do pré-sal não tenha sido devidamente vinculada ao financiamento da educação pública no relatório apresentado em 16 de abril, pelo relator da matéria, deputado Carlos Zarattini (PT-SP), todas as emendas da Campanha Nacional pelo Direito à Educação foram, ao menos, parcialmente incorporadas -- o que embora não seja suficiente, também não é pouco.

Contudo, na última terça-feira, 22 de abril, a MP 592/2012, que perde a eficácia no próximo dia 12 de maio, foi abandonada pela Comissão Mista. O funeral foi triste, com poucas testemunhas oculares, além de membros da Campanha Nacional pelo Direito à Educação. O sepultamento foi apoiado por praticamente todo o colegiado, afora a manifestação de dois votos contrários: o próprio do relator, deputado Zarattini, e do deputado Ronaldo Caiado (DEM-GO), da oposição.

E assim, como é pesado o ônus do sepultamento da MP 592/2012, especialmente após tanta euforia gerada no momento de sua divulgação, os senadores e deputados da Comissão Mista chamaram de sobrestamento o verdadeiro abandono da questão.

Sobrestar é suspender. A suspensão, segundo os parlamentares, iria até o julgamento da distribuição federativa dos royalties e participações especiais no plenário do STF. Ocorre que dificilmente o STF deliberará sobre o tema antes de 12 de maio, prazo máximo para votação da MP não apenas na Comissão Mista, mas também nos plenários da Câmara dos Deputados e do Senado Federal, em dois turnos.

Como cidadão, incomoda mais do que a falácia demagógica. Fazendo uso de palavras desconhecidas ou sob o medíocre argumento de inconstitucionalidade, entre outras estratégias, os governantes criam justificativas irracionalmente repetidas pela opinião pública, especialmente pela grande imprensa. Se houvesse real interesse, a MP 592/2012 poderia tramitar rapidamente nas duas Casas, abandonando o tema da distribuição federativa dos recursos, questionada no STF, em uma disputa que envolve Rio de Janeiro, Espírito Santo e São Paulo e alguns de seus municípios contra todos os outros Estados e Municípios do Brasil. Portanto, ao invés de tocar nesse espinhoso tema, a MP poderia se dedicar, exclusivamente, a destinar os recursos à educação pública. E se fosse considerada, entre as receitas vinculadas, aquela extraída do polígono do pré-sal, provavelmente seria possível incluir a saúde, a ciência e tecnologia e a defesa entre as áreas beneficiadas.

Mas, fazendo uso de uma desculpa que parece ter sido boa, considerando-se que está sendo amplamente aceita pela opinião pública, os parlamentares tentam transferir ao STF um ônus alto em um período pré-eleitoral: por motivos nada republicanos, abriram mão de determinar uma fonte promissora de recursos ao novo PNE, no momento paralisado no Senado Federal.

E quais são os próximos passos?

Com o sepultamento da MP 592/2012, a destinação das receitas do petróleo à educação pública volta à estaca zero. Há divergência sobre se é legal ser editada uma nova MP, ainda este ano, com o mesmo teor. Se não for, como hoje a exploração do petróleo é regulada por leis ordinárias, a vinculação poderia ser resolvida diretamente na Lei do PNE, por meio de alterações pontuais às leis 9.478/1997 e 12.351/2010, que tratam dos contratos exploratórios segundo os modelos de concessão e partilha, respectivamente. Além dessas alternativas, deputados como Alessandro Molon (PT-RJ), Angelo Vanhoni (PT-PR) e Newton Lima (PT-SP) buscam outros meios legislativos por meio de PECs (Propostas de Emenda à Constituição) e Projetos de Lei específicos. Nesse sentido, diante do trabalho da Campanha Nacional pelo Direito à Educação, no dia de hoje, o Deputado Alessandro Molon propôs um PL que vincula, por 10 anos, toda a riqueza do pré-sal, transferida e acumulada no Fundo Social, à educação. A MP 592/2012 só previa 50% dos rendimentos. Em números, segundo estimativas, a proposta da Campanha incorporada pelo parlamentar fluminense, pode gerar um volume de recursos equivalentes a 4% do PIB em 2020. Já metade dos rendimentos das aplicações do Fundo Social, como propõe a referida MP, deve alcançar, no máximo, o equivalente a 0,015% do PIB em 2020.

A sociedade precisa conhecer o marco regulatório da exploração do petróleo

Obviamente, toda e qualquer movimentação por uma causa justa é positiva e necessária. Mas antes do movimento educacional iniciar uma nova empreitada sobre o tema, é importante que se saiba que não basta simplesmente exigir receitas do petróleo à educação. Para não ficarmos entregues, precisamos conhecer em profundidade o frágil marco regulatório brasileiro para exploração do petróleo.

Nesta quinta-feira, 25 de abril, em reunião que transcorreu por toda a manhã, consultores legislativos do Congresso Nacional da área de educação e hidrocarbonetos transformaram em certeza aquilo que antes era uma incômoda desconfiança: os regimes de concessão e partilha vigentes no Brasil são altamente favoráveis às petroleiras, especialmente a Petrobrás, em detrimento do Poder Público brasileiro. Mas, curiosamente, esse tema não vem à tona.

Um exemplo: o regime de partilha, destinado à exploração do polígono pré-sal, prevê que vence um processo licitatório a empresa que conceder o maior retorno de excedente em óleo ao Estado brasileiro. Dito em termos mais didáticos, ganha o direito de exploração do "bilhete premiado" a petroleira que dividir com o Estado brasileiro a maior fatia do negócio. De modo muito simplificado e ainda mais simplista, fica com o direito de ganhar na loteria aquele apostador que der a maior parte do prêmio para a União, representada pelo Poder Executivo Federal, ou seja, o Governo Federal.

Mas o pré-sal não é uma loteria simples, são necessários investimentos para se alcançar e explorar o tesouro. E é aí que reside o problema: o marco regulatório do regime de partilha brasileiro é peculiar por não apresentar um piso para a divisão da partilha, ou seja, qual é o patamar mínimo do negócio que deve ficar com o Estado, o que abre margens a licitações desvantajosas e a estratégia de cartel por parte das empresas. E pior: não determina um teto para ser saldado o retorno de investimento, limitador do excedente em óleo.

Resultado: a licitação pode apresentar porcentagens de partilha de negócio abaixo do praticado em modelos semelhantes de outros países. E boa parte da divisão do excedente em óleo pode ser consumida com o pagamento de um suposto retorno de investimento, pois não há um instrumento legal de regulação, ficando o tema relegado aos tecnocratas da ANP. Assim, se Dilma deseja impedir, corretamente, que os bancos internacionais tenham "o último almoço grátis no Brasil", a sociedade brasileira não pode permitir um banquete de gala às petroleiras.

A lição é tão velha que se tornou um princípio de mercado universal: toda relação econômica precisa ser regida por regras claras, pois está baseada em um jogo no qual todos os participantes querem maximizar seus resultados. E há muita desinformação sobre o real volume de dinheiro que envolve a exploração do petróleo.

Para esclarecer, segue um exemplo simples de precificação da exploração de óleo, próximo do que tem ocorrido em outros países, nos contratos do regime de partilha: considerando o preço atual do barril de petróleo na casa dos USD 100,00 (cem dólares), a licitação deveria estipular que a empresa de exploração deve ter um retorno investimento de, no máximo, USD 10,00 (dez dólares) por barril, devendo conceder, no mínimo, USD 60,00 (sessenta dólares) para o Estado brasileiro. Nesse caso, a parte dela no excedente em óleo seria de USD 30,00 (trinta dólares) por barril, um negócio extremamente vantajoso em termos de mercado internacional. Devido à concorrência, a tendência seria de aumento do bolo destinado ao Estado brasileiro

A corrida do ouro

Todas as pesquisas mostram que o pré-sal é mesmo um tesouro. E ao contrário do que tem se afirmado nos veículos de comunicação, especialmente os especializados em economia, o custo de exploração, mesmo diante de uma possível queda no preço internacional do petróleo, é relativamente baixo diante de outras alternativas em jogo, especialmente as novas fontes energéticas, como o gás de xisto. Inclusive, por incrível que pareça, o impacto ambiental do pré-sal é potencialmente menor do que o de outras fontes de alto potencial energético, graças à tecnologia acumulada por décadas de exploração no mar. Contudo, a economia mundial é radicalmente dinâmica e, para ser bem aproveitado esse recurso natural, o "bilhete premiado" brasileiro precisa ser explorado, no máximo, em 30 anos, antes de uma iminente mudança na matriz enérgica. Em outras palavras, no curto prazo o pré-sal é bom, no médio prazo pode se tornar obsoleto e pouco atrativo.

Considerando que precisamos correr, no Congresso Nacional já há certo frisson com as licitações previstas para novembro de 2013. A sociedade precisa ter consciência de que o Brasil se encontra em uma espécie de corrida do ouro e caso não aperfeiçoe o marco regulatório, maximizando o retorno sobre essa riqueza da nação brasileira, o povo não será beneficiado, tal como ocorreu com os ciclos exploratórios anteriores, como o do Pau Brasil, da cana de açúcar e do ouro.

Obviamente, comparando-se com o passado, hoje o Brasil se encontra em uma grande vantagem: há séculos o país deixou de ser uma colônia escravagista. No entanto, ainda está distante de ser um país justo, próspero e sustentável. E é nisso que a riqueza oriunda do petróleo poderia e deveria ajudar.

Como bem sintetizou o Prof. Gil Vicente dos Reis na reunião da manhã de quinta (25), a saída do Brasil é "transformar óleo em educação pública". É uma nova alquimia. E diante da morte da MP 592/2012, só nos resta perseverar na luta por um financiamento adequado à educação pública, viabilizado pela riqueza do petróleo.

E se todo dinheiro da Copa fosse investido em educação pública?



Estima-se que a Copa do Mundo de 2014 custará R$ 28 bilhões. Tomando o estudo do CAQi (Custo Aluno-Qualidade Inicial) como referência, com R$ 25,277 bilhões daria para construir unidades escolares para todos os 3,7 milhões de brasileiros de 4 a 17 anos que estão fora da escola.


Daniel Cara

Um dos motivos da justa onda de protestos que toma o Brasil é o alto custo da Copa do Mundo de 2014.

Estive a trabalho na África do Sul no período da Copa das Confederações (2009) e da Copa do Mundo (2010). É bom que todos os brasileiros tenham ciência: em qualquer lugar do mundo, os eventos FIFA são demasiadamente onerosos e elitizados. Contudo, no Brasil a situação está mais grave.

Ontem (19/6), o jornalista Jamil Chade, do grupo Estado, informou que em abril o governo estimava que a Copa do Mundo de 2014 custaria de R$ 25,5 bilhões. Anteontem (18/6), o secretário-executivo do Ministério dos Esportes, Luis Fernandes, anunciou que a Copa deverá custar R$ 28 bilhões.

Em comparação com outros Mundiais, o evento no Brasil é o mais dispendioso. Em 2006, a Alemanha gastou na 3,7 bilhões de euros para sediar a Copa, cerca de R$ 10,7 bilhões. Em 2002, Japão e Coreia, gastaram juntos US$ 4,7 bilhões, cerca de R$ 10,1 bilhões. Na África do Sul, em 2010, o custo do evento foi de US$ 3,5 bilhões, perto de R$ 7,3 bilhões. Conclusão: a Copa do Mundo de 2014 será a mais cara da história.

E é um acordo estranho. O Brasil paga a conta, mas é a FIFA quem lucra. Segundo seus próprios dados, a "entidade máxima do futebol" estimava, em 2011, que gastaria US$ 3,2 bilhões para organizar o Mundial, obtendo uma receita de US$ 3,6 bilhões. Mas Jerome Valcke, o mal humorado secretário-geral da FIFA, admitiu que a renda irá superar a marca de US$ 4 bilhões, dobrando o lucro da entidade com o evento.

Com base nessas informações, realizei um rápido exercício de cálculo. Fui estimulado pela imagem de um cartaz que figurou nos protestos de São Paulo, altamente compartilhada nas redes sociais. O texto dizia: "Eu quero escolas e hospitais 'padrão FIFA'".

Aviso, logo de cara, que tal como ocorre com os estádios de futebol, o chamado padrão FIFA é um luxo desnecessário. Portanto, como referência, vou tomar o único instrumento brasileiro capaz de contabilizar o custo de construção, equipagem e manutenção de escolas dedicadas à relação de ensino-aprendizagem. O mecanismo é de autoria da Campanha Nacional pelo Direito à Educação e se chama CAQi (Custo Aluno-Qualidade Inicial).

Fiz o seguinte exercício: o que os R$ 28 bilhões que serão gastos com a Copa do Mundo de 2014 fariam pela educação pública?

Como parâmetro de demanda, tomei como base o dado do relatório brasileiro "Todas as crianças na escola em 2015 - Iniciativa global pelas crianças fora da escola", produzido pelo Unicef (Fundo das Nações Unidas para a Infância) e, novamente, pela Campanha Nacional pelo Direito à Educação. A principal conclusão do documento é que 3,7 milhões de crianças e adolescentes brasileiros, de 4 a 17 anos, estão fora da escola. No entanto, segundo a Emenda à Constituição 59/2009, todos os cidadãos dessa faixa-etária devem estar obrigatoriamente matriculados até 2016.

Assim, o primeiro desafio é o de dimensionar o volume de pré-escolas e escolas que precisam ser construídas. Operando os cálculos, faltam 5.917 estabelecimentos de pré-escolas, 782 escolas para os anos iniciais do ensino fundamental, 593 escolas para os anos finais e 1.711 unidades escolares de ensino médio. Em segundo lugar, é preciso dimensionar os custos de construção e aquisição de equipamentos. Para os 5.917 prédios de pré-escola são necessários R$ 15,047 bilhões. No caso das unidades de ensino fundamental, o custo seria de R$ 1,846 bilhão para os anos iniciais e 1,769 bilhão para os anos finais. Por último, para construir e equipar as escolas de ensino médio, o investimento seria de R$ 6,615 bilhões.

Tudo somado, o Brasil deve aplicar R$ 25,277 bilhões para construir e equipar pré-escolas e escolas capazes de matricular todas as crianças e adolescentes de 4 a 17 anos até 2016. Ainda assim, subtraindo esse montante dos R$ 28 bilhões que devem ser despendidos com a Copa, sobram R$ 2,721 bilhões. É um bom recurso!

Obviamente, esse cálculo trata apenas do investimento em construção e aquisição de equipamentos, com base em um padrão mínimo de qualidade mensurado no CAQi. Não estão sendo considerados, por exemplo, a imprescindível construção de creches, instituições de ensino técnico profissionalizante e de ensino superior. Muito menos estão sendo contabilizados custos essenciais para a manutenção das matrículas com qualidade, como salários condignos para os professores e demais profissionais da educação, custos com uma boa formação inicial e continuada para o magistério, além de uma política de carreira atraente. Como é de conhecimento geral, se tudo isso fosse considerado, tomando outros fatores do CAQi como referência, além de outros instrumentos, o Brasil precisaria investir, em 10 anos, cerca de R$ 440 bilhões em educação pública, ou o equivalente a 10% do seu PIB (Produto Interno Bruto) de 2012.

Hoje investe, conforme dados oficiais, cerca de R$ 233,2 bilhões.

Portanto, o exercício apresentado aqui serve basicamente para estimular uma reflexão: o orçamento público deveria obedecer a uma lógica de prioridade. Por mais que o povo brasileiro ame o futebol, os manifestantes têm declarado que preferem educação pública, saúde pública e transporte público de qualidade. A FIFA tem dito que a Copa de 2014 será um festa, a nossa festa. Se for verdade, será uma comemoração indigesta, pois já estamos sendo obrigados a engolir regras, padrões e ingressos caros e para poucos. E pior: todos os contribuintes brasileiros pagarão a conta.

Itapetinga: repórter e cinegrafista são vítimas de acidente na BA-263


 
GILD
Gilson Vasconcellos e Diego. Foto Facebook.
O repórter Gilson Vasconcellos  e o seu cinegrafista, Diego, na tarde desta  sexta-feira (19),   foram vítimas de um acidente na BA- 263, rodovia  que liga  os municípios de Itapetinga e Itororó.  O acidente aconteceu nas imediações da Fazenda Palomar após o pneu traseiro da moto estourar.
 O repórter   e o cinegrafista  sofreram ferimentos em várias partes do corpo e foram  socorridos  por pessoas da cidade de Ibicuí, que passavam  pelo  local na hora  do acidente. No Hospital Cristo Redentor,  ambos receberam os primeiros atendimentos médicos, mas, por sorte, não ocorreu nenhuma  fratura em nenhuma das vítimas, que  foram liberadas  da unidade médica  no mesmo dia.
Gilson Vasconcellos e Diego são do site Itapetinga News e sofreram o acidente quando retornavam de uma cobertura jornalística  em Itororó.   O site Itapetinga Repórter, na noite desta sexta-feira (19), entrou em contato com Gilson e ficou feliz em saber que ele e seu cinegrafista estão bem.

As lições da Finlândia para o Brasil




Respeitadas e compreendidas todas as diferenças entre os dois países, o Brasil pode tomar a Finlândia como um bom exemplo de sistema educacional.


São Paulo,  2013.

Enquanto a Campanha Nacional pelo Direito à Educação realiza, em parceria com a Faculdade de Educação da USP (Universidade de São Paulo) o importante seminário "Nem herói, nem culpado. Professor tem que ser valorizado", a diretora do Ministério da Educação da Finlândia, Jaana Palojärvi, visita o Brasil. Como não poderia ser diferente, a presença da gestora finlandesa por aqui tem causado certo frisson. Seu país, no curso dos últimos anos, tem sido a principal referência no PISA (Programme for International Student Assessment ou Programa Internacional de Avaliação de Estudantes), da OCDE (Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Econômico). E, diante disso, ninguém resiste à pergunta: qual é o segredo da Finlândia?

Segundo Jaana Palojärvi, o sucesso finlandês no PISA não tem nada a ver com métodos pedagógicos revolucionários, uso da tecnologia em sala de aula ou exames gigantescos como Prova Brasil, Enem ou Enade. Pelo contrário: a Finlândia dispensa as provas nacionais e aposta na valorização do professor e na liberdade para ele poder trabalhar.

Adicionalmente, segundo matéria do portal G1, na Finlândia a educação é gratuita, inclusive no ensino superior. A jornada, de 4 a 7 horas, é relativamente curta para os padrões europeus. E os alunos não têm muita lição de casa. "Também temos menos dias letivos que os demais países, acreditamos que quantidade não é qualidade", diz Jaana.

A gestora educacional considera que duas reformas foram responsáveis pela melhoria da educação finlandesa: uma na década de 1970 e outra nos anos 1990. Na década de 70 a educação ganhou centralidade na agenda pública nacional. Já a partir do início da década de 90, o sistema educacional foi descentralizado. Os municípios, escolas e, principalmente, os professores passaram a ter mais autonomia, recebendo condições adequadas de trabalho.

"Fé e confiança têm papel fundamental no sistema finlandês. Descentralizamos, confiamos e damos apoio, assim que o sistema funciona. O controle não motiva o professor a dar o melhor de si. É simples, somos pragmáticos, gostamos de coisas simples."

Em outras palavras, sistemas apostilados, que mediocrizam o trabalho do professor, não cabem na Finlândia. Bem como programas de remuneração por mérito, tão defendidos pelo Brasil afora. Atenção economistas de plantão: Ideb (Índice de Desenvolvimento da Educação Básica) na porta da escola na Finlândia? Jamais!

Obviamente, é impossível implantar o modelo finlandês por aqui. Brasil e Finlândia são países completamente diferentes. Mas, sem dúvida, a ex-colônia russa pode servir como exemplo em termos de trabalho pedagógico. E em remuneração dos professores.

Ao ler as matérias publicadas na imprensa nacional sobre a visita de Jaana Palojärvi ao Brasil fui surpreendido por uma curiosa notícia: para ela, o segredo do sucesso não está ligado aofinanciamento da educação.

A Finlândia investe um patamar próximo a 6% de seu PIB em educação pública. "O sistema de educação gratuito não sai tão caro assim, é uma questão de organização", afirma Jaana.

Mas quanto ganha o professor por lá? Em média, cerca de R$ 8 mil!

Seria justo, seria ótimo... Contudo, nem com um investimento público em educação pública equivalente a 10% de seu PIB (Produto Interno Bruto), o Brasil conseguirá remunerar com R$ 8 mil reais, na média, seus profissionais do magistério. Na melhor das hipóteses, alcançado esse patamar, daqui a 10 anos, nosso país pode conquistar uma média de remuneração docente entre R$ 3 mil e R$ 4,5 mil reais. Ainda assim, para tanto, precisa ser aprovado e implementado, urgentemente, um novo e bom PNE (Plano Nacional de Educação).

Portanto, tal como propõe a Campanha Nacional pelo Direito à Educação, a melhor alternativa de ação é perseverarmos na luta por um "PNE pra Valer!". Se não podemos ser a Finlândia, que o Brasil dê um passo decisivo e decidido rumo à educação pública de qualidade.



Além do portal G1, este post utilizou informações publicadas pela Agência Senado e Agência Brasil.

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Comentário de 25/5: Por algum motivo, não está funcionando o serviço de comentários do Blog.

Assim, via Facebook, alguns leitores me perguntam se o Brasil precisa investir o equivalente a 10% do PIB em educação pública, pois a Finlândia investe menos. Vamos lá...

Se quiser valorizar o professor, o Brasil precisa dobrar, em uma década, seu investimento em educação pública.
Em termos absolutos, a Finlândia é um país com um PIB menor do que o brasileiro, mas com muito menos habitantes e, obviamente, com ainda menos estudantes.
Com isso, mesmo investindo menos em educação em comparação ao seu PIB, investe muito mais em termos de custo-aluno/ano e em salário dos professores, como postei.
Segundo o último relatório "Education at a glance 2012" da OCDE, a Finlândia investe USD 5.553 dólares por aluno ao ano em educação pré-primária (educação infantil), USD 7.368 no ensino primário, USD 8.497 na educação secundária e USD 16.569 no ensino superior.
Já o Brasil, respectivamente, investe: USD 1.696, USD 2.405, USD 2.235 e USD 11.741. Ou seja, muito menos.
É por isso que por lá, com cerca de 6% do PIB investidos em educação, a Finlândia tem uma remuneração média do professorado próxima de R$ 8.000. E percebam: com 10% do PIB destinados à educação pública o Brasil alcançaria apenas metade desse valor.
Ou seja, hoje investimos o equivalente a 5,3% em educação pública e estamos com uma remuneração média do profissional do magistério que não chega a R$ 2 mil reais. Vocês acham que vale a pena investir um patamar de 10% do PIB e alcançar quase R$ 4,5 mil reais de remuneração média dos docentes da educação básica?
Ainda é pouco, mas é um salto necessário. Pergunto: vale a pena dá-lo? Essa é a pergunta central.
A Campanha Nacional pelo Direito à Educação acredita na valorização docente. E, por isso, trabalha por um "PNE pra Valer!", com uma meta de investimento público em educação pública equivalente a 10% do PIB, a ser alcançada em 10 anos.
Portanto, quando Jaana Palojärvi afirma que o "sistema de educação gratuito não sai tão caro assim, é uma questão de organização", ela está comparando a Finlândia com seus vizinhos, pois em termos práticos, seu país investe muito mais em suas crianças, adolescentes e jovens do que o Brasil. Essa realidade me incomoda. E a vocês?
Agora, espero que tenha ficado mais clara minha posição... Mandem mais comentários. E aqui eu mando um forte abraço!
Para acessar o relatório da OCDE, clique aqui: Education at a Glance 2012.

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26/5: Comentário da Profa. Catarina de Almeida Santos, da Faculdade de Educação da UnB:

"Daniel Cara, nessa missão [de Jaana Palojärvi] ao Brasil, alguns professores também participaram e um dos locais de visita foi Brasília e a UnB. Em uma atividade que realizamos na Faculdade de Educação duas professoras, sendo uma diretora de escola, trouxeram informações importantes para entendermos esse processo.
A questão da formação: todos os professores das series iniciais têm mestrado, os da educação infantil têm graduação e já está em desenvolvimento uma política para que eles também façam mestrado.
A educação obrigatória começa aos sete anos de idade, mas 90% das crianças pequenas estão matriculadas na educação infantil.
Os alunos ao concluírem o ensino médio podem escolher se vão fazer curso superior acadêmico, Politécnico ou ambos.
Não existe escola particular, todas são publicas, da educação infantil à pós-graduação. Não há grandes disparidades de renda, ou seja, muito pobres e muito ricos."

Blog - Daniel Cara