segunda-feira, 12 de agosto de 2013

O Banco Central é a esteira rolante do saque colonial do Brasil



Dária Leon - Por Fernando Brito - Artigo do Blog Tijolaço
 
Imperdível e escandaloso o conjunto de dados sobre a dívida brasileira que Luís Carlos Azenha expõe, a partir do trabalho da ex-auditora da Receita Federal Maria Lúcia Fatorelli, da Auditoria Cidadã da Dívida Pública.
A “governabilidade” e o “dever de casa” que exigem ao nosso país leva mais da metade do que se reúne, em um ano, em impostos e receitas diversas do Governo Federal.
Essa é a conta de juros, rolagem, encargos e amortizações de nossa dívida. Não é que tenha ficado maior neste governo ou no que o antecedeu.
É monstruosa há décadas e ficou ainda maior com o governo Fernando Henrique Cardoso, que expandiu a dívida pública brasileira como nunca antes na história deste país.
Não cabe descer aos dados aqui, a matéria de Azenha com Fatorelli faz isso muito bem explicado.
Vale, sim, dizer que, depois de lê-la, você vai entender melhor porque gritam tanto por um Banco Central “técnico e independente”.
Ali é a doca onde se embarca para os bolsos privados a riqueza produzida pelo trabalho do povo brasileiro e pelas riquezas de nossa natureza.
Portanto, o que querem ali são zelosos capatazes a gerir esta sangria. Na matéria, é mostrado o que aconteceu no Equador, quando este decidiu sanear a dívida acumulada, lá como aqui, em períodos de ditaduras políticas e financeira, como tiveram lá e tivemos aqui.
O resultado foi que o gasto social, que representava apenas 40% do gasto com o serviço da dívida pública do país triplicou. Esse é o gasto público saudável, que gera serviços à população, obras, investimentos, aquecimento do emprego, da renda e do consumo.
Já os gastos financeiros encolheram drasticamente e, em 2011, eles é que eram 40% do gasto social.
Sabemos que o Brasil é infinitamente mais complexo que o nosso vizinho, mas é bom lembrar que o presidente Rafael Correa, lá, foi buscar no povo contra o massacre da mídia sobre sua política econômica.
Certamente teremos de pagar um preço maior aqui pelo resgate de nossa independência, mas jamais a teremos enquanto não tratarmos esta gente como o que são: rapinantes de nossas riquezas.
No anos 1980, estive por alguns dias no Norte da África. Andando pelo litoral, algumas vezes se topava com restos de trilhos de pequenas estradas de ferro que, subitamente, paravam à margem da praia.
Curioso, quis saber o que era aquilo e a resposta foi que eram trilhos por onde passavam vagões com obras de arte e arquitetura que iam ser embarcadas para a Europa e hoje lotam os museus ingleses, franceses e italianos.
O Banco Central é uma destas estradas de ferro. Eletrônica, agora. E as caravelas digitais lá se vão, levando a riqueza brasileira, em viagens que os nossos velhos do Restelo não praguejam ou amaldiçoam, mas aplaudem e exigem, cada vez mais intensas.


WikiLeaks: EUA relatam que Dilma Rousseff roubou bancos e cofre de Adhemar de Barros na ditadura



Fabiano Portilho
 
Junto a vários grupos clandestinos, Dilma Rousseff organizou três assaltos a banco e cofundou a Vanguarda Armada Revolucionária de Palmares. Em 1969, ela planejou o lendário roubo conhecido como ‘Roubo do Cofre do Adhemar’.” É assim que o ex-embaixador John Danilovich descreve, ao Departamento de Estado americano, a atuação da recém-empossada ministra chefe da Casa Civil Dilma Rousseff durante a ditadura militar.
Desde então, a presidente eleita passa a ser acompanhada de perto pelo governo americano, conforme revelam os documentos divulgados ao GLOBO pelo grupo WikiLeaks. No ano passado, o câncer linfático de Dilma preocupou os Estados Unidos, que chegaram a elaborar possíveis cenários eleitorais sem a candidata. A falta de carisma de Dilma e de relações com líderes religiosos na campanha também não passaram despercebidas por Washington.
Em telegrama aos EUA, de 22 de junho de 2005, Danilovitch coloca na ficha de Dilma essas quatro ações (três assaltos a banco e roubo do cofre do ex-governador Adhemar de Barros, de onde teriam sido levados US$ 2,5 milhões), o que a presidente eleita sempre negou ter feito. No processo do Superior Tribunal Militar (STM), de 1970, Dilma é acusada de “assessorar” assaltos, mas não de participar ou planejar as ações.”Desempenho impressionante em sabatina hostil”
O diplomata escreve também que Dilma foi torturada por 22 dias, ficando presa três anos, e lembra que o promotor militar a chamou de “Joana D’Arc da subversão”. “Rousseff separou-se de seu primeiro marido, Claudio Linhares, que em janeiro de 1970 sequestrou um avião para Cuba e lá permaneceu. No mesmo mês, ela foi presa pelo regime.”
A resposta da ministra ao senador Agripino Maia (DEM-RN) sobre ter orgulho de ter mentido durante a tortura foi registrada como “um desempenho impressionante em uma sabatina hostil” por parte do ministro conselheiro dos EUA, Phillip Chicola, em maio de 2008.
Agripino tentou comparar o depoimento sob tortura com eventuais mentiras durante o testemunho aos senadores no caso do vazamento do dossiê dos cartões de crédito do governo Fernando Henrique Cardoso. Para Chicola, Dilma deu uma resposta dramática, que “a deixou no controle completo da maior parte do restante da audiência de oito horas”.
Já em junho de 2009, meses depois de Dilma anunciar que estava com câncer, o embaixador que sucedeu Danilovich, Clifford Sobel, escreve um longo relatório respondendo à pergunta: “Quão doente está Dilma Rousseff?” Ele elenca possíveis substitutos para Dilma. Os principais seriam o ex-ministro Antonio Palocci e o chefe de Gabinete da Presidência, Gilberto Carvalho.
O governador tucano Aécio Neves aparece como opção de Lula fora do círculo petista. Para Sobel, a doença de Dilma expõe uma fragilidade do PT: “A doença de Dilma expõe uma vulnerabilidade que o PT não tinha até poucos anos atrás, quando poderia apontar para várias estrelas do governo e do Congresso. Essas estrelas, por uma ou outra razão, apagaram-se, e o partido adotou Dilma, a escolha de Lula, seu líder maior, no melhor, no pior, na doença e na saúde.”Três cenários diante da doença de Dilma Sobel relata ao Departamento de Estado que ainda há quem pense que o presidente Lula possa tentar alterar a Constituição para viabilizar um terceiro mandato, mas dá pouca credibilidade à hipótese. Para ele, Dilma “parece bem” e, caso possa manter a imagem de “uma lutadora e vencedora, isso poderá ajudá-la a vencer as eleições”.
O embaixador pondera que observadores avaliavam que a condução da doença tentava “ser o mais transparente possível”. Mas a embaixada trabalhou com três cenários:
“Em um cenário, ela e o círculo íntimo do PT já devem saber que está muito mais doente do que revelado e doente demais para ser candidata. Em outro, pode estar bem o suficiente para se tornar candidata, mas depois ficar enfraquecida pela doença e não fazer a campanha de forma eficaz.
Outro cenário, em harmonia com as declarações públicas do governo e dos médicos de Dilma, é que vai responder bem à quimioterapia e seu câncer pode ser considerado curado, ou pelo menos em remissão.” Para o embaixador, o último era “mais provável”.
Os telegramas traçam um retrato de uma política “não ideológica” e marcada pela imprevisibilidade. Descrevem como “uma colcha de retalhos” a possibilidade de alianças partidárias regionais serem diferentes das alianças em nível nacional. A perspectiva de um êxodo de figuras do governo para se candidatarem preocupou a ministra conselheira da embaixada Lisa Kubiske, mencionando que mais de 50% dos ministros poderiam deixar suas pastas: “Tal fato reduziria dramaticamente a capacidade de governo durante a temporada de campanha”, escreveu em outubro do ano passado.
E mesmo um ano antes das eleições, o presidente da Câmara, Michel Temer (PMDB-SP), já era citado como o mais cotado para ser o vice de Dilma. As conversas com políticos ajudam a montar os perfis para Washington. O senador Eduardo Azeredo (PSDB-MG) disse a Kubiske que a falta de carisma fazia de Dilma “a adversária perfeita para Serra” porque “a torna incapaz de tirar vantagem da própria falta de magnetismo pessoal dele”.
Com a campanha de Dilma ainda “sem decolar” em fevereiro, Thomas Shannon, que sucedeu Sobel, destaca que o PT lançaria mão de uma estratégia para atrair o eleitorado católico e evangélico.
O acordo de Lula com o Vaticano incluindo educação religiosa nas escolas públicas é visto como estratégico, assim como a inclusão de anúncios do governo nas revistas da Igreja Universal do Reino de Deus, ressaltada no telegrama como dona da segunda maior rede de TV do país. Meses mais tarde, a questão religiosa monopolizaria o segundo turno das eleições presidenciais. Do O Globo.


Dívida do Brasil passou de R$ 600 Bilhões para R$ 2,2 Trilhões em 10 anos de PT


Em 10 anos cada cidadão brasileiro tem uma dívida, feita pelo Governo Petista, de quase 1.0 Milhão de Reais.


Dária Leon
 
Você ouve falar em "DÍVIDA EXTERNA e DÍVIDA INTERNA",em jornais e TV e não entende direito vamos explicar a seguir:
DIVIDA EXTERNA é uma dívida com os Bancos, Mundial,FMI e outras Instituições, no exterior em moeda externa. DIVIDA INTERNA é uma dívida com Bancos em R$ (moeda nacional) no país.
Então, quando LULA assumiu o Brasil,Em 2002, devíamos:
Dívida externa = 212 Bilhões Dívida interna = 640 Bilhões Total da Dívida = 851 Bilhões
Em 2007 Lula disse que tinha pago a dívida externa.
E é verdade, só que ele não explicou que,para pagar a dívida externa,ele aumentou a dívida interna:
Em 2007 no governo Lula:
Dívida Externa = 0 Bilhões Dívida Interna = 1.400 Trilhão Total da Dívida = 1.400 Trilhão
Ou seja, a Dívida Externa foi paga, mas a dívida interna mais que dobrou. Agora, em 2010, você pode perceber que não se vê mais na TV e em jornais algo dito que seja convincente sobre a Dívida Externa quitada. Sabe por que?
É que ela voltou...
Em 2010 no governo Lula:
Dívida Externa = 240 Bilhões Dívida Interna = 1.650 Trilhão Total DA Dívida = 1.890 Trilhão
Ou seja, no governo LULA, a dívida do Brasil aumentou em 1 Trilhão.Daí é que vem o dinheiro que o Lula está gastando no PAC,Bolsa família, bolsa educação, bolsa faculdade, bolsa cultura,Bolsa para presos, dentre outras mais bolsas... E de onde tirou 30 milhões de brasileiros da pobreza?
E não é com dinheiro do crescimento, Mas sim, com dinheiro de ENDIVIDAMENTO.
Os brasileiros, vão pagar muito caro pela atitude perdulária do governo Lula, Que não está conseguindo pagar Os juros dessa "Dívida trilhardária",Tendo que engolir um "spread"(taxa de Juros)Muito caro para refinanciar os "papagaios", Sem deixar nenhum benefício para o povo,Mas apenas DIVIDAS A PAGAR Por todos os brasileiros,Que pagam seus impostos...!!!
A pergunta que não quer calar é:
Dilma Vai continuar esta gastança? REPASSE PELO BEM DO PAÍS ! ACORDA BRASIL !!!
Pepinão do Governo Dilma: dívida superior a R$ 2 trilhões.
As contas do governo vão ficar mais "no vermelho" em 2013. Segundo a Secretaria do Tesouro Nacional, após atingir a marca inédita de R$ 2 trilhões no ano passado, a dívida pública (que inclui as dívidas externa e interna) vai continuar crescendo este ano, e pode chegar a R$ 2,24 trilhões – R$ 232 bilhões a mais em relação a 2012, e mais do dobro do que o governo federal arrecadou com impostos e tributos no ano passado (R$ 1,02 trilhão, valor que foi recorde histórico).
Segundo os dados do Tesouro, nos últimos oito anos a dívida pública dobrou: em 2004, o estoque de dívida estava em R$ 1,01 trilhão, subindo para R$ 2 trilhões no fechamento do ano passado – um crescimento de 98,8%. Os dados constam no Plano Anual de Financiamento (PAF) do Tesouro Nacionalx para o ano de 2012, divulgado nesta quinta-feira (21). O documento prevê um patamar entre R$ 2,1 trilhões, o que representaria um crescimento de R$ 92 bilhões, e R$ 2,24 trilhões, para a dívida pública brasileira no fim deste ano. Deste modo, a estimativa de expansão da dívida pública, em 2013, é de 4,58% a 11,55%.
Os vencimentos da dívida pública acontecem entre 2013 e 2041, segundo a Secretaria do Tesouro Nacional. A maior parte está concentrada nos primeiros doze meses (24,38% - patamar de dezembro do ano passado). Outros 20% vencem de um a dois anos, ao mesmo tempo em que 15,3% vencem entre dois e três anos. Deste modo, que 59,7% da dívida está prevista para vencer até o final de 2015.
Operações com o BNDES
Da expansão da dívida pública de cerca de R$ 1 trilhão nos últimos oito anos, R$ 280 bihões referem-se a emissões de títulos públicos para capitalizar do BNDES, ou 28% da alta total. Em 2009, o Tesouro emitiu R$ 100 bilhões para o banco público, valor que passou para R$ 80 bilhões em 2010, para R$ 45 bilhões em 2011 e para R$ 55 bilhões no ano passado.
"Dentro das bandas do PAF [mínima e máxima para crescimento da dívida pública], estão contidas emissões que o governo venha a fazer para o BNDES [captação de recursos para injetar no banco]. Não definimos o valor ainda. Ano a ano a gente tem definido este valor. Está prevista [emissão para o BNDES], mas o governo não divulga neste momento porque o governo não definiu isso", declarou o secretário do Tesouro Nacional, Arno Augustin. Em 2012, o Tesouro Nacional emitiu R$ 55 bilhões para o BNDES – impactando para cima a dívida pública em igual proporção.
CADA cidadão brasileiro tem uma dívida , feita pelo Governo Petista, de quase 1.0 MILHÃO DE REAIS.
Entenderam porque querem ressuscitar a CPMF?
Economista Waldir Serafim.

Por que não houve inflação de preços no Japão?



tokyo.jpgUm leitor manda-me a seguinte pergunta: Por que o Japão, mesmo com tantos estímulos monetários desde 1990, não tem inflação?
E a minha resposta direta é: simplesmente porque não houve estímulos monetários, apenas estímulos fiscais.
O leitor mais iniciado poderá se espantar com a resposta acima, uma vez que é público e notório que o Banco Central do Japão (BOJ) vem mantendo sua taxa básica de juros em níveis ridículos há anos.  Sendo assim, duas perguntas tornam-se inevitáveis: como é possível dizer que não houve expansão monetária no Japão quando se sabe que o BOJ manteve os juros perto de zero durante anos?  É possível manter juros baixos e, ao mesmo tempo, não haver expansão monetária?
Antes de partir para a empiria e mostrar dados que comprovam o que estou dizendo, vou antes reter-me um pouco na sempre indispensável teoria.
Juros altos x expansão monetária
Como tentei deixar claro nesse artigo sobre a taxa SELIC, quando o banco central quer reduzir os juros, ele expande a base monetária — isto é, ele cria dinheiro do nada e compra títulos da dívida que estão em posse do sistema bancário.  Tal medida fará com que haja mais dinheiro em posse dos bancos, os quais poderão agora emprestar mais a preços menores.  Ou seja, aumenta-se a oferta de dinheiro, diminui-se seu preço.
De forma inversa, quando o banco central quer aumentar os juros, ele vende títulos para os bancos e, com isso, reduz a quantidade de dinheiro que o sistema bancário tem disponível para empréstimos.  Menor oferta de dinheiro, maior o seu preço.
Dessa explicação, é comum tirar a seguinte conclusão: se os juros estão baixos, é sinal de que o banco central está injetando dinheiro no sistema; e se os juros estão extremamente baixos, é sinal então de que o banco central está injetando quantidades cada vez maiores de dinheiro no sistema.
Entretanto, tal relação não é tão direta assim.  E é justamente isso que torna o estudo da ciência econômica algo tão fascinante, para não dizer divertido.  Simplesmente não existe uma relação matematicamente exata entre as variáveis.  Da mesma forma que um aumento na quantidade de dinheiro terá um efeito imprevisível sobre os preços (você apenas sabe que os preços seriam menores caso não tivesse ocorrido esse aumento na quantidade de dinheiro, mas é incapaz de saber com exatidão qual será relação matemática exata entre ambos), um aumento na oferta monetária possui uma relação imprevisível com os juros.
É perfeitamente possível o banco central expandir a base monetária e, ainda assim, provocar um aumento dos juros.  E, da mesma forma, é perfeitamente possível o banco central simplesmente parar de criar dinheiro e, com isso, obter uma redução dos juros.
Eis aí um fato que poucos compreendem.  É possível haver grande expansão monetária em um ambiente de juros altos, bem como haver desprezível (ou até mesmo nula) expansão monetária com juros baixos.
Um bom exemplo de cada caso seria o Brasil, para o primeiro caso, e a Suíça, para o segundo.  Embora soe estranho a princípio, o problema fica mais fácil quando se analisa os fundamentos da política monetária.
Por exemplo, pela teoria, se a oferta monetária fosse congelada, essa repentina "escassez" de moeda geraria um aumento de juros muito alto no mercado interbancário. Isso de fato é verdade no curto prazo — afinal, se a impressão de dinheiro cessou, a quantidade a ser emprestada entre os bancos parou de aumentar, e essa súbita paralisia pode gerar um aumento temporário de juros.
Entretanto, uma vez entendida que a quantidade de dinheiro não vai mais aumentar, os agentes econômicos (desculpe o jargão economicista) perceberão que de nada adiantará cobrar juros nominais altos: afinal, como eles seriam pagos?  Em um cenário de quantidade de moeda fixa, se você emprestar 100 reais e cobrar 10% de juros, não haverá como receber 110 reais, pois não está havendo aumento na oferta monetária.  Assim, se você não cobrar juros (muito) menores, simplesmente não fará empréstimo algum.  Esse raciocínio, aliás, não é exclusividade austríaca. Milton Friedman — monetarista convicto que no final da vida passou a defender a extinção do banco central — também concluiu que era isso que ocorreria.
Esse cenário descrito acima ocorre, por exemplo, na Suíça, país de banco central tradicionalmente conservador (no sentido de incorrer em baixíssimas expansões monetárias) e de juros (no caso, refiro-me à SELIC deles) também baixos.
Já o cenário inverso ocorre no Brasil. Se o BC pratica expansões monetárias mais vultosas e a economia é fechada (o que significa que as pressões inflacionárias não podem ser abrandadas pelas importações), então grande parte dessa expansão irá se traduzir em grande aumento de preços.  Sendo assim, os bancos embutem essas expectativas inflacionárias no valor dos juros que eles cobram.  Ou seja: a maior expansão monetária gerou, ao contrário do imaginado, um aumento nos juros (tanto na SELIC quanto nos juros cobrados das pessoas físicas e jurídicas).
Logo, é perfeitamente possível haver juros altos concomitantes a grandes expansões monetárias, e juros baixos concomitante a pequenas (e até mesmo nulas) expansões monetárias.
E o Japão pertence ao segundo caso.
A empiria japonesa — agregados monetários
Como qualquer outro banco central, o Banco Central do Japão controla a base monetária de seu país.  Ele faz isso comprando e vendendo títulos da dívida do governo em posse do sistema bancário.  A base monetária é a única variável monetária que está sob controle direto de um banco central.  Ela é o melhor indicador para se saber qual a postura adotada por um banco central.
O gráfico a seguir, fornecido pelo Fed, o banco central americano, mostra o comportamento da base monetária japonesa desde 1992.
1.jpg
O eixo vertical, à esquerda, mostra a variação percentual da base monetária em relação ao ano imediatamente anterior.  De 1992 a 1999, a base monetária cresceu anualmente a uma taxa sempre inferior a 10%.  Durante um rápido período entre 1999 e 2000 ela chegou a uma taxa de crescimento de 15%, porém despencando logo em seguida para 0%.  De 2001 a 2003, um ano de recessão para o país, ela cresceu a taxas mais vigorosas.  Entretanto, esse crescimento foi praticamente anulado pela postura mais contracionista adotada a partir de meados de 2003, quando a taxa de crescimento começou a diminuir até se tornar negativa desde o início de 2006 até meados de 2007.  Desde então o crescimento tem sido praticamente nulo.
Ou seja, de 1992 até 2008, o Banco Central japonês adotou uma política monetária, no mínimo, contida.
Para se ter uma ideia, desde a criação do real, o Banco Central brasileiro, o campeão dos juros altos, jamais praticou uma taxa de crescimento da base monetária menor do que 10% ao ano.  De 1996 a 2008, a média da expansão da base monetária brasileira foi de mais de 18% ao ano, e jamais praticando contração, como fez o BOJ em 2006-2007.
Entretanto, a base monetária não é o melhor indicador monetário para se "prever" o comportamento dos preços.  Os agregados monetários M1 e M2 fazem isso com mais acurácia.  O leitor mais aficionado pode ler esta publicaçãodo Banco Central japonês e ver que a definição que eles dão para o M1 (papel-moeda em poder do público + depósitos à vista) e o M2 (M1 + depósitos a prazo) é praticamente idêntica à do Banco Central brasileiro.  Eis o gráfico da taxa de variação anual de ambas as variáveis:
2.jpg
Nota-se que de 1992 a 2002, o M2 japonês cresceu a taxas inferiores a 3%, e de 2003 até o início de 2009, o crescimento foi ainda menor.  O M1 praticamente seguiu o mesmo padrão de comportamento, apresentando apenas eventuais surtos localizados, principalmente em 2001-2003, ano de recessão.  Fora esse período, e além de um período entre 1995 e 1996, quando chegou a 15%, o crescimento do M1 sempre esteve abaixo de 10%.  E de 2003 até o presente, M1 cresceu menos de 5% ao ano.
Comparando-se novamente com o Brasil, desde a criação do real o M1 brasileiro jamais ficou abaixo de 10%.  De 1995 a 2008, a taxa média de crescimento anual do M1 foi de 19%.  A do M2 foi de 15%, com picos de 40%.
Ou seja, novamente pode-se dizer que os agregados monetários japoneses cresceram a taxas extremamente contidas, principalmente o M2.
A empiria japonesa — índice de preços
Vejamos agora como se comportaram os preços ao consumidor japonês.  O gráfico é o penúltimo desta página.  (Por favor, perdoe a incompetência deste articulista, que não conseguiu copiá-lo para cá).
De 1992 a 1999, a inflação de preços esteve em sua maior parte ao redor de 0%.  Em 1997 os preços subiram módicos 2%, a maior taxa do período.  De 1998 a 2007, a taxa anual foi ligeiramente deflacionária, mas nunca houve deflação maior do que 1% durante um período de 12 meses.  Em 2008, os preços subiram 2% novamente, e depois voltaram a cair.
A empiria japonesa — crescimento econômico
Como mostra esse gráfico, de 1990 a 2008, o PIB real (já considerando preços e produção) japonês subiu de 450 trilhões de ienes para 560 trilhões.  Um aumento de 24%, ou 1,2% ao ano.  Para um país rico e com taxa de fecundidade nula, tal crescimento da riqueza per capita é bastante razoável — no mínimo, não é catastrófico.  Entretanto, quando se considera a taxa de poupança dos japoneses, tal crescimento está muito aquém do potencial.
Conclusão
Quando se compreende a teoria, a realidade japonesa torna-se perfeitamente compreensível.  Embora não tenha havido uma sistêmica deflação de preços — ao contrário do que apregoa uma aterrorizada mídia —, tampouco houve qualquer motivo para que tivesse havido uma inflação de preços no Japão.
Como mostrou o gráfico, o M2 se manteve praticamente estável desde 1992, sempre em níveis mínimos.  A base monetária e o M1, embora tenham apresentado surtos esporádicos, cresceram a maior parte do tempo a taxas anuais menores que 10%, valores módicos para os padrões monetários atuais.
Tudo isso significa que, em resposta a uma suave expansão monetária, o crescimento econômico ocorrido, embora bastante tímido, foi suficiente para fazer os preços declinaram levemente.  Tal comportamento é consistente com a teoria monetária ensinada tanto pela Escola Austríaca quanto pela Escola de Chicago.  Um aumento do produto (como demonstrado, média de 1,2% ao ano) em conjunto com um aumento muito pequeno da oferta monetária (em especial do M2) gera preços em queda.
Eis o cenário ideal: inflação monetária nula e economia crescendo de 2 a 3% ao ano.  Em teoria, nesse ambiente os preços ao consumidor iriam cair por volta de 2 a 3% ao ano.  O Japão, durante quase duas décadas, tem estado muito próximo deste ideal — mais próximo do que qualquer outro país industrializado.
A Escola Austríaca é a favor de inflação monetária zero, de modo que os preços apresentem uma queda constante e suave.  Já a Escola de Chicago defende uma política de preços estáveis, o que exige uma oferta monetária crescendo lenta porém constantemente.  Nesses termos, o Japão é mais Chicago do que austríaco, porém, em termos exclusivamente monetários e de preços, é o país que mais se aproximou da Escola Austríaca nas últimas duas décadas.
Fiz questão de enfatizar o trecho acima porque, embora o banco central japonês tenha tido um comportamento decente, o mesmo não pode ser dito do governo japonês, que durante esse mesmo período vem praticando uma insana política de déficits e endividamento crescente. 
A dívida, que era de 65% do PIB em 1992, pulou para incríveis 185% do PIB em 2009.  Os déficits anuais constantemente ultrapassaram os 6% do PIB.  (Veja no último gráfico desta página).  Essa política fiscal foi, sem dúvida, uma das principais causas do baixo crescimento econômico japonês — para um povo que poupa muito, era de se esperar taxas de crescimento anuais mais robustas do que 1,2%.  Porém, como o governo consome toda essa poupança para financiar seus déficits, os investimentos ficam comprometidos, pois não há recursos sobrantes para financiá-los.  E isso engessa o crescimento.
Se o governo japonês cortasse gastos e equilibrasse seu orçamento, parando de incorrer em déficits, a poupança dos japoneses deixaria de ser utilizada para financiar o governo, passando a ser liberada para investimentos realmente produtivos, o que daria um grande impulso à economia.  Isso, em conjunto com a baixa expansão monetária praticada pelo BOJ, elevaria enormemente o padrão de vida dos japoneses.
Não há nenhuma "armadilha da liquidez" no Japão.  Tampouco houve falta de estímulos fiscais.  Também não houve problema de estímulos monetários, dado que a taxa de juros sempre foi baixa.  O que vem ocorrendo no Japão é um exemplo prático de duas teorias em conflito: keynesianismo na política fiscal e chicaguismo na política monetária.
Na humilde opinião deste articulista, o que vem emperrando a economia japonesa é justamente a política fiscal.


Leandro Roque é o editor e tradutor do site do Instituto Ludwig von Mises Brasil.

A década dourada


 

gold-bars.jpgCom o ouro hoje flutuando ao redor de US$ 1.200 a onça e com os "especialistas" dizendo que o ouro está passando por uma bolha, é importante que os investidores se lembrem de que há apenas uma década o cenário era bastante diferente.  No ano 2000, o ouro apresentou uma média anual, nada impressionante, de US$ 279 a onça — a menor cotação em duas décadas.  Naquela época, a maioria dos analistas pensava que, como metal monetário, o ouro estava acabado.  Eles diziam que seu preço jamais iria se recuperar e que somente desequilibrados com capacetes de aço iriam investir no metal.  Eu fui um dos poucos comentaristas financeiros a dizer publicamente que o ouro não apenas era viável, como também apresentaria uma trajetória ascendente no longo prazo.
Com o benefício da visão retrospectiva, podemos todos hoje ver que o consenso estava errado.  O ouro apresentou um desempenho extraordinário quando comparado ao Dow Jones, à NASDAQ e ao mercado imobiliário americano.  O motivo pelo qual eu pude confiantemente prever esse resultado é porque sempre ignoro as 'certezas' advindas do mercado financeiro, principalmente aquelas determinadas pelo consenso de Wall Street.  Ao invés disso, estudo as tendências fundamentais.
Os anos 2000 - O grande século americano?
Dez anos atrás, os Estados Unidos eram os maiores consumidores mundiais de energia, os preços dos imóveis estavam, em âmbito nacional, se apreciando constantemente, o governo apresentava um superávit orçamentário e havia um consenso predominante de que o mundo havia entrado em um período de Pax Americana — estabilidade trazida pela permanente predominância americana.
No cenário internacional, o ouro estava apenas surgindo, nenhum país ocidental poderia sequer imaginar qualquer perspectiva de calote, e BRICs ainda não era um acrônimo, mas apenas material de se construir casas [em inglês, brick = tijolo].  Essas circunstâncias traziam uma tendência extremamente baixista para o ouro, especialmente quando se considera que o dólar estava, naquela época, bastante valorizado — como havia muitos anos não se via — em relação às outras principais moedas mundiais.
Mas eu corretamente percebi que esse grande mosaico iria se desfazer rapidamente.
A tartaruga e a lebre
No final da década de 1970, a China começou a se mover em direção a uma economia de mercado.  Nas décadas seguintes, a economia chinesa cresceu exponencialmente, consequência do fato de mais de um bilhão de pessoas terem ganhado a liberdade econômica de competir na economia mundial.  Enquanto outros ainda estavam presos àquela mentalidade da Guerra Fria, EUA versus URSS, em que o colapso soviético garantiu o perpétuo domínio americano, eu estava prestando atenção a esse trem de carga chinês, que já se aproximava de nós a uma velocidade extremamente espantosa.
Eu percebi que, enquanto todo o Terceiro Mundo estava adotando o capitalismo, o Ocidente estava adotando políticas sociais cada vez mais pródigas, e seus governos se endividavam crescentemente e recorriam à inflação da oferta monetária para pagar por tudo isso.  As economias em desenvolvimento estavam comprando vários desses dólares recém-impressos, o que fazia com que sua cotação se mantivesse em níveis enganosamente altos.  Porém, todas as ações têm consequências, e eu sabia que essa inflação voltaria para assombrar a economia americana.
Ademais, toda essa impressão de dinheiro estava criando maciças distorções na economia doméstica — primeiro a bolha das empresas pontocom, depois a bolha imobiliária, seguida da bolha do mercado financeiro até a atual bolha dos títulos do governo americano.
2010 - O grande colapso americano
Atualmente, a China é o maior consumidor mundial de energia, os preços dos imóveis americanos estão nos níveis mais baixos de uma geração, Washington está incorrendo em déficits que chegam à casa dos trilhões (uma ordem de magnitude que era imaginada apenas em tons sarcásticos em 2000), e os EUA estão suspendendo seus exercícios militares por temor de estarem perturbando do governo chinês.
Desde 2000, o euro se tornou a alternativa imediata para uma moeda de reserva mundial, a economia da Islândiaderreteu, a Grécia conseguiu evitar esse destino unicamente pela benevolência de seus vizinhos, e os investidores americanos mais espertos voltaram-se para os BRICs para neles investir, aumentar e preservar seu capital.
Essa transformação da economia global, e a turbulência que a acompanha, gerou uma tendência altista para o ouro.  Atualmente temos visto o metal amarelo atingir altas nominais recordes, silenciando momentaneamente aqueles até então ferozes críticos desse investimento — os quais, logo em seguida, voltaram a rugir, desta vez dizendo que há uma bolha no mercado de ouro.
Bolha ou alta sustentável?
Como resposta, vou retornar à única estratégia que importa para investidores de longo prazo: analisar os fundamentos.  E a verdade é que as tendências fundamentais não se alteraram.
O governo americano continua acrescentando novos gastos no orçamento (saúde pública, crédito tributário para compradores de imóveis, ampliação do seguro-desemprego) e novas regulamentações (tributação de pequenas transações, impostos sobre bancos, limites às taxas cobradas por cartões de crédito), solapando a competitividade americana e empurrando o país para um endividamento ainda maior.  Embora o euro tenha crescido um tanto, ele ainda é muito novo e muito problemático para substituir o dólar como reserva mundial.  O governo chinês vem mantendo uma contraproducente âncora cambial entre o dólar e o yuan, a qual está apenas começando a ser relaxada.  Esse processo teria de já estar completado para que a moeda chinesa pudesse ganhar o status de moeda de reserva mundial.
Em suma, o dólar está mais perto do que nunca do colapso, e não há nenhuma outra moeda nacional pronta para assumir seu lugar.  Creio que o mundo poderá brevemente descobrir que não há melhor alternativa do que o dinheiro já comprovado pela história — o ouro.
Alguns de vocês podem já estar familiarizados com esses argumentos, e dizer que eles são antiquados.  Os mesmos analistas de Wall Street que não viram a bolha das empresas pontocom e a bolha imobiliária estão agora alertando que o ouro já chegou ao seu ápice e está bastante sobrevalorizado.  Entretanto, eles estavam utilizando esses mesmos argumentos ainda em 2006, quando o ouro ainda estava em US$ 600 a onça.
Enquanto isso, em abril daquele ano, escrevi um comentário com algumas observações pessoais: nenhuma das minhas ações de mineradoras tinha sofrido algum desdobramento (split), aqueles que investiam em metais preciosos não estavam ricos como os magnatas do setor imobiliário ou os milionários das empresas pontocom, e o setor da minha empresa responsável pelos investimentos em ouro tinha apenas um empregado.  Falava-se apenas em imóveis; ouro nunca era mencionado.  Motoristas de táxi não estavam dando dicas quentes sobre como investir em ouro.  Com efeito, nove de cada dez pessoas nas ruas eram incapazes de dizer o preço vigente do ouro dentro de uma margem de erro de US$ 200!  E esse ainda é o caso hoje.
Um apetite saudável por ouro
Uma década após o ouro ter começado sua atual corrida ascendente, ainda estamos na metade do seu pico histórico, quando ajustado pela inflação.  A subida tem sido lenta e ordenada, com o preço consolidado nos últimos três meses ao redor de US$ 1.200 a onça.  Mergulhos como a recente queda para baixo de US$ 1.160 foram corretamente identificados como oportunidades de barganha para compra.
Não obstante uma longa ascensão sem nenhum grande reverso, os aurofóbicos em Wall Street ainda se recusam a ver o ouro como um bom investimento; porém, eles estavam errados quanto aos fundamentos em 2000, e os fundamentos não se alteraram.  À medida que o mundo se aproxima do colapso do dólar americano, os preços do ouro só têm uma direção a seguir: para cima.
Continuo recomendando a investidores que mantenham de 5 a 10% de sua riqueza em metais preciosos (fisicamente, e não apenas em papeis que os representem).  À parte a probabilidade de que ouro e prata irão subir de preço, metais preciosos oferecem benefícios atemporais, tais como privacidade financeira, eliminação de riscos de terceiros (se você os armazenar por conta própria), além de proteção contra confiscos do governo, contra onerosas regulamentações de valores mobiliários e contra alíquotas tributárias punitivas. 
Peter Schiff 
é o presidente da Euro Pacific Capital e autor dos livros The Little Book of Bull Moves in Bear MarketsCrash Proof: How to Profit from the Coming Economic Collapse e How an Economy Grows and Why It Crashes.  Ficou famoso por ter previsto com grande acurácia o atual cataclisma econômico.  Veja o vídeo.  Veja também sua palestra definitiva sobre a crise americana -- com legendas em português 
Tradução de Leandro Roque

Anticapitalismo, escolha o seu



CokeAntiCapitalism.jpgMuita gente é contra o livre mercado porque, sem a intervenção do governo, a economia não prospera.  Máquinas substituem trabalhadores.  O capital, ao invés de ser usado na produção, vai para a especulação.  O desemprego aumenta, uma minoria de ricos enriquece enquanto uma massa crescente de desempregados vive da mão para a boca ou morre de fome.  Com menos consumo, a produção cai.  Todos ficam tímidos e com medo de investir devido ao risco, e então entesouram seu dinheiro em casa, tirando-o de circulação; o mercado como um todo vai à falência.
Já outro argumento, vindo frequentemente das mesmas bocas, sustenta que o livre mercado é mau porque cria nas pessoas, por meio da propaganda, um milhão de falsas necessidades, fazendo da massa (exceção feita, claro, aos "conscientizados"...) zumbis do consumo, atrás de celulares, carros e tênis comprados em 20x "sem juros".  Escravos do consumo, perdem o gosto pela vida simples e pelos bens mais elevados do espírito.  Meninas preocupadas com o peso têm que escolher entre o doce e a fruta, jovens angustiados têm que escolher entre exatas e humanas. 
Agora chegou a vez dos intervencionistas escolherem qual dos dois ataques ao capitalismo deve permanecer; pois os dois ao mesmo tempo não dá!  Ou o livre mercado destrói empregos e empobrece as massas, impedindo-as de consumir o básico, ou ele as enriquece de tal maneira que as permite viver atrás do supérfluo.  Teses contrárias não podem ser ambas verdadeiras.
Mas podem ser ambas falsas.  Vejam só: a falácia do desemprego resultante do livre mercado é das mais velhas da ciência econômica.  Não, a tecnologia não gera desemprego: pelo contrário, ao tirar trabalhadores de algum ramo que fica mais eficiente com máquinas, ela libera mão-de-obra para outros ramos, que antes recebiam menos trabalhadores ou até mesmo nenhum.  Se uma máquina sozinha dá conta de produzir o alimento, podemos parar de trabalhar o dia inteiro na plantação e escrever livros, trabalhar em hospitais, etc.  
E não precisamos ter medo do entesouramento.  Mesmo que uma parcela da população entesourasse seu dinheiro (isto é, escondesse embaixo do colchão ao invés de ganhar juros aplicando no banco — que o usaria para novos investimentos) o efeito dessa retirada do dinheiro da economia seria a queda dos preços; ou seja, quem não tomou a decisão genial de esconder seu dinheiro e não ganhar juros (e eu pensando que no capitalismo as pessoas eram gananciosas.....) poderá comprar mais produtos a preços reduzidos.  Ao longo do século XIX, a tendência era de queda de preços (que é o natural quando a produtividade aumenta) e todas as economias cresceram muito; os perigos da deflação são um mito.
Quanto ao consumo zumbi, tenha dó, né?  Em tempos muito mais liberais, portanto muito mais capitalistas, o consumismo não era um problema tão grande assim.  Muita gente tem inveja e não gosta de ver, por exemplo, pobre consumindo.  Se pobre compra celular que tira foto, é porque foi manipulado pelo marketing, e não porque sua vida será efetivamente facilitada.  Ver consumismo genérico nos outros é a coisa mais fácil do mundo.  Difícil é apontar os casos específicos.  Pois é óbvio que o consumidor sabe que não precisa do tênis para sobreviver, assim como não precisamos de pratos e talheres; ele quer o tênis, pois o deixará mais confortável e vai "pirar as minas na balada".
propaganda apenas apresenta a marca aos consumidores; tenta deixá-la gravada na cabeça deles para que se lembrem mais tarde e comprem o produto. A marca, por sua vez, tem o papel valioso de carregar informações.  Se um tênis é Nike, já sei que será caro, mas também sei que posso esperar uma certa qualidade.  Nenhuma das duas, propaganda ou marca, são infalíveis ou onipotentes; quantas campanhas publicitárias fracassadas já não ocorreram (ex: mudança de sabor da Coca-Cola), e quantas marcas antes poderosíssimas são hoje uma sombra (AOL, alguém?)...
Ouso dizer que, de fato, muitos gastam dinheiro com superfluidades.  E a intenção por trás desses gastos é, via de regra, impressionar os demais; um desejo que, embora moralmente questionável, não foi engendrado nem pelo capitalismo nem pela propaganda.  Não é de hoje que a vaidade (que, mais do que a preocupação com a beleza física, é o querer ser glorificado aos olhos dos demais) é um pecado capital. Tenho a forte impressão que muita gente com objeções ao capitalismo objeta, na verdade, ao pecado original; mas isso é outro assunto...
Quer ser anti-capitalista?  É direito seu, ninguém é perfeito.  Se os argumentos serão bons ou não, veremos caso a caso.  Mas antes de começar, preste a si mesmo a cortesia de verificar que os ataques são, ao menos, internamente consistentes.  Melhor tomar o risco de fazer uma escolha de uma opinião que pode ser falsa do que sustentar opiniões que, conjuntamente, não têm como ser verdadeiras.
Joel Pinheiro da Fonseca é mestrando em filosofia, editor da revista Dicta&Contradicta e escreve no blog Ad Hominem.


Ainda vale a pena lutar pela liberdade no Brasil


traintrackscrossing.jpgEntrevista publicada originalmente na edição impressa da revista Vila Nova, em dezembro de 2012
O advogado e professor André Luiz Ramos é autor dos best-sellers"Direito Empresarial Esquematizado" e "O Direito de Empresa no Código Civil", publicados pela Editora Método. André é ProcuradorFederal da Advocacia Geral da União (AGU) e atualmente assessora um Ministro do STJ. Na conversa que teve com a Revista, o advogado falou sobre sua carreira, opiniões políticas e também, é claro, sobre Direito.

1. Conte-nos um pouco sobre você: quem é André Luiz Santa Cruz Ramos?
Tenho 34 anos, sou pernambucano, formado na vetusta Casa de Tobias Barreto, a Faculdade de Direito do Recife (UFPE), e há aproximadamente uma década me dedico às ciências jurídicas, mais especificamente ao direito empresarial, como advogado, professor e autor. Moro atualmente em Brasília, em razão do cargo público que ocupo. Como jurista, tenho me preocupado em difundir o pensamento liberal no direito, por entender que essa área do conhecimento está, sobretudo no Brasil, muito dominada por uma cultura estatista/coletivista que é, na minha modesta opinião, extremamente nociva ao desenvolvimento econômico e social do país, ao contrário do que pensam os seus defensores, os quais pautam os debates no mainstream acadêmico.
2. Como era o seu trabalho na Advocacia Geral da União?
Estou afastado das minhas funções de Procurador Federal há pouco mais de um ano, desde que fui cedido ao Superior Tribunal de Justiça. Na AGU, atuei na assessoria do Advogado-Geral da União em 2005/2006, na Procuradoria do INSS de Pernambuco em 2007/2008 e na Procuradoria do CADE (Conselho Administrativo de Defesa Econômica, a autoridade antitruste brasileira) em 2009/2011. A advocacia pública é muito parecida com a advocacia privada, com a diferença de que o cliente do advogado público é o estado, o que traz vantagens (prazos processuais mais longos, por exemplo) e desvantagens (necessidade de defender em juízo ações estatais com as quais você, muitas vezes, não concorda pessoalmente).
O estado é um litigante contumaz, e o professor Hans-Hermann Hoppe, autor que tenho lido muito ultimamente, tem uma explicação muito convincente para esse fenômeno: se o estado tem o monopólio jurisdicional, sendo o julgador de última instância em qualquer litígio, inclusive naqueles em que o próprio estado é parte, ele não tem incentivos para reduzir conflitos, mas para criar conflitos, na expectativa de que sejam decididos em seu favor. Essa é a principal causa do assoberbamento do Poder Judiciário e da morosidade da justiça estatal. E o pior é que, para corrigir esse problema, o estado oferece que solução? Supressão de direitos e garantias processuais do jurisdicionado. O estado, "empresário monopolista" da jurisdição, cria o problema e propõe resolvê-lo, sempre de forma ineficiente, prejudicando o "consumidor" dos serviços judiciários. Por isso eu tenho defendido tanto a arbitragem, que felizmente tem crescido e funcionado, sobretudo para as empresas, como um eficiente meio alternativo de solução de litígios. Somente com a quebra efetiva do monopólio da jurisdição estatal, de tal forma que o Poder Judiciário se veja obrigado a competir com tribunais arbitrais privados nos mais variadas ramos do direito, é que o cidadão terá acesso a serviços judiciários baratos e eficientes. É preciso que a arbitragem deixe de ser privilégio das grandes empresas e se torne acessível também aos pobres, especialmente em ramos como o direito do trabalho e o direito do consumidor.
3. Você é também assessor de um Ministro do STJ. Deve ser uma experiência interessante estar em um dos centros de poder do país, não?
O STJ é conhecido como "Tribunal da cidadania". Por ser responsável pela uniformização da interpretação da legislação infraconstitucional, decide cotidianamente lides que envolvem os mais variados assuntos, de simplórias questões de vizinhança a complexas questões ambientais, de conflitos familiares a grandes contratos administrativos, de relevantes litígios societários a intrincadas discussões tributárias. As decisões do Supremo Tribunal Federal têm mais visibilidade, mas eu me arrisco a dizer que as decisões do STJ são muito mais impactantes na vida das pessoas e das empresas. No meu caso, como assessoro um Ministro que atua numa das Turmas da Segunda Seção, que cuida das questões de direito privado (direito civil e direito empresarial, basicamente), é um trabalho muito gratificante e prazeroso, porque lido exatamente com os ramos do direito que são objeto de minha investigação acadêmica.
4. Fale-nos sobre sua posição política?
Quem me conhece há muito tempo sabe que nunca fui de esquerda. Quem me conhece há pouco tempo sabe que não sou direita. Antes que pensem que sou o Kassab (risos), explico: há alguns anos eu conheci o libertarianismo e rapidamente me tornei um libertário.
Os libertários, em sua maioria, rejeitam a divisão esquerda x direita, tal qual difundida por Norberto Bobbio, e preferem a classificação baseada no diagrama de Nolan, que leva em conta a defesa das liberdades econômicas e individuais. O esquerdista geralmente é um defensor da liberdade individual, rejeitando a intromissão excessiva do estado quanto aos costumes. O direitista, por outro lado, defende mais a liberdade econômica, criticando a excessiva intervenção estatal no mercado. O libertário, por sua vez, defende tanto a liberdade individual quanto a liberdade econômica, de forma ainda mais radical que esquerdistas e direitistas. Assim, o libertário rejeita a esquerda e a direita porque ambas padecem do mesmo mal: põem o estado acima do indivíduo.
Para o libertarianismo, que tem como princípio fundamental a não-iniciação de agressão, o problema do estado não se resume à sua ineficiência (sim, o mercado pode fornecer qualquer bem ou serviço de forma mais eficiente que o estado), mas tem a ver, sobretudo, com a sua ilegitimidade, já que o estado se sustenta no uso sistematizado da coerção, instrumentalizada especialmente via tributação. A existência do estado é incompatível, portanto, com uma sociedade livre, a qual deve ser construída sob os pilares da propriedade privada, do livre mercado e da ordem espontânea decorrente da interação voluntária entre as pessoas.
E, para que fique claro, libertários não gostam de desordem, mas apenas entendem que o mercado pode fornecer, de forma mais eficiente e mais ética, qualquer produto ou serviço demandado pelas pessoas, inclusive os serviços de segurança e justiça, que tanto preocupam aqueles liberais que ainda ficam "com um pé atrás" em relação ao libertarianismo.
Libertários também não são libertinos. Eu, por exemplo, sou católico e comungo de muitos valores da pauta dos chamados conservadores. Apenas não entendo legítimo o uso do estado para impor tais valores à sociedade. A difusão de tais valores deve ser feita pacificamente, por meio da livre persuasão, e tal tarefa cabe aos grupos familiares, às igrejas, às associações civis etc., e jamais ao estado.
5. E quais os reflexos de uma posição deste tipo no Direito? Há espaço para ela, especialmente aqui no Brasil?
Não apenas no direito, mas em todas as áreas das ciências humanas e sociais o libertarianismo é pouquíssimo conhecido, e mesmo assim muito criticado (talvez até por não o conhecerem corretamente). Em minhas obras, aulas e palestras tenho defendido idéias libertárias, e a reação, na maioria das vezes, é de espanto. Algumas pessoas até dizem: "André, eu concordo com muita coisa que você fala, mas acho que você peca pelo radicalismo". Ora, mas eu não vejo o radicalismo como um defeito per se, sobretudo se o radical tem convicção do acerto das idéias que defende.
No direito, o pensamento liberal/libertário ou é solenemente ignorado ou é impunemente agredido, nos mais variados ramos. O estado é endeusado. O binômio função social/justiça social é uma espécie de mantra. O primado liberal da igualdade formal (igualdade perante a lei) foi substituído pela defesa da igualdade material, e o estado é visto como o instrumento para a imposição desse inatingível igualitarismo, o qual, como bem disse Murray Rothbard, é uma revolta contra a natureza.
Até no direito privado o pensamento estatista é dominante. Toda a doutrina contratualista, por exemplo, foi revista, e os princípios da autonomia privada e da força obrigatória das avenças (pacta sunt servanda) foram submetidos a uma perniciosa relativização. O contrato agora tem que atingir sua função social, seja lá o que isso signifique, e o tal dirigismo contratual está na moda: "a lei liberta e a liberdade escraviza", bradam os artífices dessa nova teoria geral dos contratos, a qual se baseia na intervenção estatal para suposta proteção dos contratantes mais fracos. É um absurdo. Até no direito empresarial, em que os contratantes são empresários, é difícil defender a liberdade negocial hodiernamente.
6. Muito se tem falado no Direito sobre Neoconstitucialismo. Você poderia nos explicar o que é?
Vou falar como um leigo, porque o direito constitucional nunca foi objeto de minhas pesquisas acadêmicas. Não vejo o neoconstitucionalismo com bons olhos. Li recentemente um bom artigo do Daniel Sarmento sobre o tema, no qual ele diz que há quem aplauda entusiasmadamente as mudanças no direito trazidas pelo neoconstitucionalismo, e há quem as critique com veemência. Eu me incluo no segundo grupo. O neoconstitucionalismo, grosso modo, significa a constitucionalização de todo o direito (fala-se até na constitucionalização do direito civil, um absurdo descomunal!). Ora, como liberal, não gosto da nossa Constituição socialista de 88, então jamais poderia apoiar um movimento que visa a espalhar os valores socialistas de nossa Carta Magna a todo o ordenamento jurídico.
Também não me agrada essa moda da "principialização" de tudo e da consequente idéia de que o choque entre princípios se resolve pela tal "ponderação de interesses". Isso tem dado margem para que os princípios liberais, como autonomia privada, força obrigatória dos contratos, livre iniciativa, livre concorrência, propriedade privada, etc., sejam relativizados ou mesmo solapados de forma quase despercebida. Quando quaisquer desses princípios se chocam com outros princípios ditos sociais, estes vencem com larga folga. Mostrei isso recentemente num artigo intitulado "a mentalidade anticapitalista do STF", publicado no site do Instituto Ludwig von Mises Brasil, no qual analisei alguns julgados da nossa Suprema Corte.
7. E o ativismo judicial? A seu ver, é um movimento benéfico?
Essa me parece ser outra característica nociva desse movimento denominado neoconstitucionalismo: a excessiva judicialização da política e das relações econômicas e sociais. Isso acarreta um aumento do poder do estado sobre os indivíduos, algo que, para um liberal, é muito preocupante.
8. Você tem se dedicado a divulgar as noções de liberdade e propriedade pelo país. É um desafio hoje?
É um trabalho hercúleo. Vivemos numa sociedade estatólatra, que acredita em soluções de cima pra baixo. Como disse Bastiat, todos querem viver às custas de todos. E erra feio quem pensa que o estatismo é uma característica restrita às classes mais baixas da população, educadas e mantidas na estado-dependência. Aliás, o que o estado gasta para sustentar grupos privilegiados é impressionante: de artistas a atletas, de empreiteiras a bancos, a estado-dependência é um mal quase universal.
Em palestras recentes pelo Nordeste, defendi a ideia de que nós, liberais, temos que mostrar que o capitalismo beneficia principalmente os pobres e fugir desse rótulo de que somos elitistas e sem "consciência social". Ao contrário! Os pobres, sim, serão os maiores beneficiários de uma real abertura da economia brasileira.
Protecionismo, regulamentação de profissões, salário mínimo, etc., são imposições estatais que só impedem que pobres ascendam social e economicamente. Para provar isso, os liberais têm a seu favor a boa teoria econômica e a experiência prática: afinal, os países que ostentam os melhores índices de liberdade econômica são também os que apresentam os melhores índices de desenvolvimento social.
9. Parece que as pessoas se acostumaram a ter suas vidas mais presas… Você tem essa impressão? O que fazer?
Sim, eu compartilho dessa opinião. É a cultura do estado-babá que se impregnou em nossa sociedade. Em vez de os cidadãos vigiarem o estado, é o estado quem os vigia. Trata-se de uma inversão de valores perigosíssima.
O que fazer? Travar uma verdadeira guerra no campo das idéias, como Mises sempre defendeu: a única forma de combater idéias ruins é com idéias boas. E essa guerra deve ser travada em um front estratégico: o sistema educacional. O controle do estado sobre a educação é sua principal arma. É assim que ele consegue manter a maior parte da população numa eterna "servidão voluntária", para lembrar o famoso ensaio de Étienne de La Boétie. Formas alternativas de educação, que fujam ao controle estatal (como ohomeschooling, por exemplo, hoje muito mais viável por causa da internet), podem contribuir muito para que num futuro próximo as pessoas comecem a sair do "caminho da servidão".
10. Há um crescimento do intervencionismo no Brasil e no mundo como um todo?
Eu não conheço a realidade do mundo todo, mas no Brasil acho que esse maior intervencionismo é visto com facilidade. Além do aumento exponencial da intervenção estatal na economia nos últimos anos, estamos vendo uma excessiva intromissão do estado na vida privada. Grupos de pressão barulhentos tomam conta do aparelho estatal e o usam para impor a todos um modo de vida: são os eco-chatos, que querem ruas sem carros e supermercados sem sacolas plásticas; os devotos de Dráuzio Varela, que querem controlar nossos hábitos sociais e alimentares; os desarmamentistas, que querem os cidadãos de bem reféns da bandidagem; os politicamente corretos, que querem criminalizar a expressão de pensamentos e idéias. É isso o que vejo, e a reação, na minha opinião, não tem sido satisfatória.
11. E como ficam as liberdades individuais e os direitos fundamentais, conquistados a tão duras penas?
Para um liberal, direitos fundamentais são a vida, a liberdade e a propriedade, isto é, "direitos negativos", que não exigem um fazer estatal. Aprendi lendo Bastiat que a verdadeira e genuína lei é a que protege o indivíduo contra ataques a esses direitos. Hoje, porém, a lei foi pervertida, e o estado, que para os liberais clássicos deveria existir apenas para garantir esses direitos, é o seu maior agressor.
Uma série de supostos "direitos positivos", que exigem um fazer estatal, foram criados do nada (moradia, saúde, educação, emprego etc.), como se não vivêssemos num mundo de escassez, como se tais "direitos" pudessem ser criados com uma canetada, e não por meio de acordos consensuais. Para dar esses novos "direitos" a todos, o estado se agiganta e tem que agredir aqueles direitos fundamentais verdadeiros, fazendo uso cada vez mais intenso da regulação e da tributação, por exemplo.
12. Quem são seus autores preferidos e suas maiores influências?
Há aproximadamente três anos sigo a linha do que se tem chamado de austro-libertarianismo, numa alusão à tradicional escola austríaca de economia (Mises, Hayek etc.) e à filosofia política libertária (Rothbard, Hoppe etc.). Considero-me um neófito ainda, mas se tivesse que apontar um autor preferido, diria que é o Murray Rothbard. Atualmente, como estou escrevendo minha tese de doutorado, que é na área do direito antitruste, estou lendo autores como Dominick Armentano e Thomas DiLorenzo, ambos ligados à nova geração de "austríacos" do Mises Institute, sediado no Alabama, que tive o prazer imenso de conhecer ano passado, quando fui bolsista de um programa de intercâmbio deles chamado Mises University.
13. Por que escolheu o Direito?
Sinceramente, não sei dizer. Meu pai e meus dois irmãos são engenheiros, mas acho que eu não tinha inteligência o bastante para seguir a mesma carreira que eles, então me restou o Direito (risos).
14. Arrepende-se de algo nessa jornada em defesa da liberdade?
Um arrependimento que tenho é de ter conhecido tarde demais as idéias liberais e libertárias. Queria ter feito o curso de direito com o conhecimento do liberalismo e libertarianismo que tenho hoje. É muito ruim ter que correr contra o tempo.
Outro arrependimento é o de ter entrado para o serviço público. Se pudesse voltar no tempo, não teria tomado essa decisão. Enquanto não sair, terei que ouvir calado as justas críticas de que a defesa radical e intransigente de minhas idéias é incoerente com minha atuação. Isso me perturba, não posso negar. Para compensar, tento exercer minhas atribuições atuais sempre em defesa da liberdade, na medida do possível.
15. Você é autor de um best-seller sobre Direito Empresarial, o livro "Direito Empresarial Esquematizado". Por que esse ramo? Qual sua importância e o que se pode esperar do Direito Empresarial hoje, na conjuntura política que vivemos?
Meu mestrado foi na área do direito processual civil, mas o primeiro emprego de professor que me foi oferecido, numa faculdade privada de Recife, foi na área do direito empresarial, e eu aceitei. Coisas do destino. Um ano depois, fui morar em Brasília e o destino voltou a me aproximar do direito empresarial, já que meu chefe não pôde aceitar um emprego de professor nessa área e me indicou. Mergulhei de cabeça nesse ramo do direito, fiz duas pós-graduações na FGV e iniciei o doutorado na PUC-SP. Nesse ínterim, percebi que o mercado editorial carecia de um manual de direito empresarial com linguagem mais simples e didática. Pelo fato de a editora que aceitou publicar a primeira edição ser voltada para as pessoas que se preparam para concursos públicos, o livro vendeu muito bem. Mais uma vez, o destino me ajudou.
O direito empresarial vive um momento delicado. A tentativa de unificação do direito privado levada a efeito pelo Código Civil de 2002 não foi boa para ele. A onda "socializante" e "publicizante" das ciências jurídicas atingiu o direito empresarial em cheio; logo ele, o regime jurídico dos empresários, que precisa, pois, ser mais liberal e menos intervencionista.
No momento, um projeto de lei em trâmite na Câmara prevê a instituição de um novo Código Comercial brasileiro, que revogaria todas as regras do Código Civil de 2002 que cuidam da matéria, bem como as regras remanescentes do Código Comercial de 1850. A idéia de um novo Código Comercial, em si, é boa, mas traz consigo o perigo de que regras ainda mais intervencionistas sejam aprovadas. Por isso, o meio empresarial e os defensores do livre mercado devem acompanhar com bastante atenção a tramitação desse projeto de lei. Como eu escrevi em artigo recente, o novo Código Comercial é a "última trincheira" em defesa do livre mercado em nosso ordenamento jurídico.
16. Que dizer a quem está um pouco decepcionado com os rumos do país?
Que vale a pena lutar pela liberdade, como tantos grandes homens e mulheres fizeram ao longo de toda a história. E lutar pela liberdade é, em última instância, defender o indivíduo contra a opressão estatal. Não pode haver luta mais nobre e glorificante.

André Luiz Santa Cruz Ramos é Procurador Federal, mestre e doutorando em Direito Empresarial, e autor bestseller na área jurídica, sendo o autor de livros como Curso de Direito Empresarial (JusPodivm) e Direito Empresarial Esquematizado (Método).  Ouça sua entrevista concedida ao IMB.