sexta-feira, 9 de agosto de 2013

A melhor educação do mundo é 100% estatal, gratuita e universal


O documentário abaixo deveria ser assistido e discutido por todos os educadores, todas as escolas, todas as pessoas interessadas na educação no Brasil

A Finlândia tem a melhor educação do mundo. Lá todas as crianças tem direito ao mesmo ensino, seja o filho do empresário ou o filho do garçom. Todas as escolas são públicas-estatais, eficientes, profissionalizadas. Todos os professores são servidores públicos, ganham bem e são estimulados e reconhecidos. Nas escolas há serviços de saúde e alimentação, tudo gratuito.
Na Finlândia a internet é um direito de todos.
A Finlândia se destaca em tecnologia mais do que os Estados Unidos da América.
Sim, na Finlândia se paga bastante impostos: 50% do PIB.
O país dá um banho nos Estados Unidos da América em matéria de educação e de não corrupção.
Na Finlândia se incentiva a colaboração, e não a competição.
Mas os neoliberais-gerenciais, privatistas, continuam a citar os EUA como modelo.
Difícil o Brasil chegar perto do modelo finlandês? Quase impossível. Mas qual modelo devemos perseguir? Com certeza não pode ser o da privatização.
Veja o seguinte documentário, imperdível, elaborado por estadunidenses. Em inglês, com legendas em espanhol:
Leia abaixo matéria originalmente publicada no Diário do Centro do Mundo que trata da excelência do sistema de educação da Finlândia, reverenciado em todo o mundo.

Por que o sistema de educação da Finlândia é tão reverenciado

Acaba de sair um levantamento sobre educação no mundo feito pela editora britânica que publica a revista Economist, a Pearson.
É um comparativo no qual foram incluídos países com dados confiáveis suficientes para que se pudesse fazer o estudo.
Você pode adivinhar em que lugar o Brasil ficou. Seria rebaixado, caso fosse um campeonato de futebol. Disputou a última colocação com o México e a Indonésia.
Surpresa? Dificilmente.
Assim como não existe surpresa no vencedor. De onde vem? Da Escandinávia, naturalmente – uma região quase utópica que vai se tornando um modelo para o mundo moderno.
Foi a Finlândia a vencedora. A Finlândia costuma ficar em primeiro ou segundo lugar nas competições internacionais de estudantes, nas quais as disciplinas testadas são compreensão e redação, matemática e ciências.
A mídia internacional tem coberto o assim chamado “fenômeno finlandês” com encanto e empenho. Educadores de todas as partes têm ido para lá para aprender o segredo.
Se alguém leu alguma reportagem na imprensa brasileira, ou soube de alguma autoridade da educação que tenha ido à Finlândia, favor notificar. Nada vi, e também aí não tenho o direito de me surpreender.
Finlândia: a melhor educação do mundo é 100% estatal, gratuita e universal (Imagem: Reprodução / Documentário)
Algumas coisas básicas no sistema finlandês:
1) Todas as crianças têm direito ao mesmo ensino. Não importa se é o filho do premiê ou do porteiro.
2) Todas as escolas são públicas, e oferecem, além do ensino, serviços médicos e dentários, e também comida.
3) Os professores são extraídos dos 10% mais bem colocados entre os graduados.
4) As crianças têm um professor particular disponível para casos em que necessitem de reforço.
5) Nos primeiros anos de aprendizado, as crianças não são submetidas a nenhum teste.
6) Os alunos são instados a falar mais que os professores nas salas de aula. (Nos Estados Unidos, uma pesquisa mostrou que 85% do tempo numa sala é o professor que fala.)
Isto é uma amostra, apenas.
Claro que, para fazer isso, são necessários recursos. A carga tributária na Finlândia é de cerca de 50% do PIB. (No México, é 20%. No Brasil, 35%.)
Já escrevi várias vezes: os escandinavos formaram um consenso segundo o qual pagar impostos é o preço – módico – para ter uma sociedade harmoniosa.
Não é à toa que, também nas listas internacionais de satisfação, os escandinavos apareçam sistematicamente como as pessoas mais felizes do mundo.
Para ver de perto o jeito finlandês de educar crianças, basta ver um fascinante documentário de 2011 feito por americanos (vídeo publicado acima).
Comecei a ver, e não consegui parar, como se estivesse assistindo a um suspense.
Todos os educadores, todas as escolas, todas as pessoas interessadas na educação, no Brasil, deveriam ver e discutir o documentário.

DESAFIO

São apenas 03 páginas
Você vai ler até o FIM?
Se conseguir saberá o porquê deste
DESAFIO
Esta história foi retirada de um e-mail
Dá pra viver mais devagar?
(Autor Desconhecido)
Já vai pra 18 anos que estou aqui na Volvo uma empresa sueca. Trabalhar
com eles é uma convivência, no mínimo, interessante. Qualquer projeto aqui demora
dois anos para se concretizar, mesmo que a idéia seja brilhante e simples. É regra.
Então, nos processos globais, causa em nós aflitos por resultados imediatos
(brasileiros, americanos, australianos, asiáticos) uma ansiedade generalizada,
porém, nosso senso de urgência não surte qualquer efeito neste prazo.
Os suecos discutem, discutem, fazem "n" reuniões, ponderações... E
trabalham num esquema bem mais pacato. O pior é constatar que, no final, acaba
sempre dando certo no tempo deles com a maturidade da tecnologia e da
necessidade. Bem pouco se perde aqui...
E vejo assim:
1. O país é do tamanho de São Paulo;
2. O país tem dois milhões de habitantes;
3. Sua maior cidade, Estocolmo, tem 500.000 habitantes (compare com
Curitiba que somos dois milhões);
4. Empresas de capital sueco: Volvo, Scania, Ericsson, Electrolux, ABB, SKF,
Nokia, Nobel Biocare,... Nada mal, não? Pra ter uma idéia, a Volvo fabrica os
motores propulsores para os foguetes da NASA.
Digo para os demais nestes nossos grupos globais: Os suecos podem estar
errados, mas são eles que pagam nossos salários. Entretanto, vale salientar que não
conheço um povo, como povo mesmo, que tenha mais cultura coletiva do que eles...
Vou contar uma breve história só pra dar noção...
A primeira vez que fui para lá, em 90, um dos colegas
suecos me pegava no hotel toda manhã. Era setembro, frio leve e
nevasca. Chegávamos cedo na Volvo e ele estacionava o carro
bem longe da porta de entrada (são 2000 funcionários de carro).
No primeiro dia não disse nada, no segundo, no terceiro... Depois, com um
pouco mais de intimidade, numa manha perguntei: "Vocês tem lugar marcado para
estacionar aqui? Notei que chegamos cedo, o estacionamento vazio e você deixa o
carro lá no final..." e ele me respondeu simples assim: “é que chegamos cedo, então
temos tempo de caminhar - quem chegar mais tarde já vai estar atrasado, melhor
que fique mais perto da porta. Você não acha?". Olha a minha cara caiu, ainda bem
que tive esta na primeira... Deu pra rever bastante os meus conceitos.
Há um grande movimento na Europa hoje, chamado Slow Food. O que o
movimento Slow Food prega é que as pessoas devem comer e beber devagar,
saboreando os alimentos, "curtindo" seu preparo, no convívio com a família, com
amigos, sem pressa e com qualidade. A idéia é a de se contrapor ao espírito do Fast
Food e o que ele representa como estilo de vida. A surpresa, porém, é que esse
movimento do Slow Food está servindo de base para um movimento mais amplo
chamado Slow Europe como salientou a revista Business Week em sua última
edição européia.
A base de tudo está no questionamento da "pressa" e da "loucura" gerada
pela globalização, pelo apelo à "quantidade do ter" em contraposição à qualidade de
vida ou à "qualidade do ser". Segundo a Business Week, os trabalhadores franceses,
embora trabalhem menos horas, (35 horas / semana) são mais produtivos que seus
colegas americanos ou ingleses. E os alemães, que em muitas empresas instituíram
uma semana de 28,8 horas de trabalho, viram sua produtividade crescer nada
menos que 20%. Essa chamada "slow attitude" está chamando a atenção até dos
americanos, apologistas do "Fast" (rápido) e do "Do it Now" (faça já).
Portanto, essa "atitude sem-pressa" não significa fazer menos, nem menor
produtividade. Significa, sim, fazer as coisas e trabalhar com mais "qualidade" e
"produtividade" com maior perfeição, atenção aos detalhes e com menos "stress".
Significa retomar os valores da família, dos amigos, do tempo livre, do lazer e
das pequenas comunidades. Do "local", presente e concreto, em contraposição ao
"global" - indefinido e anônimo. Significa a retomada dos valores essenciais do ser
humano, dos pequenos prazeres do cotidiano, da simplicidade de viver e conviver e
até da religião e da fé. Significa um ambiente de trabalho menos coercitivo, mais
alegre, mais "leve" e, portanto, mais produtivo, onde seres humanos felizes fazem,
com prazer, o que sabem fazer de melhor.
Nesta semana, gostaria que você pensasse um pouco sobre isso. Será que os
velhos ditados "Devagar se vai ao longe" ou ainda "A pressa é inimiga da perfeição"
não merecem novamente nossa atenção nestes tempos de desenfreada loucura?
Será que nossas empresas não
deveriam também pensar em programas
sérios de "qualidade sem-pressa" até para
aumentar a produtividade e qualidade de
nossos produtos e serviços sem a necessária
perda da "qualidade do ser"?
Algumas pessoas vivem correndo
atrás do tempo, mas parece que só
alcançam quando morrem enfartados, ou
algo assim.
Para outros, o tempo demora a passar; ficam ansiosos com o futuro e se
esquecem de viver o presente, que é o único tempo que existe. Tempo todo mundo
tem por igual, ninguém tem mais nem menos que 24 horas por dia. A diferença é o
que cada um faz do seu tempo. Precisamos saber aproveitar cada momento, porque,
como disse John Lennon... "A vida é aquilo que acontece enquanto fazemos planos
para o futuro".
Reflita, e encontre um tempo para você e sua família, Tenha certeza que você
merece. Estes momentos serão muito importantes na hora que você precisar de
novas idéias para sua produção, pessoal e financeira.
Espero que aproveite esta nova visão de emergência pacata, de maneira
serena e produtiva.
Parabéns por ter lido até o final...
Muitos não irão ler este manual até o
final, porque não podem "perder" o seu
tempo neste mundo globalizado.
Até que ponto vale a pena deixar de
curtir sua família, de ficar com a pessoa
amada, fazer aquela caminhada nos
domingos de manhã, ir pescar no fim de
semana?
Cuidado, poderá ser tarde demais...
_________________________________________________________
Esta história foi retirada de um e-mail e modificada por min, para a atualidade
dos dias de hoje. Realmente mudou minha vida para muito melhor, tanto no lado
pessoal como financeiro. Espero que possa trazer o mesmo efeito proveitoso para
todos que lerem e entenderem o recado aqui passado.
Envie este manual a todos seus amigos, imprima-o e repasse principalmente a
aqueles que estão muito ocupados. Talvez eles estejam precisando rever alguns
conceitos também.
Acesse as fontes abaixo
http://www.megacursos.com.br – Site com alguns cursos gratuitos por download
e representante do CD-ROM Mega Cursos que
contem vários cursos um único CD
http://www.divulgamais.com.br – Sistema de divulgação pela internet

O que é uma ciência apriorística, e por que a economia é uma




mises.jpgNão é incomum encontrar pessoas muito inteligentes que, mesmo tendo grandes simpatias pela economia política deLudwig von Mises, se sentem confundidas pelos seus métodos ou até mesmo negligenciam os preceitos metodológicos que guiam sua teoria econômica. Mais tipicamente, essas objeções são particularmente dirigidas à asserção enfática e sempre repetida por Mises que postula que o núcleo da teoria econômica é composto de conceitos a priori - isto é, proposições cuja validade é atingida por contemplação ao invés de por pesquisa empírica. Essas pessoas normalmente consideram esse aspecto do pensamento de Mises como sendo contrário aos princípios científicos modernos, como se fosse um fóssil vivo, uma besta arcaica que deveria ter sido extinta junto com o racionalismo abstrato da era anterior à Revolução Científica.
Devido aos vários diálogos que já tive com tais críticos, creio que detectei um equívoco frequente sobre o que significa o fato de uma proposição ser, em si, uma verdade a priori para algum assunto. Esse erro não apenas causa confusão a respeito da metodologia econômica de Mises, mas também obscurece os verdadeiros fundamentos das ciências empíricas que, justificadamente, muitas dessas pessoas tanto admiram.
Pelo que entendo de Mises, ao caracterizar os princípios fundamentais da economia como verdades a priori e não como fatos incertos abertos a descobertas ou refutações empíricas, ele não estava dizendo que as leis econômicas nos foram reveladas por ação divina, como os dez mandamentos foram a Moisés. Ele também não estava alegando que os princípios econômicos são transferidos automaticamente aos nossos cérebros pela simples evolução humana, nem que podemos compreendê-los e articulá-los sem antes ter ganhado familiaridade com o comportamento da economia através da participação e da observação dela em nossas próprias vidas. Na verdade, é bem possível que alguém tenha tido uma boa dose de experiência real com a atividade econômica e, ainda assim, nunca ter imaginado quais os princípios básicos - se algum - ela exibe.
Ainda assim, Mises estava certo ao descrever estes princípios como apriorísticos, porque eles são logicamente anteriores a qualquer estudo empírico de fenômenos econômicos. Sem eles é impossível até mesmo reconhecer que há uma classe definida de eventos que podem ter explicações econômicas. Somente ao pré-supor que conceitos como intenção, propósito, meios, fins, satisfação, e insatisfação são características de um certo tipo de acontecimento no mundo é que podemos conceber um tema para a economia investigar. Esses conceitos são pré-requisitos lógicos para distinguir um assunto ligado a eventos econômicos de outros assuntos ligados a eventos não-econômicos, como o tempo, o percurso de um planeta pelo céu noturno, o crescimento das plantas, o quebrar das ondas no litoral, a digestão animal, vulcões, terremotos, entre outros.
Se não assumíssemos em princípio que as pessoas deliberadamente empreendem atividades previamente planejadas com a intenção de tornar sua situação - como elas subjetivamente a vêem - melhor do que em relação à situação em que outrora estariam, não haveria uma base para diferenciar as trocas que ocorrem na sociedade das trocas de moléculas que ocorrem entre dois líquidos separados por uma membrana permeável. E os aspectos que caracterizam os membros da classe de fenômenos selecionada como tema de uma ciência especial devem ter uma condição axiomática para os praticantes dessa ciência, pois se os praticantes rejeitarem esses aspectos então eles também estarão rejeitando os fundamentos para a existência dessa ciência.
A ciência econômica não é a única que requer a adoção de certas suposições como pré-condição para usar o modo de entendimento que ela oferece. Toda ciência é fundada em proposições que formam a base - ao invés de o resultado final - das investigações. Por exemplo, a física toma como garantida a realidade do mundo físico que ela examina. Qualquer pedaço de evidência física que ela possa oferecer tem significado somente se for assumido que o mundo físico é real. Os físicos também não podem demonstrar sua hipótese de que os membros de uma sequência de medidas físicas[1] similares terão alguma relação significativa e consistente entre si. Qualquer teste de um tipo particular de medida deve pré-supor a validade de outra forma de medir contra a qual a forma em utilização deve ser julgada.
Por que aceitamos que quando colocamos uma régua-padrão ao lado de um objeto e vemos que esse objeto vai até a metade da régua, e então colocamos a régua ao lado de outro objeto que vai somente a até a ¼ da régua, isso significa que o primeiro objeto é maior que o segundo? Certamente não por causa de testes empíricos, já que tais testes seriam sem sentido a menos que já tenhamos garantido o princípio em questão. Na matemática, não é por ficarmos agrupando repetidamente dois itens com outros dois e contando a coleção resultante, que concluímos que 2+2 é sempre igual a 4. Isso iria apenas mostrar que nossa resposta estava correta no momento do experimento - supondo que contar funciona! -, mas acreditamos que a resposta é universalmente válida. A Biologia pressupõe que há uma diferença significante entre coisas vivas e matérias inertes, e se ela negasse essa diferença também estaria negando sua própria validade como ciência especial.
O que é notável em relação à economia nesse aspecto é a quantidade de conhecimento que pode ser ganho ao se buscar as implicações dos postulados econômicos. Carl Menger concluiu de maneira perspicaz que o valor de um bem para uma pessoa depende de sua utilidade marginal para ela. Menger concluiu isso ao investigar quais seriam as consequências de se supor que as pessoas agem com o propósito de melhorar sua situação. A obra magna de Mises, Ação Humana, é uma amostra magnífica dos resultados que podem ser atingidos ao se seguir esses caminhos.
A grande fertilidade dessa análise da economia se deve ao fato de que, como humanos que agem, temos uma compreensão direta da ação humana, algo que nos falta ao ponderar o comportamento de elétrons ou estrelas. O modo contemplativo de teorizar é ainda mais importante na economia porque a natureza criativa da escolha humana inerentemente não exibe regularidades empíricas quantitativas, características essas que caracterizam as ciências físicas modernas. (A Biologia nos apresenta um interessante caso intermediário, já que muitos de seus achados são qualitativos.)
É possível entender e concordar com essa veracidade sobre economia que Mises enfatizou, mas mesmo assim divergir dele sobre exatamente o que essa verdade significa na busca de uma ciência econômica. Por exemplo, o favorito de Mises, F.A. Hayek, conquanto concordasse com seu mentor sobre a natureza apriorística da "lógica da ação" e seu status de fundamento básico da economia, acabou por considerar que investigar as questões empíricas que a lógica da ação deixa em aberto era mais importante do que examinar de maneira mais profunda essa lógica em si.
Espero que as considerações acima façam com que o apriorismo de Mises fique mais inteligível para os empiricistas fervorosos. Mas suspeito que alguns deles ainda possam desconfiar dessa proposta de que tenhamos esse tipo "excêntrico" de conhecimento, um que não é nem empírico, nem analítico. Eles ainda podem estar inclinados a ignorá-lo, dizendo que sua alegação de ter um status axiomático o blinda de análises mais profundas. O apriorismo também se parece suspeitosamente com aquelas excluídas, porém epistemologicamente respeitáveis características pós-iluministas: alegações intuitivas, reveladas e místicas do conhecimento. No entanto, um exame mais profundo do conhecimento humano, feito sem favorecimentos aos atuais métodos de investigação, revela que cada modo de compreensão, incluindo o lógico, o matemático e o experimental, baseia-se derradeiramente em nosso julgamento intuitivo.
Por exemplo, a uma pessoa podem ser apresentados resultados numéricos de experimentos garantindo que uma teoria científica em particular é sólida, mas nenhum experimento jamais poderá demonstrar a essa pessoa que o próprio processo de se fazer um experimento é um meio razoável de se avaliar uma teoria científica. Apenas o seu apego intuitivo da plausibilidade desse experimento pode fazê-lo aceitar determinada proposição. (A menos, é claro, que ele simplesmente confie na autoridade dos outros.) A essa pessoa podem ser mostradas centenas de provas rigorosas de vários teoremas matemáticos e pode a ela ser ensinada os critérios pelos quais se consideram essas provas como sólidas, mas não pode haver nenhuma comprovação da validade do método em si. (Kurt Gödel[2] famosamente demonstrou que um sistema formal de dedução matemática, que é complexo o suficiente para modelar até mesmo um tópico básico como aritmética elementar, pode evitar ou a incompletude ou a inconsistência, mas sempre vai sofrer de pelo menos um desses defeitos.)
Uma pessoa pode ser instruída em sistemas mecânicos de lógica formal, mas não há procedimento mecânico para decidir qual desses possíveis sistemas vale a pena desenvolver. (É bem possível especificar sistemas formais de lógica que sejam perfeitamente consistentes e que gerem conclusões que são corretas pelas regras do sistema,mas que qualquer pessoa inteligente pode ver que é sem sentido. Por exemplo, podemos criar um sistema no qual, se x implica em y e z implica em y, então x implica em z. Dentro desse sistema, a aceitação de que "todos os homens são mortais" e "todas as lesmas são mortais" significaria que todos os homens são lesmas. Excetuando-se, talvez, algumas feministas mais amargas, podemos todos perceber que tal raciocínio é uma bobagem, mas só podemos julgar entre formalismos alternativos baseados em nosso senso intuitivo da verdade dedutiva.)
Michael Polanyi mostrou que o julgamento intuitivo é o árbitro final mesmo nas ciências naturais, como física e química.
epistprobs.jpgConquanto descobertas experimentais sejam, bem apropriadamente, um grande fator na escolha de qual das duas teorias rivais o cientista vai aceitar, o julgamento pessoal e intuitivo desse cientista é que vai sempre ter a palavra final na questão. Quando os resultados de um experimento estão em conflito com a teoria, o defeito pode estar tanto na teoria quanto no experimento. Ao final, cabe ao cientista escolher qual dos dois descartar - uma questão que não pode ser respondida pelos dúbios resultados empíricos.
Esta derradeira e inescapável dependência no julgamento próprio é ilustrada por Lewis Carroll em Alice Através do Espelho. Em uma passagem, Alice diz a Humpty Dumpty que 365 menos um é igual a 364. Humpty fica cético e pede para ver o problema feito em um papel. Alice obedientemente escreve:
365
-  1
___
364
Humpty Dumpty observa o trabalho por um momento e declara que ele parece certo. A moral séria dessa vinheta cômica é que ferramentas formais de pensamento são inúteis em convencer alguém de nossas conclusões se esse alguém não tiver entendido os princípios básicos nos quais nossas conclusões se assentam.
Todo o nosso conhecimento está fundamentalmente baseado em nosso reconhecimento intuitivo da verdade quando a vemos. Não há nada de mágico ou misterioso a respeito das fundações a priori da economia; ou pelo menos nada que seja mais mágico ou misterioso do que a nossa habilidade de compreender qualquer outro aspecto da realidade.

[1] Informação quantitativa de uma condição, propriedade ou relação física, geralmente expressa em forma de uma razão entre a quantidade medida e a quantidade padrão.
[2] Matemático austríaco. Clique aqui para mais informações.

Gene Callahan é um scholar adjunto do Ludwig von Mises Institute, formado na London School of Economics. É o autor deEconomics for Real People.


O melhor teste para descobrir se uma sociedade é justa


Paulo Nogueira, em seu blog
O que é uma sociedade justa?
O filósofo americano John Rawls (1921-2002) se debruçou sobre esta pergunta. Em 1971, Rawls publicou um livro aclamado: “A Teoria da Justiça”.
A idéia central de Rawls era a seguinte: uma sociedade justa é aquela na qual, por conhecê-la e confiar nela, você aceitaria ser colocado de maneira randômica, aleatória. Você estaria coberto pelo que Rawls chamou de “véu de ignorância” em relação à posição que lhe dariam, mas isso não seria um problema, uma vez que a sociedade é justa.
felicidade-escandinava-copenhague-dinamarca
Copenhague: a sociedade escandinava é mais igualitária e mais feliz que a americana (Foto: Diário do Centro do Mundo)
Mais de quarenta anos depois do lançamento da obra-prima de Rawls, dois acadêmicos americanos usaram sua fórmula para fazer um estudo. Um deles é Dan Ariely, da Universidade Duke, especializado em comportamento econômico. O outro é Mike Norton, professor da Harvard Business School.
Eles ouviram pessoas de diferentes classes sociais. Pediram a elas que imaginassem uma sociedade dividida em cinco fatias de 20%. E perguntaram qual a fatia de riqueza que elas supunham que estava concentrada em cada pedaço.
“As pessoas erraram completamente”, escreveu num artigo Ariely. “A realidade é que os 40% de baixo têm 0,3% da riqueza. Quase nada. Os 20% de cima têm 84%.”
Em seguida, eles aplicaram o “véu de ignorância de Rawls”. Como deveria ser a divisão da riqueza para que eles se sentissem seguros caso fossem colocados ao acaso na sociedade?
Veio então a maior surpresa dos dois acadêmicos: 94% dos entrevistados descreveram uma divisão que corresponde à escandinava, tão criticada pelos conservadores dos Estados Unidos por seu elevado nível de bem-estar social, e não à americana. Na Escandinávia, os 20% de cima têm 32% da riqueza. (Disse algumas vezes já e vou repetir: o modelo escandinavo é o mais interessante que existe no mundo, um tipo de capitalismo extremamente avançado do ponto de vista social.)
“Isso me levou a pensar”, escreveu Ariely. “O que fazer quando num estudo você descobre que as pessoas querem um determinado tipo de sociedade, mas ao olhar para a classe política parece que ninguém quer isso?”
Bem, uma das respostas à questão está na eclosão de protestos nos Estados Unidos. Os “99%” do movimento OcupeWall Street estão esperneando por uma sociedade mais justa, que se encaixe na tese do “véu de ignorância” de Rawls.
tent city cidade eua
Cena comum nos Estados Unidos de hoje: “tent cities”, concentração em barracas de gente que perdeu a casa
Os 99% não são representados nem pelos democratas e nem, muito menos, pelos republicanos. Barack Obama e Mitt Romney jamais aceitariam ser colocados aleatoriamente na sociedade americana tal como é. As chances de que eles terminassem num lugar bem diferente daquele que ocupam seriam enormes. Talvez eles tivessem que dormir em carros ou em barracas, depois de perder a casa na crise econômica, como acontece hoje com milhões de americanos.
Para usar o método de Rawls, eis aí a demonstração do que é uma sociedade injusta.

A propriedade intelectual é a chave do sucesso?



fakewatches.jpg
Uma das maiores tragédias referentes às leis de propriedade intelectual é como elas geram confusão entre os empresários bem sucedidos. Muitos têm a impressão, apesar disso estar longe da verdade, que eles devem sua fortuna ao direito autoral, à marca registrada e à patente e não necessariamente a sua avaliação de negócios.
Por esta razão, eles defendem a propriedade intelectual como se isso fosse a verdadeira força vital de seus negócios. Eles deixam de dar crédito ao principal motivo: a sua própria criatividade, a disposição de assumir riscos e a suas ações geralmente baseadas no mercado. Isto frequentemente é um julgamento empiricamente incorreto da parte deles, e isto gera a tragédia de dar ao estado o crédito por suas realizações que são, na verdade, devidas as suas próprias atividades empreendedoras.
De fato o que não faltam são histórias prontas que conduzem a esta falsa impressão. Inúmeros relatos de negócios mencionam como os lucros surgem a partir das patentes e por meio delas assumem uma relação causal. Sob essa suposição, a história do espírito empreendedor deixa de ser uma história heróica de riscos e recompensas e se torna mais uma história de decisões de escriturários de patentes e de advogados de direitos autorais.
Como resultado, muitas pessoas acham que a razão dos EUA terem crescido tão rapidamente no século XIX foi a sua proteção de propriedade intelectual, e assumem que a proteção a ideias em nada difere da proteção à propriedade real (o que na verdade é completamente diferente).
Um indício da falácia do direito autoral deveria estar óbvio para qualquer um que adentrasse alguma grande livraria. Ele veria prateleiras de livros clássicos, com capas belas e caprichadas e numa grande variedade de tamanhos e formatos. Os textos contidos são de "domínio público", o que não é exatamente uma categoria legal: significa apenas a ausência de proteção de direito autoral.
Mas eles vendem. Eles vendem bem. E não, os autores não são erroneamente identificados nelas. As irmãs Bronte ainda são as autoras de Jane Eyre, e O Monte dos Vendavais. Vitor Hugo ainda escreveu Os Miseráveis.Mark Twain escreveu Tom Sawyer. O desastre que muitos preveem que ocorreria em um mundo anti propriedade intelectual não está evidente em nenhum lugar: ainda existe lucro e ganhos no comércio e o crédito ainda é dado a quem é devido.
Por que isto? Muito simples, a livraria se preocupou em trazer o livro ao mercado. Pagou o editor do livro e tomou a decisão empreendedora de assumir o risco de as pessoas o comprarem. Claro, qualquer um poderia ter feito isso, mas o fato é que nem todo mundo o fez: a companhia fez uma boa avaliação de modo que coincidisse com o gosto dos consumidores. Em outras palavras, o sucesso é uma consequencia da iniciativa. Não é nem mais e nem menos simples do que isso. A propriedade intelectual não tem nada a ver com isso.
Então, assim seria em um mercado completamente livre, ou seja, um mundo sem propriedade intelectual. Mas às vezes os próprios empresários ficam confusos.
Consideremos o caso de um empreendedor do ramo de sorvete com uma hipotética marca chamada Geórgia Cream. A companhia desfruta de certo grau de sucesso e então decide registrar sua marca, significando que agora ela desfruta do monopólio do uso do nome Geórgia Cream. E digamos que a companhia crie um sabor chamado Peach Pizzazz, que é um grande sucesso, então ela patenteia a receita de modo que ninguém possa publicar a receita sem a permissão da companhia. Então ela se dá conta que a qualidade especial de seu sorvete depende de sua técnica de mistura, então ela requer e obtêm uma patente para isso.
Deste modo a companhia possui agora três monopólios, todos conectados. Isso é o suficiente para garantir o sucesso? Claro que não. Ela precisa fazer bons negócios, ou seja, ela precisa economizar, inovar, distribuir e propagandear. A companhia faz todas essas coisas e assim segue colhendo um sucesso atrás do outro.
Se você sugerir para o fundador e CEO que deveríamos nos livrar das leis de propriedade intelectual, você traria à tona um sentimento de pânico. "Isto iria destruir completamente meu negócio!". "Como assim? Qualquer um poderia simplesmente chegar e alegar ser a Geórgia Cream, roubar nossa receita de Peach Pizzazz, reproduzir nossa técnica de mistura, e aí nós afundaríamos".
Você consegue perceber qual o problema aí? Uma pequena mudança que não ameaçaria a existência do negócio está sendo indiretamente considerada, por implicação, como sendo a própria força vital do negócio. Se isso fosse verdade, então não teria sido a destreza no negócio que construiu esta companhia, e sim o privilégio governamental, e isto definitivamente não é verdade neste caso. A revogação da legislação de propriedade intelectual não faria nada para retirar do negócio sua capacidade de criar, inovar, divulgar, negociar e distribuir.
A revogação da propriedade intelectual poderia criar um custo adicional para se fazer negócios, isto é, esforços para assegurar que os consumidores estejam informados sobre as diferenças entre o produto genuíno e suas reproduções. Este é um custo do negócio que todo empreendedor tem que arcar. Patentes e marcas registradas não têm feito nada para manter os imitadores de Gucci, Prada e Rolex fora do mercado. Mas também as reproduções não destruíram o negócio principal. Se fizeram alguma coisa, foi ter ajudado, já que a imitação é a melhor forma de elogio.
De qualquer maneira, o custo associado a estar atento aos imitadores existe, sendo a propriedade intelectual legalmente protegida ou não. Na realidade, alguns negócios devem a existência de seus lucros a patentes, que eles usam para derrotar seus competidores superiores. Mas há também custos envolvidos neste processo, como milhões em taxas legais.
Grandes empresas gastam milhões desenvolvendo "warchests" [N.T.] de patentes que elas usam para repelir ou se prevenir de processos de outras companhias, então concordam em desistir e compartilhar licenças uma com a outra após gastarem milhões em advogados. Mas logicamente, assim como o salário mínimo ou as legislações sindicais, as leis de propriedade intelectual não afetam realmente as grandes companhias, mas sim os pequenos negócios, que não podem arcar com processos de defesa de patentes de milhões de dólares. 
PowerMarket.jpgA era da Internet tem nos ensinado que é totalmente impossível impor propriedade intelectual. Isto é semelhante à tentativa de se banir o álcool e o tabaco. Isto não funciona. Tudo que isto consegue é criar criminalidade onde na verdade não deveria haver nenhuma. Ao garantir direitos exclusivos para a primeira firma que "cruza a linha de chegada", acaba-se prejudicando a competição ao invés de aumentá—la .
Mas alguns podem argumentar que proteger a propriedade intelectual não é diferente que proteger propriedades materiais comuns. Isto não procede. Propriedade real é escassa. Os objetos da propriedade intelectual não são escassos, como Stephan Kinsella demonstrou. Imagens, idéias, sons, combinações de letras em uma página: estas coisas podem ser reproduzidas indefinidamente. Por esta razão elas não podem ser consideradas posses.
Comerciantes são livres para tentar criar escassez artificial, e é isto que ocorre quando companhias mantêm seus códigos privados ou fotógrafos colocam marcas em suas imagens na Internet. Produtos patenteados e de domínio público podem conviver e prosperar lado a lado, como podemos ver em qualquer drogaria que oferece ambos os medicamentos, de marca e os genéricos, separados por centímetros nas prateleiras.
Mas o que ninguém tem permissão para fazer em um mercado livre é usar violência na tentativa de criar escassez artificial, que é tudo o que a legislação de propriedade intelectual realmente faz. Benjamin Tucker disse no século XIX que se você quer sua invenção para si mesmo, o único jeito é mantê-la fora do mercado. Isto continua verdade hoje.
Então considere um mundo sem marca registrada, direito autoral ou patentes. Este ainda seria um mundo com inovação - talvez com muito mais. E sim, ainda teríamos lucros para aqueles que fossem empreendedores. Talvez teria um pouco menos lucro para os litigantes e advogados de propriedade intelectual - mas isto seria ruim? 


[N.T.] "Warchest" é uma gíria usada no mundo dos negócios para uma reserva de dinheiro que as corporações separam especificamente para tentar uma aquisição ou para se defender de uma aquisição hostil.

Tradução de Fernando Fiori Chiocca

Os índios americanos realmente eram ambientalistas?


por  

Indio americano.jpgA história tradicional é familiar aos alunos: Os índios americanos possuíam uma profunda afinidade espiritual com a natureza e eram surpreendentemente cuidadosos com o bem estar ambiental. 
Segundo um livro popular publicado pelo Instituto Smithsonian em 1991, "A América-pré-colombiana era ainda o Éden original, um imaculado reino natural. Os nativos passavam desapercebidos na paisagem, vivendo como elementos naturais da ecoesféra. Seu mundo, o Novo Mundo de Colombo, era um mundo onde as intervenções humanas eram quase imperceptíveis". 
Esta lição nada sutíl tenta nos ensinar que, se queremos prevenir uma catástrofe ambiental, nós temos que retomar a sabedoria indígena perdida. 
Como sempre, a história real é mais complicada, menos caricaturizável e muito mais interessante. 
Em seu livro de 1992 Earth in the Balance, o então senador Al Gore citou um discurso do século XIX do Chefe Seattle, patriarca dos índios Duwamish e Suquamishde Puget Sound, como evidência da preocupação dos índios com a natureza. Este discurso, que fala de absolutamente tudo no mundo natural, incluindo todos os insetos e folhas, como sendo sagrados para Seattle e seu povo, foi feito para ajudar na concretização da imagem que representa os índios americanos como os primeiros ambientalistas. 
O problema para Gore é que esta versão do discurso que ele cita é uma invenção, escrita no começo da década de 70 pelo roteirista Ted Perry. (Perry, diga-se a seu favor, tentou sem sucesso revelar publicamente que ele inventou o discurso). Mesmo assim, sua influência foi suficiente para sua obra se tornar à base de "Brother Eagle, Sister Sky", um livro infantil que alcançou a quinta posição na lista de livros mais vendidos do New York Times em 1992. 
Versões anteriores do discurso, também citadas pelos ambientalistas, são duvidosas por razões intrínsecas.  Mas especialistas dizem que a intenção do Chefe Seattle é clara, e que ele não estava dizendo que "todas as coisas", perceptíveis e não-perceptíveis, eram "sagradas" para seu povo, ou que toda a terra em todo lugar tinha um mesmo apelo afetivo para eles. "O discurso de Seattle foi feito como sendo uma parte de um argumento pelo direito do povo Suquamish e Duamish de continuar a visitar seus locais de sepultamento tradicionais após a venda dessas terras a colonos brancos," explica William Abruzzi do Colégio Muhlenburg. "Esta terra específica era sagrada para Seattle e seu povo porque seus ancestrais estavam enterrados ali, e não porque terra, como um conceito abstrato, era sagrada para todos os índios". Escrevendo no American Indian Quartely, Denise Low explica do mesmo modo que "a pródiga descrição da natureza é secundária" para o propósito do argumento do Chefe Seattle, e que ele estava dizendo apenas que "terra é sagrada por causa de ligações religiosas com os ancestrais." 
Ambientalistas que têm cultivado o mito do índio ambiental que manteve seu ambiente em condição primorosamente imaculada por causa de uma devoção profundamente espiritual com o mundo natural, o fizeram não por algum interesse particular nos índios americanos, nas variações entre eles ou em seus reais registros de interações com o ambiente. Ao invés disso, a intenção é exibir o índio ambientalista para propósitos de propaganda e usá-lo como um contraponto à sociedade industrial. 
O verdadeiro registro da relação dos índios com o meio-ambiente era variado, e eu dou os detalhes no meu novo livro, "33 Questions About American History You're Not Supposed to Ask" (33 Questões Sobre a História Americana Que Você não Deveria Perguntar). Entre outras coisas, eles aplicavam um método de agricultura que consistia em "talhar e queimar", destruíam florestas e pastos e eliminavam populações inteiras de animais (pois acreditavam na hipótese que os animais abatidos numa caçada seriam ressuscitados em quantidades maiores ainda). 
Por outro lado, os índios freqüentemente tiveram sucesso em ser bons administradores do ambiente - mas não da maneira que as pessoas geralmente supõem. 
Apesar de ouvirmos com freqüência que os índios não sabiam nada sobre propriedade privada, suas reais visões sobre propriedade variaram através do tempo, local e tribo. Quando terra e caça eram abundantes, não é de se surpreender que as pessoas empregavam pouco esforço em definir e fazer cumprir direitos de propriedade. Mas quando essas coisas se tornavam mais escassas, os índios reconheciam o valor de se determinar direitos de propriedade em (por exemplo) caça e pesca. 
33Questions.jpgEm outras palavras, os índios americanos eram seres humanos que respondiam aos incentivos que encontravam, e não bonecos de cartolina para serem explorados por ambientalistas ou qualquer outro programa político. 
Em algumas tribos, eram designadas áreas exclusivas de caça às famílias e aos grupos baseados em clãs, o que significava que eles tinham um interesse pessoal na preservação, i.e., em não caçar excessivamente e em certificar-se que animais suficientes restariam para se reproduzir para os anos futuros. Deste modo eles tinham um incentivo para não permitir que pessoas de outras famílias e clãs caçassem em suas terras. No noroeste da costa do Pacífico, índios determinaram direitos exclusivos de pesca que concediam um tipo similar de administração: ao invés de pescar todo o salmão, alguns eram deixados para trás, com um olho no futuro. Brancos que depois estabeleceram controle sobre os recursos de salmão, infelizmente negligenciaram esta importante lição indígena. 
Nem os próprios índios se lembraram sempre desta lição. Considere os Arapahoes e Shoshones da Reserva Wind River no Wyoming, que recentemente (e com a ajuda de jipes e rifles poderosos) exterminaram completamente populações animais . O que teria acontecido com sua profunda afinidade espiritual com a natureza? 
De fato, este é o resultado previsível de se dizer que a vida selvagem pertence a todos. Não há incentivo para manter estoques para o futuro, já que qualquer coisa que poderia ser preservada será simplesmente morta por alguma outra pessoa. Sem direitos de propriedade sobre a caça, não há maneiras (e nem incentivos) de alguém prevenir tal comportamento predatório de curto prazo. É por isso que as tribos indígenas estabeleciam estes direitos exclusivos - este era o melhor modo de preservar espécies animais e precaver-se para o futuro. 
Digam, esta sabedoria indígena não merece ser repetida?

Tradução de Fernando Fiori Chiocca

Por que o nazismo era socialismo e por que o socialismo é totalitário



nazi-com.jpgMinha intenção hoje é expor dois pontos principais: (1) Mostrar que a Alemanha Nazista era um estado socialista, e não capitalista. E (2) mostrar por que o socialismo, compreendido como um sistema econômico baseado na propriedade estatal dos meios de produção, necessariamente requer uma ditadura totalitária.
A caracterização da Alemanha Nazista como um estado socialista foi uma das grandes contribuições de Ludwig von Mises.
Quando nos recordamos de que a palavra "Nazi" era uma abreviatura de " der Nationalsozialistische Deutsche Arbeiters Partei" — Partido Nacional Socialista dos Trabalhadores Alemães — a caracterização de Mises pode não parecer tão notável. O que se poderia esperar do sistema econômico de um país comandado por um partido com "socialista" no nome além de ser socialista?
Não obstante, além de Mises e seus leitores, praticamente ninguém pensa na Alemanha Nazista como um estado socialista. É muito mais comum se acreditar que ela representou um forma de capitalistmo, aquilo que comunistas e marxistas em geral têm alegado.
A base do argumento de que a Alemanha Nazista era capitalista é o fato de que a maioria das industrias foram aparentemente  deixadas em mãos privadas.
O que Mises identificou foi que a propriedade privada dos meios de produção existia apenas nominalmente sob o regime Nazista, e que o verdadeiro conteúdo da propriedade dos meios de produção residia no governo alemão. Pois era o governo alemão e não o proprietário privado nominal quem decidia o que deveria ser produzido, em qual quantidade, por quais métodos, e a quem seria distribuído, bem como quais preços seriam cobrados e quais salários seriam pagos, e quais dividendos ou outras rendas seria permitido ao proprietário privado nominal receber. A posição do que se alega terem sido proprietários privados era reduzida essencialmente à função de pensionistas do governo, como Mises demonstrou.
A propriedade governamental "de fato" dos meios de produção, como Mises definiu, era uma conseqüência lógica de princípios coletivistas fundamentais adotados pelos nazistas como o de que o bem comum vem antes do bem privado e de que o indivíduo existe como meio para os fins do estado. Se o indivíduo é um meio para os fins do estado, então, é claro, também o é sua propriedade. Do mesmo modo em que ele pertence ao estado, sua propriedade também pertence.
Mas o que especificamente estabeleceu o socialismo "de fato" na Alemanha Nazista foi a introdução do controle de preços e salários em 1936. Tais controles foram impostos como resposta ao aumento na quantidade de dinheiro na economia praticada pelo regime nazista desde a época da sua chegada ao poder, no início de 1933. O governo nazista aumentou a oferta de dinheiro no mercado como meio de financiar o vasto aumento nos gastos governamentais devido a seus programas de infra-estrutura, subsídios e rearmamento. O controle de preços e salários foi imposto em resposta ao aumento de preços resultante desta inflação.
O efeito causado pela combinação entre inflação e controle de preços foi a escassez, ou seja, a situação na qual a quantidade de bens que as pessoas tentam comprar excede a quantidade disponível para a venda.
As escassezes, por sua vez, resultam em caos econômico.Não se trata apenas da situação em que consumidores que chegam mais cedo estão em posição de adquirir todo o estoque de bens, deixando o consumidor que chega mais tarde sem nada — uma situação a que os governos tipicamente respondem impondo racionamentos. Escassezes resultam em caos por todo o sistema econômico. Elas tornam aleatória a ditribuição de suprimentos entre as regiões geográficas, a alocação de um fator de produção dentre seus diferentes produtos, a alocação de trabalho e capital dentre os diferentes ramos do sistema econômico.
Face à combinação de controle de preços e escassezes, o efeito da diminuição na oferta de um item não é, como seria em um mercado livre, o aumento do preço e da lucratividade, operando o fim da diminuição da oferta, ou a reversão da diminuição se esta tiver ido longe demais. O controle de preços proíbe o aumento do preço e da lucratividade. Ao mesmo tempo, as escassezes causadas pelo controle de preços impedem que aumentos na oferta reduzam o preço e a lucratividade de um bem. Quando há uma escassez, o efeito de um aumento na oferta é apenas a redução da severidade desta escassez. Apenas quando a escassez é totalmente eliminada é que um aumento na oferta necessita de uma diminuição no preço, trazendo consigo uma diminuição na lucratividade.
Como resultado, a combinação de controle de preços e escassezes torna possíveis movimentos aleatórios de oferta sem qualquer efeito no preço ou na lucratividade. Nesta situação, a produção de bens dos mais triviais e desimportantes, como bichinhos de pelúcia, pode ser expandida às custas da produção dos bens importantes e necessários, como medicamentos, sem efeito sobre o preço ou lucratividade de nenhum dos bens. O controle de preços impediria que a produção de remédios se tornasse mais lucrativa conforme a sua oferta fosse diminuindo, enquanto a escassez mesmo de bichinhos de pelúcia impediria que sua produção se tornasse menos lucrativa conforme sua oferta fosse aumentando.
Como Mises demonstrou,  para lidar com os efeitos indesejados decorrentes do controle de preços, o governo deve abolir o controle de preços ou ampliar tais medidas, precisamente, o controle sobre o que é produzido, em qual quantidade, através de quais métodos, e a quem é distribuído, ao qual me referi anteriormente. A combinação de controle de preços com estas medidas ampliadas constituem a socialização "de fato" do sistema econômico. Pois significa que o governo exerce todos os poderes substantivos de propriedade.
Este foi o socialismo instituído pelos nazistas. Mises o chama de modelo alemão ou nazista de socialismo, em contraste ao mais óbvio socialismo dos soviéticos, ao qual ele chama de modelo russo ou bolchevique de socialismo.
O socialismo, é claro, não acaba com o caos causado pela destruição do sistema de preços. Ele apenas perpetua esse caos. E se introduzido sem a existência prévia de controle de preços, seu efeito é inaugurar este mesmo caos. Isto porque o socialismo não é verdadeiramente um sistema econômico positivo. É meramente a negação do capitalismo e seu sistema de preços. E como tal, a natureza essencial do socialismo é a mesma do caos econômico resultante da destruição do sistema de preços através do controle de preços e salários. (Eu quero demonstrar que a imposição de cotas de produção no estilo bolchevique de socialismo, com a presença de incentivos por todos os lados para que estas sejam excedidas, é uma fórmula certa para a escassez universal da mesma forma como ocorre quando se controla preços e salários.)
No máximo, o socialismo meramente muda a direção do caos. O controle do governo sobre a produção pode tornar possível uma maior produção de alguns bens de especial importância para si mesmo, mas faz isso às custas de uma devastação através de todo o resto do sistema econômico. Isto porque o governo não tem como saber dos efeitos no resto do sistema econômico da sua garantia da produção dos bens aos quais atribue especial importância.
Os requisitos para a manutenção do sistema de controle de preços e salários trazem à luz a natureza totalitária do socialismo — mais obviamente, é claro, na variante alemã ou nazista de socialismo, mas também no estilo soviético.
Podemos começar com o fato de que o auto-interesse financeiro dos vendedores operando sob o controle de preços seja de contornar tais controles e aumentar seus preços. Compradores, antes impossibilitados de obter os bens, estão dispostos, na verdade, ansiosos para pagar estes preços mais altos como meio de garantir os bens por eles desejados. Nestas circunstâncias, o que pode impedir o aumento dos preços e o desenvolvimento de um imenso mercado negro?
A resposta é a combinação de penas severas com uma grande probabilidade de ser pego e, então, realmente punido. É provável que meras multas não gerem a dissuasão necessária. Elas serão tidas como simplesmente um custo adicional. Se o governo deseja realmente fazer valer o controle de preços, é necessário que imponha penalidades comparadas àquelas dos piores crimes.
Mas a mera existência de tais penas não é o bastante. O governo deve tornar realmente perigosa a  condução de transações no mercado negro. Deve fazer com que as pessoas temam que agindo desta maneira possam, de alguma maneira, ser descobertas pela polícia, acabando na cadeia. Para criar tal temor, o governo deve criar um exército de espiões e informantes secretos. Por exemplo, o governo deve fazer com que o dono da loja e o seu cliente tenham medo de que, caso venham a se engajar em uma transação no mercado negro, algum outro cliente na loja vá lhe informar.
Devido à privacidade e sigilo em que muitas transações no mercado negro ocorrem, o governo deve ainda fazer com que qualquer participante de tais transações tenha medo de que a outra parte possa ser um agente da polícia tentando apanhá-lo. O governo deve fazer com que as pessoas temam até mesmo seus parceiros de longa data, amigos e parentes, pois até eles podem ser informantes.
E, finalmente, para obter condenações, o governo deve colocar a decisão sobre a inocência ou culpa em casos de transações no mercado negro nas mão de um tribunal administrativo ou seus agentes de polícia presentes. Não pode contar com julgamentos por júris, devido à dificuldade de se encontrar número suficiente de jurados dispostos a condenar a vários anos de cadeia um homem cujo crime foi vender alguns quilos de carne ou um par de sapatos acima do preço máximo fixado.
Em suma, a partir daí o requisito apenas para a aplicação das regulações de controle de preços é a adoção de características essenciais de um estado totalitário, nominadamente o estabelecimento de uma categoria de "crimes econômicos", na qual a pacífica busca pelo auto-interesse material seja tratada como uma ofensa criminosa grave, e o estabelecimento de um aparato de polícia totalitário repleto de espiões e informantes e o poder de prisões arbitrárias.
Claramente, a aplicação e fiscalização do controle de preços requere um governo similar à Alemanha de Hitler ou a Rússia de Stalin, no qual praticamente qualquer um pode ser um espião da polícia e no qual uma polícia secreta existe e tem o poder de prender pessoas. Se o governo não está disposto a ir tão longe, então, nesta medida, o controle de preços se prova inaplicável e simplesmente entra em colapso. O mercado negro, então, assume maiores proporções. (Incidentalmente, não se sugere que o controle de preços foi a causa do reino de terror instituído pelos nazistas. Estes iniciaram seu reino de terror bem antes do decretamento do controle de preços. Como resultado, o controle de preços foi decretado em um ambiente feito para a sua aplicação.)
As atividades do mercado negro exigem o cometimento de outros crimes. Sob o socialismo "de fato", a produção e a venda de bens no mercado negro exige o desafio às regulações governamentais no que diz respeito à produção e à distribuição, bem como o desafio ao controle de preços. Por exemplo, o governo pretende que os bens que são vendidos no mercado negro sejam distribuídos de acordo com seu planejamento, e não de acordo com o do mercado negro. O governo pretende, igualmente, que os fatores de produção usados para se produzir aqueles bens sejam utilizados de acordo com o seu planejamento, e não com o propósito de suprir o mercado negro.
Sobre um sistema socialista "de direito", como o que existia na Rússia soviética, no qual o ordenamento jurídico do país aberta e explicitamente tornava o governo o proprietário dos meios de produção, toda a atividade do mercado negro, necessariamente, exige a apropriação indébita ou o roubo da propriedade estatal. Por exemplo, considerava-se que os trabalhadores e gerentes de fábricas na Rússia soviética que tiravam produtos destas para vender no mercado negro estavam roubando matéria-prima fornecida pelo estado.
Além disso, em qualquer tipo de estado socialista, nazista ou comunista, o plano econômico do governo é parte da lei suprema do país. Temos uma boa idéia de quão caótico o chamado processo de planejamento do socialismo é. O distúrbio adicional causado pelo desvio para o mercado negro de materiais e suprimentos para produção é algo que o estado socialista toma como um ato de sabotagem ao planejamento econômico nacional. E sabotagem é como o ordenamento jurídico dos estados socialistas se refere a isto. Em concordância com este fato, atividades de mercado negro são, com freqüência, punidas com pena de morte.
Um fato fundamental que explica o reino de terror generalizado encontrado sob o socialismo é o incrível dilema em que o estado socialista se coloca em relação à massa de seus cidadãos. Por um lado, o estado assume total responsabilidade pelo bem-estar econômico individual. O estilo de socialismo russo ou bolchevique declara abertamente esta responsabilidade — esta é a fonte principal do seu apelo popular. Por outro lado, o estado socialista desempenha essa função de maneira desastrosa, tornando a vida do indivíduo um pesadelo.
Todos os dias de sua vida, o cidadão de um estado socialista tem de perder tempo em infindáveis filas de espera. Para ele, os problemas enfrentados pelos americanos com a escassez de gasolina nos anos 70 são normais; só que ele não enfrenta este problema em relação à gasolina — pois ele não tem um carro nem a esperança de jamais ter um — mas em relação a itens de vestimento, verduras, frutas, e até mesmo pão. Pior ainda, ele é forçado a trabalhar em um emprego que não foi por ele escolhido e que, por isso, deve odiar. (Já que sob escassezes, o governo acaba por decidir a alocação de trabalho da mesma maneira que faz com a alocação de fatores de produção materiais.) E ele vive em uma situação de inacreditável superlotação, com quase nenhuma chance de privacidade. (Frente à escassez habitacional, hóspedes são designados a moradias; famílias são obrigadas a compartilharem apartamentos. E um sistema de passaportes e vistos internos é adotado a fim de limitar a severidade da  escassez habitacional em áreas mais desejáveis do país.) Expondo suavemente, uma pessoa forçada a viver em tais condições deve ferver de ressentimento e hostilidade.
Contra quem seria lógico que os cidadãos de um estado socialista dirigissem seu ressentimento e hostilidade se não o próprio estado socialista? Contra o mesmo estado socialista que proclamou sua responsabilidade pela vida deles, prometeu uma vida de bençãos, e que é responsável por proporcionar-lhes  uma vida de inferno. De fato, os dirigentes de um estado socialista vivem um dilema no qual diariamente encorajam o povo a acreditar que o socialismo é um sistema perfeito em que maus resultados só podem ser fruto do trabalho de pessoas más. Se isso fosse verdade, quem poderiam estas pessoas más serem senão os próprios líderes, que não apenas tornaram a vida um inferno, mas perverteram a este ponto um sistema supostamente perfeito?
A isso se segue que os dirigentes de um estado socialista devem temer seu povo. Pela lógica das suas ações e ensinamentos, o fervilhante e borbulhante ressentimento do povo deveria jorrar e engoli-los numa orgia de vingança sangrenta. Os dirigentes sentem isso, ainda que não admitam abertamente; e portanto a sua maior preocupação é sempre manter fechada a tampa da cidadania.
Conseqüentemente, é verdadeiro mas bastante inadequado dizer apenas coisas como que o socialmo carece de liberdade de imprensa e expressão. Carece, é claro, destas liberdade. Se o governo é dono de todos os jornais e gráficas, se ele decide para quais propósitos a prensa e o papel devem ser disponibilizados, então obviamente nada que o goveno não desejar poderá ser impresso. Se a ele pertencem todos os salões de assembléias e encontros, nenhum pronunciamento público ou palestra que o governo não queira poderá ser feita. Mas o socialismo vai muito além da mera falta de liberdade de imprensa e de expressão.
Um governo socialista aniquila totalmente estas liberdades. Transforma a imprensa e todo foro público em veículos de propaganda histérica em prol de si mesmo, e pratica cruéis perseguições a todo aquele que ouse desviar-se uma polegada da linha do partido oficial.
A razão para isto é o medo que o dirigente socialista tem do povo. Para se proteger, eles devem ordenar   que o ministério da propaganda e a polícia secreta corram atrás do prejuízo. Um deve tentar desviar constantemente a atenção do povo da responsabilidade do socialismo, e dos dirigentes socialistas, sobre a miséria do povo. O outro deve desestimular e silenciar qualquer pessoa que possa mesmo que remotamente sugerir a responsabilidade do socialsmo ou de seus dirigentes — desestimular qualquer um que comece a mostrar sinais de estar pensando por si mesmo. É por causa do terror dos dirigentes, e da sua necessidade desesperada de encontrar bodes-expiatórios para as falhas do socialismo, que a imprensa de um país socialista está sempre cheia de histórias sobre conspirações e sabotagens estrangeiras, e sobre corrupção e mau gerenciamento da parte de oficiais subordinados, e por que, periodicamente, é necessário desmascarar conspirações domésticas e sacrificar oficiais superiores e facções inteiras do partido em gigantescos expurgos.
E é por causa do seu terror, e da sua necessidade desesperada de esmagar qualquer suspiro de oposição em potencial, que os dirigentes do socialismo não ousam permitir nem mesmo atividades puramente culturais que não estejam sob o controle do estado. Pois se o povo se reúne para uma amostra de arte ou um sarau de literário que não seja controlado pelo estado, os dirigentes devem temer a disseminação de idéias perigosas. Quaisquer idéias não-autorizadas são idéias perigosas, pois podem levar o povo a pensar por si mesmo e, a partir daí, começar a pensar sobre a natureza do socialismo e de seus dirigentes. Estes devem temer a reunião espontânea de qualquer punhado de pessoas em uma sala, e usar a polícia secreta e seu aparato de espiões, informantes, e mesmo o terror para impedir tais encontros ou ter certeza de que seu conteúdo é inteiramente inofensivo do ponto de vista do estado.
O socialismo não pode ser mantido por muito tempo, exceto através do terror. Assim que o terror é relaxado, ressentimento e hostilidade logicamente começam a jorrar contra seus dirigentes. O palco está montado, então, para uma revolução ou uma guerra civil. De fato, na ausência de terror, ou, mais corretamente, de um grau suficiente de terror, o socialismo seria caracterizado por uma infindável série de revoluções e guerras civis, conforme cada novo grupo dirigente se mostrasse tão incapaz de fazer o socialismo funcionar quanto foram seus predecessores. A inescapável conclusão a ser traçada é a de que o terror experimentado nos países socialistas não foi simplesmente culpa de homens maus, como Stalin, mas algo que brota da natureza do sistema socialista. Stalin vem à frente porque sua incomum perspicácia e disposição no uso do terror foram as características específicas mais necessárias para um líder socialista se manter no poder. Ele ascendeu ao topo através de um processo de seleção natural socialista: a seleção do pior.
É preciso antecipar um possível mal-entendido em relação à minha teses de que o socialismo é totalitário por natureza. Diz respeito aos países supostamente socialistas dirigidos por social-democratas, como a Suécia e outros países escandinavos, que claramente não são ditaduras totalitárias.
Neste caso, é necessário que se entenda que não sendo estes países totalitários, não são também socialistas. Os partidos que os governam podem até sustentar o socialismo como sua filosofia e seu fim último, mas socialismo não é o que eles implementaram como seu sistema econômico. Na verdade, o sistema econômico vigente em tais países é a economia de mercado obstruída, como Mises definiu. Ainda que seja mais obstruído do que o nosso em aspectos importantes, seu sistema econômico é essencialmente similar ao nosso, no qual a força motora característica da produção e da atividade econômica não é o governo, mas sim a iniciativa privada motivada pela perspectiva de lucro.
A razão pela qual social-democratas não estabelecem o socialismo quando estão no poder, é que eles não estão dispostos a fazer o que seria necessário. O estabelecimento do socialismo como um sistema econômico requer um ato massivo de roubo — os meios de produção devem ser expropriados de seus donos e tomados pelo estado. É virtualmente certo que tais expropriações provoquem grande resistência por parte dos proprietários, resistência que só pode ser vencida pelo uso de força bruta.
Os comunistas estavam e estão dispostos a usar esta força, como evidenciado na União Soviética. Seu caráter é o dos ladrões armados preparados para matar se isso se mostrar necessário para dar cabo dos seus planos. O caráter dos social-democratas, em contraste, é mais próximo dos batedores de carteira, que podem falar em coisas grandes algum dia, mas que de fato não estão dispostos a praticar a matança que seria necessária, e então desistem ao menor sinal de resistência séria.
Já os nazistas, em geral não tiveram que matar para expropriar a propriedade dos alemães, fora os judeus. Isto porque, como vimos, eles estabeleceram o socialismo discretamente, através do controle de preços, que serviu para manter a aparência de propriedade privada. Os proprietários eram, então, privados da sua propriedade sem saber e, portanto, sem sentir a necessidade de defendê-la pela força.
Creio ter demonstrado que o socialismo — o socialismo de verdade — é totalitário pela sua própria natureza.

Tradução de Fábio M. Ostermann

George Reisman é Ph.D e autor de Capitalism: A Treatise on Economics. (Uma réplica em PDF do livro completo pode ser baixada para o disco rígido do leitor se ele simplesmente clicar no título do livro e salvar o arquivo). Ele é professor emérito da economia da Pepperdine University. Seu website: www.capitalism.net. Seu blog georgereismansblog.blogspot.com

Tradução de Leandro Roque