segunda-feira, 26 de agosto de 2013

Qual é a prioridade?

GERAL

, por Edgard Flexa Ribeiro

Há um aspecto pouco mencionado sobre a proposta de se construir toda uma ferrovia que comporte um trem-bala entre Rio e São Paulo: qual seria a prioridade disso? Será que não haveria coisa mais urgente a ser pensada, projetada e feita?
Não faz muito tempo, enquanto já se falava nesse trem-bala, todos viram as filas imensas de caminhões que vinham do planalto central carregados com a segunda maior safra de soja do mundo, todos parados nas estradas, esperando dias e noites para descarregá-la no porto, em Santos.
O embarque era tão lento que teve país desistindo de comprar a soja brasileira: ia demorar muito para embarcar, e o navio não podia esperar.
Mas é claro que tinha que ser assim: não há outro meio de transporte para que tudo que o Brasil produz no planalto central chegue ao litoral da região Sudeste. Só com caminhão.
Não há ferrovia para isso. Já houve, faz tempo, com os recursos de então. Hoje não há mais.
Os portos de Santos, de Sepetiba e do Rio só recebem caminhões. As preocupações nacionais nunca se ocuparam em fazer uma ligação ferroviária entre o planalto central e o litoral do país e os portos do Sudeste.
O problema é a Serra do Mar: um obstáculo superável, mas nada fácil.
Mais ao norte, no Espírito Santo, pode ser feito o escoamento do que se produzia no vale do Rio Doce pelo porto de Tubarão. Mais ao Sul, do Paraná ao Rio Grande, também se pode fazer alguma coisa.
Mas no trecho de litoral entre Rio de Janeiro e São Paulo — que poderia ter portos que atendessem à produção de Minas, Goiás e Mato Grosso — não há acesso ferroviário.
O que o país poderia fazer pelo desenvolvimento de toda essa área, com meio adequado de transporte até o litoral, seria muito. Na agricultura, na pecuária e até para que ali também florescesse a indústria — por que não?
De certa forma, complementaria tudo que o país pretendeu fazer ao mudar a capital para lá. Não precisava tanto só para abrigar a burocracia...
Esse seria um desafio que valeria a pena enfrentar. Uma alavanca importante para o desenvolvimento do país.
Já ir depressa por terra entre Rio e São Paulo parece falta de visão do futuro. Não chega a ser uma prioridade...

Edgard Flexa Ribeiro é professor.

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