sábado, 24 de agosto de 2013

Aprendizado com Joaquim, por Vitor Hugo Soares

GERAL


Ao tempo em que toca adiante a fase final e definitiva, que deverá desaguar no cumprimento das sentenças dos réus, condenados no julgamento do processo do Mensalão – com afinco, rigor necessário e sem titubeios ou meias palavras no trabalho a cumprir, “porque o país e a sociedade têm pressa” – o ministro presidente do STF, Joaquim Barbosa, continua a demonstrar sua enorme e inesgotável capacidade de surpreender.
Nas últimas duas semanas, retomadas as atividades na Suprema Corte do Brasil, em ambiente minado por velhos truques de astúcias judiciais protelatórias, além de novas armadilhas, o ministro Joaquim segue aparentemente inabalável em sua missão de magistrado. E vai além, na invejável conduta política e pessoal, como demonstrado nos mais recentes e duros embates.
Joaquim Barbosa tem suprido com sobras, dentro e fora do Tribunal que ele comanda (com alcance muito além das fronteiras nacionais) duas das carências mais sentidas do Brasil destes tempos temerários que atravessamos: a de firmeza nas atitudes e a de exemplos significativos dos homens públicos.
Com o andar da locomotiva reposto aos trilhos, depois dos trancos e abalos dos últimos dias, estou cada dia mais convencido do relevante papel do presidente do STF no aclaramento de questões essenciais da Justiça e do Jornalismo. Principalmente no enfrentamento das desconfianças e medos recíprocos de um lado e do outro.


Na historicamente complexa e intrincada relação com juízes, nas coberturas jornalísticas de processos judiciais (comecei minha carreira de repórter cobrindo o Fórum Rui Barbosa para o jornal A Tarde, na Bahia), um dos principais ensinamentos do caso Mensalão se dá exatamente nesse ponto. Isso, sem dúvida, a partir do jeito próprio e especial de ser e de atuar do presidente Joaquim.
O julgamento que corre no Supremo, despido dos salamaleques entre pares (jornalistas também), que o ministro Barbosa abomina e não suporta declaradamente, exibe, com todas as nuances e contrastes, uma realidade que durante décadas e décadas se manteve intocada. Nos julgamentos nos fóruns e nas coberturas da imprensa, para regozijo e gozo intelectual das duas partes, em suas respectivas feiras de vaidades.
O presidente do STF mostra com palavras e ações práticas, no seu trabalho no comando (repita-se) do processo Mensalão, aquilo que o experiente jornalista argentino Claudio Andrada, do Clarin, já havia apontado em 1993, no lúcido depoimento no livro “Entre Periodistas”, editado por Teódulo Dominguez.
Um guia de como pensar e fazer jornalismo que não canso de ler, reler e citar, pois a cada dia parece mais atual e verdadeiro em cada uma de suas 228 páginas e mais de uma dezena de entrevistas-depoimentos. Tudo com estilo e arte de quem sabe fazer perguntas e de quem sabe dar boas respostas.
Ali está dito que justiça tem duas partes: a da justiça em si e, logo, a da política: “A política está presente em todas as resoluções tomadas pela justiça, em qualquer nível, seja um juiz da primeira instância ou um juiz da Corte Suprema”, assinala Andrada.

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