sexta-feira, 26 de julho de 2013

A história de um dos grandes políticos brasileiros

A história de um dos grandes políticos brasileiros



Miguel Arraes de Alencar (16/12/1917 – 13/08/2005) 
Alexandre Severo/JC

Acaba de morrer no Recife o deputado Miguel Arraes, presidente do Partido Socialista Brasileiro e por três vezes governador de Pernambuco. Era o último representante ainda vivo da geração de políticos que marcou fortemente a história do Brasil nos últimos 50 anos – entre eles, Leonel Brizola, Ulysses Guimarães e Tancredo Neves.



Quem foi Miguel Arraes 
Do lado de fora do Palácio do Campo das Princesas, no Recife, militares fortemente armados não deixavam ninguém passar. Com canhões apontados para o prédio, exigiam que o governador de Pernambuco renunciasse ao cargo e abandonasse o local. Perto dali, uma centena de estudantes preparava uma passeata.

Miguel Arraes de Alencar recusou-se a cumprir a ordem “para não trair” a vontade dos que o elegeram. Foi preso então. Era 1º de abril de 1964, uma quarta-feira. No dia anterior, havia sido deflagrado o golpe militar que derrubaria o presidente João Goulart. O país viveria sob ditadura pelos 21 anos seguintes.

Escoltado por oficiais do IV Exército, metido dentro de um fusquinha, ao cair da noite Arraes saiu do palácio para entrar de vez na história política do país.

Nascido em Araripe, Ceará, chegara ao Recife em 1932 para concluir o curso de Direito. Era o caçula e o único homem de uma família de sete filhos. Por sua vez, seria pai de 10 filhos e se casaria duas vezes. Seu primeiro emprego foi de funcionário público no Instituto do Açúcar e do Álcool (IAA).

Ali, conheceu Barbosa Lima Sobrinho. Por indicação dele, então governador de Pernambuco, foi secretário da Fazenda em 1949. Dali a quatro anos, se elegeu deputado estadual pelo PSD. Reelegeu-se em seguida. Para em 1959 ganhar a prefeitura do Recife apoiado por uma frente de partidos de esquerda.

Com 47,98% dos votos, se elegeu governador de Pernambuco em 1962 pelo Partido Social Trabalhista (PST), apoiado pelo Partido Comunista Brasileiro e setores do PSD. Fez seu discurso de posse do lado de fora do palácio. Diante de uma multidão, citou a certa altura o poeta Carlos Drummond de Andrade: 
– Tenho apenas duas mãos, mas todo o sentimento do mundo.

Ganhou o governo pela esquerda. Governou pela esquerda.

Forçou usineiros e donos de engenho da Zona da Mata do Estado a estenderem o pagamento do salário minimo aos trabalhadores rurais. E deu forte apoio à multiplicação de sindicatos, associações comunitárias e às Ligas Camponesas.
Deposto, foi levado para a ilha de Fernando de Noronha, onde ficou preso por 11 meses. Passou depois pelas prisões da Companhia da Guarda e do Corpo de Bombeiros, no Recife, e da Fortaleza de Santa Cruz, no Rio. Solto em 25 de maio de 1965 por meio de um habeas corpus, foi para o exílio na Argélia.

Em 1979, beneficiado pela anistia decretada pelo presidente João Figueiredo quando a ditadura começava a se esgotar, Arraes voltou ao Brasil e à política. Virara mito em Pernambuco e referência para a esquerda no resto do país. Os mais pobres tinham o retrato dele nas paredes de suas casas.

Pelo PMDB, se elegeu deputado federal em 1982. Para em 1986 “entrar pela porta que saiu” e voltar a governar Pernambuco. Pela mesma porta entraria uma vez mais em 1994. Por ela sairia em 1998 quando tentou se reeleger e foi derrotado pelo atual governador de Pernambuco, Jarbas Vasconcelos.

Entre voltar e sair do Palácio do Campo das Princesas, foi mais duas vezes deputado federal, uma delas como o mais votado do Nordeste, abandonou o PMDB e aderiu ao Partido Socialista Brasileiro (PSB), do qual se tornou presidente. Morreu esta manhã no Recife depois de 59 dias internado em um hospital.

Tinha 88 anos. Estava disposto a se reeleger deputado federal em 2006. Havia fumado durante 72 anos. Bebera bem durante todos esses anos. Comera bem. E imaginava viver tanto ou mais do que sua mãe que morreu aos 96 anos. Foi amigo pessoal de Lula, a quem apoiou desde sua primeira campanha presidencial.

Deixa um herdeiro político – o neto Eduardo Campos, deputado federal, ex-ministro da Ciência e Tecnologia de Lula. Campos planeja ser candidato no próximo ano ao governo de Pernambuco.

13/08/2006 15:04
 Arraes em imagens  
Fotos do Jornal do Comércio, de Pernambuco

Deposto pelos militares por apoiar o então presidente João Goulart e governar com o apoio de forças de esquerda, Arraes saiu preso do Palácio do Campo das Princesas, no Recife, ao cair da noite do dia1º de abril de 1964.


Do Recife, foi levado para a ilha de Fernando de Noronha, onde ficou 11 meses. Passou depois por mais dois períodos de prisão no Recife, e um no Rio. Em 1965, solto por meio de um habeas corpos, exilou-se na Argélia, país africano.


Arraes foi fichado no Departamento de Ordem Política e Social, o Dops. Em julho de 2005, recebeu uma idenização de R$ 689 mil da Comissão de Anistia do Ministério da Justiça por ter sido preso e obrigado a fugir para o exílio.



De volta do exílio em 16 de setembro de1979, Arraes foi recebido por 60 mil pessoas no bairro de Santo Amaro, no Recife. Compareceram ao comício Lula, Jarbas Vasconcelos, atual governador de Pernambuco (à esquerda da foto) e Marcos Freire, ex-senador (entre Jarbas e Lula).


Embora tenham escolhido partidos diferentes depois de voltar do exílio em 1979, Arraes (PMDB e depois PSB) e Brizola (PDT) estiveram juntos no apoio ao governo de João Goulart, na oposição à ditadura militar que durou 21 anos, e no apoio a Lula – seja logo no primeiro turno da eleições presidenciais ou somente no segundo. Brizola disputou com Lula em 1989 e em 1994, e foi vice dele em 1998.


Arraes e o arcebispo de Olinda e Recife, Dom Hélder Câmara, trabalharam juntos pela reforma agrária em Pernambuco. Na época da ditadura militar, Dom Hélder foi tratado como inimigo dela. A imprensa foi proibida de mencionar o nome dele durante sete anos. A casa do arcebispo foi alvo de tiros. E um dos seus assessores, o padre Antônio Henrique Pereira Neto, foi sequestrado, torturado e morto à bala.


A foto é da década de 80. Arraes é o quarto da direita para a esquerda. O primeiro da direita, e o único sem paletó, é o atual assessor especial de Lula, o ex-ministro Luiz Gushiken. Entre Lula e Arraes, Roberto Freire, deputado federal e atual presidente do PPS. Freire apoiou Lula em 2002. Agora lhe faz oposição. É para o PPS que deverá ir nas próximas semanas o atual senador pelo PT do Distrito Federal, Cristovam Buarque.


Arraes e o mineiro Tancredo Neves estiveram juntos no MDB, partido de oposição à ditadura de 1964. Com a proximidade do fim da ditadura, os dois se distanciaram. Em 1979, Tancredo disse: “O meu MDB não é o de Miguel Arraes”. Em 1984, Tancredo pediu e obteve o apoio de Arraes à eleição dele para presidente da República pelo Colégio Eleitoral (deputados + senadores + delegados dos partidos nos Estados). 
Eleito em janeiro de 1985, Tancredo foi internado às pressas na véspera de tomar posse em 15 de março. Morreu no dia 21 de abril daquele ano depois de ser operado sete vezes. O país foi governado até 1989 pelo vice dele, o atual senador José Sarney. O sucessor de Sarney, Fernando Collor, foi o primeiro presidente eleito pelo voto direto desde 1964. Por roubalheira, foi cassado pelo Congresso em dezembro de 1992.


Arraes governou Pernambuco três vezes. A foto é da campanha dele de 1998 quando tentou se reeleger para governar pela quarta vez. Foi derrotado pelo atual governador Jarbas Vasconcelos (PMDB). Os dois haviam sido aliados até o início dos anos 90.


Arraes, presidente nacional do PSB, foi um dos articuladores do apoio do seu partido a Lula em 2002. O neto dele, Eduardo Campos, deputado federal, foi até há pouco ministro de Ciência e Tecnologia do governo Lula. Amanhã à tarde, Lula desembarcará no Recife para o enterro de Arraes.

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