terça-feira, 30 de julho de 2013

50 ANOS DA RENUNCIA DE JANIO QUADROS

A renúncia do ex-presidente Jânio Quadros completa 50 anos em 25 agosto. Para explicar os acontecimentos daquele tempo, as dificuldades de um país que mal entrara na democracia e já namorava o caos e o autoritarismo que culminariam no golpe militar de 1964, a equipe de VEJA preparou uma reportagem especial em três plataformas: na internet, em tablets e também na edição impressa. A unir esses três universos, estão os textos do jornalista Augusto Nunes, colunista do site de VEJA e um profundo conhecedor das desventuras do imprevisível Jânio.  Foram três meses de pesquisa em acervos de fotos, vídeos e áudios, revistas, biografias de Jânio, documentos históricos e entrevistas com especialistas - um passeio multimídia pela história do político da “vassourinha” e pelos sete meses que marcaram sua breve presidência.
Jânio Quadros

O populismo como religião


Em campanhas sucessivas, o professor de geografia que não fizera sucesso como advogado atraiu eleitores para um caminho que dispensou projetos políticos e programas ideológicos. Nascia o janismo
Jânio Quadros

O ilusionista do palanque


Num tempo em que comícios eram como novela das 8, ninguém fez tanto sucesso quanto Jânio
Quadro de Jânio Quadros, Praça dos Três Poderes, Brasília

Sete meses na montanha-russa


Entre freadas bruscas e acelerações vertiginosas, Jânio governou à beira do penhasco

Artigo: O gesto que antecipou a ditadura militar



Augusto Nunes


Renúncia

"Foi o maior erro que cometi"


A confissão tardia, feita ao neto pouco antes da morte, não absolve Jânio. Com a desistência abrupta, a democracia brasileira, ainda em sua infância, começou a agonizar em 25 de agosto de 1961


O último ato oficial

Trecho do cinejornal 'Brasil, República Parlamentar – Imagens da Crise que Abalou a Nação', com Jânio Quadros na comemoração do Dia do Soldado, seu último ato como presidente em 1961 (Arquivo Nacional)

O gesto que antecipou a ditadura militar

Augusto Nunes
Otavio
Sete anos depois do suicídio de
 Getúlio Vargas, sete meses depois
da posse, o presidente Jânio Quadros precipitou, com sete linhas manuscritas, a sequência de crises que conduziria, sete anos
 mais tarde, ao Ato Institucional n° 5 — e à instauração da ditadura sem camuflagens.
Na manhã de 25 de agosto de 1961, a democracia, ainda em sua infância, viu-se forçada
a renunciar à maturidade, que só seria alcançada caso fossem cumpridos integralmente
dois mandatos consecutivos. O Brasil civilizado pareceu mais distante do que nunca no
 dia em que o presidente sumiu.
Abrupto e inesperado, o último ato foi um fecho coerente para a ópera do absurdo
 composta desde o primeiro dia de gestão. “Ele foi a UDN de porre no governo”, resumiu
 Afonso Arinos de Mello Franco, ministro das Relações Exteriores.  “Faltou alguém trancá-lo
 no banheiro”, lastimou. 
Só se fosse para sempre, sabe-se hoje. Algumas horas de cárcere privado só adiariam a
tentativa de instituir o presidencialismo autoritário que o deixaria livre para agir.
Na carta da renúncia, o signatário informou que deixara com o ministro da Justiça as razões do seu gesto. O segundo texto confiado a Oscar Pedroso Horta é um amontoado de queixas difusas, alusões a “forças terríveis”, declarações de amor ao Brasil e juras de apreço ao Povo (com maiúscula). Ele só contou a verdade alguns meses antes de morrer, em 16 de fevereiro de 1992, numa conversa com Jânio John Quadros Mulcahy, o único filho homem de Tutu Quadros.
Em 25 de agosto de 1991, 30 anos depois da renúncia, o paciente internado no Hospital Albert Einstein, em São Paulo, foi acometido de um surto de sinceridade provocado pela curiosidade do neto. 
“O vice João Goulart era uma espécie de Lula, completamente inaceitável para a elite”, comparou. “Eu o mandei para a China para que estivesse longe de Brasília no dia da renúncia, sem condições de reivindicar o cargo e fazer articulações políticas. Achei que iriam implorar-me para que ficasse.”
O intuitivo genial só se esqueceu de combinar com os adversários, com os militares e com o povo. “Fiquei com a faixa presidencial até o dia 26”, contou ao neto. “Deu tudo errado. E o país pagou um preço muito alto.” Jango acabou engolido pelos quartéis, mas seria expelido três anos mais tarde. A tentativa de implantação de uma ditadura civil resultou no advento de uma ditadura militar ortodoxa.
Como o país, Jânio pagou caro pela renúncia ao mandato conferido por mais de 5,6 milhões de eleitores. Transformado numa caricatura de si próprio, tentou a ressurreição impossível antes e depois da cassação, em 1964. Fracassou em 1962 e em 1982, na tentativa de voltar ao governo paulista, e elegeu-se prefeito da capital em 1985. Aos 75 anos, morreu pensando na presidência. Aparentemente, a frustração pela morte política não foi compensada pela fortuna depositada num banco suíço.
Cinquenta anos depois da renúncia, o Brasil parece bem menos primitivo, a democracia tem solidez e Jânio figura na galeria presidencial como outro ponto fora da curva. Mas tampouco parece suficientemente moderno para considerar-se livre de reprises da farsa. Países exauridos pela corrupção endêmica serão sempre vulneráveis a aventureiros que, com um discurso sedutoramente agressivo, prometam varrer a bandalheira. 


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