sábado, 4 de agosto de 2012

PARA REFLETI SOBRE A GREVE DE PROFESSORES NA BAHIA-2012


Caros colegas,

Costumo ser muito generoso na minha forma de crítica no campo da luta política. Tirando os canalhas, os carreristas, os pelegos, os petistas e os comunistas de mentirinha, prefiro sempre a leveza das poesias e o diálogo. Acredito que agressão é a arma dos fracos, portanto, o bom diálogo é a o caminho de quem gosta da grande política. Infelizmente, dessa vez vou ter que ser duro. Che Guevera nos ensinou: endurecer, mas sem perder a ternura jamais. Vou preferir endurecer e perder um pouco da ternura. A greve dos professores de rede pública estadual da Bahia foi um marco na luta política dos trabalhadores. Parecia ser uma greve circunscrita a mera luta por direito, portanto, um movimento atrelado ao próprio mecanismo de funcionamento do capital. Queríamos uma parte maior da mais-valia (sei do erro analítico, mas quero apenas exemplificar), ou seja, uma melhor distribuição do dinheiro. Alguém pode me perguntar se o socialismo não é divisão de riqueza. Eu logo responderei: ser socialista é querer um mundo de generosidade humana, poesia, alegria e de pleno desenvolvimento das capacidades humanas. Quem transforma os homens em coisas é a forma capital. É justo querer ganhar mais, mas reduzir uma luta política ao mero ganho econômico é ser tão capitalista quanto os capitalistas. O tempo passou e a nossa greve foi deixando de ser a expressão da luta salarial para ser uma greve por dignidade, por valorização do professor, por respeito. Recusamos a proposta de aumento que foi feita. Falamos alto: preferimos voltar sem nada do que receber migalhas. Essa categoria recusou dinheiro pois preferiu a dignidade. Que orgulho! Nossa greve foi uma resposta a um país que não sabe o valor de um livro. Um país que não conhece Machado de Assis. Será que Wagner conhece? Foi uma resposta a uma escola sem piloto, sem papel, sem sonhos, “sem escola”, sem utopia, sem água, etc, etc. Uma escola que nos faz sofrer. Uma escola que produz professores e professoras doentes. O que estou dizendo é que a nossa greve foi vitoriosa, e muito vitoriosa. Só aqueles que reduzem a greve ao ganho econômico é que não conseguem ver vitória em uma luta política de tamanha envergadura. Fomos obrigados, tempororiamente, suspender a greve, mas não suspendemos a luta. Sei que ficou uma vontade de “quero mais”. É como tirar pirulito da boca de menino. A greve foi tão maravilhosa, que as vezes queríamos que esse sonho fosse eterno. Quantos amigos, quantos abraços, choros, encontros, medos, angústia, conversas maravilhosas, reencontros, amores e desamores. Uma aula de generosidade, uma lição de política. Carona solidária, grana dividida, um ombro amigo que confortava, foram tantos os exemplos de que o mundo pode ser mais belo, mais humano, mais doce e mais generoso. Vi tanta gente dividindo o que não tinha. Tanta gente que dizia que não suportava mais ficar sem grana, mas depois estava no nosso lado afirmando que não conseguiu voltar sem os pares. Sonhamos muito e não queríamos acordar dos sonhos.
Manter a greve seria um ato de profunda irresponsabilidade, do mais absurdo risco político. Eu tenho certeza que Wagner e os petistas sonharam com a continuidade da greve (lembrem da proposta que ele nos mandou). Não podemos brincar de fazer política. Nossa greve foi linda, heróica e cheia de simbologia. Somos vitoriosos, não tenho dúvidas disso, o resto é esquerdismo, doença infantil do comunismo. Recuperamos a auto-estima e cantamos em alto e bom tom: sou professor com muito orgulho com muito amor. Quem estava nas lutas, quem não quer mudar o mundo fazendo política no face, quem olhava cada rosto, podia sentir muita emoção vinda daqueles milhares de professores e professoras. Não vamos destruir a nossa vitória política por puro sectarismo. Uma greve se ganha com o capital político conquistado na luta, isso é mais importante que o dinheiro, que o ganho material. Chega desse sectarismo que quer colocar na vala comum tudo que conquistamos, e com muita dor, sonhos, alegrias e sofrimentos. Basta desse sectarismo ingênuo e vamos manter nossa luta, agora com mais identidade e muito mais consciência política. Sabemos que o sindicato é de pelego e que não é aliado da categoria. A APLB é um sindicato de Estado, mas atropelamos a pelegada e eles tiveram que fingir que são de esquerda (mesmo que uma cínica aparecesse de braços dados com o opressor). Comunista bom é comunista vivo! Chega desse sectarismo que quer igualar uma pelegada que tira foto ao lado do opressor com ANDERSON. Muitos desses, melhor dizendo, muitas dessas, que tiveram o cinismo de chamar um companheiro como Anderson de pelego são os mesmos (as) que ainda levantam a bandeira do PT e que apoiaram Dilma e Wagner. ANDERSON foi o cara! Não voltamos por bajulação ao poder, mas pelos nossos colegas que não suportavam mais tanta dor. Foram sete professoras mortas, estão achando pouco? Foram centenas de demitidos, alguns com processos administrativos nas costas, e quase todos sem receber salários por quatros meses. É pouca dor? Vamos querer sagrar até o fim? Quanto mais fracos iríamos ficando mais Wagner iria querer nos humilhar. Saímos na hora certa. Para mim não haverá mais silêncio, e a nossa vingança será nunca esquecer dessas mortas. Vingança e homenagem. Adorno, um intelectual a quem devo parte da minha reflexão, sempre dizia: vamos relembrar do nazismo, não para ficar remoendo o passado, mas apenas para que ele não se repita. Wagner, você sempre foi um traidor, mas agora terá que carregar essas mortes nos seus ombros. Ou alguém acham que a condição de sofrimento produzida por tanta humilhação não tem relação com essas mortes? Talvez para você, governador (você nunca viu o meu voto), essas mortes não signifiquem nada, mas nós lembraremos de você como o coveiro dessas professoras, você e os petistas que te apoiam. Walter Benjamin, outro frankfurtianos que me faz pensar, costuma dizer: todo documento da cultura burguesa é um documento de barbárie. O petismo é a prova mais fiel dessa frase. Vou lembrar dessas professoras mortas, sempre lembrarei, homenageá-las é uma forma de impedir que essa trajédia, que é o fascismo petista, não se repita. Lutamos, resistimos e sonhamos. Para quem acha que dinheiro move o mundo, fomos derrotados. Marx dizia que o dinheiro é a prostituta universal, o Deus da modernidade, e parece que alguns colegas nossos não conseguem pensar para fora dessa lógica. Somos seres históricos e não podemos viver fora da realidade histórica, mas quem é de esquerda precisa reinventar práticas de vida para além do capital, para além do dinheiro. Para mim, que quero outro mundo, essa greve foi o resgate do sonho. Estou de alma lavada. Os professores deram uma aula! E que aula! Por fim, queria dizer que, eu, Sinval, estou muito orgulhoso dessa categoria. Estou feliz, alegre e cheio de vontade de lutar. Vou entrar na sala de aula com a cabeça erguida. Fiz amigos, reconquistei outros, chorei, ri e sonhei muito. O PT, o PCdoB, os pelegos desse sindicato, eles "passarão e eu passarinho".
Hasta la vitória, siempre!

Abraços,

Sinval Silva de Araújo
Professor do Colégio Central e do IFBa

Nenhum comentário:

Postar um comentário